Saúde
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Por Constança Tatsch — São Paulo

O dramaturgo José Celso Martinez, de 86 anos, deu entrada nesta terça-feira na emergência do Hospital das Clínicas, em São Paulo, com queimaduras em 60% do corpo. Ele foi encaminhado para a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), onde foi entubado. Queimaduras, assim como a do ator e diretor, são lesões perigosas, que podem levar a infecções severas.

As queimaduras podem ser de três graus, conforme a profundidade da lesão provocada. A de 1° grau atinge a superfície da pele, a de 2° se estende para a partes mais profundas da pele e a de 3° grau ultrapassa a barreira de pele e pode danificar músculos, tendões, órgãos e até os ossos, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.

Nos casos de queimaduras mais extensas e profundas, os primeiros socorros e a condução do tratamento são essenciais para garantir a saúde do acidentado.

— A queimadura é um dos piores danos que nosso corpo pode sofrer, desencadeando uma série de inflamações — afirma Alfredo Gragnani, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), professor de Cirurgia Plástica da Escola Paulista de Medicina da Unifesp e responsável pelo Setor de Queimaduras do Hospital São Paulo, da Unifesp.

Segundo ele, acidentes com idosos ou crianças são ainda mais preocupantes.

—A gente tem vários estudos e publicações colocando o pior prognostico numa queimadura depende da extensão e profundidade. Se a queimadura for muito profunda ou acima de 40% ou 50% de extensão, o risco letal é muito grande. Outro fator é dos extremos, crianças com menos de 3 anos que ainda não tem órgãos 100% maduros, e nos idosos, acima de 60, que têm reserva muito baixa cardíaca, pulmonar, além do histórico se fuma, se já teve problema cardíaco, se é diabética... Junta isso tudo e o risco é muito mais elevado do que nos que se queimam habitualmente, que são homens numa idade entre 20 e 50 anos.

Lesão inalatória

Outro risco importante para o qual alerta o risco responsável pelo Setor de Queimaduras do Hospital São Paulo, da Unifesp, é a questão inalatória, mais frequente em locais fechados, como em um apartamento:

— Tem gente que tem lesão inalatória e às vezes nem queima a pele. E a lesão inalatória é muito grave. Se a pessoa tiver atendimento, no primeiro segundo precisa receber oxigênio a 100% por máscara ou ser intubada, se não estiver consciente. Se demorar, vai ter muita complicação. Ensino isso na universidade loucamente, ainda mais depois da boate Kiss, quando a grande maioria morreu por lesão inalatória.

Segundo ele, há três principais mecanismos desse tipo de lesão:

  1. Respirar monóxito de carbono. O monóxido se liga na hemoglobina em vez do oxigênio e, assim, o oxigênio não consegue circular e chegar ao cérebro e a pessoa desmaia. Isso ocorre em alguns minutos.
  2. Respirar o ar quente. Quando a glote abre para a pessoa respirar, o calor passa lesando todas as vias aéreas superiores, traqueia e brônquios, causando uma lesão profunda na mucosa. Se a pessoa estiver inconsciente, a glote ficará aberta e a passagem do calor é livre.
  3. Gases tóxicos. Num incêndio, os gases tóxicos que a pessoa respira vão até os alvéolos, causando um processo inflamatório no pulmão.

Tratamento

A pessoa queimada perde a barreira cutânea, assim qualquer microrganismo ou bactéria pode entrar, abrindo caminho para graves infecções.

Alfredo Gragnani explica que os médicos precisam tirar o tecido que morreu, tirando camadas da pele, gordura, até não encontrar mais necrose. Depois disso, retira-se a pele saudável de outra parte do corpo — pernas, braços e tórax — para cobrir aquela área. Cada cirurgia dessas só pode ser feita em até 20% do corpo queimado, em razão, principalmente, da perda de sangue. Em caso de áreas mais extensas, são necessárias mais cirurgias.

— O idoso tem a pele bem mais fina, com resistência menor, então a lesão geralmente é mais profunda. E depois, como a pele é mais delgada, pode-se tirar demais da área doadora. E tempo de recuperação é muito maior —afirma

O que fazer em caso de queimadura

  • Enxague o local com água corrente em temperatura ambiente
  • Proteja a pele danificada cobrindo-a com gaze
  • Retire anéis, pulseiras, relógios e acessórios caso a queimadura tenha sido nas mãos ou braços
  • Dirija-se ao hospital ou posto de saúde mais próximo da sua casa
  • Se não for possível se deslocar, acione o SAMU (192) ou o Corpo de Bombeiros (193)

Acidente comum

No Brasil, estima-se que cerca de um milhão de pessoas são vítimas de acidentes com queimaduras por ano. De acordo com os dados do Ministério da Saúde, 77% dos casos acontecem em casa e 40% com crianças de até 10 anos.

Na última década, mais de 3 mil crianças, de 0 a 14 anos, morreram em decorrência de acidentes com queimadura e quase 221 mil foram hospitalizadas.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 180 mil mortes são registradas no mundo todos os anos em decorrência de acidentes com queimaduras.

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