Saúde
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Por , Em The New York Times

Cientistas acreditam que podem usar a engenharia genética para impedir que uma espécie de mosquito portadora da malária propague a doença — e a expectativa é que consigam fazer isso em apenas alguns meses. Em julho, uma equipe esteve na ilha do Príncipe, na África Central, para realizar o experimento.

Em uma noite abafada, 11 mil mosquitos cobertos de pó verde fluorescente voaram juntos pelo ar denso. Nas dez noites seguintes, um grupo de voluntários humanos sentou-se do lado de fora de suas casas em aldeias e manteve braços e pernas expostos. Eles esperavam pelo leve toque de um mosquito em busca de sangue.

Quando um deles pousava, as pessoas acendiam uma lanterna de cabeça e usavam um tubo de borracha ligado a um frasco de vidro para sugar o inseto. Os mosquitos foram criados a partir de larvas, cobertos de verde e depois soltos por uma equipe internacional de cientistas que tem tentado trazer a ciência genética de ponta para uma luta antiga contra a malária.

Durante cada uma das dez manhãs após a liberação dos mosquitos, os cientistas se espalharam ao longo da costa da ilha e coletaram os copos cheios de insetos. Em seguida, os levaram para um laboratório improvisado em sua suíte de hotel na única cidade da ilha, Santo Antônio, onde os observaram sob a luz de um microscópio fluorescente.

Mosquitos verdes

Doze dos 253 mosquitos capturados brilhavam com pequenas partículas do pó verde que aderiu a seus corpos escamosos. Os insetos verdes ofereceram informações sobre a distância que voaram e o tamanho da população de mosquitos, pistas sobre a dinâmica da malária no país. Eles também fizeram com que os cientistas se aproximassem de seu objetivo: substituir os mosquitos que vivem na região por aqueles geneticamente modificados, de modo que não possam mais transmitir o parasita.

A ideia é liberar uma pequena colônia de mosquitos modificados, da mesma forma que fizeram com os mosquitos cobertos de verde, para acasalar com os selvagens. A tecnologia de engenharia genética que estão usando poderia, em apenas algumas gerações — o que, quando se trata de mosquitos, é apenas uma questão de meses —tornar todos os membros da espécie que transmite a malária local, a Anopheles coluzzi, efetivamente imunes ao parasita.

A equipe já conseguiu com sucesso modificar geneticamente o Anopheles coluzzi para bloquear o parasita em laboratório. Os cientistas acreditam que podem utilizar a técnica de gene drive, processo no qual uma caraterística herdada se espalha rapidamente por toda a população, para que todos os filhotes da espécie a carreguem.

Evolução da espécie

A jornada para a eliminação da doença, porém, é complicada e custosa. Na região, assim como em outros países que suprimiram dramaticamente a malária, os mosquitos evoluíram para resistir a todos os inseticidas atualmente em uso. Eles também começaram a picar ao ar livre e durante o dia, em vez de dentro de casa e à noite, quando a maioria da transmissão de malária costumava ocorrer.

Ou seja, o próprio parasita está evoluindo para resistir aos principais tratamentos. E o financiamento para a malária estagnou, mesmo quando as intervenções necessárias ficaram mais caras. Greg Lanzaro, um geneticista molecular da Universidade da Califórnia que lidera a equipe de malária, acredita que seu grupo tem a solução.

— Estamos trabalhando nisso há 30 anos, e desde o início dissemos: ‘Tem que funcionar, mas também tem que ser barato e sustentável’ — disse ele enquanto observava os mosquitos sendo liberados em um parque em Santo Antônio. — E acreditamos que conseguimos.

No entanto, os governos estão hesitantes, e poucos países africanos têm leis para regular o uso da tecnologia. Seus riscos residem nas incógnitas: poderia o mosquito modificado evoluir de alguma forma que tenha efeitos prejudiciais sobre o restante do ecossistema? Poderia provocar uma mutação perigosa no parasita da malária, que encontraria uma nova maneira de se espalhar para sobreviver?

— Seríamos o primeiro lugar do mundo com esses mosquitos, e isso me assusta. Quando é a primeira vez que estão fazendo isso, você não sabe o que poderia acontecer — disse Yata Mota, que trabalha como guia em um centro turístico de São Tomé.

Esses medos são a razão pela qual a equipe da Universidade da Califórnia escolheu São Tomé e Príncipe para seu experimento: a nação insular é isolada e tem tráfego internacional limitado. A equipe também elaborou um plano para exterminar a população de seus mosquitos modificados se houver necessidade de encerrar o experimento por qualquer motivo.

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