Saúde
PUBLICIDADE
Por — Rio de Janeiro

Em alta há mais de 20 anos, as doenças cardiovasculares já causam mais de 300 mil mortes a cada 12 meses no Brasil. No planeta, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima cerca de 17,9 milhões de vidas perdidas anualmente.

Os números, que colocam os problemas do coração como a causa número um de óbito ao redor do globo, são considerados alarmantes por cardiologistas. Agora, eles apostam em novas estratégias, que incluem soluções digitais, para combater o principal vilão por trás das doenças: a hipertensão arterial.

O objetivo da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) é criar um projeto amplo que alcance não apenas os pacientes, como a população geral – uma vez que estimativas apontam que metade das pessoas com pressão alta não foram diagnosticadas.

Com o nome de “Onda”, para evocar uma mobilização em todos os setores da sociedade, a ideia está em discussão com instituições públicas e privadas, partes do governo e outras entidades médicas. A SBC já adianta que o propósito é abordar medidas que vão além das mudanças já conhecidas no estilo de vida, envolvendo tecnologias como o aplicativo Elfie, disponível gratuitamente para download na Apple Store e no Google Play.

— A ideia é criar uma onda de informação para que as pessoas possam conhecer o diagnóstico de hipertensão, já que metade das pessoas não sabe que tem a doença. E entre as que sabem, metade não recebe o tratamento adequado. Então é um movimento para ajudar na conscientização, no início do tratamento, e na manutenção do controle da pressão arterial como um todo — explica Erika Campana, da SBC e diretora do Fundo de Aperfeiçoamento de Pesquisa em Cardiologia da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro (SOCERJ/FUNCOR).

O Elfie funciona como um diário virtual de saúde que permite ao usuário cadastrar cada medida da pressão arterial, e de outros indicadores, para auxiliar em seu monitoramento. Além disso, oferece conteúdos como textos e quizzes na área e alarmes que lembram o paciente de tomar as medicações. O diferencial, porém, é a utilização de uma estratégia de gamificação, em que o indivíduo recebe pontos cada vez que realiza uma tarefa no app.

Os pontos podem ser trocados por benefícios, como descontos em farmácias, lojas de itens esportivos, de alimentação orgânica, entre muitos outros para estimular a adesão do paciente. A plataforma conta ainda com uma assistente de Inteligência Artificial (IA), chamada Emma, para responder dúvidas sobre pressão alta, outras doenças e saúde de um modo geral.

— A gamificação é um aspecto muito interessante porque tem a capacidade de manter o paciente motivado e engajado, o estimulando a se cuidar. Cada vez que ele completa uma ação de cuidado com a sua saúde, isso acumula pontos que são convertidos em benefícios, o que dá uma sensação de que ele está ganhando algo em troca imediatamente — diz Campana.

E não é apenas para os pacientes já diagnosticados que o aplicativo é destinado. Mesmo aqueles que buscam implementar hábitos mais saudáveis no dia a dia podem aproveitar as funcionalidades. Ao fazer o cadastro, por exemplo, é possível assinalar na plataforma outros objetivos como deixar de fumar, perder peso, comer melhor ou atingir a quantidade ideal de passos por dias.

— Nesse contexto tão desafiador, precisamos oferecer soluções concretas tendo como base o engajamento e o automonitoramento através de ferramentas digitais, o que está alinhado às mais modernas soluções nessa era tão conectada em que vivemos — diz o cardiologista Ricardo Pavanello, diretor da SBC e médico do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, em São Paulo.

Mortes por doenças cardiovasculares em alta no Brasil
País registra mais de 300 mil vítimas por ano devido aos problemas cardíacos
Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde ( SIM), acesso em 19/10/2023.

Avanço da hipertensão arterial

A movimentação da SBC não é à toa: o Brasil tem hoje a maior taxa de mortalidade por pressão alta observada nos últimos 10 anos, segundo estimativas do Ministério da Saúde. Os dados consolidados mais recentes, de 2021, apontam 18,7 óbitos a cada 100 mil habitantes.

Entre 2011 e 2018, o indicador chegou a apresentar uma certa estabilidade entre 11,4 e 12,4, mas começou a crescer de forma acentuada a partir de 2019.

Entre os mais idosos, acima de 80 anos, a taxa mais recente chega a ser de 381,7 mortes por 100 mil brasileiros. Mas o aumento da pressão alta começa cada vez mais cedo.

De acordo com a pesquisa Vigitel 2023, do Ministério da Saúde, cerca de 1 a cada 5 adultos de 35 a 44 anos (19%) têm um diagnóstico de hipertensão arterial. No geral, um quarto dos brasileiros (27,9%) convivem com a doença.

Porém, esses são apenas os números oficiais, a realidade é ainda pior. Como a condição é silenciosa, ou seja, pode demorar a apresentar sintomas significativos, muitos que sofrem com o aumento crônico da pressão sequer sabem. A OMS estima que somente 50% dos pacientes de fato recebem um diagnóstico.

— A hipertensão não tem sintomas específicos, provoca muitas vezes sensações que podem ser confundidas com outras doenças, por exemplo a dor de cabeça da nuca. Por isso é tão importante medir a pressão arterial com frequência, registrando as medidas e informando ao médico se os níveis estiverem alterados — orienta Campana.

Em um relatório sobre a doença, o primeiro do tipo, publicado neste ano, a OMS diz ainda que a vasta maioria dos pacientes no mundo, 4 em cada 5, não recebem o tratamento adequado. Para se ter uma ideia, ampliar essa cobertura poderia evitar 76 milhões de mortes até 2050 segundo cálculos da organização.

Os especialistas destacam que no Brasil existe por vezes uma baixa adesão às medidas orientadas, como mudanças no estilo de vida – como redução do álcool, cessação do tabagismo, melhora na alimentação, aumento da atividade física e controle do peso – e o uso de medicamentos. Como consequência, há um aumento nos casos de hospitalização e mortalidade associado à hipertensão.

— Nenhum tratamento se mostra eficaz se o paciente não entende sua doença e, por conta disso, não se engaja em sua terapia. Precisamos de uma onda de inovação para associar, de forma abrangente, inovação digital, reconhecimento da motivação do paciente em se tratar e seguimento do tratamento a longo prazo, colocando o paciente no centro do processo de cuidado — diz Pavanello.

Webstories
Mais recente Próxima Parece pouco, mas não é: apenas 2 hambúrgueres por semana já aumenta o risco de diabetes, diz estudo de Harvard

Inscreva-se na Newsletter: Saúde em dia

Mais do Globo

Investigada por possível lavagem de dinheiro, influenciadora segue presa

Rapper Oruam pede liberdade para Deolane Bezerra e manda recado nas redes: 'Se não soltar, vamos buscar'

Projeção anterior de analistas de mercado, divulgada pelo Focus, era de 10,5%

Previsão de juros em 2024 salta para 11,25% ao ano, após PIB forte e deterioração das contas públicas

Em entrevista ao GLOBO, a jovem de 18 anos explica como venceu expectativa de vida de seis meses. Ela espera um bebê que se chamará Arthur

Acusada de aplicar golpes na internet: Isabel Veloso está em estado terminal, mas promete ressarcir seguidores

Provável destino do atacante de 24 anos pode ser o Fenerbahçe, da Turquia, time treinador por José Mourinho

Manchester United quer emprestar brasileiro Antony ainda neste mês, diz jornal

Gisèle Pelicot foi vítima de abusos de mais de 70 homens entre 2011 e 2020, segundo a acusação

Francesa dopada pelo marido para que estranhos a estuprassem consegue o divórcio após 50 anos

Segundo governo, 970,.037 pessoas aplicaram a prova no total

CNU: candidatos terão acesso ao cartão de respostas a partir desta terça

Especialistas preveem que regras sejam publicadas ainda este ano. Confira o que está para sair

Depois do CNU: Banco do Brasil, Correios e INSS, veja os concursos com edital previsto