Saúde
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Um estudo inédito da Associação Americana do Coração (AHA, do inglês American Heart Association) encontrou uma relação direta entre a saúde do coração e um envelhecimento biológico mais lento. De acordo com os pesquisadores, as pessoas que conseguiram ter êxito em seguir oito recomendações para manter o órgão saudável eram cerca de seis anos mais jovens do que a sua idade cronológica. E a boa notícia é que, de acordo com especialistas, essa lista ainda pode ser reduzida para apenas quatro hábitos cotidianos — e até apenas um.

A pesquisa contou com 6.500 adultos e levou em consideração os marcadores que calculam a chamada PhenoAge, também conhecida como “idade fenotípica”. Para calcular esse número, médicos identificam nove componentes bioquímicos do sangue, como creatinina, linfócitos, fosfatase alcalina, entre outros, e com base nos resultados, traçam um paralelo entre a condição do coração e a quantidade de anos que a pessoa viveu. Se o resultado é positivo, é sinal de que o envelhecimento biológico está sendo acelerado, e se é negativo, é indício que a pessoa trata bem o músculo mais importante do corpo humano.

Coração retirado do paciente durante transplante no InCor — Foto: Maria Isabel Oliveira / Agência O Globo
Coração retirado do paciente durante transplante no InCor — Foto: Maria Isabel Oliveira / Agência O Globo

Para avaliar o quanto a pessoa trata bem o coração, os pesquisadores utilizaram o guia “Life’s essential 8”, uma lista de verificação com oito medidas essenciais elaboradas pela AHA que contribuem para uma boa saúde ao longo da vida. São elas:

  • Comer bem
  • Fazer atividades físicas
  • Não fumar
  • Dormir bem
  • Manter um peso saudável
  • Controlar o colesterol
  • Monitorar o açúcar no sangue
  • Administrar a pressão arterial

Assim, os cientistas entenderam que quanto maior a adesão às oito medidas elencadas no “checklist”, maior era a saúde cardiovascular dos participantes do estudo; e “à medida que a saúde do coração aumenta, o envelhecimento biológico diminui”, como conclui Nour Makarem, epidemiologista cardiovascular e professor de Saúde Pública da Universidade de Columbia, que supervisionou a pesquisa.

Apesar dos resultados apresentados na publicação — que está sendo debatida com mais detalhes durante o congresso Sessões Científicas da AHA, na Filadélfia (EUA), neste fim de semana —, especialistas ressaltam que o retardamento do envelhecimento biológico mencionado na pesquisa não envolve, necessariamente, a prolongação da vida ou a aparência mais jovem.

— O grande recado do trabalho não é que a gente pode viver mais seis anos, mas sim que temos uma idade biológica menor, ou seja, somos capazes de envelhecer com mais qualidade de vida — explica o cardiologista José Carlos Zanon, presidente do departamento de cardiogeriatria da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).

Na opinião de Zanon, o estudo, apesar de inédito, cria uma métrica (seis anos) e comprova na prática e cientificamente algo que a medicina já trabalha há tempos: que controlar os principais fatores de risco garante uma saúde cardiovascular melhor e um envelhecimento mais saudável.

Principal causa de morte

O destaque do coração na saúde geral dos pacientes não é por acaso. Nas duas primeiras décadas do século XXI, doenças cardíacas foram as principais causadoras de morte no mundo e principalmente no Brasil. No país, enfermidades cardiovasculares são responsáveis por 30% dos óbitos, de acordo com o Ministério da Saúde, e correspondem ao dobro dos óbitos relacionados a todos os tipos de câncer juntos. No mundo, a preocupação aumentou à medida que as ocorrências cresceram rapidamente e saltaram de 2 milhões no ano 2000 para quase 9 milhões em 2019 — segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), elas são a causa de 32% das mortes em todo o planeta.

Diretor médico do Laboratório de Performance Humana (LPH), o mestre em cardiologia Fabrício Braga destaca que “viver com saúde por mais tempo” é muito mais importante para o bem-estar do que simplesmente “viver mais”.

— O que a gente quer é que as pessoas envelheçam e retardem o adoecimento. Várias populações no mundo são extremamente longevas e passam os dez últimos anos da vida em cima de uma cama. Isso é legal? Acho que não — argumenta o cardiologista.

O especialista em performance ainda diz se preocupar com a ideia de “retardar o envelhecimento”, pois o conceito pode se associar a uma linha “beauty”, de preocupações com “parecer mais jovem”. Ele ressalta que a aparência pode, inclusive, ir na contramão da idade fenotípica da pessoa.

— Você vê uma pessoa que faz muita atividade física, por exemplo, e que eventualmente se exponha muito ao sol. Ela vai ter a pele um pouco mais enrugada e pode até parecer ser mais velha, porém vai viver mais devido à capacidade aeróbica, que é um determinante de longevidade muito importante — exemplifica Braga.

Maria Cristina Izar, cardiologista, diretora da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp) e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), lembra para aqueles que se preocupam com a aparência que o “Life’s essential 8” também pode ser um grande aliado.

— A estética é importante para o bem-estar e autoestima do indivíduo, mas se ela não for acompanhada de uma saúde global, não faz sentido. Se você tem um estilo de vida saudável, sua pele, seus cabelos, unhas e músculos também ganham — analisa Izar.

Metade é o suficiente

O estudo da Associação Americana do Coração aponta para o conceito conhecido como “healthspan”, que consiste justamente em ter boa saúde por mais tempo. E para atingi-lo, os especialistas apontam que as quatro primeiras medidas da AHA (comer bem, praticar exercícios, não fumar e dormir bem) já são suficientes para uma boa saúde cardiovascular — e a outra metade “vem de brinde”.

— Com qualquer desses fatores de risco bem controlados, a gente tem ganho para a saúde, tanto em qualidade de vida, como em envelhecimento mais saudável — pondera Zanon. — Mesmo que a pessoa não atue completamente nas oito medidas, cuidar de qualquer uma delas já ajuda a saúde — conclui o cardiogeriatra.

Fabrício Braga é ainda mais conciso. Para ele, “assim como dá para resumir os 10 mandamentos dados a Moisés em apenas um — amar o próximo como a ti mesmo”, existe uma única medida que, mesmo sem estar associada às outras sete do “Life’s essential 8”, garante uma “sobrevida extra” ao coração: a prática regular de exercício físico.

— A gente conseguiu transformar o tabagismo em algo cafona. A pessoa que fuma hoje em dia sabe que está “esculhambando” a própria saúde. Agora temos que fazer o mesmo em relação ao sedentarismo. Não fazer exercício é um hábito extremamente prejudicial à saúde — conclui Braga.

*Estagiário sob supervisão de Gustavo Leitão

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