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Por , Em La Nacion

“Não é que eu seja muito inteligente, é que fico mais tempo com os problemas”, disse Albert Einstein. Talentos como o do cientista são um fenômeno que intriga pesquisadores há tempos. Apesar do progresso na compreensão do cérebro e da genética, a razão pela qual algumas pessoas manifestam habilidades extraordinárias em certas áreas — e outras não — segue em parte um enigma. Mas décadas de estudo já chegaram a algumas pistas.

— Essa questão das competências é tema de debate na comunidade científica há muito tempo e a resposta ainda é complexa porque não pode ser reduzida a uma única afirmação — explica Teresa Torralva, diretora do departamento de Neuropsicologia do Instituto de Neurologia Cognitiva (Ineco).

A genética e o meio ambiente são áreas-chave na busca de explicações para as habilidades que certas pessoas desenvolvem. Torralva garante que, de fato, há uma predisposição para algumas delas, como características físicas, habilidades cognitivas e dons artísticos que podem ser herdados dos pais.

Rayssa Leal conquista a primeira medalha de ouro do skate street feminino dos Jogos Pan-Americanos. A edição acontece em Santiago 2023, na Esplanada Esportiva Urbana do Parque Esportivo do Estádio Nacional de Santiago — Foto: Pablo VERA / AFP
Rayssa Leal conquista a primeira medalha de ouro do skate street feminino dos Jogos Pan-Americanos. A edição acontece em Santiago 2023, na Esplanada Esportiva Urbana do Parque Esportivo do Estádio Nacional de Santiago — Foto: Pablo VERA / AFP

O estudo dos gêmeos de Minnesota, nos Estados Unidos, liderado pelo psicólogo Thomas J. Bouchard, foi um dos que se debruçaram sobre a relação da genética e as habilidades. Em 1990, Bouchard e seus colegas publicaram os resultados de um trabalho iniciado em 1979 sobre o desenvolvimento de gêmeos criados em ambientes diferentes.

Os pesquisadores avaliaram a fisiologia e psicologia de gêmeos monozigóticos (idênticos) que cresceram separados, comparando a semelhança com aqueles que foram criados juntos. O objetivo foi aprofundar o conceito de “herdabilidade” — até que ponto a influência dos genes contribui para a expressão de um determinado traço pessoal.

Ao analisar as respostas dos gêmeos em vários testes, os pesquisadores notaram que aqueles que cresceram separados na idade adulta apresentavam as mesmas semelhanças que aqueles que cresceram juntos. Bouchard e seus colegas concluíram que os fatores genéticos têm grande influência nos hábitos comportamentais.

O caso mais famoso da pesquisa foi o dos Jims, um dos pares de gêmeos. Eles nasceram em 1940 e foram adotados por duas famílias diferentes quando eram bebês. Quando se reencontraram, 40 anos depois, completaram os mesmos testes dos pesquisadores. As pontuações foram notavelmente semelhantes em todos.

Quando solicitados a fazer um desenho, eles fizeram o mesmo. Bouchard ficou surpreso com o grande número de coincidências: ambos se casaram com mulheres chamadas Linda. Os Jims tinham preferência pela matemática e pela carpintaria, mas rejeitavam a gramática. Ambos passaram pela formação policial, bebiam e fumavam de maneira semelhante, tinham o hábito compulsivo de roer as unhas e sofriam de fortes enxaquecas. Eles deram o mesmo nome aos filhos.

Por outro lado, Torralva acrescenta que, embora a genética seja importante, parece não ser a única variável que determina os talentos de uma pessoa.

— Também temos a influência do entorno. Sabemos que a estimulação precoce ou um ambiente educacional propício nutrem e desenvolvem o talento do indivíduo — enfatiza.

Para ela, a exposição a determinadas atividades é crucial para fortalecer tendências que depois se transformam em competências.

— É uma interação complexa entre ambos os fatores. Hoje sabemos que o talento raramente pode ser atribuído apenas à genética ou ao ambiente — destaca.

Outro fator que pode explicar a evolução do talento de alguém é a neuroplasticidade, um processo de aprendizagem neurobiológica que representa a capacidade do sistema nervoso de alterar sua reatividade como resultado de ativações sucessivas.

— Hoje sabemos que podemos mudar ao longo da vida e que a nossa personalidade e a tomada de decisões dependem do input que damos aos neurônios. Somos capazes de treinar os talentos: melhorar aqueles que nos são dados ao nascer e cultivar aqueles que parecem atraentes — analisa a neuropsicoeducadora Jackie Delger.

Mente eficiente

Segundo Delger, todos nascem com preferências pessoais e padrões de pensamento ligados a áreas do cérebro que permitem mais eficiência na execução de certas tarefas. A área “eficiente” é tão competente que por natureza utiliza apenas um centésimo da energia do corpo em comparação com as demais partes cerebrais.

— Somos mais eficientes quando utilizamos uma habilidade gerenciada pela área preferida do nosso cérebro. Aprendemos mais rápido e cometemos menos erros — explica Delger.

Na atual interpretação da ciência da educação, cada pessoa tem uma preferência e uma capacidade natural para certas tarefas e funções, independentemente do seu nível de inteligência.

— Habilidade consiste em escolher, utilizar e aproveitar as competências gerenciadas pela área do nosso cérebro mais eficiente por natureza. Quando o cérebro está funcionando assim, qualquer trabalho se torna fácil e até divertido — resume Delger.

Torralva concorda e também acrescenta que a prática regular e a dedicação são componentes essenciais para desenvolver um talento mesmo que alguém tenha predisposição genética.

Professor de psicologia na Universidade da Flórida, Anders Ericsson afirma em um de seus livros que são necessárias 10 mil horas de prática deliberada para que alguém domine uma atividade específica. Segundo o especialista, existem fatores genéticos, ambientais, familiares e educacionais que podem influenciar esse resultado, mas garante que “não há mais limitações de nascimento”.

Michael Howe e Harold Schonberg são dois pesquisadores que, com base na teoria de Ericsson, decidiram analisar a precocidade de Wolfgang Amadeus Mozart para se tornar um “gênio” da composição musical. O compositor austríaco começou a compor aos 7 anos, e aos 21 os estudiosos estimam que acumulou mais de 10 mil horas entre composição, prática e concertos.

Na educação

As escolas sempre olharam para a homogeneidade, mas hoje o sistema educacional começa a incluir um lugar de protagonismo, afirma Darío Alvarez Klar, presidente executivo do hub Educação & Inovação. Para ele, esse novo paradigma colabora com o cultivo de talentos.

— Hoje as propostas educacionais oferecem espaços eletivos. Nem todos aprendemos da mesma maneira nem nos interessamos pelas mesmas coisas — pondera.

O educador acredita que muitas dessas mudanças tiveram a ver com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e instituições internacionais que nos últimos anos concentraram o trabalho na modificação dessas crenças limitantes sobre a aquisição de talentos.

— Está demonstrado há tempos que um QI elevado pode contribuir para a compreensão de áreas como as ciências exatas, mas também pode trazer limitações nos aspectos emocionais ou sociais que outros possam ter mais desenvolvidos — diz Klar. — Nunca fui a favor dos quadros de honra. Eles recompensam as notas altas, mas e a personalidade, o jeito de ser, as habilidades artísticas, sociais ou esportivas?

Para Delger, todos os indivíduos são “portadores de tesouros enterrados”.

— É como uma semente interna, para florescer é preciso colocar num vaso e cuidar dela — destaca a neuropsicoeducadora.

Xesco Espar, ex-jogador de handebol espanhol e formado em Ciências do Esporte pela Universidade de Barcelona, é um atleta consagrado que estreou nas categorias de base do Barcelona e alcançou o topo do esporte.

— Quando cheguei ao Barça percebi que entre os maus eu era o bom, mas era o mau entre os bons. Então, como não era bom o suficiente para aquele time, concentrei-me em treinar os jovens — contou em entrevista ao ciclo de palestras “Vamos aprender juntos”. — Não mudei meu objetivo, mudei a forma de alcançá-lo — acrescenta o atleta.

Uma característica que as pessoas talentosas têm é eles que tendem a estar acima da excelência.

— O sentido da vida é perceber que todos temos talento e que o nosso dever é aproveitá-lo, fazê-lo crescer e colocá-lo ao serviço da sociedade — afirma Espar, que destaca qualidades como ambição, motivação, trabalho em equipe e coragem para o crescimento pleno.

'Pai do computador', Bill Gates era um estudioso no estilo nerd durante a adolescência — Foto: Reprodução
'Pai do computador', Bill Gates era um estudioso no estilo nerd durante a adolescência — Foto: Reprodução

Dez hábitos para manter o sucesso

Xesco Espar, antigo jogador e treinador de handebol e licenciado em Ciências da Atividade Física, destaca as 10 rotinas essenciais de pessoas extraordinárias.

  1. Ambição: Pessoas extraordinárias são ambiciosas, mas não porque querem mais coisas, e sim porque se esforçam para serem melhores. “É uma ambição que se destaca por querer contribuir mais para a sociedade”, afirma Espar.
  2. Excelência: Procurar dar o seu melhor desde o primeiro momento sempre que enfrentar um novo desafio. Seja qual for a ocasião, o importante é manter sempre o foco.
  3. Automotivar-se: Quem tem esse hábito não espera que alguém de fora venha e lhe dê incentivo. Elas carregam naturalmente dentro de si o fogo da motivação porque se dedicam ao que mais gostam.
  4. Entender o fracasso: O e-jogador conta que “as pessoas extraordinárias que estudou falharam muitas vezes e perceberam que o oposto de vencer não é perder, é não fazer nada”. Elas superam bloqueios e souberam como superar o fracasso.
  5. Agir: São indivíduos que sabem o que significa e implica agir. Elas não dizem o que planejam fazer, mas sim o fazem diretamente. “A ação e a não paralisia são hábitos básicos dessas pessoas”.
  6. Ser uma boa pessoa: Como ele ressalta, é muito melhor e mais lucrativo ser uma pessoa verdadeiramente boa porque as pessoas tendem a apoiar mais quem é assim. Embora faça o esclarecimento de que “ser boa pessoa não é ser bobo”.
  7. Trabalho em equipe: Uma qualidade para alcançar o que deseja na vida é também ajudar os outros a terem sucesso. Uma ferramenta fundamental para atingir objetivos. Nada é alcançado individualmente.
  8. Liderar: Trata-se de ajudar os outros a acreditarem mais em si mesmos. São pessoas que fazem sua equipe crescer e confiam na capacidade que têm diante de si para atingir objetivos. Praticam liderança com autonomia.
  9. Ter coragem: É o hábito que nos permite crescer, pois apesar de ter medo, envolve correr riscos. A coragem ajuda você a abordar aspectos que você acha que é incapaz de alcançar, mas se você se dedicar a isso, as portas se abrirão.
  10. Viver o presente: Espar acredita que a sociedade está dividida em dois grupos: os sonhadores, que planejam o futuro, e os que vivem no passado. Ele sugere evitar aproximar-se desses extremos e ficar no meio, ou seja, no agora.

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