Saúde
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Por O Globo — Rio de Janeiro

Uma nova e ampla revisão de estudos, publicada nesta segunda-feira na revista científica Public Health Journal, aponta uma ligação entre o consumo de bebidas energéticas e um risco aumentado para uma série de problemas de saúde, incluindo psicológicos e cardíacos, entre jovens.

Os achados levaram pesquisadores do Centro de Pesquisa Translacional em Saúde Pública da Universidade Teesside e da Universidade de Newcastle, que conduziram a análise, a pedirem que o governo britânico proíba a venda dos produtos para menores de 16 anos, algo permitido tanto no Reino Unido, como no Brasil.

Na revisão, foram incluídos dados de 57 trabalhos, publicados entre janeiro de 2016 e julho de 2022, que envolveram mais de 1,2 milhão de crianças e jovens, de idades entre 9 e 21 anos, provenientes de 21 países.

“As bebidas energéticas são comercializadas para crianças e jovens como uma forma de melhorar a energia e o desempenho, mas nossas descobertas sugerem que eles estão realmente fazendo mais mal do que bem”, diz a autora principal, Amelia Lake, professora de Nutrição em Saúde Pública da Universidade de Teesside, em comunicado.

Os riscos encontrados no estudo

De forma inédita, a nova revisão encontrou ligações consistentes entre o consumo das bebidas e um risco aumentado para desfechos negativos de saúde mental, como sintomas de ansiedade, estresse, depressão, pânico e pensamentos suicidas.

“Estamos profundamente preocupados com as descobertas de que as bebidas energéticas podem causar sofrimento psicológico e problemas de saúde mental. Estas são questões importantes de saúde pública que precisam ser abordadas”, defende Shelina Visram, também professora da Universidade Teesside e autora do trabalho.

Além disso, o novo trabalho confirmou outros malefícios já apontados por uma revisão anterior feita pelo mesmo grupo, em 2016, como a possibilidade de se desenvolver problemas cardíacos:

“Três ensaios clínicos randomizados (ECR) investigaram os efeitos do consumo de energéticos na função cardiovascular (...) A ingestão aguda foi associada a um número significativamente aumentado de extrassístoles supraventriculares (uma forma de arritmia cardíaca) e a uma diminuição na frequência cardíaca, destacando o efeito negativo do consumo de energéticos no ritmo cardíaco. O consumo também foi associado ao aumento da rigidez arterial e ao aumento significativo da pressão arterial sistólica (PAS) e da pressão arterial diastólica (PAD)”, escreveram os pesquisadores.

Outros problemas apontados na análise das dezenas de estudos foram uma maior propensão a comportamentos nocivos entre os que consumiam as bebidas, como ao tabagismo, à ingestão de álcool excessiva, ao uso de outras substâncias, à violência, ao sexo e à direção inseguros e ao bullying.

Alguns trabalhos avaliados também indicaram uma ligação entre a ingestão e um pior desempenho acadêmico, pior duração e qualidade do sono e piores hábitos alimentares, como excesso de fast food e pular o café da manhã regularmente.

No trabalho, os pesquisadores sugerem que “um mecanismo plausível” para tantas repercussões negativas pode ser o excesso de cafeína. Os energéticos são bebidas não alcoólicas que geralmente contêm grandes quantidades da substância, de pelo menos 150 mg por litro, além de outros estimulantes como taurina, ginseng e guaraná.

“A cafeína, em combinação com açúcar e outros ingredientes com propriedades estimulantes, pode ter um impacto significativo na saúde geral de crianças e jovens. As associações podem ser mediadas por maus padrões de sono e hábitos alimentares pouco saudáveis”, afirmam.

Restrição da venda no Reino Unido e Brasil

Diante dos achados, Lake afirma que “a evidência é clara de que as bebidas energéticas são prejudiciais à saúde mental e física das crianças e jovens, bem como ao seu comportamento e educação”. “Precisamos tomar medidas agora para protegê-los desses riscos”, defende.

Para William Roberts, diretor-executivo da Sociedade Real para Saúde Pública do Reino Unido, “esta importante revisão contribui para a evidência crescente de que as bebidas energéticas podem ser prejudiciais para a saúde física e mental das crianças e dos jovens, tanto a curto como a longo prazo”.

Lake lembra que, em 2019, o governo britânico realizou uma consulta pública sobre restringir a venda de energéticos apenas para maiores de 16 anos, em que 93% dos respondentes apoiaram a medida. No entanto, apesar do resultado, não foram tomadas medidas adicionais.

“É por isso que precisamos que o governo do Reino Unido intensifique e cumpra o seu compromisso de 2019 de proibir a venda de bebidas energéticas a menores de 16 anos. Ao fazê-lo, não estaria apenas a seguindo as evidências, mas também seguindo o exemplo de países que já restringiram as vendas às crianças, uma medida apoiada pela maioria do público”, diz. Na Suécia, por exemplo, recentemente os produtos passaram a ser proibidos para menores de idade.

É o que propõe também um Projeto de Lei no Brasil, apresentado ainda em 2015, o PL 455/2015. No país, não há restrições, mas a iniciativa busca proibir o consumo por menores de 18 anos. O texto, no entanto, ainda está em análise em comissões da Câmara dos Deputados, e não foi votado em plenário.

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