Nesta semana, Camarões se tornou o primeiro país do mundo com uma campanha de vacinação contra a malária após ter incluído o imunizante RTS,S, também conhecido como Mosquirix, nos serviços de rotina. As doses são destinadas aos bebês de seis meses de idade, e outros nove países africanos também planejam lançar a campanha neste ano, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
O impacto da doença é de fato maior no continente, responsável por aproximadamente 94% dos casos globais e 95% das mortes, segundo dados de 2022. Porém, a malária também está presente em outras regiões do mundo, como o Brasil. De acordo com o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde sobre o tema, foram notificados 131.224 casos no país em 2022, além de 2.114 internações e 62 mortes.
No entanto, a Mosquirix, desenvolvida pela farmacêutica GSK, não deverá ser útil para campanhas de imunização no Brasil. O mesmo vale para uma segunda vacina que recebeu o aval da OMS para malária, a R21/Matrix-M, desenvolvida pela Universidade de Oxford. Isso porque ambas as doses miram a doença causada pelo protozoário Plasmodium falciparum, parasita responsável por mais de 90% dos casos de malária no mundo. Porém, ele não é o mais prevalente entre os casos brasileiros.
— As duas vacinas atuais são para o Plasmodium falciparum, que é de fato a espécie causadora da malária mais virulenta e responsável pela maior mortalidade no mundo. Mas ela não é a que predomina no Brasil, aqui é o Plasmodium vivax. Isso significa que essas vacinas não vão ter muita utilidade para os casos brasileiros da doença, que permanecem altos — explicou em reportagem do GLOBO a professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP) Irene Soares, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Vacinas (NAP) da universidade.
No Brasil, o P. falciparum é responsável por apenas 13,9% dos casos da doença, segundo dados de 2022 registrados no boletim do Ministério da Saúde. Enquanto isso, 84,2% foram decorrentes da infecção pelo P. Vivax.
A boa notícia é que há grupos brasileiros que buscam desenvolver um imunizante nacional direcionado à versão da malária que circula no país. Um dos projetos mais avançados é o coordenado por Irene, da Universidade de São Paulo (USP) em parceria com o Centro de Tecnologia de Vacinas (CTAVacinas), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e com a Universidade de Nebraska, nos Estados Unidos.
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