Saúde
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Por — Rio de Janeiro

O alerta para a gripe (influenza) aviária de alta patogenicidade (IAAP/H5N1) aumentou. O motivo é a inédita propagação do vírus pelo gado leiteiro nos Estados Unidos e a suspeita de que ele tenha adquirido a capacidade de passar de uma vaca para outra, o que aumentaria o risco que possa fazer o mesmo com seres humanos. Por ora, há só um caso humano, sem gravidade. Mas cientistas supõem que o número de animais e pessoas infectados seja maior. Também preocupa o fato de ele ser transmitido pelo leite cru. O pasteurizado é seguro, garantem autoridades dos EUA.

Não há ainda respostas definitivas, pois se trata de uma situação inédita, mas essa linhagem do H5N1 já é o vírus influenza com maior capacidade de disseminação entre espécies diferentes de aves e mamíferos identificado. A seguir, especialistas explicam o que se sabe e os cuidados a tomar.

Qual a situação atual?

Os EUA registraram vacas infectadas pelo H5N1 de alta patogenicidade em 34 fazendas de nove estados. Não foi informado o número total de vacas. As vacas não desenvolvem doença grave ou são assintomáticas. Mas seis gatos, de dois estados (Kansas e Texas), morreram com a forma mais grave da doença, causadora de distúrbios neurológicos. Os gatos contraíram o vírus ao tomar leite cru.

No mundo qual é a situação?

Há uma pandemia em animais, afirma Helena Lage, professora da Universidade de São Paulo (USP), presidente da Sociedade Brasileira de Virologia e estudiosa de influenza. O vírus já infectou pelo menos 64 espécies de mamíferos e mais de 250 de aves. Os casos mais recentes são de morsas, na Irlanda, e de um golfinho, na Flórida. O vírus chegou a todos os continentes, à exceção da Oceania. É letal para espécies de aves importância comercial, como as galinhas. Mas parece brando, até agora, em vacas e os casos em humanos são isolados.

Como ele é transmitido para seres humanos?

Ele não passa de uma pessoa para outra e sim por meio do contato com animais infectados. O temor é que passe a ser transmitido de uma pessoa a outra, pelo ar, como a gripe comum. Mas isso não ocorreu.

Qual o risco para seres humanos?

Até agora é baixo. Há oficialmente nos EUA só um caso de ser humano infectado por vacas, o de um trabalhador de uma propriedade rural que teve conjuntivite e já se recuperou. Porém, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC, na sigla em inglês) realiza uma pesquisa maior porque considera improvável que exista apenas um caso. O vice-diretor do CDC, Nirav Shah, declarou esta semana que muitos fazendeiros relutam em colaborar com as autoridades de saúde e permitir o exame de seus funcionários. Shah acrescentou que os próprios trabalhadores temem ser identificados como infectados. Além disso, algumas fazendas empregam trabalhadores sem documentação e estes não querem colaborar com as autoridades com medo de serem descobertos.

Quantos casos houve até agora no mundo de pessoas com gripe aviária H5N1?

De 2003 a 2020 foram confirmados 889 casos, sendo que 52% dessas pessoas morreram. Porém, em 2020 o vírus passou por mudanças substanciais. Ele passou a se espalhar mais entre espécies de animais, mas, aparentemente, sua letalidade em pessoas diminuiu. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), desde 2021, há 28 casos em humanos, mas apenas 13 são da variante que se espalha neste momento, a do clado 2.3.4.4b. Houve casos em EUA, China, Chile, Equador, Espanha, Reino Unido e Irlanda. A taxa de letalidade é de 8%. A título de comparação, a da Covid-19 é de cerca de 2%.

E qual a situação no Brasil?

Até o momento não há casos conhecidos de infecção de seres humanos no Brasil nem em animais domésticos. Todos os casos de infecção são de aves silvestres e de subsistência. A vigilância é feita no litoral do país, por onde chegam muitas aves migratórias. A circulação dessas aves é principal forma de disseminação do vírus. Lage frisa que vigilância é extremamente importante, deveria se estender ao interior. Ela também diz que o Brasil precisa de testes rápidos para testes nos locais e mais vigilância em áreas do interior. Destaca que as pessoas devem notificar o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) sobre casos suspeitos e nunca tocar em animais doentes. Ela observa ainda que a vigilância deveria aumentar em granjas e fazendas de produção de leite.

Há tratamento específico?

O tratamento é o de influenza, com os antivirais conhecidos, como tamiflu.

E há vacina?

As vacinas em uso não previnem essa forma de influenza. Porém, Helena Lage diz que o Instituto Butantan tem as sementes (o protótipo) de uma vacina pré-pandêmica e poderia produzir um imunizante em curto prazo, se fosse necessário. Essas sementes estão sendo atualizadas, com a variante mais recente do vírus. O país tem capacidade e experiência na produção de vacina contra a gripe.

Qual o risco para pets, como cães e gatos?

Os felinos de modo geral são muito suscetíveis e apresentam distúrbios neurológicos. Os gatos que morreram nos EUA contraíram o vírus ao tomar leite cru das vacas infectadas. Helena Lage salienta que a transmissão de uma vaca para um gato faz a gravidade da situação mudar de patamar, pois mostra a transmissão de um mamífero para outro. Os demais casos de felinos mortos eram por meio de contato com fezes ou carne de aves doentes. Transmissão entre mamíferos também ocorreu com o homem do Texas que contraiu o vírus. Os cães são suscetíveis e também adoecem e morrem. Mas todos os casos (registrados nos EUA e no Canadá) são de animais que comeram aves silvestres infectadas.

A carne de frango pode transmitir o vírus?

Helena Lage ressalva que a carne cozida de aves, como frangos, é segura. O mesmo vale para os ovos. Os crus devem ser evitados, mas os que passam por cozimento são seguros.

Qual a gravidade da contaminação do leite?

O consumo de leite cru de vacas infectadas pode transmitir o vírus e a Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou um alerta na semana passada orientando a população a não beber leite cru, somente pasteurizado.

E o leite pasteurizado é seguro?

Sim. A Administração de Drogas e Alimentos dos EUA (FDA, na sigla em inglês) realizou testes padrão-ouro e assegurou esta semana que a pasteurização elimina o risco de infecção. O leite das vacas com gripe aviária tem aparência diferente. É mais amarelado e espesso. Presumidamente, o leite de todas as vacas infectadas é descartado pelos produtores americanos. Porém, a Administração de Drogas e Alimentos dos EUA (FDA, na sigla em inglês) encontrou RNA do H5N1 em uma em cada cinco amostras de leite pasteurizado vendido no país. O RNA indica tanto a presença de vírus mortos quanto vivos e sua presença não implica que haverá transmissão. Helena Lage diz que para isso ocorrer seria necessária uma grande concentração de vírus, caso do leite cru consumido pelos gatos que morreram.

Quais as implicações da descoberta?

O fato de um quinto das amostras ter RNA viral sugere a possibilidade de que mais rebanhos tenham sido infectados e os produtores não estejam eliminando todo o leite afetado, ou que o leite com vírus não pareça alterado ou ainda que vacas supostamente saudáveis estejam produzindo leite contaminado. A diretora do Instituto de Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Luciana Costa, destaca que a descoberta sugere que outros vírus influenza possam se espalhar pelo leite cru e que esse não deve ser consumido.

O que a influenza em vacas significa para a dispersão do vírus?

O H5N1 parece ter se adaptado a hospedeiros bovinos, a maioria deles assintomáticos. Se ele passar a ser transmitido pelo ar de forma eficiente pelas vacas, poderá fazer o mesmo com seres humanos. E teremos um grande problema, afirma Helena Lage.

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