Saúde
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Por — Rio de Janeiro

O sinal de alerta contra o movimento antivacina e a disseminação desenfreada de fake news relacionadas à segurança e à eficácia de imunizantes está ligado no Ministério da Saúde. Em entrevista ao Globo, o diretor do Programa Nacional de Imunizações (PNI), Eder Gatti, disse que as estatísticas já mostram que a desinformação vem causando estragos e contribuindo para a queda nas coberturas no Brasil, a despeito de nossa histórica cultura de vacinação.

A percepção foi comprovada pelo módulo sobre a Covid da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, divulgado em maio. Entre as cerca de nove milhões de pessoas que não haviam tomado, até o primeiro trimestre de 2023, todas as doses indicadas para prevenir a doença, um quarto não confiava na vacina.

Reverter esse cenário é apenas um dos desafios do PNI, que tem como êxitos, aponta Gatti, a melhoria do desempenho das taxas de imunização de crianças desde o ano passado e também resultados promissores do sistema de microplanejamento adotado pelo ministério. Indicado pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) ao Brasil como forma de descentralizar e aprimorar a assistência num país de 5.570 municípios e diferentes realidades epidemiológicas e sociodemográficas, a iniciativa vem permitindo identificar e atender demandas específicas de vacinação país afora, aponta o diretor do PNI.

Neste Dia Nacional da Imunização, que avaliação o Ministério da Saúde faz dos esforços para estimular a população a se vacinar?

Os dados de vacinação de rotina de crianças mostram que nós conseguimos interromper uma tendência de queda das coberturas que vinha desde 2016. Ano passado, registramos aumento, na comparação com 2022, de cinco a dez pontos percentuais nas principais vacinas: poliomielite, meningite, pneumocócica, pentavalente, hepatite A…. Levamos o microplanejamento a todos os estados, demos recursos extras aos municípios, fizemos uma reestruturação no fluxo e padronização da informação, lançamos campanha de vacinação nas escolas, a campanha da pólio. Não tivemos nenhum caso autóctone de sarampo ano passado inteiro. Diante de tudo isso, a avaliação é de que, de fato, houve melhora no PNI. Agora, nosso grande desafio é recuperar as coberturas vacinais como um todo. E precisamos aprimorar nosso sistema de informação, ampliar a cobertura de atenção primária, modernizar a rede de frio (ambientes com temperaturas adequadas à conservação das doses) e garantir que as vacinas cheguem para todo mundo.

É prioridade desta gestão que o país volte aos patamares de cobertura vacinal de cinco ou dez anos atrás?

Sim, a gente quer muito bater a meta, porque não é algo meramente administrativo: significa proteção da população. O que representa uma cobertura 95% de vacinação para pólio? Significa que se uma pessoa se infectar ou trouxer de fora o vírus, não vai encontrar pessoas suscetíveis pela frente para infectar.

É difícil entender como deixamos de ser um exemplo em termos de vacinação. Que fatores principais levaram à queda da cobertura vacinal no Brasil, de 2016 pra cá?

São várias as causas. A hesitação vacinal tem a ver com o próprio sucesso do PNI. Eu sou de uma geração que nasceu e cresceu nos anos 1980 e 1990, ainda tive contato com doenças como catapora, caxumba. Os adultos jovens de hoje já cresceram num cenário de altas coberturas e ausência completa dessas doenças. O último caso de paralisia infantil no Brasil foi em 1989. Então hoje as pessoas começam a se perguntar o porquê de se vacinar, o que não acontecia no passado. O que também levou à queda é a dificuldade de acesso à vacinação de 2016 para cá, por conta do processo de sucateamento da atenção primária e problemas pontuais de abastecimento e crises estruturais do Sistema Único de Saúde. As pessoas iam para o posto e a sala estava fechada, não tinha a vacina de que precisavam.

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E, mais recentemente, somou-se a isso o fenômeno das fake news…

Sim, começaram a questionar a segurança e eficácia das vacinas, por causa da disseminação de informações falsas. É algo muito novo no Brasil, e antigo em países europeus. Piorou com a questão das redes sociais, a politização da vacinação da Covid e o surgimento de grupos que defendem a não-vacinação.

São muitas frentes para se atuar ao mesmo tempo. Temos fôlego?

Temos uma estratégia para cada uma delas. A Opas apresentou o método do microplanejamento, que está fazendo um ano e já está dando resultados. Temos planilhas que ajudam a planejar a ação de vacinação, mapeando as pessoas suscetíveis e não-vacinados, avaliando a rede de frio, o estoque, a situação epidemiológica. Exemplo, no início do mês passado fizemos campanha de febre amarela só em Roraima, porque havia um risco específico lá. Vamos fazendo uma leitura da estrutura que temos para atingir os melhores resultados. Seja saindo do posto de saúde, vacinando em escolas, asilos, ambientes públicos. Isso é ampliar o acesso à vacina. Para aumentar a confiança nas vacinas, lançamos o Movimento Nacional pela Vacinação, com uma lógica diferente de comunicação, regionalizada, para cada tipo de estado, de território. Outro foco é não deixar faltar vacina.

O movimento antivacina no Brasil assusta, ou é algo ainda pequeno e controlável?

Embora novo, já causa muito estrago, especialmente na vacinação de adultos, como vemos no caso da Covid e da influenza (a campanha atual está com baixa adesão no Brasil todo). A gente vê que está melhorando a vacinação de rotina das crianças e adolescentes. Por exemplo, a do HPV, entre 2022 e 2023, subiu 40% em termos de número absoluto de doses aplicadas, mais entre meninos e em termos de segunda dose. Agora, entre adultos, há dificuldades. A PNAD Covid mostra que mais de 90% da população tomou alguma dose contra a doença. Só que a segunda maior causa entre os que não tomaram as demais doses é falta de confiança na vacina. E quem não tomou nenhuma foi por negacionismo mesmo. Quando você olha quem não vacinou os filhos pequenos, é péssimo, e a principal causa é o medo, relacionado à segurança.

As fake news relacionadas à vacina da Covid contaminam outras campanhas?

Sim, isso reverbera. O idoso que não quer tomar a vacina da Covid deixa de tomar a da influenza também. É algo que intriga. Quando a gente lançou a campanha da bivalente, saíram muitas fake news dizendo que bivalente significava uma vacina para influenza e Covid juntas. Isso vai impregnando, impacta na vacinação de adultos, de idosos. Então (o movimento antivacina) não é desprezível, é algo a que a gente precisa ficar atento. Ainda somos um país que acredita em vacina, mas o antivacina está presente e causando problemas no país. Estamos monitorando a desinformação nas grandes redes e categorizando por classificação de risco. Existe muito interesse econômico e político por trás disso. Não é verdade seletiva só, é informação alterada. É um problema de segurança pública, não só de saúde pública.

Num mundo em que a desinformação gera muito mais engajamento do que a informação correta, qual saída?

No caso da Covid, o fato de trazer a vacina para o calendário do PNI, para a faixa de seis meses a cinco anos (o que aconteceu a partir de janeiro), a transforma em algo rotineiro, e traz os condicionantes, como o Bolsa Família (é preciso estar com a vacinação dos filhos em dia para receber o benefício). Até o ano passado, era campanha. Então essa é uma forma de blindar a vacina. Além disso, o microplanejamento ajuda na rotina, pois a vacina chegar mais facilmente às pessoas, ao profissional de saúde, mitiga um pouco a desinformação. E vamos buscar os não-vacinados pelo setor de atenção da saúde.

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