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Por — Rio de Janeiro

RESUMO

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GERADO EM: 19/07/2024 - 04:30

Impacto psicológico dos vlogs no Brasil: motivação ou comparação?

Especialistas discutem os efeitos psicológicos dos vlogs, apontando a tendência de comparação com vidas retratadas. Os vídeos, populares no Brasil, oferecem intimidade e conexão, mas podem gerar tanto motivação quanto sentimentos negativos. Recomendam reflexão crítica para assistir de forma saudável.

Algo tão simples como assistir outra pessoa fazer suas tarefas do dia a dia pode atrair milhões de visualizações para um vídeo. De lavar a louça, ir ao mercado ou ler um livro a preparar marmitas da semana, os “vlogs”, como são chamados videoblogues publicados no YouTube que retratam os sutilezas da vida diária (mas passam por edições antes de ir ao ar), fazem sucesso no Brasil. Por outro lado, existem efeitos psicológicos em quem assiste, como a comparação em relação à vida retratada nas telas.

Na contramão dos vídeos de curta duração, os vlogs tendem a ser mais longos, podendo ir de 15 até 50 minutos. Não existe uma subdivisão explícita de subgêneros destes vídeos, geralmente são descritos a partir do conteúdo que mostram. Mas os mais comuns são: viagem e rotina.

O objetivo dos vloggers é criar uma atmosfera intimista e direta que crie um vínculo com o telespectador, seja falando ou gravando enquanto realiza alguma atividade solitária, como em um diário gravado. Um exemplo disso é a escolha por não mostrar somente o resultado final da arrumação da casa, mas o desarrumado do “antes”. Outro ponto é a frequência de publicação deles ser semanal, para fidelizar o telespectador.

De acordo com um levantamento feito pelo YouTube a pedido do GLOBO, os canais administrados por brasileiros que apostam neste formato e tiveram um crescimento notável nos últimos anos são: Fran Japa (atualmente com 1,92 milhões inscritos), Vlog do Rodrigão (1,1 milhões), Amanda Ko (519 mil), Lani Pliopa (a qual optou por falar inglês em seus conteúdos, com 400 mil), Belah Borges (118 mil) e Júlia Belinatti (66 mil).

Conforme o relatório, uma tendência de vlogs surgiu na Ásia e vem ganhando espaço entre criadores de conteúdo em vários países: o "silent vlog", no qual não se mostra o rosto nem se fala diretamente para a câmera. Já no quesito buscas, a palavra “vlog” geralmente é digitada juntamente com “daily” (diário no sentido de rotineiro, traduzido do inglês), “viagem” ou “de tudo”, como mostra o Google Trends.

Os vídeos do canal de Júlia Belinatti, por exemplo, mostra os pequenos detalhes da sua rotina em Nova Iorque. Da bebida servida na cafeteria em seu bairro até a leitura favorita do momento. Algo que se compara a uma pequena entrada no mundo de outra pessoa, mas com direito a riqueza de ângulos, trilha sonora e comentários sobre o que está acontecendo em cada cena.

— Comecei a criar meus vídeos para o YouTube depois de ter me mudado com meu marido e nosso cachorro. No início, eu queria mostrar um pouco dessa nova rotina e das minhas novas experiências. Sempre amei assistir a "vlogs de rotina" e achei que seria uma boa ideia! Hoje vejo que também comecei a criar os vídeos como forma de me conectar com mais pessoas nesse novo momento da minha vida, e principalmente, para criar uma comunidade — a vlogger conta ao GLOBO.

Assim como ela, pessoas de todas as partes do mundo compartilham o que tem de mais interessante nos momentos considerados comuns no cotidiano — é possível encontrá-los ao digitar "vlog [país de escolha]" .

Laura Teodoro, de 21 anos, conta que é seguidora ávida de canais específicos, com influenciadores nos quais encontra uma sensação de familiaridade.

— Eu assisto esse tipo de conteúdo desde criança, mas acho que ficou mais forte na pandemia. Comecei a revisitar vídeos antigos e era uma forma de viver através deles aquelas coisas — conta a estudante de jornalismo da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) em Passos.

Efeitos psicológicos de acompanhar rotinas

O prazer do ser humano de observar como vivem os seus iguais é algo inerente, ou seja, faz parte da espécie, como explica a neurologista Bruna Gutierrez Gambirasio, do Hospital e Maternidade São Luiz Itaim, em São Paulo.

— Viver com outras pessoas instiga naturalmente a comparação. Somos seres sociáveis e tendemos sempre a ver os outros como um espelho. Nós nos comparamos, seja para tomarmos nossas decisões como certas ou erradas, para definir se algo é bonito ou feio. Se a gente voltar um pouco no tempo, os filmes e as novelas sempre trouxeram esses parâmetros para as pessoas — aponta a especialista.

Contudo, o consumo dessas obras, fosse através do cinema ou da televisão, trazia consigo a consciência de não ser algo real mesmo que houvesse um esforço de produção para retratar a realidade.

— Nessa última década ganhamos uma nova possibilidade de enxergar o dia a dia com a chegada dos vlogs. As nossas comparações agora são feitas com pessoas reais, com cenários reais — analisa Gambirasio.

Para a psicóloga clínica Juliana Lemos, especialista em terapia cognitivo comportamental pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS), o principal ponto positivo é a motivação que se ganha ao observar a estruturação do dia de outras pessoas. Sejam eles cumprindo tarefas, como ir ao mercado, ou apenas curtindo a própria companhia.

— Esses vídeos são recortes de momentos prazerosos, por isso, acabam gerando desejo nas pessoas que estão assistindo. Porque é uma vida aparentemente sem problemas e divertida, então isso gera dopamina — destaca.

Ela dá o exemplo de alguém que queria há muito tempo fazer exercício físico diariamente, mas não conseguia e decide seguir um canal no qual o vlogger vai frequentemente à academia.

— Algumas pessoas vão utilizar os vlogs como um incentivo, um ideal do qual elas querem se aproximar. Quem tem uma vontade e está assistindo ao vídeo pode pensar: se aquela pessoa pode, por que que eu também não posso? E age diferente a partir dali — afirma a especialista em saúde mental.

Contudo, como Lemos aponta, em alguns casos, de forma negativa, a comparação pode ocasionalmente se tornar um efeito paralisante. Ou, até mesmo, servir como mecanismo de escape para fugir dos próprios problemas.

— Também existem as questões negativas associadas ao vlog. O indivíduo pode passar a achar que sua própria vida é injusta, começa a ter pensamentos paralisantes de “tudo ou nada”. E também passa a achar que nunca vai ter o que aqueles vloggers tem. Além disso, os vídeos podem servir como uma mudança de foco dos pensamentos, para fugir da própria realidade — aponta Lemos.

Qual é a maneira mais saudável de assistir outras pessoas?

A atenção de quem assiste é cativada por um período considerável, podendo chegar a 50 minutos em alguns casos. E para os apreciadores dos vlogs, isto pode significar assistir três ou quatro seguidos, como uma maratona.

Desta forma, Lemos aconselha que, a forma mais saudável de gerir este hábito é manter a consciência de como o conteúdo mostrado te atinge em um nível pessoal. Ou seja, aplicar o senso crítico e fazer uma auto análise quando surgem os pensamentos negativos.

— Será que eu quero aquela vida? Será que faz sentido para mim, dentro dos meus valores? Será que não estão retratando apenas os momentos de maior felicidade? É isso que eu desejo para mim? Ter esse tipo de reflexão vai ajudar a pessoa que está assistindo a não desenvolver crenças de incapacidade ou improdutividade — recomenda a psicóloga.

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