A estratégia de comunicação cringey que os terapeutas de casais adoram

Seu primeiro instinto pode ser fazer bico ou ficar indignado. Ou então você pode tentar uma abordagem mais terapêutica.

“Eu me sinto frustrada", diria esta versão iluminada de você, “quando você olha para o seu telefone enquanto estou falando com você”.

Parabéns! Você usou com sucesso uma declaração em primeira pessoa — uma ferramenta de comunicação amada por muitos terapeutas de casais, que a recomendam para ajudar a reduzir a atitude defensiva, ter discussões mais produtivas e, sim, brigar melhor.

Os terapeutas sabem que o conselho é um pouco constrangedor. Jessica Grogan, terapeuta familiar e de casamento, disse que quando fala com seus clientes sobre os méritos das "declarações em primeira pessoa", ela se prepara para o revirar de olhos.

— Eu sei que isso é um clichê do terapeuta — diz ela rindo.

Mas se você acredita, como Grogan, que os relacionamentos são negociações contínuas, então “a melhor maneira de fazer isso é com ‘declarações em primeira pessoa’”, diz ela.

Veja como elas funcionam.

De acordo com Tracy Dalgleish, psicóloga especializada em casais, a receita básica para uma declaração em primeira pessoa é: "Eu me sinto X quando Y acontece".

No entanto, segundo a psicóloga, se você simplesmente está adicionando a frase “eu sinto que” a uma crítica sobre o comportamento do seu parceiro – por exemplo: “eu sinto que você está sendo idiota quando deixa os pratos na pia” –, isso não é uma verdadeira declaração em primeira pessoa.

— Eu sempre lembro às pessoas que quando fazemos declarações, como "eu sinto que você nunca..." ou "eu sinto que você não está ouvindo", isso não são sentimentos — explica Dalgleish.

Verifique se você está usando a frase como um preâmbulo para uma percepção ou suposição, em vez de uma emoção real.

Terapeutas de casais dizem que existem variações na declaração em primeira pessoa. Segundo Galena Rhoades, psicóloga clínica e professora pesquisadora da Universidade de Denver, existe a "declaração XYZ", que essencialmente é: “Eu me senti X quando você fez Y na situação Z”.

Terapeutas treinados no Método Gottman, criado pelos renomados psicólogos e pesquisadores do amor John e Julie Gottman, muitas vezes recomendam o chamado “início suave”. Carrie Cole, diretora de pesquisa do Instituto Gottman, explicou que o método consiste, basicamente, em dizer como você se sente, descrever o que está acontecendo e terminar falando o que precisa.

Da mesma forma, Dalgleish muitas vezes encoraja os casais a terminarem uma declaração em primeira pessoa com o que precisam. Por exemplo: “Eu me sinto sozinha quando você está no seu celular. E eu realmente tenho pensado que preciso da sua atenção total enquanto estamos jantando”.

Dalgleish acredita que declarações em primeira pessoa podem ajudar com nossa resposta cerebral primitiva ao medo ou perigo. Para ela, quando alguém começa com “você” e uma acusação, isso pode parecer ameaçador.

— O sistema nervoso diz: "Perigo! Perigo! Entre no modo de luta ou fuga"! E essa pessoa imediatamente para de ouvir.

Na experiência da psicóloga Grogan, mesmo os casais mais céticos acabam tentando as declarações em primeira pessoa, embora possam parecer desajeitadas ou forçadas. Muitos dos casais que ela vê, por exemplo, se sentem exaustos de terem as mesmas discussões repetidamente, e estão ansiosos para encontrar uma maneira de se comunicar com mais respeito e menos na defensiva.

Dalgleish frequentemente lembra a seus clientes que, se não trouxer nenhum outro benefício, as declarações usando o "eu" ajudam você a focar no que está sob seu controle.

— Temos poder, escolha e agência sobre como escolhemos nos comunicar. Não conseguimos controlar como alguém responde — afirma.

Cole reconhece que, embora uma declaração em primeira pessoa pareça simples na teoria, pode ser difícil usá-la quando seu parceiro está fazendo algo que te deixa maluco.

— Ela não sai automaticamente da boca, como acontece com "‘Você deixa suas porcarias em todos os lugares” — diz Cole.

Segundo ela, declarações em primeira pessoa exigem reflexão e prática repetida, observando que é casada há quase três décadas. Aliás, levou anos para que ela se tornasse realmente boa em se comunicar dessa forma.

Até mesmo terapeutas de casais que são defensores fervorosos da técnica reconhecem que ela tem limites. Não há garantia de que seu parceiro concordará em atender à sua necessidade simplesmente porque você fez um esforço de boa-fé para se comunicar de uma maneira mais construtiva.

De acordo com Dalgleish, é melhor pensar nas declarações em primeira pessoa como apenas uma ferramenta que pode ajudar os casais, acrescentando que o momento também é importante. Para ela, você provavelmente não terá muito sucesso usando-as quando seu parceiro estiver preocupado com um prazo de trabalho, um filho pequeno frenético ou estiver com fome ou cansado.