Saúde Coronavírus

Ômicron: nova variante atingiu auge de 70% dos casos no dia 25 de dezembro, mostra levantamento inédito

Desde o começo do mês, cepa foi encontrada em 31,7% das amostras analisadas em oito estados
Variante Ômicron (em vermelho) nos tecidos de brônquios humanos infectados. Foto: Universidade de Hong Kong/Divulgação
Variante Ômicron (em vermelho) nos tecidos de brônquios humanos infectados. Foto: Universidade de Hong Kong/Divulgação

RIO — Um levantamento feito pelo Instituto Todos pela Saúde (ITpS) mostrou que a variante Ômicron chegou a atingir quase 70% dos casos positivos de Covid-19 no dia 25 de dezembro. Desde o início do mês, a incidência da nova cepa foi de 31,7%, sendo encontrada em oito estados brasileiros.

Os laboratórios Dasa e DB Molecular — parceiros do ITpS no levantamento — analisaram 30.483 testes RT-PCR Especial, dos quais 640 deram positivo para o coronavírus. As amostras foram coletadas entre 1 e 25 de dezembro, em 16 estados. Dentre os testes positivos para Covid-19, os cientistas encontraram em 203 deles a variante Ômicron.

Ômicron: Cientistas revelam novos sintomas da variante

A nova cepa estava presente em testes de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso, Bahia, Goiás, Santa Catarina e Tocantins. Os estados de São Paulo e Rio de Janeiro foram os únicos em que a Ômicron foi detectada em mais de 50 testes.

O percentual da Ômicron em relação às amostras positivas vem subindo dia após dia. Na última semana, ultrapassou a taxa de 40%, chegando a aproximadamente 70% no dia 25 de dezembro.

Monitoramento da variante Ômicron em estados brasileiros no mês de dezembro de 2021. Foto: Divulgação/Instituto Todos pela Saúde
Monitoramento da variante Ômicron em estados brasileiros no mês de dezembro de 2021. Foto: Divulgação/Instituto Todos pela Saúde

Balanço do Ministério da Saúde divulgado na última segunda-feira, dia 27, registra a confirmação oficial de 74 casos de Ômicron no país. Há outros 116 em investigação.

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— Os dados servem de alerta para o poder público e para a população. Nos próximos dias teremos reuniões e festas por causa do réveillon, e é preciso lembrar que a pandemia não acabou. Além da circulação da variante Ômicron, temos o vírus da gripe H3N2, que também pressiona o sistema de saúde. É urgente que os brasileiros completem o ciclo de vacinação contra a covid-19, incluindo a dose de reforço, e não abandonem a máscara, a higiene das mãos e o distanciamento social —  afirma Jorge Kalil, diretor-presidente do ITpS.

Como a Ômicron foi detectada

Para encontrar a Ômicron nas amostras dos brasileiros, os laboratórios não fizeram o sequenciamento genético do vírus, mas utilizaram o teste RT-PCR Especial. A nova cepa tem diversas mutações e deleções (remoções de fragmentos de genes), e uma em particular afeta os códons 69 e 70 do gene S (linhagem Ômicron BA.1). Quando esse trecho do gene S não é identificado no teste RT-PCR Especial, é possível indicar que se trata da Ômicron.

Como o sequenciamento genético é mais demorado e a transmissão da Ômicron é rápida, a Organização Mundial da Saúde (OMS) aprova o uso de testes PCR para identificar casos suspeitos da nova variante.

Intensificação da testagem

Especialistas ouvidos pelo GLOBO alertam para a necessidade da intensificação da testagem para Covid-19 nesse momento de avanço da variante Ômicron e de aumento da circulação de outros vírus respiratórios, como o influenza, causador da gripe, e do vírus sincicial, que causa bronquiolite. Dados do Reino Unido mostram que os sintomas característicos da Ômicron, em especial entre vacinados, são mais parecidos com os de um refriado comum do que com os sintomas clássicos de Covid-19, causados pelas variantes anteriores, como febre, tosse e perda de olfato e/ou paladar.

Para o epidemiologista Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), esse fato acende um sinal de alerta para o Brasil.

— O país tem um dos programas de testagem mais pífios do planeta. Com baixa testagem, não há como diferenciar os pacientes da Ômicron e os pacientes do resfriado comum. Desde o começo da pandemia, vínhamos alertando para a necessidade de investir em testagem, algo que, infelizmente, nunca foi priorizado pelo governo federal. É surreal acreditar que o governo jogou milhões no lixo com cloroquina e ivermectina e deixou de investir em testagem e compra antecipada de vacinas. Não é por acaso que a mortalidade por Covid-19 no Brasil é cinco vezes maior do que a média mundial — diz Hallal.

Segundo ele, fazer mais testes, tanto em amostras da população, quanto em pessoas com qualquer sintoma e incluir vigilância genômica para monitoramento de variantes é fundamental neste momento.

O  infectologista, Leonardo Weissmann, médico do Instituto Emílio Ribas e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) ressalta que a testagem em massa é essencial para a rápida identificação dos casos e isolamento dos indivíduos infectados, quebrando a cadeia de transmissão.

— As pessoas estão com a falsa sensação de que a pandemia de Covid-19 está controlada, o que não é uma verdade — alerta o médico.

Para o infectologista Julio Croda, professor de Medicina da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a realização do teste rápido que identifica influenza e Covid é uma boa opção para o momento atual do país. No caso da gripe, por exemplo, o diagnóstico precoce permite iniciar o tratamento com Tamiflu. O especialista lembra também que a testagem e a notificação são importantes para entender qual vírus está circulando em cada região.

— A medida que flexibilizamos mais, os outros virus repiratórios voltam a circular. Em nível de política pública, é preciso aprimorar a vigilância sentinela, que são centros específicos nos estados, que testam todos os casos de síndrome gripal para saber qual é o vírus circulante. A representatividade dessas unidades sentinela é muito baixa no Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Precisamos mais de unidades nessas regiões para entendermos melhor essa dinâmica e monitorarmos melhor os vírus respiratórios no Brasil — explica Croda.

Aumento na procura por testes e na positividade

Embora não haja uma política oficial do governo federal para intensificar a testagem para Covid-19, o aumento da circulação do coronavírus e de outros vírus respiratórios já gerou um aumento na busca por testes.

Na rede RD-Raia Drogasil, maior grupo de farmácias do Brasil, a procura por testes de Covid-19 cresceu 54% em dezembro, em comparação com o mês anterior. Dados do Grupo DPSP, que inclui as Drogarias Pacheco e Drogaria São Paulo e está presente em nove unidades da federação, mostram que na terceira semana de dezembro (do dia 20 ao 26) houve um aumento de 88% na quantidade de testes de Covid-19 realizados, em comparação com a primeira semana do mês (do dia 6 ao 12). Também houve aumento no índice de positividade nesses testes nesse período, passando de 5% para 15%.

Outro levantamento, realizado pela Dasa, maior rede de saúde integrada do Brasil, identificou aumento de 49,4% no volume de testes para o vírus em dezembro, em comparação com novembro. Nas últimas semanas, a taxa de positividade na rede teve um incremento de 1.059,4%, saindo de 1,38% no dia 4 de dezembro para 16% em 28 de dezembro. Os dados são baseados em exames realizados nas mais de 900 unidades ambulatoriais da rede espalhadas pelo Brasil.

Na cidade de São Paulo, uma das mais afetadas recentemente pelo aumento de casos de Covid-19 e influenza, dados da Secretaria Municipal da Saúde mostram que até ontem foram registrados 251.589 atendimentos a pessoas com quadro respiratório. Destes, 115.235 eram suspeitos de Covid-19. O número é mais que o dobro do mês anterior. em novembro, foram registrados 111.949 atendimentos de pessoas com sintomas gripais, sendo 56.220 suspeitos de Covid-19.

Devido ao aumento no registro de atendimentos de pessoas com sintomas respiratórios, a prefeitura de São Paulo iniciou, no dia 16 de dezembro, a realização de testes rápidos em suas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), Assistências Médicas Ambulatoriais (AMAs), Pronto Atendimentos (PAs) Prontos-Socorros, no setor de triagem, para identificar os casos positivos de Covid-19. A partir desta quinta-feira terá início a testagem rápida para o diagnóstico de influenza A e B, inédita na cidade. Os novos testes são destinados aos pacientes que estão procurando as UBSs com sintomas respiratórios.

Nas unidades do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, foi identifcado um aumento de aproximadamente 57% na realização de testes de RT-PCR para Covid-19 entre a segunda e terceira semana de dezembro. No mesmo período, a taxa de positividade dos testes subiu de 3,9% para 15,8%.