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Coronavírus: o que se sabe sobre os testes para diagnosticar a Covid-19

Dependente de kits e insumos importados, Brasil vê maiores produtores não atenderem à demanda mundial
O que se sabe sobre testes para diagnóstico do coronavírus Foto: Editoria de Arte
O que se sabe sobre testes para diagnóstico do coronavírus Foto: Editoria de Arte

Um dos maiores gargalos no enfrentamento à Covid-19 está na realização de testes . É através de seus resultados que governos têm noção do tamanho do problema e da evolução dos casos em seus países e, com isso, podem traçar estratégias. No entanto, como se trata de um vírus com alta velocidade de propagação, testar a população se tornou um desafio.

O maior exemplo para o mundo de que o caminho está na testagem talvez venha da Coreia do Sul . As imagens de drive-thrus nos quais as pessoas são testadas dentro de seus carros circularan pelo mundo e inspiraram outros países . Os números também falam por si. O país asiático anunciou o primeiro caso de coronavírus em 20 de janeiro, mesmo dia que os Estados Unidos . Hoje, enquanto os americanos lideram o ranking de infecções , com com quase 400 mil casos, os sul-coreanos registram pouco mais de 10 mil.

No Brasil, o Ministério da Saúde prometeu 22,9 milhões de testes . A maioria deles (14,9 milhões) são os chamados moleculares, que demandam uma análise laboratorial e, com isso, mais tempo para apresentar o diagnóstico. Já os rápidos totalizam oito milhões, sendo cinco milhões doados pela Vale. Os outros três milhões a pasta comprará por intermédio da Fiocruz .

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São três os tipos de testes : RT-PCR (molecular), rápidos e sorológicos . O primeiro, mais preciso, detecta o material genético do vírus numa amostra de secreção nasal ou da garganta, coletada do paciente com uma espécie de cotonete. Ou seja, diz se o vírus está presente na amostra. Entretanto, exige equipamentos de que poucos laboratórios dispõem e demora de seis a 24 horas para dar resultado.

Os outros dois são mais rápidos. Não detectam o coronavírus, mas os anticorpos produzidos pelo organismo contra ele (IgM e IgG). São fáceis de fazer, podem ser realizados em hospitais e oferecem resultado em cerca de 15 minutos a partir da coleta de apenas uma gota de sangue. Têm 98% de acerto para os casos positivos. O problema é que só podem ser feitos após sete dias do aparecimento dos sintomas. Antes, a probabilidade do falso negativo é muito grande . Por isso a utilização destes testes preocupa os especialistas .

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Até agora apenas 500 mil testes rápidos (dos 5 milhões encomendados) chegaram ao Brasil. A ideia do governo é usá-los apenas para monitorar profissionais de saúde isolados e para fazer “vigilância epidemiológica”, como o estudo de inquérito sorológico para o qual foram destinados R$ 12 milhões e que pretende levantar a amostragem da população infectada no país . Uma das principais vantagens de se descobrir quem já contraiu a doença é a possibilidade de liberá-la do distanciamento social.

- Estes testes rápidos, se derem positivo, vão descartar a necessidade do teste de PCR - explica Amilcar Tanuri, coordenador do Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ . - Ele vai mostrar quem já está imune e pode trabalhar sem preocupação de ser infectado. Vai ser importante para repor força de trabalho. Mas não sei se vamos ter condição de usar em larga escala. Não vamos ter testes suficientes.

O Brasil sofre com limitações na realização de testes rápidos e moleculares. No caso dos primeiros, o país não é autossuficiente na produção dos chamados kits. Mesmo os que saem da Fiocruz, através do Bio-Manguinhos, não são 100% nacionais. Parte deles é importada.

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Em relação aos laboratoriais, a dependência também é grande. Os insumos e reagentes necessários para a realização dos testes são todos importados. O Brasil também paga o preço pela falta de investimento em seu parque biotecnológico .

Neste momento há nada menos do que 214 testes comerciais ou em desenvolvimento no mundo para o diagnóstico do coronavírus. A imensa maioria produzida na China ( a quem o Brasil encomendou os cinco milhões de testes rápidos), seguida por EUA e Índia. E a escala de produção não é suficiente para atender à demanda global.

Além disso, os laboratórios nacionais já sofrem para atender à quantidade de testes realizados atualmente. Numa das tentativas de socorrer o Ministério da Saúde, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, anunciou que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária ( Embrapa ) colocou todos os seus laboratórios à disposição . Até agora, seis já foram homologados. Os demais ainda necessitam de adaptações, que devem ocorrer em breve. Segundo ela, o potencial é para a realização de mais de 70 mil testes por dia.