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Lição da Itália para o Brasil é 'agir imediatamente' contra coronavírus, diz assessor do governo italiano

Membro da OMS, Walter Ricciardi diz que ideia de isolamento vertical 'subestima o impacto da epidemia em vidas humanas' e rebate fala de Bolsonaro que minimizou mortes no país
Padre de máscara faz bênçãos diante de caixão, na região da Lombardia, uma das mais afetadas pelo coronavírus na Itália Foto: PIERO CRUCIATTI / AFP
Padre de máscara faz bênçãos diante de caixão, na região da Lombardia, uma das mais afetadas pelo coronavírus na Itália Foto: PIERO CRUCIATTI / AFP

BRASÍLIA — O médico Walter Ricciardi, assessor do Ministério da Saúde da Itália e representante do país na Organização Mundial da Saúde ( OMS ), afirma que a lição que o seu país tem para passar ao Brasil no combate ao novo coronavírus é "agir imediatamente".

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Ricciardi também critica a estratégia do isolamento vertical , já defendida pelo presidente Jair Bolsonaro , dizendo que isso "subestima o impacto da epidemia em vidas humanas".

A Itália é o mais país com mais mortes causadas pela Covid-19: mais de 17 mil. Mesmo assim, na semana passada Bolsonaro minimizou as mortes no país europeu , ao dizer que um "estudo" havia demonstrado que "a maioria das mortes não tem nada a ver com o coronavírus". De acordo com ele, só 12% das mortes na Itália "tem a ver com o vírus, 88% não tem nada a ver".

Apesar de Bolsonaro não ter citado a origem do estudo, sites bolsonaristas (como o Brasil Sem Medo, ligado ao ideólogo de direita Olavo de Carvalho) atribuíram a informação a Ricciardi. Na realidade, ele explicou ao GLOBO, em uma entrevista por e-mail, que o que houve foi uma reavaliação dos casos feita pelo Instituto Nacional de Saúde do país, que mostrou que 88% das vítimas tinham outras doenças, mas não que o coronavírus não tenha impacto nesses óbitos.

— Todas elas aconteceram em pessoas infectadas pelo Sars-Cov-2, somente 12% foram causadas diretamente pelo coronavírus em vítimas sem outras doenças, os outros casos tinham uma ou mais comorbidades — esclareceu.

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Ricciardi, que também é professor de Saúde Pública na Universidade Católica do Sagrado Coração, relata que não está acompanhando de perto a forma como o Brasil que está lidando com o coronavírus. Mas, questionado sobre a estratégia de Bolsonaro de que apenas idosos e integrantes do grupo de riscos deveriam ficar isolados, respondeu:

— Isso subestima o impacto da epidemia em vidas humanas.

Já em relação ao que o Brasil pode aprender com a Itália, ele diz:

— Agir imediatamente e não fazer pouco demais, tarde demais.

O especialista não concorda com aqueles que minimizam a Covid-19 e alerta que milhões podem ser infectados caso medidas não sejam tomadas:

— É muito sério, é um novo vírus, todos são suscetíveis, se (a pandemia) ficar descontrolada poderemos ter milhões de casos e milhares de mortes.

Em relação à Itália, Ricciardi não avalia que o país tenha subestimado o impacto do coronavírus. Ele afirma que as medidas estão fazendo efeito, mas admite que poderiam ter sido tomadas antes.

— Sim, estão fazendo efeitos. Teria sido melhor tomá-las antes.

Sobre um relaxamento das medidas de isolamento, ele afirma que pode acontecer em maio:

— Fazemos uma reavaliação a cada duas semanas. Possivelmente em maio.