Saúde Coronavírus Serviço Coronavírus

População deve usar máscaras simples, feitas em casa a partir de diversos materiais, dizem especialistas

Ministro da Saúde passou a orientar o uso do acessório como forma de diminuir contaminação pelo coronavírus
A professora Mariana Pinto está fazendo máscaras de proteção contra o novo coronavírus em sua casa. Ela utiliza fronhas de algodão e, seguindo as dicas de tutoriais pela internet, faz a máscara e depois higieniza e coloca tudo para secar no sol. Foto: Ana Branco / Agência O Globo
A professora Mariana Pinto está fazendo máscaras de proteção contra o novo coronavírus em sua casa. Ela utiliza fronhas de algodão e, seguindo as dicas de tutoriais pela internet, faz a máscara e depois higieniza e coloca tudo para secar no sol. Foto: Ana Branco / Agência O Globo

RIO - O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta , mudou a orientação para o uso das máscaras no Brasil: agora, a recomendação é de que toda a população passe a utilizá-las como forma de diminuir o risco de contaminação da Covid-19 , doença causada pelo novo coronavírus . Antes, apenas pessoas com sintomas, cuidadores e profissionais de saúde eram instruídos dessa forma.

Veja todas as notícias em relação ao Coronavírus

A população, no entanto, deve usar apenas as máscaras simples, feitas em casa, que podem ser confeccionadas com alguns materiais. As máscaras cirúrgicas e as N95, já em falta, devem ser exclusivas de profissionais de saúde, pacientes com Covid-19 e quem cuida de pacientes. Especialistas consultados recomendam também o uso, mas alertam para que não se abandone o isolamento social, para quem pode ficar em casa, e os cuidados com a higiene. A Organização Mundial da Saúde ( OMS ), que hoje recomenda o uso de máscaras prioritariamente para profissionais de saúde, está avaliando se atualizará a recomendação.

Saiba como fazer uma máscara caseira

O Ministério da Saúde divulgou nesta quinta-feira orientações sobre as máscaras caseiras.

Siga no Twitter: Força-Tarefa do GLOBO divulga as principais notícias, orientações e dicas de prevenção da doença

- Você pode fazer uma máscara ‘barreira’ usando um tecido grosso, com duas faces. Não precisa de especificações técnicas. Ela faz uma barreira tão boa quanto as outras máscaras. A diferença é que ela tem que ser lavada pelo próprio indivíduo para que se possa manter o autocuidado. Se ficar úmida, tem que ser trocada. Pode lavar com sabão ou água sanitária, deixando de molho por cerca de 20 minutos. E nunca compartilhar, porque o uso é individual - afirmou  Mandetta.

Compartilhe por WhatsApp: clique aqui e acesse um guia completo sobre o coronavírus

Confira as orientações do ministério para confecção e uso de máscaras caseiras:

1) A máscara é individual, não pode ser dividida com ninguém. Então se a sua família é grande, saiba que cada um tem que ter a sua máscara, ou máscaras;

2) A máscara deve ser usada por cerca de duas horas. Depois desse tempo, é preciso trocar. Então, o ideal é que cada pessoa tenha pelo menos duas máscaras de pano;

3) Mas atenção: a máscara serve de barreira física ao vírus. Por isso, é preciso que ela tenha pelo menos duas camadas de pano, ou seja, dupla face;

4) Também é importante ter elásticos ou tiras para amarrar acima das orelhas e abaixo da nuca, cobrindo totalmente a boca e nariz e que estejam bem ajustadas ao rosto, sem deixar espaços nas laterais;

5) As máscaras caseiras podem ser feitas em tecido de algodão, tricoline, TNT ou outros tecidos, desde que desenhadas e higienizadas corretamente;

6) Use a máscara sempre que precisar sair de casa. Saia com pelo menos uma reserva e leve uma sacola para guardar a máscara suja, quando precisar trocar;

7) Chegando em casa, lave as máscaras usadas com água sanitária. Deixe de molho por cerca de dez minutos;

8) Para cumprir essa missão de proteção contra o coronavírus, serve qualquer pedaço de tecido, vale desmanchar aquela camisa velha, calça antiga, cueca, cortina, o que for.

Há diferentes formas de fazer uma máscara caseira. O jeito mais prático é usando um pedaço de tecido em forma retangular, que deve ser dobrado duas vezes, para uma maior proteção. Um elástico de cabelo deve ser colocado em cada lado. A parte do tecido que ficar “para fora” deve ser novamente dobrada, cruzando o elástico até que ele fique como um espécie de alça, em cada lateral. Essa "alça" será utilizada como suporte na orelha.

Há empresas que estão confeccionando máscaras para doação, como a Reserva, que criou um passo a passo de como confeccioná-la, com aval ténico de especialistas da Fiocruz, como a pneumologista Margareth Dalcolmo. Nessa técnica, corte um tecido, de preferência o tricoline, em dois retângulos iguais. Eles deverão ser costurados juntos, um em cima do outro. Antes de costurar, porém, faça três dobras no centro dos tecidos, criando um efeito sanfona. Costure então as bordas dos tecidos, com agulha e linha.

Para as alças, separe duas tiras (do próprio tecido ou de um elástico) de um metro de comprimento com 2,5 centímetros de largura. A máscara deverá ser costurada exatamente na metade do comprimento da tira, formando 2 alças de cada lado. Para costurar a máscara dentro da tira, é importante dobrá-la ao meio, na largura, para envolver a máscara dos dois lados. Antes de usá-la, lave a máscara com água e sabão, deixe-a secando ao sol e passe com ferro.

Para colocá-la no rosto, lave as mãos e tente manuseá-las apenas pelas alças, evitando tocar na máscara. Se precisar encostar, para ajustar ao nariz e a boca, faça isso apenas uma vez, com as mãos higienizadas. Após colocar no rosto, não encoste mais na máscara até retirá-la. Use a máscara por o máximo de quatro anos, ou se ficar úmida.

A máscara só poderá ser reutilizada depois de passar pelo processo de higienização novamente. Para armazená-las, coloque-as dentro de um saco plástico, sempre manuseando-a com as mãos higienizadas. O saco não deve tocado em sua parte interna, devendo ser higienizado na parte externa.

Especialistas apontam que as máscaras podem criar um anteparo para impedir a disseminação de gotículas contaminadas. Daí a importância de usá-las.

Segundo Edmilson Migowski,  infectologista da UFRJ,  elas são úteis principalmente em transportes públicos e em locais de aglomeração, mas é preciso ficar atento aos cuidados na hora de manuseá-las. Também é fundamental que as pessoas não abandonem as principais recomendações de isolamento social e limpeza frequente das mãos, com água e sabão:

- A grande preocupação que surge é a de pessoas manipularem as máscaras de forma errada, o que pode aumentar a exposição ao vírus, ao invés de diminuir. A orientação é nunca encostar com as mãos na máscara, apenas no suporte da orelha. Lavar as mãos antes e depois de colocá-las, trocar a cada três ou quatro horas, no máximo, ou se ela ficar úmida. Essa é uma medida adicional, que vai ajudar a diminuir a circulação do vírus no ambiente. Mas não deve servir como salvo conduto para sair da quarentena ou não lavar as mãos.

A pneumologista Margareth Dalcolmo, da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da Fiocruz, indica o uso de TNT e alguns tipos de tecido para fazer as máscaras, sempre dobrados, para uma maior proteção:

- A máscara só deve ser usada por uma única pessoa. Se for de TNT, deve ser descartada após o uso. Se for de outro tecido, pode ser lavada e reaproveitada. Mas é preciso ver a gramatura, a espessura do tecido escolhido, não são todos que vão fazer a proteção. A máscara precisa cobrir nariz e boca, mas é importante lembrar que as principais medidas continuam sendo o isolamento social e a higiene das mãos - afirma.

Embora a Organização de Saúde (OMS) tenha reiterado na última terça-feira que é desnecessário o uso indiscriminado de máscaras por pessoas que não querem se infectar, pois gera falsa sensação de segurança, Mandetta incentiva a população a fazer suas próprias máscaras de pano que, segundo ele, "funcionam muito bem como barreira" e afirmou que "agora é lutar com as armas que a gente tem".

- Para vírus de gotícula, máscara de barreira mecânica funciona muito bem. Qualquer pessoa pode fazer sua máscara de pano. Vai funcionar e vai ajudar o sistema de saúde - afirmou o ministro, que pediu que sua equipe publicasse uma orientação sobre máscaras caseiras, determinando o tipo de tecido, de quanto em quanto tempo é preciso trocar e como lavar.

Já a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) simplificou os requisitos para fabricação, importação e aquisição de máscaras cirúrgicas, respiradores particulados N95, PFF2 ou equivalentes, utilizados em serviços de saúde. As máscaras que aguardam a realização de ensaios podem ser utilizadas por profissionais de apoio, como recepcionistas e seguranças nos serviços de saúde, desde que prestem assistência a mais de um metro dos pacientes suspeitos ou confirmados de infecção pelo novo coronavírus. Segundo a agência, essas máscaras também podem ser usadas pelos profissionais dos transportes públicos, segurança e transeuntes

Em países como Estados Unidos, o Centro para Controle  a Prevenção de Doenças (CDC) do país reforça que a prioridade é para que pessoas doentes, com sintomas e cuidadores usem as máscaras. O presidente Donald Trump, no entanto, defende o uso generalizado de máscaras. Em entrevista à rede americana CNN, o diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas, Anthony Fauci, afirmou que essa posição do país pode mudar. Segundo ele, “a ideia de um uso muito mais amplo de máscaras está em discussão muito ativa".

Inspiração para contribuir com o coletivo

A máscara impede que pessoas contaminadas joguem partículas do vírus no ambiente. Ou seja, a sua utilização é para proteger os demais (e, consequentemente, toda a população). Foi essa premissa - de se proteger para ajudar o próximo - que inspirou a professora Mariana Pinto a confeccionar e doar máscaras, há dez dias.

A carioca, que tem como hobby costurar, tem feito as suas com TNT e algodão. Desde que divulgou a iniciativa em suas redes sociais, ela já doou mais de 30 unidades, e tem priorizado os grupos de risco e pessoas mais pobres:

- Como cuido também de idosos em minha família, tenho buscado doar para quem não tem condições, seja de tempo ou dinheiro, de confeccionar as suas próprias máscaras. Mas também tenho divulgado aqui no meu prédio, por exemplo, que, quem quiser, pode ligar aqui que faço, são super fáceis de costurar. Acho que as pessoas que têm o privilégio de ficar em casa têm condições, devem fazer o máximo para ajudar os outros.

A atenção com a higienização das máscaras é fundamental: assim que recebe o material em casa, Mariana lava-o com água sanitária e deixa secando ao sol. Ao costurá-las, higieniza as mãos e também usa máscara. Depois que ficam prontas, mais uma lavagem com água sanitária, antes de passá-las e ensacar.

Buscar formas caseiras e alternativas é a melhor solução para a população, já que não há estoque nas farmácias e drogarias pelo país. Segundo a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), não há mais máscaras disponíveis no varejo:

- Esse material está com forte demanda global, e os governos têm alertado para a importância de focar o uso de máscaras para os profissionais de saúde. Temos dificuldades até mesmo de disponibilizar esse material para nossos funcionários de lojas. Assim, não há perspectiva de disponibilizar esse produto para venda - explica Sergio Mena Barreto, diretor da associação, que reúne 45% das empresas do setor.