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Coronavírus: em primeiro dia de quarentena, Itália tem ruas vazias

Especialistas acreditam que as medidas são insustentáveis e improváveis de interromper a propagação da Covid-19; país tem 10.149 casos confirmados e 631 mortes
Turista usando máscara para se proteger do coronavírus em frente ao Coliseu, em Roma, que está fechado Foto: ALBERTO PIZZOLI / AFP
Turista usando máscara para se proteger do coronavírus em frente ao Coliseu, em Roma, que está fechado Foto: ALBERTO PIZZOLI / AFP

ROMA - A Itália acordou com ruas desertas, mais silenciosas que o normal e sem trânsito nesta terça-feira, um dia após o governo anunciar que estenderia a quarentena para todo o país. Havia até lugar para sentar no metrô de Roma em pleno horário de pico. A medida visa tentar conter o pior surto de coronavírus fora da China .

As medidas, anunciadas na segunda-feira pelo primeiro-ministro Giuseppe Conte, ampliam as já tomadas na região norte da Lombardia e em partes das províncias vizinhas, diminuindo deslocamentos e fechando espaços públicos.

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"O futuro da Itália está em nossas mãos. Vamos todos fazer nossa parte, desistindo de algo pessoal para o nosso bem coletivo", disse Conte no Twitter.

Pelo menos nas próximas três semanas, as pessoas devem se deslocar apenas por questões de trabalho, por necessidades de saúde ou emergências. Caso contrário, devem ficar em casa. Quem viaja terá que preencher um documento declarando suas razões e carregar consigo.

Grandes reuniões e eventos ao ar livre, incluindo esportivos, foram proibidos, enquanto bares e restaurantes terão que fechar a partir das 18h. Escolas e universidades permanecerão sem aulas até 3 de abril.

Logo após o anúncio da quarentena em todo o país, os moradores de Roma correram para os supermercados noturnos para estocar alimentos e materiais de necessidades básicas. Esta atitude levou o governo a declarar que os suprimentos seriam garantidos a todos e incentivando as pessoas a não entrarem em pânico.

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Especialistas em doenças infecciosas e saúde pública acreditam que os planos do governo da Itália de estender as medidas de quarentena por todo o país são, provavelmente, insustentáveis e improváveis de interromper a propagação da Covid-19. Até o momento, o país tem 10.149 casos confirmados para o novo coronavírus e registrou 631 mortes.

— Tais restrições têm o potencial de impor um enorme ônus econômico ao país e, se demorar demais, pode criar o risco de uma restrição cansativa — disse Rowland Kao, professor de epidemiologia veterinária e ciência de dados da Universidade de Edimburgo, no Reino Unido.

John Edmunds, professor da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, disse que as medidas eram sem precedentes e "quase certamente insustentáveis".

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— Esta será uma epidemia longa e as medidas apropriadas precisam ser tomadas no momento certo para maximizar seu impacto e minimizar os custos econômicos e sociais — afirmou. — Essas medidas provavelmente terão um impacto a curto prazo. No entanto, se não puderem ser sustentadas a longo prazo, tudo o que provavelmente farão é atrasar a epidemia por um tempo.

Para Paul Hunter, professor de medicina da Universidade de East Anglia, no Reino Unido, disse que o bloqueio proposto seria "uma das medidas de controle mais rigorosas em todo o país implementadas nos últimos 50 anos".

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— Embora tenhamos visto em Wuhan que esse distanciamento social intensivo pode controlar a epidemia, ainda não está claro quanto tempo isso pode precisar ser mantido no contexto italiano — afirmou.

Na visão de Francois Balloux, professor de biologia computacional da Universidade de Londres, as medidas trarão grande custo para a população.

— O objetivo dessas medidas é controlar a epidemia e garantir que os hospitais possam lidar com o número de pacientes que precisam tratar. Os benefícios potenciais são óbvios, embora essas medidas tenham um grande custo para indivíduos, comunidades e economia. Também não é sustentável manter esse bloqueio nacional por muito tempo.