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Sistema que monitora Covid-19 mostra avanço do coronavírus no interior e põe em xeque redução do isolamento

'Veremos nas ruas do Rio a repetição das cenas da Lombardia, com caminhões do Exército carregando corpos', diz pneumologista
Placa pede que população evite sair de casa: para conter coronavírus, cidade terá importantes acessos totalmente bloqueados até o próximo dia 18 Foto: Fabio Motta / Agência O Globo
Placa pede que população evite sair de casa: para conter coronavírus, cidade terá importantes acessos totalmente bloqueados até o próximo dia 18 Foto: Fabio Motta / Agência O Globo

RIO - A redução do distanciamento social em cidades sem casos registrados de Covid-19 ameaça acelerar o espalhamento do coronavírus pelo interior do Brasil. Dados do recém-lançado MonitoraCovid-19, um sistema criado pela Fiocruz que agrupa e cruza dados sobre o novo coronavírus no Brasil e no mundo, mostram que o vírus avança pelo interior. Há interiorização da epidemia para municípios menores e sem condições de estabelecer barreiras. Para cientistas, só após a testagem em massa, será possível saber se uma cidade foi ou não foi atingida pelo coronavírus.

- A Fiocruz recomenda que só se flexibilize as medidas de isolamento quando e onde houver segurança de que não há infectados, o que precisa ser comprovado pela realização de testes em grande quantidade e com uma amostra que seja representativa da população local -  afirma Christovam Barcellos geógrafo e sanitarista, vice-diretor de Pesquisa do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict) da Fiocruz.

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Até o momento, o Brasil só registra casos graves e mortos de Covid 19. Porém, por falta de testes, mesmo esses são subnotificados.  Os casos leves e assintomáticos passam despercebidos. E são eles que têm levado o coronavírus para o interior.  Como as cidades menores não têm, em sua maioria, condições de atender os doentes, estes buscam os hospitais das capitais, aumentando a circulação do vírus. É um ciclo vicioso que perpetua a pandemia. A interiorização é visível nos gráficos da dispersão da Covid-19 no Distrito Federal e em Goiás, Paraná e São Paulo, por exemplo.

- Há duas semanas não havia coronavírus no interior, mas o vírus está se espalhando depressa. Somente os testes podem mostrar  se uma cidade não foi atingida pelo vírus - destaca Barcellos.

Relaxamento pode levar ao desastre

A pneumologista Margareth Dalcolmo, da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz),  prevê um desastre com o relaxamento do distanciamento social:

-  Não estamos testando em massa ainda. Relaxar as medidas de distanciamento social nos levará para o caminho da Itália em seu pior momento. Veremos nas ruas do Rio de Janeiro a repetição das cenas da Lombardia, com caminhões do Exército carregando corpos - frisa ela.

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O MonitoraCovid-19 demonstra também que as medidas de distanciamento social amplo visivelmente surtiram efeito. Mas isso pode ser perdido com o relaxamento das medidas, alertam os cientistas da Fiocruz. Se comparado com a Itália, no mesmo período, o Brasil achatou a curva e os casos sobem menos explosivamente do que o previsto.

- Isso aconteceu porque o Ministério da Saúde e os governos dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo agiram muito depressa logo após o registro dos primeiros casos e determinaram medidas de distanciamento social amplo. Isso fez com que a curva de crescimento da Covid 19 no Brasil fosse menor do que a projetada. Porém, a redução do distanciamento pode mudar esse cenário e agravar a expansão do coronavírus  - explica Diego Xavier, epidemiologista do Laboratório de Informação em Saúde do Icict.

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O MonitoraCovid-19 emprega técnicas de big data e de visualização de dados. Com dados do Google Maps, do Waze e do Moovit, os pesquisadores conseguem monitorar a mobilidade da população brasileira. Acompanham o movimento nas ruas, no transporte público, parques, farmácias, supermercados, locais de trabalho, além do trânsito de veículos.

O distanciamento teve efeito visível na redução da mobilidade. Mas a partir de 4 de abril os cientistas começaram a observar o aumento da movimentação das ruas. Especialmente em São Paulo e Porto Alegre.

- Vemos isso também no Rio, mas em menor escala. Em Porto Alegre o distanciamento está sendo ignorado por muita gente. E no Rio vemos aglomerações junto a bancos o que, provavelmente, está associado à tentativa da população de conseguir receber o dinheiro prometido pelo governo federal - diz Xavier.