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Entenda: É possível uma pessoa sem sintomas transmitir o coronavírus?

Transmissão assintomática já foi documentada em alguns casos, mas não se sabe bem ainda quão rara é
Imagem de microscópio eletrônico mostra o coronavírus SARS-CoV-2 (amarelo) em cultura de células em laboratório Foto: NIAID-NIH
Imagem de microscópio eletrônico mostra o coronavírus SARS-CoV-2 (amarelo) em cultura de células em laboratório Foto: NIAID-NIH

SÃO PAULO — A confirmação do oitavo episódio de infecção pelo novo coronavírus no Brasil gerou confusão no público após o Ministério da Saúde ter inicialmente afirmado que uma menina portadora do patógeno não seria contabilizada como caso no monitoramento epidemiológico por não apresentar sintomas .

Ela é portadora do vírus, o SARS-CoV-2, mas não desenvolveu a doença, a Covid-19. A preocupação em excluí-la dos esforços de monitoramento é que, apesar de não se saber bem ainda qual é o volume total de casos assintomáticos na pandemia, já se sabe que em algumas instâncias essas pessoas podem transmitir o vírus.

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Um estudo feito com uma família de cinco chineses, publicado na revista médica JAMA, da Associação Médica Americana, mostrou um exemplo emblemático. Pesquisadores do Hospital Provincial do Povo de Henan, documentaram que uma jovem chinesa de 20 anos que não apresentou sintomas viajou da cidade de Wuhan, epicentro da epidemia, para Anyang, 500 km ao sul de Pequim, onde infectou quatro familiares que vieram a apresentar sintomas mais tarde.

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Alguns estudos que buscam entender como a epidemia está se espalhando tão rápido consideram inclusive que os casos assintomáticos são um elemento importante da equação. Como as pessoas sem sintomas não buscam atendimento médico, elas não recebem diagnóstico, não são postas em isolamento, e existe o risco de continuem transmitido o vírus.

Não está claro se o vírus pode ser transmitido por quem não desenvolve a viremia, o quadro clínico de doença causado pelo vírus, com tosse, febre e dificuldade de respirar. Em algumas circunstâncias, porém, casos considerados assintomáticos podem se agravar tardiamente.

O tempo médio de incubação do vírus (o intervalo entre o momento da infecção e a capacidade do infectado de transmitir o patógeno para outras pessoas), é de cinco dias, mas pode variar muito. Em um caso raro, foi identificado um paciente que manifestou sintomas 27 dias após contrair o novo coronavírus.

Nancy Bellei, infectologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) afirma que variações como essas comprometem a adoção de definições muito rígidas sobre quem é caso sintomático e quem é assintomático.

— Em algumas pessoas, a falta de sintomas pode significar apenas que o infectado apresenta um período de incubação mais longo — explica a cientista.