Brasil

Mandetta critica carreatas promovidas por apoiadores de Bolsonaro

Movimentos foram iniciados após presidente atacar quarentena e dizer que economia não poderia parar
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, defendeu a diminuição de circulação de pessoas para evitar a disseminação do coronavírus Foto: Adriano Machado/REUTERS
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, defendeu a diminuição de circulação de pessoas para evitar a disseminação do coronavírus Foto: Adriano Machado/REUTERS

BRASÍLIA – O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta , reforçou neste sábado a importância de diminuir a circulação de pessoas para combater a disseminação do novo coronavírus e criticou carreatas que aconteceram nos últimos dias pedindo a reabertura do comércio. Movimentos do tipo aconteceram em algumas cidades do país depois que o presidente Jair Bolsonaro afirmou que a economia não poderia parar e defendeu o isolamento apenas de pessoas que compõem o grupo de risco, como idosos.

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Mandetta e outros ministros se reuniram nesta manhã com Bolsonaro. O titular da Saúde afirmou que a realização das carreatas vai contra as orientações do ministério:

– Fazer movimento assimétrico de efeito manada agora, vamos daqui a duas semanas, três semanas… Os mesmos que falam “vamos fazer carreata de apoio, vão ser os mesmos que vão estar em casa. Não é hora agora (…) Eu espero e rezo ara aqueles que falam que não vai ser nada, que vai ser só uma… um pequeno estresse, que isso passa logo e acaba, espero e rezo todo dia para que estejam corretos nas suas avaliações.

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De acordo com o ministro, a reunião com o presidente e titulares de outras pastas serviu para que fosse construída uma “unidade” de atuação. Ele defendeu que as medidas restritivas sejam reavaliadas com frequência e descartou um isolamento mais rígido em todo o território nacional – Mandetta reconheceu, no entanto, que a estratégia pode ser adotada em regiões específicas.

– Não existe quarentena vertical, horizontal, não existe nada. Existe a necessidade de arbitrar num determinado tempo qual a necessidade de retenção que a sociedade pode fazer. O “lockdown”, que é parada absoluta, pode vir a ser necessário em algum momento, em alguma cidade. O que não existe é lockdown em todo o território nacional ao mesmo tempo e desarticulado.

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Mesmo defendendo a relevância de as pessoas permanecerem nas suas residências o quanto possível – estratégia que se opõe ao que Bolsonaro manifestou nos últimos dias –, Mandetta disse que o presidente tem razão quando se diz preocupado com a situação econômica:

– Presidente está certíssimo quando diz que a crise da economia vai matar as pessoas. E somos 100% engajados de achar as soluções junto com a equipe da economia – afirmou o ministro, que depois acrescentou: – Todo o comércio está falando “eu quero abrir”. Calma, que vamos fazer regrinha. Algumas coisas que vamos ter que colocar para serem pontos de referência. Vamos trabalhar isso bem bacana.

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Mandetta citou como um exemplo prático de benefício da redução do movimento nas ruas a queda no número de acidentes de trânsito, especialmente envolvendo motos, o que contribuiu para a não ocupação de leitos hospitalares – uma das preocupações do ministério é evitar a saturação do sistema de saúde.

– Mais uma razão para que... Quando a gente determina a paralisação, imediatamente a gente percebe que diminuem os acidentes. Diminui o trauma e sobram os leitos(hospitalares) que eram ocupados pelos traumas. Ficam disponíveis para serem usados em outras situações. Há informações em alguns lugares de queda de 30%, 40% e até 50% da taxa de ocupação, o que por si só abre espaço de leitos que estavam sendo usados por pessoas politraumatizadas para serem usadas para essas viroses. É mais uma razão para a gente diminuir bastante a atividade de circulação de pessoas, no intuito de diminuir o trauma, o que também é um efeito secundário benéfico. Além do efeito de diminuir a transmissão (do coronavírus).

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Mandetta ressaltou que discutir ações com gestores locais é "normal" para coordenar as estratégias e não significa que o ministério está recomendando as medidas.

— Isso aqui (debate com secretários estaduais e municipais de Saúde) é normal no sistema. Assim que tivermos consenso, a gente vai falar “ok, então vamos falar a mesma língua”. Para Mato Grosso não tomar uma decisão, Rio de Janeiro outra, Espírito Santo outra — afirmou.

Ele disse que todos têm que se preparar para o novo cenário, incluindo a imprensa:

— Todo mundo tem que se preparar. Inclusive a imprensa para fazer a cobertura. Que seja uma cobertura proativa, que ajude neste momento. Imprensa para apontar erro aqui, erro ali, só vai trazer mais estresse. “Ah, mas quer que a gente não denuncie?” Denuncie, ótimo, não tem problema nenhum, mas procure mostrar que estamos trabalhando, estamos indo.

Mandetta, assim como vem fazendo o presidente Bolsonaro, fez críticas em relação ao noticiário sobre a Covid-19:

— Desliguem um pouco a televisão. Às vezes ela é tóxica demais. Há quantidade de informações e, às vezes, os meios de comunicação são sórdidos porque ele só vendem se a matéria for ruim. Publicam o óbito, nunca vai ter que as pessoas estão sorrindo na rua. Senão, ninguém compra o jornal.

O Ministério da Saúde deve apresentar durante a semana prognósticos de casos para os próximos meses. Os técnicos da pasta estão estudando modelos matemáticos, na tentativa de prever o impacto da doença sobre o país. O trabalho está sendo feito em parceria com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), e as planilhas vão ser divulgadas ao público.

– Vamos publicar o resultado, estamos estudando várias metodologias diferentes. Os estudos vão ficando cada vez mais precisos conforme mais dados temos da realidade – disse o secretário de Vigilância em Saúde do ministério, Wanderson de Oliveira.

Já o secretário-executivo da pasta, João Gabbardo dos Reis, ressaltou que o ritmo de crescimento diário dos casos, nos últimos seis dias, foi inferior à taxa de 33% que o governo estava prevendo. Neste período, de um dia para o outro, o crescimento mais elevado foi de 22%.