Brasil

Março tem 66.868 mortes por Covid-19, dobro de recorde mensal anterior

Mês foi o mais mortal em todas as regiões do Brasil e superou os 32.912 óbitos registrados em julho de 2020, pico anterior da pandemia
Sepultamentos no cemitério Vila Formosa, o maior da América Latina, em São Paulo Foto: Paulo Guereta/Photo Premium/Agência O Globo / Paulo Guereta/Photo Premium/Agência O Globo
Sepultamentos no cemitério Vila Formosa, o maior da América Latina, em São Paulo Foto: Paulo Guereta/Photo Premium/Agência O Globo / Paulo Guereta/Photo Premium/Agência O Globo

SÃO PAULO - O mês de março se encerra nesta quarta-feira com o registro de 66.868 mortes por Covid-19 no país. Foi o mês mais mortal da pandemia até agora no país, com o dobro de óbitos do segundo mês mais mortal, julho de 2020. Com o recorde de 3.950 mortes em um único dia registrado nesta quarta-feira (31), a pandemia avança dando poucos sinais de que deve perder força nos próximos dias, sinalizando uma piora que pode demorar ao menos mais duas semanas, afirmam especialistas.

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O ciclo de mortalidade da epidemia de Covid-19 teve dinâmica diferente em cada região no Brasil, enquanto na região Nordeste o pico de março é de escala similar ao de junho passado (13 mil mortes contra 11 mil), na região Sul o mês auge da segunda onda é quatro vezes (maior 16 mil contra 4 mil).

Março foi o primeiro mês, porém, que representou um recorde para todas as regiões do país, incluindo Centro-Oeste, Norte e Sudeste.

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Especialistas consultados pelo globo afirmam que, durante o primeiro pico, nove meses atrás, não imaginavam o quanto a pandemia poderia se agravar.

— Nem o pior dos pessimistas acreditava num pesadelo como esse naquela época — afirma a infectologista Rachel Stucchi, professora da Unicamp.

— Um número como esse não passava pela minha cabeça em julho, de maneira alguma — afirma a sanitarista Ligia Bahia, da UFRJ. — Ali eu só conseguia pensar que já estávamos na situação da maior tragédia sanitária registrada do país, e realmente estávamos.

F

O físico e epidemiologista Roberto Kraenkel, da Unesp, afirma que ainda não é possível saber se a epidemia já chegou ao pior.

— Continuam surgindo números muito altos e, num nível nacional, não tem nenhum sinal de desaceleração — diz o pesquisador, que coordena o trabalho de modelagem da pandemia do grupo Observatório Covid-19 BR.

Como a taxa de vacinação do país ainda é baixa (só 2,4% da população foram inoculados com primeira e segunda dose), ele afirma que a única chance de o Brasil sair da situação dramática agora são as medidas de distanciamento social e bloqueio do vírus.

— Existem varias iniciativas de maior ou menor restrição, fazendo no comércio retrair em alguns estados, inclusive em Sao Paulo e um pouco no Rio — diz.

— As medidas que tomadas elas não são lockdowns, são medidas razoavelmente leves. Algum efeito elas terão. Se será o suficiente, não sabemos ainda — completa.

Contemplando os lockdowns

A média móvel de sete dias do número diário de mortes no país também bateu recorde, e agora está em 2.971, o que representa aumento de 42% nas últimas duas semanas. Os três estados com maior aumento percentual no número de mortes são Rio de Janeiro (121%), Distrito Federal (111%) e Espírito Santo (106%).

Um fio de esperança que existe agora é que apesar de o número de diagnósticos de Covid-19 não ter parado de subir (aumentou de 5% na última quinzena), ele está subindo mais devagar. Nesta quarta foram mais de 89 mil testes positivos realizados.

O índice de testagem no Brasil, porém, é mal conhecido, e em geral tem sido um fator de previsão ruim para a dinâmica da pandemia.

Em estados que monitoram novas internações, como São Paulo, há um leve sinal de desaceleração. Em três dias o índice de internações semanais caiu de 47,6 mil para 46,2 mil em distritos de saúde paulistas.

Segundo Ligia Bahia, da UFRJ, uma solução para lidar com o problema seria a adoção de lockdowns em escala nacional. Mas como o governo federal já se mostrou contra essa política, fazer isso apenas pela articulação de governadores é complicado.

— Seria fantástico se isso acontecesse, mas precisaria ter se constituído um maior consenso. Acho difícil nesse momento de crise politica, fazer essa coordenação — diz a sanitarista.

Vacinas e feriado

O ritmo de vacinação do país aumentou um pouco, mas ainda é lento comparado a campanhas de outros anos, contra outras doenças.

O Brasil conseguiu aplicar a primeira dose de vacina contra Covid-19 até agora em 17,620,872 pessoas (8,32% da população), e 5,091,611 já receberam a segunda dose, o que representa uma cobertura vacinal completa de 2,40%.

O três estados que mais avançaram agora em aplicação da primeira dose foram Mato Grosso do Sul (10,78%), Bahia (10,75%) e Amazonas (10,21%). Os que mais estão atrasados na aplicação da vacina são Mato Grosso (4,73%), Acre (5,26%) e Rondônia (5,27%).

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Com esses números, nenhum estado chegou ainda perto do percentual de 70%, uma estimativa geral necessária para atingir algum grau de imunidade coletiva, em que a epidemia começa a desacelerar.

Raquel Stucchi da Unicamp, afirma que a alta taxa de mortalidade ocorre em um momento frágil agora, também, por conta da Páscoa. A infectologista teme que o feriado incentive uma circulação maior de pessoas, como se viu no Réveillon e no Carnaval.

— Não é aceitável ter praias lotadas agora. Não dá para alugar uma chácara para levar amigo, primo, avô e avó — comenta.

Segundo a pesquisadora, o poder público, também, ainda não está reagindo a altura da gravidade da situação.

— Estamos ainda num clima de guerra, com a preocupação de que talvez venha a faltar medicação, faltar oxigênio, e todo o cuidado ainda deve ter mantido — diz.