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Arcebispo australiano é condenado a um ano de prisão por encobrir abusos sexuais

Philip Wilson, de 67 anos, foi informado por uma das vítimas no confessionário

O arcebispo Philip Wilson deixou o tribunal sem dar declarações à imprensa
Foto: HANDOUT / REUTERS
O arcebispo Philip Wilson deixou o tribunal sem dar declarações à imprensa Foto: HANDOUT / REUTERS

SYDNEY — O arcebispo de Adelaide, Philip Wilson, de 67 anos, foi condenado a um ano de prisão por encobrir casos de abusos sexuais de crianças por membros da Igreja Católica na Austrália. Trata-se do mais alto sacerdote a ser envolvido em escândalos desse tipo. Wilson, que negou as acusações, permanece em liberdade até o dia 14 de agosto, quando será decidido se o religioso irá para a cadeia ou cumprirá a pena em prisão domiciliar.

“Não há remorso ou contrição demonstrados pelo infrator”, afirmou na senteça Robert Stone, juiz responsável pelo caso na Corte de Newcastle, em Nova Gales do Sul, segundo a agência Reuters.

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O arcebispo foi acusado de encobrir abusos cometidos por James Fletcher contra dois menores, que atuavam como coroinhas. De acordo com o processo, Wilson foi informado do caso pelas vítimas em 1976, quando era um assistente paroquial no estado de Nova Gales do Sul. Uma das vítimas chegou a relatar os abusos em confissão a Wilson. Fletcher foi condenado em 2004 por nove casos de abuso sexual de menores e morreu na prisão dois anos depois, após um derrame cerebral.

Defesa argumentou que Wilson sofria de Alzheimer

Os advogados do arcebispo argumentaram que Wilson não sabia dos crimes de Fletcher, mas, segundo a decisão do magistrado, a “ofensa foi provada”. Em depoimento, Peter Creigh, uma das vítimas de Fletcher, deu um testemunho “verdadeiro e confiável”, apontou o juiz. Para evitar a condenação, a defesa argumentou que Wilson sofria de Alzheimer e, dessa forma, não estaria apto a ser julgado.

“O criminoso é uma figura importante de uma das mais respeitadas instituições na nossa sociedade”, afirmou o magistrado. “Os coroinhas foram traídos de forma insensível e cruel por causa de sua fé, confiança e respeito, não apenas pelo perpetrador dos abusos, mas, como neste caso, por aqueles que sabiam e acobertavam”.

Apesar de a sentença ser inferior a casos semelhantes julgados em outros países e de Wilson não ser obrigado a cumprir a pena imediatamente, a condenação é vista como uma vitória das vítimas de abusos sexuais na Austrália. "Este caso é uma referência em todo o mundo", celebrou Creigh, após a sentença.

Vestido de preto, com o colarinho clerical, Wilson não demonstrou emoções ao ouvir a sentença. Na saída do tribunal, passou direto pelos jornalistas que aguardavam por uma declaração. A Conferência dos Bispos Católicos da Austrália, que já foi comandada por Wilson, afirmou em comunicado esperar que a sentença traga “sensação de paz e cura” para as vítimas dos abusos.

“A Igreja fez mudanças substanciais para assegurar que o abuso e o encobrimento já não são parte da vida católica e que as crianças estão seguras nas nossas comunidades”, afirmou o órgão.