Exclusivo para Assinantes
Saúde Sociedade

Coronavírus: o que se sabe até agora?

Entenda epidemia do vírus que surgiu na China e que chegou ao Brasil; sintomas podem ser febre, tosse ou dificuldade para respirar
Pedestres usam máscaras de proteção do lado de fora da estação de trem de Pequim nesta quarta-feira (22) Foto: NICOLAS ASFOURI / AFP
Pedestres usam máscaras de proteção do lado de fora da estação de trem de Pequim nesta quarta-feira (22) Foto: NICOLAS ASFOURI / AFP

RIO — O surto de um nova doença (nomeada Covid-19 ) provocada por um tipo inédito de coronavírus surgiu na cidade de Wuhan , megalópole da região central da China , em dezembro do ano passado. À época, a doença era encarada como uma pneumonia de causa desconhecida que se espalhou pela cidade de 11 milhões de habitantes. O primeiro caso de coronavírus registrado no Brasil e na América Latina foi confirmado no dia 26 de fevereiro pelo Ministério da Saúde. Já há 60 diagnósticos positivos no país. Também já está confirmada a transmissão local .

O primeiro caso da doença no Rio de Janeiro foi diagnosticado em Barra Mansa e divulgado no último dia 5. Segundo o Ministério da Saúde até o momento são 930 casos suspeitos no país.

Quem são os pacientes brasileiros?

O Brasil tem, atualmente, 60 casos confirmados. O primeiro registro no país foi de um brasileiro residente de São Paulo , de 61 anos, que viajou à região da Lombardia, na Itália , país que vive explosão no número de casos.

No dia 29 de fevereiro o Ministério da Saúde confirmou o segundo caso do novo coronavírus no Brasil, após ser notificado pela Secretaria de Saúde de São Paulo. O paciente é um homem de 32 anos que também esteve na Itália.

No último dia 4, a pasta confirmou o terceiro caso , também em São Paulo. Trata-se de um administrador de empresas colombiano de 46 anos residente em São Paulo. Em 9 de fevereiro, ele foi de São Paulo para a Espanha. No dia 16, viajou para a Itália. Em 22 de fevereiro, para a Áustria. Em 28 de fevereiro, foi para a Alemanha, e no dia seguinte retornou ao Brasil. Todos os países foram afetados pela epidemia de Covid-19.

Nesta quinta-feira, o governo federal reconheceu que o Brasil tem um quarto caso . Inicialmente, a Saúde relutou em contabilizá-lo, apesar da contraprova ter indicado um diagnóstico positivo, uma vez que a paciente, uma menina de 13 anos que viajou à Itália, é assintomática. Após uma reunião com especialistas, a pasta voltou atrás.

Dois pacientes de São Paulo confirmam transmissão local do novo coronavírus dentro do país. Trata-se de duas pessoas que mantiveram contato com o primeiro paciente confirmado, um homem de 61 anos que tinha viajado para a Itália. Dos dois casos de transmissão local, um é parente do primeiro caso confirmado. O outro não é da família, mas manteve contato com o parente. Na sexta-feira (6), um nono caso foi confirmado na Bahia .

Um outro caso, o de uma mulher de 23 anos que está no Distrito Federal, ainda depende de contraprova. Segundo o Ministério da Saúde, ela viajou para a Inglaterra e também para a Suíça. Além disso, há 930 casos suspeitos distribuídos por 24 estados.

O que fazer se você voltou das regiões mais atingidas da China e da Itália recentemente?

Se você tiver febre, tosse ou dificuldade para respirar dentro de um período de até 14 dias após viagem, procure a unidade de saúde mais próxima e informe a respeito da sua viagem.

O Ministério da Saúde recomenda que brasileiros evitem viajar sob qualquer hipótese para a China até um segundo momento.

Como vai ser o atendimento no Brasil aos pacientes?

Os serviços de saúde seguirão um protocolo de manejo clínico que está sendo elaborado, revisado e adaptado pelo Ministério da Saúde, com base nas recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Mas, como não há antiviral específico nem vacina, o tratamento deve ser focado em tratar os sintomas: repouso, hidratação e ventilação para os que tiverem complicações respiratórias.

— A maioria das pessoas não vai precisar ir para o hospital, como acontece com todas as viroses respiratórias e com outros coronavírus. Mas outro grupo vai desenvolver formas clínicas que merecem ser atendidas no ambiente hospitalar — afirma o coordenador de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fiocruz, Rivaldo Venâncio.

Quantas pessoas já foram infectadas no mundo?

Desde que a doença foi descoberta, no fim de dezembro, o vírus infectou 100 mil pessoas em todo o mundo e matou cerca de 3,3 mil, segundo dados dos governos locais.

No fim de janeiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou emergência de saúde internacional por conta do surto. A medida atribui várias responsabilidades aos países do mundo e havia sido adotada apenas cinco vezes desde a criação do dispositivo, em 2005. Nesta sexta-feira, a agência da ONU classificou o risco global como "muito alto".

Em um infográfico animado, O Globo explica o que é a nova doença que se espalhou a partir da China e representa uma ameaça global, segundo a Organização Mundial da Saúde. A nova cepa do coronavírus surgiu como uma pneumonia misteriosa e se assemelha a outras epidemias que abalaram o mundo no século XXI, como SARS e MERS.
Em um infográfico animado, O Globo explica o que é a nova doença que se espalhou a partir da China e representa uma ameaça global, segundo a Organização Mundial da Saúde. A nova cepa do coronavírus surgiu como uma pneumonia misteriosa e se assemelha a outras epidemias que abalaram o mundo no século XXI, como SARS e MERS.

Quais países já foram afetados?

Segundo o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças, o Covid-19 já chegou a 89 países — incluindo a China e o Brasil.

Veja a divisão por continentes:

África : Argélia, Egito, Nigéria, Senegal, Togo, Camarões, Tunísia, Marrocos e África do Sul

Ásia : China, Coreia do Sul, Irã, Japão, Cingapura, Bahrein, Kuwait, Tailândia, Malásia, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Iraque, Vietnã, Israel, Palestina, Jordânia, Líbano, Omã, Paquistão, Índia, Filipinas, Qatar, Indonésia, Afeganistão, Camboja, Nepal, Butão e Sri Lanka

América : Estados Unidos, Canadá, Brasil, Argentina, Chile, Equador, Peru, México e República Dominicana

Europa : Itália, França, Alemanha, Espanha, Reino Unido, Suíça, Noruega, Áustria, Suécia, Holanda, San Marino, Croácia, Grécia, Finlândia, Dinamarca, Azerbaijão, República Tcheca, Geórgia, Islândia, Romênia, Bélgica, Rússia, Armênia, Belarus, Ucrânia, Estônia, Andorra, Irlanda, Lituânia, Letônia, Portugal, Luxemburgo, Mônaco, Macedônia do Norte, Hungria, Eslovênia, Liechtenstein, Eslováquia, Bósnia e Herzegovina, Sérvia e Vaticano

Oceania : Austrália e Nova Zelândia

Veja também : O que é fato e o que é fake sobre o coronavírus

O que é o coronavírus?

Nomeado a partir de sua forma circular, o coronavírus (CoV) é uma ampla família de vírus à qual pertencem as cepas que causaram, por exemplo, a Sars e a Mers. Já se sabe que a pneumonia misteriosa é causada por uma nova cepa que os cientistas ainda não conheciam, identificado como SARS-Cov-2 . No dia 11 de fevereiro, a OMS batizou a doença causada pelo vírus como Covid-19 .

Quais são os principais sintomas?

Via de regra, os sintomas de um coronavírus são nariz entupido, tosse, garganta inflamada, mal estar, febre e dor de cabeça. Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, a maior parte das pessoas contrai algum tipo de coronavírus durante a vida, e tende a se curar em poucos dias.

Por que a doença é perigosa?

Algumas variantes do coronavírus podem afetar gravemente o sistema respiratório, causando pneumonia, sobretudo em indivíduos muito novos ou muito idosos, em portadores de doenças cardiopulmonares ou em pessoas com sistema imunológico debilitado. Tudo indica que este é o caso do coronavírus Covid-19.

Para Edimilson Migowski, professor de infectologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o novo coronavírus tem se mostrado "muito agressivo e virulento, mas por outro lado é bom porque ao matar ( o vírus ) se dissemina menos".

— Quando é assim, o paciente rapidamente é internado, fazendo com que o impacto de disseminação seja menor do que uma infeção comum — explica.

Como se prevenir do coronavírus?

Até agora, as formas mais letais dos coronavírus não têm vacina nem cura. No entanto, ações básicas podem prevenir qualquer infecção contagiosa que possa ser transmitida pelo ar ou pelo contato.

Segundo o portal do Ministério da Saúde, são recomendáveis: "frequente lavagem e higienização das mãos, principalmente antes de consumir algum alimento; utilizar lenço descartável para higiene nasal; cobrir nariz e boca quando espirrar ou tossir; evitar tocar mucosas de olhos, nariz e boca".

Recomenda-se ainda: "higienizar as mãos após tossir ou espirrar; não compartilhar objetos de uso pessoal, como talheres, pratos, copos ou garrafas; manter os ambientes bem ventilados; e evitar contato próximo a pessoas que apresentem sinais ou sintomas de infecção respiratória".

— O que as pessoas sempre podem fazer é redobrar o cuidado com higiene das mãos. Estudos mostram que o brasileiro toma muito banho, mas lava pouco as mãos. Em 2009, na ocasião da gripe suína, antes mesmo de a doença chegar ao Brasil, houve alarme grande para manter higiene das mãos. E naquele ano os laboratórios que vendiam produtos para diarreia, gripe e outras doenças não bateram as metas porque houve intensificação da higiene das mãos — informa Edimilson Migowski.

Quais são os tipos de coronavírus conhecidos?

Há sete tipos conhecidos de coronavírus que podem infectar pessoas — o Covid-19 é um deles. Outro exemplo da categoria foi a Sars, que matou 774 pessoas e infectou pouco mais de 8 mil, em uma epidemia que começou na China em 2002. Ele também pode ser transmitido por supercícies como maçanetas de porta, por exemplo.

Como acontece a transmissão?

O coronavírus, em geral, é transmitido pelo ar, por meio de grandes gotículas expelidas na respiração, ou por contato direto ou indireto com secreções. Além disso, pessoas podem se infectar através de superfícies como maçanetas de porta ou um simples corrimão.

Especialistas em epidemiologia estimam uma pessoa infectada com o 2019-nCoV pode transmiti-lo, em média, para dois ou três outros indivíduos. Como o 2019-nCoV foi descoberto recentemente, é impossível detalhar sua rota de transmissão.

Novo coronavírus aflige China em meio aos preparativos do feriado do Ano Novo Lunar, período em que muitos chineses viajam para dentro e fora do país Foto: NICOLAS ASFOURI / AFP
Novo coronavírus aflige China em meio aos preparativos do feriado do Ano Novo Lunar, período em que muitos chineses viajam para dentro e fora do país Foto: NICOLAS ASFOURI / AFP

— É um vírus que se mantem viável no ambiente em superfícies molhadas por dias. Uma pessoa pode se contaminar por contato respiratório, utensílios contaminados. Transmissão por via aérea é sempre preocupante. Mas o vírus não vai pular da maçaneta para sua boca, por isso é importante redobrar cuidados com as mãos. Água e sabão resolvem.

Como a doença atingiu humanos?

Sabe-se que o coronavírus costuma ser contraído por seres humanos pelo contato com outras espécies. A Sars, por exemplo, veio da civeta (ou gato-de-agália, espécie aparentada do guaxinim), animal então consumido na China como iguaria.

A Mers, que dizimou 858 dos 2.494 pacientes diagnosticados desde 2012, veio dos dromedários, que chegaram a ser cogitados como possíveis transmissores do vírus para os seres humanos, embora nada tenha sido confirmado até agora.

Um mercado de frutos do mar em Wuhan está no centro das suspeitas sobre a origem da doença. Embora alguns animais marinhos possam hospedar o vírus, é mais provável que ele tenha vindo de algum animal comercializado vivo, como galinha, cobra, morcego, cobra ou coelho.

O que a China já fez para conter a epidemia?

Mais de 50 milhões de chineses estão isolados em suas cidades, depois da imposição de quarentenas e/ou restrições às redes de transporte em outras quatro localidades. Ao todo, dez prefeituras adotaram medidas de confinamento na província de Hubei , cuja capital é Wuhan . As medidas passaram a ser elogiadas pela OMS, mas são questionadas por especialistas.

O governo chinês também anunciou o fechamento de trechos da Grande Muralha , assim como de monumentos emblemáticos de Pequim , em meio às medidas adotadas para controlar a propagação do coronavírus.

*Estagiário sob supervisão de Eduardo Graça