Um Só Planeta

Brasil é o país com maior quantidade de espécies desconhecidas, diz estudo

Pesquisadores da UFPB e de Yale projetaram um 'mapa da vida não descoberta', identificando regiões do planeta com mais probabilidade de serem encontrados vertebrados terrestres ainda não descritos pela ciência
Mata em Barra de Guaratiba, no Rio de Janeiro Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Mata em Barra de Guaratiba, no Rio de Janeiro Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo

RIO — O Brasil é o país com o maior quantidade de espécies de animais vertebrados terrestres ainda desconhecidas pela ciência, segundo uma projeção realizada por cientistas da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e da Universidade de Yale, dos Estados Unidos. Os pesquisadores desenvolveram um modelo com informações sobre a probabilidade de descoberta de novas espécies e geraram um mapa das regiões onde elas devem ser encontradas. O estudo foi publicado nesta segunda-feira na revista científica Nature Ecology and Evolution .

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Segundo a pesquisa, 60% dessas novas descobertas devem ocorrer em florestas tropicais e subtropicais, como a Amazônia e a Mata Atlântica.

Para realizar a projeção, os pesquisadores compilaram onze tipos de informações que potencialmente afetam a probabilidade de descoberta das espécies de vertebrados terrestres — grupo que reúne anfíbios, répteis, aves e mamíferos — como tamanho do corpo, condições climáticas onde ocorrem e a quantidade de especialistas nesses locais.

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Com essas informações, mapearam o percentual de espécies conhecidas para cada região do planeta e geraram um modelo que antecipa onde estão aquelas ainda não descritas pela ciência. A pesquisa foi financiada pela National Science Foundation, National Geographic, E. O. Wilson Biodiversity Foundation e NASA.

O doutor em Ecologia Mario Ribeiro de Moura, professor da UFPB e líder do estudo, explica que, até hoje, grande parte da biodiversidade do planeta ainda permanece desconhecida: 35 mil espécies de vertebrados terrestres já foram descritas, mas estimativas apontam que devem existir cerca de 50 mil. O mapeamento apontou que 10% das futuras descobertas estão reunidas no Brasil, duas vezes mais que nos outros países com maiores quantidades. Esse é principalmente um efeito de sua imensa biodiversidade, afirma o biólogo.

—  O Brasil possui uma biodiversidade surpreendente. Além disso, o sistema binomial, pelo qual as espécies descobertas pela ciência são nomeadas, começou em 1758 e foi realizado primeiro na Europa, nos EUA, em países temperados. Aqui tem muito mais espécies, começou depois, e temos menos investimento —  afirma o pesquisador.

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Ele destaca que o financiamento de pesquisas é um dos maiores entraves do Brasil nessa área.

— Pesquisas em biodiversidades só acontecem com dinheiro público, a não ser que seja dentro de um projeto de licenciamento ambiental, mas nesse caso tem outra finalidade. Temos cientistas perfeitamente capazes de fazer essas descobertas, mas não fazemos porque estamos sub financiados, e isso acontece há anos — afirma Moura.

O pesquisador explica que o estudo pode orientar novas pesquisas em biodiversidade e acelerar o descobrimento de espécies, contribuindo consequentemente para um melhor conhecimento sobre sua importância e para a conservação.

— Tudo que fazemos hoje em conservação da biodiversidade é baseado em espécies conhecidas. Se não conhecemos, tomamos decisões usando dados incompletos, por exemplo, se temos planos para realizar um empreendimento em uma área em que seja menos prejudicial. Sem conhecer as espécies ficamos ignorantes sobre sua importância: seja ecológica, para fornecer serviços ecossistêmicos como polinização, ou econômica, para saúde, na produção de alimentos ou biofármacos. Pode também ser uma espécie invasora, um vetor de doenças  — enumera.

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Países e tipos de animais

Além do Brasil, Indonésia, Madagascar e Colômbia são os países com maior quantidade de espécies ainda desconhecidas. Os quatro juntos somam 25% de todas as futuras descobertas, segundo a pesquisa.

Ao analisar o tipo de animal, o estudo observa que 48% das espécies ainda não conhecidas são de répteis (lagartixas, serpentes, lagartos), 30% de anfíbios (principalmente sapo, perereca, e rãs que ocorrem no chão de florestas), 15% de mamíferos (principalmente roedores e morcegos) e 6% de aves (principalmente aves canoras).

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Moura afirma que os animais vertebrados terrestres foram escolhidos para a primeira fase do estudo porque este é o grupo melhor conhecido atualmente, com dados suficientes para fazer projeções. Próximas etapas envolvem a realização do estudo com animais marinhos e invertebrados terrestres.