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ONU: Mundo está 'à beira do abismo' após um dos três anos mais quentes da história

Temperatura média global registrada em 2020 foi cerca de 1,2 °C acima do período pré-industrial, diz Organização Meteorológica Mundial
Aquecimento Global e os impactos na Antartica. Foto: Elcio Braga Foto: Élcio Braga/Agência O Globo
Aquecimento Global e os impactos na Antartica. Foto: Elcio Braga Foto: Élcio Braga/Agência O Globo

GENEBRA e BRUXELAS —  Marcado por incêndios florestais, secas, inundações e derretimento de geleiras, 2020 foi um dos três anos mais quentes já registrados, de acordo com um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) publicado nesta segunda-feira. A informação foi anunciada pelo secretário-geral da ONU, que também alertou que o mundo está "à beira do abismo".

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Em um "golpe duplo" para milhões de pessoas afetadas por eventos climáticos extremos, as restrições de bloqueio relacionadas à pandemia da Covid-19 também atrasaram a ajuda em algumas regiões, de acordo com o relatório "Estado do Clima Global", elaborado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência da ONU.

Segundo o documento, a temperatura média global em 2020 estava cerca de 1,2 graus Celsius acima do período pré-industrial, colocando-o entre os três anos mais quentes junto com 2016 e 2019, apesar das condições de resfriamento do La Niña, fenômeno que diminui a temperatura média das águas do Oceano Pacífico.

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Uma porta-voz da OMM disse que a margem estatística era muito estreita para classificar uma ordem entre os três anos mais quentes.

O relatório confirma suas conclusões preliminares e é divulgado dias antes da cúpula sobre o clima , liderada pelos Estados Unidos, que será realizada em 22 e 23 de abril.

— Estamos à beira do abismo. Estamos vendo níveis recordes nas tempestades tropicais, no derretimento de placas de gelo ou geleiras, em relação à seca, nas ondas de calor e nos incêndios florestais — afirmou António Guterres, secretário-geral da ONU.

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Entre os indicadores que se destacaram no relatório estão as extensões de gelo marinho no Ártico, que foram mínimas em dois meses de 2020. Cerca de 80% do oceano experimentou pelo menos uma onda de calor marinho no ano passado.

Nos EUA, ocorreram os maiores incêndios da história e o maior número de furacões. O Vale da Morte, na Califórnia, também registrou, em agosto, a temperatura mais alta conhecida no mundo em pelo menos 80 anos: 54,4 graus Celsius, de acordo com o relatório.

Medidas destinadas a desacelerar a propagação da Covid-19 atrasaram a ajuda após o ciclone Harold, uma das tempestades mais fortes já vistas no Pacífico Sul, e após o tufão Vongfong nas Filipinas, onde as regras de distanciamento social impediram a evacuação de residentes em grande número.

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Combate às mudanças climáticas

Guterres também destacou que as nações "devem agir agora para proteger as populações contra os efeitos desastrosos das mudanças climáticas". Para a ONU, 2021 é um ano "crucial" para tentar conter esses efeitos.

O secretário-geral da ONU afirmou que os atuais níveis de ambição em termos climáticos estão muito abaixo do necessário.

— Os países devem se comprometer a atingir zero emissões até 2050. O prazo para cumprir as metas do Acordo de Paris acabou. Devemos fazer mais e mais rápido — afirmou, se referindo ao acordo que planeja limitar o aquecimento global a menos de 2 graus Celsius acima do nível pré-industrial, enquanto os países continuam seus esforços para limitá-lo a 1,5 grau Celsius.

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A OMM considera que há pelo menos uma chance em cinco de que a temperatura média global ultrapasse temporariamente a barreira de 1,5 grau Celsius em 2024.

— Para estabilizar a temperatura média global em 1,5 ou 2 graus Celsius acima do nível pré-industrial até o final do século, precisaríamos de uma grande redução nas emissões de gases de efeito estufa já, nesta década — alertou Petteri Taalas,  diretor da OMM.