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Por Bolívar Torres — Rio

No início dos anos 1960, quando havia sido recém-nomeado secretário no Itamaraty, o historiador e ex-diplomata pernambucano Evaldo Cabral de Mello passou a frequentar a formidável biblioteca do palácio carioca. Ao ler os historiadores da Independência, percebeu que tudo se passava sempre apenas no Rio. O irmão mais novo do poeta João Cabral, porém, esperou 40 anos para desafiar o centralismo da historiografia do período.

Lançado originalmente em 2004, a nova edição de seu “A outra Independência — Pernambuco, 1817-1824” (Todavia) chega para expandir os horizontes das comemorações do bicentenário.

Na época em que o livro foi publicado, Cabral já era uma autoridade em História do Nordeste do período colonial, que ele percorreu em uma dezena de obras. Sua investida na Independência foi considerada inovadora. Abordando a rebeldia da província nordestina na primeira metade do século XIX, o ocupante Cadeira 34 da Academia Brasileira de Letras mostrou que não dava para entender a Independência sem se aprofundar mais no que havia acontecido em seu estado natal.

Contra Portugal e o Rio

O período descrito no livro é marcado por dois movimentos pela autonomia da região: a Revolta Pernambucana (1817), reação à dominação portuguesa que teria, segundo Cabral, dado início ao “Ciclo revolucionário da Independência”; e a Confederação do Equador (1824), revolta republicana contra o caráter centralizador do império de D. Pedro I.

—Quando o assunto é Independência, ainda há muita coisa para explorar em outras áreas — diz o autor, de 86 anos. — É completamente ignorado o que aconteceu mais para o norte, Amazonas, Pará, Maranhão... A atenção ficou fixada em D. Pedro I. A historiografia tinha uma visão centralista que correspondia ao centralismo do Império, e que se prolongou até a primeira metade do século XX.

Foi em Recife, em 1817, que a República acabou sendo proclamada pela primeira vez no Brasil. Até 1824, os pernambucanos lutaram por uma revolução federalista voltada para o autogoverno provincial. Uma insurreição chegou a depor o governador Luís do Rego Barreto, militar do Exército de Portugal, enfraquecendo as forças lusas no território. Após o Fico de D. Pedro, Pernambuco se tornou o centro da resistência contra o projeto de Estado Unitário planejado pelo imperador. O ciclo revolucionário local, portanto, teria sido tanto contra Portugal quanto contra o Rio.

Sem adivinhação

Mas por que tudo isso aconteceu em Pernambuco? Umas das principais exportadoras de açúcar para a Europa, a região fora marcada pelas invasões holandesas no Brasil.

— Até então, Pernambuco era uma capitania como qualquer outra do Brasil, cuja única função na vida era repetir Portugal nos trópicos — lembra Cabral. — A guerra com os holandeses criou uma contestação à coroa portuguesa a partir da ideia de que a expulsão deles se deveu unicamente à gente da terra, o que não era totalmente verdade. Mas essa ficção ficou na cabeça das pessoas.

O que o Brasil perdeu ao não adotar as ideias republicanas de 1817? O autor de livros como “Nassau, governador do Brasil holandês” (2006) não embarca nesse exercício de adivinhação. Para ele, “História é História”. Desde a morte da esposa, Cabral vive solitário num apartamento em Ipanema. Com os filhos no exterior, prefere as reuniões da ABL ao mar (“Praia boa é em Pernambuco”, justifica).

Embora goste do Rio, prevê que o Centro da cidade terá em breve o mesmo destino de abandono do de Recife. E se mostra desinteressado nos festejos do bicentenário. Não tem sequer opinião sobre o coração de D. Pedro I conservado em formol.

— Esses festejos são superficiais, ligados ao grande público — lamenta o acadêmico.

Convivência com João Cabral

Evaldo conta que não chegou a conviver muito tempo com seu irmão João Cabral, um dos maiores poetas da língua portuguesa (e também diplomata). A diferença de 16 anos de idade afastou os dois irmãos, assim como as obrigações diplomáticas de ambos. Em seus deslocamentos pelo mundo, Evaldo e João Cabral serviram quase sempre longe um do outro. Ainda assim, o caçula diz ter sido uma fonte importante para a biografia do poeta lançada no ano passado ("João Cabral de Melo Neto: Uma biografia", de Ivan Marques).

— O livro capturou muito bem João Cabral como uma pessoa... como dizer? Uma pessoa difícil de conviver — diz o historiador. — Mas com as pessoas que ele não conhecia, aí ele era sempre muito amistoso.

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