Um só planeta
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Por — Rio de Janeiro

O trecho do litoral vai da Praia da Sacristia, em Maricá, na Região Metropolitana do Rio, até as Falésias da Lagoa Doce, em São Francisco do Itabapoana, no Norte Fluminense. São destinos pouco conhecidos, mas nem por isso menos ricos em beleza e história. Além do que os olhos veem, guardam evidências preciosas que remontam aos primórdios da evolução do planeta, como uma formação rochosa de dois bilhões de anos. A paisagem exibe fragmentos da separação da Pangeia, há 250 milhões de anos — partido, o supercontinente “descolou” o Brasil da África. Por guardar vestígios dessa história remota, a região de Costões e Lagunas do Rio de Janeiro, que abrange faixas litorâneas de 16 municípios, pode receber o título de Geoparque Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Desde segunda-feira, e com partida marcada para hoje, dois geólogos da Unesco estão no Rio visitando os municípios para conhecer os territórios. Os avaliadores Artur Sá, de Portugal, e Miguel Cruz, do México, vão analisar condições para conceder (ou não) o título ao conjunto de atrativos naturais e culturais da região. O resultado final será divulgado em setembro.

Rochas da Praia da Sacristia, em Maricá: ponto turístico do Parque Geológico — Foto: Hermes de Paula
Rochas da Praia da Sacristia, em Maricá: ponto turístico do Parque Geológico — Foto: Hermes de Paula

Um pedaço da África

A professora Kátia Mansur, do Departamento de Geologia da UFRJ, explica que o selo significa uma chancela de prestígio internacional, que valoriza boas práticas de gestão territorial, reconhece o patrimônio existente e promove o desenvolvimento local.

— A gente tem uma história muito antiga, geológica, de mais de dois bilhões de anos, da colisão e da separação com o território da África, em que um pedaço do continente africano ficou colado no nosso território. Temos aqui estruturas como os estromatólitos, que são bioconstruções de pedra, feitas por micro-organismos a partir de seu metabolismo. São as mais antigas evidências de vida na Terra, que estão no sistema lagunar de Araruama e na Lagoa Salgada, entre Campos dos Goytacazes e São João da Barra. Vem gente do mundo inteiro estudar aqui. É motivo de orgulho para a população do Rio — conta a geóloga, que orienta os estudos na região.

Em Ponta Negra, Maricá, por exemplo, a pouco explorada Praia da Sacristia esconde uma gruta paradisíaca com o mesmo nome. A paisagem milenar é composta por águas azuis cristalinas e uma formação rochosa que vem sendo esculpida até o presente pela erosão, e originou uma verdadeira obra-prima geológica. Essas rochas são de origem e idade diferentes e compõem o conjunto de sedimentos do continente africano que se mantiveram colados ao território sul-americano após a separação.

Na Região dos Lagos, outros paraísos estão na paisagem histórica do litoral fluminense. Em Búzios, tem a Ponta do Pai Vitório, no canto direito da Praia Rasa. Em Arraial do Cabo, ficam a Gruta Azul, a Ilha do Cabo Frio e o Brejo do Espinho, com paisagens de tirar o fôlego. As dunas do Peró e da Dama Branca, em Cabo Frio, também compõem o cenário, além das lagoas de Araruama e Saquarema.

Turistas na Ponta do Pai Vitório, em Búzios — Foto: Custodio Coimbra
Turistas na Ponta do Pai Vitório, em Búzios — Foto: Custodio Coimbra

O Geoparque Costões e Lagunas surgiu em 2011 para conservar vestígios arqueológicos e sítios de interesse histórico e cultural em 460 quilômetros de litoral, de norte a leste do estado. A região vai de Maricá a São Francisco de Itabapoana, passando por Araruama, Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Campos dos Goytacazes, Carapebus, Casimiro de Abreu, Iguaba Grande, Macaé, Maricá, Quissamã, Rio das Ostras, São João da Barra, São Pedro da Aldeia e Saquarema. A gestão é feita por um comitê, com representantes dos municípios, de órgãos públicos estaduais e federais e de ONGs, universidades, empresários de vários ramos e da população em geral.

Pescadores na Lagoa de Saquarema: sistema lagunar da região é um tesouro do Rio — Foto: Hermes de Paula
Pescadores na Lagoa de Saquarema: sistema lagunar da região é um tesouro do Rio — Foto: Hermes de Paula

O conselho gestor do parque enviou um dossiê à Unesco, em novembro do ano passado, solicitando a inscrição para receber o selo. Em março, a organização divulgou a lista anual com 18 locais, de 15 países, que seriam avaliados pelos técnicos do órgão. Entre as candidaturas estava o Brasil, com o Costões e Lagunas. Atualmente, há 213 Geoparques Mundiais da Unesco, em 48 países. Seis estão no Brasil: Araripe (CE), Caçapava (São Paulo), Quarta Colônia (RS), Seridó (RN), Caminhos dos Cânions do Sul (SC) e Uberaba (MG).

A região que está sendo avaliada tem ainda sítios históricos que testemunharam o Descobrimento do Brasil, as primeiras povoações brasileiras, a exploração do pau-brasil, a invasão francesa em Cabo Frio e o Caminho dos Jesuítas. Na região foi registrada a passagem de naturalistas como Charles Darwin, príncipe Maximiliano de Wied-Neuwied e Saint-Hilaire.

Requisitos para o selo

Para se tornar um Geoparque Global da Unesco, a área deve cumprir quatro requisitos fundamentais: ser um patrimônio geológico de valor internacional, com sítios arqueológicos avaliados por pesquisadores; ter gerenciamento que inclua todos os atores, autoridades locais e regionais relevantes; realizar trabalho em rede, com outros geoparques; e visibilidade, com uma identidade corporativa e turismo voltado para as paisagens, a conservação, as pessoas e à evolução da Terra.

— Ao longo da semana a gente está apresentando aos avaliadores o que a gente tem, a região, as pessoas, nossas riquezas culturais e naturais. É um momento histórico. O selo da Unesco joga luz sobre a importância do nosso território para a história do mundo, além de trazer outra perspectiva para o turismo e o meio ambiente na região — conta Marco Navega, presidente do Conselho de Turismo da Região Costa do Sol, entidade coordenadora da visita.

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