Boa Viagem País de Gales

No norte do País de Gales, um roteiro inspirado no casamento real de príncipe William e Kate Middleton

País onde príncipe William vive como militar vira centro das atenções às vésperas do casamento real
Treaddur Bay, onde príncipe William e sua noiva Kate Middleton tiveram seu primeiro evento oficial juntos, no lançamento de um barco de resgate Foto: Eduardo Maia
Treaddur Bay, onde príncipe William e sua noiva Kate Middleton tiveram seu primeiro evento oficial juntos, no lançamento de um barco de resgate Foto: Eduardo Maia

ANGLESEY, PAÍS DE GALES - Na chegada ao bucólico vilarejo de Treaddur, no País de Gales, um local avisou, desolado: "Se você estivesse aqui há dois dias teria visto William e Kate". Daquela remota praia, na ilha de Anglesey, onde o filho mais velho do príncipe Charles serve numa base da Força Aérea britânica, aos pubs londrinos, há poucos assuntos mais populares que o casamento real, entre o príncipe William Arthur Philip Louis e Catherine Middleton. Ou apenas William e Kate, para os íntimos, súditos ou não. O Visit Britain, órgão responsável pelo turismo no Reino Unido, diz que um roteiro monárquico rende pelo menos 500 milhões de libras (algo como R$ 1,4 bilhão) por ano. Cifras que provavelmente serão muito maiores no balanço final de 2011, graças ao evento real mais comentado desde que os pais do noivo subiram ao altar, há 30 anos. Cafona para uns, oportunista para outros, o casamento de um dos herdeiros do trono da monarquia mais badalada do planeta rende, sem dúvidas, um belo roteiro turístico. Que permite juntar marcos da capital inglesa, como a Abadia de Westminster (onde os pombinhos reais se casam no dia 29 de abril), o Palácio de Buckingham e a Torre de Londres, com o bucólico norte do País de Gales, onde curiosidades (como a cidade com o nome mais longo e a menor casa da Grã-Bretanha) convivem com paisagens de tirar o fôlego, cidades medievais e castelos de mais de 700 anos à beira-mar. Leia também: Em Londres e Windsor, os endereços da monarquia.

Anglesey, onde a vida é mais 'araf'

Para quem não sabe nada de galês e chega a Anglesey, uma das primeiras palavras que se aprende é araf . Deveria ser dioch (obrigado) ou croeso (bem-vindo). Mas além de estar escrita em todas as estradas do lugar, araf (devagar) também define o ritmo da vida nessa ilha no noroeste do País de Gales. O cheiro do campo e a maresia se confundem no ar, e as paisagens vastas, com o mar batendo nas rochas e os campos verdes, fazem um lugar relaxante e rústico, quase desconhecido para turistas de fora da Europa.

O fato de o príncipe William morar lá na maior parte da semana (e de ter escolhido a ilha para sua primeira solenidade oficial ao lado de Kate Middleton, no lançamento de um barco de resgate, em fevereiro) se tornou mais um chamariz para uma gama variada de atrações. Anglesey parece um fim do mundo, mas possui uma boa estrutura turística, com restaurantes e hotéis de qualidade e estradas bem cuidadas. Além de local de veraneio para moradores de cidades próximas (ela é relativamente perto de grandes centros ingleses como Liverpool e Manchester), é um dos pontos preferidos dos amantes de atividades ao ar livre.

Há diversos roteiros de trekking na ilha. Só no litoral são aproximadamente 200 quilômetros de área para caminhadas. Um trecho em especial vai da praia de Newborough Forest (de onde se veem as montanhas do Parque Nacional de Snowdonia) até Llanddwyn Island, uma ilha acessível a pé durante a maré baixa. Ali está a igreja de Santa Dwynwen, tida, pelos galeses, como a padroeira dos apaixonados e cujo dia santo, 25 de janeiro, serve como dia dos namorados local.

No litoral, aliás, é onde está a maior parte das principais atrações de Anglesey. No verão, principalmente, há diversos pontos para a prática de esportes náuticos e até banho de mar, para os que não têm medo de água fria.

O principal exemplo de beleza à beira-mar de Anglesey é a Ponte de Menai, que cruza o estreito de mesmo nome, ligando a ilha à mainland, como é chamado o restante do País de Gales. Construída em 1823, foi, na época, a maior ponte suspensa do mundo. Esse título ela já perdeu há tempos, mas continua sendo uma das mais bonitas, principalmente se for apreciada durante o pôr do sol. Um passeio de carro sobre e sob a ponte, na cidade de Menai, faz lembrar aquelas propagandas de automóvel.

Perto de Menai está a atração mais curiosa da ilha. Respire fundo e diga: Llanfairpwllgwyngyllgogerychwyrndrobwllllantysiliogogogoch. O lugarejo, chamado de Llanfair PG para simplificar, tem o maior nome da Grã-Bretanha e o quarto maior do mundo. O responsável por tal palavrão foi um empresário que, para chamar a atenção para a região, batizou assim a estação de trem local, para que ela fosse conhecida por ter o bilhete mais longo do mundo. Desde então, Llanfair PG vive às custas dessas 58 letras.

A poucos quilômetros dali fica um castelo de nome mais simples, mas que é considerado o mais avançado em termos tecnológicos do país. Beaumaris (colado à cidade homônima) está de frente para o mar e é visita obrigatória. Datado de 1295, ele marca o domínio total do rei inglês Eduardo I sobre os galeses.

Após visitar as ruínas do castelo, um bom programa é bater perna pela Castle Street, onde há lojas, cafés e hotéis e a casa mais antiga da cidade, erguida nos anos 1400. Já na avenida costeira, construções vitorianas que destoam do passado medieval.

Seguindo ao norte de Beaumaris chega-se a Penmon, um conjunto de prédios religiosos que remetem ao século X. Há uma igreja (ainda em funcionamento) e as ruínas de um monastério e um viveiro, todos em pedra e seguindo a tradicional arquitetura celta. Ainda mais ao norte, seguindo o litoral, está uma atração menos sacra: o pub Ship Inn, instituição gastronômica na ilha, na baía de Red Wharf. Se William ainda não passou por lá, está bobeando.

Em Rhoscolyn, cidade perto da base naval onde serve o príncipe William, está o White Eagle, um dos muitos estabelecimentos da ilha que se orgulham de já terem servido o herdeiro. Longe da sofisticação londrina, este gastropub combina ambiente acolhedor, cozinha competente, bela seleção de cervejas locais e ótima vista para o mar.

Para comer, há desde o tradicional fish'n'chips a pratos mais elaborados, a base de pato e cordeiro. E para beber, escolha alguma(s) das marcas locais e descubra porque os galeses são tão orgulhosos de suas cervejas. No norte galês, marcas de um rei conquistador

Se em Anglesey impera o lado mais bucólico do País de Gales, do lado oposto do Estreito de Menai (aquele, da ponte cartão-postal) está outro aspecto importante do país: a profusão de castelos. Em toda Gales são mais de 600, e alguns dos mais bonitos e importantes ficam na região norte.

O principal deles é o de Caernarfon, que tem um importante valor simbólico para a história do Reino Unido. Ele foi construído pelo rei inglês Eduardo I durante seu processo de dominação do País de Gales e da Escócia no final do século XIII. As obras começaram em 1283, sobre uma estrutura militar já existente.

Instalado no litoral, foi erguido para ser mais que uma fortaleza. Serviria de sede do governo inglês na região, tendo acomodações específicas para o rei, a rainha e outros integrantes da corte, algo que não havia em outras construções vizinhas. O casal real efetivamente passou longos períodos ali e, diz a tradição, o primogênito deles, Eduardo II, nasceu no castelo.

Fato é que, para marcar posição, em 1301 o rei ordenou seu filho Príncipe de Gales, título que, a partir de então, passaria sempre para o filho mais velho do monarca no poder. Em 1911, Edward VIII (aquele que viria abdicar ao trono em favor do irmão, George VI, pai da rainha Elizabeth II) recebeu o título numa cerimônia no castelo, o que foi repetido em 1969, com o príncipe Charles.

Esta ordenação foi amplamente documentada e numa das torres de Caernarfon há uma exposição permanente sobre ela, com vídeos, fotos, peças de roupas e painéis com toda a linhagem de príncipes de Gales, de Eduardo II a Charles. Ainda não se sabe se William receberá o título, nem quando. Mas, se acontecer, o local deverá ser Caernarfon.

O castelo guarda ainda outras alas com exposições históricas, com direito a maquete da antiga vila medieval construída entre seus muros. Mas, se o tempo estiver curto, vale mais a pena subir nas torres mais próximas do mar e apreciar a panorâmica.

Passear pela cidade intramuros é outro programa obrigatório. Ela é tomada, claro, por uma quantidade absurda de lojinhas com as mais variadas lembrancinhas, quase sempre com a bandeira de Gales ou palavras em galês. Mas há detalhes como o hotel mais antigo da região, o Black Boy, que funciona ininterruptamente desde o século XVI.

Alguns quilômetros ao norte, seguindo o litoral, está a cidade de Conwy e seu castelo homônimo, de 1287. Como o Caernarfon, é considerado Patrimônio da Humanidade pela Unesco por ser um dos mais bem conservados de seu tipo e época. O destaque dele, na verdade, fica do lado de fora: uma antiga ponte elevadiça, de 1822, sobre o Rio Conwy.

Em contraste com a grandiosidade do castelo e até mesmo com a imponência de alguns prédios na vila medieval, está a outra famosa atração de Conwy: a menor casa da Grã-Bretanha. Segundo a lenda local, as casas daquele trecho exterior da muralha, voltado para o litoral, foram construídas das extremidades para o centro. Quando as duas frentes se encontraram, só havia sobrado um espaço pequeno, onde construíram a casa, de 3 metros de altura por 1,8 metro de largura. O imóvel acabou virando atração turística e seu último morador media 1,92 metro de altura. Conwy também é conhecida por seus mexilhões. Quase todo restaurante da cidade serve a iguaria. Se você for fã de frutos do mar e quiser provar um "produto da terra", essa é uma boa oportunidade.

A região também conta com suas belezas naturais. As paisagens mais bonitas ficam no Parque Nacional Snowdonia e arredores, onde se encontra o Monte Snowdon, o maior do País de Gales. Um dos melhores modos de conhecer a área do parque é cruzar a Llanberis Pass, uma estrada que passa ao largo da montanha e pelo belo Llyn Padarn e atravessa vilarejos bucólicos, além de ligar a região de Caernarfon ao Vale de Conwy. Por essa estrada também se chega à estação de Snowdon Montain Railway, o trem turístico que percorre as montanhas, proporcionando as mais belas vistas do local.

Membro da família do Conde de Snowdon, ex-marido da princesa Margareth, irmã da rainha, Peregrine Armstrong-Jones é dono do hotel Plas Dinas (antiga propriedade rural do clã), em Caernarfon, e renomado organizador de festas em Londres. No começo do ano, ele recebeu o príncipe William nas aconchegantes instalações do hotel para conversarem sobre o casamento real. William certamente aprovou o conforto do lugar e, se teve sorte, presenciou o mais belo pôr do sol da região. SERVIÇO:

COMO CHEGAR A HOLYHEAD: De Londres, há trens diários saindo da estação de Euston para Holyhead, por 63 libras. Há trens também de Liverpool (2h40m, 29,50 libras) e Manchester (3 horas, 13 libras) para Anglesey. Reservas em nationalrail.co.uk. Há ainda uma conexão por ferry entre Holyhead e Dublin, com 3h15m de viagem, a partir de 34 euros. www.stenaline.nl

COMO SE LOCOMOVER: Os que se sentem seguros para dirigir em mão inglesa podem alugar um carro em Holyhead. Porém é mais recomendável contratar um serviço de guia, com transporte incluído. Um bom site para isso é o guidenorthwales.com. Há rotas de ônibus entre as principais cidades da região, mas não muito frequentes.

HOTÉIS NO PAÍS DE GALES:

Tre Ysgawen Hall: Uma casa de campo transformada em hotel, com ótimo spa. Diárias a partir de 129 libras. Capel Coch, Llangenfi, Anglesey. Tel. (01248) 750 750. www.treysgawen-hall.co.uk

Plas Dinas: No meio de uma fazenda, tem 12 quartos e ótimo serviço personalizado. Diárias a partir de 95 libras. Bontnewydd, Caernarfon. Tel. (01286) 830 214. www.plasdinas.co.uk

Castelbak Hotel: Localizado a poucos metros da entrada da vila medieval. Diárias a partir de 40 libras. Mount Pleasant, Conwy. Tel. (01492) 593888. www.castlebankhotel.co.uk

ONDE COMER:

Ship Inn: Diariamente. Red Wharf Bay. www.shipinnredwharfbay.co.uk

The White Eagle: Tel. (01407) 860267. www.white-eagle.co.uk

PASSEIOS:

Castelo de Beaumaris: Aberto diariamente, das 9h30m às 17h. Ingresso: 3,80 libras. www.cadw.wales.gov.uk

Castelo de Caernarfon: Diariamente, das 9h às 17h. 5,10 libras. www.cadw.wales.gov.uk

Castelo de Conwy: Diariamente, das 9h às 17h. 4,10 libras. www.cadw.wales.gov.uk

A menor casa: Diariamente, das 10h às 17h30m. 1 libra. Tel. (01492) 593484.

Penmon Prior: Aberto diariamente. Entrada franca. Penmon Drive. www.cadw.wales.gov.uk

Snowdon Montain Railway: Diariamente, das 8h às 12h. 19 libras. snowdonrailway.co.uk Siga o Boa Viagem no twitter

Eduardo Maia viajou a convite do Visit Britain