Seria uma luta sangrenta, não fossem os travesseiros fofinhos. Campeonato esportivo criado pelo americano Steve Williams, em meados de 2018, a Pillow Fight Competition (PFC) tem conquistado atletas e fãs em todo o mundo — mas o Brasil, veja só, consolidou-se como o principal mercado. Em visita ao país, o empresário negocia a agenda dos torneios e busca patrocinadores locais para a modalidade.
Empreendedor serial, com companhias no ramo de telecom e no setor imobiliário, Williams estava desenvolvendo o projeto de um ringue itinerante, um modelo desmontável em caminhão, para lutas de MMA quando o irmão caçula, de 64 anos, lhe deu a ideia. Ao recordar da brincadeira de infância (que quase levou a mãe dos Williams à loucura), sugeriu a guerra de travesseiros como uma alternativa menos violenta para ocupar o ringue.
![Luta no Pillow Fight Championship: travesseiros de até 1kg tomam lugar das luvas — Foto: Divulgação](https://s2-pipelinevalor.glbimg.com/jx8Ssv1J8COoG3xcJbQwhOAUoYI=/0x0:1600x1066/1008x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_b3309463db95468aa275bd532137e960/internal_photos/bs/2024/W/E/RgtshHQN6VWNRQxTUEUw/whatsapp-image-2024-04-30-at-14.45.30.jpeg)
“Na hora, pensei: essa é a ideia mais estúpida que ouvi na minha vida. Mas ele tinha os argumentos certos", conta o CEO do PFC ao Pipeline. “Já havia muitos clubes de luta nos Estados Unidos, era bastante concorrência, e o MMA só era legalizado em 11 estados americanos. Além do mais, nenhuma grande marca quer sangue em sua logomarca. As grandes patrocinadoras esportivas até hoje não apoiam lutas mais violentas.”
O timing, também, foi essencial. O projeto teve início logo antes da pandemia de Covid, tornando-se conhecido num momento em que os espectadores buscavam os chamados "comfort shows" e não estavam a fim de coisas violentas, diz o empreendedor (e o que pode ser mais confortável que um travesseiro?). Williams passou testar a ideia com supermodelos lutando em shortinhos, mas logo depois da primeira luta, desistiu. Era chato e polêmico, admite.
O executivo então reuniu algumas das promessas do boxe, MMA e jiu-jitsu, o que deu outro vigor à disputa. Até porque, apesar de não parecer à primeira vista, o esporte exige técnica e resistência para dar conta dos rounds de 90 segundos e das travesseiradas que chegam a pesar 1kg em espuma industrial. Atualmente, algumas academias de karatê e lutas marciais promovem o esporte como um aquecimento para crianças e adolescentes.
As regras do PFC incluem não cuspir ou xingar o adversário, não deixar o travesseiro cair e nem ficar parado por mais de três segundos (ou 10 segundos no caso de queda por nocaute).
No Brasil, o empresário encontrou seu dream team, não só pela qualidade técnica mas pelo volume de talentos disponíveis, diz. Cerca de 30% dos lutadores profissionais do mundo são brasileiros. No PFC, a estatística é ainda maior: mais da metade dos atletas. A primeira mulher a vencer um torneio mundial da modalidade, em 2022, foi a brasileira Istela Nunes, de 29 anos, levando um prêmio de US$ 5 mil. Com 52kg, a lutadora está vinculada ao UFC na categoria peso-palha.
O país também foi um dos primeiros a licenciar a marca de Williams e formar uma liga local, coordenada pela Federação Paulista de Pillow Fight (FPPF). Jéssica Barreiro da Costa é a atual presidente da instituição e tem auxiliado na atração de patrocinadores locais.
Lá fora, os principais investidores da liga são consultorias e firmas de investimento, como a SCCG Management, sediada em Las Vegas. Por aqui, alguns dos patrocinadores incluem o grupo de segurança patrimonial Rinna e laboratório de probióticos e suplementos Bionad. Williams quer chegar à Ambev. “Adoraríamos ter a Brahma como patrocinadora, marcas de bebidas brasileiras, como é tradicional nos Estados Unidos. E as gigantes do esporte. Por que não a Nike?”, almeja.
![Steve Williams, criador do Pillow Fight Competition: em busca de patrocinadores brasileiros — Foto: Divulgação](https://s2-pipelinevalor.glbimg.com/JGhMIUnSCoL4U5BZzKVPS-X_2JA=/0x0:1600x834/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_b3309463db95468aa275bd532137e960/internal_photos/bs/2024/v/b/59BLERTJGht5r4JYaOZQ/whatsapp-image-2024-04-30-at-14.30.57-1-.jpeg)
A ambição não é menor no setor. O objetivo de Williams é fazer com que, um dia, o PFC seja reconhecido como um esporte olímpico. Até lá, vai semeando o negócio globalmente. Já conseguiu a transmissão de um canal de TV e, depois dos EUA e do Brasil, tem licenciados em países como Gana, Nigéria e Índia. Um contrato para a formação de uma federação na Espanha também vem sendo negociado.
No Brasil, as próximas disputas acontecem em julho, no Rio, e em outubro, em São Paulo.