Quem já tentou vender um carro usado ou encomendar uma peça com o mecânico sabe: boa parte do setor automotivo ainda funciona na base da prancheta e do telefone. A Bolt Software quer mudar isso. Para avançar com uma tese de digitalização e verticalização do segmento, a companhia acaba de captar US$ 5 milhões (cerca de R$ 27 milhões) com o L4 Venture Builder, cujo único cotista é a B3.
Fundada no final de 2021, a Bolt opera como uma holding que compra empresas que fornecem software para um determinado segmento — em geral tecnologias que se complementam — para promover uma consolidação daquele nicho com uma estratégia de verticalização por trás.
No setor automotivo (o primeiro alvo da Bolt nesse sentido e o único projeto em curso no momento), já foram adquiridas a Followize e a DealerSites, duas plataformas de marketing e vendas para fabricantes de veículos e concessionárias. Ambas serão fundidas sob uma nova marca, a Dealer Space. Segundo a Bolt, as duas contam juntas com 60% de market share nesse nicho e atendem a clientes como a montadora Stellantis, grupo que inclui marcas como Fiat, Jeep, Peugeot e Citröen.
“Em termos de vendas, o setor automotivo ainda trabalha com a barriga no balcão, é terra de ninguém, é como voltar 10 anos no tempo em qualquer outra indústria”, diz Vinicius Vazquez, fundador e CEO da Bolt Software, que passou os últimos dois anos estudando inovação no segmento na América Latina.
O dinheiro captado será usado basicamente para fazer novas aquisições. Desde que começou a se debruçar sobre o setor, a Bolt mapeou cerca de 1,5 mil empresas e chegou a um pipeline de 66 potenciais M&As — startups que somam faturamento de R$ 1 bilhão. Junto a essa estratégia, a Bolt também quer impulsionar o crescimento orgânico e desenvolver soluções complementares à plataforma que está construindo para o setor automotivo, para ser o que se chama no mercado de “one stop shop” (um balcão único de soluções).
Nesse plano, a empresa terá ainda o apoio da própria B3 , que passou a ter o maior banco de dados do setor automotivo do país depois da fusão entre a BM&FBovespa e a Cetip em 2017. Além disso, a Neoway e a Neurotech, ambas adquiridas pela B3, contam com soluções para o setor.
"A gente acredita em proximidade com o ecossistema da B3 e toda essa base de dados proprietária vai acelerar o processo. Toda a cadeia automotiva ainda é pouco digital. São empresas com pouco capital para escalar, geralmente familiares. Juntando soluções, a gente consegue extrair muita sinergia", diz Tiago Wigman, sócio do L4. Além do aporte do L4, a Bolt já havia levantado US$ 1 milhão, em uma rodada liderada pela Canary com participação da SaaSholic e investidores-anjos, em 2021.