Chamado à Vida
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Sobre este e-book
A arte literária de um contador de histórias é sempre imperdível.
Vale a pena conferir!
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Chamado à Vida - Moustafa Assem
Copyright © 2015 por Moustafa Assem Todos os direitos reservados. Proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total da mesma, através de qualquer forma, meio ou processo, seja eletrônico, digital, de fotocópia, gravação, internet etc., sem a prévia e expressa autorização do autor. Todo o conteúdo desta obra é de total responsabilidade do autor. Iª Edição Iª Tiragem – Dezembro de 2015 – 500 Exemplares
Coordenação Editorial: João Pedro Canda Tradução: Nisreene Matar Revisão: Márcia Almeida Diagramação: Joyce Matos Desenhos: Moustaffa Assem (Autor) ISBN: 9781908374127
Assem, Moustafa, 2015.
Chamado à Vida – Coletânea de Contos /Moustafa Assem 1.Contos
E-Book Distribution: XinXii
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11 3853.9405 (SP-Brasil)
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Prefácio
Ser convidado a prefaciar um livro é, sem dúvida, uma grande honra e, paralelamente, um enorme desafio por estar consciente de se tratar de uma contribuição, ainda que modesta, para o conhecimento e reconhecimento da obra em questão. Por este último motivo, é um trabalho que se reveste de uma grande responsabilidade, embora, raramente, assim seja visto. Aceitei o desafio movido pelas múltiplas exigências do meu trabalho enquanto escritor, editor e promotor literário, sendo fiel aos meus princípios e, sempre disponível para testemunhar a vida e os seus chamamentos. Com o lançamento de Chamado à Vida, agora finalmente em língua portuguesa, uma vez que nas edições anteriores ele havia sido publicado em árabe (Egipto 2015), o autor inaugura uma nova fase na sua trajectória artística. As ideias retomadas nesta obra resgatam, de forma actualizada, leve, provocatória, corajosa e cheia de esperança, questões que, no nosso dia-a-dia, continuam a instigar conflitos e provocar o naufrágio social. Estas, na visão do autor, poder-se-ia ter evitado se cada vida encarnasse a dignidade da pessoa humana. Essa ideia não se restringe apenas às origens do autor, mas estende-se a todas as realidades e dimensões, oferecendo um novo conceito de liberdade. Toda esta minha apreciação resulta de um apurado e dissecador trabalho que fiz ao ler e estudar a obra inúmeras vezes. E, nesse prazeroso trabalho, reconheço traços característicos do autor, o que não pode ser dissociado da inspiração que orientou a construção do livro, como o forte amor pela justiça e o inalienável compromisso social. O autor, sabe contemplar o mistério da eternidade da vida que, enquanto homem, não existe somente como uma criatura individual, mas que se descobre como membro de comunidade humana, de uma pátria. Da leitura dos dezasseis contos Chamado à Vida é possível perceber que estamos perante um livro simples, claro, com nenhuma outra pretensão senão colocá-lo diante desta mesma e tão batida senda, que é a tarefa do viver, compreendendo as vicissitudes, desde as suas causas mais óbvias às mais profundas, com a capacidade para fazer a vida acontecer e com total determinação. Estamos perante um livro sem receitas, mistérios e magias. Os contos organizam-se em cadeias de polarização múltiplas, o que torna a sua estrutura bem como a sua compreensão, simplificada, promovendo a compreensão do pensamento filosófico interventivo e artístico, na medida que reúne protesto e indignação nascidos de situações que ferem um sentimento, uma vida, uma alma. O outro lado interessante da composição desta colectânea de contos algo da expressão egípcia, se evocada à distância, se deixa impregnar pela forma lírica, em que é forte o autor, por isso, alguns dos seus sons expressados no livro revelam o timbre amoroso com a vida, vivido em ansioso conflito filosófico e artístico. O trabalho desse ilustre médico vai além do divertimento semântico, sob pretexto de celebrar personagens, construir sonetos carregados de sentido, mensagens plurivocais e pejadas de um léxico explosivo. As raízes entrançadas do discurso literário do Moustafa Assem reflectem um jogo de harmonias e de proporções, que só podem ser entendidas com uma profunda leitura em direção ao destino. Este é, certamente, um livro que irá emocionar e transmitir ao leitor os cenários, as ideias e emoções dos factos. Nesse sentido, poderá servir de estímulo àqueles que se sentirem desencorajados, levando-os a agir com determinação na conquista dos seus ideais. Os meus parabéns pela preciosa contribuição da tradutora Nisreene Matar e da sua equipa que deram, sem dúvida, a esta obra, o engrandecimento dessa arte aprazível e nobre. Deixo aqui esta nota, bastante pessoal, de homenagem ao magnífico trabalho do autor Moustafa Assem, esperando que os leitores tenham tanto prazer ao lê-lo como eu tive a cada leitura que fiz.
João Pedro Canda
Coordenador Editorial da TM Editora
Promotor Literário - Escritor.
Apresentação
Quando chegamos ao início da adolescência e começamos a sentir a cor da juventude no nosso rosto, começamos a leitura de livros grandes ou o que nós achávamos grandes naquela idade... Procurando palavras grandes que ouvíramos antes, na nossa infância: o destino... a pátria... os sentimentos... o amor e a separação... E finalmente, e acima de tudo, a religião. E entre o final da adolescência e a entrada na fase adulta, nós já tínhamos lido uma quantidade razoável de livros de literatura, poesia, história, filosofia, política... E como estávamos à procura dos sinônimos e significados de palavras grandes e difíceis, começamos a entender o sentido dessas palavras e, de ver em quando, ainda ficávamos atrapalhados ao usá-las. E começamos a caminhar na trilha do amor pós-adolescente, com as suas formas platônicas... com a sua pureza... para, lentamente aprender o significado de sentimentos e emoções doloridas e, em seguida, colidir com as condições e predestinações da vida... E cresceram dentro de nós significados e valores que amadurecem com a idade e, com a passagem dos anos, se estabilizam. Então a nossa mente começa a perambular entre os livros de filosofia e lógica... E as nossas almas, a se bater entre os acontecimentos sucessivos da vida que foram, por vezes, carregados de tristeza... E as almas se misturam com as mentes e os acontecimentos, em uma pintura de cores conflitantes... para se acalmar no final... E eis que surge novo significado, que amadurece com o tempo, para o aprendermos. Então nós viajamos para fora do Egito, para nos deparar com algo de significado muito grande, que perturba a nossa consciência e o nosso coração como uma pedra pesada e difícil de suportar... Chama-se Pátria. Uma simples palavra de um sentido profundo e de muitos sinônimos, que carregamos para fora das fronteiras reais de um país, com todos os acontecimentos da vida, as nossas evoluções psicológicas e intelectuais, as transformações da mente e o sofrimento dos minutos e horas, até que o sentido nos envolva, e os nossos corpos e mentes vão se cobrindo com esse sentimento de um brilho infinito e uma maturidade cada vez mais jovem... E, com o tempo, aprendemos e nos certificamos de que esse sentimento se chama Pátria. Os dias e os anos passam de forma muito rápida e abrem para nós uma enorme porta que nunca esteve trancada... a religião ou o credo. Nós descobrimos que essa porta, que esquecemos por um tempo, é diretamente relacionada com as nossas mentes e os nossos corações ao mesmo tempo... E o que passa desse portão são todos os significados e sentimentos que temos em todas as fases de nossas vidas... Começando com o sentido do nascimento e da existência... passando pela necessidade da liberdade e, finalmente, o pensamento profundo acerca do significado da morte e a nossa preparação para ela. E o fato é que têm sorte aqueles que receberam todas as bênçãos desta porta, receberam todas as graças e foram capazes de plantar essa semente nos corações e nas almas. E ficam as experiências das nossas vidas como o resto de uma tempestade... como marcas tatuadas na nossa personalidade e na nossa fisionomia. E eu parabenizo quem conseguiu, de uma forma inteligente, digerir todas as experiências sem ser devorado por elas. "Chamado à Vida" é uma coletânea de pequenas histórias que escrevi com palavras e descrevi com linhas desenhadas, mas, para mim, além de ser uma obra artística escrita e desenhada, como eu disse antes, ela representa os efeitos e os sinais que permaneceram após as várias tempestades da vida... E mais do que um dilúvio humano... são cores puras e claras, que após uma batalha de cores se precipitam em um imenso painel, no qual cada cor que foi capaz de permanecer ficou como um símbolo. Cada cor indica um impacto e um significado... O destino... os sentimentos... o amor... a liberdade... a pátria... a dignidade... o contentamento... a expatriação. E o que junta todos: a religião e a crença.
Moustafa Assem.
Sumário
Prefácio
Apresentação
A Conta
Binário Partido
Abaixo de Zero
O Medo da liberdade
Metamorfose dos Espelhos
Chamado à Vida
A Jogada
No Meio da Tarde
Era Uma Vez...
A história de toda hora
Explosão de uma Vela
Saída do Círculo
Suicídio sob a Luz
Bartouss
Fora do Útero dos Homens
Início do Caminho
A Conta
Eu era um e me tornei outro... Olha...
O Senhor pode tudo. Sacudiu as árvores e cochilou...
dizendo algo tem que morrer para outro viver.
Estranho...
Salah Gahim
Meio-dia: Tudo é calculado
... Em todos os lugares ouço essas palavras... Tudo tem preço
... Essa é a regra existencial usada entre os povos da terra... O acerto das contas no dia do juízo final
... Esse é o lema dos ascetas na religião. Em qual esses dizeres ele deveria acreditar?... Vamos calcular novamente... Comida para matar a fome das crianças... sessenta libras. Aluguel da casa... afastada e decadente... vinte libras. O consumo de água e luz... cinquenta libras. Despesas pessoais e transporte... trinta libras. As despesas de tratamento da sua esposa... cinquenta libras. E o salário... cem libras somente. Não! Não! Não!... Essa conta não está certa... vamos calcular de novo: Comida das crianças... cinquenta libras ... As despesas...
. Você não vai, seu Anice?... Hoje é o início do mês, e certamente os meninos o estão aguardando
. Assim o surpreendeu um de seus colegas, naquela sala antiga e miserável de uma repartição pública. Você está certo... Melhor ir pra casa...
. E então o seu Anice carregou os seus papéis, suas coisas, a sua conta e saiu. À tarde: Um + um = dois... Isso é o que eles dizem na aula de cálculo.
Nada envergonha o homem a não ser o seu bolso... Esse é um dos ditos populares que a sua mãe e a sua avó repetiam sempre. Tudo contado... tudo tem o seu preço... menos o ser humano, que se vende barato... Todos os preços aumentaram... todos os números duplicaram... Vamos tentar ajustar a conta de novo:
Quarenta libras para comprar comida... Sessenta libras – despesas dos meninos... Cinquenta libras – despesas de medicamentos... Não, não, ainda não está certa
. Jogou a caneta e observou os papéis das contas: Como posso acertá-las?... Como?!
Será que a pobreza tornou-se a marca dos dias de hoje?... Será que se substituímos os nossos rituais religiosos pelos cálculos?... Será que os pobres se tornaram os amaldiçoados desta era? Dois + dois = quatro
... Ele tem que acertar esse cálculo... Mas já fez isso muitas vezes. Quatro + quatro = oito... Uma corrida acirrada entre ele e os números... E essa conta está atestando a incapacidade dele.
Oito + Oito = dezesseis... E não é uma conta difícil... Ela é Simples... insignificante... nada mais do que cem libras... mas inajustável. À Noite: Na sua humilde casa, numa tábua de madeira desgastada, o seu Anice sentou-se e tentou ajustar o cálculo ... O que posso vender?... Esta é a solução se eu quiser resolver esta conta... Eu vendi todas as minhas coisas valiosas, até a televisão... Esta eu vendi pra me livrar das suas provocações à ambição dos meninos... O que posso sacrificar?... Vendo o armário... e onde coloco a roupa? Vendo as roupas... e o q uso?... Vendo a minha pele... ou me vendo para quem quiser comprar?? A sua imaginação vagava sem limites... E a conta era tão simples... Mas ela se negava a se ajustar. O jogo todo são apenas números nos números... Estalou na sua mente