A Vida de Lazarilho de Tormes
De Anônimo
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A Vida de Lazarilho de Tormes - Anônimo
Anônimo
A VIDA DE LAZARILHO DE TORMES
1a edição
img1.jpgIsbn: 9788583863700
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Prefácio
Prezado Leitor
A Vida de Lazarilho de Tormes foi publicado em 1554 e por um longo tempo acreditou-se que seu autor fosse um nobre chamado: Diego Hurtado de Mendoza. Recentemente, sugeriu-se que foi Alfonso de Valdés, um funcionário imperial muito culto com tendências erasmianas. Mas dificilmente saberemos a verdade.
Não é possível acreditar que a história tenha sido escrita pelo próprio participante. Ela envolve a vida do filho de uma mulher que acabou vivendo com um escravo negro. O filho se torna guia de um cego, criado de vários patrões e, finalmente, o pregoeiro de Toledo graças à influência de um vigário que deve ter sido amante de sua mãe. O livro é como uma carta em que Lázaro explica a situação
que despertou a atenção do homem ou mulher anônimo (Vossa Excelência
) a quem o texto é endereçado.
Tudo o que o autor escreveu já era material do folclore ou do repertório de contos anticlericais. Mas a novidade radical foi o tom desinibido e a habilidade com que ele transformou toda a coletânea nas experiências de uma só vida.
Lazarilho de Tormes foi o primórdio da história picaresca e inaugurou o romance moderno como expressão pessoal do mundo. O Livro faz parte da famosa coletânea: 1001 livros para ler antes de morrer.
Uma excelente leitura
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"Yo no te puedo dar oro ni plata,
mas consejos para vivir
son muchos los que te daré...."
Lazarilho de Tormes
A VIDA DE LAZARILHO DE TORMES
Sumário
APRESENTAÇÃO
LAZARILHO DE TORMES
PRÓLOGO
Tratado Primeiro
Tratado Segundo
Tratado Terceiro
Tratado Quarto
Tratado Quinto
Tratado Sexto
Tratado Sétimo
APRESENTAÇÃO
img2.pngCapa da edição de 1554
Lazarilho de Tormes merece um lugar de especial relevância na história da literatura, na medida em que é um dos fundamentos da modernidade literária. Ele pode ser entendido como uma das primeiras manifestações do gênero conhecido como romance e, dentro deste, é o primeiro romance picaresco. No entanto, além destes aspectos e das análises e interpretações que o texto possa merecer, seu aparecimento se configura, para os leitores de hoje, cercado de enigmas que achamos interessante relacionar.
O surgimento da obra.
Datam do ano 1554 as três edições mais antigas do Lazarilho hoje conhecidas. Nenhuma delas indica o nome do autor. O fato de existirem três textos, dois deles quase que idênticos, publicados no mesmo ano e em três diferentes lugares (Burgos, Antuérpia e Alcalá de Henares), tem levado os críticos a entender que houve uma ou duas edições anteriores que teriam sido a base comum daquelas que chegaram até os nossos dias. Essa hipótese parece-nos ter-se firmado definitivamente com os estudos de Francisco Rico.
Rico chega a várias conclusões, nas quais pareceria ter colocado o ponto final para diversas questões que alimentaram a polêmica sobre o Lazarilho ao longo do século XX. Assim:
a) a primeira impressão do texto teria ocorrido entre 1552 e 1553, muito provavelmente em Burgos, na mesma gráfica de Juan de Junta, o impressor da edição de Burgos de 1554;
b) Juan de Junta teria tido inicialmente acesso ao manuscrito do autor do Lazarilho, que não conteria nem a divisão em tratados
nem as epígrafes dos mesmos; mais ainda, o texto não teria tido sequer um título. Este, bem como as epígrafes e a divisão, teriam sido obra de um ajudante da gráfica de Juan de Junta, que provou ter pouca imaginação na criação do título e epígrafes, bem como ter lido muito superficialmente o texto. Assim, cometeu vários despropósitos que, já nos nossos dias, não encontrariam explicação se continuassem a ser atribuídos ao autor do texto.
Além da existência de várias edições iniciais simultâneas, tudo leva a admitir o sucesso do Lazarilho. De fato, o impacto causado pelo livrinho e a ideia de que a história admitia uma continuação levaram à publicação do Lazarilho original junto com uma Segunda parte, igualmente anônima, em Antuérpia, já em 1555. E, logo mais, em 1559, a obra seria censurada: nesse ano, o Lazarilho foi incluído no Cathalogus librorum qui prohibeutur do Grande Inquisidor Valdés, publicado em Valladolid. Em função da censura, o Lazarilho só seria publicado novamente em 1573, na versão mutilada conhecida como o Lazarilho castigado, onde, pela mão de Juan López de Velasco, foram suprimidos, na íntegra, os tratados IV e V e diversas frases avulsas. Na Espanha, o texto completo do Lazarilho só voltaria a ser impresso em 1834, em Barcelona, um mês depois de abolida a Inquisição. A censura proibiu também a Segunda parte anônima que, ao contrário do Lazarilho de 1554, não voltaria a ser impressa na Espanha, sequer com cortes, até 1844.
Autoria da obra
Durante muitos anos, a autoria do Lazarilho foi tema para longa polêmica, na qual cada crítico achou ter encontrado a solução para um dos maiores enigmas da história da literatura.
Em 1607, o bibliógrafo flamenco Valère André Taxandro, no seu Catalogus clarorum Hispaniae scriptorum, atribuiu o Lazarilho a Diego Hurtado de Mendoza (1503 - 1575). Essa atribuição foi reiterada em 1608 por Andre Schott em sua Hispaniae bibliotheca e tem sido a mais aceita por aqueles que desejavam encontrar, a qualquer preço, o nome de um autor para o Lazarilho. Salientemos que até na primeira tradução
brasileira do Lazarilho ao português — na verdade uma adaptação realizada em 1939 por Antônio Lages, no Rio de Janeiro — a obra é atribuída ao mencionado autor.
Não menos de outros sete nomes — dentre os quais caberia salientar o de Sebastián de Horozco (1510 - 1580) — têm sido apontados pelos diversos críticos como sendo o do autor do Lazarilho. No entanto, hoje é unânime a aceitação do caráter anônimo do texto. Francisco Rico aponta uma solução que, se não resolve a questão factual — quem foi o escritor, o autor material do Lazarilho? — explica o fato de o livro ter sido publicado de forma anônima, solução esta que resolve o problema ao nível do texto enquanto tal: o Lazarilho foi publicado anonimamente porque, para os seus leitores, quem conta a sua própria vida