Olhar de frente
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Olhar de frente - Tânia Alexandre Martinelli
A casa da infância
O mundo tem muitas cores.
O céu, por exemplo. Ele pode ser azul-claro, com poucas nuvens, mas também pode ser branco e cinza. Amarelo, laranja e vermelho ao entardecer; azul-marinho na chegada da noite. Ainda é possível encontrar outras nuances, basta prestar atenção. Há cores em tudo. E Vladmir sempre gostava de lembrar.
Quando era criança, brincava na rua até tarde, sem muitas regras e horários. E, tão logo ficava noite, procurava a primeira estrela que surgia. Não só ele, como todos os seus amigos: Primeira estrela que vejo, realize o meu desejo!
, diziam. E a sorte estava lançada.
Aprendeu na escola que essa estrela, na verdade, é um planeta: Vênus, também conhecido como Estrela-d’Alva. Havia certa música de que seu pai gostava bastante e que falava justamente dessa estrela, de seu esplendor. Lembrava-se dele mexendo no botão do rádio sobre o móvel de madeira, na cozinha, entre a geladeira e o fogão, debaixo da janela. Todas as tardes, antes do jantar, ele puxava a cadeira trazendo-a para perto do móvel e ficava muito quieto, o ouvido colado no rádio, completamente entregue à melodia e à letra.
A cozinha era pequena, assim como os outros cômodos da casa. A mesa retangular acomodava seis cadeiras, e em cima dela havia sempre uma toalha de crochê com alguma peça enfeitando o centro. Na parede oposta ao móvel do rádio, uma cristaleira onde a mãe guardava travessas, pratos e copos. O banheiro ficava à direita do corredor, e à esquerda, o quarto onde Vladmir dormia com os irmãos. Seguindo três metros adiante, ficava a sala e o quarto do pai e da mãe, numa entrada ao lado do sofá pequeno. Era o bege que predominava nas paredes da casa.
Sua mãe cultivava flores no quintal, dálias amarelas, rosas cor-de-rosa, cravos e margaridas, além de uma horta com folhas de variados tons de verde. O colorido da casa permanecia intacto na sua memória.
– Estou ficando velho… – Vladmir murmurou.
– Por que o senhor acha isso?
O homem virou para o lado, surpreso com a pergunta:
– Por nada, Humberto. Não era para ninguém ter escutado, falava comigo mesmo.
– O senhor é a única pessoa que me chama de Humberto.
Vladmir só moveu a cabeça para a frente, alheio à informação. Estava sentado em uma poltrona numa espécie de sala de estar próxima à recepção. Havia duas portas em cada uma das paredes laterais e, ao fundo, ficava o refeitório.
– Minha mãe também, às vezes... – continuou o garoto, mantendo-se em pé, na frente de Vladmir. Estava só de passagem, nem teria parado se achasse que não era com ele. – Mas finjo não saber por quê.
– Finge?
– Que eu não sei que o assunto é sério. Ela deve achar que parece mais importante se falar Humberto em vez de Beto. Já chamaram o senhor de Vlad?
– Antigamente…
– Seu Vlad é estranho.
– Estranho, por quê?
Beto ergueu os ombros:
– Sei lá. Não combina, na minha opinião.
Vladmir não concordou nem discordou.
– Pra ser sincero, eu é que não combino com Humberto.
– Humberto é um nome bonito.
– É o nome do meu pai. Se um dia eu tiver um filho nunca vou ter essa ideia da minha mãe de colocar o mesmo nome.
Vladmir não deu sequência e a conversa morreu por aí. A sala tornou a ficar silenciosa e o pensamento das cores da infância ressurgiu. Tinha hora que achava bom lembrar-se delas com tamanha riqueza de detalhes, vozes chegavam a coçar o ouvido soprando-lhe diálogos antigos.
Mas isso não era bom o tempo inteiro. Às vezes, era exatamente o contrário.
Período da manhã
Sentado num dos degraus da arquibancada da escola, Beto escutava a gritaria dos amigos que jogavam na quadra. Não tinham muito tempo de intervalo entre as aulas, mas dava para transformar aquela pausa num momento de diversão. De vez em quando, e quando era possível, algum professor jogava junto, voltando para a sala mais suado que os alunos.
Subitamente o som de um apito, acompanhado de veemente protesto, chamou a atenção de quem assistia ao jogo ou simplesmente estava por ali batendo papo:
– Pode parar com isso! Não foi falta coisa nenhuma!
– Foi, sim! – Beto gritou sem pensar duas vezes, dando o seu veredicto de acordo com a penalidade do juiz. Não sabia quem marcava as faltas naquele dia, mas sabia muito bem quem era o reclamante: Samuca, seu amigo.
– Cala a boca, Beto! – a repreensão chegou praticamente no mesmo instante.
Como se adiantasse:
– Falta dele, juiz! Eu vi tudo!
– Beto, eu vou subir aí e te sentar a mão!
Beto gargalhou num balanço que levou seu corpo para a frente e para trás, vaivém típico de quem está rachando de rir
. Divertia-se ao provocá-lo.
Por fim, a discussão não foi levada adiante, pois logo ouviram o sinal para o retorno à classe. Fim de jogo sem nenhuma conclusão esclarecedora.
Samuca subiu a escadaria e deu um tapa no boné do amigo, que foi parar alguns degraus acima:
– Trouxa!
– Ei! – Beto falou passando a mão no topete desmanchado. – Pega lá, Samuca!
– Não devia! Pô, Beto, sou seu amigo ou não sou? – Samuca enxugou o suor da testa na manga da camiseta e foi buscar o acessório sob protesto. Ao voltar, enfiou o boné de qualquer jeito na cabeça do traidor. – Besta.
Já em sala de aula, Beto abriu o notebook e foi anotando as falas mais importantes do professor. Achou ótima a pergunta da Valquíria, ainda mais da Valquíria!, pois era praticamente o mesmo que ia perguntar minutos antes. Economizou discurso e tempo. Não só por isso.
Escreveu o que achou que tinha entendido e, depois, deixou-se ficar sem muita atenção ao que o professor dizia. Mãos e braços descansaram ao longo do corpo e a