Cuidados Paliativos: Quando Cuidar é um Privilégio
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Sobre este e-book
A morte é um tema inquietante, desconfortável. Ninguém gosta de pensar como será o seu fim de vida, mas todos esperamos que seja cheio de paz e tranquilidade, com tempo de nos despedirmos das pessoas que nos são mais queridas. “Cuidados Paliativos: Quando Cuidar é um Privilégio” transporta-nos para os bastidores dos cuidados em fim de vida, descrevendo os esforços dramáticos de enfermeiros, médicos, psicólogos, capelães e outros – incluindo um chef dedicado – que tudo fazem para minorar o sofrimento e a ansiedade de pacientes e familiares.
Talvez este livro lhe interesse caso seja curador de alguém que ama. Talvez encontre aqui as respostas caso tenha dúvidas se este é o trabalho indicado para si. Ou talvez este livro lhe interesse porque descreve a humanidade no que tem de melhor. Este livro foi escrito para si.
ALTAMENTE RECOMENDADO pela Associação Médica Britânica (2008)
"Um enriquecimento do cânone da literatura de narrativas pessoais sobre a doença, a morte e o sofrimento... A simples reflexão sobre o conteúdo sensível e complexo deste livro vai ainda surtir efeito, muito depois da sua leitura.”
Fórum sobre Enfermagem Oncológica,
Escola Real de Enfermagem
"Um livro de fácil leitura, que irá surpreender muitos leitores pela leveza com que o tema é abordado. Um livro reconfortante, cheio de humanidade.
Recomendo a qualquer pessoa que se preocupa com a temática ou presta cuidados paliativos a um ente querido em fim de vida."
Dr Nansi-Wynne Evans, Médica Generalista,
Competição de Livros da Associação Médica Britânica
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Cuidados Paliativos - Ann Richardson
Prefácio de
Rita Torrão
Este livro é dedicado a todas as pessoas
que trabalham em cuidados paliativos
onde quer que se encontrem
Conteúdos
Prefácio
Prefácio da Autora
CAPÍTULO 1: Cuidados Paliativos: Introdução
O trabalho das Unidades de Cuidados Paliativos (UCPs)
Ajudar doentes em fim de vida
Atividades e terapias
Cuidados paliativos versus cuidados hospitalares
O que há de especial nas UCPs
PARTE I
O TRABALHO REALIZADO
CAPÍTULO 2: A Natureza do Trabalho
O ritmo do dia a dia
Funções específicas
Os doentes do Centro de Dia
As noites na UCP
Doentes em casa
Gerir a UCP
CAPÍTULO 3: Atender a Doentes e seus Familiares
Dar as boas vindas e alento
Necessidades físicas e práticas
Ajuda emocional
Apoio espiritual
Voltar para casa – alguns constrangimentos
Necessidades dos familiares e amigos
Filhos
CAPÍTULO 4: Trabalhar com Doentes em Fase Terminal
Ajudar a aceitar a morte
Regressar a casa em fim de vida
Reconhecer a fase terminal
O momento da morte
CAPÍTULO 5: Depois da Morte
Dar tempo à família
Preparar o corpo
Os dias seguintes
Comparecer ao funeral
Acompanhar o luto
Contato subsequente com os familiares
PARTE II
POSSÍVEIS DIFICULDADES E COMO LIDAR COM ELAS
CAPÍTULO 6: Causas de Stress: Doentes e Famílias Difíceis
Doentes e familiares difíceis
Raiva e agressividade
Doentes e famílias em negação
Famílias negligentes
CAPÍTULO 7: Outras Causas de Stress e seu Impacto
Envolvimento emocional
Frustrações particulares
Pressões gerais do trabalho
Impacto do trabalho nos funcionários e suas famílias
CAPÍTULO 8: Lidar com os Problemas
Não levar o trabalho para casa
Apoio da família e dos amigos
Descobrir maneiras de relaxar
Apoio dado pela UCP
Ajuda da espiritualidade
PARTE III
MOTIVAÇÃO E RECOMPENSA
CAPÍTULO 9: Motivação Inicial
Sentir vocação
Experiência anterior
Outras experiências formativas
Percursos acidentais
CAPÍTULO 10: O Que Faz Valer a Pena
Sentir-se envolvido
Aceitar desafios
Lidar com uma variedade de pessoas
Sentir-se valorizado por doentes e familiares
Trabalhar com outras pessoas
Um certo sentido de humor
PARTE IV
TRABALHAR EM CUIDADOS PALIATIVOS:
REFLEXÕES
CAPÍTULO 11: Trabalhar em Cuidados Paliativos
Qualidades necessárias
Experiência e Formação
Falar sobre o trabalho
CAPÍTULO 12: Reflexões sobre a Vida e a Morte
Uma boa morte
Saber que a sua hora chegou
Noção de mortalidade
Aprender o que é importante
Alargando o âmbito das aprendizagens
Posfácio
CARO LEITOR
Sobre a Autora e outros Livros Publicados
Em Louvor de CUIDADOS PALIATIVOS: QUANDO CUIDAR É UM PRIVILÉGIO
Prefácio
O presente livro pode ser olhado como um importante companheiro de viagem para quem trabalhe e colabore na área de cuidados paliativos. Tem as coordenadas necessárias para chegar lá
, a um ponto de chegada ou destino, que se materializa na humanização dos cuidados em situação de doença avançada ou em fim de vida, perspetivando as necessidades únicas de cada doente, familiares ou cuidadores - para mim, a verdadeira essência e a principal missão dos cuidados paliativos.
A autora tem particular interesse, atenção e afeto
por esta área, fazendo investigação neste âmbito. Com efeito, juntou um conjunto de relatos ou testemunhos de profissionais de saúde e outros colaboradores, extremamente ricos, recolhidos em duas unidades de cuidados paliativos em Inglaterra. De tudo isto, resultou este livro, único e especial.
Estas partilhas têm em comum a missiva de que há muito a fazer em cuidados paliativos e de que a vida pode ser vivida até ao fim
, sendo o foco de todo este percurso a pessoa doente e seus familiares, e que as suas necessidades, vontades e desejos possam ser respondidos, tidos em conta.
Ao ler o livro percebemos que, para os profissionais envolvidos, é um privilégio poder cuidar e acompanhar os pacientes de forma atenta e com tempo
, considerando que os cuidados paliativos assim o permitem.
Os vários testemunhos que preenchem o livro envolvem diferentes e importantes áreas ou conteúdos que vão desde a importância do controlo da dor, conforto e dignidade, apoio psicossocial e espiritual, terapias complementares e apoio no luto até ao cuidado dado à alimentação, espaços ocupacionais, trabalho em equipa ou técnicas de autocuidado de profissionais e colaboradores.
Consideramos que este livro é uma ótima ferramenta para os profissionais de saúde, colaboradores, mas também para os cuidadores/familiares da área paliativa, repleto de dicas
e reflexões importantes, que se podem constituir como uma inspiração rumo a um cuidar mais humano, singular e dotado de maior qualidade.
E tal como partilhou uma colaboradora no livro, a morte, e todo o processo implícito, é irrepetível, existindo, assim, apenas uma oportunidade para propiciar atenção, presença, conforto e segurança nesta última viagem, comum a todos nós.
––––––––
Rita Torrão, Psicóloga Clínica
Unidade de Cuidados Paliativos
Equipa Comunitária de Suporte em Cuidados Paliativos
Dezembro 2020
Prefácio da Autora
Este livro – publicado em 2007 pela primeira vez – teve um longo período de gestação. Há cerca de 20 anos, conheci um homem que era enfermeiro de doentes com SIDA e que acabou por morrer da doença. Durante as nossas conversas, contou-me sobre as dificuldades emocionais de cuidar de pessoas em fase terminal. Isso despertou a minha curiosidade em saber como esse tipo de trabalho podia influenciar as pessoas que o faziam. Mais tarde, trabalhei como voluntária em cuidados paliativos por um curto período de tempo e tive oportunidade de conhecer, em primeira mão, algumas das recompensas desse trabalho e as complexidades do contexto. Pensei que essa experiência poderia ser um tema interessante para um livro, mas não cheguei a concretizar a minha ideia.
Na verdade, escrever um livro deste tipo implicava obstáculos consideráveis. Sabia que ia precisar da autorização dos responsáveis de uma ou duas unidades de cuidados paliativos, que tinha de encontrar pessoas que se dispusessem a ser entrevistadas, que tinha de despertar o interesse de uma editora para que o projeto valesse a pena, que tinha de enfrentar um processo complicado para obter a aprovação ética
do Serviço Nacional de Saúde (nessa altura, isso era obrigatório) e que, finalmente, tinha de obter fundos para custear as minhas despesas. Fiz o que qualquer pessoa de bom senso faria e passei a dedicar as minhas energias intelectuais a tarefas mais fáceis.
Mas, com o tempo, a vontade de escrever este livro foi mais forte. Por mero acaso, obtive a autorização de uma unidade de cuidados paliativos; então, procurei mais, e acabei por encontrar outra. Submeti uma proposta e descobri, para minha grande alegria, que duas editoras se mostravam dispostas a publicar o manuscrito. Não tive dificuldade com as entrevistas, porque trabalho com algumas pessoas que acharam este projeto muito interessante. Esperei seis meses pela aprovação ética. Contudo, apesar de muitos esforços, nunca consegui financiamento externo.
Assumi este projeto, porque achei que seria fascinante. O que leva alguém a querer trabalhar, dia após dia, em cuidados paliativos? Como é ajudar doentes e famílias numa fase de vida tão vulnerável? Quais as maiores dificuldades? O que motiva essas pessoas? Como aguentam? Quais as consequências para a sua vida pessoal? Se todas estas questões me intrigavam, achei que, também, podiam intrigar outras pessoas. E, como é óbvio, as pessoas que já trabalhavam em cuidados paliativos – ou outras que, eventualmente, pudessem pensar nisso – , todas elas podiam gostar de ter a oportunidade de fazer uma reflexão sobre o seu trabalho. Espero, muito sinceramente, que encontrem algo de interessante neste livro.
Para os leitores que, eventualmente, se possam interessar pelo tema, julgo que o livro lhes será útil para obterem alguma informação. Os cuidados paliativos existem há cinquenta anos, tendo a primeira unidade sido fundada em 1967, no Sul de Londres, por Dame Cicely Saunders, defensora do controlo dos sintomas e da dor, de cuidados mais humanos, do ensino e da pesquisa. [1] Um breve relatório da Hospice UK - organização nacional que apoia as unidades de cuidados paliativos - define esses serviços da seguinte maneira[2]:
Os cuidados paliativos procuram melhorar a vida das pessoas em fase terminal ou em situações clínicas complexas, ajudando-as a viver o melhor que seja possível até ao fim das suas vidas, com base no entendimento que as necessidades físicas, emocionais, espirituais e sociais são equitativamente importantes. Estes cuidados incluem o apoio a curadores, a familiares e amigos, através de um acompanhamento humano durante o luto, facilitando o processo de adaptação às perdas e à morte.
Mesmo em fim de vida, continuamos a ter esperança e aspirações. Queremos estar onde nos sentimos mais confortáveis, fazer o que nos dá mais alegria e ter quem mais amamos junto de nós. Queremos, apesar de tudo, ser nós próprios.
Os cuidados paliativos procuram dar resposta a estes anseios e têm como missão providenciar acompanhamento, tratamento e supervisão clínica a doentes em situação clínica complexa e de sofrimento até morrerem. Este trabalho tem sido desenvolvido ao longo dos últimos 50 anos, assegurando esses serviços a um número crescente de pessoas em diversos contextos: enfermarias, casa, lares, hospitais, em casos cada vez mais complexos.
Com a passagem dos anos, o termo cuidados paliativos
tem sido usado de forma diferente : como um local físico ou como uma abordagem em cuidados de saúde. Neste livro, o termo refere-se a um local para acompanhamento de doentes em fim de vida; no entanto, também pode ser usado como um cuidado de saúde especial - no sentido acima mencionado - que pode ser feito em casa do doente, em lares, ou, como é óbvio, em contexto hospitalar. Em primeiro lugar, é feita a avaliação do estado do doente – se está em fase terminal – antes de ser proposto para os cuidados paliativos. Neste livro, os doentes admitidos estavam quase todos em fase terminal. Contudo, há casos de doentes que vêm por determinados períodos de tempo para que os familiares possam descansar ou doentes que frequentam o centro de dia para receberem atenção e se divertirem um pouco.
Qual a extensão dos cuidados paliativos no Reino Unido? O relatório da Hospice UK refere que há, sensivelmente, 220 unidades no Reino Unido, a maioria das quais para adultos, mas também algumas exclusivamente para crianças, embora em número reduzido. Estas unidades são geridas por uma variedade de organizações, principalmente, por instituições de caridade locais. Calcula-se que esses serviços foram providenciados a cerca de 200.000 pessoas, de 2015 a 2016, o que representa cerca de 44% do total de pessoas que necessitam desses cuidados. De referir que 48.000 doentes foram acompanhados em regime de internamento.
Além disso, as unidades de cuidados paliativos assistiram e deram apoio a cerca de 41.000 pessoas de luto, de 2015 a 2016, sem contar com o acompanhamento informal dado às famílias e aos cuidadores. Este tipo de trabalho expandiu-se a lares, prisões e hospitais, assim como a domicílios. Também foram assegurados outro tipo de cuidados, incluindo avaliações médicas e outras, fisioterapia, terapia ocupacional e outros serviços que ajudam as pessoas a ter qualidade de vida até morrerem. Embora o assunto não seja abordado neste livro, as unidades de cuidados paliativos também providenciam formação para o seu próprio pessoal e não só; de salientar ainda que muitos profissionais de saúde fazem trabalho de pesquisa e participam em trabalhos de investigação, visando a implementação e desenvolvimento de boas práticas.
Muitas narrativas começam com a seguinte afirmação: Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, factos ou situações da vida real é mera coincidência, ou algo parecido. No caso deste livro, trata-se, precisamente, do contrário. Todas as pessoas deste livro são reais : enfermeiros, médicos, diretores, psicólogos, e outras pessoas que escolheram trabalhar em cuidados paliativos. Os seus testemunhos são sobre acontecimentos reais e sobre pessoas que conheceram. Os sentimentos são genuínos e pessoais. Todas concordaram em ser entrevistadas sobre o trabalho que faziam e qual o seu impacto na sua vida pessoal. Além disso, depois da entrevista, todas autorizaram a publicação das passagens que constam no livro.
Conduzidas com muita sensibilidade, as entrevistas tornaram-se quase confessionais. Com efeito, as pessoas entrevistadas tiveram a oportunidade de refletir nas suas vidas e rotinas, falando abertamente sobre preocupações e sentimentos que, de outro modo, nunca seriam do conhecimento público, o que acabou por acontecer no presente caso. Assim, foram feitos todos os esforços para manter o anonimato dos participantes. Todos os nomes foram alterados, incluindo pequenos detalhes a fim de evitar qualquer tipo de identificação. Mais ainda, foram utilizados dois sistemas diferentes de identificação. Quando alguém fala do seu trabalho (Capítulos 1-5), foi usada a categoria profissional, porque ajuda o leitor a perceber a perspetiva da pessoa entrevistada. Quando o conteúdo aborda questões mais pessoais (Capítulos 6-12), foi utilizado um pseudónimo. Há poucas exceções a não ser quando é muito óbvio que é um médico ou um capelão que está a falar. Este procedimento pode parecer um pouco estranho, mas é preferível à exposição de pensamentos íntimos de pessoas que cederam parte do seu precioso tempo para a concretização desta iniciativa. Essas pessoas precisam de ser protegidas de olhares curiosos , não só do público leitor, mas também de colegas.
Por conseguinte, quem foram as pessoas entrevistadas e como foram escolhidas? Em primeiro lugar, expliquei aos diretores de ambas as unidades a temática das questões que queríamos abordar. Num dos casos, a participação dos funcionários foi em regime voluntário; no outro, foi sugerido quem poderia participar. Os participantes foram informados sobre o que se pretendia com as entrevistas e todos autorizaram a publicação das mesmas, conforme já foi referido. As entrevistas foram gravadas e transcritas na íntegra, o que permitiu a utilização fidedigna das palavras no texto impresso.
No total, foram entrevistadas 31 pessoas : os diretores de ambas as unidades, doze enfermeiros com diferentes cargos, dois técnicos auxiliares de saúde, três capelães, dois médicos de cuidados paliativos, um consultor, uma assistente social, dois psicólogos, um terapeuta ocupacional e um terapeuta complementar. Também foram entrevistadas outras pessoas com cargos específicos, como o diretor do centro de dia, o responsável pelas Relações Públicas, o coordenador dos voluntários e o chef. Tivemos, ainda, a colaboração de dois voluntários. Ocasionalmente, pode ter havido sobreposição de funções.
A questão que se coloca é saber se as unidades escolhidas podem ser consideradas como representativas
de todas as outras. A resposta é muito simples: não sabemos. Pessoalmente, não é uma questão que me preocupe. Todas as unidades de cuidados paliativos são diferentes umas das outras em todo o país e no mundo. Também não é uma preocupação, para mim, saber se as pessoas entrevistadas são representativas
de todo o pessoal que trabalha nas unidades. Têm funções diversificadas e pontos de vista diferentes, mas, acabam por falar por si próprios, e isso é o mais importante.
Este ano – dez anos após a primeira edição – decidi voltar a publicar este livro com uma nova editora e uma capa diferente, esperando tornar o livro mais conhecido e aumentar o número dos seus leitores. Embora os cuidados tenham mudado muito nos últimos dez anos, os sentimentos e as vivências dos profissionais e dos voluntários, permanecem, sensivelmente, os mesmos. Tenho o enorme prazer de informar que o livro foi muito bem recebido aquando da primeira edição quer pelos críticos profissionais quer pelos leitores. De realçar que o livro foi distinguido pela Associação Médica Britânica como Altamente Recomendado - uma honra muito especial.
Devo referir que não atualizei certas referências feitas pelos entrevistados. Tony Blair era o Primeiro-Ministro na época e,entretanto, alguma instituições mudaram.
Gostaria de agradecer a enorme ajuda dos meus dois entrevistadores, Kit Ward e Paul Vallance. A sensibilidade e a competência de ambos foram contributos valiosos para a natureza das conversações. Também gostaria de agradecer à London School of Economics and Political Science por me ter distinguido com a atribuição de Visiting Fellowship durante este período de tempo. Os meus agradecimentos a Melanie Hodson e colegas do Hospice UK, que, muito amavelmente, forneceram informação sobre o contexto hospitalar, e que, de forma generosa, se certificaram que não haveria afirmações erróneas nessa matéria.
Julgo que poderá ser útil uma breve introdução à estrutura deste livro. Começa com um capítulo que descreve a importância das unidades de cuidados paliativos e estabelece diferenças entre esses cuidados e os cuidados dispensados em hospitais (Capítulo 1). A primeira parte descreve o trabalho feito nas unidades (Capítulos 2-5), incluindo o acompanhamento, tratamento e supervisionamento dos doentes, com uma atenção particular ao apoio dado a doentes em fase terminal e às famílias enlutadas. A segunda parte (Capítulos 6-8) explora as dificuldades inerentes ao trabalho e as várias maneiras de lidar com elas. A terceira parte (Capítulos 9-10) aborda as razões por que as pessoas aceitam fazer este tipo de trabalho. Por fim, a última parte oferece algumas reflexões sobre os conteúdos do livro (Capítulos 11-12), no que diz respeito a questões de ordem prática, mas, essencialmente, sobre o que foi aprendido com a experiência.
Ann Richardson
Março 2017
––––––––
Nota da Tradutora: No texto original em inglês é usado o termo hospice para designar uma instituição de internamento ou espaço físico para acompanhamento, tratamento e supervisão clínica de pessoas com doenças severas ou incuráveis. No presente caso, esse termo foi traduzido por unidade de cuidados paliativos, dado que a tradução literal poderia sugerir uma instituição para pessoas com problemas mentais. De salientar que o português do Brasil mantém o mesmo termo e grafia da língua inglesa.
CAPÍTULO 1: Cuidados Paliativos: Introdução
Este livro é sobre cuidados paliativos sob o ponto de vista das pessoas que trabalham em unidades e que vão explicando a natureza do seu trabalho, os problemas que têm de enfrentar, a maneira como lidam com situações difíceis e, acima de tudo, o que faz com que tudo valha a pena. O livro acaba com algumas reflexões sobre o impacto que este trabalho tem nas suas vidas, sobre o sentido de mortalidade e sobre o que aprenderam com a sua experiência.
Contudo, é preciso definir o que estas instituições fazem, contrastando com o que não fazem. Este capítulo aborda a natureza complexa do trabalho feito e como este difere dos cuidados hospitalares, focando vários temas que serão explorados, mais detalhada e profundamente, nos capítulos que se seguem.
Uma vez que as entrevistas foram feitas há cerca de uma década, pode haver omissões pontuais na cobertura das atividades realizadas. Hoje em dia, destaca-se o trabalho das equipas comunitárias, visitas domiciliares, lares e hospitais. Além disso, dá-se mais ênfase às atividades educativas e à investigação.
O trabalho das Unidades de Cuidados Paliativos (UCPs)
Talvez a melhor forma de começar seja considerar os pressupostos subjacentes ao conceito cuidados paliativos
. A maioria das pessoas acha que estas instituições são os espaços físicos onde as pessoas chegam para morrer. Embora, em parte, seja verdade, não deixa de ser uma visão muito redutora. Em primeiro lugar, a vida é cheia de surpresas:
Esta manhã cruzei com um doente que vem ao centro de dia há dois anos. Pergunto sempre como tem passado. Hoje, disse-lhe: Está com bom ar
, e ele respondeu:
"Sinto-me bem. Há cinco anos disseram-me que só tinha cinco dias de vida,