Nas asas de Alfeu
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Sobre este e-book
Cristina Caldas
Cristina Caldas nasceu na pequena cidade de Álvaro de Carvalho, cresceu na Capital de São Paulo e se mudou para o Rio de Janeiro no início de 1999Onde reside atualmente.Trabalha na área da saúde.Nas horas vagas Não abre mão de uma boa leitura e de apreciar a natureza.
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Nas asas de Alfeu - Cristina Caldas
Copyright© 2018 by Cristina Caldas
Direitos em Língua Portuguesa reservados à autora através da
QUÁRTICA® EDITORA.
ISBN - 978-85-7801-501-5 (2019)
ISBN - 978-85-7801-485-8 (versão impressa)
Conversão: Cevolela Editions
440Quártica ® Premium.
Av. Marechal Floriano, 143 sala 805- Centro
20080-005 - Rio de Janeiro - RJ
Tel: 2223-0030/ 2263-3141
www.litteriseditora.com.br
Sumário
Capa
Nas asas de Alfeu
Prólogo
Sobre a autora
Dedico esta obra a Maria dos Reis de Jesus Souza Silva,
pelo seu exemplo de Fé, amor e coragem.
O vento dissipava lentamente as nuvens que encobriam as montanhas, na pacata cidade de Petrópolis. Se ele pudesse acalmar as mentes e os corações dos moradores, do bonito e bem-cuidado sítio dos Arcanjos, com certeza, estes escalariam-nas de bom grado. Não temeriam a mata fechada, as rochas, a ingremidez ou a altitude. Nem mesmo seus cabelos grisalhos os impediriam de buscar a paz tão sonhada.
Era exatamente nisso que Epaminondas pensava, enquanto aguardava as montanhas aparecerem por completo, como fazia todas as manhãs desde que chegara ali.
Acostumado à claridade e muito calor, não só precisou trocar as camisetas por terno e gravata como também se adaptar ao frio e ao cinza das manhãs nebulosas, nas quais não se consegue enxergar mais que um palmo diante do nariz.
Solitário, à frente da magnífica casa de dois andares, contornou a piscina. Ansioso, iniciou a inspeção dos canteiros. Vendo os muitos botões que teimavam em permanecer fechados, foi ver se achava alguma flor aberta, ao redor das estátuas de anjos, talhadas em mármore, com asas abertas e dois metros de altura, distribuída pelo majestoso jardim, tornando-o mais harmônico.
Como nada encontrara, mais preocupado que antes, foi até o tanque azulejado, onde carpas ornamentais moviam-se sinuosamente; as orquídeas, presas na base, também teimavam em não desabrochar. Levando-se em conta que tudo isso ficava escondido de quem passava pela rua por muitas árvores floríferas que se estendiam até a porteira, e todas carregadas de botões e mais botões, era no mínimo frustrante.
— Não é possível uma coisa dessas! — Irritado, correu os olhos ao redor.
À esquerda, o lago de águas mansas e cristalinas, sombreado pelos ipês-roxos, quaresmeiras e outras tantas árvores que deram um show de cores no ano passado, também deixavam à mostra seus milhares de botões. Nos fundos, onde ficava seu quarto e outras dependências, os arbustos balançavam compridos pêndulos amarelos, como se debochassem dele.
Mais adiante, a horta e o pomar. Um pouco mais além, a cadeia de montanhas. Era verde por todos os lados.
— Tá verde demais — concluiu, chateado.
Saindo do centro da cidade, na qual muitos cariocas se refugiavam da agitação e do calor do Rio de Janeiro, era só entrar na estrada de terra, depois do mercadão, que se chegava com facilidade.
Esse foi o trajeto que o sexagenário alto e robusto, de pele escura, fizera cinco anos atrás, quando se apresentou para a vaga de motorista particular, meses depois de se aposentar como professor de uma escola pública. O que achou bom no começo: podia dormir até tarde, assistir a muitos filmes, botar a leitura em dia e ir à praia.
Com o correr dos dias, os filmes ficaram chatos e os livros, repetidos.
Entediado, não demorou para a cama virar uma pedra, os travesseiros, tijolos, e o retrato da ex-mulher, um dragão.
Começou a se irritar com as buzinas dos carros, com a política, com os preços, com os grãos de areia e as ondas do mar.
O trabalho era a solução de todos os seus problemas. Além de respirar ar puro e ter mais espaço, ele se livrara do aluguel. Perfeito!
— Pare! Solta! Tá me machucando!
Bem... quase
— pensou, ao ouvir os gritos.
Na época, achou que era só levar a madame pra lá e pra cá, e ser feliz. Não imaginou que teria tantas outras coisas para fazer. Principalmente agora que o promoveram à segurança e nem o avisaram.
Esses briguentos não me dão sossego nem no domingo
—resmungou consigo mesmo enquanto caminhava ligeiro pela trilha pedregosa, retirando o paletó.
Zefa, que nesta hora preparava o café, também ouvira os gritos. Desta vez, a mulher de baixa estatura, rosto redondo, e dona de um mau humor invejável, nem se deu ao trabalho de olhar pela janela. Acabrunhada, correu os olhos pelas paredes de azulejos antigos que clamavam por uma boa limpeza.
Desde que os outros quatro empregados antigos se demitiram que ninguém dava uma boa faxina naquela residência. Ela não tinha mais forças nem idade para dar conta de todo o serviço. Não gostava de ninguém xeretando em sua cozinha, mas as outras dependências não eram problema dela.
Não demoraria muito para a patroa voltar. Nervosa, secaria os pés nos tapetes persas antes de subir, tomaria um banho demorado, vestiria um vestido de linho preto na altura dos joelhos, um echarpe de seda para esconder o roxo gritante na pele clara. Batom e óculos escuros disfarçariam as olheiras. Tá tudo errado nesta casa. Se doutor Antonio estivesse aqui, nada disso estaria acontecendo. Nunca permitiria que Alfeu judiasse de minha menina. Homem fino. Educado. Adorava um filé-mignon ao molho madeira. Graças a Deus, não era vegetariano como a esposa!
— pensou ela.
O patrão, sim, era um cavalheiro. Já Alfeu não passava de um bicho! Quando o patrão era vivo, os empregados comiam carne todo dia. Depois que morreu, Nina os proibiu. Disse que não poderia aceitar tamanha crueldade em baixo de seu teto. Só porque os pais dela, no século passado, tiveram a infeliz ideia de comer um coelho assado em pleno Domingo de Páscoa. Sem saber que o orelhudo mais gordinho era o melhor amigo da filha.
— Criaturas desavisadas! — bufou Zefa, falando com as paredes.
Como eram pais amorosos, botaram um pedaço generoso em seu prato. Dá pra imaginar uma criança, morando numa fazenda, sem ter com quem brincar porque comeu o melhor amigo?! Santa ignorância! Zefa por pouco não gritou de raiva.
Não se come coelho na Páscoa! Principalmente na frente das crianças. Agora quem paga somos nós! A velha empregada olhou desanimada para os legumes e verduras sobre a pia. Era isso que iria servir no almoço. "Argh! — resmungou, enojada, empurrando os vegetais para o canto.
Logo que as brigas começaram, ela e o motorista corriam para acudir, mas, agora, não. Que levasse uma boa surra! Quem sabe assim entendesse que Alfeu não era mais o mesmo.
Ela bem que avisou, mas a turrona não quis ouvir. Pois bem, agora aguenta!
Esse pensamento não aliviou a preocupação, sabia muito bem que era só a patroa se recuperar que tudo recomeçaria.
—Teimosa! — disse em voz alta.
Regina Gutemberg, ou o que restava dela, atravessou