Nina, a Menina que Sabia Voar
De Ema Machado
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Sobre este e-book
Em seu pequeno universo, Nina pensava ser um "peso" para a secretária contratada pela mãe, até o dia em que descobre que ela tinha uma filha, a Bruna. Daí surge uma bela amizade e juntas elas mudarão totalmente o cotidiano de Nina que, a partir do incentivo da nova amiga, decide ir à escola.
Certo dia, no jardim, Nina conhece Bel, uma fada borboleta, que passa a protegê-la e leva-a ao mundo das borboletas, onde realidade e ficção misturam-se.
Após diversas situações de ganhos e perdas, Nina descobrirá uma força que não pensava ter.
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Nina, a Menina que Sabia Voar - Ema Machado
Capítulo 1
O Mundo de Nina
Todos os dias para ela eram iguais… Lá estava ela, próxima à janela, olhando fixamente o jardim, onde uma borboleta exibia suas asas coloridas. A bailarina do ar pousa em uma singela margarida, atraindo para si o olhar de alguém que admirava sua exuberante performance e beleza contidas na leveza do sublime ato de voar…
Então ela voltou a atenção para dentro do quarto. Naquele ambiente fechado tudo era monotonia: o cheiro, as cores, os móveis e até as mesmas pessoas a se ocuparem de seus afazeres rotineiros. Não importava… Esse era o seu pequeno mundinho.
A princípio vivia ali, dentro de casa. Às vezes, a mãe levava-a aos arredores para passear, porém sentia incômodo ao encontrar pessoas pelo caminho. Preferia ficar ali, onde ninguém se incomodava em saber dela. Ali era seu porto seguro.
— Maria, quero ir ao jardim. Ajude-me, por favor.
Maria, a secretária que sua mãe contratara para ajudá-la, era séria e quase nunca sorria.
— É melhor ficar aqui dentro, Nina. Lá fora está frio e você pode se resfriar.
— Maria, estou bem agasalhada. Só quero tomar um pouco de sol. Leve-me, por favor.
Maria entrou no quarto. Pela cara, não gostou muito da ideia. Talvez empurrar uma cadeira de rodas não fosse uma tarefa muito apreciada. Não importava. Nina queria muito respirar o aroma das flores em seu lugar predileto.
— Deixe-me aqui e pode voltar ao que fazia. Quando cansar, chamo.
Maria saiu depressa. Nina ouviu a grossa porta bater após sua entrada.
Aspirou fundo, adorava estar ali. A borboleta havia desaparecido e ela não conseguiu achá-la. Algumas abelhas voavam de flor em flor e ela viu uma joaninha vermelha bem pequenina. Estava debaixo de uma folha e parecia adormecida.
Um vento leve soprava seus cabelos, mas ela não sentia frio. O sol aquecia sua pele por baixo do casaco leve que vestia.
Nina era linda. Tinha pele morena, cabelos negros encaracolados e compridos, lindos olhos verdes emoldurados por enormes cílios.
Lembrava-se do passado, quando podia correr pela casa. A sensação de andar ainda permanecia. Tinha 9 anos e ficara doente aos 5. Ficou internada em um hospital por um longo período. Percebeu que não conseguia levantar-se mais nas próprias pernas. De início pensou que seria temporário, até seu pai lhe comprar a cadeira de rodas. Não queria sentar-se nela, não era justo. Sofreu muito, sentia que todos a observavam e o ar estava carregado de tristeza. Ficou na cama encolhida e cada vez que tentava levantar-se e não conseguia, chorava copiosamente. Sua mãe chorava junto, tentava consolá-la afagando suas faces molhadas. O período de resignação foi difícil e doloroso. Sem alternativa, aceitou a cadeira como meio de locomoção.
Mover a cadeira era difícil. Suas mãos ficavam doloridas ao girar as rodas para sair do lugar. No início nem se esforçava muito, depois sentiu vontade de andar pela casa.
Novamente a viu… A bela borboleta veio em sua direção, dando voltas em torno de sua cabeça. Tentou girar para acompanhá-la, mas não conseguiu. Por fim, a borboleta pousou levemente em seu ombro.
— Menina! Ei, menina!
Nina ouviu alguém chama-la, mas a voz parecia muito longe.
— Quem é você? Não a ouço bem. Será que pode falar mais alto?
— Espera aí…
Com o olhar, Nina acompanhou a trajetória da borboleta, que voou até seu cabelo e pousou perto do seu ouvido. A garota não se mexeu, apenas tremeu um pouquinho pela surpresa.
— Ei, você! Ouve-me agora?
— Sim, agora posso ouvir você! – respondeu Nina.
— Não balance tanto a cabeça ou não terei como ficar aqui. Não gostaria de me segurar em seus cabelos.
— Bem, inicialmente, qual é o seu nome? – perguntou a borboleta.
— Meu nome é Nina. E você, quem é?
— Olhe, não vê? – Sou Bel, a borboleta do seu jardim.
— Hum… Borboletas não falam! – falou Nina, com largo sorriso nos lábios.
— Quem disse isso? Não está me ouvindo? – retrucou Bel, com um pequeno riso.
— Ouço. Mas é óbvio, você não pode ser apenas uma borboleta – comentou Nina.
— Sabidinha, você! Não sou mesmo uma mera borboleta. E vim para alegrar seu dia. Lá em cima, onde vivo, observamos os habitantes aqui embaixo. Ao vê-la tão triste decidimos que alguém deveria vir e alegrar você um pouquinho. Por que essa tristeza?
— Não estou triste. Entediada é a palavra mais certa. Queria correr como as outras crianças. Não conseguir faz com que me sinta inútil.
— Calma, não é o fim. Já me senti assim um dia. Comia todas as folhas em meu caminho. Depois, construí um casulo, onde me isolei. Era apertado e escuro, pois não queria ver ninguém.
— Sei… É o processo pelo qual toda borboleta passa antes de adquirir asas – retrucou Nina, com desânimo.
— Espera, estou apenas brincando. Não desanime. Nem contei tudo ainda. Vamos lá… Hum… Não vai dar. Já passa da hora de ir… Mas tenho muito que te contar. Agora preciso voltar ao mundo das borboletas. Amanhã continuamos. O sol está se pondo. Deve voltar para dentro de casa.
— Espera!
Era tarde… A borboletinha já tinha saído voando e Nina não sabia para onde ia.
— Maria, por favor! Leve-me, para dentro! – gritou desapontada a menina.
A porta abriu para dar passagem à Maria, que começou a empurrar a cadeira sem trocar uma palavra até chegar ao quarto.
—Nina, quer comer alguma coisa? O jantar ainda vai demorar. Você não comeu nada depois do almoço – diz Maria enquanto a transferia da cadeira para a cama.
— É, pensando bem… Acho que vou comer uma maçã. Nem percebi que estava com fome.
Maria trouxe uma maçã, que Nina devorou num piscar de olhos. Eram quase 18h, fim de tarde do último dia do mês de setembro. O dia estava terminando e ela não tinha percebido. Não sabia por que, mas não queria que acabasse.
Após comer, pegou um livro no criado ao lado. Ela não ia à escola como as outras crianças. A mãe dedicava-se à tarefa de educá-la em casa, afinal, era professora.
Adorava livros. Neles podia viajar. E aquele era seu predileto, um conto de fadas. Histórias assim a contagiavam, como fizessem parte do mundo dela.
Podia até ver o castelo. Era lindo, coberto por arbustos floridos. Uma pequena fada de asas translúcidas contemplava o reflexo do sol no pequeno lago de águas verdes, onde alguns gansos deslizavam. Voava como as outras borboletas alegres do lugar adornado por um lindo tapete verde que se estendia pela colina nos arredores do castelo.
— Nina! Onde se escondeu, minha menina?
— Aqui, em meu quarto, mamãe!
Seus pais estavam de volta. A mãe entrou no quarto e lhe deu um beijo na face, corada pela euforia do momento.
— Querida, conte… Como passou o dia? Em seguida, comeremos a gostosa refeição que