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Memórias de um Adolescente Suburbano (pt-pt): As Minhas Lutas
Memórias de um Adolescente Suburbano (pt-pt): As Minhas Lutas
Memórias de um Adolescente Suburbano (pt-pt): As Minhas Lutas
E-book173 páginas2 horas

Memórias de um Adolescente Suburbano (pt-pt): As Minhas Lutas

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Sobre este e-book

Sinopse:

 

No inicio nos anos 90 não havia Internet e as redes sociais faziam-se na rua: brincando, jogando à bola, tendo os primeiros namoros e andando à porrada. A musica ouviam-se em cassetes, a televisão passava de dois a quatro canais. Os telemóveis não existiam e para falar com os amigos ou a namorada tínhamos de ligar ao telefone de casa ou enviar cartas.

 

Neste diário descrevo a minha vida de adolescente complexado com as borbulhas que tem como objetivo perder a virgindade e ser aceite pelo grupo de amigos. As primeiras bebedeiras, os primeiros desenganos amorosos, as sessões de espiritismo e as férias de verão numa aldeia perdida. Naquele tempo tudo era brilhante e profundo.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento7 de jul. de 2021
ISBN9798224914845
Memórias de um Adolescente Suburbano (pt-pt): As Minhas Lutas
Autor

Gonçalo JN Dias

Gonçalo J. N. Dias nasceu em Lisboa no ano de 1977, licenciou-se em Engenharia do Ambiente e Recursos Naturais no Politécnico de Castelo Branco. Vive atualmente no País Basco, Espanha. É um autor independente, os seus livros têm sido traduzidos a vários idiomas.

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    Memórias de um Adolescente Suburbano (pt-pt) - Gonçalo JN Dias

    MEMÓRIAS DE UM ADOLESCENTE SUBURBANO

    A minha luta para perder a virgindade e as borbulhas

    GONÇALO JN DIAS

    COPYRIGHT 2021GONÇALO JN Dias

    Título: Memórias de um Adolescente Suburbano

    Autor: Gonçalo J. Nunes Dias

    Revisão: Laura Silva

    Capa: Izzi Designers

    I Edição: Março de 2021

    http://gjnd-books.blogspot.com.es

    Índice

    Olá ano de 1993

    Carnaval e espiritismo

    Férias de verão

    De férias com os meus pais

    Fim de 1993

    Apareci na televisão

    Perdi a virginidade

    Olá 1995

    Viagem a Lloret de Mar

    Verão de 1995

    Sobre o autor

    A h, tal é a canção do jovem que ama uma jovem como ele. Terá, contudo, o direito de usar a palavra amor? Nada sabe da vida, nada sabe daquela que ama, nada sabe de si próprio. Tudo o que sabe é nunca sentiu nada com tanta força e tanta certeza. Tudo lhe dói, mas nada é assim tão bom. Ah, tal é a canção de quem tem dezasseis anos e está sentado num autocarro a pensar nela, sem saber que esse sentimento se irá atenuando pouco a pouco, se irá apagando, e que a vida, que é agora tão grande e tanto envolve tudo, se tornará inexoravelmente cada vez mais pequena, passará a ser uma realidade mais manejável, o que deixa de doer tanto, mas deixa também de ser tão bom.

    Karl Ove Knausgård em Dança no Escuro

    Aos meus amigos de infância, os Moinho Boys

    Olá ano de 1993 – sábado, 9 de janeiro de 1993

    Tenho a sensação que este ano será um ano inesquecível. Espero passar ao 11.º ano, ter aventuras com os meus amigos e arranjar uma namorada ou, pelo menos, perder a virgindade.

    O final de 1992 acabou em grande. A Junta de Freguesia de Agualva-Cacém organizou um concerto gratuito, mesmo no centro do Cacém, com o grupo Ena Pá 2000, para comemorar a quadra natalícia. O concerto foi realizado numa tenda de circo. Nós, os Moinho Boys – éramos uns quinze gandulos –, fomos dos primeiros a chegar e escolhemos ficar na parte de cima de umas bancadas de madeira, que os seguranças avisaram, uma e outra vez, que eram frágeis e nas quais não podíamos saltar.

    O concerto foi uma loucura. Eu conheço bem o trabalho deles e tenho uma cassete que ouvi centenas de vezes. Quando eles tocaram a música Hon-Hin-Hom o público perdeu a cabeça, pois eles dizem no refrão:

    "Sinto-me tão bem quando te vejo,

    os teus olhos merecem um beijo.

    Sinto-me tão bem quando vou ao Cacém,

    sinto-me tão mal quando vou ao Funchal"

    Eu fiquei em êxtase! Ali estava eu, rodeado pelos meus amigos, a ver uma das minhas bandas preferidas e, ainda por cima, a cantarem aquela música que fala do Cacém. Mas a barraca, ou melhor dito, o circo foi abaixo quando tocaram o êxito: És Cruel. Toda a gente saltava e tanto os seguranças como a própria organização tinham dito aos que estavam nas bancadas que não podíamos saltar, mas era impossível e o inevitável aconteceu: ao meu lado, o Mota, o Aloísio e o Matias saltaram tanto que a tábua de madeira onde estavam caiu e eles foram parar ao chão. Eu não caí por um triz. Não houve danos físicos, os três não se aleijaram. Porém, o concerto parou. O vocalista, Manuel João Vieira, perguntou se estava tudo bem, nós dissemos que sim e a música continuou. Ao final do concerto, estavam cerca de dez vigilantes à nossa volta, com medo que a gente fizesse mais merda.

    Saímos do concerto como lobos, uivando e correndo para todos os lados, mas sem nenhum destino. Partimos retrovisores de carros, prendemos fogo a contentores, ofendemos o simples transeunte que passava e gritámos uma e outra vez: Moinho Boys.

    Eu gosto sempre de andar com sprays e marcadores e escrevi em vários sítios o nome do nosso gangue. Devo confessar que, quando estou em grupo, perco por completo as estribeiras, torno-me mais agressivo, incentivo os rapazes a romper tudo, não me consigo controlar, nem me reconhecer, por vezes.

    Quando fomos apanhar o autocarro para voltar a Mira-Sintra, fizemos uma algazarra tão grande que as pessoas que estavam na fila ficaram com medo de nós. Algumas até diziam que iam chamar a polícia, mas, no final, apareceu o autocarro e os quinze marmanjos entraram. Eu decidi usar um bilhete já usado e ver se o motorista não dizia nada, e não disse. Mais que nada, ele ao ver aquela escumalha a entrar, ficou com receio que destruíssemos o seu veículo. A balbúrdia continuou na parte detrás do autocarro: gritos, pontapés, alvoroço e eu escrevia em todos os lados - Moinho Boys. Até que o motorista parou o veículo numa paragem e disse alto e em bom som: ou vocês param com a barulheira, ou descem já aqui e chamo a polícia. Os restantes utentes aplaudiram a coragem do chofer e olharam para nós com desdém. Nós acalmámo-nos. No entanto, eu achei que o atrevimento do motorista foi demasiado; mas com quem é que ele pensava que estava a lidar? Esperámos como meninos bem-comportados até chegar a Mira-Sintra e, quando saímos, começámos a gritar, a pontapear qualquer coisa e houve até quem foi cuspir ao motorista, que fechou as portas rapidamente e ficou a olhar para nós com repúdio. Eu juntei-me aos insultos, chamei-lhe todos os nomes e pontapeei as portas do autocarro.

    Uns quantos amigos queriam ir buscar pedras e atirá-las ao autocarro, quando ele tivesse de passar pela rua, mas eu tentei apaziguar a situação, dizendo que, na volta, ele ia chamar a polícia e teríamos problemas. Na verdade, já não gosto de atirar pedras nem a autocarros nem a comboios. Acho que já cresci neste aspeto, já tenho quase dezasseis anos. Além disso, a minha mãe trabalha a limpar comboios e tenho medo de andar a atirar pedras aos comboios e ela, por coincidência, esteja lá dentro a limpar. Há cerca de um ano, andávamos a atirar pedras aos autocarros que passavam pela nossa rua e a Câmara Municipal decidiu cancelar os autocarros até Mira-Sintra. Ora, se Mira-Sintra já estava afastado de tudo, sem autocarros ficávamos ainda mais isolados, por essa razão, decidi convencer o pessoal a tentar não mandar mais pedras. O meu pai, que trabalha em Lisboa, queixava-se que tinha de acordar uma hora mais cedo para ir a pé até à estação ferroviária. Ainda disse:

    - Eu gostava de saber quem são os vândalos que andam por aí a danificar os autocarros. Não serás tu e os teus amigos, pois não, Gonçalo?

    - Claro que não! – disse a minha mãe. – Devem ser esses ciganos que andam por aí.

    No dia seguinte ao concerto, à hora do almoço, a minha irmã – que também foi ao concerto – perguntou:

    - Vocês caíram das bancadas?

    - Ya, foram só três, mas não aconteceu nada. Viste-me?

    - Não, mas ouvi uns anormais a gritarem Moinho Boys e imaginei que eram vocês a destroçar alguma coisa.

    - Ya, sim, éramos nós – disse eu com orgulho.

    Mira-Sintra é um bairro que está separado do Cacém por um bosque, este bosque, o qual chamamos a mata, é o lugar onde passo grande parte do tempo com os meus amigos. Recentemente, construímos uma barraca com ramos de eucalipto, para podermos passar as tardes ali na conversa, mas vimos que, quando chove, entra água em algumas partes, então, colocámos alcatifas e tapetes no teto - encontrámo-las nos contentores do lixo que há no bairro. Além disso, trouxemos também dos contentores cadeiras, sofás e mesas que as pessoas já não queriam e deitaram ao lixo. A barraca está excelente!

    Há muitos miúdos que vêm do Cacém e cruzam a mata para irem à escola que há em Mira-Sintra. Em algumas tardes fazemos esperas a esses miúdos para roubar-lhes as carteiras. O dinheiro que fazemos desses assaltos serve para comprar tabaco e jogar matraquilhos no café do Oliveira. Porém, devo confessar que já estou farto desses assaltos e tenho pena dos miúdos que roubamos; aliás eu próprio fui assaltado várias vezes, inclusive naquela mata e sei a humilhação que os garotos passam.

    No outro dia, após um assalto a um par de miúdos, fomos gastar o dinheiro em matraquilhos, mas nisto, o Pelé disse que a parte debaixo da associação O Moinho estava aberta. Ora, a associação é um edifício que está na nossa rua, é gerida pelos sócios e apoiada financeiramente pela Câmara de Sintra, e tem como objetivo incentivar o desporto e o convívio dos moradores. São eles que gerem o ringue de futebol e o parque infantil que há no local. O edifício da associação tem dois andares. A parte de cima é o café, enquanto o piso térreo é onde estão os matraquilhos e uma mesa de snooker. Alguém da associação se tinha esquecido de fechar corretamente o cadeado e aquilo estava aberto. Mal soubemos que estava aberto, fomos aproveitar-nos da situação. Entrámos, virámos ao contrário os matraquilhos e ficámos com as bolas, depois tapámos as balizas com cartões para que as bolas não caíssem e ficámos a jogar toda a tarde. Outros aproveitaram para jogar snooker. Tudo correu bem, exceto um pequeno detalhe: eu levava marcadores no bolso e pintei na parede Moinho Boys, outros quiseram fazer o mesmo e até aí não houve problema. No entanto, o pior foi quando o Cigano escreveu na mesa do snooker a sua alcunha, ou seja, não é preciso ser muito esperto para saber que o homem que está a gerir o local, ao ver aquelas pinturas, chegaria tranquilamente à conclusão que o Cigano tinha estado ali. Certamente iria contar ao pai do Cigano, que digamos não é uma pessoa pacifista, e quase de certeza que o meu amigo apanharia uma sova. E assim aconteceu.

    Para piorar a situação, o dono do café quis chamar a polícia, para apresentar uma queixa formal, mas os sócios, onde estava o meu pai, convenceram o homem a tratar daquele vandalismo sem chamar a bófia. Chegaram a um acordo e estamos agora proibidos de entrar no edifício ou jogar à bola no ringue. Eu ainda tentei demonstrar ao meu pai que era inocente, que nem estava no lugar dos acontecimentos, mas houve uma vizinha coscuvilheira que estava à janela e identificou-me como um dos delinquentes.

    Houve um dia, num fim de semana, que íamos à barraca quando vimos que ela estava ocupada. Quem lá estava eram os drogados da nossa rua, como o Teixeira e o Quim. Ficámos em tensão, a olhar para eles.

    - O que é que vocês fazem aqui? – perguntou o Mota, com cara de poucos amigos.

    - Isto é vosso? – disse o Quim. – Pá, tá muita fixe.

    - Sim, mas já tem dono – voltou a dizer o Mota, sem demonstrar medo.

    - Sim, mas podemos partilhar, não? – voltou a falar o Quim, encarando-nos.

    Houve um silêncio, até que o Pelé disse:

    - Na boa, podemos partilhar, mas aqui não há cavalo nem outras drogas.

    - Na boa, pretinho, aqui ninguém é drogado, pois não? – e riu-se, esperando que o Teixeira e companhia fizessem o mesmo e todos riram, exceto nós.

    A partir daí houve um silêncio incómodo, nos dois bandos no grupo, nós que temos entre quinze a dezoito anos e eles que já passaram todos os vinte. Pouco a pouco, o ambiente foi desanuviando, com algumas piadas aqui e acolá, até que eles decidiram sair, sem antes ameaçarem que podiam deitar fogo à barraca, mas não queriam, só desejavam partilhá-la.

    Carnaval e espiritismo – domingo, 25 de abril de 1993

    Não estava com muita vontade de ir à terra dos meus pais, aos Lentiscais, pois cada vez mais me aborreço ali, mas eles não me deram outra alternativa e tive de ir. No entanto, há que dizer que foi o melhor Carnaval da minha vida. Conheci os meus primos Dani e Zeca e passaram a estar no meu top 20 de melhores amigos.

    Tudo começou quando eu e o meu primo Tó-Zé decidimos ir dar uma volta pelos campos dos Lentiscais, até que ele disse:

    - Vamos dar uma olhadela àquela casa?

    Era uma casa que estava um pouco afastada da povoação, junto a uma das entradas da aldeia. Eu disse que sim. Quando íamos em direção à casa, o Tó-Zé decidiu subir um muro, daqueles muros típicos da zona, feitos com pedra, e caminhou pelo muro. Passados uns metros, escorregou, caiu e bateu com a barriga do muro. Eu fiz um esforço para não me rir, mas o meu primo é mesmo azarado! Sempre lhe acontece alguma coisa deste estilo. Ajudei-o a recompor-se e seguimos em direção à casa.

    Aquela vivenda era enorme, tinha um jardim ainda espaçoso e estava tudo fechado.

    - Tó-Zé, será que não há cá ninguém?

    - Não, eles vivem em França. Bora ver se há alguma coisa aberta.

    - Ya, bora – disse eu.

    Havia muitas janelas, mas estavam todas fechadas cuidadosamente, eu e o Tó-Zé ainda tentámos abrir à força, mas era impossível. Demos várias voltas à casa a ver se havia alguma abertura, sempre com cuidado que ninguém nos visse a rondar a vivenda. Até que o Tó-Zé decidiu subir ao primeiro andar, a uma varanda

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