Publicação de Beatriz Velloso

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Intérprete, tradutora e sócia na Vox Intérpretes. Associada à AIIC (Associação Internacional de Intérpretes de Conferência) e à APIC (Associação Profissional de Intérpretes de Conferência).

O que a transição para carros elétricos tem a ver com o filme "Tubarão"? Pois é, nada. Mas, para intérpretes, a relação entre duas coisas aparentemente tão distantes pode surgir a qualquer momento. Num congresso sobre energias limpas, um palestrante fala sobre a passagem dos motores a combustão para os veículos movidos a bateria. Até aí, tudo bem: a intérprete sabia que o tema do evento era esse, havia estudado o assunto, os nomes das tecnologias, dos combustíveis, dos minérios usados nas baterias, das principais empresas do setor, etc., etc., etc. Num dado momento, porém, o orador decide traçar uma analogia entre a transição energética e o filme "Tubarão". Tal organização é como se fosse o barco da guarda costeira, outra instituição é o tubarão que assombra os banhistas, não-sei-quem faz um trabalho semelhante ao do salva-vidas, a comunidade ameaçada pelos combustíveis fósseis equivale ao turista desavisado na beira do mar. De repente, sem qualquer preparação prévia, a intérprete precisa buscar no HD do cérebro termos e referências que estavam guardados lá no fundo da memória, que ela nem imaginava ter de usar num evento sobre sustentabilidade. Essa é uma lição - e uma habilidade - importante para intérpretes: nossa preparação prévia é, também, a vida! Claro, é preciso estudar o vocabulário específico do evento (em dois idiomas), ler textos e assistir vídeos sobre cada tema que a gente traduz, mergulhar fundo nos assuntos dos trabalhos que a gente faz. Mas é preciso ter ampla cultura geral, as mais variadas referências, conhecimentos sobre o noticiário atual (e antigo), entender um pouco de história, de cinema, de literatura, dos vídeos do TikTok, dos babados do Big Brother... Porque QUALQUER coisa pode aparecer. Qualquer coisa mesmo. Tipo um versículo da Bíblia no meio de uma conferência sobre radiologia, ou a citação a uma cena dos Simpsons durante um workshop de vendas, ou o nome de um personagem de García Márquez em uma palestra sobre a indústria de seguros. O intérprete tem que ser capaz de agarrar esse touro - ou esse tubarão - à unha. E a gente percebe que foi fisgado pela profissão quando começa a curtir as barbatanas que surgem ao nosso redor. #tradução #tradutor #tradutora #traduçãosimultânea #eventos #eventocorporativo #comunicaçãocorporativa #energialimpa #elétricos #translation #translator #interpreter #interpreting #corporateevents #energytransition #solar #wind #eolica #transiçãoenergética #environment #meioambiente #climatechange #language #english #portuguese #inglês

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Verdade. Em uma de minhas primeiras conferencias o palestrante citou o Corvo, do Edgar Allan Poe e Annabel Lee. Meu concabino foi pego de surpresa. Calhou que eu sabia do que ele falava porque adorava o autor e fui soprando a ajuda. 

To "What is the talk related to?" it´s better we answer: "anything that comes to the speaker´s mind".... Do you agree?

Cada vez eu admiro mais esta profissão.

Silvia Balieiro

Jornalista | Editora | Ghost writer

1 sem

Adoro suas histórias, Bia. :)

Domitila Madureira

Owner at Órion Tradução e Interpretação

4 d

Dois desafios vividos na minha experiência, Beatriz Velloso : pano de chão (impredictable is the participant number one); e citação de Shrek (numa conferência de museologia).

Fábio Altman

redator-chefe at Editora Abril

1 sem

Muito legal! Haja jogo de cintura

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