COP28: Países concordam em fazer a transição, mas não em eliminar combustíveis fósseis

COP28: Países concordam em fazer a transição, mas não em eliminar combustíveis fósseis

Para o WWF-Brasil, documento final da COP28 é positivo, mas insuficiente para cumprir Acordo de Paris

Em um momento significativo para a ação climática global, os países reunidos na cúpula climática da ONU, a COP28, realizada em Dubai, concordaram em fazer a transição com redução gradual dos combustíveis fósseis, mas não se comprometeram com uma eliminação completa. A sinalização da cúpula é positiva, pois pela primeira vez um acordo global aborda mesmo que superficialmente o tema combustíveis fósseis e esse movimento oferece as bases para o desenvolvimento de ações setoriais no decorrer do tempo. Mas, segundo a ciência, esta iniciativa é insuficiente para limitar o aquecimento global em 1,5ºC, como prevê o Acordo de Paris.

“O resultado da COP 28 reforça a importância de o Brasil se engajar fortemente no estreitamento da confiança entre os países para alcançarmos os resultados necessários na COP 30. Isso precisa começar já, durante a presidência do G20, onde será possível reforçar o comprometimento climático das maiores economias do planeta. Porém é preciso liderar pelo exemplo, o que significa que temos um grande desafio interno, já que parte do governo ignora a crise climática e trabalha para alinhar o Brasil ao grupo das nações responsáveis pelo quase fracasso da COP 28.  Prova disso é o leilão da ANP, que numa perversa coincidência acontece no mesmo dia em que a Conferência se encerra. A ciência é clara: a eliminação dos combustíveis fósseis é urgente e necessária para mantermos o planeta em níveis saudáveis. Tivemos avanços em questões relacionadas com preservação de florestas, fundo de perdas e sistemas alimentares, área importantíssima para o Brasil, mas isso não será suficiente para alcançarmos o 1,5°C, delimitado no Acordo de Paris”, afirma Mauricio Voivodic , diretor executivo do WWF-Brasil.

“O ponto mais crítico do documento, sobre a eliminação dos combustíveis fósseis, recebeu uma roupagem diplomática na nova versão que parece ser mais aceitável. Ao recomendar a transição dos combustíveis fósseis nos sistemas energéticos, a meta de emissões líquidas zero fica para os sistemas energéticos como um todo e não para o setor de fósseis especificamente. Se por um lado isso fortalece a tendência da indústria fóssil de enfatizar o potencial da captura de carbono, por outro mantém a utilização do petróleo em setores petroquímicos não relacionados com a produção de energia. Ainda não é a linguagem robusta que precisamos, mas é um avanço em relação à versão anterior", afirma Alexandre Prado , líder em mudanças climáticas do WWF-Brasil.

O país tem agora um desafio muito grande nos próximos dois anos, que é começar a implementar os acordos firmados e aprofundar as discussões  à luz do documento aprovado, preparando o caminho para 2025. Como o Acordo não trouxe prazos, mais pressão será colocada sobre a próxima fase de negociação. 

Posição contraditória

Depois de quatro anos de uma postura negacionista do antigo governo em relação ao clima e da ausência do presidente brasileiro nas últimas COPs, o Brasil chegou à COP28 com uma agenda positiva e a queda acentuada nos dados de desmatamento. 

Com uma delegação robusta de diplomatas e ministros, o governo brasileiro mostrou estar empenhado em defender as florestas tropicais, os povos indígenas e as comunidades tradicionais; acenou de forma positiva ao assinar a declaração sobre sistemas alimentares e agricultura, mas foi na contramão do clima ao defender uma aliança com a Opep+ (uma espécie de grupo expandido do bloco dos maiores produtores de petróleo). 

Agora, rumo à COP30, que será realizada em Belém, é hora de deixar de lado os interesses que vão na contramão da ciência. Para que o Brasil seja reconhecido como uma liderança global na defesa socioambiental e da agenda climática, é preciso que, no caminho para a cúpula que será realizada na Amazônia, trabalhe dentro e fora do país pela justiça social e comece a transição para uma matriz energética livre de combustíveis fósseis.

Rachel Lopes Queiroz Chacur

Doutora em Ciências Ambientais - PPGCAm-UFSCar. Mestre em Direito. Consultora e Pesquisadora científica. Advogada.

7 m

Esta informação está correta! 👏🏻👏🏻👏🏻

Eva A.

Travesti | Estagiaria de assistente social | Graduando em Serviço Social

7 m

Nada com nada!

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