ESG: tecendo redes para aumentar o impacto

ESG: tecendo redes para aumentar o impacto

Por Daniela Teston, Diretora de Relações Corporativas no WWF-Brasil e Thiago Belote Silva , Especialista de Conservação no WWF-Brasil 

Todo mundo já ouviu um dia aquela máxima de que “sozinho se chega mais rápido, juntos se chega mais longe”. No caso das metas de clima e de biodiversidade – ou seja, da sobrevivência da nossa espécie – não existe alternativa. Sem a participação de todos não há mudança, precisamos atuar de forma colaborativa. Assim, a palavra “ecossistema”, antes restrita a processos naturais, ganha cada vez mais sentindo quando falamos em transformações socioambientais, tornando explícita essa interdependência entre os diferentes setores que constituem a nossa sociedade. 

De acordo com um estudo do Fórum Econômico Mundial, o Brasil precisa de R$ 1 trilhão para alcançar suas metas do Acordo de Paris. Mas para este recurso se converter em resultado é preciso construir e fortalecer redes e arranjos institucionais em que vários setores estejam representados: governos, empresas, comunidades locais, organizações da sociedade civil, universidades e movimentos voluntários. É como um grande quebra-cabeças. Cada um tem uma função, garantindo e ampliando os resultados. Mas para que as mudanças aconteçam de forma consistente e duradoura é necessário incluir pessoas dos territórios 

A importância de fortalecer as pessoas e os territórios 

Um exemplo prático é: você, como gestor ESG, tem uma meta e o orçamento aprovado para reflorestar um milhão de hectares no Cerrado. Mas sua equipe conhece a região, seus aspectos ambientais e questões socioeconômicas? Vocês conhecem os desafios, estão familiarizados com a realidade local, incluindo os atores políticos e as comunidades que vivem ali? Têm certeza de que a região, as espécies escolhidas e a abordagem com as comunidades são as que trarão mais impactos positivos? Será que o melhor uso do recurso é para o reflorestamento ou para as condições habilitantes para a recuperação de um milhão de hectares?

São vários os possíveis gargalos que podem impactar negativamente um projeto. Trabalhar de forma conjunta, com a escuta e a participação das várias partes interessadas, torna os desafios menores. E não se trata somente de investimento, atuar em rede significa entender a realidade de cada um e criar relacionamento além de impacto.

Com recursos técnicos e financeiros, as universidades podem contribuir com pesquisas. Já a maioria das associações locais necessita de conhecimento técnico e estrutura organizacional que viabilizem o recebimento de financiamentos. Assim, um passo prévio importante (e muitas vezes invisível) nos projetos de restauração é o investimento na capacitação e no fortalecimento dessas organizações, tornando-as aptas a lidar com os controles e burocracia que um grande financiador exige. Fortalecidas e apoiadas pela ciência, essas organizações buscam o envolvimento das populações locais e a perenidade dos resultados. 

 Acredite na colaboração 

A colaboração é um dos nossos valores no WWF-Brasil, e é acreditando no poder deste valor que atuamos com empresas, governos (federal e subnacionais) e diversas organizações para a realização do nosso trabalho. Foi colaborando que vimos surgir o exemplo mais antigo de uma rede de restauração: o Pacto da Mata Atlântica, criado em 2009 com a união de diferentes atores em prol do bioma, ajudando na otimização de projetos e recursos.  

A troca de experiências no Pacto mostrou a todos os atores envolvidos que era necessário dar mais atenção à coleta de sementes que então virariam mudas. Este é um recurso extremamente estratégico, não-óbvio, e que precisa ser fortalecido. As redes ajudam a fazer este tipo de ligação, fortalecendo e capacitando comunidades e organizações locais onde elas realmente precisam. 

Parcerias governamentais também são muito importantes e servem como vitrine de políticas públicas a serem implantadas em outras regiões do país. Para isso, no WWF-Brasil trabalhamos com alinhamentos estratégicos ligados às nossas ambições de reduzir a curva de degradação e de emissões de gases de efeito estufa e de perda da biodiversidade. Este é o caso, do estado do Espírito Santo, que desde 2006 possui um plano estratégico para a área ambiental e com quem estamos desenvolvendo projetos de conservação e restauração da Mata Atlântica em um movimento que engloba aspectos sociais, ambientais e de desenvolvimento sustentável.   

Juntos é possível 

Redes, coalizões e outros tipos de articulações são essenciais para o avanço das pautas, para demonstração de força, para a obtenção de resultados, mas prepare-se que não é uma tarefa simples. Se por vezes já é desafiante conseguir consenso em posicionamentos internos, imagine fazer isso com outras dezenas ou centenas de organizações. Às vezes é sim, como em todo relacionamento, necessário ceder um pouco para ter um avanço.  

Uma vez que sua organização se comprometa com alguma causa ou rede, lembre-se que essas parcerias existem para impactar a sociedade e o meio ambiente positivamente. A participação nelas não deve ser usada só para fazer propaganda nos relatórios de sustentabilidade, o tal greenwashing. O objetivo é: trazer transformações para a cadeia de valor de sua empresa, para os territórios de que vocês fazem parte, em que trabalham, no que vocês impactam ou são impactados.  

Estamos em um momento importante de fortalecer essas articulações e ampliar nosso impacto da forma que os desafios socioambientais nos têm exigido. Se faz sentido para você a empresa que você representa ser parte de movimentos democráticos, de colaboração e apoio mútuo, invista na participação em redes, que este movimento só tem a crescer. Quando o bem comum ganha, todo mundo ganha. 

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