Mensagens da COP28 para os negócios

Mensagens da COP28 para os negócios

Por Alexandre Prado , líder de Mudanças Climáticas do WWF-Brasil e Daniela Teston , diretora de Relações Corportativas do WWF-Brasil

No dia 13/12 terminou mais uma COP do Clima! E, desta vez, com um compromisso inédito que indica rumos para uma transição dos combustíveis fósseis. Para nós, do WWF-Brasil, o resultado é positivo, mas insuficiente. Reconhecemos a relevância da decisão, mas é preciso ressaltar que a falta de uma data limite para que o processo de eliminação completa ocorra. 

As questões relacionadas às mudanças climáticas não se resolvem do dia para a noite. É um processo longo e gradual que não combina com a urgência necessária para limitar o aquecimento global ao 1,5ºC definido pelo IPCC como o mais seguro, reconhecido por todos e aprovado no Acordo de Paris. Cada COP significa mais um passo, às vezes maiores, outros, menores, sempre buscando metas de segurança climática para o planeta e para a nossa espécie. Infelizmente, os resultados da conferência não foram os ideais. Isso significa que é ainda mais importante o papel de cada um nesta jornada – e isto inclui você e sua empresa. 

Os combustíveis fósseis (o que inclui a produção e o consumo de gás, carvão e petróleo) são os principais responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa no mundo, representando cerca de 75% das emissões de CO₂. Eliminá-los de nossa economia é condição essencial para alcançarmos a segurança climática.

Atentos a tudo isso, mais de 2400 lobistas de petróleo estiveram na COP-28 (dados da coalizão internacional Kick Big Polluters Out), firmando acordos, anunciando investimentos e colocando em dúvida os resultados mesmo antes do fim da conferência.

Confira nossa cobertura sobre a COP 28

Outros resultados do encontro foram: o anúncio de US$ 25 bilhões de investimento e o compromisso de ser carbono neutro até 2050 feitos por um grupo das 50 maiores empresas petrolíferas do mundo, - importante e que representa um aporte até então inédito no financiamento climático. Mas a iniciativa é ainda insuficiente, pois está limitada à redução de emissões de exploração de petróleo e gás, sem nenhuma menção à eliminação de combustível fóssil. 

A própria Petrobras, que é uma das signatárias do acordo, divulgou recentemente em seu planejamento 2024-2028+ a inclusão de US$ 100 bilhões de investimento total, com a maior parte em energias fósseis, e somente US$ 11,5 bilhões para projetos de baixo carbono. Ou seja, está apostando na compensação de créditos de carbono para continuar operando com combustíveis fósseis, o que não é suficiente para garantir nossa segurança climática. Para que isso aconteça, precisamos de uma maior ambição e de implementação de ações fortes de transformação dos sistemas energéticos e de substituição completa dos combustíveis fósseis por energias renováveis sustentáveis e mais baratas. A empresa poderia se colocar como líder na transição energética, almejando estar entre as primeiras a se descarbonizar, não entre as últimas. Esta liderança deveria mirar o término da produção e consumo de combustíveis fósseis como a oportunidade para chegar em meados do século 21 entre os casos de sucesso de uma mudança estrutural longa e bem-feita, que contemplou e enfrentou com coragem os desafios da emergência climática.      

Também não podemos mais ignorar prazos. Por muito tempo, empresas e países puderam se desenvolver sem pensar no aquecimento da atmosfera terrestre. Agora, está chegando a conta e justo para os mais pobres, como mostram os relatórios do Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas (IPCC). Em vez de diminuir, essa injustiça climática só avança. Assim, quem, além dos governos, deve fazer algo em prol dessas populações que sofrem os efeitos das mudanças do clima? 

É necessário agir imediatamente, em uma velocidade e escala sem precedentes, fazendo a transição energética e aumentando o financiamento para ajudar pessoas em perigo e para ações de proteção à natureza. Efeitos das mudanças climáticas são uma responsabilidade de todos.

Para ser justo com o impacto causado, você, sua empresa e todos nós temos que ser responsáveis pelo ciclo de vida do que se está produzindo, de ponta a ponta, rastreando e se responsabilizando por todo o processo. 

Você, como empresário, como gestor, tem a oportunidade de contribuir para amenizar esses problemas. Para isso, é necessário implementar as ações urgentemente e de forma ampla. Hoje, não basta só olhar para os impactos de suas operações diretas, mas também a de seus parceiros. No caso de uma empresa de produção de bens e consumo, isso significa envolver toda a cadeia de suprimentos. Para as instituições financeiras, é imprescindível ter um olhar crítico para o seu portifólio de investimentos com foco na descarbonização, com transparência, metas e prazos claros.

O WWF-Brasil está aqui para trabalhar junto com empresas que queiram realmente inovar em prol desta transição. Toda mudança requer um processo, mas para ter sucesso é imprescindível começar o quanto antes. O tempo e as mudanças climáticas, infelizmente, não param. 

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