Produtores da Sociobiodiversidade marcam presença em megafeira de produtos orgânicos e naturais em São Paulo
Prateleiras com produtos da Central do Cerrado, na NaturalTech 2024 (Juliana Pesqueira/WWF-Brasil)

Produtores da Sociobiodiversidade marcam presença em megafeira de produtos orgânicos e naturais em São Paulo

Parceiros do WWF-Brasil ligados a cadeias extrativistas celebram adesão de empresas e consumidores na Naturaltech, maior feira do setor da América Latina

Modificar o horizonte pouco animador, despachado dia a dia pelas mudanças climáticas, pode ser possível através de hábitos de produção e consumo ligados a produtos da sociobiodiversidade. A vantagem dessas cadeias produtivas é que, além de promoverem a manutenção e a valorização de práticas locais de povos tradicionais e agricultores familiares, elas geram renda e promovem qualidade de vida e do ambiente – ou seja, contribuem para a conservação dos biomas em que estão inseridas.

Foi essa aposta pelo meio ambiente preservado como gerador de riqueza e futuro que foi transmitida pelos parceiros do WWF-Brasil na Naturaltech 2024, a maior feira de produtos orgânicos e naturais da América Latina, realizada em São Paulo (SP) de 12 a 15 deste mês.

Conservação do território e geração de renda

Em estande coletivo, juntamente com o WWF e o Sebrae, as organizações Amazônia em Pé, Ecocentro e Central do Cerrado expuseram seus produtos, decorrentes dessas cadeias de sociobiodiversidade, e os negociaram com consumidores finais e grandes empresas. A presença na NaturalTech valorizava tanto a comercialização de artigos sustentáveis quanto a difusão do conceito prático de que, sim, as mudanças climáticas podem ser impactadas positivamente por mudanças nas atitudes do mercado.

“Essas organizações chegaram a um nível de estruturação e maturidade tal que, hoje, são praticamente um hub de comercialização de produtos, em especial a Amazônia em Pé e a Central do Cerrado: conseguem trazer diferentes marcas, de organizações comunitárias diferentes dos territórios, para participar de uma feira como essa ou mesmo para ter seus próprios espaços em mega varejo ou em marketplaces”, afirma a analista de conservação do WWF-Brasil Ana Carolina Bauer. “E são organizações que trazem consigo a conservação do território e a geração de renda a milhares de famílias a elas vinculadas”, complementa.

“Calouro” em feiras internacionais e mesmo na parceria com o WWF-Brasil, entre os três parceiros do estande, o Ecocentro, de Santarém (PA), só vai ser inaugurado oficialmente em

julho, embora a documentação tenha ficado pronta a tempo de participar da Naturaltech com parte de seus produtos – no caso, o mel de abelhas jandaíra e canudo, sem ferrão. 

“Trouxemos só o mel, mas trabalhamos também com borracha de seringal, óleo de copaíba, manteiga de cupuaçu e andiroba. E isso tudo com agro-reflorestamento, sem derrubar, e, sim, remanejando a terra, reflorestando com árvores que daqui a cinco anos anos vão frutificar cacau, cupuaçu, cumaru, andiroba, muruci, com quase 400 cooperados”, afirma a coordenadora do Ecocentro, Maria Arruda do Nascimento.

Maria Arruda do Nascimento, do Ecocentro, na NaturalTech 2024 (Juliana Pesqueira/WWF-Brasil)

Na feira na capital paulista, o Ecocentro fechou negócio com duas empresas que compraram o mel dessa e da próxima safra. Por que elas não deveriam comprar mel de um atacadista tradicional, por exemplo? Maria não hesita: “Porque produtos da sociobiodiversidade têm um cuidado, um carinho e uma preocupação social e ambiental das famílias extrativistas da coleta à embalagem e também em não fazer queimadas e não derrubar árvores. Além disso, quem investe em um produto nos ajuda a gerar renda e melhoria de vida para as famílias que trabalham nas reservas. E, claro: para nós também é um orgulho comercializar um produto da Amazônia, 100% natural, rico em tudo – e o WWF-Brasil tem sido um ótimo parceiro nosso, especialmente pelas máquinas de extração dos óleos vegetais”, afirma.

Variedade de produtos das cadeias da sociobiodiversidade

Com uma gama de produtos que vão desde cosméticos a produtos de saúde, artesanatos a alimentos regionais, de 38 marcas, o programa de impulsionamento Amazônia em Casa também esteve na mesma tenda, fomentando a economia dos produtos da sociobiodiversidade e a fonte de renda sustentável das cerca de 3 mil famílias impactadas em oito estados. Pelo evento, a parceria se deu com a Central do Cerrado, que levou 13 marcas de produtos naturais para a Naturaltech e impacta cerca de 7 mil famílias.

“Nosso programa é muito voltado para aceleração e impulsionamento dessas marcas”, explica a gerente de projetos do Amazônia em Casa, Whilla Castelhano. Além de feiras, hoje uma das grandes frentes de acesso ao mercado é pela gôndola do programa no Mercado Livre - maior marketplace do Brasil. “A grande ênfase hoje é fazer com que essas marcas tenham visibilidade e as pessoas conheçam a potência dos produtos que vêm da Amazônia”, completa. Comprando mais produtos naturais, sustentáveis e orgânicos, consumidores não apenas mantêm a floresta de pé, como também favorecem o desenvolvimento e geram um impacto social positivo, analisa Whilla.

Já a Central do Cerrado levou produtos da sua rede de cooperativas formada por 23 empreendimentos comunitários de agricultores familiares extrativistas.

Seu surgimento há duas décadas veio a partir da demanda desses produtores de que era necessário estrutura para comercializar os produtos fora de seus territórios. Hoje, a Central elabora uma estratégia de venda em multicanais, em lojas físicas, diretas, ou virtuais – do consumidor final ao grande varejo e exportação.

Luis Carrazza, da Central do Cerrado, na NaturalTech 2024 (Juliana Pesqueira/WWF-Brasil)

Luis Carrazza, secretário executivo da organização, diz que a parceria de mais de cinco anos do grupo com o WWF-Brasil tem ajudado a fortalecer a entidade na relação com as organizações de base, em especial, pelo apoio técnico.

Para ele, investir em produtos da sociobiodiversidade é possibilitar que as famílias de agricultores extrativistas possam continuar vivendo em seus territórios mantendo a biodiversidade, paisagem, território, modos de vida e cultura.

“Isso é uma tendência de mercado, porque cada vez mais a população exige produtos que sejam ‘bons, limpos e justos’ – bem feitos, de qualidade, saborosos, bem acabados, com todo o controle de qualidade. Mas sem veneno, sem desmatamento, sem problemas de contaminações e que seja justo também que as pessoas que estão envolvidas na produção em toda a cadeia”, define. 

Luis salienta que o ato de consumo é um ato político, pois a partir dele, financiamos um modelo de desenvolvimento. “Se eu compro e consumo soja na minha casa, estou financiando a cadeia da soja; se compro um óleo de babaçu, estou financiando a cadeia das quebradeiras de coco do Cerrado em pé, do território dos babaçuais preservados”, exemplifica. “Queremos trazer o despertar da consciência e as possibilidades concretas de negócios e desenvolvimento para esses produtos, que só vão ganhar escala se a gente tiver todos engajados na mudança”, defende.

Porque, como explica Carrazza, não basta mais acessar o produto: o consumidor quer ter acesso ao processo de produção que levou até ele. E empresas que olharem para isso, ele salienta, entenderam a tendência.

Maria Monteiro

Engenharia Ambiental e Sanitária - FOC

1 sem

Foi incrível!!!

Ana Carolina Bauer Hansch

Sociobiodiversidade | Soluções Baseadas na Natureza | Biodiversidade | Negócios e Sociobiodiversidade

1 sem

Que tudo esse evento!

Trícia Oliveira

Comunicação. Sustentabilidade, Projetos Socioambientais

1 sem

O tipo de notícia que eu gosto de ler!

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