Transição energética tem de passar por discussão sobre efeitos da mineração
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Transição energética tem de passar por discussão sobre efeitos da mineração

Por Samara Santos, Consultora em Energia, e Ricardo Junqueira Fujii, Especialista de Conservação no WWF-Brasil. 

A transição energética é um debate estabelecido entre as nações, mas a forma como ela deve acontecer, quais são as melhores opções de uso de energia e como cada região deve se adaptar às mudanças climáticas são permeadas por uma condição: a disponibilidade de minerais críticos. De acordo com dados da Agência Internacional de Energia (AIE), a demanda do setor de energia, entre 2017 e 2022, triplicou a procura por lítio, aumentou em 70% por cobalto e em 40% pelo níquel. Em termos econômicos esse mercado atingiu 320 bilhões de dólares em 2022. Nos cenários projetados pela agência, a demanda por esses minerais tende a dobrar até 2030.  

Tecnologias refinadas para transição energética ligadas à geração fotovoltaica, eólica e uso da eletricidade para transporte necessitam de materiais com alta capacidade de condução e propriedades específicas, como maleabilidade e resistência à corrosão. Outra propriedade procurada, por exemplo, é a força magnética provida pelos imãs de neodímio, presente nos aerogeradores.  

Entre os principais minerais críticos estão o lítio, o cobre, o cobalto, o níquel e os elementos de terras raras (grupo de 17 elementos químicos usados em aplicações distintas). Esses minerais podem ser encontrados na Ásia, Europa, África e na América Latina. A China é o principal responsável também por processá-los para o uso nas indústrias e outras aplicações - conhecimento que outros países precisarão desenvolver. Em dezembro de 2023, a China decidiu restringir sua exportação de grafite, o que gerou o aumento do debate sobre os minerais críticos para outros países: o grafite é o principal componente das baterias de veículos elétricos.  

A América Latina corresponde a 35% do fornecimento mundial de lítio, além de deter mais da metade das reservas mundiais do mineral. O Brasil possui cerca de 2% destas reservas, enquanto para grafite, níquel, manganês e elementos de terras raras, possui um quinto da reserva global correspondente de cada um.  Em termos de produção, no entanto, corresponde a 0,2% para elementos de terras raras e 7% de grafite.  

Se a busca por minerais críticos é impulsionada pelo avanço da indústria de veículos elétricos, pelo aumento da geração de energia renovável, pela procura por autossuficiência em insumos e pela necessidade de redução de emissões de CO2, por outro lado o aumento desta busca gera preocupação com relação aos critérios socioambientais adotados pela atividade.  

O cenário da mineração no Brasil 

No Brasil, as atividades minerárias são cada vez mais cobradas ao passo que os impactos negativos são ampliados por eventos como o rompimento da barragem de rejeitos do Fundão, no munícipio de Mariana em Minas Gerais, e o rompimento da barragem de Brumadinho, também no estado. Os eventos mais recentes estão ligados ao avanço do garimpo ilegal sobre a Amazônia Legal Brasileira e a forma como os povos indígenas e tradicionais são afetados pela alteração na paisagem e contaminação do solo e da água. Outras questões aparecem nos processos de licenciamento das atividades que, por muitas vezes, são barrados por displicência em processos simples de mapeamento realizados por empresas.  

O seminário “Mineração e transformação mineral de minerais estratégicos para a transição energética”, realizado pelo Ministério de Minas e Energia (MME) e a Secretária Nacional de Geologia, Mineração e Transformação Mineral (SNGM), durante o mês de fevereiro,  mostrou que ações voltadas para uma mineração focada em sustentabilidade ainda são motivadas por tomada de decisões isoladas de empresas com base nas estratégias ESG, enquanto ainda  parece haver uma dúvida, ou questionamento por parte do setor produtivo, de que as atividades minerárias causam impactos negativos nas regiões. Unidades de Conservação (UCs) existem para proteção integral e uso sustentável de recursos, mas não são empecilhos para o avanço da atividade.  

O WWF-Brasil no debate 

A publicação da rede WWF “O Futuro é Circular: A Economia Circular e os Minerais Críticos para a Transição Verde” mostra que investimentos e regulamentações podem prover aos produtores e compradores dos minerais uma transição sustentável em suas atividades buscando reduzir a demanda por materiais primários, expandir o ciclo de produtos e materiais, estimular a reciclagem de materiais básicos, melhorar as técnicas para recuperação mineral das tecnologias de baixo carbono entre outras ações, como ampliar o estudo de baterias de veículos elétricos a partir de outras químicas. Outra conclusão do estudo é que a transição para uma economia de baixo carbono não necessita de mineração marinha porque existem caminhos para descarbonizar, reduzindo a pegada de carbono de cada material e equipamento.

Além destes pontos, é importante ampliar a participação da sociedade nas discussões de mineração que envolvem territórios, contemplando os impactos a curto, médio e longo prazo. Ou repetiremos a controversa rotina exploração do sul global para uso no norte global? 

Vívian Costa

Bióloga | Professora | Pesquisadora

3 m

E, acrescento que, de toda essa propaganda da transição energética, de acordos internacionais e promessas de geração de empregos, a energia ao final de “limpa” mesmo não tem nada. Vide os riscos radioativos que ameaçam populações e ambientes saudáveis em nosso país.

Ana Cris Costa

Socia presidente na ACPASINI Consultoria área gestão e licenciamento ambiental

3 m

Estão chamando de transição energética até a exploração de petróleo na bacia equatorial Temos que ficar atentos. Mesmo este governo, que lutamos para colocar aí, não nos dá segurança sobre o que pretende em relação às mudanças climáticas, pois dá sinais conflitantes.

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