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Apontamentos de Direito Processual Penal-4° Ano/Direito

Tema: O despacho de acusação

Despacho de acusação

Conceito

A acusação constitui segunda fase do processo penal, podendo-se seguir a fase seguinte,
a de julgamento.

A acusação é o acto processual, subscrito por quem tem legitimidade para fazê-lo, que
impute a agente devidamente identificado, facto preciso, tipificado na lei como crime.

Princípio geral

Finda a instrução preparatória, durante a qual devem ser feitas todas diligencias com
vista a recolha de elementos de indiciação necessários para fundamentos a acusação,
sem prejuízo de se realizar, igualmente, as que possam concorrer para demonstrar a
inocência ou irresponsabilidade dos arguidos, se do juízo que for feito face aos
elementos obtidos concluir-se pela existência da infração e sua imputação aos arguidos,
havendo assim elementos de indiciação bastantes para sustentar a acusação, o MP
formula a acusação definitiva ao abrigo do artigo 341 corpo CPP e artigo 24 do DL
35007.

Havendo assistente no processo, também é notificado para deduzir a sua acusação, para
o que é lhe facultado exame do processo.

Assim, a acusação definitiva está condicionada ao facto de durante a instrução


preparatória terem sido recolhidos elementos bastantes da infração, dos seus agentes e
sua responsabilidade artigo 349 CPP.

Com efeito, ao deduzir a acusação o MP está a formular juízo de probabilidade sobre o


objecto do processo e formalmente manifesta a “pretensão de que o arguido seja
submetido a julgamento pela prática de determinado crime e por ele condenado com a
pena prevista na lei”, agindo ao fazê-lo de acordo com critérios de legalidade,
objectividade e isenção.

Deduzida a acusação pelo Ministério Público, enquanto titular da ação penal, o


julgamento caberá ao tribunal, portanto, a um órgão diferente assegurando-se assim a
imparcialidade do julgador, mediante atribuição a órgãos distintas funções de
investigação e acusação, por um lado, e da função de julgamento dessa acusação.

O tribunal só poderá conhecer e decidir um caso em processo-crime quando tenha sido


solicitado a fazê-lo mediante dedução da acusação. Portanto, a acusação é um
pressuposto indispensável da fase de julgamento e por ela se define e fixa o objecto do
julgamento.

Tem legitimidade para deduzir acusação: o Ministério Público e o assistente (vide


artigos 341, 349 e 391 todos do CPP, e 4, parag. 1, 27, parag. Único, do Decreto 35007.

Contudo, a acusação provisória com requerimento de abertura de instrução contraditória


só o Ministério Público pode formular.

A acusação pode ser pública ou particular:

É pública se for deduzida pelo Ministério Público;

É particular se for deduzida pelo assistente.

A acusação do Ministério Público (acusação pública), se a houver, será sempre a


acusação dominante - o que significa que o MP tem o dever de acusar em primeiro
lugar, daí que, havendo assistente constituído, caberá, nesses casos, ao assistente acusar
subordinadamente.

Nos crimes particulares, segue-se a regra inversa: é sempre o assistente quem deve
acusar em primeiro lugar, na medida que, em tais casos, a acusação particular é a
acusação dominante, sendo que o Ministério Público, subordinadamente, pode acusar
pelos mesmos factos, por partes deles ou por outros que não importem uma alteração
substancial daqueles (artigo 341 e 349 CPP).

Fundamentos da acusação

Acusação definitiva: ocorre finda a instrução preparatória, tiverem sido recolhidos


indícios suficientes de se ter verificado crime e de quem foi o agente, arigo 349 CPP.

Acusação provisória: ocorre, quando esgotado o prazo de instrução preparatória, não


tiver sido recolhida prova bastante para ser deduzida acusação definitiva, mas for de
presumir que se completa a prova indiciária contra o arguido com uma investigação
mais completa ou mais amplo esclarecimento, requerer-se, então, a abertura de instrução
contraditória para a realização das diligencias necessárias de prova requeridas pelo MP
em tal acusação provisória (vide artigos 327 e 328 do CPP, 26 do Decreto Lei 35007).

Conteúdo da acusação

O despacho de acusação definitiva deve conter:

1. O nome do acusador, sua profissão e morada, se não for o MP, neste introito da
acusação a forma de processo correspondente (o MP é o acusador: Exemplo, “o
Ministério Público vem deduzir acusação, em processo de querela (ou em
processo de polícia correcional), contra…”
2. A identificação, o mais completo possível, do arguido: as indicações tendentes á
identificação do arguido, deverão constar os elementos, colhidos no processo,
tendentes á identificação daquele: alcunha, sexo, altura, idade aproximada e
outas características, incluindo sinais particulares.

A identidade do arguido é elemento essencial determinante da caracterização da


pretensão processual, fazendo parte da sua dimensão qualitativa.

3. A narração descriminada e precisa dos factos relevantes para a imputação do


crime e a determinação da espécie e da medida da sanção – os elementos
constitutivos do crime.

Deve constar a narração dos factos relevantes para a imputação do crime e a


determinação da espécie e da medida da sanção - os elementos constitutivos do crime.

Abrange todos os elementos factuais - objectivos e subjectivos-que constituam


pressupostos da responsabilidade criminal - todos eles são objecto de prova.

Em matéria de narrativa da acusação, ela deve ser sintética e de factos.

Portanto, impõe-se que a acusação narre com objectividade a algum detalhe, o evento
histórico de onde se retira a possibilidade de imputar uma infração criminal do agente

4. A indicação das normas substantivas aplicáveis: exprime, conjuntamente com o


requerimento de submissão a julgamento do acusado, a pretensão punitiva
formulada pelo acusador; a indicação das disposições legais aplicáveis deve
constar também a indicação das agravantes e atenuantes da responsabilidade do
arguido, com referência às normas legais respectivas (vide artigos 37, 38, 40, 41,
125, 126 e 127, todos do CPP).

A qualificação jurídica – como facto jurídico-processual que integra os pressupostos


necessários á procedência do pedido (a aplicação da sanção solicitada).

5. O rol de testemunhas e a indicação da demais prova: em caso de omissão deste


elemento na acusação, pode o juiz, aquando da elaboração do despacho de
pronúncia, notificar o acusador para o vir indicar em dois dias.
6. A posição do MP relativa á medida de coação já aplicada ou a aplicar: embora
este requisito da acusação não venha apontado nos artigos 359 e 392 CPP, é
aconselhável – constituindo, aliás, prática habitual – que o Ministério Público se
pronuncie também na acusação, designadamente no final desta peça processual,
sobre a manutenção ou alteração da medida de coação a que o arguido se
encontra sujeito nos autos, já que o juiz vai ter que proferir decisão sobre essa
matéria no despacho de pronúncia ou equivalente (artigo 366/5 CPP) e, assim,
fá-lo-á com conhecimento da posição assumida pelo MP sobre o assunto.
7. A data e assinatura: todo o documento deve ser identificado para determinar
quem é o seu autor. A identificação faz-se pela assinatura de quem o subscreve,
a data é uma exigência da peça acusatória, mas na prática é frequentemente
substituída pelo carimbo de entrada na secretaria.

A imposição de conteúdos obrigatórios á acusação tem relação com as finalidades que a


mesma visa prosseguir:

 Como condição processual de que depende sujeitar-se alguém a julgamento: a


jurisdição, na sua função específica de julgar, carecendo de ser oficiosamente
(nemo iudex sine actore), carecendo de ser solicitada através de um pedido de
intervenção
 Enquanto peça processual que define e fixa o objecto do processo: a jurisdição
não pode alargar o seu poder de julgar a pessoas e factos distintos daqueles que
são objecto da acusação (sententia debet esse conformis libelo).

N.B Em caso de conexão de processos, é deduzida uma única acusação – cfr. Parag.
Único do artigo 359 CPP.
O despacho de acusação é notificado ao arguido ou seu defensor (vide artigo 352 CPP),
quanto á intervenção do assistente e sua compatibilização com o Ministério Público
(vide artigo 349 CPP).

Meios de reacção dos interessados

Notificados do despacho de acusação finda a instrução preparatória, o arguido pode


requerer a instrução contraditória, no prazo de cinco dias (vide artigo 328/2ᵃ parte CPP)

Acusação do assistente (crime de natureza particular)

Neste tipo de crimes, concluída a instrução preparatória, será notificado o assistente


para deduzir acusação (definitiva), pelos factos que julgue suficientemente indiciados
ou requerer o que tiver por conveniente, após o que os autos serão conclusos ao
Ministério Público para o mesmo efeito (vide artigos 341, 342 e 349 CPP).

Especificidades das acusações em processo de querela e em processo de polícia


correcional

Quer a querela, quer a acusação em processo de polícia correcional devem obedecer aos
requisitos enunciados no ponto anterior, havendo apenas que apontar as seguintes
especificidades em relação a cada uma delas:

 A querela deverá ser articulada (artigo 359 CPP) e o número de testemunhas a


constar do respectivo rol não poderá exceder a vinte por cada infração (artigo
360 CPP);
 A acusação em processo de polícia correcional não tem de ser necessariamente
articulada (artigo 392 CPP) e o número de testemunhas a constar do respectivo
rol não poderá exceder a cinco por cada infração (artigo 393 CPP)

NB. Os apontamentos não dispensam a consulta de manuais pelo estudante

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