Módulo 13 - Dor
Módulo 13 - Dor
DOR
Há várias barreiras teóricas e metodológicas que dificultam a investigação epidemiológica da dor. Grande parte dessas
dificuldades é fundamentada na natureza complexa, subjetividade de expressão e grande diversidade das apresentações,
repercussões e fatores causais orgânicos, ambientais, psicossociais e sazonais da dor e ausência de critérios apropriados de
classificação das afecçôes álgicas.
O diagnóstico da dor geralmente é fundamentado na ocorrência de um processo de doença com evolução conhecida e nas
possíveis causas. As condições álgicas podem ser classificadas de acordo com os sistemas ou aparelhos acometidos,
condições nosológicas causais, duração da sintomatologia ou da doença ou localização da dor, todas elas tendo em comum a
não-homogeneidade.
A epidemiologia da dor é um a importante ferramenta tanto para caracterizá-la como um problema de saúde pública quanto
para a com preensão dos métodos que favorecem seu diagnóstico, prevenção e tratamento. Recentemente, os métodos
epidemiológicos foram estendidos para o estudo de condições sintomáticas, como lombalgias e cefaléias e anormalidades
comportamentais. Um exemplo da aplicação da epidemiologia nos estudos da dor é a caracterização desta com o problema de
saúde pública. A dor é um a condição muito prevalente na população e exerce um impacto significativo no indivíduo e na
sociedade.
× Dor aguda: é de ocorrência quase universal. Constitui sintoma que primariamente alerta os indivíduos para a
necessidade de assistência médica. O correm anualmente aproximadamente 50 milhões de lesões traumáticas, e
mais de 15 milhões de indivíduos apresenta câncer e freqüentem ente episódios de dor aguda nos EUA. Em 1980,
aproximadamente 23 milhões de cirurgias foram realizadas nos EUA e resultaram na ocorrência de dor moderada ou
intensa em mais de 70% dos casos. Dentre as dores agudas, destaca-se a dor de dente. Os traumatismos do
tegumento e das estruturas musculoesqueléticas advindos de acidentes ou induzidos por procedimentos
terapêuticos são a causa mais freqüente de dor aguda. Há dor persistente especialmente na região lombar, quadris,
joelhos e outras articulações em 11 a 14% da população em geral.
× Dor crônica: a prevalência nas com unidades varia de 7 a 40%; a dor é persistente e intensa em 8% dos indivíduos.
Cerca de 30% dos neozelandeses apresentam dor durante a vida ocorreu dor durante os últimos 6 a 12 meses em 41
a 56% dos indivíduos nos EUA. A partir dos estudos elegíveis, observou-se que a prevalência de dor crônica é uma
preocupação recente pois as publicações referem-se ao período de 2006 a 2015. A idade média da população dos
artigos variou entre 21 e 77,6 anos. O fato da população de quase todas os trabalhos incluírem ou possuírem idosos
nas populações das pesquisas retornou valores de prevalência relativamente altos, pois a ocorrência da dor aumenta
com o aumento da idade. O local mais prevalente de dor crônica foi a região dorsal/lombar, seguido da cabeça, apenas
um dos estudos informou a localização da dor somente por sexo, um estudo não apresentou os locais de dor.
Atualmente, mais de 63% das pessoas com mais de 65 anos de idade é do sexo feminino e, após o ano 2020, 73% dos
indivíduos com mais de 85 anos serão mulheres. A dor é freqüente em 32 a 34% dos indivíduos com mais de 65 anos de vida,
ocasional em 20 a 25%, aguda em 6 a 7% e crônica em 48 a 55%; o aumento de ocorrência geralmente não se manifesta após
a sétima década de vida. Nos idosos, a dor geralmente é crônica e relacionada a doenças degenerativas. O pico de ocorrência
de dor na faixa de 45 a 64 anos em alguns estudos deve-se, provavelmente, à maior ocorrência de afecçôes cervicais ou nos
ombros, membros superiores e/ou região lombar nessas idades.
A maioria dos trabalhos revela que as mulheres apresentam prevalência significativamente maior de dor que os homens com
idades similares. Aspectos constitucionais, endócrinos, culturais e hábitos parecem estar relacionados à predominância da
dor no sexo feminino; a prevalência da do r pode variar de acordo com a maior freqüência de ocorrência natural das lesões
causais em cada sexo e com aspectos biológicos que também contribuem para essas diferenças, pois há variação na
prevalência de algum as dores de acordo com as fases do ciclo menstrual. A epidemiologia no estudo da dor apresenta três
perspectivas: a populacional, a do desenvolvimento e a ecológica:
× Perspectiva populacional: oferece métodos para se estudar a variação da ocorrência e a gravidade das condições de
dor na população e objetiva compreender a distribuição e os determinantes das condições de morbidade com base
populacional.
A dor constitui um instrumento de proteção que possibilita a detecção de estímulos físicos e químicos nocivos, estabelece
situações com limiares específicos e organizados, além de sensibilizar sistemas que protegem o indivíduo contra futuras
lesões, de acordo com vários mecanismos. O comitê de taxonomia da Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP)
conceitua dor como “experiência sensitiva e emocional desagradável decorrente ou descrita em termos de lesões teciduais
reais ou potenciais”. A dor é subjetiva, cada indivíduo aprende a descrevê-la individualmente, com base em suas experiências.
A definição, porém, é inapropriada, uma vez que não se aplica às crianças na fase pré-verbal, aos indivíduos com transtornos
cognitivos e a outras condições particulares. Como outras modalidades sensitivas conscientes, a dor inclui a participação de
mecanismos relacionados aos aspectos discriminativos, às emoções e ao simbolismo das sensações em geral. A dor é
classificada em dois tipos:
× Dor aguda: apresenta valor biológico fundamental, pois constitui um alerta para a possibilidade de um a lesão tecidual
vir a se instalar ou já estar instalada, além de induzir reações de defesa, fuga ou remoção do agente causal.
× Dor crônica: é constituída especialmente por reações musculoesqueléticas e psicocomportamentais que induzem
incapacidade e repercussões biopsicossociais desfavoráveis.
FISIOPATOLOGIA DA NOCICEPÇÃO
Os receptores para dor na pele e em outros tecidos são terminações nervosas livres. Eles existem dispersos nas camadas
superficiais da pele, bem como em certos tecidos internos, como o periósteo, as paredes das artérias, as superfícies
articulares e a foice e o tentório da abóbada craniana. A maioria dos outros tecidos profundos está esparsamente suprida com
terminações nervosas para a dor; porém, lesões teciduais extensas podem se somar e causar dor lenta e crônica na maioria
dessas áreas.
A dor pode ser desencadeada por diversos tipos de estímulos que são classificados como estímulos dolorosos mecânicos,
térmicos e químicos. Em geral, a dor rápida é desencadeada por tipos de estímulos mecânicos e térmicos, enquanto a dor
crônica pode ser desencadeada pelos três tipos de estímulo. Algumas das substâncias que excitam o tipo químico de dor são:
bradicinina, serotonina, histamina, íons potássio, ácidos, acetilcolina e enzimas proteolíticas. Além disso, as prostaglandinas
e a substância P aumentam a sensibilidade das terminações nervosas, mas não excitam diretamente essas terminações. As
substâncias químicas são, de modo especial, importantes para a estimulação do tipo de dor lenta e persistente que ocorre
após lesão tecidual.
Ao contrário da maioria dos outros receptores do corpo, os receptores para dor se adaptam muito pouco e algumas vezes não
se adaptam. De fato, em certas circunstâncias, a excitação das fibras dolorosas fica progressivamente maior, à medida que o
estímulo persiste, em especial para a dor lenta persistente nauseante. Esse aumento da sensibilidade dos receptores para
dor é chamado hiperalgesia. Pode-se compreender prontamente a importância dessa ausência de adaptação dos receptores
para dor, pois isso possibilita que a pessoa fique ciente da presença de estímulo lesivo, enquanto a dor persistir.
A pessoa comum começa a sentir dor quando a pele é aquecida acima de 45°C. Essa é também a temperatura na qual os
tecidos começam a ser lesados pelo calor; na verdade, os tecidos são enfim destruídos se a temperatura permanecer acima
desse nível indefinidamente. Portanto, é evidente que a dor secundária ao calor está intimamente relacionada à intensidade
em que ocorre o dano aos tecidos e não ao dano total que já ocorreu. A intensidade da dor também está intimamente
relacionada à intensidade do dano tecidual, por causas diferentes do calor, como infecção bacteriana, isquemia dos tecidos,
contusão dos tecidos e outras.
Extratos dos tecidos lesionados podem causar dor intensa, quando são injetados sob a pele normal. A maior parte das
substâncias químicas, descritas anteriormente, que excitam os receptores químicos para dor, pode ser encontrada nesses
extratos. A bradicinina é uma substância que parece induzir a dor de modo mais acentuado do que as outras substâncias. Os
pesquisadores sugeriram que a bradicinina poderia ser a principal responsável pela indução da dor após dano tecidual. Além
disso, a intensidade da dor se relaciona ao aumento local da concentração do íon potássio ou à elevação da concentração de
enzimas proteolíticas, que atacam diretamente as terminações nervosas e estimulam a dor por fazer as membranas nervosas
mais permeáveis aos íons.
Quando o fluxo sanguíneo para um tecido é bloqueado, o tecido em geral fica muito dolorido em poucos minutos. Quanto maior
for a intensidade do metabolismo desse tecido, mais rapidamente a dor aparece. Por exemplo, se o manguito de um
esfigmomanômetro for colocado ao redor do braço e for inflado até a interrupção do fluxo sanguíneo, o exercício dos músculos
do antebraço algumas vezes pode causar dor em 15 a 20 segundos. Na ausência de exercício muscular, a dor pode não aparecer
antes de 3 a 4 minutos, mesmo que o fluxo sanguíneo para o músculo permaneça zero.
Uma das causas sugeridas para a dor, durante a isquemia, é o acúmulo de grande quantidade de ácido lático nos tecidos,
formada em consequência do metabolismo anaeróbico (isto é, metabolismo sem oxigênio). Também é provável que outros
agentes químicos, como a bradicinina e as enzimas proteolíticas, sejam formados nos tecidos por causa do dano celular, e
que a presença desses agentes, com o ácido lático, estimule as terminações nervosas para a dor. O espasmo muscular
também é causa comum de dor, sendo a base de muitas síndromes clínicas dolorosas. Essa dor provavelmente resulta, em
parte, do efeito direto do espasmo muscular na estimulação de receptores para dor mecanossensíveis, mas também pode
resultar de efeito indireto do espasmo muscular comprimindo vasos sanguíneos e levando à isquemia. Além disso, o espasmo
aumenta a intensidade do metabolismo do tecido muscular, tornando a isquemia relativa ainda maior e criando condições
ideais para a liberação de substâncias químicas indutoras da dor.
NEURÔNIOS AFERENTES
Os neurônios aferentes são classificados em três classes, de acordo com a dimensão do corpo celular e seus axônios:
Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Dor – Problema 1 – Intermediária
× Fibras de pequeno diâmetro, amielinizadas e com velocidade de condução inferior a 2 m/s (fibras C);
× Fibras de médio diâmetro, discretamente mielinizadas e com velocidade de condução de 25 a 50 m/s (fibras A-delta);
× Fibras de grande diâmetro, intensam ente mielinizadas e com elevada velocidade de condução (fibras A-beta e A-alfa).
VIAS DUPLAS PARA A TRANSMISSÃO DOS SINAIS DOLOROSOS AO SISTEMA NERVOSO CENTRAL
Apesar de todos os receptores para a dor serem terminações nervosas livres, essas terminações utilizam duas vias separadas
para a transmissão de sinais dolorosos para o sistema nervoso central. As duas vias correspondem principalmente aos dois
tipos de dor — uma via para a dor pontual rápida e uma via para a dor lenta crônica.
Fibras dolorosas periféricas — fibras “rápidas” e “lentas”
Os sinais dolorosos pontuais rápidos são desencadeados por estímulos mecânicos ou térmicos. Eles são transmitidos pelos
nervos periféricos para a medula espinal por meio de fibras Aδ do tipo pequeno, com velocidade entre 6 e 30 m/s. inversamente,
o tipo de dor lenta crônica é desencadeado principalmente por estímulos dolorosos do tipo químico, mas, algumas vezes, por
estímulos mecânicos ou térmicos persistentes. Essa dor lenta crônica é transmitida para a medula espinal por fibras tipo C,
com velocidades entre 0,5 e 2 m/s.
Devido a este sistema duplo de inervação para a dor, o estímulo doloroso súbito,
em geral, causa sensação dolorosa “dupla”: dor pontual rápida que é transmitida
para o cérebro pela via de fibras Aδ, seguida, em 1 segundo ou mais, por uma dor
lenta transmitida pela via das fibras C. A dor pontual avisa a pessoa rapidamente
sobre o perigo e, portanto, desempenha papel importante na reação imediata do
indivíduo para se afastar do estímulo doloroso. A dor lenta tende a aumentar com o
passar do tempo. Essa sensação, por fim, produz dor intolerável e faz com que a
pessoa continue tentando aliviar a causa da dor.
Ao entrarem na medula espinal, vindas pelas raízes espinais dorsais, as fibras da dor terminam em neurônios-relé nos cornos
dorsais. Aí novamente existem dois sistemas para o processamento dos sinais dolorosos em seu caminho para o encéfalo.
Vias Duplas Para Dor Na Medula Espinal E No Tronco Cerebral — O Trato
Neoespinotalâmico E O Trato Paleoespinotalâmico
Ao entrar na medula espinal, os sinais dolorosos tomam duas vias para o encéfalo,
pelo (1) trato neoespinotalâmico; e (2) o trato paleoespinotalâmico.
Trato Neoespinotalâmico para Dor Rápida
As fibras dolorosas Aδ do tipo rápido transmitem principalmente as dores mecânica
e térmica agudas. Elas terminam, em sua maioria, na lâmina I (lâmina marginal) dos
cornos dorsais e excitam os neurônios de segunda ordem do trato neoespinotalâmico.
Esses neurônios de segunda ordem dão origem às fibras longas que cruzam
imediatamente para o lado oposto da medula espinal pela comissura anterior e depois
ascendem para o encéfalo nas colunas anterolaterais.
Terminação do Trato Neoespinotalâmico no Tronco Cerebral e no
Tálamo
Algumas fibras do trato neoespinotalâmico terminam nas áreas reticulares do tronco cerebral, mas a maioria segue até o
tálamo sem interrupção, terminando no complexo ventrobasal com o trato da coluna dorsal–lemnisco medial para sensações
táteis. Algumas fibras terminam também no grupo nuclear posterior do tálamo. Dessas áreas talâmicas, os sinais são
transmitidos para outras áreas basais do encéfalo, bem como para o córtex somatossensorial.
A dor pontual rápida pode ser localizada com muito mais precisão nas diferentes partes do corpo do que a dor crônica lenta.
Entretanto, quando somente são estimulados os receptores para dor, sem a estimulação simultânea dos receptores táteis,
mesmo a dor rápida pode ser mal localizada, em geral, dentro de 10 centímetros da área estimulada. Quando os receptores
táteis que excitam o sistema da coluna dorsal–lemnisco medial são estimulados simultaneamente, a localização pode ser
quase exata. Acredita-se que o glutamato seja a substância neurotransmissora secretada nas terminações nervosas para a
dor do tipo Aδ da medula espinal. O glutamato é um dos transmissores excitatórios mais amplamente utilizados no sistema
nervoso central, em geral com duração de ação de apenas alguns milissegundos.
Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Dor – Problema 1 – Intermediária
Via Paleoespinotalâmica para a Transmissão da Dor Crônica Lenta
A via paleoespinotalâmica é um sistema muito mais antigo e transmite dor sobretudo por fibras periféricas crônicas lentas do
tipo C, apesar de transmitir alguns sinais das fibras do tipo Aδ também. Nessa via, as fibras periféricas terminam na medula
espinal quase inteiramente nas lâminas II e III dos cornos dorsais, que, em conjunto, são referidas como substância gelatinosa
pelas fibras da raiz dorsal do tipo C mais laterais. Em seguida, a maior parte dos sinais passa por um ou mais neurônios de
fibra curta, dentro dos cornos dorsais propriamente ditos, antes de entrar principalmente na lâmina V, também no corno dorsal.
Aí, os últimos neurônios da série dão origem a axônios longos que se unem, em sua maioria, às fibras da via de dor rápida,
passando primeiro pela comissura anterior para o lado oposto da medula e depois para cima, em direção do encéfalo, pela via
anterolateral.
Substância P
Pesquisas sugerem que os terminais de fibras para dor do tipo C que entram na medula espinal liberam tanto o
neurotransmissor glutamato quanto a substância P. O glutamato atua instantaneamente e persiste apenas por alguns
milissegundos. A substância P é liberada muito mais lentamente, com sua concentração aumentando em período de segundos
ou mesmo minutos. De fato, foi sugerido que a sensação “dupla” de dor, sentida após agulhada, resulte parcialmente do fato
do neurotransmissor glutamato gerar sensação de dor rápida, enquanto o neurotransmissor substância P gera sensação mais
duradoura. Parece claro que o glutamato é o neurotransmissor mais envolvido na transmissão da dor rápida para o sistema
nervoso central, e a substância P está relacionada à dor crônica lenta.
Projeção da Via Paleoespinotalâmica para o Tronco Cerebral e o Tálamo
A via paleoespinotalâmica crônica lenta termina, de modo difuso, no tronco cerebral. Somente entre um décimo e um quarto
das fibras ascende até o tálamo. A maioria das fibras termina em uma entre três áreas: (1) nos núcleos reticulares do bulbo,
da ponte e do mesencéfalo; (2) na área tectal do mesencéfalo profundamente até os colículos superior e inferior; ou (3) na
região cinzenta periaquedutal, que circunda o aqueduto de Sylvius. De áreas do tronco cerebral, vários neurônios de fibras
curtas transmitem sinais ascendentes da dor pelos núcleos intralaminar e ventrolateral do tálamo e em direção de certas
regiões do hipotálamo e outras regiões basais do encéfalo.
A localização da dor transmitida pela via paleoespinotalâmica é imprecisa. Por exemplo, a dor crônica lenta em geral só pode
ser localizada em uma parte principal do corpo, como no braço ou na perna, mas não em ponto específico do braço ou da perna.
Isso se deve à conectividade multissináptica difusa dessa via. Esse fenômeno explica porque os pacientes, em geral, têm
sérias dificuldades em localizar a fonte de alguns tipos de dor crônica.
Função da Formação Reticular, Tálamo e Córtex Cerebral na Avaliação da Dor
A remoção completa das áreas somatossensoriais do córtex cerebral não evita a percepção da dor. Portanto, é provável que
os impulsos dolorosos que cheguem à formação reticular do tronco cerebral, do tálamo e outras regiões inferiores do encéfalo
causem percepção consciente de dor. Isso não significa que o córtex cerebral não tenha relação com a avaliação normal da
dor; o estímulo elétrico das áreas somatossensoriais corticais faz com que o ser humano perceba dor leve em cerca de 3%
dos pontos estimulados. Entretanto, acredita-se que o córtex desempenhe papel especialmente importante na interpretação
da qualidade da dor, mesmo que a percepção da dor seja função principalmente dos centros inferiores.
A estimulação elétrica das áreas reticulares do tronco cerebral e dos núcleos intralaminares do tálamo, áreas onde terminam
os sinais da dor lenta, tem forte efeito de alerta sobre a atividade neural de todo o encéfalo. De fato, essas duas áreas
constituem parte do principal “sistema de alerta”. Isso explica porque é quase impossível para a pessoa dormir nos casos de
dor grave.
HISTÓRIA DA DOR
Surgimento Da Dor
Devem ser obtidas informações detalhadas sobre a data precisa do surgimento e as circunstâncias que contribuíram para a
existência da dor. A localização e a distribuição, a qualidade, a intensidade ou severidade e a duração da primeira dor devem
ser certificadas. A forma como inicia, se gradual ou repentina, deve ser determinada. Se a dor foi relacionada a algum
movimento, o paciente deve demonstrar a posição em que estava e a ação que estava desempenhando quando a dor ocorreu
pela primeira vez. Além disso, o paciente deve ser questionado quanto a qualquer distúrbio associado, sensorial, motor ou
autonômico, no período em que a dor foi percebida pela primeira vez. O paciente também deve ser questionado quanto ao
tratamento recebido quando do surgimento da dor e seu efeito sobre ela.
Dor Atual
Deve-se pedir ao paciente que descreva detalhadamente a qualidade, o local, a distribuição, a intensidade e as características
temporais da dor no momento da avaliação e que indique se esses fatores sofreram algum a alteração desde o surgimento da
dor ou durante o intervalo. A seguir, o paciente é questionado sobre quais fatores agravam , aliviam ou não têm efeito algum
sobre a dor. Além disso, é questionado sobre os efeitos de distúrbios emocionais, movimento da parte envolvida, exercícios,
pressão local, calor ou frio, tosse, espirro, esforço e respiração profunda sobre a severidade, qualidade e distribuição da dor. O
médico deve ser especialmente sensível à descrição da dor atual realizada pelo paciente e registrá-la. Quando a dor é constante
e não sofre flutuações com nenhum a atividade emocional ou física, é mais provável que exista um a lesão estrutural
funcionando com o causa primária da queixa do paciente.
Devem-se obter informações detalhadas sobre o efeito da dor sobre as atividades do paciente, a quantidade de tempo que o
paciente permanece ativo (tempo de pé), e que permanece sentado ou deitado (tempo de repouso) enquanto está acordado. A
abordagem dessa parte da anamnese, na qual as perguntas são feitas repetidamente, pode sobrecarregar o paciente e o
profissional. Os pacientes devem ser conscientizados da importância de fornecer informações detalhadas e sempre
encorajados a continuar seus esforços durante essa parte tediosa da avaliação. O médico deve disponibilizar um tempo amplo
para esses pacientes, pois eles apresentam problemas médicos, psicológicos e sociais com plexos, muitas vezes associados
a múltiplas áreas da patologia.
HISTÓRIA FAMILIAR
É importante obter informações sobre a saúde dos pais e irmãos e determinar se sofreram distúrbios ou disfunções dolorosas
com frequência. Existem evidências de que os modelos são fatores importantes no desenvolvimento do comportamento de
dor crônica. Outro aspecto relevante da história familiar é certificar-se, de forma delicada e demonstrando consideração pelo
paciente, se ele foi vítima de abuso na infância. Esse fator também desempenha um importante papel no desenvolvimento do
comportamento de dor crônica
HISTÓRIA CLÍNICA
Para avaliar um paciente com dor, é necessário realizar uma análise do histórico da dor, verificando fatores como localização,
frequência, intensidade, tempo, tipos (somática, visceral, neuropática ou mista), condições de melhora e piora e elementos
que acompanham a dor e sua irradiação. É importante também considerar doenças pregressas, injúria por trauma, infecções,
relação com câncer, distúrbios metabólicos, doença vascular, predisposição genética, entre outras situações. Tratamentos
anteriores e distúrbios psicológicos (como depressão e ansiedade) devem ser incluídos no estudo.
× Localização: Refere-se à região onde o paciente sente a dor.
× Irradiação: A dor pode ser localizada, irradiada ou referida. O reconhecimento da localização inicial da dor e de sua
irradiação pode indicar a estrutura nervosa comprometida. A dor irradiada pode surgir em decorrência do
comprometimento de praticamente qualquer raiz nervosa, podendo ser o território de irradiação predito pelo exame do
mapa dermatomérico.
Exemplos de dor referida : Apêndice: dor na região epigástrica; Vesícula, fígado: dor na escápula e no ombro;
Ureter: dor na virilha e genitália externa; Coração: dor na face medial do braço.
× Qualidade ou caráter: Para que seja definida a qualidade ou o caráter da dor, o paciente é solicitado a descrevê-la ou
dizer que tipo de sensação e emoção ela lhe traz. Primeiramente, deve-se definir se esta é espontânea e/ou evocada.
o Dor evocada é aquela que ocorre apenas mediante algum tipo de provocação.
o Alodínia é uma sensação desagradável, dolorosa, provocada pela estimulação tátil, sobretudo se repetitiva,
de uma área com limiar aumentado de excitabilidade.
o Hiperpatia é uma sensação desagradável, mais dolorosa que a comum, provocada pela estimulação nóxica,
sobretudo a repetitiva, de uma área com limiar de excitabilidade aumentado.
o Hiperalgesia é a resposta exagerada aos estímulos aplicados em uma região que está com reduzido limiar de
excitabilidade, que pode se manifestar sob a forma de dor a estímulos inócuos ou de dor intensa a estímulos
leves ou moderadamente nóxicos.
o A dor espontânea, por sua vez, pode ser constante ou intermitente.
o Dor constante é aquela que ocorre continuamente, podendo variar de intensidade, sem nunca desaparecer
completamente. A dor intermitente é aquela que ocorre episodicamente, sendo sua frequência e duração
bastante variáveis.
× Intensidade: É um componente extremamente relevante da dor, aliás, é o que apresenta maior importância para o
paciente.
× Duração: Inicialmente, determina-se com a máxima precisão possível a data de início da dor. Quando ela é contínua,
calcula-se sua duração de acordo com o tempo transcorrido entre seu início e o momento da anamnese. Se é cíclica,
interessa registrar a data e a duração de cada episódio doloroso. Se é intermitente e ocorre várias vezes ao dia, é
TAXONOMIA DA DOR
× Algologia: ciência que estuda o fenômeno doloroso. × Dor por desaferentação: dor decorente do
× Alodinia: dor devida a estímulos que normalmente comprometimento das aferências ao sistema
não causam dor. nervoso central.
× Analgesia: ausência de resposta dolorosa após × Dor neurogênica: dor iniciada ou causada por lesão
aplicação de estím ulos que norm alm ente primária, disfunção ou comprometimento
causam dor. transitório do sistema nervoso central ou
× Analgésico: substância que produz analgesia. periférico.
× Anestesia: ausência de todos os tipos de × Dor neuropática: dor iniciada ou causada por lesão
sensibilidade. primária ou disfunção do sistema nervoso.
× Anestesia dolorosa: dor em local ou região com × Dor radicular: dor no território de distribuição de
privação total de sensibilidade. uma ou mais raízes sensitivas.
× Angina: dor torácica relacionada à insuficiência × Hiperestesia: sensibilidade aumentada aos
circulatória coronariana. estímulos normais.
× Artralgia: dor na região das articulações. × Hiperalgesia: aumento da resposta aos estímulos
× Causalgia: dor causada por traumatismo de nervo dolorosos.
e caracterizada com o queimor, alodinia e × Hiperpatia: síndrome álgica caracterizada por
fenômenos tróficos e neurovegetativos. aumento da reação a estímulos, especialmente os
× Dermatômero: segmento do corpo com inervação repetidos.
específica. × Hipoalgesia: diminuição da sensibilidade aos
× Disestesia: sensação dolorosa geralmente de estímulos dolorosos.
aparecimento espontâneo. × Hipoestesia: diminuição da sensibilidade aos
× Dor central: dor decorrente de lesão localizada no estímulos específicos.
sistema nervoso central.
ESCALAS UNIDIMENSIONAIS
Dentre eles destacam-se as escalas numéricas, nas quais utilizam-se categorias numéricas; as escalas verbais, nas quais
utilizam-se categorias adjetivais e as escalas analógicas-visuais, nas quais há possibilidade de julgamentos visuais numa
dimensão tomada como padrão.
Escala Verbal Numérica Escala Visual Analógica (EVA)
Ordenação de número para que o paciente gradue a Escala graduada em "Com dor" e "Sem dor" para análise da
intensidade de quanto sente de dor no momento. intensidade.
1. Dor fraca intensidade menor que 3
Escala De Categoria De Palavras
2. Dor moderada: de 4 a 6 Escala graduada com palavras: Sem dor, dor leve, dor
3. Dor intensa: de 7 a 9 moderada, dor intensa, dor insuportável.
4. Dor insuportável: intensidade 10 Escala Comportamental
Escala Numérica Visual (EVN) Avalia a expressão fácil, movimentação dos membros e
Escala graduada para que o paciente consiga avaliar a adaptação a ventilação mecânica, com finalidade de gerar
intensidade da dor em número
ESCALAS MULTIDIMENSIONAIS
Inventário Breve da Dor (IBD)
Criada por McGill 1975, tem sido bastante usado até hoje para avaliação da dor aguda. O Inventário Breve da Dor (IBD) é um
instrumento para a avaliação da dor, inclui um diagrama para anotar a localização da dor, perguntas a respeito da intensidade
da dor (atual, média, e a pior usando a escala de avaliação de 0 a 10). Corresponde a uma avaliação ampla da dor, com
descritores que são divididos em quatro grupos:
1. sensorial discriminativo 3. avaliativo cognitivo
2. afetivo motivacional 4. miscelânea.
Esse instrumento corresponde a 78 descritores divididos nos 4 grandes grupos. Ao final é gerado o MPQ, conhecido como
Índice Quantitativo da Dor. São instrumentos que apresentam maior fidelidade na avaliação da dor, por avaliarem aspectos
emocionais, sociais, duração da dor, exame físico, funcionalidade física e social, aspectos cognitivos e culturais e história da
dor.
Diário
Essa é uma forma de registro da dor que pode ser utilizada todas as vezes que for necessário fazer a evolução do paciente.
Nos casos de incapacidade cognitiva grave e impossibilidade de comunicação verbal das sensações, soma-se a
impossibilidade de utilizar o autorrelato, padrão-ouro para reconhecer, avaliar a tratar a dor nas populações. Nestes casos, os
instrumentos que se valem da observação de comportamentos que expressam dor, como a expressão facial, as verbalizações
e vocalizações, os movimentos corporais, as mudanças nas interações interpessoais, nas atividades, rotinas e no estado
mental ajudam a reduzir riscos de interpretação errônea de mais ou de menos daquilo que a pessoa está vivenciando.
NOPPAIN- Br
O NOPPAIN é um instrumento simples e clinicamente útil para mensurar a dor a partir do julgamento de comportamentos que
expressam, acessível aos profissionais de diferentes áreas e níveis de formação.
TRATAMENTO
TRATAMENTO ADJUVANTE
Antidepressivos
Os pacientes com dor crônica frequentemente sofrem de depressão esta condição deve ser prontamente tratada.
Relaxantes Musculares
Os fármacos relaxantes musculares podem ser utilizados apenas por curto período em casos de dor crônica agudizada. O uso
crônico é, portanto, desaconselhado. Diazepam, por exemplo, foi igualmente eficaz à acupuntura no tratamento da dor aguda
de pacientes com osteoartrose.
Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Dor – Problema 1 – Fechamento
TRATAMENTO NÃO MEDICAMENTOSO
A terapêutica não farmacológica desempenha um papel importante no tratamento da dor, em particular da dor crónica.
Fisioterapia
São utilizados vários métodos no tratamento da dor: a massagem, crioterapia (tratamento pelo frio) ou termoterapia
(tratamento pelo calor) são utilizadas, em particular, no tratamento da dor músculo-esquelética.
Crioterapia
A crioterapia é uma modalidade terapêutica frequentemente utilizada no tratamento de lesões musculoesqueléticas agudas.
A lesão muscular é caracterizada por uma série de fatores, tais como desorganização das miofibrilas, ruptura de mitocôndria
e retículo sarcoplasmático, interrupção da continuidade do sarcolema, autodigestão e necrose celular, além de disfunção
microvascular progressiva e inflamação local.
Apesar de o insulto primário não poder ser influenciado terapeuticamente, o crescimento secundário da lesão pode ser
amenizado com certas intervenções, tais como frio local, imobilização temporária, administração de drogas analgésicas e
antiinflamatórias. Há evidências de que a crioterapia produz efeitos analgésicos e promove a restauração estrutural e funcional,
o que favorece o processo de reabilitação. Dessa forma, a crioterapia local pode facilitar a recuperação de tais lesões, sendo
que a vasoconstrição induzida pelo frio reduz a formação de edemas, bem como a intensidade do dano celular local, por meio
da redução do quadro hemorrágico e das demandas metabólicas no tecido lesado.
Acupuntura
A acupunctura é um método de tratamento originário da medicina chinesa, que tem demonstrado ser muito eficaz no
tratamento da dor. São inseridas agulhas finas nas áreas de tratamento com acumulação de células sensoriais (pontos de
acupunctura), libertando as substâncias que inibem a dor, por exemplo, endorfinas, que inibem a transmissão do impulso
doloroso. Poderá, ainda, ser aplicada uma corrente eléctrica nas agulhas.
Psicoterapia
O facto da administração de placebo reduzir significativamente a dor mostra que a componente psíquica exerce um efeito
considerável sobre a percepção da dor. Os cuidados psicológicos de doentes com dor estão especialmente indicados na dor
crónica, incluindo, por exemplo, treino de relaxamento, hipnose, terapêutica comportamental e psicoterapia.
Procedimentos neurocirúrgicos
O princípio básico dos procedimentos neurocirúrgicos consiste na interrupção das vias de transmissão dos estímulos
dolorosos a partir do tecido lesionado. Na cordotomia, a via espinotalâmica é interrompida na medula espinal. Um método
menos radical consiste na radicotomia, em que a cirurgia não é realizada directamente na medula espinal mas por secção da
raiz do nervo no local de saída da medula espinal. Os nervos periféricos poderão também ser bloqueados quer de forma
reversível com anestésicos locais por bloqueio da transmissão quer de forma irreversível por neurólise utilizando neurolíticos
(álcool, fenol, etc.), electrocoagulação ou radiação. Uma vez que estas técnicas podem causar lesão permanente do nervo,
são consideradas como tratamentos de “último recurso” para o alívio da dor intratável muito intensa.
É uma técnica que visa o alívio da DPO através da associação de fármacos e técnicas analgésicas. Envolve a administração
combinada de anti-inflamatórios, opioides, e outros fármacos que agem em diferentes locais tanto nas vias centrais quanto
nas periféricas do sistema nervoso. A finalidade dessa associação é melhorar o controle de dor evitando os efeitos adversos.
O uso da analgesia multimodal na prevenção da DPO ambulatorial é o elemento chave para o processo de recuperação,
reduzindo a demora nas altas hospitalares e, mais importante, ajudando os pacientes a assumirem suas rotinas diárias no dia
seguinte.
O tratamento multimodal deve ser efetivo para alívio da dor, causar mínimos efeitos adversos, serem seguros e de fácil
manuseio, tanto para o paciente quanto para os familiares cuidadores. A fisiopatologia da dor apresenta múltiplos mecanismos,
havendo necessidade de tratamento multimodal, ou balanceado, de analgésicos com efeitos aditivos ou sinérgicos. A analgesia
multimodal deve ser ajustada para suprir as necessidades individuais de cada paciente, levando em consideração seu histórico
médico, doenças associadas, tipo da operação proposta e experiências prévias relacionadas ao manuseio tanto da dor crônica
quanto da aguda.
PROSTAGLANDINAS
Todos os AINEs atuam inibindo a síntese das PGs. Assim, para entender os AINEs, é preciso compreender a biossíntese e as
ações das PGs derivadas de ácidos graxos insaturados que contêm 20 carbonos e incluem uma estrutura cíclica anelar. (Nota:
algumas vezes, esses compostos são denominados eicosanoides; “eicosa” se refere aos 20 átomos de carbono.) O objetivo
inicial da via da fosfolipase (mais especificamente, a fosfolipase A2, que quebra, em especial, fosfatidilcolina e
fosfatidiletanolamina) é gerar os prostanoides (PGE2 e PGI2), que servirão como metabólitos que intensificam o processo
inflamatório, desencadeando as fases 1 e 2. Em outras palavras, as prostaglandinas e as prostaciclinas (geradas na cascata
da fosfolipase A2) são mediadores pró-inflamatórios responsáveis por desencadear a fase 1 (vasodilatação e aumento da
permeabilidade celular); os tromboxanos e leucotrienos são substâncias responsáveis pela fase 2 (efeito quimiotáxico para
eosinófilos, neutrófilos e macrófagos).
Síntese de prostaglandinas
O ácido araquidônico é o principal precursor das PGs e dos compostos relacionados. Ele é componente dos fosfolipídeos das
membranas celulares. O ácido araquidônico livre é liberado dos fosfolipídeos teciduais pela ação da fosfolipase A2 por um
processo controlado por hormônios e outros estímulos. Primeiramente, acontece um estímulo determinante para desencadear
a resposta inflamatória: este estímulo pode ser de natureza antigênica (bactéria, helminto, etc.) ou traumática. Com a lesão
das membranas celulares da região, cria-se um foco inflamatório, região em que a liberação de citocinas será fundamental
para estabelecer a resposta imune. Este evento estimula a quebra de fosfolipídios de membrana por meio da enzima fosfolipase
A2, produzindo grandes concentrações de ácido araquidônico. Uma vez degradados fosfolipídios de membrana pela ação da
fosfolipase A2, ocorre a formação do ácido araquidônico (que funciona, nesta via, como 2º mensageiro). Existem duas vias
principais para a síntese de eicosanoides a partir do ácido araquidônico: a via da cicloxigenase e a da lipoxigenase.
Via da cicloxigenase
Todos os eicosanoides com estrutura anelar (PGs, tromboxanos e prostaciclinas) são sintetizados pela
via da cicloxigenase. Foram descritas duas isoformas relacionadas das enzimas cicloxigenases: a
cicloxigenase-1 (COX-1) é responsável pela produção fisiológica de prostanoides, e a COX-2 provoca o
aumento da produção de prostanoides em locais de doença e inflamação crônicas. A COX-1 é uma “enzima
constitutiva” que regula os processos celulares normais, como a citoproteção gástrica, a homeostase
vascular, a agregação plaquetária e as funções reprodutiva e renal. A COX-2 é expressa de maneira
constitutiva em tecidos, como cérebro, rins e ossos. Sua expressão em outros locais aumenta durante os
estados inflamatórios crônicos. Diferenças na forma dos locais de ligação permitiram o desenvolvimento
de inibidores COX-2 seletivos. Outra característica diferencial da COX-2 é que sua expressão é induzida
por mediadores inflamatórios como o fator de necrose tumoral (TNF-α) e a interleucina (IL-1), mas pode
também ser inibida por glicocorticoides, o que pode contribuir para os efeitos anti-inflamatórios
significativos desses fármacos. Deste modo, a isoforma COX-2 é a principal responsável pela produção
dos mediadores prostanoides da inflamação. Contudo, existem algumas exceções significativas. A COX-
2 é expressa constitutivamente no rim, gerando prostaciclina, que tem um papel na homeostase renal e
no sistema nervoso central (SNC), onde a sua função não está clara.
As prostaglandinas e as prostaciclinas são substâncias que irão promover um aumento da
permeabilidade celular, vasodilatação (para que mais sangue chegue à região inflamada e,
concomitantemente, mais células tenham acesso a este tecido). Todo este mecanismo tem o intuito de
iniciar o processo inflamatório. Uma vez que a COX atua sobre o ácido araquidônico, apenas por meio
desta enzima é que serão formados mediadores pró-inflamatórios para intensificar o processo
inflamatório.
Obs: As células já apresentam no seu interior as enzimas lipoxigenase e ciclo-oxigenase (são enzimas
intracelulares). À medida que o estímulo chega à célula, ele desencadeia um aumento intracelular das
concentrações de ácido araquidônico. Este estímulo ativa ainda a fosfolipase A2, que é uma enzima de
membrana celular. Ela, uma vez ativada, degrada fosfolipídeos de membrana (mais especificamente,
fosfolipídios cíclicos: fosfatidilcolina e fosfatidiletanolamina) formando, cada vez mais, ácido
araquidônico. Portanto, é dessa forma que estímulos externos aumentam a concentração do ácido
araquidônico dentro da célula. Este ácido, uma vez em altas concentrações dentro da célula, pode sofrer
ação das enzimas lipoxigenase e ciclo-oxigenase presentes na célula.
Via da lipoxigenase
Alternativamente, várias lipoxigenases podem atuar no ácido araquidônico formando leucotrienos.O
aumento da atividade da ciclo-oxigenase, portanto, favorece o aumento das prostaglandinas pré-
inflamatórias, que medeiam o mecanismo do processo inflamatório, além de estarem relacionadas com
a promoção da dor e, de um modo indireto, da febre. Em resumo, o mecanismo de ação dos AINEs é agir
CLASSIFICAÇÃO
Os AINE são importantes em virtude de suas propriedades anti-inflamatórias, antipiréticas e analgésicas combinadas. O
objetivo final da maioria das terapias com AINE consistem em inibir a geração de eicosanoides proinflamatórios mediada pela
COX e em limitar a extensão da inflamação, febre e dor. A atividade antipirética desses fármacos provavelmente está
relacionada com a redução dos níveis de PGE2, particularmente na região do cérebro que circunda o hipotálamo. Apesar dos
benefícios oferecidos pelos AINE atuais, esses fármacos suprimem apenas os sinais da resposta inflamatória subjacente.
Esses fármacos bloqueiam o canal hidrofóbico da ciclooxigenase ao qual se liga o substrato ácido araquidônico, impedindo
assim o acesso do ácido araquidônico ao sítio ativo da enzima. Os AINE tradicionais inibem tanto a COX-1 quanto a COX-2 em
diferentes graus. Devido à inibição da COX-1, o tratamento a longo prazo com AINE apresenta muitos efeitos deletérios. As
funções citoprotetoras dos produtos eicosanoides da COX-1 são eliminadas, levando a um espectro de gastropatia induzida
por AINE, incluindo dispepsia, gastrotoxicidade, lesão e hemorragia subepiteliais, erosão da mucosa gástrica, ulceração franca
e necrose da mucosa gástrica. A regulação do fluxo sanguíneo para os rins também é afetada, diminuindo a TFG e causando
potencialmente isquemia renal, necrose papilar, nefrite intersticial e insuficiência renal. A funcionalidade do ácido orgânico
dos AINE confere importantes propriedades farmacocinéticas a esses agentes, incluindo absorção quase completa pelo
intestino, ligação à albumina plasmática, acúmulo das células que se encontram no local de inflamação e excreção renal
eficiente. Os AINE podem ser divididos em duas classes: de meia-vida curta (10 horas). Os AINE com meias-vidas de eliminação
longas incluem o naproxeno, os salicilatos, o piroxicam e a fenilbutazona.
Salicilatos
Os salicilatos incluem a aspirina (ácido acetilsalicílico) e seus derivados. A aspirina, que é o mais antigo dos AINE, é
amplamente utilizada no tratamento da dor leve a moderada, cefaleia, mialgia e artralgia. Ao contrário de outros AINE, a aspirina
atua de modo irreversível, acetilando o resíduo serina do sítio ativo da COX-1 e da COX-2. A acetilação da COX-1 destrói a
atividade de ciclooxigenase da enzima, impedindo a formação de prostaglandinas, tromboxanos e prostaciclinas derivados da
COX-1. Os salicilatos (juntamente com a indometacina, o piroxicam e o ibuprofeno) também podem inibir o surto oxidativo dos
neutrófilos ao reduzir a atividade da NADPH oxidase.
A aspirina, em baixas doses, diariamente é utilizada como agente antitrombogênico para profilaxia e manejo do infarto do
miocárdio e acidente vascular cerebral pós-evento. Convém lembrar que a aspirina é antitrombogênica, devido à inibição
irreversível da COX, que impede a biossíntese de TxA2 pelas plaquetas. Dentro de 1 hora após a administração oral de aspirina,
ocorre destruição irreversível da atividade COX-1 nas plaquetas. As plaquetas, que carecem de núcleo, são incapazes de
sintetizar novas proteínas. Em consequência, a COX-1 irreversivelmente acetilada não pode ser substituída por proteínas
recém-sintetizadas, e essas plaquetas são inibidas de modo irreversível durante o seu tempo de sobrevida (cerca de 10 dias).
Embora a aspirina também iniba de modo irreversível a COX-1 e a COX-2 das células endoteliais vasculares, a célula endotelial
tem a capacidade de sintetizar nova proteína COX e, portanto, pode rapidamente reiniciar a síntese de PGI2. A administração
de uma dose única de aspirina diminui por vários dias a quantidade de tromboxano passível de ser gerado, desviando o equilíbrio
TxA2 -PGI2 vascular para uma vasodilatação mediada por PGI2, inibição plaquetária e antitrombogênese.
A inibição da COX-2 mediada pela aspirina impede a geração de prostaglandinas. Ao contrário da COX-1, que é totalmente
inativada, a COX-2 modificada pela aspirina retém parte de sua atividade catalítica e pode formar um novo produto. A aspirina
é, em geral, bem tolerada. Suas principais toxicidades consistem em gastropatia e nefropatia, que são compartilhadas por
todos os AINE. A terapia a longo prazo com aspirina pode resultar em ulceração e hemorragia gastrintestinais, nefrotoxicidade
e lesão hepática. Duas toxicidades singulares são a hiper-reatividade das vias aéreas induzida pela aspirina em indivíduos
Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Dor – Problema 1 – Fechamento
asmáticos (a denominada asma sensível à aspirina) e a síndrome de Reye. A prevalência da sensibilidade à aspirina em
pacientes com asma é estimada em cerca de 10%. Nesses pacientes, a exposição à aspirina resulta em congestão ocular e
nasal, juntamente com obstrução grave das vias aéreas. Os pacientes sensíveis à aspirina também mostram-se reativos a
outros AINE, incluindo indometacina, naproxeno, ibuprofeno, mefenamato e fenilbutazona. Nos indivíduos asmáticos, uma
possível etiologia da sensibilidade à aspirina/AINE consiste no fato de que a exposição a esses fármacos leva a níveis
aumentados de leucotrienos, que estão implicados na patogenia da asma.
A síndrome de Reye é uma afecção caracterizada por encefalopatia hepática e esteatose hepática em crianças de pouca idade.
A terapia com aspirina durante o curso de uma infecção viral febril tem sido implicada como etiologia potencial da lesão
hepática. Embora não se tenha definitivamente estabelecido qualquer relação causal entre o uso de aspirina e a síndrome de
Reye, a aspirina geralmente não é administrada a crianças, devido ao temor da síndrome de Reye. O acetaminofeno é
amplamente utilizado em lugar da aspirina para crianças.
Derivados do Oxicam
O piroxicam é tão eficaz quanto a aspirina, o naproxeno e o ibuprofeno no tratamento da artrite reumatóide e osteoartrite, mas
pode ser mais bem tolerado. O piroxicam exerce efeitos adicionais na modulação da função dos neutrófilos, inibindo a
colagenase, a proteoglicanase e o surto oxidativo. Em virtude de sua meia-vida extremamente longa, o piroxicam pode ser
administrado uma vez ao dia. A exemplo de outros AINE, o piroxicam exibe efeitos adversos gastrintestinais, como ulceração,
e prolonga o tempo de sangramento, devido a seu efeito antiplaquetário.
Derivados do Fenamato
Os dois AINE derivados do fenamato são o mefenamato e o meclofenamato. Ambos inibem as ciclooxigenases, mas também
antagonizam em vários graus os receptores de prostanóides. Como os fenamatos possuem menos atividade antiinflamatória
e são mais tóxicos do que a aspirina, existe pouca vantagem no seu uso. O mefenamato é apenas utilizado para a dismenorréia
primária, enquanto o meclofenamato é utilizado no tratamento da artrite reumatóide e osteoartrite.
Cetonas
A nabumetona é um profármaco cetona que é oxidado in vivo à forma ácida ativa. Em comparação com outros AINE nãoseletivos,
a nabumetona possui atividade preferencial contra a COX-2. A incidência de efeitos adversos gastrintestinais é relativamente
baixa, embora seja freqüentemente relatada a ocorrência de cefaléia e tonteira.
Acetaminofeno
O acetaminofeno, apesar de ser algumas vezes classificado com os AINE, não é tecnicamente um AINE: embora o
acetaminofeno exerça efeitos analgésicos e antipiréticos semelhantes aos da aspirina, o efeito antiinflamatório do
Paracetamol
O paracetamol é um dos analgésicosantipiréticos não narcóticos mais comumente usados e faz parte de muitas preparações
patenteadas de venda livre. Sob certo ponto de vista o fármaco constitui uma anomalia; ao lado de sua excelente atividade
analgésica e antipirética, que pode ser atribuída à inibição da síntese de prostaglandinas no SNC, tem atividade inflamatória
muito discreta e não compartilha os efeitos gástricos ou plaquetários adversos dos outros AINEs. Por esta razão, o
paracetamol às vezes não é classificado como AINE.
A descoberta de mais uma isoforma da COX, a COX-3 (um produto de splice alternativo da COX-1), no SNC de algumas espécies,
sugeriu uma provável solução para este enigma. O paracetamol, bem como outros fármacos com propriedades semelhantes
(p. ex., antipirina e dipirona), seria um inibidor seletivo desta enzima. No entanto, também foram propostas explicações
alternativas que levam em consideração o ambiente de oxidação-redução local no SNC ou o efeito dos metabólitos do paracet
nos canais Trp.
Usos terapêuticos
O paracetamol é um substituto adequado para os efeitos analgésicos e antipiréticos dos AINEs em pacientes com problemas
ou riscos gástricos, nos quais o prolongamento do tempo de sangramento não é desejável, e naqueles que não necessitam da
ação anti-inflamatória dos AINEs. O paracetamol é o analgésico/antipirético de escolha para crianças com infecções virais ou
varicela, pois o AAS oferece risco de síndrome de Reye.
Farmacocinética
O paracetamol é rapidamente absorvido no TGI. Nas células luminais dos intestinos e nos hepatócitos, ocorre significativa
biotransformação de primeira passagem. Em circunstâncias normais, o paracetamol é conjugado no fígado, formando
metabólitos glicuronizados ou sulfatados inativos. Uma parte do paracetamol é hidroxilada, gerando N-acetil-p-
benzoquinoneimina (NAPQI), um metabólito altamente reativo que pode reagir com grupos sulfidrila e causar lesão hepática.
Em dosagens normais de paracetamol, a NAPQI reage com o grupo sulfidrila da glutationa, que é produzida no fígado, formando
uma substância não tóxica. O paracetamol e seus metabólitos são excretados na urina. O fármaco também está disponível em
formulações de uso retal e IV.
Obs: Em casos de suspeita de dengue, o principal AINE a ser prescrito quando se quer debelar a febre é o paracetamol. Para
efeitos analgésicos, mesmo em caso de suspeita de dengue, pode-se considerar a prescrição de dipirona, mesmo que ela
apresente certa atividade anti-plaquetária – pois esta droga se liga e inibe a COX-1 das plaquetas de maneira reversível
(diferentemente do que faz o AAS).
A propedêutica física da coluna vertebral deve ser iniciada em um sentido global, isto é correlacionando cabeça, coluna, bacia
e membros inferiores, para depois passar à exploração segmentar. Os pacientes do sexo masculino devem estar com um
calção de banho e as do sexo feminino com um avental aberto na região dorsal.
Inspeção dinâmica
Nesta fase do exame, procura-se avaliar a amplitude dos movimentos da coluna e pesquisar a presença de dor à movimentação
de cada segmento, o que permite verificar suas limitações funcionais. O paciente continua na posição de pé e realiza os
movimentos, separadamente, por região da coluna.
Coluna cervical
Os movimentos efetuados pela coluna vertebral são: flexão, extensão, rotação e inclinação.
× Flexão: Pedir ao paciente para mover anteriormente a cabeça, o alcance normal permitirá que encoste o queixo na
face anterior do tórax.
× Extensão: A cabeça é projetada para trás, o alcance é normal, quando o paciente consegue olhar diretamente para o
teto.
× Rotação direita e esquerda: A rotação normal permite que o queixo do paciente quase se alinhe ao ombro.
Palpação
Dor à palpação de processos espinhosos
Deve ser realizada pela compressão da coluna vertebral com a polpa do polegar direito e o resto da mão espalmada sem apoiar
no tegumento do paciente. Avalia-se a sensibilidade dolorosa da região cervical com o paciente sentado, orientado para relaxar
a musculatura do pescoço e da cintura escapular, colocando-se o examinador por detrás do paciente. A palpação de toda a
coluna pode também ser realizada com o paciente deitado em decúbito ventral.
EXAME NEUROLÓGICO
O exame neurológico deve ser realizado em pacientes com dor irradiada para os membros superiores ou inferiores, uma vez
que as repercussões clínicas nesses membros podem levar a alterações dos reflexos, da sensibilidade e da força muscular.
Inicialmente pede-se ao paciente que deambule normalmente para avaliação do tipo de marcha. Em seguida, ele deve caminhar
na ponta dos pés e nos calcanhares para testar as raízes S1 e L5, respectivamente.
REFLEXOS
Os reflexos podem ser classificados como normais, aumentados, diminuídos e abolidos. Os reflexos podem estar diminuídos
ou abolidos nos casos de compressão radicular, como ocorre na hérnia distal e na presença de osteófito posterior.
× Reflexo Patelar: É um reflexo mediado por nervos oriundos da raiz de L2, L3 e L4, mas predominante de L4. Clinicamente
é considerado como um reflexo de L4. O paciente deve estar sentado com as pernas pendentes, percute-se o tendão
patelar com um golpe curto e rápido, logo abaixo da patela e observa-se a extensão do joelho. O procedimento deve
ser repetido na perna oposta.
× Reflexo Aquileu: É um reflexo suprido pelos nervos oriundos do nível neurológico de S1. Para testá-lo, tensione
levemente o tendão de Aquiles, por meio de uma discreta dorsiflexão do pé. Percute-se o tendão e observa-se uma
flexão plantar súbita e involuntária.
Nas cervicobraquialgias pesquisam-se os reflexos dos membros superiores bicipital, tricipital e braquiorradial.
× Reflexo Bicipital: Avalia primariamente a integridade do nível neurológico de C5. Com o braço do paciente parcialmente
fletido, coloca-se o polegar no tendão do bíceps que se aloja na fossa cubital. Golpeia-se diretamente o seu polegar.
Observa-se a flexão do cotovelo.
Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Dor – Problema 2 – Intermediária
× Reflexo Tricipital: É uma função do nível neurológico de C7. Flexiona-se o braço do paciente e percute-se o tendão do
tríceps acima do cotovelo. Observa-se a extensão do cotovelo.
× Reflexo Braquiorradial: Seu reflexo é função de C6. O paciente deve manter a mão apoiada. Percute-se de 2,5 a 5 cm
acima do punho.
SENSIBILIDADE
A sensibilidade superficial pode ser dividida em tátil, térmica e dolorosa.
× A sensibilidade dolorosa é avaliada com um estilete rombo.
× No caso da avaliação da sensibilidade tátil, pode-se usar um pincel pequeno ou um chumaço de algodão, que devem
ser roçados de leve em várias partes do corpo. O paciente deve manter os olhos fechados durante o procedimento e
assim compara-se as regiões simétricas, nos dois lados do corpo.
Força Muscular
Em casos de pacientes com dor na região lombar, com sintomatologia em membros inferiores, pode-se testar a extensão dos
joelhos, a dorsiflexão dos pés e a flexão plantar dos pés.
× Extensão do joelho (L2, L3 e L4): Pede-se ao paciente para estender o joelho contra a resistência de sua mão.
× Dorsiflexão do pé e do hálux (L4, L5): Orienta-se o paciente a empurrar o pé para cima, contra a resistência da mão.
× Flexão plantar do pé e hálux (S1): O paciente deve forçar o pé para baixo, contra uma resistência.
Manobras Especiais
× Sinal de Lasègue: É realizado se o paciente tiver referido lombalgia com irradiação para a perna, sendo um sinal
indicativo de compressão radicular. Pode detectar comprometimento de L5 e S1. Consiste na elevação do membro
inferior do paciente com o joelho estendido e segurando em torno do calcanhar, acarretando estiramento do nervo
ciático. O paciente deve estar deitado em decúbito dorsal e relaxado. No caso de compressão, ocorre dor no trajeto
do nervo ciático. O sinal de Lasègue é positivo, quando surge dor abaixo do joelho (panturrilha) e em menos que 60º,
sendo que dor, em até 30º, sugere hérnia discal.. O aumento da dor, na perna afetada, quando a perna oposta é elevada,
confirma a presença de dor radicular e constitui um sinal cruzado positivo.
× Teste de compressão: Manobra semiológica da região cervical que ajuda a reproduzir as dores irradiadas para os
membros superiores, originadas da compressão radicular. Consiste na compressão da cabeça com as mãos
espalmadas, desencadeando dor na região afetada.
× Teste de Adson: Serve para determinar a permeabilidade da artéria subclávia, que pode estar comprimida por costela
cervical ou por contratura dos músculos escalenos. Deve ser realizado nos quadros de cervicobraquialgias
acompanhados por alterações vasculares dos membros superiores. Consiste na verificação do pulso do braço que
deve ser estendido e rodado externamente, enquanto o paciente roda a cabeça para o lado que está sendo testado.
Uma diminuição ou ausência de pulso indica compressão da artéria subclávia.
SÍNDROME FIBROMIÁLGICA
A síndrome fibromiálgica caracteriza-se pela ocorrência de dor musculoesquelética generalizada e crônica e pela presença de
11 ou mais de 18 pontos dolorosos difusos (nove em cada lado do corpo) na ausência de processos inflamatórios musculares
e/ou articulares. É geralmente associada à fadiga persistente, rigidez, sono leve não- reparador, estresse emocional e vários
outros sintomas. Não há uma patologia de tecido específico, e as queixas incluem dor articular, lesão muscular, inflamação e
dor visceral.
A fisiopatologia é incerta; admite-se ser devida à hipoatividade serotoninérgica, à hiperatividade p-érgica e às anormalidades
funcionais hipotalâmicas. O diagnóstico é clínico e baseado no critério de classificação do Colégio Americano de Reumatologia
(CAR), 1990. Várias evidências sugerem que a dor experienciada pelos doentes com SFM resulta de anormalidades no
processamento sensitivo no SNC.
Estímulos térmicos tônicos com intensidade insuficiente para gerar dor elevam o limiar de dor, causada por estímulos elétricos
em indivíduos saudáveis, mas não nos pacientes com SFM. Fenômeno que sugere que haja deficiência do sistema do controle
inibitório da nocicepção.
O descondicionamento físico é característico dos doentes com fibromialgia e exerce papel importante na expressão dos
sintomas, pois os predispõe a microtraumatismos musculares, dor e fadiga crônica. A fibromialgia pode estar associada a
afecções do tecid o conectivo, como artrite reumatóide, LES, síndrome de Sjõgren, artropatias soronegativas, com o também
a condições inflamatórias em que as citocinas produzidas pelas células T desem penhem algum papel. Em alguns doentes, a
dor aguda que acompanha traumatismos diretos (acidentes) ou indiretos (lesões por esforços repetitivos, adoção de posturas
inadequadas) pode ceder lugar para dor generalizada e gerar vários pontos dolorosos.
ASPECTO PSICOLÓGICO
É possível que o estresse desempenhe papel relevante na mediação e perpetuação dos sintomas da SFM. Muitos doentes
referem que os primeiros sintomas da síndrome surgiram após um período de estresse crônico ou após traumatismos. Outros
relatam que há agravamento dos sintomas após estresses físicos e emocionais de curta duração. Como a fibromialgia acarreta
modificações da funcionalidade sem alterações orgânicas específicas, alguns autores atribuíram a fatores psicológicos a sua
origem.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
O diagnóstico diferencial da SFM inclui a síndrome dolorosa miofascial (SDM), as poliartrites, as polineuropatias periféricas, o
hipotireoidismo e a polimialgia reumática, entre outras condições. A SDM e a SFM podem ser duas afecções distintas com
fisiopatologias similares. Apesar de a dor muscular ser comum nas duas síndromes. No caso da SDM, há pontos-gatilho (PGs)
e a dor é regionalizada, enquanto, na fibromialgia, há presença de pontos dolorosos e a dor é generalizada. A SDM pode ser
resultado de afecções musculoesqueléticas localizadas agudas que se instalam após traumatismos, posturas inadequadas
ou estresses emocionais. Alguns doentes com SDM desenvolvem SFM à medida que a dor se cronifica. A SFM pode iniciar-se
em condições álgicas localizadas, como ocorre em casos de tendinite e de distúrbios osteomusculares relacionados ao
trabalho (DORT). (A dor de Angélica de início era localizada em região cervical e ombro)
As morbidades associadas à SFM são depressão, a síndrome do cólon irritável, as cefaleias e a síndrome da fadiga crônica. A
concomitância de outras doenças, como artrite, estenose do canal raquidiano, polimialgia reumática e neuropatias periféricas,
frequentemente torna difícil o diagnóstico da SFM.
Algumas afecções reumatológicas, como artrite reumatóide (AR), síndrome de Sjõgren ou lúpus eritematoso sistêmico (LES),
podem apresentar-se inicialmente como dor difusa e fadiga. Nesses casos, a SFM pode coexistir. A polimialgia reumática pode
mimetizar SFM. Afecções metabólicas ou inflamatórias podem ocorrer em doentes com SFM, incluindo o hipotireoidismo e o
diabetes.
TUMORES
Diversas neoplasias que acometem a região cervical podem cursar com cervicalgia, incluindo as ósseas (tumor de células
gigantes, condrossarcoma, osteossarcoma, sarcoma de Ewing, cistos ósseos, osteoblastoma, mieloma múltiplo), as
metástases (tumor de tireóide, rim, mama, pulmão) e tumores extradurais (metástases), intradurais extramedulares
(neurinomas, meningiomas) ou intramedulares (ependimomas, gliomas). A evolução geralmente é insidiosa e comum ente
associada a anormalidades neurológicas (mielopatia, radiculopatia). As lesões ósseas podem cursar com fraturas patológicas.
A história, o exame físico e os exames complementares (radiografria simples, RM , TC, mielografia, mapeamento ósseo)
permitem o diagnóstico.
DOENÇAS INFECCIOSAS
Infecções com o a osteomielite causada por agentes não específicos ou específicos (tuberculose), envolvendo estruturas
musculoesqueléticas cervicais, podem causar dor com características variáveis e déficits neurológicos e/ou dor quando há
febre e perda de peso associados ou não à inapetência. A possibilidade de processo infeccioso ou neoplásico deve ser
considerada.
DOENÇAS INFLAMATÓRIAS
As doenças inflamatórias da região cervical geralmente são sistêmicas. O quadro clínico e os exames laboratoriais e de imagem
permitem o diagnóstico. A artrite reumatóide pode acometer as articulações atlantoccipital e atlantoaxial e causar
anormalidades neurológicas; há cervicalgia em mais de 80% dos pacientes com artrite reumatóide. A dor localiza-se na região
cervical posterior, e é comum a ocorrência de rigidez e limitação dos movimentos, principalmente de flexo-extensão, e a
instabilidade e a com pressão da medula espinal e das raízes nervosas.
A espondilite anquilosante predomina no esqueleto axial e causa inicialmente dor e rigidez da articulação sacroilíaca e rigidez,
limitação progressiva da movimentação cervical e d o r localizada na região cervical rostral irradiada para a escama do occipital
e a região mastóide, cinco ou m ais anos após a instalação dos sintomas sacroilíacos. Polimiosite e dermatomiosite são
doenças inflamatórias musculares esqueléticas que se caracterizam como fraqueza proximal dos músculos das cinturas
pélvica e escapular, dos membros superiores e inferiores e das regiões rostrais do segmento cervical.
A hiperostose idiopática e difusa ou doença de Forestier é condição não-inflamatória que se manifesta especialmente em
indivíduos do sexo masculino e com m ais de 50 anos de idade. Acomete 12% dos indivíduos após os 75 anos de idade e
caracteriza-se com o entesopatia não-erosiva, neoformação óssea e calcificação do ligamento longitudinal anterior de, pelos
Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Dor – Problema 2 – Intermediária
menos, quatro corpos vertebrais contíguos. Em 50% dos pacientes, há acometimento da coluna cervical. A ossificação das
estruturas espinais pode gerar compressão da laringe e disfagia em decorrência da osteofitose anterior.
A artrite reumatóide juvenil, a espondiloartropatia soronegativa, a polimialgia reumática, a arterite de células gigantes, a
ossificação do ligamento longinal posterior, a gota e as artropatias microcristalinas, entre outras, podem também ocorrer na
região cervical e resultar em dor.
NEURALGIAS
A neuralgia dos nervos glossofaríngeo, trigêmeo ou occipital cursam com dor em queimor ou choque na área de distribuição da
estrutura nervosa acometida. A neuralgia do glossofaríngeo acomete a região lateral e rostral do pescoço, da faringe, da orelha,
da epiglote e da base da língua. A neuralgia da divisão mandibular do nervo trigêmeo pode cursar com dor na região lateral
superior do pescoço. A neuralgia occipital manifesta-se como dor na região occipital e, às vezes, rostral do pescoço. O
tratamento das neuralgias consiste no uso de anticonvulsivantes (carbamazepina, oxcarbazepina, difenilidantoína, valproato
ou divalproato de sódio, gabapentina, topiramato) ou miorrelaxantes (baclofeno); pode haver necessidade de procedimentos
cirúrgicos. A dor facial atípica caracteriza-se como dor em queimor, peso ou latejamento na face e, às vezes, na região cervical.
É mais comum em mulheres de meia-idade com alterações psicológicas. O tratamento consiste no uso de antidepressivos,
neurolépticos e procedimentos de medicina física.
LOMBALGIA
A lombalgia é definida como dor e desconforto localizados entre a margem costal e a prega glútea inferior, com ou sem dor na
perna.
LOMBOCIATALGIA
Quando há dor irradiada para o membro inferior (60% dos casos), que pode ser:
× De origem radicular (exemplo: compressão por hérnia de disco)
× Referida (exemplo: dor miofascial)
TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA
× Ressonância magnética × Ultrassonografia
× Densitometria óssea × Radiografia
ELETRONEUROMIOGRAFIA
A eletroneuromiografia (ENMG) tem sua principal indicação no diagnóstico topográfico, etiológico e prognóstico das afecções
do SNP e no diagnóstico diferencial entre afecções neurogênicas, miopáticas e da junção neuromuscular. A ENMG divide-se
em duas partes: o estudo da condução nervosa: eletroneurografia (ENG) e a eletromiografia de agulha (EMG).mAvalia a
condução no nervo. Sendo importante na perda sensorial focal por lesão na raiz nervosa (próximo ao corpo celular no gânglio
da raiz dorsal, lesão de tecido nervoso distal).
A EMG com agulha detecta a condução nervosa pela detecção de desnervação ou reinervação. Ao passo que a tomografia
computadorizada (TC) e ou a ressonância nuclear magnética (RNM) são apenas fotografias sofisticadas, a ENMG fornece
informações no tempo real do que está ocorrendo no nervo e no músculo, podendo associar exames de imagem para auxiliar
no correto diagnóstico das afecções neuromusculares. Podemos indicar a eletroneuromiografia para doenças que não são
visualizadas em exames de imagem, sendo de maneira geral indicada para situações de:
× diminuição da sensibilidade (Hipoestesia) × incoordenação (ataxia);
× sensação de choques e formigamento × diminuição da massa muscular (amiotrofia),
(parestesias); × câimbras e ou fasciculações;
× dores (algias); × reflexos profundos diminuídos ou abolidos (hipo ou
× fraqueza (paresia); arreflexia miotática)
× fadiga precoce;
A Eletroneuromiografia não está indicada nas lombalgias agudas e crônicas e nas lombociatalgias agudas
RADIOGRAFIA
Radiografia simples é a modalidade de imagem mais comum na avaliação inicial de dores lombares crônicas. O principal objetivo
é detectar alteração patológica estrutural grosseira/grave. A radiografia simples (Raio-X) constitui a primeira etapa da
investigação radiológica no diagnóstico das doenças da coluna vertebral. Nas lombalgias mecânicas agudas ou subagudas
(até quatro semanas), sem “sinais de alerta”, os estudos de imagens não são necessários. Nas lombalgias crônicas e agudas
com “sinais de alerta” se faz necessário solicitar a radiografia simples na primeira consulta.
Quando existe suspeita de instabilidade, radiografias dinâmicas em flexão e extensão são indicadas. Apesar do seu baixo custo
e auxílio no diagnóstico de patologias vertebrais e discais, possui baixa sensibilidade e especificidade. A radiografia pode ser
totalmente normal em pacientes com lombalgia. Da mesma forma, alterações degenerativas presentes aos raios X, como
vértebras transicionais, espinha bífida,
RESSONÂNCIA MAGNÉTICA
A Ressonância Magnética (RM) tornou-se o principal exame no estudo das patologias da coluna. Trata-se de exame não
invasivo que não utiliza radiação e permite a visualização de toda a extensão da coluna. Além disto, partes moles e ósseas (A
TC não apresenta boa sensibilidade a partes moles) são visualizadas não havendo necessidade de contraste intratecal para
observar a presença de conflito disco-radicular. A RNM é o melhor método para avaliação de radiculopatias cervicais, torácicas,
lombossacrais e plexopatias. Isso porque permite boa avaliação dos desarranjos discais e das alterações degenerativas. É
particularmente útil na análise do conteúdo do canal vertebral, incluindo cone medular, raízes da cauda eqüina e medula óssea
(Partes moles). No entanto, devido seu alto custo e menor disponibilidade, se reservando como primeira escolha em pacientes
com:
× déficits neurológicos progressivos, × suspeita de malignidade,
× síndrome da cauda equina, × doença inflamatória ou infecciosa.
A RNM também pode ser usada para planejar o tratamento cirúrgico ou modalidades como administração de corticoide peridural.
TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA
A TC é um método de diagnóstico por imagem que utiliza raios X e permite a visualização de estruturas anatômicas em cortes
finos e consecutivos de diferentes ângulos e com alto nível de resolução, com imagens 3D de alta qualidade.
Permite boa avaliação dos desarranjos discais, das alterações degenerativas das faces intervertebrals (platôs vertebrais) e
articulações zigapofi-sárias. Também avalia o canal vertebral, recessos laterais e forames intervertebrals. Além de
traumatismos moderados e graves.
A TC é melhor para detecção de fratura da região posterior da coluna, junção craniocervical e craniotorácica, de C1 e C2. Além
de fragmentos ósseos no canal vertebral e desalinhamentos. A sua boa resolução espacial permite melhor definição dos
contornos ósseos. Não sendo boa para partes moles.
A tomografia computadorizada não apresenta uma boa sensibilidade e especificidade nas lesões gastrointestinais,
diafragmáticas e pancreáticas. A Tomografia computadorizada (TC) permite formular imagens coronais e sagitais da coluna. É
o melhor método para visualização da arquitetura óssea. Apresenta alta sensibilidade para a detecção de lesões ósseas, e
baixa sensibilidade a lesões dos tecidos moles é inferior quanto àquela obtida com a ressonância magnética.
Além disso, a TC permite apenas a visualização de segmentos limitados da coluna, não permitindo a visualização de lesões
intradurais (sem a injeção de contraste intratecal), expõe o paciente à radiação e não permite exame dinâmico ou em
ortostase. A TC e a ressonância magnética têm a vantagem de visualização em plano tridimensional, com melhor análise das
estruturas ósseas e não ósseas não bem detectadas na radiologia convencional.
DENSITOMETRIA ÓSSEA
A densitometria óssea não está indicada nas lombalgias mecânicas ou não, agudas ou não, como método de investigação
inicial, podendo ser útil naqueles casos em que o RX simples mostra a presença de deformidade vertebral, do tipo colapso, ou
osteopenia radiológica. Neste aspecto, o simples achado de perda de massa óssea, revelado por este exame, não indica que
a osteoporose justifique a dor lombar. O médico deve estar alerta também para as várias situações clínicas de osteoporose
secundária, nas quais o exame pode ser indicado, como no uso prolongado de corticosteróides, hiperparatireoi-dismo.
ULTRASSONOGRAFIA
Tem pouca sensibilidade para alterações ósseas. É útil nas lesões tendíneas agudas, em idosos e em pacientes sem condições
para realização da RM. A ultrassonografia tem suas vantagens: é de fácil utilização, pode ser portátil, é de rápida execução,
pode ser repetido, e não tem risco dos efeitos da radiação.
FISIOPATOLOGIA E ETIOLOGIA
A etiopatologia da fibromialgia é desconhecida
Alterações musculares
Durante muitos anos, a fibromialgia foi considerada como doença primária do sistema musculoesquelético. Empregando
técnicas de imuno-histoquímica, descreve-se atrofia muscular de fibras tipo II, presença de fibras reticulares, edema focal,
aumento do conteúdo do lipídeo e do número de mitocôndrias. Tais achados são interpretados como conseqüentes à redução
da microcirculação local, que acarreta hipóxia das fibras musculares, culminando com a redução do teor energético do tecido
muscular. Durante o período de contração muscular, ocorre maior necessidade de oxigênio regional, o que cronicamente
acarreta um sistema cíclico de hipóxia localizada. Por outro lado, a hipóxia tecidual ativa receptores adenosina A2, estimulando
e sensibilizando fibras nervosas não mielinizadas.
Alterações neuro-hormonais e autonômicas
Com freqüência, a fibromialgia é associada ao estresse, situação em que fatores físicos ou emocionais atuam como fatores
predisponentes, desencadeadores ou perpetuadores. Alterações do sistema neuroendócrino envolvendo o eixo hipotálamo-
hipófise-adrenal e suas interações com outras funções endócrinas, como a gonadal, a tireoideana e principalmente com o
sistema nervoso autonômico (SNA), têm sido amplamente demonstradas.
Alterações hormonais
A prolactina encontra-se elevada em 71% de mulheres com fibromialgia versus 4,5% na população geral 11, e o hormônio de
crescimento (GH) encontra-se diminuído em 30% das pacientes com fibromialgia. Foi relatado também nível diminuído de
cortisol circulante, assim como resposta diminuída ao teste de estresse induzido por hipoglicemia. Visto que o quadro de
fibromialgia acomete preferencialmente as mulheres, apresentando maior incidência por volta dos 45 anos de idade, acredita-
se que os hormônios femininos possam estar implicados nesta desordem. Sintomas do hipotireoidismo incluem quadro tipo
fibromialgia com dores musculares e fadiga, e muitas das mulheres com fibromialgia apresentam hipotireoidismo subclínico.
Desta forma, a dosagem de hormônios tireoidianos deve estar entre os testes laboratoriais solicitados para a avaliação de
pacientes com fibromialgia. Citocinas A elevação de imunomoduladores, comparado a indivíduos normais, também foi descrita
Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Dor – Problema 2 – Fechamento
em pacientes com fibromialgia, especificamente IL-1B, IL-6 e TNF-alfa, mas o seu significado não pode ser determinado em
relação à causa ou persistência dos sintomas. A IL-8 encontra-se elevada em pacientes com história de fibromialgia com
duração maior do que dois anos.
Neurotransmissores
Pacientes com fibromialgia apresentam diminuição dos níveis de serotonina no soro e no líquido cerebrospinal. A associação
entre deficiência de serotonina e depressão já é bem estabelecida. Além de modular o humor, a serotonina possui importante
papel nas fases III e IV do sono não-REM e no limiar de dor. Pacientes com fibromialgia apresentam também diminuição dos
níveis de norepinefrina no líquido cerebrospinal. A noradrenalina está associada ao estado de alerta e à função vasomotora.
Tanto a serotonina como a norepinefrina possuem ação antinoceptiva, principalmente das vias descendentes supramedulares.
Níveis da substância algogênica P, no LCR de pacientes com fibromialgia, encontram-se em três a quatro vezes acima do nível
normal. A substância P está associada ao aumento da percepção da dor. Agentes que especificamente diminuem a substância
P demonstram melhora da sintomatologia álgica nestes pacientes.
Distúrbios do sono
O principal distúrbio do sono encontrado entre pacientes com fibromialgia é o de sono não repousante. As queixas de alterações
do sono estão relacionadas às características polissonográficas que demonstram redução da eficiência do sono com aumento
do número de microdespertares, diminuição da quantidade do sono de ondas lentas com a intrusão anormal de ondas alfa nas
fases de sono profundo do sono NREM, o que caracteristicamente é denominado padrão alfa-delta de sono. Nos distúrbios do
sono, o padrão alfa-delta é observado em até 90% dos pacientes com fibromialgia. Há uma correlação positiva entre a
quantidade de ondas alfa durante o sono de ondas lentas e a queixa de sono não restaurador, e há, também, uma correlação
entre o sono não restaurador e as queixas dolorosas. Concluindo, não existe qualquer evidência de que um simples evento
cause a fibromialgia. Pelo contrário, fatores físicos e/ou emocionais podem darinício ou agravar os sintomas já existentes.
Quadros infecciosos como doenças virais, principalmente a hepatite-C, doença de Lyme ou traumatismos físicos, incluindo
aqui as doenças ocupacionais relacionadas ao trabalho (DORT), estão entre possíveis desencadeantes e cabe esclarecer que
mesmo após a resolução do quadro precipitante, os sintomas tendem a persistir nos indivíduos susceptíveis à síndrome
fibromiálgica. As múltiplas apresentações que a fibromialgia pode assumir são um dos fatores que contribuem para a
complexidade do quadro.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Sinais e Sintomas
Dor
O sintoma central da fibromialgia é a dor e rigidez crônica generalizada. Caracteristicamente, a dor é descrita como vaga e
constante, a qual se agrava com a hiperatividade muscular. A dor relacionada com a fibromialgia, em geral, é percebida como
originária do músculo; todavia, muitos pacientes também relatam dor articular, embora não apresentem evidências objetivas
de artrite.
Fadiga
A fatigabilidade aumentada em decorrência de esforço físico, mental e estressores psicológicos é típica da fibromialgia.
Pacientes com síndrome de fadiga crônica (SFC) possuem muitas similaridades com pacientes com fibromialgia; cerca de
Distúrbio do Sono
Pacientes com fibromialgia têm um sono não reparador. Mesmo se dormirem continuamente por 8 a 10 horas, eles despertam
sentindo-se cansados. Muitos exibem um padrão eletroencefalográfico alfa-delta que poderia explicar o fato de eles nunca
alcançarem os estágios 3 e 4 do sono não REM (não movimentos oculares rápidos, considerados como restorativos. Uma noite
de sono ruim frequentemente agrava os sintomas da fibromialgia no dia seguinte.
Disfunção Cognitiva
A disfunção cognitiva é uma queixa proeminente de muitos pacientes. Comumente, eles descrevem dificuldades com a
memória de curto prazo, concentração, análise lógica e motivação. Estudos recentes documentaram defeitos na memória do
trabalho e na fluência verbal.
Distúrbio Psicológico
O fato de o paciente ser portador de um transtorno doloroso crônico, para o qual, até o momento, não existe cura, gera como
consequência uma crise existencial. Embora sejam comuns em pacientes portadores de FM, os transtornos psiquiátricos não
parecem estar intrinsecamente relacionados com a fisiopatologia da FM; O tratamento eficaz da depressão por um inibidor
seletivo da recaptação de serotonina (ISRS) não elimina a dor da FM. No entanto, a FM e a depressão apresentam um
agrupamento familiar sugestivo de uma suscetibilidade genética subjacente.
DIAGNÓSTICO
× História clínica: dor generalizada localizada no hemicorpo direito e esquerdo, acima e abaixo da cintura, além do eixo
axial (região cervical, face anterior do tórax, dorso e região lombar) com duração superior a três meses.
× Exame físico: dor à palpação digital com 4 kg/cm em áreas denominadas pontos dolorosos (tender points) em 11 ou
mais dos seguintes pontos (bilateralmente):
o Inserção dos músculos suboccipitais na o Quadrante látero-superior da região
nuca glútea, abaixo da espinha ilíaca
o Ligamentos dos processos transversos o Inserções musculares no trocanter
da quinta à sétima vértebra cervical femoral
o Bordo rostral do trapézio o Dois centímetros rostralmente à linha
o Músculo supra-espinal articular do côndilo mediai do fêmur
o Junção do músculo peitoral com a o Quando o número de pontos dolorosos é
articulação costocondral da segunda inferior a 11, mas há concomitância de
costela outros sintomas e sinais, o diagnóstico
o Dois centímetros abaixo do epicôndilo de fibromialgia também pode ser
lateral do cotovelo realizado.
O diagnóstico da FM geralmente se baseia nos critérios de classificação de 1990 recomendados pelo American College of
Rheumatology (ACR). Seguem as localizações dos nove pontos pareados e hipersensíveis:
× Região occipital: bilateralmente, nas inserções do músculo occipital cervical
inferior: bilateralmente, nos aspectos inferiores dos espaços intertransversos
entre C5-C7.
× Trapézio: bilateralmente, no ponto médio da borda superior
× Supraespinal: bilateralmente, na origem, acima da crista escapular, próximo à
borda medial
× Segunda costela: bilateralmente, na segunda articulação costocondral, em
um ponto imediatamente lateral às junções das superfícies superiores.
× Epicôndilo lateral: bilateralmente, 2cm distalmente aos epicôndilos
× Glúteo: Bilateralmente, nos quadrante súpero-externo do glúteo.
× Trocanter maior: bilateralmente, posteriormente à proeminência trocantérica.
× Joelho: bilateralmente, no coxim adiposo medial, proximalmente à linha
articular
Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Dor – Problema 2 – Fechamento
Obs: A FM não é um diagnóstico de exclusão; por esta razão, testes laboratoriais e aquisições de imagens não contribuem
para o estabelecimento do diagnóstico de acordo com os critérios do ACR de 1990, embora sejam frequentemente indicados
na avaliação dos geradores de dores periféricas associadas.
A classificação de FM de acordo com os critérios do American College of Rheumatology de 1990 (ACR 1990) depende,
primariamente, da presença de dor difusa (acima e abaixo da cintura, dimídio direito e esquerdo e axial) e do exame físico dos
pontos dolorosos. Os critérios diagnósticos preliminares de FM do ACR de 2010 são baseados no número de regiões dolorosas
do corpo e na presença e gravidade da fadiga, do sono não reparador e da dificuldade cognitiva, bem como na extensão de
sintomas somático.
O uso do Índice de Dor Generalizada - Widespread Pain Index (WPI >7), associado à Escala de Gravidade de Sintomas
- Symptom Severity (SS >5), ambos baseados nos sintomas do paciente (dor, fadiga, sono, cognição e sintomas somáticos),
permite acurácia diagnóstica de 90,8% (sensibilidade de 90,9% e especificidade de 85,9%) quando comparada aos critérios
ACR 1990. O Índice de Dor Generalizada (0 a 19) com ponto de corte > 8 permite o diagnóstico de FM com sensibilidade,
especificidade e acurácia.
A mensuração manual dos pontos dolorosos está correlacionada a variáveis de estresse ou depressão, medidas pelas
escalas Brief Symptom Inventory (BSI), Global Severity Index (GSI) e Beck Depression Inventory (BDI), define relação linear
entre o número de pontos dolorosos positivos e a intensidade de estresse e/ou depressão.Em pacientes com FM e média de
15 pontos dolorosos positivos há correlação entre a contagem de pontos dolorosos e o resultado da escala visual analógica
de dor, do Beck Depression Inventory na avaliação da depressão e do Fibromyalgia Impact Questionnaire, na avaliação da
gravidade da doença.
Os distúrbios do sono, as alterações de cognição e a fadiga devem ser considerados para o diagnóstico da FM. Sugere-se
considerá-los também na avaliação da gravidade dos pacientes com FM. Não existem evidencias cientificas para recomendar
o emprego da termografia para o diagnóstico da FM. Não é recomendado o uso da polissonografia para o diagnóstico da FM.
TRATAMENTO
O desconhecimento da etiopatogenia dificulta o estabelecimento de estratégias terapêuticas para doentes com SFM. O
tratamento inclui o controle da dor e da fadiga, a melhora do padrão do sono, o controle das anormalidades do humor, a melhora
da funcionalidade e a reintegração psicossocial, ou seja, há necessidade de interação interdisciplinar. Prevenção da recorrência
dos sintomas e melhora ou manutenção da qualidade de vida também é fundamental na reabilitação dos pacientes com SFM.
Farmacológico
Grande variedade de medicamentos é utilizada no tratamento de doentes com SFM. Embora os antidepressivos tricíclicos
sejam a pedra angular do tratamento, outros agentes têm se revelado igualmente eficazes, com o os analgésicos
antiinflamatórios não-hormonais (AINHs), os miorrelaxantes, os ansiolíticos, os sedativos e os opióides. Alguns desses
agentes podem ser usados como terapia primária, e outros, com papel adjuvante, corrigindo anormalidades do sono, a
ansiedade, a depressão e a fadiga.
Corticosteróides
Segundo um estudo duplo-cego cruzado com placebo durando duas semanas, a prednisona não modificou a intensidade da dor,
a anormalidade do sono, a rigidez matinal, os pontos dolorosos (PDs) e a fadiga de 20 doentes com SFM.
Opióides
Os opióides exercem efeitos antinociceptivos em vários locais do sistema nervoso central e periférico. O tramadol, que exerce
atividade opióide, bloqueadora de recaptação das monoaminas e agonista no receptor 5 -H T lA, parece ser eficaz em casos de
SFM. Além de ser analgésico, melhora a depressão e as anormalidades obsessivo-compulsivas. É provável que doses baixas
de codeína (15 a 30 mg três vezes ao dia) sejam bem toleradas prolongadamente. Doentes tratados com opióides não
apresentaram melhora na qualidade ou na intensidade de sua dor, e escalonaram seu uso e necessitaram de agentes m ais
Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Dor – Problema 2 – Fechamento
potentes ou de associação com benzodiazepínicos e/ ou outros psicofármacos. O s efeitos adversos e a preocupação com a
adição limitam o uso crônico dos opióides em doentes com SFM, especialmente porque o seu uso pode ser necessário para
toda a vida.
Anestésicos locais
A administração parenteral (endovenosa) diária de anestésicos locais (lidocaína) melhora os escores de dor e do humor durante
30 dias em doentes com SFM. Essa modalidade terapêutica é pouco aplicada pela maioria dos doentes com SFM.
Ansiolíticos
Os benzodiazepínicos são frequentemente prescritos em doentes com SFM, principalmente para tratar a ansiedade. Testaram
a associação de bromazepam com tenoxicam e apenas o tenoxicam; não houve diferença estatística entre o tratamento
combinado e o placebo. Também avaliaram a eficácia da amitriptilina, temazepam e placebo, segundo estudo com placebo em
10 doentes com SFM; concluíram que ocorreu significativa melhora na auto-avaliação, na avaliação global pelo investigador na
anormalidade do sono e na rigidez matinal nos doentes tratados com temazepam. O lorazepam revelou-se eficaz nos escores
de dor segundo estudo retrospectivo envolvendo pacientes com SFM. Os hipnóticos ou sedativos benzodiazepínicos de curta
ação (zolpidem, zopiclone) parecem melhorar o sono, mas não a dor em doentes com SFM. O zopiclone foi avaliado em dois
estudos duplo-cegos controlados com placebo; o zolpidem e o zopiclone melhoraram subjetivamente o sono, mas não a dor.
Os benzodiazepínicos não são recomendados como agentes de primeira linha ou para uso prolongado em doentes com SFM,
devido ao elevado risco de abuso, efeitos colaterais e crises de retirada.
Neurolépticos
A clorpromazina (100 mg) e o L -triptofano (5 g), administrados à noite, segundo estudo duplo-cego controlado com placebo,
envolvendo 15 doentes, aumentaram a duração do estágio quatro do sono; apenas a clorpromazina melhorou os pontos-gatilho
e os escores subjetivos de dor. A clorpromazina, entretanto, pode causar efeitos colaterais neurológicos.
Miorrelaxantes
A tizanidina é agonista alfa2-noradrenérgica; exerce efeito analgésico na dor crônica humana, tais como a lombalgia.
Anticonvulsivantes
Gabapentina, ácido valpróico e topiramato, apesar de gerarem variados graus de atividade antinociceptiva e antiepiléptica, não
foram adequadamente estudados em casos de SFM. A gabapentina (1.200 a 2.400 m g/dia) é segura e eficaz no tratamento
da dor e em outros sintomas associados à SFM. A pregabalina, em monoterapia, é eficaz na dose de 450 mg/dia no tratamento
da SFM, reduzindo os sintomas de dor, distúrbio do sono e fadiga quando com parado com o placebo. Ela foi bem tolerada e
houve melhora global e na qualidade de vida.
Antidepressivos
Segundo estudos controlados, 25 a 50 mg de amitriptilina ao dia é mais eficaz do que o placebo. Associada a analgésicos,
melhora a dor, a fadiga, a rigidez e as anormalidades do sono não-REM. A melhora é significativa em 25 a 45% dos doentes. A
eficácia, entretanto, reduz-se com o passar do tempo. Segundo pesquisas clínicas, tratamentos com duração de até três
meses proporcionam melhora significativa em 25 a 35% dos casos. Quando a duração do tratamento é de um ano, a maioria
dos doentes apresenta redução da eficácia; após três anos, cerca de dois terços dos doentes relatam dor moderada ou
persistente. Não houve melhora significativa da dor, incapacidade funcional, fadiga, anormalidades do sono ou do estado
psicológico dos doentes tratados durante um período de até seis meses e acompanhados durante sete anos. A qualidade de
vida manteve-se insatisfatória em metade dos doentes. A manutenção do tratamento deve envolver amitriptilina (25 a 75
mg/dia) ou ciclobenzaprina (10 a 40 mg/dia) e algum AINH (ibuprofeno 400 a 800 mg/dia, cetoprofeno 500 a 1.000 mg/dia).
Em casos de depressão marcante, há necessidade de doses maiores de antidepressivos. Nesses doentes, os efeitos colaterais
são menos comuns. O s ADTs são muito utilizados no tratamento da SFM. A amitriptilina e a clomipramina representam os
ADTs m ais bem avaliados no tratamento da SFM nos EUA. Drogas serotoninérgicas (amitriptilina, clomipramina) são mais
eficazes no alívio da dor e melhora do sono, e drogas noradrenérgicas (maprotilina) melhoram a fadiga e o comprometimento
emocional. Os inibidores da recaptação da serotonina (ISRSs) foram usados por 11% dos doentes com SFM em seis centros
durante sete anos nos EUA; apresentaram menos efeitos adversos do que os ADTs devido à sua seletividade para as
monoaminas. A melhora clínica não é associada à anormalidade do sono alfa e REM e à depressão; os ISRSs, mesmo em doses
com atividade antidepressiva superior, proporcionam melhora significativa da depressão, mas não da dor. A pesar de os ISRSs
ainda não serem eficazes no tratamento da SFM, doentes deprimidos podem ter melhora, especialmente em combinação com
a amitriptilina.
Não-Farmacológico
Os pacientes com fibromialgia devem ser orientados a realizarem exercícios musculoesqueléticos pelo menos duas vezes por
semana. Programas individualizados de exercícios aeróbicos podem ser benéficos para alguns pacientes que devem ser
orientados a realizar exercícios aeróbicos moderadamente intensos (60%-75% da frequência cardíaca máxima ajustada para
a idade [210 menos a idade do paciente]) duas a três vezes por semana, atingindo o ponto de resistência leve, não o ponto de
dor, evitando, dessa forma, a dor induzida pelo exercício.
× Isso é especialmente importante no subgrupo de indivíduos com hipermobilidade articular.
× O programa de exercícios deve ter início em um nível logo abaixo da capacidade aeróbica do paciente e progredir em
frequência, duração ou intensidade assim que seu nível de condicionamento e força aumentar.
× A progressão dos exercícios deve ser lenta e gradual e se deve, sempre, encorajar os pacientes a dar continuidade
para manter os ganhos induzidos pelos exercícios.
× Programas individualizados de alongamento ou de fortalecimento muscular também podem ser benéficos para alguns
pacientes com fibromialgia.
Outras terapias, como reabilitação e fisioterapia ou relaxamento, podem ser utilizadas no tratamento da fibromialgia,
dependendo das necessidades de cada paciente. A terapia cognitivo-comportamental é benéfica para alguns pacientes com
fibromialgia. O suporte psicoterápico também pode ser utilizado no tratamento da fibromialgia, dependendo das necessidades
de cada paciente
× Não houve consenso sobre a indicação de tratamentos com acompanhamento clínico como a balneoterapia ou
acupuntura.
× Houve consenso em não recomendar a hipnoterapia, o biofeedback, a manipulação quiroprática e a massagem
terapêutica para o alívio da dor na fibromialgia.
× Outras terapias, como pilates, RPG (reeducação postural global) e o tratamento homeopático, não foram
recomendadas para o tratamento da fibromialgia.
Não existem evidências científicas de que terapias alternativas, como chás, terapias ortomoleculares, cristais, cromoterapia
e florais de Bach, entre outros, sejam eficazes. Não há, também, evidências científicas de que infiltrações de pontos dolorosos
da fibromialgia sejam eficazes
LOMBOCIALTAGIA
FISIOPATOLOGIA
A lombalgia pode ser conceituada como uma dor de característica mecânica, localizada entre a parte mais baixa do dorso
(última costela) e a prega glútea, que aparece após força física excessiva em estruturas normais ou após ação de força física
normal em estruturas lesadas. A lombociatalgia surge quando esta dor se irradia para as nádegas e um ou ambos os membros
inferiores.
Na maioria dos pacientes, ainda hoje, é muito difícil diagnosticar as causas da lombalgia, principalmente a lombalgia crônica,
freqüentemente em razão da falta de evidências radiológicas de lesão. Somente cerca de 30% dos pacientes sintomáticos
apresentam alterações da coluna lombar na mielografia, tomografia computadorizada ou ressonância nuclear magnética. Como
a maioria dos casos não necessita cirurgia, há poucas informações que comprovam a existência da lesão tecidual
correlacionada com os sintomas dolorosos. Existem, frequentemente associados, espasmos musculares reativos que
protegem a coluna de outros danos e muitas vezes mascaram a verdadeira causa da dor. As lombalgias e lombociatalgias
podem ser primárias ou secundárias, com e sem envolvimento neurológico, sendo classificadas em:
Infecciosas
Como Repercussão de Doença Sistêmica
Doenças sistêmicas que podem acometer estruturas intra e extra-raquideanas, a fibromialgia e a síndrome miofascial que
podem causar contraturas musculares e hipóxia tecidual gerando dor. Quanto à sua duração, podem ser classificadas em:
1. aguda: até sete dias; 3. crônica: quando os sintomas duram mais de três
2. subaguda: de sete dias até três meses; meses.
Etiologia
As principais etiologias da lombociatalgia são:
Protrusão discal
Cerca de 90% dos casos de ciatalgia lombar estão relacionados a um processo
inflamatório sobre a raiz nervosa causada pela reação inflamatória consequente
Hérnia de Disco
Condição em que além do processo inflamatório sobre a raiz nervosa há uma compressão mecânica dessa raiz pelo disco
intervertebral, com prevalência de 5%. Tal condição tem maior incidência entre a terceira e quarta décadas de vida. Isso, pois
nessa fase da vida o processo degenerativo do disco intervertebral encontra-se em um momento em que ainda há pressão no
interior do núcleo pulposo, porém o ânulo fibroso já apresenta redução de sua capacidade de resistir a essa pressão interna.
Com isso ocorrem rupturas no ânulo fibroso e consequente compressão de uma raiz nervosa no interior do canal vertebral ou
no forâmen intervertebral.
Síndrome pós-laminectomia
Cerca de 10 a 40% dos pacientes que são submetidos a cirurgia de coluna lombar para alívio de dor, independente da técnica
cirúrgica utilizada, evoluem com dor crônica neuropática no membro inferior que é responsável por perda da QV. Tal condição
tem etiologia multifatorial e está relacionada a eventos pré, intra e pós-operatórios.
Síndrome do piriforme
Cerca de 6% dos casos de ciatalgia lombar podem ser relacionados à síndrome do piriforme. Tal condição está relacionada à
compressão do nervo ciático pelo músculo piriforme ou mesmo pelo tendão desse músculo no assoalho pélvico. Isso ocorre
quando há hipertrofia, inflamação ou variação anatômica do músculo.
QUADRO CLÍNICO
O diagnóstico preciso do padrão de dor é essencial para se obter bom resultado terapêutico, visto que o fármaco deve ser
específico para cada tipo de dor: nociceptiva, neuropática ou mista. A identificação do componente neuropático depende de
anamnese e exame físico minuciosos, além dos exames complementares. A DN é espontânea e pode ter algumas
características clínicas específicas, como:
× Hiperalgesia: dor exagerada (desproporcional) a um estímulo habitualmente doloroso;
× Hiperpatia: reação exagerada aos estímulos álgicos intensos ou repetitivos aplicados em regiões hipoestésicas;
× Alodínea: dor devido a um estímulo que normalmente não provoca dor.
O exame físico deve incluir inspeção estática e dinâmica, marcha, manobras especiais provocativas, palpação (partes ósseas
e partes moles), além da avaliação de pontos-gatilho (PG) miofasciais. Os PG estão presentes em 85% dos pacientes avaliados
em centros de dor e é uma das principais causas de dores crônicas. O exame neurológico deve avaliar motricidade, sensibilidade
(tátil, dolorosa, térmica e vibratória) e reflexos tendíneos profundos no tendão patelar (L4) e Aquileu (S1). A manobra
provocativa mais utilizada é o teste da elevação da perna estendida, que é considerada positiva para comprometimento do
nervo ciático quando reproduz os sintomas radiculares em uma elevação entre 35° e 70°.
TRATAMENTO
Uma abordagem terapêutica correta da lombalgia aguda com a combinação de tratamento conservador, escolas de coluna,
orientação ergonômica e fisioterápica é capaz de influenciar sua evolução evitando a cronicidade.
Conservador
Repouso
Posição: decúbito supino, joelhos fletidos e pés apoiados sobre o leito e/ou com flexão das pernas num ângulo de 90° com as
coxas e destas com a bacia. Objetivo: retificar a coluna lombar (posição de Zassirchon).
Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Dor – Problema 2 – Fechamento
Duração: em média 3 a 4 dias, máximo 5 a 6 dias, não deve ser prolongado, pois a inatividade tem ação deletéria sobre o
parelho locomotor. O retorno às atividades habituais deve ser feito o mais rápido possível.
Medicamentos
Analgésicos Não Opióides
1. Paracetamol (acetaminofen) 500mg de 4 a 6 vezes ao dia, nas dores leve a moderada. Cautela em pacientes com
hepatopatias e associado a antiinflamatório não hormonal.
2. Dipirona 500mg até 4 vezes ao dia.
Analgésicos Opióides
Usados em lombalgia aguda e lombociatalgia por hérnias discais resistentes a outros analgésicos, fraturas e metástases.
1. Fosfato de codeína 30mg 3 a 4 vezes ao dia
2. Cloridrato de tramadol 100 a 400mg por dia
3. Oxicodona 5 a 10mg, 3 a 4 vezes ao dia.
4. Sulfato de morfina: indicação restrita a casos graves
Antiinflamatórios Não Hormonais (AINH)
São utilizados freqüentemente, pois apresentam efeitos analgésicos, antiinflamatórios e antipiréticos associados. Uma
revisão do “Cochrane Controlled Trials Reistry” mostrou que são efetivos no controle dos sintomas em curto prazo, nas
lombalgias mecânicas agudas, e nenhum tipo específico mostrou claramente ser mais efetivo que outro.
1. Inibidores da atividade das cicloxigenases (COX 1/COX 2) e das prostaglandinas: todas as classes podem ser
utilizadas nas doses usuais recomendadas.
2. Inibidores da cicloxigenases II (COX 2): pacientes de risco para complicações gastrointestinais e idosos.
a. Valdecoxibe: 10mg/dia
b. Rofecoxibe: 50 mg/dia
c. Celecoxibe: 100 a 200mg de 12/12 horas.
Glicocorticóides
Indicados nos casos de lombociatalgia aguda.
Relaxantes Musculares
Podem ser associados aos AINHs mostrando melhor resultado do que quando usados isoladamente.
1. Ciclobenzaprina: 5 a 10 mg/dia, relaxante muscular de ação central estruturalmente relacionados com os
antidepressivos tricíclicos.
2. Carisoprodol: 350 mg/dia, medicação de uso em curto prazo.
Antidepressivos
Indicados nas lombalgias crônicas com componente psicossomático e nas fibromialgias.
Infiltração
Apenas as infiltrações epidurais com glicocorticóides, anestésicos e opióides podem ser utilizadas nos casos de
lombociatalgia aguda após falha com o tratamento medicamentoso e medidas físicas. Deve ser feita por especialistas
experientes e se possível com fluoroscopia.
Reabilitação
Deve ser baseada em seis pilares:
1. Controle da dor e do processo inflamatório através dos meios físicos. Deve-se lembrar de que não existem evidências
científicas de sua eficácia no tratamento da dor lombar. São utilizados apenas como coadjuvantes.
2. Restauração da amplitude dos movimentos articulares e alongamento dos tecidos moles. Exercícios de extensão
podem reduzir a compressão radicular, assim como exercícios de flexão reduzem a tensão nas facetas articulares e
o espasmo da musculatura dorso lombar. O uso de ultra-som pode melhorar a extensibilidade do colágeno.
3. Melhora da força e resistência musculares. Exercícios de treinamento para melhorar e fortalecer a estrutura
musculoligamentar, buscando minimizar o risco de lesão das estruturas envolvidas na dor (disco intervertebral,
articulações interfacetárias e estruturas ligamentares). Iniciar com exercícios isométricos e a seguir exercícios
isotônicos.
4. Coordenação motora. Exercícios dinâmicos com atividade coordenada de grupos musculares que proporcionam o
controle da postura e da função muscular com estabilidade da coluna.
Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Dor – Problema 2 – Fechamento
5. Melhora do condicionamento físico. Através de programas de caminhada, atividades aquáticas, bicicleta ou esteira
pode-se aumentar os níveis de endorfina, promovendo sensação de bem-estar e diminuição da percepção dolorosa.
6. Manutenção de programas de exercícios. Prática de exercícios em casa que devem ser programados de acordo com a
tolerabilidade e habilidade do paciente.
Tratamento Cirúrgico
Deve ser baseado no diagnóstico clínico e nos exames por imagens. Na lombalgia mecânica é indicado apenas nos casos
resistentes ao tratamento conservador com evolução atípica, podendo ser feitas infiltrações nas discopatias, dos pontos
dolorosos e perifacetárias além de denervação facetária e artrodese do segmento vertebral. Nas hérnias discais é indicado
nos casos de déficit neurológico grave agudo com ou sem dor, nas lombociatalgias de difícil controle álgico após três meses
de tratamento conservador e na síndrome da cauda eqüina. Na síndrome do canal estreito é realizado em caráter individual nos
casos incapacitantes e progressivos. Na lombalgia de origem tumoral através de técnica por abordagem direta.
Em alguns casos de fraturas por osteoporose podem ser realizadas vertebroplastia, descompressão e artrodese, porém, tais
procedimentos são raramente utilizados. Nas lombalgias inflamatórias como a espondilite anquilosante indica-se raramente
o tratamento cirúrgico nos casos de dor por compressão do canal vertebral e instabilidade. Nas espondilodiscites (lombalgias
infecciosas) é indicado nos casos de evolução desfavorável com o tratamento clínico, recomendando-se a biópsia diagnóstica
fechada ou aberta.
Antidepressivos tricíclicos
Os antidepressivos tricíclicos (ADTs; imipramina, desipramina, amitriptilina, nortriptilina, clomipramina) ainda são amplamente
utilizados. Estão, contudo, longe do ideal na prática, e foi a necessidade de fármacos que atuem mais rápida e confiavelmente,
que produzam menor quantidade de efeitos adversos e sejam menos prejudiciais na superdosagem que levou à introdução de
inibidores da captura de 5-HT mais modernos e outros antidepressivos. Os ADTs têm estrutura estreitamente relacionada com
a dos fenotiazínicos e foram inicialmente sintetizados como antipsicóticos em potencial. Vários são aminas terciárias e são
desmetilados bem rapidamente in vivo às aminas secundárias correspondentes (p. ex., imipramina para desipramina,
amitriptilina para nortriptilina), que são, elas próprias, ativas e podem ser administradas como fármacos por si mesmas. Outros
derivados tricíclicos com estruturas de ligações um pouco modificadas incluem a doxepina. Alguns ADTs também são usados
para tratar dor neuropática.
Mecanismo de ação
O principal efeito imediato dos ADTs é bloquear a captura das aminas pelas terminações nervosas, por competição pelo ponto
de ligação do transportador de aminas. A maioria dos ADTs inibe a captura de norepinefrina e de 5-HT, mas tem muito menos
efeito sobre a captura de dopamina. Sugerese que a melhora dos sintomas emocionais reflita principalmente aumento na
transmissão mediada por 5-HT, enquanto o alívio dos sintomas biológicos resulte da facilitação da transmissão noradrenérgica.
A interpretação torna-se difícil pelo fato de os principais metabólitos dos ADTs possuírem considerável atividade farmacológica
(em alguns casos mais que a do fármaco de origem) e costumarem diferir do fármaco de origem com respeito à sua seletividade
Farmacocinética
Os IMAOs são bem absorvidos por administração oral. A regeneração de enzima, quando é inativada irreversivelmente, varia,
mas em geral ocorre várias semanas depois de terminar a administração do fármaco. Assim, quando houver troca de
antidepressivos, deve haver um intervalo mínimo de 2 semanas após o fim do tratamento com IMAO e o início de outro
antidepressivo de qualquer outra classe. Os IMAOs são biotransformados no fígado e excretados rapidamente na urina.
Outros agentes
O metilfolato, administrado como suplemento diário, pode ser eficaz em indivíduos depressivos que apresentam baixos níveis
de folato. O estrogênio, que é conhecido por melhorar o humor em mulheres durante a prémenopausa, pode também ser útil
para o tratamento da depressão pós-parto. Sua eficácia no tratamento de outras formas de depressão não está clara. Além
das bem documentadas ações hormonais no organismo, também apresenta ações nos sistemas monoaminérgicos,
GABAérgicos e glutamatérgicos cerebrais.
ANTICONVULSIVANTES E ANTIARRÍTMICOS
Diversos agentes farmacológicos utilizados no controle da excitabilidade celular excessiva que leva à ocorrência de convulsões
ou arritmias cardíacas também podem ser empregados para controlar os sintomas de algumas condições de dor crônica. Na
investigação de fármacos capazes de produzir analgesia, vários desses agentes foram testados, com base na sua capacidade
de reduzir a excitabilidade neuronal. Entre esses fármacos, os que possuem maior valor clínico são os anticonvulsivantes
gabapentina, pregabalina, lamotrigina e carbamazepina. A gabapentina tornou-ser amplamente utilizada no manejo da dor
crônica. Foi originalmente desenvolvida como análogo estrutural do GABA; entretanto, não se liga ao receptor de GABA e não
afeta o metabolismo ou a recaptação do GABA.
A gabapentina liga-se à subunidade 2 dos canais de cálcio dependentes de voltagem, porém ainda não foi estabelecido
exatamente como a ligação a esse sítio diminui a atividade neuronal e a dor nos pacientes. Estudos clínicos randomizados da
neuropatia diabética e neuralgia do trigêmeo mostraram que a gabapentina é superior ao placebo na redução da dor
subjetivamente relatada. A gabapentina possui alguma eficácia na redução da dor pós-operatória. A gabapentina está
associada a diversos efeitos adversos, particularmente tontura, sonolência, confusão e ataxia. Acredita-se de modo geral que
os efeitos adversos da gabapentina são mais leves que os da amitriptilina, porém isso ainda não foi comprovado em um estudo
clínico. No caso apresentado na introdução, a gabapentina reduziu a dor paroxística espontânea de JD, provavelmente ao
diminuir a excitabilidade neuronal aberrante. Entretanto, o mecanismo molecular exato da ação da gabapentina permanece
controverso.
Um problema relacionado com a gabapentina é o fato de a sua biodisponibilidade oral não ser previsível nem linear. Alguns
pacientes necessitam de uma dose 10 vezes maior do fármaco do que outros para obter um efeito semelhante. Um agente
antiepiléptico mais novo com estrutura semelhante é a pregabalina; esse análogo GABA substituído é mais potente e possui
início de ação mais rápido e biodisponibilidade mais previsível do que a gabapentina. A pregabalina produz um efeito analgésico
semelhante ao da gabapentina em pacientes com dor neuropática e fibromialgia, e ambos os fármacos exibem efeitos
colaterais semelhantes no SNC. A pregabalina também produz um efeito eufórico leve em alguns pacientes. Em virtude de sua
potência aumentada, sustenta-se que os efeitos adversos relacionados com a dose podem ser melhores com a pregabalina do
que com a gabapentina.
A carbamazepina atua através do bloqueio dos canais de sódio; esse fármaco é utilizado primariamente no tratamento da
neuralgia do trigêmeo, porém, apresenta um perfil de efeitos adversos relativamente alto. A oxcarbazepina é um derivado
estrutural estreito da carbamazepina, com um átomo de oxigênio adicional decorando o grupo benzilcarboxamida. Essa
diferença altera o metabolismo do fármaco no fígado. O aspecto mais importante é que a oxcarbazepina reduz o risco de anemia
Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Dor – Problema 2 – Fechamento
aplásica, que constitui um efeito colateral grave algumas vezes associado ao uso da carbamazepina. A lamotrigina, um agente
antiepiléptico que também atua como bloqueador dos canais de sódio, diminui os sintomas sensoriais dolorosos que podem
ocorrer na neuropatia, no acidente vascular cerebral, na esclerose múltipla e na dor do membro fantasma; entretanto, apresenta
uma elevada incidência de reações cutâneas. O uso da mexiletina, um agente antiarrítmico, é limitado pelos efeitos
gastrintestinais causados pela paralisia do trato gastrintestinal. A lidocaína, um bloqueador dos canais de sódio dependente
do uso, é tipicamente utilizada como anestésico local para anestesia regional. Esse fármaco também é utilizado topicamente
em emplastros para pacientes com dor cutânea, bem como para pacientes com neuralgia pós-herpética. A lidocaína também
pode ser utilizada para manejo da dor regional quando administrada por via intravenosa.
Mecanismo De Ação
Os fármacos antiepilépticos têm como objetivo inibir a despolarização neuronal anômala, em vez de corrigir a causa do
fenômeno. Três mecanismos de ação principais parecem ser importantes:
1. Potencialização da ação do 2. Inibição da função dos 3. Inibição da função dos
GABA. canais de sódio. canais de cálcio.
O intuito é impedir a despolarização paroxística sem afetar a transmissão normal. Está claro que propriedades como
dependência do uso e dependência da voltagem dos bloqueadores de canais são importantes para obter essa seletividade,
mas nossos conhecimentos continuam fragmentários.
FÁRMACOS ANSIOLÍTICOS
Ao longo da última década o tratamento farmacológico da ansiedade mudou da utilização dos agentes ansiolíticos/hipnóticos
tradicionais (como os benzodiazepínicos e barbitúricos) para o uso de fármacos também utilizados para tratar outros
distúrbios do sistema nervoso central (SNC) (i. e., fármacos antidepressivos, antiepilépticos e antipsicóticos) ou agonistas
dos receptores 5-hidroxitriptamina (5-HT)1A (i. e., buspirona) que não têm efeito hipnótico. Além disso, os benzodiazepínicos,
ao mesmo tempo que são fármacos ansiolíticos eficazes, têm a desvantagem de causar efeitos secundários não desejáveis,
como amnésia, capacidade de induzirem tolerância e dependência física, assim como serem drogas de uso abusivo. Eles são
também ineficazes em tratar a depressão que ocorre juntamente com ansiedade. No entanto, os antidepressivos e a buspirona
requerem três ou mais semanas para mostrarem efeito terapêutico e têm que ser tomados continuamente, enquanto os
benzodiazepínicos podem ser utilizados em pacientes que necessitam de um tratamento agudo já que reduzem a ansiedade
em 30 minutos e podem ser tomados em uma “base de SOS”. Nos anos mais recentes um número infinito de bebidas de
“relaxamento” contendo neurotransmissores do SNC, seus precursores ou outros hormônios e aminoácidos, foi colocado no
mercado sem qualquer evidência de eficácia.
CLASSIFICAÇÃO
Os principais grupos de fármacos são os seguintes:
× Antidepressivos: Inibidores seletivos da recaptação da serotonina (5-HT) (ISRSs; p. ex., fluoxetina, paroxetina e
sertralina) e inibidores da recaptação da serotonina/norepinefrina (ISRSNs; p. ex., venlafaxina e duloxetina) são
efetivos no tratamento do distúrbio de ansiedade generalizada, fobias, distúrbio da ansiedade social e distúrbio do
estresse pós-traumático. Outros antidepressivos (antidepressivos tricíclicos [ADTs] e inibidores da monoamino-
oxidase [IMAO]) são também eficazes, mas um perfil de efeitos secundários mais baixo favorece o uso dos ISRSs.
Esses agentes têm a vantagem adicional de reduzir a depressão, que está frequentemente associada à ansiedade.
× Benzodiazepínicos: Utilizados para tratar a ansiedade generalizada. Aqueles usados para tratar a ansiedade têm uma
meia-vida biológica longa. Eles podem ser usados durante a estabilização de um paciente que utiliza ISRSs. Existe
alguma evidência de que, no distúrbio de pânico, a combinação de um benzodiazepínico com um ISRS parece ser
melhor que um ISRS isoladamente.
× Buspirona: Esse agonista do receptor 5-HT1A é eficaz no distúrbio da ansiedade generalizada, mas ineficaz no
tratamento das fobias e no distúrbio da ansiedade social.
× Gabapentina, pregabalina, tiagabina, valprosto e levetiracetam, fármacos antiepilépticos são também eficazes no
tratamento do distúrbio da ansiedade generalizada.
× Alguns antipsicóticos atípicos, tais como olanzapina, risperidona, quetiapina e ziprasidona, podem ser eficazes em
algumas formas de ansiedade, incluindo o distúrbio da ansiedade generalizada e o distúrbio do estresse pós-
traumático.
× Antagonistas β-adrenorreceptores (p. ex., propanolol): Esses são usados para tratar algumas formas de ansiedade,
particularmente quando sintomas físicos, tais como sudação, tremor e taquicardia, são incapacitantes. A sua eficácia
depende do bloqueio das respostas simpáticas periféricas, mais do que efeitos centrais.
Benzodiazepínicos E Fármacos Associados
Mecanismo de ação
Os benzodiazepínicos atuam seletivamente nos receptores
GABAA, que medeiam a transmissão sináptica inibitória através
do sistema nervoso central. Os benzodiazepínicos aumentam
a resposta do GABA ao facilitar a abertura dos canais de cloro
ativados pelo GABA. Eles se ligam especificamente a um ponto
regulador do receptor, distinto dos pontos do GABA, e atuam
alostericamente para aumentar a afinidade do GABA pelo
receptor. Registros de canais únicos mostram um aumento da
frequência de abertura dos canais por uma determinada
concentração de GABA, mas não mostram qualquer alteração
na condutância ou no tempo médio de abertura, consistente
com o efeito da ligação do GABA e não com o mecanismo de abertura do canal. Os benzodiazepínicos não afetam os receptores
Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Dor – Problema 2 – Fechamento
para outros aminoácidos, tais como a glicina ou o glutamato. Os pontos periféricos de ligação dos benzodiazepínicos não
associados aos receptores GABA estão presentes em muitos tecidos. O alvo é uma proteína conhecida como proteína
translocadora localizada primariamente nas membranas mitocondriais.
Os alvos para as ações dos benzodiazepínicos são os receptores do ácido γ-aminobutírico tipo A GABAA. (Nota: o GABA é o
principal neurotransmissor inibitório no sistema nervoso central [SNC].) Os receptores do GABAA são compostos de uma
combinação, no somatório de cinco subunidades α, β e γ inseridas na membrana pós-sináptica. Para cada subunidade existem
vários subtipos (p. ex., há seis subtipos da subunidade α). A fixação do GABA ao seu receptor inicia a abertura do canal iônico
central, permitindo a entrada de cloro através do poro. O influxo do íon cloreto causa hiperpolarização do neurônio e diminui a
neurotransmissão, inibindo a formação de potenciais de ação. Os benzodiazepínicos modulam os efeitos do GABA ligando-se a
um local específico de alta afinidade (distinto do local de ligação do GABA), situado na interface da subunidade α e da
subunidade γ no receptor GABAA. (Nota: esses locais de ligação, algumas vezes, são denominados receptores
benzodiazepínicos [BZ]. Subtipos de receptores BZ comuns no SNC são designados de BZ1 ou BZ2 dependendo do local de
ligação incluir uma subunidade α1 ou α2, respectivamente.) Os benzodiazepínicos aumentam a frequência da abertura dos
canais produzida pelo GABA. (Nota: a ligação do benzodiazepínico ao seu receptor aumentará a afinidade do GABA por seus
locais de ligação, e vice-versa). Os efeitos clínicos dos vários benzodiazepínicos se correlacionam bem com a afinidade de
ligação de cada fármaco pelo complexo receptor GABA-canal de íon cloreto.
Ações
1. Redução da ansiedade: Em doses baixas, os benzodiazepínicos são ansiolíticos. A redução da ansiedade é atribuída à
potenciação seletiva da transmissão gabaérgica em neurônios que têm a subunidade α2 em seus receptores GABAA,
inibindo, assim, os circuitos neuronais no sistema límbico do cérebro.
2. Efeito hipnótico/sedativo: Todos os benzodiazepínicos têm propriedades sedativa e calmante, e alguns podem
produzir hipnose (sono produzido “artificialmente”) em doses mais elevadas. O efeito hipnótico é mediado pelos
receptores α1-GABAA.
3. Amnésia anterógrada: A perda temporária da memória com o uso de benzodiazepínicos também é mediada pelos
receptores α1-GABAA. A capacidade de aprender e formar novas memórias também é reduzida.
4. Efeito anticonvulsivante: Vários benzodiazepínicos têm atividade anticonvulsivante. Esse efeito é parcialmente
mediado pelos receptores α1-GABAA.
5. Relaxamento muscular: Em doses elevadas, os benzodiazepínicos diminuem a espasticidade do músculo esquelético,
provavelmente aumentando a inibição pré-sináptica na medula espinal, onde predominam os receptores α2-GABAA. O
baclofeno é um relaxante muscular que parece atuar nos receptores GABA na medula espinal.
Usos terapêuticos
Existem pequenas diferenças nas propriedades ansiolíticas, anticonvulsivantes e sedativas entre os diferentes
benzodiazepínicos. Contudo, a duração de ação varia amplamente no grupo, e considerações farmacocinéticas são importantes
na escolha de um ou outro benzodiazepínico.
1. Distúrbios de ansiedade: Os benzodiazepínicos são eficazes no tratamento dos sintomas da ansiedade secundária ao
transtorno de pânico, do transtorno de ansiedade generalizada (TAG), do transtorno de ansiedade social e por
performance, do transtorno de estresse pós-traumático, do transtorno obsessivo-compulsivo e da ansiedade extrema
encontrada, às vezes, em fobias específicas, como o medo de voar. Os benzodiazepínicos também são úteis no
tratamento da ansiedade relacionada com depressão e esquizofrenia. Esses fármacos devem ser reservados para a
ansiedade grave, e não devem ser usados para lidar com o estresse da vida diária. Devido ao potencial de viciar, eles
devem ser usados somente por pouco tempo. Os benzodiazepínicos de ação mais longa, como clonazepam, lorazepam
e diazepam, são preferidos nos pacientes com ansiedade que pode exigir tratamento por tempo prolongado. Os efeitos
ansiolíticos dos benzodiazepínicos são menos sujeitos à tolerância do que os efeitos sedativos e hipnóticos. (Nota:
tolerância – isto é, diminuição da resposta com doses repetidas – ocorre quando o uso se estende por mais de uma
ou duas semanas. A tolerância está associada a uma diminuição na densidade de receptores GABA.) Ocorre tolerância
cruzada entre benzodiazepínicos e etanol. Para o transtorno de pânico, o alprazolam é eficaz para tratamentos curtos
ou longos, embora possa causar reações de abstinência em cerca de 30% dos pacientes.
2. Distúrbios do sono: Poucos benzodiazepínicos são úteis como hipnóticos. Eles diminuem a latência para dormir e
aumentam o estágio II do sono não REM (sem movimentos rápidos dos olhos, do inglês rapid eyes movement). O sono
REM e o sono de ondas lentas são diminuídos. No tratamento da insônia, é importante o equilíbrio entre o efeito
sedativo necessário na hora de deitar e a sedação residual (“ressaca”) após o despertar. Os benzodiazepínicos
comumente prescritos contra os distúrbios do sono incluem os de ação intermediária (temazepam) e os de curta ação
Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Dor – Problema 2 – Fechamento
(triazolam). O de longa ação (flurazepam) é raramente usado, devido a sua longa meia-vida, que pode resultar em
sedação excessiva durante o dia e acúmulo do fármaco, especialmente em idosos. Estazolam e quazepam são
considerados de ação intermediária e longa, respectivamente.
a. Temazepam: Esse fármaco é útil em pacientes que acordam frequentemente. Contudo, como o efeito sedativo
máximo ocorre de 1 a 3 horas após a dose oral, ele deve ser administrado de 1 a 2 horas antes da hora
prevista para deitar.
b. Triazolam: Enquanto o temazepam é útil contra a insônia causada pela incapacidade de permanecer dormindo,
o triazolam é eficaz para tratar indivíduos que têm dificuldade em começar a dormir. Em poucos dias,
desenvolve-se tolerância, e a retirada do fármaco, em geral, resulta em insônia de rebote. Por isso, este
fármaco não é um dos mais indicados e é mais usado de modo intermitente. Em geral, os hipnóticos devem
ser usados por tempo limitado, geralmente menos de 2 a 4 semanas.
3. Amnésia: Em geral, os fármacos de ação curta são empregados como pré-medicação para procedimentos
desconfortáveis e que provocam ansiedade, como endoscopias e procedimentos odontológicos e angioplastia. Eles
causam uma forma de sedação consciente, permitindo ao paciente atender certas instruções durante esses
procedimentos. Midazolam é o benzodiazepínico usado para facilitar amnésia e causar sedação antes da anestesia.
4. Convulsões: Clonazepam é usado ocasionalmente como tratamento adjunto contra certos tipos de convulsões, e
lorazepam e diazepam são fármacos de escolha no controle do estado epilético. Devido à tolerância cruzada,
clordiazepóxido, clorazepato, diazepam, lorazepam e oxazepam são úteis no tratamento agudo da abstinência do
etanol, reduzindo o risco de convulsões associadas à abstinência.
5. Distúrbios musculares: O diazepam é útil no tratamento de espasmos dos músculos esqueléticos, como os que
ocorrem no estiramento, e no tratamento da espasticidade devida a doenças degenerativas, como esclerose múltipla
e paralisia cerebral.
Farmacocinética
1. Absorção e distribuição: Os benzodiazepínicos são lipofílicos. São rápida e completamente absorvidos após
administração oral, distribuem por todo organismo e entram no SNC.
2. Duração de ação: A meia-vida dos benzodiazepínicos é importante clinicamente, pois a duração da ação pode
determinar a utilidade terapêutica. Os benzodiazepínicos podem ser divididos em grupos de curta, média e longa ação.
Os benzodiazepínicos de ação mais longa formam metabólitos ativos com meias-vidas longas. Contudo, com alguns
benzodiazepínicos, a duração clínica da ação não se correlaciona com a meia-vida real (senão a dose de diazepam só
poderia ser administrada em dias alternados, devido a seus metabólitos ativos). Isso pode ser devido à velocidade de
dissociação do receptor no SNC e à subsequente redistribuição para os tecidos gordurosos e outras áreas.
3. Destino: A maioria dos benzodiazepínicos, incluindo o clordiazepóxido e o diazepam, é biotransformada pelo sistema
microssomal hepático para compostos que também são ativos. Para esses benzodiazepínicos, a meia-vida aparente
representa a soma das ações do fármaco principal e seus metabólitos. Os efeitos terminam não só por excreção, mas
também por redistribuição. Os benzodiazepínicos são excretados na urina como glicuronídeos ou metabólitos oxidados.
Todos os benzodiazepínicos atravessam a placenta e podem deprimir o SNC do neonato, se forem administrados antes
do parto. O uso dos benzodiazepínicos não é recomendado durante a gestação. Os lactantes também podem ser
expostos aos benzodiazepínicos pelo leite materno.
Dependência
Pode-se desenvolver dependência física e psicológica aos benzodiazepínicos se doses elevadas forem administradas por
longos períodos. Todos os benzodiazepínicos são fármacos controlados. A interrupção abrupta resulta em sintomas de
abstinência, incluindo confusão, ansiedade, agitação, intranquilidade, insônia, tensão e (raramente) convulsões. Os
benzodiazepínicos com meia-vida de eliminação curta, como o triazolam, induzem reações de abstinência mais abruptas e
graves do que as observadas com os de eliminação mais lenta, como o flurazepam.
Efeitos adversos
Sedação e confusão são os efeitos adversos mais comuns dos benzodiazepínicos. Ocorre ataxia em doses elevadas, impedindo
as atividades que exigem coordenação motora fina, como dirigir automóvel. Pode ocorrer comprometimento cognitivo
(diminuição da evocação de memória e da retenção de novos conhecimentos) com o uso dos benzodiazepínicos. O triazolam
com frequência apresenta rápido desenvolvimento de tolerância, insônia da madrugada e ansiedade durante o dia, bem como
amnésia e confusão.
Os benzodiazepínicos devem ser usados cautelosamente em pacientes com doença hepática. Eles devem ser evitados em
pacientes com glaucoma de ângulo fechado agudo. Álcool e outros depressores do SNC potencializam seus efeitos
Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Dor – Problema 2 – Fechamento
hipnoticossedativos. Os benzodiazepínicos são, contudo, consideravelmente menos perigosos do que os ansiolíticos e
hipnóticos mais antigos. Como resultado, as doses excessivas raramente são letais, a menos que outros depressores do SNC,
como etanol, sejam ingeridos simultaneamente.
Buspirona
A buspirona é usada para tratar os distúrbios de ansiedade generalizada. É menos eficaz no controle dos ataques de pânico ou
nos estados de ansiedade graves. A buspirona é um agonista parcial dos receptores 5-HT1A também se liga a receptores
dopaminérgicos, mas é provável que as ações relacionadas com os receptores 5-HT sejam mais importantes na supressão da
ansiedade. No entanto, a buspirona demora dias ou semanas para produzir efeitos nos seres humanos, o que sugere um
mecanismo de ação mais complexo que a simples ativação dos receptores 5-HT1A. Os ISRSs têm também um início retardado
das suas ações ansiolíticas.
Os receptores 5-HT1A são expressos no soma e em neurônios que contêm receptores 5-HT, onde eles atuam como
autorreceptores inibitórios, assim como sendo expressos em outros tipos de neurônios (p. ex., nos neurônios noradrenérgicos
do locus coeruleus), onde, com outros tipos de receptores 5HT , eles medeiam as ações pós-sinápticas da 5HT. Os receptores
5-HT1A pós-sinápticos são altamente expressos nos circuitos córticolímbicos implicados no comportamento emocional. Uma
teoria de como a buspirona e os ISRSs produzem o seu efeito ansiolítico retardado é que, ao longo do tempo, eles induzem
dessensibilização dos autorreceptores somatodendríticos 5-HT1A, resultando em um aumento da excitação serotoninérgica
dos neurônios e no aumento da liberação de 5-HT. Isso também pode explicar por que, precocemente no tratamento da
ansiedade, pode ocorrer agravamento por esses fármacos devido à ativação inicial dos autorreceptores 5- HT1A e inibição da
liberação de 5-HT. Essa teoria de dessensibilização poderia predizer por que um antagonista 5- HT1A que bloquearia a ação do
5-HT nos autorreceptores 5- HT1A e assim aumentaria rapidamente a liberação de 5-HT, poderia ser ansiolítico sem o início de
ação retardado. Níveis elevados de 5-HT também induzem adaptações pós-sinápticas. Os receptores 5-HT2 também foram
implicados, cuja infrarregulação pode ter uma ação ansiolítica importante. Os fármacos antagonistas dos receptores 5-HT2 e
5-HT3 estão sendo submetidos a ensaios clínicos para tratar a ansiedade.
A buspirona inibe a atividade dos neurônios noradrenérgicos do locus coeruleus e assim interfere nas reações de excitação.
Tem efeitos secundários muito diferentes dos efeitos dos benzodiazepínicos. Não causa sedação nem incoordenação motora,
não foram reportados efeitos de tolerância nem efeitos de privação. Os seus principais efeitos secundários são náuseas,
tonturas, cefaleias e inquietação, geralmente sendo menos incômodos que os efeitos secundários dos benzodiazepínicos. A
buspirona não apresenta efeito de síndrome de privação dos benzodiazepínicos, presumivelmente porque ela age através de
um mecanismo diferente. Assim, ao mudar do tratamento de um benzodiazepínico para o tratamento com buspirona, a dose
de benzodiazepínico tem que ser reduzida gradualmente.
CLASSIFICAÇÃO
A dor neuropática é, geralmente e de forma m ais simples, classificada pela etiologia e
anatomia. Podemos dividir a dor neuropática em periférica e central. A dor neuropática
periférica é provocada por lesão do sistema nervoso periférico, e a dor neuropática central
é causada por lesão medular ou encefálica do sistema nervoso central.
Do ponto de vista etiológico periférico, a dor neuropática pode ser devido a neuropatias de
diferentes causas, radiculopatias, plexopatias, sendo de origem primária ou secundária. As
neuralgias são condições, na maior parte das vezes, de natureza idiopática ou disfuncionais.
A dor neuropática de origem central tem etiologia vascular, desmielinizante, traumática,
tumoral, compressiva, degenerativa, malformativa e imunológica. A identificação da
condição de dor neuropática constitui-se em um dos desafios na clínica diária de dor,
notadamente pela:
× Ausência de sinais e sintomas patognomônicos. × Eficiência parcial e limitada das intervenções
× Indefinição de correlação entre sintomas, sinais e terapêuticas farmacológicas e não-
mecanismos fisiopatogênicos. farmacológicas que permitam inferir deduções
× Possível neuroplasticidade variável do sistema fisiopatológicas.
nervoso periférico e central.
CARACTERÍSTICAS
A DN se manifesta por meio de vários sintomas, sendo os mais comuns a dor contínua em queimação, sensação de choque,
frio doloroso, pontada, lancetada, facada, aperto, sensação de constrição e alodínea mecânica. A DN pode ser classificada
como espontânea (em queimação, aperto e pressão) e provocada (em fisgada e choque) por meio da escovação da pele, por
pressão e por estímulo térmico, como o frio. A hiperalgesia, aumento da resposta a um estímulo normalmente doloroso, pode
ser frequentemente observada. Pacientes com DN também se queixam de sintomas parestésicos e disestésicos, como
formigamento, fisgadas e agulhadas. As características da dor neuropática são:
× constante ou intermitente × Paroxística (quando acontece durante o sono)
× Espontânea ou evocada × Superficial ou profunda
Dependendo da causa, a dor atinge várias áreas diferentes do corpo, sendo predominantemente superficial. Pode acontecer
dor e sensação anormal que não obedecem ao nervo e seu dermatomo, sendo explicada pela expansão do campo receptivo. A
irradiação anormal da dor neuropática pode ser explicada pelo recrutamento de mais neurônios decorrente no aumento da
intensidade do estímulo. A dor pode acompanhar outras alterações:
× Hiperpatia (Aumento da resposta a um estímulo × Atrofia muscular
repetitivo) × Aumento do tônus muscular
× Déficit sensorial × Alterações da temperatura local (Podendo estar
× Diminuição da força diminuída ou aumentada)
× Alterações do limiar para frio e calor × Alterações psicológicas no paciente (Ansiedade,
× Limitação dos movimentos raiva e irritação)
× Rigidez articular
PERIFÉRICAS
Mononeuropatia
O termo mononeuropatia indica uma lesão focal de um único nervo periférico. As causas mais frequentes são trauma e
compressão focal. A mononeuropatia mais comum é a síndrome do túnel do carpo causada pela compressão do nervo mediano
no túnel carpiano. A neuropatia do nervo ulnar, em virtude de sua compressão no cotovelo, é a segunda causa mais comum de
mononeuropatia. Deve-se salientar que as mononeuropatias focais podem estar associadas a neuropatias tóxicas e
metabólicas.
Mononeuropatia múltipla
A mononeuropatia múltipla descreve separadamente o envolvimento de múltiplos nervos periféricos, ao acaso e de intensidade
diferente. Em alguns casos, a neuropatia pode progredir de modo que há uma soma do envolvimento dos vários nervos
individualmente, podendo resultar em um déficit simétrico e confluente, que pode mimetizar uma polineuropatia simétrica
distal. Nesses casos, o padrão dos sintomas iniciais é importante para um diagnóstico correto de uma mononeuropatia
múltipla.
Vasculites
As vasculites são geralmente sistêmicas e associadas a doenças como poliarterite nodosa, doença de ChurgStrauss ou doença
do tecido conjuntivo (artrite reumatóide, síndrome de Sjögren), mas também podem ser vasculites restritas ao sistema
nervoso periférico. Essa neuropatia ocorre por causa do envolvimento de vasos nutrientes do nervo por um processo
inflamatório que deve ser relativamente extenso, em decorrência da rica vascularização dessa região. A vasculite tende a ser
focal, assimétrica e com desenvolvimento de uma mononeuropatia múltipla. Na evolução, com o comprometimento progressivo,
há uma confluência dos nervos envolvidos. Essa apresentação clínica é a mais frequente na época do diagnóstico, podendo
ocorrer também quadro de polineuropatia periférica ou mononeuropatia isolada. Com frequência, as manifestações sensitivas
predominam e inauguram o quadro clínico, com aparecimento de déficit motor posterior.
Diabetes mellitus
As neuropatias focais e multifocais podem ocorrer no diabetes mellitus, embora sejam mais raras.
Neuropatia de nervos cranianos
Essas neuropatias em geral ocorrem em pacientes idosos, sendo a alteração mais freqüente a lesão isolada do terceiro nervo;
o sexto nervo é afetado menos comumente, e o quarto nervo raramente é envolvido sozinho. Em geral, o início é abrupto e pode
ser indolor ou associado com cefaléia. A inervação pupilar com freqüência não é afetada na paralisia do terceiro nervo. A
recuperação é a regra. Excetuando-se os músculos extra-oculares, o sétimo nervo é o mais acometido.
Mononeuropatias do tronco e dos membros
Os nervos periféricos podem ser afetados de forma isolada ou associadamente. Os mais comumente afetados são: ulnar,
mediano, radial, femoral, cutâneo lateral da coxa e fibular. Em geral, o início é abrupto, com dor. A lesão normalmente situa-se
no mesmo local das paralisias por compressão. Também são descritos casos com dor no tronco devido à radiculopatia; este
quadro é denominado mononeuropatia do tronco ou neuropatia toracoabdominal.
Neuropatia motora proximal (amiotrofia diabética)
A amiotrofia diabética apresenta-se com quadro de dor e fraqueza na extremidade proximal do membro inferior, acometendo
os músculos iliopsoas, quadríceps femoral e adutor da coxa, com preservação dos extensores da coxa e flexores da perna. O
quadro pode ocorrer de um lado, regredir e aparecer do outro lado. A lesão é geralmente a microvasculite no plexo lombossacral
ou das raízes nervosas.
Hanseníase
A hanseníase é uma doença infecciosa primária do sistema nervoso periférico causada pelo Mycobacterium leprae. A lesão
inicial é uma pápula ou mácula geralmente hipopigmentada com diminuição da sensibilidade, decorrente de invasão dos nervos
cutâneos pelo bacilo. A manifestação clínica é determinada pela resposta imune do hospedeiro. A forma tuberculóide causa
uma resposta celular com formação de granuloma e lesão do tecido, e a forma lepromatosa causa uma resposta imunológica
mínima e proliferação e disseminação do agente. O sintoma principal é a perda sensitiva, principalmente à dor e à temperatura,
Doença de Lyme
A doença de Lyme é causada pela Borrelia burgdorferi, transmitida por um carrapato. A doença tem três estágios: erupção
cutânea ao redor da picada, disseminação precoce (2 a 10 semanas após a erupção) e tardia (mais de um ano após a erupção).
A neuropatia periférica pode ocorrer nas disseminações precoce e tardia. O envolvimento neurológico precoce causa
meningismo, e no sistema nervoso periférico são mais acometidos os nervos cranianos (neuropatia do nervo facial é a mais
comum e 50% têm envolvimento contralateral) e as raízes espinais com dor de distribuição radicular e após fraqueza muscular,
geralmente assimétrica.
Polineuropatias
Na maioria das polineuropatias ocorre alteração da função dos nervos periféricos de modo simétrico, distal e bilateral. Se há
envolvimento de raízes espinais ou raízes e troncos dos nervos periféricos, podem-se usar os termos polirradiculopatia ou
polirradiculoneuropatia. Há uma série de sintomas e sinais motores, sensitivos, reflexos, autonômicos e tróficos relativamente
típicos da doença do nervo periférico que permitem seu diagnóstico.
Reflexos profundos
A perda dos reflexos profundos na NP é comum. Vários mecanismos podem estar envolvidos: perda de fibras aferentes dos
fusos musculares, desnervação das fibras musculares intrafusais e dispersão temporal da condução nervosa (não-condução
síncrona dos impulsos no nervo periférico).
Fasciculações e cãibras
A presença de fasciculações e cãibras não é um achado importante na maioria das polineuropatias. Fasciculações podem
ocorrer em algumas neuropatias crônicas e ocasionalmene em radiculopatias crônicas.
Alteração da sensibilidade
A sensibilidade está mais comprometida nos segmentos distais dos membros, freqüentemente assumindo a forma de “bota e
luva” e acometendo mais os membros inferiores que os superiores. Na maioria das polineuropatias, todas as modalidades
sensitivas (tátil, térmica, dolorosa, vibratória e cineticopostural) estão comprometidas. À medida que a doença progride, há
hipoestesia ou anestesia nas partes proximais dos membros e do tronco. Outro padrão de perda sensitiva é a hipoestesia
térmica e dolorosa com preservação da sensibilidade tátil, vibratória e cineticopostural. Essa dissociação
pseudosiringomiélica é freqüente nas neuropatias com comprometimento de axônios mielínicos finos e amielínicos. Nas
neuropatias em que o maior comprometimento é das grandes fibras mielínicas, há perda da sensibilidade tátil, enquanto a
térmica e a dolorosa estão preservadas. Na maioria das NP, a intensidade da hipoestesia é maior ou proporcional à fraqueza
muscular.
Alterações autonômicas
Manifestações da disfunção autonômica incluem hipotensão postural com tontura ou síncope, anidrose, atonia de bexiga,
obstipação, boca e olhos secos, disfunção erétil e alterações pupilares. Hipertensão paroxística, taquicardia ou bradicardia,
hiper-hidrose e diarréia são quadros ocasionais. Nas polineuropatias distais com envolvimento autonômico, os achados mais
comuns são as alterações de sudorese e a instabilidade circulatória nos pés.
Caso X Teoria
“No caos do Sr. Juarez, a dor é em queimação, seguindo o dermátomo para a proção dorsal do braço
esquerdo, com presença de alodíne, que é desencadeada apenas com o simples toque da água do
chuveiro.”
A neuralgia se desenvolve apenas em 10% dos paciente que desenvolve o herpes-zóster. Sendo mais comum na lesão do ramo
oftálmico. A dor e a disestesia surgem até 3 meses antes da erupção, mas não surgem antes de 2 dias do aparecimento das
vesículas. A neuralgia deve melhorar com o tempo, no entanto, quando persistir por mais de 6 meses, as chances do
desaparecimento diminuem. As complicações mais sérias ocorrem quando o vírus atinge o nervo trigêmeo, podendo evoluir até
a cegueira.
CENTRAIS
A dor central (DC), classificada como uma dor neuropática (DN) é definida como uma síndrome dolorosa decorrente de lesão
de estrutura do sistema nervoso central (SNC). Trata-se de uma das síndromes dolorosas mais complexas, intrigantes e de
difícil tratamento, podendo se originar de qualquer tipo de lesão ao SNC, tais como, vasculares (isquemia ou hemorragia),
acidente vascular cerebral isquêmico ou hemorrágico (AVCI, AVCH), infecciosa (abcesso, encefalite, mielite), desmielinizante
esclerose múltipla (EM), traumática (cérebro ou medula), ou neoplásica. No entanto, seu surgimento decorre, na maior parte
dos casos, de AVC, EM e lesão na medula.
Sinais E Sintomas
O diagnóstico da DC é particularmente desafiador em pacientes com comprometimento neurológico, havendo a necessidade
de fazer diagnóstico diferencial com dores de origem musculoesquelética ou com neuropatias periféricas.
Em geral os descritores atribuídos são semelhantes ao das neuropatias periféricas. São comuns as queixas de queimação, frio
doloroso, formigamento, agulhamento, pontada, lancetada, facada, aperto, e sensação de constrição. Soma-se ainda o prurido
crônico na região, que é considerado um equivalente de dor. Ainda, deve-se levar em conta que alguns desses descritores
podem compor quadros de dor musculoesquelética, nos pacientes com comprometimento neurológico prévio. Portanto, a
presença ou ausência de tais sintomas não confirma ou afasta o diagnóstico3. Diferentemente dos sinais e sintomas já
descritos, a presença de alodínea (sensação dolorosa evocada por estímulo não doloroso), e hiperalgesia (sensação exagerada
de dor evocada por estimulo doloroso de baixa intensidade), é mais específica para DN, porém, sua presença é menos comum
em dores de origem central.
A DN central pode ser descrita ainda como contínua ou paroxística, pode ser espontânea ou evocada, ou pode se manifestar
com uma combinação destas características, o que é mais frequente. Pode ser descrita também como superficial, profunda
ou mista. Geralmente sua intensidade é descrita como de moderada a intensa, sendo por vezes limitante. As alterações de
humor, presentes em 87% dos pacientes, e os distúrbios do sono, presentes em 50%, agregam grande morbidade ao quadro
clínico da DC.
Durante a avaliação do paciente, deve ser pesquisada a presença de alteração da sensibilidade à picada e à temperatura. Uma
vez que para o desenvolvimento da DC é mandatório que haja disfunção do trato espinotalâmico (via responsável pela condução
destes estímulos), a ausência de alteração destas funções praticamente exclui o diagnóstico de DC. É importante lembrar
que para ser classificada como central, a dor deve estar contida na área afetada pela lesão ao SNC, no entanto, não é
A dor central após acidente vascular cerebral (AVC) é definida como uma síndrome neuropática caracterizada por dor
intermitente ou persistente e por outras alterações sensoriais em partes do corpo correspondentes à lesão cerebral. Como
essa fisiopatologia ainda não é completamente conhecida, o tratamento clínico pode não ser efetivo. Assim sendo, o paciente
é submetido a polifarmácia, sem, contudo, obter melhora completa dos sintomas.
O sistema nervoso depende de sua integridade para o reconhecimento das sensações como o tato, temperatura, movimentação
dos membros, dor etc. Existem condições em que se perde a harmonia do reconhecimento das sensações, como em alguns
casos de acidente vascular cerebral. A obstrução de pequenos vasos sanguíneos ocasiona lesão em porções profundas do
cérebro, ocorrendo alterações no órgão de reconhecimento das sensações.
Com isso, há deturpação na sensibilidade do corpo sendo esta em geral desagradável, descrita pelos pacientes como dor. Pode
haver inclusive desencadeamento de sensações de queimor, choque e dor com simples toque da roupa no local afetado, o que
é chamado de alodínea (sensação desagradável ou de dor com estímulos em geral inofensivos). Também é conhecida por “dor
de origem central”, pois acomete regiões do sistema nervoso central (cérebro e tronco encefálico) ou “dor de origem talâmica”,
sendo o tálamo a região profunda do cérebro envolvida no processamento de informações sensitivas.
A dor central é descrita como fenômeno que se desenvolve, na maioria dos casos, entre 3 e 6 meses após o AVC, entretanto,
há relatos de início de dor logo após o 1º mês. Pode estar presente em lesões vasculares encefálicas que envolvam o sistema
somatossensorial e causar um imenso sofrimento por prejudicar a qualidade de vida.
Em alguns casos, o diagnóstico de AVC pode ainda estar associado à síndrome dolorosa complexa regional (SDCR), que é
denominada uma condição dolorosa que pode levar a dificuldade para realizar as atividades funcionais. Comumente é
caracterizada como uma dor em queimação com a presença de alodínia e hiperalgesia na região periférica do corpo, podendo
levar a fraqueza e espasmos musculares.
Epidemiologia
O acidente vascular cerebral isquêmico é mais frequentemente associado a dor do que acidente vascular cerebral hemorrágico.
A prevalência de dor crônica em pacientes após-AVC é de 7,3% e pode afetar diretamente na qualidade de vida do indivíduo. A
dor pode começar imediatamente após o acidente vascular cerebral, mas com mais frequência, começa vários meses depois.
Essa dor pode ser dor central, dor no ombro e outros tipos de dor.
Dor no ombro afeta até um quarto de sobreviventes de acidentes vasculares cerebrais, sendo que a prevalência varia de 11 a
40% e geralmente acomete o lado oposto do corpo a região afetada pelo AVC. A dor é um preditor de suicídio após acidente
vascular cerebral, se relacionando com o grau de declínio cognitivo e depressão do paciente. O risco de desenvolver dor crônica
(DC) é semelhante para AVCI ou AVCH, no entanto a topografia da lesão parece ser de relevância maior para seu
desenvolvimento, com destaque para a região talâmica. O infarto talâmico é responsável por 25 a 33% dos casos de DC pós-
AVC, sendo mais frequente quando envolve o núcleo talâmico póstero-ventral. Ainda, pacientes entre 58 e 67 anos parecem
estar sob maior risco de desenvolver DC do que pacientes mais velhos, e dados sugerem que infartos ocorridos no lado direito
do cérebro tem maior risco de cursar com DC.
Fisiopatologia
A lesão da via espinotalâmico cortical, que transmite sensação de dor e temperatura, é essencial para o desenvolvimento do
quadro clínico de dor central pós-AVC e pós-lesão espinhal. No entanto, a perda sensitiva decorrente da lesão dessa via não é
suficiente para produzir a síndrome, o que é notável em pacientes que apresentam alguma forma de lesão no SNC e não
desenvolvem DC.
Novas evidências sugerem que a hipersensibilidade secundária à desenervação de axônios sobreviventes do trato
espinotalâmico assume papel de gatilho para o surgimento de dor, especialmente quando esta hipersensibilidade aparece em
axônios que transmitem sensação térmica (particularmente de frio). Evidência da importância destas vias hipersensíveis como
Tratamento
Tratamento Conservador
A Dor Central (DC) é de difícil tratamento, e como regra geral, o completo controle da dor é improvável. A dificuldade no controle
do sintoma por vezes torna o tratamento frustrante tanto para o paciente quanto para o médico que o acompanha. Por esta
razão, as metas de tratamento (como focar no ganho de função, ao invés da intensidade da dor) devem ser claramente
discutidas com o paciente desde o primeiro encontro. Assim, por meio de uma estratégia farmacológica multimodal associada
a terapias não farmacológicas é possível obter melhora na qualidade de vida dos pacientes e adquirir um ganho funcional. A
busca obstinada por cessar a dor não é necessária, e é até desaconselhável, pois pode levar o clínico a elevar as doses de
analgésicos a níveis tais, que os efeitos adversos se tornem fator limitante da qualidade de vida dos pacientes.
Antes de discutir a terapia farmacológica, alguns aspectos específicos do paciente portador de DC devem ser reiterados. Estes
pacientes trazem como consequência de suas doenças de base diferentes níveis de comprometimento neurológico, seja físico,
comportamental, e/ou de linguagem, portanto, eles podem ter menor tolerância a fármacos cujos efeitos adversos incluam
tontura, ataxia, confusão mental ou sedação. Ainda, estes pacientes em geral são submetidos a uma gama variada de fármacos
para tratamento da lesão do SNC, o que os põe em risco relevante para interações farmacológicas graves. Adicionalmente,
estes pacientes em geral têm quadros de depressão e ansiedade que devem ser levados em consideração no planejamento do
tratamento.
De maneira geral, a terapia farmacológica para DC inclui as mesmas classes de fármacos utilizados para o tratamento de Dor
Neuropática, tais como anticonvulsivantes, antidepressivos tricíclicos, antidepressivos duais, e eventualmente, opioides.
Algumas vezes é necessário lançar mão de um analgésico potente como adjuvante no tratamento, especialmente se outras
causas de dor, como as musculoesqueléticas, estiverem corroborando para o quadro clínico. Neste cenário, um opioide possível
seria a metadona, que possui suas características farmacológicas (bloqueio NMDA e inibição da recaptação de noradrenalina
e serotonina) que a tornam mais adequada para estes casos. Os canabinóides se mostraram particularmente efetivos nos
pacientes com EM, tanto no tratamento de dor quanto de espasticidade.
Além da terapia farmacológica, é de suma importância o início precoce de reabilitação física associada à fisioterapia analgésica.
Medidas não farmacológicas como terapia com espelho e terapia com imersão em realidade virtual são recomendadas para
pacientes com dor pós-AVC e decorrente de EM, e a estimulação transcraniana em pacientes com dor pós-lesão medular são
exemplos de abordagens indicadas como adjuvantes no tratamento.
PERIFÉRICAS
A neuralgia pós-herpética (NPH) é conceituada como dor persistente por mais de três meses após a resolução das lesões de
pele observadas no herpes-zoster (HZ). O HZ é uma erupção cutânea dolorosa na distribuição do dermátomo. Após infecção
primária com a varicela, o vírus fica quiescente nos gânglios de nervos sensoriais cranianos e nos gânglios da raiz dorsal
espinhais. A imunidade celular para o vírus da varicela-zoster diminui com a idade ou devido à imunossupressão. Nesta
situação, o vírus reativa-se e migra por meio dos nervos sensitivos acometidos até a pele, causando pródromos de dor, seguido
por erupção e eritema cutâneos. Estima-se que um em cada três indivíduos irá desenvolver HZ durante a vida. A localização e
a distribuição das lesões de pele são distintas. Tipicamente o HZ é unilateral, não atravessa a linha média, e é localizado em
um único dermátomo, observando-se acometimento de dermátomos adjacentes em 20% dos casos. Os dermátomos mais
comumente acometidos são aqueles da região torácica e o ramo oftálmico do nervo trigêmeo. As complicações neurológicas
do HZ podem incluir encefalite aguda ou crônica, mielite, meningite asséptica, neuropatias motoras, síndrome de Guillain-
Barré, hemiparesia e paralisia de nervos periféricos ou cranianos. As complicações mais comuns incluem infecção bacteriana
por Staphylococcus aureus ou Streptococcus pyogenes, formação de cicatriz e hiperpigmentação.
Epidemiologia
Os fatores de risco para a neuralgia pós herpética incluem idade avançada, erupção cutânea, dor durante a fase aguda. O
envolvimento do nervo oftalmico é um fator de risco para o desenvolvimento de neuralgia. Outros fatores de risco possíveis
incluíram lupus eritematoso sistêmico, diabetes e trauma recente. Os pacientes imunocomprometidos apresentam maior risco
de reativação do varicela e complicações neurológicas. Os fatores de risco para desenvolver neuralgia pós herpética após
herpes zóster incluem a presença de um pródromo (definido como dor e / sensações anormais antes do início da erupção
cutânea), erupção cutânea grave (definida como> 50 lesões: pápulas, vesículas ou vesículas confinadas) e dor intensa durante
a fase aguda. Sexo feminino, extensão da reupção cutânea, e sexo feminino não se relacionam com fatores de risco para a
neuralgia.
A incidência também é aumentada entre pessoas com doenças crônicas como doenças respiratórias e diabetes, e pode ser
aumentada entre pacientes imunocomprometidos, embora a evidência seja escassa e inconsistente. A neuralgia pós herpética
é uma complicação da Herpes Zóster. O risco da neuralgia pós herpética após a herpes zoster aumenta com a idade, devido a
Etiologia
O HZ é causado pela reativação do VVZ nos nervos cranianos e nos gânglios das raízes espinhais dorsais, geralmente deflagrada
décadas após a infecção primária de varicela. Quando a imunidade celular específica para VVZ fica comprometida, ocorre a
deflagração da doença. A reativação ocorre principalmente em indivíduos imunocomprometidos por outras doenças, como
câncer, síndrome da imunodeficiência adquirida, imunossupressão pós-transplante e quimioterapia. Há forte correlação entre
a maior incidência de HZ com o aumento da idade, principalmente acima de 55 anos, porque a idade avançada está associada
a um declínio na resposta imune mediada pelas células T.
Manifestações Clínicas
A NPH pode manifestar-se de diferentes formas, embora nenhuma seja patognomônica. A dor pode ser constante ou
intermitente e ter como relato dor tipo queimação, dor latejante, dor cortante, dor penetrante ou dor em choque. Ela pode ser
evocada por estímulos táteis, o que caracteriza o fenômeno de alodínea. Este é muitas vezes debilitante, comprometendo a
qualidade de vida do paciente.
Um estudo de corte com 2100 pacientes portadores de NPH e neuropatia diabética dolorosa (NDD). Eles observaram que a
alodínea estava presente em 50% dos pacientes com NPH e em 18% dos pacientes com NDD. É importante registrar que a
Prognóstico
Por ser uma doença autolimitada, a maioria dos casos evolui para a cura, porém em alguns
pode haver progressão para complicações. A NPH é a complicação mais comum do HZ.
Existem outras complicações decorrentes do HZ, como: encefalite, mielite e paralisia de
nervos periféricos. Essas complicações ocorrem principalmente em indivíduos
imunocomprometidos. O HZ pode tornar-se generalizado, sugerindo comprometimento
imunológico ou presença de neoplasia. Portanto, é importante, afastar essas possibilidades.
Apesar de controverso, estudos indicam que incidência de NPH aumenta em proporção e gravidade, quando o tratamento da
fase aguda é inadequado. A recorrência do HZ é muito rara, ocorrendo aproximadamente em 5% dos pacientes. Uma explicação
para isso, é que o HZ estimularia uma resposta imune importante, prevenindo episódios subsequentes.
Tratamento
Medicamentoso
O tratamento deve ser feito com fármacos para o controle e alívio da dor. Os fármacos de primeira linha para o tratamento da
NPH são os anticonvulsivantes (gabapentina e pregabalina) e os antidepressivos tricíclicos (principalmente amitriptilina). Os
opioides são classificados como analgésicos de segunda linha e também podem ser utilizados.
Embora existam vários tratamentos farmacológicos para o alívio sintomático da dor neuropática, muitas vezes esses agentes
não oferecem alívio satisfatório em todos os pacientes. A natureza complexa e heterogênea dos mecanismos da NPH sugere
que alívio adequado dos sintomas dolorosos por uma única medicação é improvável. Na prática clínica, as combinações de
analgésicos são usadas para obter alívio da dor.
Antidepressivos Tricíclicos
Os antidepressivos tricíclicos em baixas doses têm sido usados para NPH como monoterapia ou associados a outros fármacos.
Seu uso exige pelo menos três meses para o efeito positivo. O mecanismo de ação ocorre pelo bloqueio de recaptação de
serotonina e noradrenalina e também pela inibição dos canais de sódio voltagem dependente. A amitriptilina é o fármaco mais
Intervencionista
Bloqueios Neurais
Os bloqueios simpático-neurais também podem ser considerados no tratamento para alívio da dor aguda do HZ e na NPH.
Embora os mecanismos precisos pelos quais o sistema nervoso simpático contribua para dor neuropática não sejam claros,
dados indicam uma ativação anormal dos receptores alfa-adrenérgicos nos neurônios aferentes primários. Os bloqueios neurais
têm sido utilizados no alívio da dor em pacientes com NPH, embora com menos eficácia analgésica do que nos casos de HZ.
Quando o bloqueio é realizado na fase aguda do HZ, além de diminuir a intensidade da dor, teoricamente previne o
desenvolvimento de NPH.
A administração de anestésico local promove alívio da dor por 12- 24h. Em longo prazo, o alívio pode ser alcançado realizando
o procedimento semanalmente e numa fase inicial da doença. A incidência de complicações graves causadas pelo bloqueio é
baixa e depende da localização do nervo bloqueado. A administração única no espaço peridural de um corticoide associado a
um anestésico local na fase aguda do HZ pode ter um efeito na redução da dor por um mês, mas não é eficaz para prevenção
em longo prazo da NPH. Apesar da injeção subaracnóidea do acetato de metilprednisolona aliviar a dor na NPH, sua segurança
tem sido debatida, pois contém álcool benzílico e polietilenoglicol como conservantes, por isso sua utilização tem sido
questionada.
Estimulação Medular
A estimulação medular tem sido realizada para tratar a dor neuropática crônica, seu mecanismo de ação não está claro, porém
sua ação baseia-se na teoria do portão de controle da dor, em que a estimulação de fibras mielinizadas Aβ interfere na
transmissão do estímulo nociceptivo conduzido pelas fibras C e Aδ da periferia para o corno dorsal da medula. O impulso
elétrico é transmitido a partir de um gerador implantado no subcutâneo para os eletrodos colocados no espaço peridural. A
estimulação medular apresenta taxa de complicações que variam entre 30% e 40%.
As principais complicações são: problemas no funcionamento de hardware, principalmente a migração dos eletrodos, infecção
e estimulação dolorosa. As complicações são mais significativas quando associadas às lesões neurológicas, devido a lesão
de raiz ou da medula espinhal no intraoperatório. Na tentativa de evitar infecção, utiliza-se uma técnica estéril rigorosa e
profilaxia com antibióticos por via venosa antes do procedimento. Pode ocorrer perfuração acidental da dura-máter durante a
implantação do estimulador medular, o que resulta em cefaleia pós-punção dural. Primeiramente, adota-se tratamento
conservador, porém, nos casos refratários, é recomendado realizar blood pacth peridural. Quando ocorre estimulação dolorosa,
deve-se reposicionar ou remover o eletrodo.
Excisão Cirúrgica
Estudos iniciais tentaram mostrar que a excisão cirúrgica de pele da área afetada pela NPH como opção de tratamento para
reduzir a dor, eliminar alodínea tátil e reduzir o uso de fármaco analgésico em até um ano após a cirurgia, mas o seguimento
MIGRÂNEA
A migrânea (enxaqueca) é a cefaleia mais estudada e, dentre as cefaleias primárias, é a principal responsável por atendimentos
médicos. De acordo com a ICHDII(International Classification of Headache Disorders, 2nd edition – ICHDII), a migrânea é
subdividida em subtipos (migrânea sem aura, migrânea com aura, síndromes periódicas da infância, migrânea retiniana e
complicações da migrânea), que podem ser reclassificados em subformas (p. ex., migrânea com aura típica com cefaleia
migranosa, migrânea com aura típica com cefaleia não migranosa, migrânea hemiplégica, migrânea do tipo basilar).
Quadro Clínico
A migrânea é caracterizada por crises recorrentes de cefaleia, sendo composta por até quatro fases diferentes. Nem sempre
todas as fases ocorrem em todas as crises e/ou em todos os pacientes. As fases da migrânea:
× Pródromos ou sintomas premonitórios. Precedem a cefaleia por até 48 h e ocorrem em 60% dos casos. Nessa fase o
paciente pode apresentar irritabilidade, alentecimento do raciocínio, desânimo, avidez por doces e distúrbios do sono.
Quadro clínico
A cefaleia é de fraca ou moderada intensidade, tipo pressão ou aperto, e é bilateral. Pode ser frontal, occipital ou holocraniana.
A dor pode melhorar com atividades físicas. Surge, em geral, no final da tarde, depois de um dia extenuante de trabalho, físico
ou mental. Ocorre relacionada com o estresse físico (cansaço, exagero de atividade física, posicionamento do pescoço no
sono ou no trabalho) ou emocional. Por vezes, por meio da palpação muscular, observam-se dor e hipertonia da musculatura
pericraniana. Diferentemente da migrânea, não está associada a náuseas, vômitos, foto e fonofobia. Conforme a ICHDII,2 a CTT
é definida segundo os seguintes critérios diagnósticos:
× Pelo menos 10 crises preenchendo os intensidade e que não piora com as atividades
critérios de B a D físicas rotineiras (p. ex., subir escadas)
× Cefaleia durando de 30 min a 7 dias × Existência dos seguintes sintomas: ausência
× Cefaleia com pelo menos duas das seguintes de náuseas e vômitos e fotofobia ou fonofobia
características: em pressão ou aperto (não × História e/ou exame físico sem sugerir
pulsátil), bilateral, de leve a moderada nenhum outro transtorno.
Cefaleia Em Salvas
A cefaleia em salvas (CS) é uma condição rara. Acomete mais homens que mulheres. A moléstia evolui em surtos de 1 a 3
meses de duração (salvas), quando o paciente experimenta de uma crise a cada 2 dias a oito crises por dia. Muitas vezes o
horário das crises é bastante regular e, frequentemente, o indivíduo é despertado à noite pela crise. A dor é estritamente
unilateral (> 85% dos casos), periorbital, supraorbital e/ou temporal, sempre do mesmo lado, forte ou muito forte e com
duração de 15 a 180 min. Durante a cefaleia ocorre, ipsilateralmente, pelo menos um dos seguintes sinais: injeção conjuntival,
lacrimejamento, congestão nasal, rinorreia, sudorese na fronte ou na face, miose, ptose, edema palpebral e sudorese frontal e
facial. Além disso, durante a cefaleia os indivíduos costumam ficar agitados, agridem-se e ameaçam suicídio devido à
intensidade da dor. As salvas duram de no mínimo 7 dias até 1 ano, com períodos de remissão maiores que 1 mês. Esse é o
tipo episódico da moléstia. Em cerca de 10% dos casos (subforma crônica), a salva dura mais de 1 ano e o período de remissão
é menor que 1 mês.
Hemicrania Paroxística
Tem maior prevalência no sexo feminino e, geralmente, iniciasse na segunda década de vida. Caracteriza-se por cefaleia
unilateral, em geral nas regiões orbitária, supraorbitária ou temporal, de forte intensidade. Sua duração é de 2 a 30 min e ocorre
em uma frequência acima de cinco crises/dia. Assim como a CS, é dividida em subforma episódica e crônica.
Sunct
É um tipo raro de cefaleia, que predomina no sexo masculino. Caracteriza-se por cefaleia unilateral, sem alternância de lado,
de moderada a forte intensidade, localizada nas regiões orbital, periorbital e/ou temporal, em pontada ou pulsátil, de 5 a 240
segundos de duração. O número de episódios diários, que varia de 3 a 200, associasse a dor, injeção conjuntival e
lacrimejamento ipsilaterais. Além disso, é frequente a ocorrência de pontos de gatilho da dor na fronte e face.
Neuralgia do Trigêmeo
A neuralgia do trigêmeo caracteriza-se por cinco aspectos fundamentais:
× É paroxística × Acomete um lado da face e
× Apresenta fatores desencadeantes definidos × Não se associa a anormalidades ao exame
× Limita-se ao território de distribuição do nervo neurológico.
trigêmeo
A neuralgia do Trigêmeo restringe-se a distribuição do nervo, sendo geralmente unilateral. Acomete mais paciente entre 60 e
70 anos, mas quando surgem em pacientes menor de 30 anos, deve-se investigar a possibilidade de desmielinização.
A neuralgia do trigêmeo é definida como dor paroxística em choque e queimação, com duração de alguns segundos. A presença
de sequência de múltiplos choques pode levar o paicente a pensar que a dor é constante e de longa duração. Existem pontos
de gatilho, que estão localizados principalmente na região perioral ou nasal. Em alguns casos, discretas anormalidades
sensitivas podem estar presentes no território de distribuição do nervo trigêmeo.
A dor é intensa e paroxística, instala-se e desaparece subitamente e tem curta duração. Reaparece a intervalos variados. Cada
surto pode ter a duração de dias, semanas ou meses. A frequência das crises costuma ser fixa ou varia de modo padronizado.
Manifesta-se como sensação de sucessivas pontadas, facadas, queimor, choques elétricos, relâmpagos ou penetração de
calor de forte intensidade na face e frequentemente comparada a ferroadas, contato com ferro quente, anzóis, eletricidade ou
milhares de agulhas penetrando na face.
Os períodos de acalmia podem durar vários dias, semanas, meses ou anos. Geralmente é profunda, mas pode ser superficial
quando confinada ao lábio superior, aos supercílios ou às regiões próximas à fronte e às pálpebras. Limita-se à área inervada
Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Dor – Problema 4 –Intermediária
por um ou mais ramos do nervo trigêmeo.Costuma iniciar-se em um ponto e difundir-se, seguindo trajeto constante,
comumente linear, e sempre na mesma direção.
Ocorre mais frequentemente no território do segundo e do terceiro ramos do nervo e, raramente, no primeiro. Muitas vezes,
mais de um ramo está envolvido. É muito raro o comprometimento concomitante do primeiro e do terceiro ramos, poupando o
segundo.
× A dor do terceiro ramo ocorre: no lábio inferior e na gengiva e, raramente, na língua
× A do segundo ramo localiza-se no lábio superior, na asa do nariz, na bochecha e, raramente, na gengiva e no palato.
Somente quando ocorre sobre o globo ocular, na órbita, na região supra-orbitária ou na fronte é que se pode afirmar que o ramo
oftálmico está envolvido. A dor pode permanecer no mesmo local durante anos ou meses ou deslocar-se para outro local na
mesma zona; raramente desloca-se para outra zona. A dor que se desloca é geralmente menos intensa que a original.
Em algumas circunstâncias, a dor irradia-se para fora da área de distribuição do nervo trigêmeo. As vezes, origina-se fora do
território trigeminal, o que pode dificultar o diagnóstico. As zonas de gatilho estão presentes em mais de 50% dos casos.
Geralmente restringem-se a uma pequena região ou a um ponto localizado nas regiões mediais da face. Localizam-se mais
comumente no sulco nasolabial, no lábio superior, na bochecha, na asa do nariz, no ângulo da boca e na gengiva alveolar ou
vestibular. Os receptores de adaptação rápida presentes nas zonas de gatilho são responsáveis pelo desencadeamento da
crise.
A presença da zona de gatilho na hemiface oposta significa que dor contralateral deverá surgir no futuro. As vezes, são
necessárias explorações repetidas das zonas de gatilho para desencadear a dor.
O exame clínico dos doentes com neuralgia do trigêmeo geralmente revela poucas anormalidades. Os pacientes são pícnicos,
têm personalidade marcada pela extroversão, sociabilidade e bom humor. Muitas vezes, eles emagrecem por não poderem
mastigar, não fazem a higiene oral, estão em mau estado, têm acúmulo de secreções em algumas regiões da face e têm a
barba mal-cuidada. Muitos submetem-se à extração de um ou de vários dentes (lembra que amélia, do caso, procurou
dentista) .
NEURALGIA DO GLOSSOFARÍNGEO
A neuralgia do glossofaríngeo acomete a região lateral e rostral do pescoço, da faringe, da orelha, da epiglote e da base da
língua. Caracteriza-se como paroxismos dolorosos ou dor contínua no território do nervo glossofaríngeo causada quase sempre
por tumores
A neuralgia do glossofaríngeo (NGF) é uma doença dolorosa unilateral que é caracterizada por breves episódios de dor tipo
choque elétrico, abrupta de início e término, e localizada no ouvido, na base da língua, na fossa tonsilar, ou sob o ângulo da
mandíbula. Esta tem muitas das mesmas características da nevralgia do trigémio (NT).
Essa dor é causada pela compressão da raiz do nervo glossofaríngeo perto do tronco cerebral (zona de entrada da raiz dorsal)
por um vaso sanguíneo tortuoso (uma artéria ou veia), levando a torção mecânica das fibras nervosas e desmielinização
secundária, provavelmente mediada por lesões isquémicas microvasculares.
Estas alterações diminuem o limiar de excitabilidade das fibras afetadas e promovem o cross-talk entre as fibras adjacentes.
Assim, os sinais táteis provenientes das fibras mielinizadas rápidas (A-beta) podem ativar diretamente as fibras nociceptivas
lentas (A-delta), e às vezes também as fibras C, resultando na alta frequência de descarga característica da neuralgia do
glossofaríngeo. A dor é unilateral e pode ser percebida em qualquer um ou em todos os seguintes locais: o ouvido, a base da
língua, a parte de trás da faringe (especialmente a fossa amigdalina), e abaixo do ângulo da mandíbula podendo irradiar para o
pescoço.
CEFALEIAS SECUNDÁRIAS
Para que uma cefaleia possa ser considerada secundária a alguma moléstia, é necessário que: (1) a moléstia em questão seja
capaz de causar cefaleia; (2) a cefaleia tenha surgido em estreita relação temporal com a moléstia ou que haja outra evidência
de relação causal; (3) haja acentuada redução ou remissão da dor em até 3 meses após tratamento efetivo ou remissão
espontânea do distúrbio causador. Por meio da anamnese e do exame físico (geral e neurológico), o médico deve pesquisar as
características da dor, bem como a existência de sinais e sintomas associados, os quais podem sugerir que a cefaleia seja
secundária a outra condição. A seguir estão os sinais de alerta para cefaleia secundária:
× Cefaleia nova em paciente ≤ 5 anos ou ≥ 50 anos × Mudança no padrão da cefaleia
× Pior cefaleia experimentada × Cefaleia desencadeada por esforço físico, espirros,
× Cefaleia que acorda o paciente à noite tosse, Valsalva, atividade sexual, evacuação
Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Dor – Problema 4 –Intermediária
× Alteração no exame neurológico (p. ex., ×Cefaleia nova em paciente imunodeprimido (p. ex.,
papiledema, rigidez de nuca, paresia) AIDS, neoplasia, tratamento quimioterápico,
diabetes melito)
× Cefaleia associada a alterações sistêmicas.
Assim como nas cefaleias primárias, cada tipo de cefaleia secundária é subdividido em subtipos. Além disso, cada um dos
subtipos tem uma peculiaridade em relação ao quadro clínico e/ou tratamento que o distingue dos demais.
EXAMES COMPLEMENTARES
A maioria dos casos atendidos em Atenção Básica é de cefaleia primária, com destaque para cefaleias tensional e migrânea,
nos quais os exames geralmente não contribuirão para elaboração diagnóstica.
O diagnóstico de cefaleia é essencialmente clínico. Exames laboratoriais (destaque para análise do líquor em suspeita de
hemorragias e meningites), radiografias da coluna cervical ou dos seios da face somente devem ser solicitados quando o
quadro clínico sugerir alguma disfunção dessas estruturas ou doenças sistêmicas que possam causar cefaleia.
Não há, inicialmente, indicação de realização de eletroencefalograma na ocorrência de cefaleia, embora o exame possa ser útil
na identificação de alguma anormalidade funcional ou estrutural do cérebro. Pacientes com cefaleia e sintomas associados
sugestivos de epilepsia, como enxaqueca atípica com aura ou perdas de consciência episódica, podem se beneficiar desse
exame.
Nos casos de cefaleia crônica, os exames de imagem como Ressonância Magnética (RNM) e Tomografia Computadorizada
(TC) do crânio devem ser solicitados somente quando surgem alterações no exame neurológico não explicadas pelo quadro
clínico. Tais exames podem passar a ter indicação quando identificada a presença de sinais e/ou sintomas de alarme/alerta.
FISIOPATOLOGIA
A fisiopatologia da enxaqueca ainda não foi completamente elucidada. As principais estruturas envolvidas parecem ser o
sistema nervoso central (córtex e tronco cerebral), o sistema trigeminovascular e os vasos correspondentes, outras fibras
autonômicas que inervam estes vasos, e os vários agentes vasoativos locais, como a SP, CGRP, NO, VIP, NPY, ACh, NA, NKA,
entre outros. A depressão alastrante é o fenômeno neurológico que provavelmente justifica achados experimentais e clínicos
na enxaqueca. Ela tem velocidade de propagação semelhante à aura, ativa o núcleo espinhal do trigêmeo e está relacionada à
liberação de CGRP e NO. Alterações circulatórias detectadas por métodos complementares reforçam o papel da depressão
alastrante. A identificação de anormalidades em pelo menos três loci (cromossomas 19 e 1) na enxaqueca hemiplégica familiar
ocorreu recentemente. Elas estão relacionadas a anormalidades nos canais de cálcio voltagem dependentes tipo P/Q,
específicos do sistema nervoso central, que regulam a liberação de vários neurotransmissores, incluindo possivelmente a
serotonina. A exemplo de outras anormalidades neurológicas paroxísticas que resultam da hiperexcitabilidade da membrana
plasmática, é possível que a enxaqueca ocorra devido a uma desordem de canais iônicos.
Depressão Alastrante
Durante um estudo desenvolvido por Aristides Leão, foi observada um fenômeno de depressão da atividade elétrica que, quando
experimentalmente induzido, propagava-se pelo córtex em todas as direções. Esse fenômeno foi denominado “depressão
alastrante (DA)”, popularizado na literatura internacional como "spreading depression of Leão".
Acredita-se que a depressão alastrante cortical (DAC) seja o evento subjacente à aura de enxaqueca. A DAC é um fenômeno
complexo de despolarização do córtex cerebral que tem diferentes fases e consiste numa onda de forte despolarização
neuronal e glial que se propaga lentamente (2-6mm/min). A despolarização é desencadeada pela ativação de canais de cálcio
localizados em dendritos apicais de neurônios piramidais. Uma vez iniciada, a DAC se autopropaga no córtex como uma onda
que percorre camadas de dendritos apicais e se caracteriza por colapso da homeostase iônica, profunda alteração de
gradientes iônicos transmembrana e liberação de neurotransmissores e outras moléculas do compartimento intracelular.
Dados experimentais apoiam a ideia de que um aumento da concentração de potássio (K+) acima de um valor crítico seja
evento chave na iniciação da DAC e que a ativação de receptores glutamatérgicos NMDA (NMDAR) também seja necessária
para sua iniciação ou propagação. Postula-se que a regulação deficiente do equilíbrio excitatório-inibitório cortical pode, em
determinadas condições (por exemplo, em resposta a fatores desencadeadores de migrânea) levar à hiperatividade dos
circuitos corticais, o que, por sua vez, pode aumentar a concentração de K+ criando assim as condições para o
desencadeamento da DA. A passagem da depressão alastrante provocava a expressão de c-fos – um marcador não específico
da ativação neuronal – no núcleo do trigêmeo. A passagem da DA, portanto, ativa o sistema trigeminovascular.
Inflamação Neurogênica
Moskowitz et al. desenvolveram um modelo experimental, em ratos,
no qual o estímulo trigeminal induz, antidromicamente, vasodilatação
e extravasamento de plasma, com liberação dos transmissores
mencionados acima. Este fenômeno é chamado inflamação
neurogênica.
A primeira evidência da liberação de CGRP, durante ataques de
enxaqueca, foi obtida no sangue jugular ipsilateral à dor, em pacientes
enxaquecosos. Em animais, a estimulação trigeminal leva à liberação
de neuropeptídios como a SP e o CGRP. O CGRP e a SP podem ser
considerados “marcadores” da atividade trigeminal.
Sua detecção indica ativação do sistema trigemiovascular, tal ocorre também na cefaleia em salvas. A inflamação neurogênica
constitui um modelo experimental para enxaquecas. Resultados experimentais preliminares, porém, podem não ser paralelos
a respostas clínicas correspondentes.
Predisposição Genética
Sabe-se que a enxaqueca, sobretudo a associada a aura, tem influência genética, talvez autossômica recessiva, com
penetrância reduzida. Uma forma curiosa de doença cerebrovascular, familiar, denominada “CADASIL” (Cerebral Autosomal
Dominat Arteriopathy with Subcortical Infarcts and Leucoencephalopathy) foi identificada recentemente, estando sua
ocorrência ligada ao cromossoma 19p12.
Pacientes com CADASIL são mais freqüentemente acometidos por enxaqueca com aura do que a população geral. Aquele
cromossoma também está envolvido na transmissão da “enxaqueca hemiplégica, familiar” (FHM). Quatro mutações diferentes
na subunidade α1 de um canal de cálcio, voltagem-dependente, tipo P/Q, específico do cérebro, mapeadas no gene CACNL1A4,
no cromossoma 19p13.1, foram identificadas em quatro famílias com FHM. Diante das evidências genéticas, é possível que a
enxaqueca seja classificada, no futuro, como uma “channelopathy” (ou desordem canalar).
TRATAMENTO
O manejo da enxaqueca pode ser agudo (tratamento na vigência da crise) ou crônico (nos períodos intercrises), sendo, então,
considerado profilático, pois visa impedir a repetição dos episódios. A enxaqueca aguda é muitas vezes refratária aos
tratamentos usuais. Estudos atuais se voltam para a pesquisa de novas alternativas (sumatriptana injetável, diclofenaco
efervescente e di-hidro-ergotamina inalada oralmente) para manejo das crises. Já para tratamento preventivo em enxaqueca
crônica têm sido testados topiramato, gabapentina, tizanidina e toxina botulínica de tipo A. Também procedimentos
Medidas Farmacológicas
Na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename) 2010, os medicamentos listados para controle da enxaqueca
são: ácido acetilsalicílico (comprimido de 500mg), paracetamol (comprimido de 500mg e sol. oral de 200mg/ml), cloridrato
de amitriptilina (comprimido de 25mg) e cloridrato de propranolol (comprimido de 10mg e 40mg).
FISIOPATOLOGIA
A cefaleia crônica diária (CCD) compreende quadros de dor de cabeça com duração superior a 15 dias ao mês por, pelo menos,
três meses. Não se trata de um diagnóstico etiológico, mas de uma síndrome que representa a principal demanda por
atendimento neurológico em centros especializados em cefaleia. As três principais causas de CCD são: migrânea crônica,
cefaleia do tipo tensional crônica e cefaleia por abuso de medicamentos. A cefaleia crônica diária (CCD) constitui uma
síndrome caracterizada por dor de cabeça com frequência diária ou quase diária, ou seja, presença de dor por pelo menos pelo
menos 15 dias ao mês, num período mínimo de três meses. Trata-se de uma síndrome e não de um diagnóstico etiológico.
O termo CCD é usado de forma corrente nos centros especializados em cefaleia, tendo em vista que é muito comum a demanda
por atendimento de pacientes que sofriam de cefaleias episódicas e que, com o tempo, passaram a apresentar dor de forma
diária ou quase diária. Uma parcela significativa desses indivíduos usa analgésicos de forma excessiva e muitos apresentam
comorbidades psiquiátricas, destacando-se os transtornos de humor, como depressão, e os transtornos ansiosos. Ainda não
se conhece o mecanismo exato pelo qual a cefaleia se cronifica, mas a relação com o uso abusivo de analgésicos e as
comorbidades psiquiátricas vem sendo confirmada em estudos realizados tanto em centros de atendimento especializado
quanto na própria comunidade.
O uso contínuo de medicações analgésicas por pacientes que sofrem de algum tipo de cefaléia primária é considerada uma
condição para o perpetuador da dor. O abuso de analgésicos é, geralmente, um fator de transformação da migração em CCD
(migração transformada), mas também é um fator de perpetuação de outras formas de cefaléia. A suspensão abrupta dessas
TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
A primeira etapa do tratamento é quebrar o ciclo da dor. Esses agentes podem também ser utilizados em combinação e,
geralmente, por poucos dias a uma semana, até que o ciclo seja quebrado:
× AINEs: naproxeno, ácido tolfenâmico, cetoprofeno × DHE EV.
e diclofenaco. × Clorpromazina EV (12,5mg infundida em 15
× Sumatriptano injetável subcutâneo. minutos de 6 em 6 horas e por dois dias. Deve-se
× Corticosteróide oral (prednisolona por nove dias: tomar cuidado com a hipotensão ortostática).
100 mg/dia por três dias, 50 mg/dia por três dias × Dexametazona EV (2 mg duas vezes ao dia e por
e 20 mg/dia por três dias). três dias).
Imediatamente, deve-se iniciar o tratamento profilático com:
× Antidepressivos tricíclicos (amitriptilina, e duloxetina) e os miorrelaxantes (tizanidina e
nortriptilina), carisoprodol)
× Inibidores seletivos de recaptação de serotonina e × Anticonvulsivantes (divalproato)
inibidores duplos de recaptação de serotonina e × Neurolépticos atípicos.
noradrenalina (fluoxetina, paroxetina, nefazodone
O tratamento da CCD é, na maior parte das vezes, também o tratamento do abuso de analgésicos. Portanto, é consenso, na
literatura, que o primeiro passo é a parada imediata do uso de medicações analgésicas. Após cessar por completo o uso de
analgésicos, o paciente experimenta um breve período de piora da cefaleia e o mesmo deve ser orientado que uma melhora
máxima somente irá ocorrer por volta de três a seis meses após a suspensão do abuso medicamentoso e início do tratamento
específico.
Os únicos analgésicos utilizados no tratamento ambulatorial desses pacientes são os antinflamatórios não-esteroidais
(AINEs) de longa duração (por exemplo, o tenoxicam, o naproxeno) e seu uso deve serracionalizado, com seguimento médico
Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Dor – Problema 4 - Fechamento
rigoroso, e porcurto período de tempo, apenas para prevenir umacefaléia rebote muito severa. A figura do médico, atuando na
educação e motivação, através do apoio psicológico, é muito importante para ajudar o paciente anão recair no abuso de
analgésicos durante o períodoinicial da suspensão dessas medicações.
Talvez a modalidade terapêutica mais importante e imprescindível seja o tratamento medicamentoso, profilático. Quando esse
tipo de tratamento é instituído, o paciente deve, necessariamente, ser orientado; a resposta clínica somente começa a
desenvolver-se entre 3 a 6 semanas. Inicia-se o tratamento profilático com uma única droga, numa dose diária mínima e a
escolha do agente a ser utilizado deve ser baseada no tipo de CCD, nos efeitos colaterais e nas comorbidades apresentadas
pelo paciente. A literatura especializada sinaliza para autilização das medicações: Amitriptilina, Ácido valpróico, Clorpromazina,
Propranolol, Topiramato, Fluoxetina.
TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
O tratamento da CTT pode ser sintomático, aquele de combate a fase álgica, ou profilático, cujo objetivo é reduzir as crises,
tanto em número quanto em intensidade. No sintomático recomenda-se evitar métodos farmacológicos, porém, se necessário,
analgésicos comuns ou antinflamatórios não esteroides (AINEs) podem ser empregados e relaxantes musculares. Já no
profilático, geralmente se vale de medicamentos antidepressivos tricíclicos.
Os antidepressivos tricíclicos são recomendados na CTT crônica. A CTTEI muitas vezes não necessita de tratamento, e, se for
necessário, assim com o nas outras, pode-se lançar mão de analgésicos comuns a anti-inflamatórios. Na CTTEF e na CTTC, o
foco deverá ser o tratamento profilático associado a medidas que aliviem os possíveis fatores associados.
As drogas de escolha para o tratamento profilático da CTT são os antidepressivos tricíclicos (amitriptilina, nortriptilina), os
inibidores seletivos de recaptação de serotonina e os inibidores duplos de recaptação de serotonina e noradrenalina (fluoxetina,
paroxetina, nefazodone e duloxetina) e os miorrelaxantes (tizanidina e carisoprodol).
Nos casos crônicos, emprega-se os antidepressivos tricíclicos, sendo a droga de primeira escolha é a Amitriptilina, associada
ou não a relaxantes musculares, como Tizanidina, Carisoprodol e Ciclobenzaprina. Nortriptilina ou Imipramina também podem
ser utilizadas.
Os analgésicos mais utilizados são paracetamol e ácido acetilsalicílico. O Ácido Mefenâmico também pode ser utilizado, em
especial nos casos em que há correlação da dor com o ciclo menstrual.
Os AINEs mais recomendados são o Ibuporfeno e o Naproxeno, sempre se respeitando as contraindicações destas drogas,
como em casos de úlceras pépticas e gastrites erosivas. Se estas medicações forem necessárias por um período prolongado,
recomenda-se substituir o tratamento por um profilático, com antidepressivos tricíclicos.
Deve-se salientar o perigo do abuso de analgésicos, especialmente aqueles que combinam aspirina, dipirona, acetaminofeno
e cafeína opióides, ergotamina ou triptanos - pois pode ocasionar uma cefaleia rebote ou cefaleia por abuso de medicação.
Nestes casos, deve-se suspender repentinamente a droga e iniciar medicação profilática específica.
Devem os avaliar cada paciente individualmente e observar quais os possíveis fatores associados que possam estar
corroborando para a CTT nesse paciente. Se o fator emocional for um agravante, poderemos pensar em terapia concomitante
ao tratamento medicamentoso, ou até mesmo em técnicas de relaxamento. Já se a contratura ou disfunção
musculoesquelética estiver presente, técnicas de relaxamento, fisioterapia e acupuntura poderão ser utilizadas.
NÃO FARMACOLÓGICOS
Envolvem um tratamento comportamental, em que o paciente é sujeito ativo de sua terapêutica, mudando seus hábitos quanto
a sua alimentação, ingestão de água, consumo de substancias como cafeína e nicotina, postura, qualidade do sono e etc.
Quando cabível, faz-se necessário um acompanhamento com uma equipe médica especializada para tratamento de ansiedade
ou depressão.
ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS
Quedas bruscas de temperatura têm sido relatadas como desencadeantes da cefaleia, tipo tensional, provavelmente, pelo
aumento generalizado da tensão muscular ocasionada pela baixa temperatura e, também, pela ingestão de menor quantidade
de água, que é comum em épocas mais frias.
MENSTRUAÇÃO
Assim como diversos tipos de desordens orofaciais possuem relação com a modulação hormonal, a cefaleia, tipo tensional,
pode ser desencadeada pela menstruação.
DISTÚRBIOS DO SONO
Diversos estudos têm demonstrado que distúrbios do sono, como roncos severos e síndrome da apnéia do sono, podem ser
fatores desencadeantes da cefaleia, tipo tensional. Também há relatos de que o excesso de sono também pode desencadear
a cefaleia, tipo tensional.
CAFEÍNA
O consumo abusivo de café, chás e refrigerantes também pode desencadear a cefaleia, tipo tensional, uma vez que a cafeína
é um estimulante do SNC e também uma substância desidratante. A desidratação é um fator que pode ativar pontos de gatilho.
Exame físico
O exame físico deve incluir avaliação de vias aéreas com classificação de Mallampati, distância tireomentoniana, abertura
bucal, uso de prótese dentária ou estado de conservação dos dentes, protrusão mandibular, capacidade de extensão e flexão
cervical. A presença de barba volumosa pode indicar dificuldade de ventilação sob máscara. É necessário analisar acessos
Vias aéreas
A avaliação das vias aéreas é um passo crucial na elaboração da estratégia em anestesia. Mesmo se é planejada uma anestesia
regional, a anestesia geral pode ser preciso e a necessidade urgente de se manter uma via aérea pérvia pode ser real. O objetivo
do exame da via aérea é identificar características que possam dificultar a ventilação sob máscara ou a entubação traqueal.
Um histórico de doenças ou condições associadas à estenose de vias aéreas ou laringoscopia difícil alertará o anestesiologista
sobre as potenciais dificuldades.
O paciente é observado em vistas frontal e perfil, porque muitas anormalidades das vias aéreas, como retrognatismo, não
serão evidentes a partir de uma visão frontal. O tamanho da língua em relação à cavidade oral pode ser graduado segundo a
classificação de Mallampati. O exame de Mallampati é realizado com o paciente sentado com a cabeça em uma posição neutra,
a boca aberta o máximo possível e a língua projetada ao máximo. O observador vê quais as estruturas orais e faríngeas estão
evidentes. Em geral, um paciente no qual a úvula, os pilares palatinos e o palato mole são visíveis (classe I) será fácil de
ventilar sob máscara ou entubar. Pacientes com uma via aérea classe IV, apenas o palato duro visível, provavelmente
apresentarão dificuldades de entubar ou ventilar. É claro que a classificação de Mallampati é apenas um componente do exame
da via aérea e deve ser usado em conjunto com outros aspectos do exame e com o histórico. Outros aspectos físicos
indicativos do manuseio fácil de vias aéreas são a abertura da boca adequada, extensão do pescoço e distância
tireomentoniana.
× Abertura da boca (deve ser de 6 a 8 cm [três a × Vistas frontal e de perfil;
quatro dedos]); × Avaliação de anormalidades de vias aéreas
× Mobilidade da coluna cervical; associadas a doenças coexistentes;
× Classificação de Mallampati; × Presença de pelos faciais.
× Distância tireomentoniana (deve ser de 6 a 8 cm
[três a quatro dedos]);
A classificação de Mallampati relaciona o tamanho da língua e da faringe. O teste é conduzido com o
paciente sentado, com a cabeça mantida em posição neutra, a boca bem aberta e a língua projetada
ao máximo para fora. A classificação subsequente é designada de acordo com as estruturas da faringe
que estejam visíveis: classe I, identificação do palato mole, fauces, úvula, pilares anterior e posterior;
classe II, identificação do palato mole, fauces e úvula; classe III, identificação do palato mole e da
base da úvula; e classe IV, o palato mole não é visível.
Solicitação de exames
Os exames pré-operatórios não devem ser solicitados de forma aleatória e, sim, seletivamente com o propósito de guiar e
otimizar o período perioperatório.
Eletrocardiografia (ECG)
As indicações devem ser baseadas nas informações obtidas na anamnese e no histórico médico do doente. Uma
eletrocardiografia (ECG) pode estar indicada para pacientes com fatores de risco cardiovascular conhecidos ou para pacientes
cujos fatores de risco tenham sido identificados na consulta pré-anestésica. A idade isoladamente não pode ser critério para
solicitação de uma ECG. A avaliação cardíaca pré-operatória pode incluir consulta com especialistas e pedido de exames que
vão desde testes não invasivos passivos ou testes de rastreamento provocativos (p. ex., teste de estresse) até avaliação não
invasiva e invasiva da estrutura cardíaca, função e vascularização (p. ex., ecocardiografia, cintilografia de perfusão miocárdica,
cateterismo cardíaco). O anestesiologista deve ponderar a relação risco-benefício desses testes, sendo necessário considerar
os fatores clínicos e o tipo de cirurgia.
Radiografia de Tórax
A radiografia de tórax pré-operatória pode ser solicitada em portadores de DPOC, tabagistas, cardiopatas e pacientes que
apresentaram quadro de infecção respiratória recente. Testes adicionais, como espirometria, testes de função pulmonar,
gasometria arterial e interconsultas com pneumologista devem ser solicitados apenas se necessário (p. ex., DPOC sintomática,
asma sintomática ou recorrente, escoliose com restrição da expansão torácica).
Exames Laboratoriais
Eletrocardiograma
O ECG deve ser solicitado em pacientes com doença coronariana conhecida, arritmias significativas, doença arterial periférica,
doença cerebrovascular ou outras doenças cardíacas estruturais significativas, com exceção daqueles que apesar de doentes
serão submetidos a cirurgias de baixo risco. Também, não é útil em pacientes assintomáticos submetidos a cirurgias de baixo
risco.
Ecocardiografia
A ecocardiografia deve ser solicitada em pacientes com dispneia de origem desconhecida para avaliação pré-operatória da
função do VE, bem como em pacientes clinicamente estáveis com disfunção de VE previamente documentada que não tenham
nenhum exame nos últimos 12 meses. Em pacientes candidatos a transplante de orgão sólido, existe recomendação para
avaliar a função ventricular esquerda. Não é recomendada a solicitação de ecocardiografia de rotina em todos os pacientes.
TERAPIA ANTIPLAQUETÁRIA
O manejo perioperatório da terapia antiplaquetária permanece um desafio na prática clínica e deve ser determinado por um
consenso entre cirurgião, anestesiologista, cardiologista e paciente, pesando-se o risco relativo de sangramento e trombose.
Ácido acetilsalicílico
O ácido acetilsalicílico (AAS) promove o bloqueio irreversível da função plaquetária por inibição da produção de tromboxano A2.
Embora esse efeito perdure 7 a 10 dias após a descontinuação do AAS, em 2 a 4 dias o retorno da função plaquetária já é
suficiente para produzir eventos tromboembólicos.
TERAPIA ANTICOAGULANTE
Heparinas
Heparina não fracionada
A heparina não fracionada (HNF) inativa os fatores IIa (trombina), Xa, IXa e ainda XIa e XIIa. Seu efeito anticoagulante é imediato
quando administrada por via venosa, podendo ser monitorizado pelo tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPa) ou pelo
tempo de coagulação ativada (TCA) quando administrada em altas doses durante circulação extracorpórea. A administração
de pequenas doses subcutâneas para prevenção de trombose venosa profunda não altera o TTPa.
Antagonistas da vitamina K
Os cumarínicos inibem a síntese dos fatores dependentes da vitamina K – fator II, VII, IX, X, proteína C e S. O tempo de
protrombina (TP) e o índice normalizado internacional (INR) são os testes utilizados para monitorizar esses fármacos e
refletem a atividade plasmática de três dos quatro fatores (II, VII e X).
Os pacientes em uso de antagonistas da vitamina K apresentam risco aumentado de sangramento nos períodos intra e pós-
operatório (o procedimento é seguro se INR ≤ 1,5); entretanto, em pacientes anticoagulados com alto risco de tromboembolia,*
o risco de descontinuar os anticoagulantes orais exige terapia de ponte com HNF ou HBPM. Em pacientes com alto risco de
tromboembolia, são recomendadas doses terapêuticas de HBPM, duas vezes ao dia. A dose profilática está indicada para
pacientes de baixo risco, sendo a última dose administrada até 12 horas antes da cirurgia.
Recomenda-se suspender o anticoagulante oral 3 a 5 dias antes, acompanhar com INR diariamente e iniciar heparina um dia
após a descontinuação do anticoagulante oral, ou depois, quando o INR alcançar valores menores que 2. O anticoagulante oral
deve ser reiniciado 1 a 2 dias após o procedimento, com dose adicional de 50% além da dose de manutenção pré-cirúrgica por
dois dias.
MEDICAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA
Os pacientes costumam ficar ansiosos antes de procedimentos cirúrgicos. Entretanto, educação, aconselhamento e
medicação ansiolítica pré-operatória podem ser utilizados para reduzir a ansiedade. Os ansiolíticos e analgésicos de curta
Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Dor – Problema 5 – Intermediária
duração podem ser usados para facilitar a realização de bloqueios e a inserção de cateteres intravasculares. As doses devem
ser baseadas no efeito desejado e nas comorbidades do paciente. Os benzodiazepínicos, mesmo os de curta ação, devem ser
evitados em pacientes com idade igual ou maior a 60 anos. Os benzodiazepínicos de ação prolongada devem ser evitados, pois
podem impedir ou retardar a mobilização pós-operatória e a participação direta do paciente, retardando a sua alta hospitalar.
O grau de recomendação é forte.
Anestesia Regional
É útil para operações sobre as extremidades superiores e inferiores, pelve e parte inferior do abdome. Outros procedimentos,
tais como uma endarterectomia carotídea e craniotomia “com paciente acordado”, também podem ser realizados com sucesso
sob anestesia regional ou bloqueios locorregionais. Os pacientes que recebem anestesia regional geralmente permanecem
acordados e, se necessário, podem receber sedação intravenosa ou analgésicos suplementares. Embora a anestesia regional
possa substituir a anestesia geral e intuitivamente pareça segura, seus riscos específicos devem ser considerados. Estes
incluem, entre outros, cefaleia pós-punção dural, toxicidade por anestésicos locais e lesão nervosa periférica. Além disso, uma
anestesia regional insuficiente pode requerer mudança rápida para sedação mais profunda ou mesmo anestesia geral.
Drogas Anestésicas Locais
Os anestésicos locais têm sido parte importante na anestesia intraoperatória desde que foram inicialmente descritos. Duas
classes de drogas anestésicas locais em uso corrente são amino ésteres e amino amidas, muitas vezes referidas como
ésteres e amidas. O mecanismo de ação dos anestésicos locais é o bloqueio dose-dependente dos fluxos de sódio nas fibras
nervosas. Os anestésicos locais diferem em relação às suas características físico-químicas: Destas, as mais importantes são
pKa, ligação a proteínas e grau de hidrofobicidade. O pKa é o qual metade da droga está na forma básica não ionizada e metade
existe na forma catiônica. Em geral, os agentes com um pKa baixo possuem início mais rápido do que agentes com pKa alto,
embora alguns, como a cloroprocaína, possam ser administrados em concentrações muito mais altas, compensando os efeitos
de um pKa alto. Como todos os agentes anestésicos locais comumente utilizados possuem pKa relativamente altos, eles são
pouco eficazes em meios acidóticos (inflamados), nos quais estão, primariamente, na forma ionizada, que não penetra nas
fibras nervosas. Em geral, a maior hidrofobicidade está associada à maior potência, e uma ligação proteica aumentada se
correlaciona com longa duração da ação.
Quando utilizado para anestesia regional, a toxicidade depende do local da injeção e da velocidade da absorção. A injeção
intravascular inadvertida irá produzir toxicidade com doses muito menores. Os sintomas principais da toxicidade dos
anestésicos locais envolvem o sistema nervoso central e o sistema cardiovascular. Os sinais precoces de uma dose excessiva
ou injeção intravascular inadvertida são dormência ou formigamento da língua ou dos lábios, gosto metálico, sensação de
Anestesia geral
É um estado reversível de inconsciência. Embora os mecanismos dos anestésicos gerais permaneçam especulativos e
controversos, os quatro componentes da anestesia geral (amnésia, analgesia, inibição de reflexos autonômicos e relaxamento
da musculatura esquelética) geralmente são alcançados na anestesia moderna por uma combinação de anestésicos
intravenosos e analgésicos, anestésicos inalatórios e, frequentemente, relaxantes musculares. Como as drogas que produzem
estes componentes causam tanto alterações desejáveis quanto indesejáveis, os efeitos farmacológicos dos agentes devem
ser combinados à fisiopatologia dos problemas clínicos dos pacientes. As maiores alterações adversas associadas às drogas
anestésicas são depressão respiratória, depressão cardiovascular e perda da patência e proteção das vias aéreas.
Complicações importantes da anestesia geral incluem hipoxemia (com a possibilidade de lesão ao sistema nervoso central),
hipotensão, parada cardíaca e aspiração de conteúdo gástrico ácido (podendo levar a lesão pulmonar grave). A lesão dentária
é mais frequente, mas não é ameaçadora à vida.
Agentes Inalatórios
Duas das características mais importantes dos anestésicos inalatórios são o coeficiente de solubilidade sangue/gás (S/G) e
a concentração alveolar mínima (CAM).
× Coeficiente de solubilidade S/G: é a medida da captação do agente pelo sangue. Em geral, agentes menos solúveis
(menores coeficientes de solubilidade S/G), tais como óxido nitroso e desflurano, associam-se a indução e despertar
mais rápidos, enquanto a indução e o despertar são mais lentos com agentes com alta solubilidade, como o halotano.
× CAM: é uma medida da potência e é definida como a concentração necessária de um agente para prevenir o movimento
em resposta à incisão da pele em 50% dos pacientes. Agentes que apresentam uma CAM alta são menos potentes.
A pungência de agentes anestésicos também tem implicações práticas. Agentes com baixa pungência não causam irritação
significativa das vias aéreas quando administrados em concentrações comumente usadas, e são úteis para a indução por
inalação. Desflurano é altamente irritante para as vias aéreas e não é útil para indução inalatória na maioria dos casos.
Agentes Intravenosos
Agentes intravenosos são um componente indispensável da prática anestésica moderna. Eles são usados principalmente para
indução da anestesia e como parte de uma combinação de múltiplas drogas para produzir anestesia balanceada.
ANALGESIA PÓS-OPERATÓRIA
Agonistas α2-adrenérgicos
Os agonistas α2-adrenérgicos são representados pela clonidina e dexmedetomidina. A dexmedetomidina é mais potente em
relação à clonidina, com uma afinidade e seletividade oito vezes maior pelo receptor que a clonidina. A ação analgésica,
sedativa e ansiolítica deste grupo de fármacos parece ser exercida por adrenorreceptores α2 pós-sinápticos que ativariam
proteínas G sensíveis à toxina pertussis, aumentando a condutância em canais iônicos de potássio no SNC. Seus efeitos
colaterais relacionam-se com diminuição da pressão arterial e frequência cardíaca. A clonidina tem sido empregada no controle
da dor pós-operatória por via espinhal, e a dexmedetomidina, por via venosa, associadas a opioides ou não. Com os agonistas
α2-adrenérgicos isolados, não tem sido observada depressão respiratória. O uso sistêmico de agonistas α2-adrenérgicos
melhora a analgesia perioperatória dos opioides, mas a frequência e intensidade dos efeitos colaterais pode limitar sua
utilidade clínica.
Antagonistas NMDA
O glutamato é o neurotransmissor excitatório mais abundante no SNC, com três principais subtipos de receptores:
metabotrópico, não NMDA e NMDA. Em situação de repouso da membrana neuronal, o canal do receptor NMDA (canal de cálcio)
não é funcionante e permanece bloqueado por um íon magnésio. A ativação intensa de receptores não NMDA pode remover o
magnésio que bloqueia o canal do receptor NMDA, ativando-o. Com sua ativação, a abertura do canal permite influxo de cálcio
para dentro da célula. O cálcio desencadeia diversos processos bioquímicos como fosforilação de proteínas de membrana,
ativação de óxido nítrico sintetase e ativação de genes precoces que codificam síntese proteica. Dependendo da duração e
intensidade dessas alterações, pode haver modificação persistente na excitabilidade neuronal. A sensibilização do receptor
NMDA pode aumentar a função sináptica na área afetada e tem relação com aprendizado, memorização, neuroplasticidade,
hiperalgesia com opioides e alguns estados dolorosos agudos e crônicos. Esse receptor possui outras áreas de regulação além
do magnésio, que são as de ligação de fenciclidina, glicina e zinco. Os antagonistas do receptor NMDA cetamina,
dextrometorfano, amantadina, memantina e magnésio foram investigados no manejo da dor aguda.
Anticonvulsivantes
Gabapentina e pregabalina (gabapentinoides)
O uso de gabapentinoides no período perioperatório demonstraram que houve melhora da analgesia, tanto em repouso como
em movimento, bem como redução do consumo de opioides no pós-operatório com aumento da incidência de sedação.
Estabilizadores de membrana
A lidocaína por via venosa, em infusão, reduz a intensidade da dor, diminuindo náusea e vômito após procedimento cirúrgico
abdominal. O uso de baixas concentrações de anestésico local por via peridural ou outras técnicas de anestesia regional no
pós-operatório diminui o consumo de analgésicos sistêmicos e os consequentes efeitos colaterais.
Anticolinesterásicos
A acetilcolina age na medula espinhal como um neurotransmissor antinociceptivo, e sua liberação é regulada pelos receptores
muscarínicos (M3) pré-sinápticos. O conhecimento desse efeito motivou o uso de anticolinesterásico (neostigmina) por via
subaracnóidea e peridural, associado ou não a outros fármacos como método de analgesia pós-operatória.
Opioides
Os opioides são substâncias endógenas e exógenas que se ligam a receptores específicos encontrados no sistema nervoso
central e periférico. A ação dos opioides pode ser periférica, quando ligados a receptores encontrados nas terminações
nervosas livres, ativos em presença de reação inflamatória e central. As ações centrais são espinhais e supraespinhais. Na
medula espinhal existem receptores opioides pré e pós-sinápticos, e a ação desses fármacos se dá por três mecanismos:
ANALGESIA PREEMPTIVA
Discute-se muito sobre a eficácia do tratamento da dor pós-operatória iniciado antes que o estímulo nociceptivo se instale,
sendo essa estratégia denominada analgesia preemptiva. O momento de intervenção analgésica isolada, antes da incisão
cirúrgica, definida como analgesia preemptiva, mostrou efeito significativo sobre a dor pós-operatória com analgesia peridural,
utilizando anestésico local, associado ou não a outros fármacos. Há evidências de que algumas intervenções analgésicas
possuem efeito na dor pós-operatória e/ou no consumo de analgésicos nesse período. Tal efeito excede a duração esperada
de ação do fármaco empregado, e esse tipo de efeito foi definido como analgesia preventiva. Na prática clínica, esse tipo de
intervenção parece ser de fundamental importância no controle da dor pós-operatória, relacionando-se com possível diminuição
da incidência de dor crônica após procedimentos cirúrgicos. É importante ressaltar que a analgesia preventiva deve ser mantida
durante o período pós-operatório, pelo tempo previsto de persistência de estímulos dolorosos. Fármacos antagonistas do
receptor NMDA exibem efeito analgésico preventivo.
Dor pós-radioterapia
A dor pós-radioterapia apresenta-se como exacerbação aguda de dor crônica relacionada ao posicionamento para a terapia,
queimaduras cutâneas, neuropatia actínica, mielopatia actínica, sinal de Lhermitté (desmielinização transitória da medula
cervical ou torácica), mucosite bucal, esofagite, produção de tumores primários de nervos periféricos secundários à radiação,
obstrução intestinal parcial e infarto ou isquemia intestinal.
Nos tumores localizados na região pélvica, é comum a neuropatia plexal lombossacral, e, nos tumores de mama e pulmão, a
neuropatia plexular braquial; isso ocorre devido à neuropatia actínica. Após a radioterapia, pode ocorrer fibrose de forma lenta
e progressiva, ocasionando lesão nas adjacências dos nervos, com dor em queimação e disfunção do sistema
somatossensorial. A mielopatia actínica que acontece de forma temporária, ou progressiva e permanente, surge mais
comumente na medula cervical e dorsal.
Dor pós-quimioterapia
A dor pode ocorrer por polineuropatias periféricas, causadas por drogas imunossupressoras (oxaliplatina, paclitaxel, docetaxel,
vincristina, carboplatina, cisplatina, doxorrubicina e capecitabina), podendo ser de caráter transitório ou definitivo.
Existem as mucosites (oral, faríngea, gastroduodenal e nasal) induzidas por leucopenia ou irradiação junto com a monilíase do
sistema digestório e a esofagogastroduodenite. Também podem ocorrer espasmos vesicais e a necrose asséptica da cabeça
do fêmur, causados por corticóides. O pseudo-reumatismo esteroidal surge após a retirada dos esteróides, sendo possível que
alguns pacientes apresentem mialgias e artralgias difusas, sem sinais inflamatórios objetivos, que regridem com a
reintrodução da terapia esteróide.
A neuralgia herpética (fase aguda) com características da doença inflamatória, pode surgir pela imunossupressão, aumentando
sua incidência em função da idade avançada e do sexo; essa situação tende a tornar-se crônica em 10% dos casos e a
converter-se em neuralgia pós-herpética (fase crônica) com dor em queimação, alodinia, disestesia, parestesia, paroxismos
de dor tipo choque e perda de sensibilidade na região.
Seleção de analgésicos
Com relação aos opioides de longa duração, estão atualmente aprovados no Brasil cinco analgésicos: tramadol, oxicodona,
morfina, fentanil e buprenorfina (buprenorfina está aprovada no país para o tratamento de dor moderada a intensa).
Buprenorfina e fentanil estão disponíveis em formulações transdérmicas, sendo que a buprenorfina pode ser iniciada em
pacientes virgens de opioides e o fentanil apenas em pacientes experimentados; enquanto tramadol, oxicodona e morfina são,
em geral, usados como formulações orais. Tramadol e morfina também são amplamente utilizados nas formulações injetáveis.
Deve-se dar sempre preferência ao tratamento mais simples e menos invasivo. De modo geral, medicações orais são preferíveis
a formulações transdérmicas e parenterais. Qualquer que seja o opioide selecionado, é sempre necessário administração
regular do medicamento, 24 horas por dia, para que sejam atingidos níveis plasmáticos adequados.
Ao iniciar o tratamento, deve-se dar preferência a medicações de liberação imediata para titulação e posteriormente passar
para medicações de longa duração, com doses suplementares de medicação de liberação imediata, quando ocorrerem
episódios irruptivos de dor. O uso de medicações adjuvantes frequentemente é necessário para melhor controle da dor. A
atenção cuidadosa às comorbidades e interações farmacológicas costuma prevenir eventos adversos subsequentes e
interações doença-medicamento ou medicamento-medicamento.
Novas formulações de opioides fortes de liberação imediata para titulação em pacientes tolerantes ou virgens de opioide estão
em análise pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. No entanto, como mencionado anteriormente, é possível utilizar
opioides de longa ação para titulação tanto em pacientes virgens quanto tolerantes a opioides.
O sucesso do tratamento da dor relacionada ao câncer requer não apenas que os pacientes e seus familiares tenham ciência
dos medicamentos prescritos, mas que compreendam os objetivos do tratamento, a necessidade de aderência ao tratamento
e de uma boa comunicação com a equipe de saúde. Este processo exige profissionais que esclareçam e desfaçam os mitos
sobre dependência e medo de eventos adversos tóxicos. Os profissionais de saúde devem reavaliar os pacientes
continuamente, devem estar disponíveis e acessíveis para atender chamadas e responder perguntas e desenvolver programas
de tratamento que sejam simples e fáceis de seguir. Os eventos adversos devem ser tratados de maneira proativa, sempre
que possível (p. ex.: iniciar laxativos sempre que prescrever opioides). A utilização de tratamentos não farmacológicos (p. ex.:
acompanhamento psicológico, fisioterapia, entre outros) deve ser sempre considerada pelos profissionais de saúde.
Agonistas Sintéticos
As duas principais classes de agonistas sintéticos dos receptores são as fenileptilaminas (metadona) e as fenilpiperidinas
(fentanil, meperidina). A metadona é mais conhecida pelo seu uso no tratamento da adicção de drogas, mas também pode ser
utilizada no controle da dor. A metadona possui uma meia-vida de eliminação de 24 horas, que pode estar relacionada com a
sua interação com as proteínas plasmáticas, e seus efeitos analgésicos duram, tipicamente, 4 a 8 horas. Em conseqüência
de sua longa duração de ação, a metadona é freqüentemente utilizada para obter alívio prolongado da dor crônica em pacientes
com câncer terminal. A metadona também exibe alguma atividade antagonista no receptor NMDA, porém esse mecanismo não
tende a ser clinicamente relevante.
O fentanil, um exemplo de agonista opióide sintético de ação curta, com meia-vida de eliminação comparável à da morfina, é
75 a 100 vezes mais potente do que a morfina. Em virtude de sua alta lipofilicidade, o fentanil é biodisponível através de
diversas vias peculiares. Por exemplo, o fentanil foi formulado em pastilhas para administração trasmucosa bucal, que é
particularmente valiosa para evitar o tratamento parenteral em pacientes pediátricos. O fentanil também pode ser
Daniela Junqueira Gomes Teixeira – Dor – Problema 5 - Fechamento
administrado por via transdérmica, na forma de disco que libera lentamente o fármaco, proporcionando analgesia sistêmica de
ação longa. O alfentanil, que é ainda mais potente do que o fentanil, e o sufentanil, que é menos potente, estão estruturalmente
relacionados com o fentanil.
O remifentanil, a fenilpiperidina mais recentemente desenvolvida, exibe um comportamento farmacocinético distinto. O
remifentanil contém um metil éster que é essencial para sua atividade, mas que também atua como substrato para a ação de
numerosas esterases teciduais inespecíficas. Por conseguinte, apresenta um metabolismo e eliminação inusitadamente
rápidos. Quando administrado na forma de infusão contínua durante a anestesia, o remifentanil permite uma equivalência
precisa de sua dose com a resposta clínica. Entretanto, o rápido término de sua ação exige que o uso do remifentanil durante
a anestesia seja associado com a administração de um fármaco de ação mais longa para manter a analgesia no pós-operatório.
Outra fenilpiperidina é a meperidina, um agonista com eficácia analgésica semelhante à da morfina; 75-100 mg de meperidina
equivalem a 10 mg de morfina. Sua atividade analgésica fica reduzida à metade quando administrada por via oral, e, com
freqüência, o fármaco produz disforia. O metabólito tóxico da meperidina, a normeperidina, pode causar aumento da
excitabilidade do SNC e convulsões. A normeperidina é excretada pelos rins, e a sua meia-vida de eliminação é mais longa que
a da meperidina; por conseguinte, a toxicidade da meperidina representa um problema particular com o uso de doses repetidas
do fármaco ou em pacientes com doença renal crônica. Ao contrário de outros opióides, a meperidina provoca mais midríase
do que miose.
ANALGESIA PÓS-OPERATÓRIA
A dor no período operatório leva a repercussões orgânicas que variam de acordo com sua intensidade e duração. Em situação
cirúrgica, normalmente o quadro é de dor aguda decorrente da doença de base ou do ato operatório. A tendência natural da
evolução da dor aguda é sua remissão. A cicatrização ou estabilização da área lesada leva à redução na intensidade da dor
pela menor liberação de substâncias algogênicas e pela atividade dos sistemas de modulação. No período operatório, a dor
pode desencadear reações reflexas segmentares e suprassegmentares que incluem distúrbios nas funções pulmonar,
cardiovascular, gastrintestinal e urinária, prejuízo de função e metabolismo muscular, bem como alterações neuroendócrino-
metabólicas e imunológicas.
Incisões cirúrgicas dolorosas no andar superior do abdômen alteram a mecânica respiratória, diminuindo a capacidade vital, o
volume corrente, o volume residual, a capacidade residual funcional e o volume expiratório forçado em 1 segundo. Essas
alterações derivam da diminuição da função diafragmática e do aumento do tônus dos músculos abdominais durante a
expiração. O resultado é a diminuição da complacência pulmonar e a incapacidade para respirar profundamente e tossir,
evoluindo, em alguns casos, para hipoxemia, hipercapnia, retenção de secreções, atelectasia e pneumonia. O tônus muscular
aumentado eleva o consumo de oxigênio e a produção de ácido láctico.