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EXCELENTÍSSIMO/A SENHOR/A DOUTOR/A JUIZ/A DE DIREITO DA _______ VARA

DA FAZENDA PÚBLICA/VARA CÍVEL DA COMARCA DE ____________ - SP

URGENTE

______________________ (nome), _________________ (nacionalidade),


______________ (estado civil), ________________ (profissã o), portadora da cédula de identidade
R.G. n° ____________, inscrita no CPF/MF sob o nº ____________, residente e domiciliada
____________, pela Defensoria Pú blica do Estado de Sã o Paulo, através dos ó rgã os de
execuçã o que esta subscrevem, dispensados de apresentar mandato, ex vi Lei
Complementar Estadual nº 988/2006, artigo 162, inciso VI, vem, respeitosamente, à
presença de Vossa Excelência, com fundamento no artigo 497 e seguintes do Có digo de
Processo Civil, ajuizar a presente

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER COM PEDIDO DE


TUTELA DE URGÊNCIA

em face de ____________, (qualificaçã o), pelos motivos de fato e de direito


a seguir expostos.

Endereço, telefone e e-mail da unidade da DPE


I – DAS PRERROGATIVAS DOS/AS DEFENSORES/AS PÚBLICOS/AS

De início, insta frisar que os/as Defensores/as Pú blicos/as


representam seus/suas usuá rios/as em processos judiciais e extrajudiciais
independentemente de mandato, salvo nos casos em que a lei exija poderes especiais.
Detém também direito à intimaçã o pessoal mediante entrega dos autos com vista e à
contagem em dobro de todos os prazos, conforme previsto no artigo 128, incisos I e XI,
da Lei Complementar nº 80/1994, no artigo 162, inciso VI, da Lei Complementar
Estadual nº 988/2006 e no artigo 186 do Có digo de Processo Civil.

Outrossim, no exercício de suas funçõ es, agem com isençã o do


pagamento de emolumentos, taxas e custas do foro judicial ou extrajudicial, nos termos
do artigo 162, inciso IX, da Lei Complementar Estadual nº 988/2006.

II – DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

A Autora é hipossuficiente, na medida em que nã o pode arcar com


as custas do processo sem prejuízo do sustento pró prio e de sua família, conforme
Declaraçã o de Hipossuficiência (doc. x), razã o pela qual faz jus aos benefícios da Justiça
Gratuita, nos termos do artigo 98 do Có digo de Processo Civil.

III – DA ATUAL SITUAÇÃO COM O COVID-19:

Recorda-se que a Organizaçã o Mundial de Saú de declarou o surto do


novo coronavírus (2019-nCoV) como Emergência de Saú de Pú blica de Importâ ncia

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Internacional (ESPII) em 30 de janeiro de 2020 1 e, apó s, em 11 de março de 2020,
caracterizou o COVID-19 como pandemia2.

Assim, desde março deste ano, com a chegada do COVID-19 (novo


coronavírus) ao país, o cená rio em que vivemos foi alterado. No Brasil, foi a Portaria nº
188/2020 do Ministro de Estado da Saú de declarou a Emergência em Saú de Pú blica de
Importâ ncia Nacional (ESPIN).

Diante deste cená rio, foram decretadas medidas de isolamento social,


alterando a realidade normal da sociedade, além de mudanças no atendimento nos
serviços de saú de.

Neste contexto, a Lei Federal nº 13.979/2020 dispô s sobre as medidas


para o enfrentamento da emergência de saú de pú blica de importâ ncia internacional
decorrente do Coronavírus, reafirmando medidas em consonâ ncia com o pleno respeito
à dignidade, aos direitos humanos e à s liberdades fundamentais das pessoas, bem como
atribuindo ao Ministério da Saú de a competência para regulamentar a lei de
enfrentamento da emergência de saú de pú blica3.

No plano do Estado de Sã o Paulo, foram publicados os Decretos nº


64.862/2020 e nº 64.864/2020, que dispuseram sobre medidas de cará ter temporá rio e
emergencial de prevençã o do contá gio pelo SARS-Cov-2, bem como a Resoluçã o SS-28,

1
A íntegra da declaração pode ser vista no site oficial da Organização Panamericana de Saúde - OPAS-OMS:
<http://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=6100:oms-declara-emergencia-de-
saude-publica-de-importancia-internacional-em-relacao-a-novo-coronavirus&Itemid=812>. Consultado em:
15/03/2020.
2
A íntegra da declaração pode ser vista no site oficial da Organização Panamericana de Saúde - OPAS-OMS:
<http://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=6120:oms-afirma-que-covid-19-e-
agora-caracterizada-como-pandemia&catid=1272&Itemid=836>, consultado em 15 de março de 2020.
3
Lei nº 13.079/2020: “Art. 3º (...) § 2º Ficam assegurados às pessoas afetadas pelas medidas previstas neste
artigo: (...) III – o pleno respeito à dignidade, aos direitos humanos e às liberdades fundamentais das pessoas,
conforme preconiza o Artigo 3 do Regulamento Sanitário Internacional (...) Art. 7º O Ministério da Saúde
editará os atos necessários à regulamentação e operacionalização do disposto nesta Lei.”

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de 17/03/2020, que estabeleceu as diretrizes e orientaçõ es de funcionamento dos
serviços de saú de no â mbito do Estado de Sã o Paulo para enfrentamento da pandemia
do Covid-19.

IV - DOS FATOS

(NARRAR OS FATOS)

A Requerente descobriu sua gravidez em ____________________. Durante


todo o período gestacional fez acompanhamento pré natal (DOC. XX).

Contudo, durante o pré-natal foi informada que nã o seria autorizado o


direito ao acompanhante no antes, durante e pó s parto em razã o da pandemia da
COVID-19.
Formulado pedido administrativo e protocolado o plano de parto, nã o
houve resposta do Hospital até a presente data.

V – DO DIREITO

A) DA NORMATIVA INTERNACIONAL

A Organizaçã o Mundial da Saú de (OMS) publicou em 2018 novas


diretrizes sobre padrõ es globais de atendimento à s mulheres grá vidas. O novo
documento da OMS inclui 56 recomendaçõ es4 sobre os cuidados durante o parto para
uma experiência de parto positiva. Inclui o direito a ter um acompanhante à sua escolha
durante o trabalho de parto e o respeito pelas opçõ es e tomada de decisã o da mulher na
gestã o da sua dor e nas posiçõ es escolhidas durante o trabalho de parto e ainda o
respeito pelo seu desejo de um parto totalmente natural, até na fase de expulsã o.
4
Disponível em <https://iris.paho.org/bitstream/handle/10665.2/51552/9789275321027_spa.pdf?
sequence=1&isAllowed=y> Acesso 28.04.2020.

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A Convençã o sobre a Eliminaçã o de Todas as Formas de Discriminaçã o
contra a Mulher - CEDAW de 1979, ratificada pelo Brasil 5, determina que toda mulher
tem direito a uma assistência adequada no pré-parto, parto e puerpério, conforme
se extrai do seu artigo 12:

Os Estados-Partes garantirã o à mulher assistência apropriada em


relaçã o à gravidez, ao parto e ao período posterior ao parto,
proporcionando assistência gratuita quando assim for necessá rio,
e lhe assegurarã o uma nutriçã o adequada durante a gravidez e a
lactâ ncia.

Uma assistência apropriada, para além do disposto expressamente nos


textos dos tratados internacionais, também inclui o direito ao acompanhante, que seja
de preferência daquela mulher, de modo a lhe dar maior conforto e apoio, além de ser
um importante instrumento para a prevençã o da prá tica de violência obstétrica.

B) DA LEI DO ACOMPANHANTE E OUTRAS NORMAS NACIONAIS

A saú de deve ser compreendida da forma mais ampla possível,


ultrapassando concepçõ es de ordem meramente bioló gica. Antes entendida
simplesmente como a ausência de doença, tendo como parâ metro, portanto, o estado de
patologia, a saú de, a partir do século XX, passou a ser captada de forma positiva,
dinâ mica e multidimensional. Neste passo, a saú de, como direito humano fundamental e
complexo, que abarca inú meros aspectos da vida, é elemento estrutural da dignidade da
pessoa e pilastra determinante da construçã o do mínimo existencial.

5
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4377.htm>. Acesso em: 23/04/2020.

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A Constituiçã o Federal nã o abre margem para dú vidas, ao considerá -la
verdadeiro direito pú blico subjetivo:

Art. 196. A saú de é direito de todos e dever do Estado, garantido


mediante políticas sociais e econô micas que visem à reduçã o do risco
de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às
ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

A Constituiçã o do Estado de Sã o Paulo, na mesma toada, assim


reconhece:

Artigo 219 - A saú de é direito de todos e dever do Estado.


Pará grafo ú nico - O Poder Pú blico estadual e municipal garantirã o o
direito à saú de mediante:
(...)
4 - Atendimento integral do indivíduo, abrangendo a promoçã o,
preservaçã o e recuperaçã o de sua saú de.

Cumpre apontar que a nossa Carta Maior, em atençã o à s


recomendaçõ es da Organizaçã o Mundial de Saú de, ao valor fundamental da dignidade
humana e ao princípio basilar da liberdade (art. 1º, III, e art. 5º), garante o direito das
mulheres de serem ouvidas e fazerem parte do processo de tomada de decisõ es no
trabalho de parto que, portanto, deve ser humanizado.

Tendo vista essa necessidade em se garantir que os partos sejam


humanizados dentro do Brasil, em 2005 foi publicada a Lei Federal nº 11.108/2005, a
qual inseriu o artigo 19-J na Lei nº 8.080/1990 (Lei do SUS), a qual passou a prever,
assim, a obrigatoriedade da rede própria e conveniada de saúde permitir a

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presença, junto à parturiente, de um acompanhante durante todo o período de
trabalho de parto, parto e pós-parto6.

A Portaria nº 2.418/2005, do Ministério da Saú de, por sua vez,


regulamentou a referida Lei do direito ao acompanhante e estabeleceu o período de 6
(seis) meses, decorridos em junho de 2006, para que as adaptaçõ es necessá rias à
efetivaçã o desse direito da parturiente fossem efetuadas pelos estabelecimentos de
saú de.

Esse mesmo direito está expresso também no artigo 8°, §6°, do


Estatuto da Criança e do Adolescente, dentro do Título referente aos Direitos
Fundamentais7.

Recorda-se que o Sistema Ú nico de Saú de engloba os serviços de saú de


executados por pessoas naturais ou jurídicas, de direito pú blico ou privado,
independente da fonte de financiamento8 e, portanto, as disposiçõ es da Lei nº
8.080/1990, como o direito a acompanhante, obrigam tanto a rede pública e quanto
a privada de saúde.

Nã o apenas. Também o Programa de Humanização no Pré-natal e


Nascimento (PHPN), instituído pelo Ministério da Saú de através da Portaria GM nº

6
Lei nº 8.080/90: Art. 19-J. Os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde - SUS, da rede própria ou
conveniada, ficam obrigados a permitir a presença, junto à parturiente, de 1 (um) acompanhante durante todo o
período de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato. §1° O acompanhante de que trata o caput deste artigo
será indicado pela parturiente.
7
ECA. Art. 8° É assegurado a todas as mulheres o acesso aos programas e às políticas de saúde da mulher e de
planejamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequada, atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao
puerpério e atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral no âmbito do Sistema Único de Saúde. §6° A
gestante e a parturiente têm direito a 1 (um) acompanhante de sua preferência durante o período do pré-natal, do
trabalho de parto e do pós-parto imediato.
8
Lei nº 8.080/1990: “Art. 1º Esta lei regula, em todo o território nacional, as ações e serviços de saúde,
executados isolada ou conjuntamente, em caráter permanente ou eventual, por pessoas naturais ou jurídicas de
direito Público ou privado.”

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569/2000, que deve ser seguido por todos os estabelecimentos de saú de, e engloba o
direito a acompanhante.
Semelhantemente, a Resolução da Diretoria Colegiada nº 36/2008
da ANVISA, que reafirma o direito à presença do acompanhante no parto e também
estabelece parâ metros para o funcionamento dos serviços que prestam atendimento a
partos e nascimentos e, ainda, que o descumprimento constitui infraçã o de natureza
sanitá ria.
Especificamente em relaçã o à rede de saúde suplementar, a
Resolução Normativa n° 428/2017 da ANS (Agência Nacional de Saú de
Suplementar)9, que atualiza o rol de referência bá sica para cobertura assistencial
mínima nos planos privados de assistência à saú de, estabelece, no seu artigo 23, inciso I,
que os planos hospitalares com obstetrícia devem incluir “cobertura das despesas,
incluindo paramentaçã o, acomodaçã o e alimentaçã o, relativas ao acompanhante
indicado pela mulher durante: a) pré-parto; b) parto; e, c) pós–parto imediato,
entendido como o período que abrange 10 (dez) dias apó s o parto, salvo
intercorrências, a critério médico”.

Ainda, a Resolução Normativa n° 368/2015 da ANS 10 dispõ e, dentre


outros assuntos, sobre a utilizaçã o do cartã o da gestante pelas beneficiá rias da saú de
suplementar. Esse cartã o, que serve como um instrumento de registro e dados de
acompanhamento da gestã o e que deve ser apresentado em todos os estabelecimentos
de saú de que utilizar durante a gestaçã o e na maternidade, traz, dentro do seu
conteú do, a seguinte frase:

“Todas as mulheres têm o direito a um acompanhante de sua


livre escolha no pré-parto, parto e pós-parto imediato. Planos

9
Disponível em: <https://www.ans.gov.br/component/legislacao/?
view=legislacao&task=TextoLei&format=raw&id=MzUwMg==>. Acesso em: 28/04/2020.
10
Disponível em: <http://www.ans.gov.br/component/legislacao/?
view=legislacao&task=TextoLei&format=raw&id=Mjg5Mg==>. O cartão da gestante está em um dos anexos
da Resolução. Acesso em: 28/04/2020.

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hospitalares com obstetrícia com acomodaçã o enfermaria, quarto
semi-privativo, quarto privativo, ou qualquer outra acomodaçã o,
devem cobrir as despesas da paramentaçã o (roupas higienizadas
necessá rias para entrar no centro cirú rgico), alimentaçã o e
acomodaçã o do acompanhante.” (grifos nossos)

Por fim, no â mbito paulista, tem-se a Lei Estadual nº 15.759/2015,


que prevê que toda gestante tem direito a receber assistência humanizada durante o
parto nos estabelecimentos pú blicos de saú de do Estado.

C) DAS NORMATIVAS EM TEMPOS DE CORONAVÍRUS

A ONU Mulheres emitiu recomendaçõ es no sentido de que sejam


observadas perspectivas de gênero no combate ao Coronavírus, incluindo a proteção
aos serviços essenciais de saúde sexual e reprodutiva às mulheres e meninas 11.

Há , também, uma série de disposiçõ es e documentos oficiais que visam


garantir à parturiente o direito de um acompanhante durante todo o período de
trabalho de parto, parto e pó s-parto neste período de pandemia em razã o do COVID-19.

De início, destaca-se que a Organizaçã o Mundial da Saú de (OMS), logo


no início da pandemia do Coronavírus, emitiu orientaçõ es no sentido de que é direito de
todas as mulheres receberem atençã o de alta qualidade antes, durante e apó s o parto, o
que também inclui, dentre outras recomendações, que elas estejam
acompanhadas por uma pessoa de sua escolha durante o parto12.

11
Disponível em: <https://nacoesunidas.org/onu-mulheres-pede-atencao-as-necessidades-femininas-nas-acoes-
contra-a-covid-19/>. Acesso em: 23/04/2020.
12
Disponível em: <https://www.who.int/news-room/q-a-detail/q-a-on-covid-19-pregnancy-childbirth-and-
breastfeeding>. Acesso em: 23/04/2020.

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No cená rio brasileiro, foi publicada a Nota Técnica n. 04-2020 GVIMS
-GGTES-ANVISA sobre “Orientaçõ es para serviços de saú de: Medidas de Prevençã o e
Controle que devem ser adotadas durante a assistência aos casos suspeitos ou
confirmados pela infecçã o do novo coronavírus (SARS – CoV-2)”, atualizada em
31/03/2020, segundo a qual, nos casos previstos em lei, deve ser observado o direito
ao acompanhante13.

O Ministério da Saú de, por sua vez, emitiu a Nota Técnica nº


09/2020-COSMU/CGCIVI/DAPES/SAPS/MS, no dia 09/04/2020, que tem como
objetivo fornecer recomendaçõ es para os/as profissionais de saú de que atuam no
cuidado a gestantes e recém-nascidos no pré-parto, parto e puerpério, a par das
evidências disponíveis até o momento. Em regra, neste documento, o Ministério da
Saúde recomenda que seja mantida a presença do/a acompanhante durante o pré-
parto, o parto e o puerpério14.

Neste ponto, ressalta-se que, segundo a referida Nota Técnica, a


parturiente e o seu acompanhante devem passar pela triagem dos casos suspeitos e
confirmados de COVID-19 antes da internaçã o e que, desde que assintomá tico e fora dos
grupos de risco, o direito ao acompanhante deve ser garantido. Leia-se:

“2.2. Admissão para parto no contexto COVID-19:


2.2.1. Toda parturiente e seu acompanhante devem ser triados para
casos suspeitos ou confirmados de COVID-19 antes da sua admissã o no
serviço obstétrico. Será considerada suspeita ou confirmada a pessoa
que:
2.2.1.1. Esteve em contato que signifique exposiçã o,
independentemente de ser em sua residência ou ambientes que possa
frequentar e que possuía caso suspeito ou confirmado, mesmo estando
assintomá tica;
2.2.1.2. Relatar febre aferida ou referida e tosse ou dor de garganta ou
dispnéia.
13
Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/documents/33852/271858/Nota+Técnica+n+04-2020+GVIMS-
GGTES-ANVISA/ab598660-3de4-4f14-8e6f-b9341c196b28>. Acesso em: 23/04/2020.
14
Disponível em: <https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/wp-content/uploads/2020/04/SEI_MS-
0014382931-Nota-Tecnica_9.4.2020_parto.pdf >. Acesso em: 23/04/2020.

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2.2.1.3. Apresentar resultado de exame positivo para SARS-CoV-2 nos
ú ltimos 14 dias.

2.3. O acompanhante, desde que assintomático e fora dos grupos


de risco para COVID-19, deve ser permitido nas seguintes
situações:
2.3.1. mulheres assintomá ticas nã o suspeitas ou testadas negativas para
o vírus SARS-CoV-2: neste caso, também o acompanhante deverá ser
triado e excluída a possibilidade de infecçã o pelo SARSCoV-2.
2.3.2. mulheres positivas para o vírus SARS-CoV-2 ou suspeitas: o
acompanhante permitido deverá ser de convívio diário da
paciente, considerando que a permanência junto à parturiente não
aumentará suas chances de contaminação; assim sendo, se o
acompanhante nã o for de convívio pró ximo da paciente nos dias
anteriores ao parto, este nã o deve ser permitido.
2.3.3. Em qualquer situaçã o, nã o deve haver revezamentos (para
minimizar a circulaçã o de pessoas no hospital) e os acompanhantes
deverã o ficar restritos ao local de assistência à parturiente, sem
circulaçã o nas demais dependências do hospital.
2.3.4. O surgimento de sintomas pelo acompanhante em qualquer
momento do trabalho de parto e parto implicará no seu afastamento
com orientaçã o a buscar atendimento em local adequado.

2.4. Conforme resultado da triagem:


2.4.1. triagem negativa: a parturiente deve ser manejada
habitualmente conforme protocolos de boas prá ticas já vigentes;
ressalta-se a importâ ncia de ter acompanhante também classificado
como negativo para COVID-19. Ambos devem receber orientaçõ es de
medidas de prevençã o de infecçã o;
2.4.2. triagem positiva (gestante ou acompanhante): a parturiente
deve ser transferida para quarto em isolamento idealmente em regime
Pré-parto/Parto/Puerpério atendidos no mesmo ambiente (PPP),
utilizar má scara cirú rgica, receber orientaçõ es e meios de higienizar as
mã os e receber cuidado de pessoal devidamente protegido com EPI. A
circulaçã o no quarto deverá ser restrita. O acompanhante também
deverá usar má scara cirú rgica e ser considerado portador do SARS-
CoV-2; deve- se adotar uma linguagem clara e objetiva com a
parturiente e acompanhante, para minimizar angú stias e ansiedades
sobre o quadro clínico e as medidas de precauçã o a serem adotadas, os
profissionais devem adotar escuta ativa e qualificada para respostas a
possíveis questionamentos.”

No mesmo sentido, o Ministério da Mulher, Família e Direitos


Humanos lançou a cartilha “Mulheres na Covid-19” para enfrentamento ao COVID-19
pelo pú blico específico de gestantes e lactantes, na qual é ressaltado o direito das

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mulheres ter um acompanhante durante todo o trabalho de parto e internação
hospitalar15.

No plano estadual, também foi publicada a Nota Técnica nº 03/2020,


elaborada pela Secretaria de Estado da Saúde do Estado de São Paulo, que dispõ e
sobre o manejo da Assistência à s Mulheres no Ciclo Gravídico Puerperal e para o Recém
Nascido no que se refere à lactaçã o, considerando a situaçã o atual na Saú de Pú blica com
relaçã o à pandemia causada pelo novo Coronavírus SARS-Cov-2 (COVID-19). Essa Nota
Técnica determina a manutençã o das recomendaçõ es considerando as Boas Prá ticas do
Parto, Nascimento e Puerpério para as mulheres que nã o sejam casos suspeitos ou
confirmados para o Covid-19, ou para aquelas consideradas curadas para o Covid-19,
dentre elas, a observâ ncia do direito ao acompanhante previsto na Lei nº 12.895/2013,
em casos de parturiente sem exposiçã o e/ou assintomá ticas ao SARS-CoV-2, desde que
o acompanhante também nã o apresente sintomas16.

Por fim, destaca-se que, de acordo com os Princípios de Siracusa sobre


a limitaçã o ou revogaçã o dos direitos previstos no Pacto Internacional sobre Direitos
Civis e Políticos17, para que a restriçã o a esses direitos seja legítima, é necessá rio que
estejam presentes os seguintes requisitos: base legal, necessidade extrema, base em
evidências científicas, duraçã o limitada, respeito à dignidade humana, possibilidade de
revisã o, proporcionalidade ao alcance de seu objetivo e ainda nã o ser arbitrá ria nem
discriminató ria.

15
Disponível em: <https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2020-2/abril/cartilha-orienta-mulheres-
durante-a-pandemia-do-coronavirus>. Acesso em: 23/04/2020.
16
A esse respeito, a Nota Técnica nº 03/2020 assim dispõe: “Recomendamos que o gestor avalie as condições de
ambiência para diminuir circulação e a capacidade de EPI’s necessários para manter a segurança das usuárias,
profissionais e de seus acompanhantes. No caso de restrição do acompanhante o gestor deverá documentar,
enfatizando a atual situação de pandemia do SARS-CoV-2, respaldando a instituição e os profissionais com a
adoção de tal medida”. Disponível em: Diário Oficial do Estado de São Paulo, Caderno do Poder Executivo -
Seção II, v. 130 (63), publicado em 31 de mar. 2020, p.28.
17
Disponível em: <https://www.civilisac.org/civilis/wp-content/uploads/principios-de-siracusa-1.pdf>. Acesso
em: 23/04/2020.

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Todavia, o que se observa é o contrá rio.

Qualquer restriçã o aos direitos das mulheres em obter assistência


adequada no momento do acolhimento, trabalho de parto, parto e puerpério e que
quaisquer medidas que tolham o direito da parturiente ao acompanhante, tomadas pela
maternidade, mesmo em contextos de excepcionalidade, são destituídas de
fundamentos fáticos e legais, podendo configurar afronta aos princípios da
legalidade, razoabilidade, proporcionalidade, autonomia e dignidade da pessoa
humana, além de caracterizar violência obstétrica.

Ademais, há uma série de cuidados preventivos quanto ao COVID-19


que podem e devem ser tomados tanto em relaçã o à Paciente quanto ao seu
Acompanhante, tais como: higienizaçã o e esterilizaçã o, uso de má scaras e outras
medidas preventivas. Essas medidas preventivas constituem uma forma de assegurar
que parturiente e acompanhante permaneçam no mesmo ambiente de modo seguro,
para elas e para os funcioná rios do estabelecimento de saú de, sob as mesmas condiçõ es
de esterilizaçã o e proteçã o.

Antes da pandemia, o Poder Judiciá rio já protegia - de forma preventiva


ou repressiva - esse direito, ou por meio da garantia ao direito do acompanhante ou,
quando esse direito já havia sido violado, pela concessã o de uma indenizaçã o, em razã o
dos danos morais causados. Nesse sentido, nota-se o seguinte julgado do Tribunal de
Justiça do Estado de Sã o Paulo:

RESPONSABILIDADE CIVIL – Dano moral – Atendimento


grosseiro e inadequado por parte da médica plantonista – Além
disso, o pai foi impedido de acompanhar o parto de seu filho –
A presença de um acompanhante no momento do parto não é
mera faculdade, que fica a critério do médico ou do hospital,

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mas direito da parturiente – Lei do Parto Humanizado - Lei n.
11.108/2005 – Reflexo do direito constitucional à dignidade –
Impedimento que somente se permite diante de fundado prejuízo
à realizaçã o do procedimento médico - Dano moral configurado –
Quantum indenizató rio - Artigo 944, do Có digo Civil - Princípios
da razoabilidade e da proporcionalidade – Estimativa correta –
Sentença mantida - Recurso nã o provido. (TJSP; Apelaçã o Cível
0005635-71.2013.8.26.0562; Relator (a): Mô nica de Carvalho;
Ó rgã o Julgador: 8ª Câ mara de Direito Privado; Foro de Santos - 5ª.
Vara Cível; Data do Julgamento: 29/10/2019; Data de Registro:
29/10/2019) (grifos nossos)

Atualmente, com o novo cená rio do país, começa-se a observar a


presença desse tipo de demanda nos Tribunais de Justiça do país, com a concessã o de
tutelas jurisdicionais em favor da mulher gestante e do seu direito a ter um
acompanhante. Assim, por exemplo, destacam-se os seguintes trechos da sentença
proferida no Mandado de Segurança n° 0011367-06.2020.8.16.0129 18, impetrado no
Tribunal de Justiça do Estado do Paraná :

“Nessa perspectiva, há que se ver que a Lei do Acompanhante


não foi editada por acaso, mas sim porque diversas
evidências concluíram pelos benefícios que a presença de um
acompanhante traz a mulher (...)
Diante esse panorama, deve-se reconhecer que a proibiçã o do
HRL ao exercício do direito ao acompanhante mostra-se
insubsistente, porque conquanto vise ser uma medida de
enfrentamento à COVID-19, não deixa de ser, a princípio,

18
Disponível em: <https://www.tjpr.jus.br/documents/18319/33666028/Decis
%C3%A3o+parto+acompanhante/b96af3d7-6809-2be7-8443-72c395e521fb>. Acesso em 24/04/2020.

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restrição que viola direitos da mulher, sem que haja respaldo
das autoridades públicas e sanitárias para tanto.” (grifos
nossos)

No mais, no Tribunal do Estado de Justiça de São Paulo, destaca-se a


recente decisã o, proferida nos autos no Agravo de Instrumento n° 2076228-
84.2020.8.26.0000, pela 7ª Câ mara de Direito Pú blico, em 24/04/2020, que antecipou
parcialmente os efeitos da tutela recursal para que à parturiente seja garantido o
direito de se fazer acompanhar por pessoa indicada. Segundo a decisã o:

“[D]esde que o acompanhante se encontre fora do grupo de risco,


e nã o apresentando sintomas para COVID-19, nada obsta a sua
permanência ao lado da parturiente. Nã o se trata aqui de
interferência judicial na conduta médica, mas de fazer valer
norma técnica editada pelo Ministério da Saú de.” (grifos nossos)

Deste modo, a imposição de obstáculos ou a proibição para a


efetivaçã o do direito ao acompanhante que a parturiente tem, durante todo o período
de trabalho de parto, parto e pó s-parto, é complementamente indevida, por ser
ilegal e por configurar uma forma de violência obstétrica.

VI – DA TUTELA DE URGÊNCIA:

O artigo 300 do Có digo de Processo Civil afirma que a “tutela de


urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do
direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado ú til do processo”.

Estã o presentes os citados requisitos nesta demanda. Senã o, vejamos.

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A Autora vem requerer a concessã o da tutela provisória antecipada
de urgência, em caráter liminar, consistente na obrigaçã o do Hospital em garantir o
seu direito a um acompanhante de sua livre escolha durante todo o período de trabalho
de parto, parto e pó s-parto.

Para a concessã o da tutela provisó ria antecipada de urgência, a lei


exige como pressupostos a probabilidade do direito, que nã o é, certamente, prova de
verdade absoluta, pois ainda poderá ser objeto de recurso – mas de uma prova robusta
que se aproxime da verdade.

E o direito requerido, tanto em sede de tutela provisó rio quanto em


sede de tutela definitivo, é um direito que está previsto tanto em lei e quanto em outras
normas do ordenamento jurídico brasileiro, inclusive no cená rio atual, como
demonstrado acima, de modo que se vislumbra a sua probabilidade.

Ainda, a demanda vem devidamente instruída, e demonstra, de forma


inequívoca, o cabimento de obrigação, em caráter liminar, diante do direito
constitucional ao acompanhante, da maneira a humanizar e efetivar um parto
digno durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto.

Ademais, claro está o fundado receio de dano irreparável ou de


difícil reparação, uma vez que a não concessão do direito ao acompanhante de
forma antecipada e liminar poderá implicar em um parto desacompanhada, em
desrespeito à autonomia da mulher e gerando riscos à sua saúde física e
psicológica,

No presente caso, a Autora está grá vida e já se encontra na ______


(______________) semana de gestaçã o, sendo que parto ocorrerá em ____________.

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Desta forma, requer-se a concessã o de tutela provisó ria antecipada de
urgência, em cará ter liminar, para garantir à Requerente o seu direito a um
acompanhante de sua escolha durante todo o período de trabalho de parto, parto e pó s-
parto, inclusive com a imposiçã o de multa diá ria no valor de R$ _________ (________), ou
outro valor reputado adequado, nos termos dos artigos 497 e 537 do Có digo de
Processo Civil.

VII – DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO:

Nos termos do artigo 334, §5º, do Có digo de Processo Civil informa a


Autora que (NÃO) possui interesse na autocomposição , diante da urgência da
demanda (verificar no caso concreto).

VIII – DOS PEDIDOS:

Antes o exposto, requer-se:

1 - A concessã o da tutela provisó ria antecipada de urgência, sem


oitiva da parte contrária, com a expediçã o de mandado de intimaçã o pessoal ao
representante judicial da parte ré, sob risco do perecimento do direito da Autora,
para que seja determinada a garantia a um acompanhante de escolha da Autora durante
todo o seu período de trabalho de parto, parto e pó s-parto; e, em caso de
descumprimento, com a imposiçã o de multa no valor de R$ _______ (____________), nos
termos dos artigos 497 e 537 do Có digo de Processo Civil;

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2 - A concessã o dos benefícios da justiça gratuita, por se tratar de
Autora economicamente hipossuficiente nos termos da Lei, conforme anexa declaraçã o
de hipossuficiência;

3 - A citaçã o da parte ré, para que, no prazo legal, apresentem defesa,


sob pena de revelia;
4 - A observâ ncia das prerrogativas previstas na Lei Complementar nº
80/1994, especialmente quanto à intimaçã o pessoal, por meio da entrega dos autos com
vista ou, no caso do processo digital, por meio do Portal de Serviços do e-SAJ –
“intimaçõ es on-line”, e a contagem em dobro de todos os prazos, conforme artigo 128,
inciso I, da referida lei complementar;

5 - A procedência do pedido, tornando definitiva a medida liminar,


consistente em obrigação de fazer, voltada à garantia da presença de um
acompanhante de escolha da Autora durante todo o seu período de trabalho de
parto, parto e pós-parto; e

6 - A condenaçã o da parte ré aos honorá rios advocatícios e demais


despesas legais.

A Autora provará o alegado por todos os meios em direito admitidos.

Dá à presente causa o valor de R$ ___________ ( ___________).

Termos em que,
pede deferimento.

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Cidade, data

_____________________________
Autora

__________________________________________
Defensoria Pú blica do Estado

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