Desejo Hediondo

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Copyright © 2021 Maeve Sahad

CAPA | Maeve Sahad


REVISÃO | M. Dantas
DIAGRAMAÇÃO | Maeve Sahad

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes,


personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.

Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS.

São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte


dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível —
sem o consentimento escrito da autora. Criado no Brasil. A violação
dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido
pelo artigo 184 do Código Penal.
Querido leitor (a),

ANTES DA LEITURA, vale ressaltar que esse livro


retrata situações que podem ser consideradas
perturbadoras, se possuí gatilhos quanto a abuso físico e
psicológico, tenha cuidado. Nas páginas seguintes,
também irá encontrar, cenas de sexo explícito, palavras de
baixo calão e circunstâncias que podem ser consideradas
tabu. Desde já, é importante lembrar que certas práticas
sexuais devem ser cometidas sempre de forma segura e
consensual.

Com carinho, Maeve.


BDSM conjunto de práticas consensuais
envolvendo bondage, disciplina, dominação/submissão e
sadomasoquismo. Entre outros padrões de comportamento
humano relacionados.
Dada a ampla gama de práticas, muitas delas acabam
sendo realizadas por pessoas que não se consideram
praticantes de BDSM. Pessoas que não se identificam com
práticas BDSM ou fetiches em geral são conhecidas como
baunilha ou vanilla.
As práticas BDSM são todas consentidas e podem ou
não envolver atos sexuais.
Nas atividades BDSM, os termos "submisso" e
"dominante/dominador(a)" são frequentemente usados
para distinguir dois papéis: a pessoa dominante que
assume o controle psicológico e/ou físico sobre o parceiro
submisso.

Palavra de segurança:
Dentro da prática BDSM, existe a palavra de segurança
(também popularmente conhecida pela tradução literal
em inglês, safe word). Ela é um código designado para
comunicar o estado físico ou emocional do praticante
durante a realização do fetiche. As palavras de segurança
são usadas para parar determinado ato, indicando que a
pessoa envolvida já atingiu seu limite físico ou emocional.
As palavras de segurança também podem ser usadas para
comunicar a vontade de continuar com a prática, mas num
menor nível de intensidade.

SSC: São, seguro e consensual.


SINOPSE
Para Alex Lancaster, ela foi uma aparição. Depois de
um período difícil e estressante em sua vida, ele está
fazendo o possível para manter distância de tudo e de
todos, até que uma jogada do destino o coloca frente a
frente com a misteriosa mulher de cabelos castanhos e
olhar penetrante. Ele não podia se aproximar, mesmo que
a visão dela despertasse todos os seus instintos, ele sabia
que ela não era para ele. Dentro do seu mundo, quando se
brinca com fogo; você acaba em chamas. E Gabrielle não
parecia esse tipo de mulher.

Ele está terrivelmente enganado (...)

Para Gabrielle Dixon, esse é mais um recomeço. Sua


vida não tem sido fácil por um longo tempo, e pela primeira
vez, ela acredita que pode conseguir se livrar dos
demônios que tem a atormentado por anos. Entretanto,
tudo parece se perder quando ela conhece seu novo
cliente. O homem parece enxergar através de sua pele, e
tudo que ela deseja é poder correr e se esconder. E é
exatamente o que ela faz... Até que uma noite de
descontrole a coloca frente a frente com Alex novamente,
em um mundo que ela nunca imaginou encontrá-lo.

Ela está queimando, desesperada por libertação, e


ele parece ser o único que consegue controlar tudo.
PRÓLOGO

PASSADO

A SUA VOZ ERA profunda e calma, balbuciando


contra a confusão em minha mente.

— Você está doente criança.


Abaixando seu corpo sobre o meu, senti seus dedos
agarrarem a minha pele sensível, logo depois, escutei o
barulho de correntes pesadas a minha volta. Meus braços
foram esticados acima da minha cabeça e meus pulsos
protestaram, quando puxados com mais força.

— Shh — beijando minha testa, ele se afastou.


Toda parte do meu corpo doía, como se labaredas
subissem desde meus tornozelos até os ombros.
Onde eu estava? Por que não conseguia me lembrar?
Meus olhos tremularam diante da escuridão. O lugar era
úmido, frio e desconhecido.

— Pa-pai? — Sussurrei com a voz fraca — O que


está fazendo?
— Silêncio, pecadora. Filha do Diabo! — Ele rosnou.
Estremeci, reagindo diante da violência repentina em sua
voz.

Um momento de serenidade enviou uma onda de pânico


por todo meu corpo, me impulsionando a lutar. Meus
membros protestaram enquanto ele girava uma
engrenagem a distância. As correntes começaram a subir e
meus esforços se tornaram nulos. Ainda assim, tentava
fazer com que meu corpo se mexesse. Meus dedos do pé
cavaram, mas mal conseguia tocar o chão. A roldana girou
mais uma vez, até que só meus braços segurassem o peso
do meu corpo.

— Devo purificar sua alma Gabrielle, até que todo o mal vá


embora! Até que reste apenas a sua fé.

“Lute minha menina, lute.”

Ouvi o sussurro baixo em minhas lembranças, obrigando


uma onda feroz e corajosa a se alastrar por todo meu peito.
Eu amava aquela voz. Me trazia segurança.

— Sua mãe não vai salvá-la. Ninguém mais irá. Só eu! Eles
me disseram.

— Por favor — solucei — Me deixe ir. Estou com me-edo.


— Deixe a besta sair Gabrielle. Concentre-se na dor. Deixe
que ela venha para que eu possa mandá-la embora do seu
corpo.

Engasguei quando o primeiro golpe atingiu as minhas


costas. A picada de dor trouxe uma torrente maior de
lágrimas e soluços. O chicote cortou no ar, mais uma vez e
outra até que todo meu corpo estava dormente.

Eu estava caindo. Caindo. Caindo. Até que não sentia mais


nada.
Essa era a minha purificação.
E eu não estava nem mesmo perto de ser perdoada.

PRESENTE

Podia sentir meu coração acelerado enquanto minha


respiração se tornava cada vez mais ofegante. Uma parte
silenciosa de mim se contorceu com algo próximo à alegria
conforme caminhava.

Fui absorvida por um ambiente caloroso, com rock clássico


tocando no ar, que se tornou cada vez mais alto enquanto
ultrapassávamos o extenso corredor. A atmosfera medieval
do lado de fora da mansão onde o clube The Dungeon fica
localizado, pouco a pouco foi absorvida por algo mais
sombrio. Me remetia aos calabouços antigos do século XV
que tinha visto em alguns livros e filmes. Com paredes de
pedra, luz baixa e sons abafados.

Aquele lado obscuro e horrível de mim, o que comandava


minha própria escuridão, vibrou na minha consciência.
Já não me lembrava quando ele foi desperto pela primeira
vez, tudo era um borrão. Um sussurro feroz que continuava
gritando e gritando cada vez mais alto, todo momento
em que eu o permitia sair.

Eu não deveria estar aqui.

Vamos lá Gabrielle, vire e volte para casa. Volte para seu


lugar seguro.

Meu corpo não podia responder. O fogo começou a se


alastrar, começando pelo centro do meu corpo e
espalhando por todo meu sangue.

— Eu sei, isso assusta um pouco no começo — a


recepcionista do clube que foi apresentada para mim,
disse, conforme passávamos pelo enorme corredor. O
muro alto de pedra, ia do teto até o chão. A única
iluminação vinha através de tochas cravadas muito acima
de nossas cabeças, e da claraboia de vidro no lugar do
telhado que nos permitia ver a lua do lado de fora.

Celas minúsculas com grades de ferro se espalhavam


ao longo do lugar. Olhei para dentro tentando enxergar
algum habitante, mas estavam vazias. O barulho de
correntes arrastando me fez estremecer conforme
chegávamos próximo à entrada principal, o que me obrigou
a respirar fundo.

Um clube de sexo deveria parecer tão... assustador?


Balançando a cabeça, deixei esse pensamento de lado e
olhei para a mulher loira a minha frente.
— Alex... está aqui essa noite? — Perguntei, tentando
parecer casual, mas isso não pareceu funcionar quando ela
parou no meio do caminho, para me lançar um olhar
incrédulo.

— Mestre Alex? Ele é quem você está procurando? — Abri


e fechei a boca tentando formular uma resposta correta,
mas acabei dando de ombros.

— Me desculpe, é que isso é um pouco chocante. Mestre


Alex não é o tipo de homem que procuram, geralmente —
ela respondeu com um sorriso trêmulo. Pensei em
perguntar a ela por que, mas as palavras de Alex ainda
refletiam em minha memória respondendo minha própria
pergunta — É claro, ele sempre está aqui. Todas as noites
nas últimas semanas, sem exceção.

Assenti, sentindo o nervosismo me dominar ainda mais e


ela continuou caminhando.

Meu estômago embrulhou sentindo um pouco de pavor.

Eu estava doente da cabeça. Fodida por completo, assim


como papai costumava dizer o tempo todo, ninguém
poderia me salvar... nem mesmo ele.

Mesmo assim, meu corpo não respondeu ao desejo de


fugir. Porque o que ele tinha despertado era muito mais
forte.
Porque o que ele tinha feito, ninguém, nunca, conseguiu
fazer por mim. Aquele olhar em seu rosto, a suavidade e
força em seus olhos. A chama de desejo ardente entre nós.
Nada disso me deu espaço para desistir.

Porque, ele, foi o único capaz de acalmar a escuridão e


cessar o fogo. Mesmo que tenha durado apenas alguns
segundos.

Eu precisava dele. E meu corpo não podia voltar atrás.

— Você pode me levar até ele? Por favor? — Supliquei,


fazendo-a me observar por um momento com os olhos
arregalados e depois concordar.
— Tudo bem, é claro. Vamos lá.

Finalmente, eu tinha aceitado. Alex Lancaster era o único


que poderia apagar o meu passado e me salvar de mim
mesma.

— Aqui querida — Ela apontou para uma porta de


madeira escura, e bateu suavemente, uma voz rouca
bradou um “entre” abafado do lado de dentro e ela abriu —
Boa sorte!
1.

UM ANO ANTES

SUAS UNHAS apertaram minha carne. Tive que


reprimir o gemido preso em minha garganta. Seus lábios
estavam quentes e sua língua percorreu a minha pele
vibrante. Eu lutei para falar, lutei para entender como podia
me derreter dessa forma a ele mesmo depois de tudo, mas
os pensamentos ficaram abafados quando a onda calorosa
me atingiu com força.

Seus dentes afiados pressionaram em meu pescoço,


arrancando um som sufocado e desesperado da minha
boca.

— Sim, porra, sim. Eu adoro quando você geme


assim, amor. Como a cadelinha no cio, em que te
transformei — sua voz era suave e rouca em meus
ouvidos.

Sua língua alcançou minha boca, mas tornou-se


menos insistente e delicada enquanto ele se ajustava entre
minhas pernas. Meus dedos apertaram os lençóis quando
a primeira estocada me atingiu com força, não demorou
muito para que estivesse perdida em uma névoa de
sentimentos conflitantes por todo meu corpo. Ele sabia
exatamente o que fazer, como um parasita experiente, que
se alimentava daquilo que eu tinha, sugando cada gota da
minha desgraça. Seu toque era perfeito. Suas palavras
nesse momento, tinham poder de me fazer esquecer todo o
resto.

Entretanto, o estrago maior estava aberto e


sangrando em meu peito.

Eu precisava ir embora. Precisava me livrar dele


antes que não me restasse mais nada. Mesmo que apenas
o pensamento me assombrasse tanto.

Tinha medo que suas palavras fossem verdadeiras.


Que o modo como ele se gabava sobre sua posse não
fosse apenas uma de suas ideias de me punir.

Ninguém poderia me amar. Ninguém poderia


entender. Ninguém aceitaria alguém como eu. É o que ele
costuma dizer.

— Você gosta disso, não é? —Sussurrou, enquanto


começou devagar, deslizando seu pau para frente e para
trás vagarosamente, suavemente. Eu gemi contra sua
boca, me contorci em baixo dele, tentei ser forte. Tentei ser
racional. Mas meu corpo queria isso. Meu corpo precisava
disso, então o deixei.

Ele continuou lentamente, até que tudo se tornou


frenético. Suas estocadas ganharam a forma real, violentas
e cruéis. Sem nenhum vestígio do sentimento falso com o
qual ele tentava me enganar. Eu podia sentir seu membro
inchado dentro de mim enquanto suas unhas me
arranhavam e os dentes mordiscavam a minha pele.

Sua mão agarrou o meu rosto, virando com força até


que nossos olhos se encontrassem. Seu cabelo loiro
estava molhado de suor e sua pele pegajosa.

— Me responda Gabrielle — ele rosnou — Diga,


como você gosta disso. Como você adora quando eu levo
a escuridão para longe. Diga!

Ele exige, tornando os movimentos lentos de


propósito. Ele sabe que preciso disso, sabe que minha
sobrevivência se tornou prisioneira desses momentos,
então choramingo e lambo meus lábios, tremendo,
arranhando, implorando como ele deseja.

— Sim, senhor. Eu gosto assim. Por favor, mais forte.


Eu preciso que me foda forte — resmungo, com a voz
desesperada e o vejo sorrir através dos meus olhos
cansados.
É o sorriso mais cruel e odioso que já vi em toda
minha vida, mas como um último ato de bondade, ele
acelera as estocadas. Batendo cada vez mais forte até
escutar meu grito de libertação.

Isso dura apenas alguns segundos. Eu tento


aproveitar cada um deles. Me agarrando a sensação
deliciosa.

Quando caio, trêmula e dolorida ao seu lado. Sei que


ainda sou uma prisioneira. Só não sei ao certo dizer, se
dele ou de mim mesma.

Não há nenhum sinal de Brian em seu apartamento quando


levanto na manhã seguinte, ao som do meu telefone.

Eu tropeço fora da cama, pisando sobre nossas


roupas espalhadas pelo quarto e alcanço minha bolsa
caída no chão.

— Alô? — Minha voz soa trêmula e cansada. Depois


de uma noite tão exaustiva, eu não estava surpresa por me
sentir tão esgotada.

— Eu falo com Gabrielle?

— Sim.
— Aqui é o Agente Smith, ligando da prisão estadual
de Nevada. Acredito que você seja o familiar listado do Sr.
Andreas Dixon?

Meu coração acelera com a menção do seu nome. Eu


engulo em seco, lutando para não deixar que as
lembranças caóticas me encontrassem.

— Sim, sou eu.

— Eu sinto muito Srta. Dixon, mas algo aconteceu na


noite passada, Andreas se envolveu em uma briga com
outro interno e foi levado a enfermaria, infelizmente não
havia nada mais que pudéssemos fazer. Ele faleceu a
poucas horas atrás.

Tudo que ele diz depois disso fica confuso. Sinto


minhas pernas amolecerem, meus olhos embaçarem e me
sento no chão.

Morto. Ele está morto.

Eu deveria estar aliviada?

Ouvi as pessoas dizerem que o que ele fez comigo foi


cruel. Que ele era um monstro que deveria pagar por tudo,
e eu concordava em partes. Ainda podia ver, todos os dias,
em meu corpo, os vestígios da loucura de papai. Marcados
em minha pele.

Mas no fundo, entendia.


Fui eu que passei anos ao lado dele. Mesmo depois
que minha mãe foi embora. Eu que o assisti sucumbir. Eu
estava lá.

E só eu podia entender, que apesar de tudo, só o que


ele queria, era me ajudar. De um jeito absolutamente
errado e distorcido.

Lágrimas caíram sobre minhas bochechas enquanto


eu soluçava. As lembranças vieram e dessa vez, não as
deixei ir embora. Precisava me lembrar. Precisava me
lembrar de verdade, que eu ainda tinha uma chance. Podia
ser a última, mas eu tinha... e eu não podia fazer isso aqui.

Não assim. Brian só me afundaria mais e mais, essa


foi a minha deixa para recomeçar. Mais uma vez. Uma
última vez.

DIAS ATUAIS

O caminho de cascalho é curto, mas soa


ruidosamente contra a sola dos meus sapatos, enquanto
sigo até a entrada. O sol da manhã está quase alcançando
o topo do telhado quando me aproximo. A construção da
casa é moderna e retangular, com uma escada em formato
de L tingida de cimento queimado, a beleza e elegância
servem para aguçar um pouco a minha curiosidade sobre o
morador. Sendo um dos condomínios mais caros de San
Diego, não é uma surpresa que meu mais novo cliente
tenha uma casa com aparência tão cara, ainda assim, a
beleza e bom gosto, misturado com certa simplicidade me
chocam. Janelas espelhares no piso superior e inferior,
combinando com a madeira escura — quase cinza, que
decora grande parte da passagem principal. Luzes
embutidas na madeira, que provavelmente deixam esse
lugar ainda mais deslumbrante a noite. Eu me concentro
nisso por alguns instantes, tentando visualizar em minha
mente. Um exercício mental que equilibrava a parte com a
qual eu lutava todos os dias para manter sob controle.

Um pouco mais próximo agora, meus olhos


encontram o jardim abandonado. Com ervas daninhas
crescendo por toda parte, o que quase me obriga a deixar
um gemido escapar. Não é à toa também, que meu novo
cliente, tenha insistido tanto por esse serviço. Como
paisagista, eu estava acostumada a encontrar todo tipo de
atrocidades. O lugar parece como algo que foi deixado de
lado há muito tempo. Com folhas secas e plantas mortas.
Seria um longo trabalho.

Muitos dias sob o sol. Tocando a terra. Criando ideias


na minha cabeça. Mantendo meu foco em uma única coisa.

Seria perfeito.

Mais algumas semanas de tranquilidade garantidas.


Algo que tinha conseguido manter quase como uma rotina
recorrente nos últimos meses.
Ansiosa para começar logo, subi o resto dos degraus
até a entrada e toquei o interfone. Uma voz abafada soou
do outro lado e antes que eu pudesse responder, o som do
aparelho sendo desligado abruptamente apareceu.

Eu esperei algum tempo. Olhando para a porta


enorme de madeira a minha frente. Tentando escutar
algum sinal de que a pessoa do outro lado estava vindo,
mas nada pareceu acontecer. Alguns minutos se
passaram, então me aproximei para tocar de novo, quando
ela finalmente abriu.

Um homem alto, vestido com um short de ginástica


largo e regata escura apareceu. Assustada soltei um
pequeno grito e dei um passo largo para trás tropeçando
no degrau superior, meu corpo se desequilibrou no mesmo
segundo, meus braços flutuaram e me senti caindo. Sem
poder me conter apenas fechei os olhos e esperei pela
queda até que mãos ásperas agarram meu pulso.

Ofegante, senti meu corpo ser puxado de volta até


que a única coisa que eu podia enxergar era o peito largo e
musculoso a minha frente.

— Jesus — ele bradou, me obrigando a dar um passo


para frente até ficar em um lugar seguro. Minhas pernas
estavam trêmulas e meu coração frenético — Quem diabos
é você?

Abri e fechei a boca, tentando encontrar as palavras


certas para dizer, mas tudo que eu podia me concentrar era
nele.
Ele tinha aquele tipo. O famoso tipo que é fácil de
reconhecer.

Alto. Sombrio. Bonito. Deleitável.

Absolutamente perigoso para alguém como eu.

Seus cabelos escuros caiam levemente sobre sua


testa, bagunçados e molhados, a barba curta e bem
alinhada preenchia metade de seu rosto, uma boca grossa
e rosada. Pele clara como a neve e braços tatuados. E os
olhos.... Me prendi neles por uma eternidade. Sentindo
quase sufocar com tamanha intensidade. Seus olhos azuis
podiam esconder suas más intenções de pessoas normais,
mas não de mim. Porque eu desejava tudo isso em meus
pesadelos. Ansiosamente.

Ele parecia quase como um Deus. Eu não podia me


concentrar em nenhuma de suas palavras.

O ouvi rosnar baixinho em irritação e finalmente


consegui balançar a minha cabeça, trazendo de volta a
minha mente a um lugar seguro.

— Desculpe — consegui responder, mesmo que tudo


dentro de mim parecesse derreter — Eu... eu sou Gabrielle.
Gabrielle Dixon. Fui contratada como paisagista. Irei
decorar o seu jardim.

Ele me encarou em confusão, parecendo irritado além


da conta e levantou uma sobrancelha.
— Jardim? Esse deve ser o endereço errado, eu não
contratei ninguém para mexer em nada na minha casa.

Nervosa, vasculhei em minha bolsa, resgatando a


pasta com a troca de e-mails e o contrato. E entreguei para
ele.

— Talvez a sua esposa? — Perguntei — Charlotte


Gordon soa familiar? O endereço está correto, senhor.

Ele segurou o papel, lendo por algum tempo e


praguejou.

— Charlotte? Isso só pode ser brincadeira — ele


balançou a cabeça, enquanto afundava os dedos por entre
seus cabelos, o penteando para trás — Porra de sub
intrometida.

Andando para dentro o assisti lançar um olhar sob os


ombros enquanto ultrapassava a porta.

— Entre.

Segui seus passos para dentro da casa elegante.


Uma escada de vidro dava acesso ao segundo andar logo
na entrada. A decoração era tão bonita quanto o lado de
fora, mas dessa vez, não consegui me concentrar em
qualquer coisa que não fosse ele. Observei enquanto o
homem digitava algo freneticamente em seu celular, com
um semblante furioso em seu rosto. Senti lentamente o
momento em que o fogo começou a se alastrar. Subindo
por cada centímetro do meu corpo amaldiçoado.

Pecadora. Pecadora. Pecadora.

Eu nunca me livraria dos meus demônios.

O cheiro familiar da terra conseguiu me envolver, algo


que normalmente acontecia, em uma manhã comum de
trabalho. Cavei mais profundamente, afundando minhas
luvas para abrir espaço, tentando me concentrar apenas
nos pés de palmeiras, cactos e suculentas que havia
escolhido para ornamentar com a decoração da casa.

Plantas resistentes que combinariam muito bem com


a personalidade do morador. Alex Lancaster.

Quase dez dias se passaram desde o momento em


que o encontrei pela primeira vez. Até agora, minha
concentração tinha trabalhado bem, sem que eu me
rendesse a tentação de dar ouvidos a algo que estava
sempre chiando em minha cabeça. Naquele primeiro dia,
depois de uma longa ligação onde ele passou a maior parte
do tempo dizendo a ‘Charlotte’, a amiga que entrou em
contato comigo, o quão descontente ele estava com sua
intromissão, o homem acabou aceitando o serviço de
qualquer maneira. Trocamos poucas palavras e
rapidamente, tratei de começar o trabalho.

Cada erva daninha foi tratada com extrema


concentração. Cada folha seca, cada milímetro que minhas
mãos tocaram na terra, capinando e arrancando a
vegetação morta, eu tentava me esquecer que aquele
homem estava observando.

E isso prosseguiu a cada dia, em dias quentes ou


frios. Bons ou ruins, um olhar para casa, e ele sempre
estava lá. Mesmo quando seus olhos intensos não estavam
em mim, e sim em seu computador ou digitando
freneticamente em seu celular. Ele sempre, de alguma
forma, conseguia me sufocar com sua presença marcante.
Quase como se tentasse desvendar meus próprios
segredos. Eu tive medo que ele pudesse.

Balancei a cabeça, tentando limpar a minha mente e


cavei a terra mais fundo. Com raiva dessa vez. Eu nunca
seria uma mulher normal?

Mesmo depois de tanto tempo, ainda me sentia


caindo em um poço fundo e aterrorizante. Direto para o
completo fracasso e loucura. Aos vinte e sete anos, depois
de me livrar de tantos traumas e mágoas do meu passado
sujo, ainda me sentia a mesma garota perdida que me
lembrava. Que não tinha nada além de seus pensamentos
odiosos para se segurar.
Eu não podia estragar tudo de novo.

Então respirei fundo, olhando para minhas mãos


trêmulas por alguns instantes, tentando recompor meus
pensamentos e puxa-los de volta para o presente. Esse era
meu recomeço. De novo. Um trabalho. Uma vida. Um
futuro. Eu não iria perdê-lo.

Aspirei o cheiro de terra. Pensei em samambaias.


Girassóis. Roseiras. Videiras e hera. Infinitas formas, mil
ideias percorrendo minha cabeça. Odores deliciosos de
folhas e flores.

Algo que acalmava tudo dentro de mim.

Esse era um trabalho. Mais um trabalho. Eu só


precisava chegar ao fim dele e saber que nunca mais veria
o misterioso Alex Lancaster novamente. E então eu estaria
bem.

Nenhum homem que aguçava o lado perigoso de mim


mesma dessa forma era seguro. Eu já tinha passado por
isso antes e tudo terminou terrivelmente mal. Eu não podia
passar por isso novamente.
2.

“GOSTANDO DO trabalho no jardim?!”

Olhei para a mensagem em meu celular. Pensando


em qual resposta eu deveria dar.

A verdade? Eu não ligava a mínima para a decoração


do jardim.

Já a paisagista bonita e misteriosa que tinha


aparecido para conserta-lo? Estava me enlouquecendo,
sem dúvidas.

Eu ainda não estava contente com a intromissão de


Charlotte. Mas, hoje, alguns dias depois... enquanto
assistia a pequena mulher trabalhando com terra através
da janela, minha raiva já tinha se tornado apenas uma
faísca.
Em um ponto, eu sabia que Charlotte queria apenas
ser uma boa amiga. Eu precisava parar de ser um maldito
recluso. Nos últimos meses, mal tinha saído de casa.
Depois de tudo que aconteceu, podia até ser
compreensível, mas em algum momento, as coisas
precisavam voltar ao normal.

Fazia meses que não ia ao clube. Ou a qualquer


lugar.

Meses que não fodia. Meses, que eu não pensava em


nada mais além de trabalho.

Estava enlouquecendo. Os vizinhos começaram a me


olhar estranho. As crianças do condomínio, nem mesmo
passavam mais na frente da minha casa, como se eu fosse
a espécie de um monstro assustador.

O jardim estava crescendo, apodrecendo, e não


conseguia me importar. Tudo que eu podia pensar, é que
meu sócio — um homem em que confiava, tinha me traído
e deixado um prejuízo de milhões de dólares em minhas
costas.

Lutei para construir a minha fortuna e meu nome


como investidor e fundador de algumas pequenas e médias
startups. Meu pai mecânico e minha mãe dona de casa,
não podiam nem ao menos imaginar que podia chegar tão
longe. Mas consegui tudo isso. Não deixaria nenhum filho
da puta destruir meu trabalho.
Depois de longos meses custeando os danos e
tentando não perder boa parte dos meus negócios, mal
percebi como tinha deixado todo o resto de lado.

Portanto, digitei uma resposta rápida para Garret. Ele


fazia jus ao seu título de Mestre treinador do clube. Sempre
se preocupando e se intrometendo em assuntos que
achava que deveria.

“Ótimo! Mas ainda vou me vingar de Charlotte pela


intromissão. Ideias? ”

Olhei enquanto o sinal de que ele estava digitando


apareceu na tela, e logo sua resposta veio, me fazendo
sorrir.

“Acharia estranho se não fizesse. Tenho a


inauguração de um novo clube amanhã, ela irá comigo.
Que tal uma cena surpresa? Ela está ficando mal-
acostumada com a minha bondade. Talvez seja a hora do
sádico louco dar as caras. Leve seus chicotes”

Ele incluiu alguns emojis de um demônio logo depois,


o que me fez soltar uma risada fraca.

Um clube. Essa parecia uma boa ideia.

A chama de prazer apareceu rapidamente, só de


pensar em ter uma mulher amarrada, ansiosa pela minha
atenção, ao mesmo tempo em que a faria lutar contra o
medo da dor que eu poderia causar.
Isso realmente estava fazendo falta.

Eu não tinha certeza de onde vinham meus impulsos


sádicos. Eu cresci em uma família comum e amorosa, com
um pai, uma mãe e irmão, tão normal quanto deve ser. Até
que, durante os primeiros anos de faculdade, quando visitei
um clube BDSM pela primeira vez, tudo finalmente pareceu
se encaixar. Foi como se tudo que eu precisava estivesse
ali.

Passei anos aprendendo, praticando. Conheci


técnicas e os mais diversos fetiches, descobri cada torção
que esse mundo podia me apresentar. Demorou muito até
que pudesse receber o meu título de Mestre, hoje, mais de
uma década depois, eu finalmente podia dizer que me
sentia em casa enquanto exercia e aproveitava de todo o
poder que esse mundo pode me dar. Não que o garoto de
vinte e poucos anos do meu passado precisasse aprender
muito sobre autoconfiança, mas a dominância tinha tirado o
melhor desse lado em minha mente. Eu usei isso ao meu
favor, não só dentro do quarto, mas em toda a minha vida.

No clube The Dungeon, ou calabouço, como alguns


membros costumavam dizer, eu me sentia quase como um
rei.

Ainda visitava outros lugares, afinal, tinha conhecido


muitas pessoas que praticavam e viviam esse estilo de
vida, mas era bom ter um lugar onde podia me sentir em
casa. Aquele era meu lugar. E eu precisava voltar para ele
em breve.
Olhando mais uma vez através da janela, tive que me
perguntar se a pequena mulher se assustaria se o
conhecesse algum dia.

Seus cabelos castanhos estavam presos no alto de


sua cabeça hoje, em um rabo de cavalo frouxo. Alguns fios
caiam em seus olhos, escondendo o olhar assustado e
perdido que estava tirando a porra do meu sono.

Ela era pequena, uma mulher minúscula e frágil com


curvas que tinham poder de destruir um homem. Seios
cheios, quadris largos, coxas grossas que mesmo as
calças de yoga que ela usava não podiam esconder. Uma
tentação.

Suficiente para me fazer fantasiar com ela dia e noite.

Imaginei minhas mãos percorrendo cada curva de seu


corpo. Minha boca contra sua pele morena, minhas mãos
em seu cabelo. Ela de joelhos, sua boca carnuda ao redor
do meu pau enquanto fodia sua garganta. Meu chicote
estralando contra sua bunda, seus gritos ecoando pelo
clube, tão alto que cada visitante seria capaz de ouvir.

Foi inevitável.

Ela pareceu ouvir meus pensamentos, levantou a


cabeça, fazendo um raio de sol bater contra sua pele e tive
que respirar fundo com a intensidade através de seus
olhos. Certeiros em minha direção.
Me mantive preso a aquele gesto por alguns
segundos, até que finalmente, ela voltou seu olhar para
baixo.

Respirei fundo, expulsando as ideias sujas surgindo


em minha mente.

Eu não conseguia imaginar mulheres em outra


circunstância. E era exatamente por isso que eu deveria
guardar as fantasias pervertidas apenas para mim.
Mulheres baunilha não serviam para o meu mundo.

Ultimamente, até mesmo as submissas perversas não


estavam satisfazendo minhas torções. Eu sabia que estava
caminhando por um terreno perigoso, em busca de algo
que não existia.

E talvez por isso, a mulher, Gabrielle, tinha me


intrigado tanto.

Seus olhos eram piscinas de dor e agonia, e por trás


deles, ela estava escondendo uma camada inadequada,
muito bem disfarçada por sua personalidade educada e
silenciosa. Senti isso. Exalava dela com tanta força, mas só
alguém como eu podia reconhecer. Alguém que também
escondia muito.

No entanto, eu não podia lidar com isso agora. Tudo


nela gritava uma personalidade submissa, mas já tinha
decidido a muito tempo que não jogaria mais desse jeito.
Eu precisava de mulheres que sabiam onde estavam se
metendo. Mulheres que saberiam responder aos meus
comandos. Que ansiavam por isso, desesperadamente,
assim como eu desejava feri-las. Eu não podia lidar com o
professor quando não sabia nem mesmo onde meu
controle estava.

Mesmo que pudesse sentir a necessidade dela tão


forte. Não tomaria a missão de ensiná-la o caminho para o
mundo em que vivia.

Então eu simplesmente a deixaria trabalhar em paz e


seguiria minha vida. Atormentando submissas que só
conseguiam me satisfazer por uma noite, nada mais que
isso.

Alguns homens gostavam do contraste e desequilíbrio de


poder que um terno e gravata demonstrava em um
ambiente como esse. Onde os submissos se vestiam com
roupas minúsculas e justas. Eu achava um clichê chato.
Preferia me vestir de jeans, camiseta. O mais básico e
indiferente possível, algo que me dava espaço para
trabalhar com todo o resto que sobrava. Olhares, tom de
voz ácido e ordens intensas, levando os submissos que
corriam como gatinhos pelo clube as lágrimas. Um sádico
se diverte como pode.
O pensamento passou lentamente enquanto
observava o lugar. A maioria dos dominadores estava
vestido formalmente, enquanto os submissos se reuniam
na área da pista de dança com roupas minúsculas ou
completamente nus.

Esse tem um bom potencial para um clube


minimamente descente, mas, ainda parecia muito fácil de
ser encontrado para mim. E muito fantasioso como
ambiente. Com tanta luz vermelha em volta, músicas
sensuais e decoração apelativa.

Me sentei ao lado de Garret, em uma das poltronas


no fundo, enquanto Charlotte se ajoelhou entre nós. Uma
cena estava acontecendo há poucos metros. Um sub
masculino, vestido em uma sunga preta e máscara de
couro estava se contorcendo amarrado a cruz St.Andrews,
suas costas estavam viradas para o público, enquanto sua
dominatrix lambuzava um líquido vermelho em um plug
médio.

— Aquilo é o que estou pensando? — Perguntei,


enquanto sentia um leve incomodo. Garret assentiu, sem
desviar o olhar. Ela deslizou a sunga para baixo, deixando
o homem nu e começou a trabalhar com o plug em sua
porta traseira.

— Porra, essa merda dói.

Desviei meus olhos para encará-lo. Garret era um


homem grande, com cabelos loiros e olhar afiado, não
precisava de muito para que os submissos ficassem
apreensivos ao seu redor. Nós, nos conhecemos pouco
tempo depois que comecei a frequentar os clubes de
BDSM, éramos ambos jovens e inexperientes. Tivemos
problemas juntos, e acabamos construindo uma amizade.
Quando ele decidiu fundar o seu próprio clube, depois de
conhecermos muitos que não se preocupavam com
segurança, nasceu The Dungeon, e como um investidor, eu
tinha certa parte do negócio, mas sabia que não havia
ninguém melhor do que Garret para governá-lo. Ele era o
típico Mestre observador e protetor que conseguia lembrar
o nome de todos, e saber quando as coisas não estavam
bem.

Como costumavam dizer, nos tornamos muito


reclusos e exigentes. Tínhamos seleções anuais para
alguns sócios e poucos eventos aberto ao público por ano.
Eu e ele, não vivíamos esse estilo de vida apenas pelo
sexo. Ser dominante tinha se tornado algo muito forte em
nossa personalidade. E The Dungeon se tornou
basicamente uma casa, onde podíamos liberar isso do
nosso próprio jeito.

— Como você sabe qual a sensação de molho de


pimenta nas partes íntimas? — Perguntei com cuidado,
mesmo sabendo que internamente não gostaria de saber a
resposta.

Ele deu de ombros.


— Nunca faço nada para as minhas meninas que não
tenha feito a mim mesmo em primeiro lugar. Questão de
segurança. Então eu tentei uma vez, bem nas minhas
bolas... ah cara, aquela merda doeu. Mesmo depois que
lavei, ainda parecia que estava lá, queimando e
queimando. Torrando meus ovos até virar carne viva.

Estremeci, me contorcendo dentro das minhas


próprias calças. Aniquilando qualquer ideia de futuras
experiências com pimenta. Muito menos perto das minhas
bolas.

Como Mestres, era nossa obrigação realmente


conhecer a fundo tudo que desejávamos fazer com um
sub, não era um método que todos os dominantes faziam,
ao experimentar certas coisas em sua própria pele, mas
alguns, faziam.

A dominatrix sussurrou algo no ouvido de seu


submisso, enquanto movimentava o plug dentro dele, ao
mesmo tempo em que suas mãos pequenas desciam na
frente de seu corpo, bem no meio de suas pernas. Pelo
modo como o homem gemeu e se contorceu, era claro que
ambos eram adeptos ao CBT — ou a tortura de bolas,
como é conhecido. Eu não esperava assistir algo assim
essa noite, mas continuei acompanhando a interação de
qualquer forma.

Minha cabeça não estava totalmente em jogo hoje


como pensei. O dia foi longo e estressante, e o último de
Gabrielle trabalhando no jardim. Eu estava realmente
começando a parecer estranho com essa obsessão por
ela, deveria ser uma coisa boa saber que não a veria mais.
A realidade, é que a ideia tinha me deixado de mal humor,
e o fato de que ela nem mesmo trocou palavras comigo só
tornou tudo pior. Ela esperou até que eu saísse por alguns
segundos e deixou um bilhete agradecendo pelo trabalho e
dizendo que poderia entrar em contato caso precisasse.

— O que você tem?

— Só uma dor de cabeça.

Garret assentiu, observando meu rosto por alguns


segundos então desenrolou a coleira de Charlotte de suas
mãos.

Ela estava ajoelhada contra sua perna, fingindo não


ouvir nossa conversa. Quase bufei com a ideia. Charlotte
sempre sabia de tudo, exatamente por seu gosto por se
intrometer e escutar atrás das portas. Se eu fosse seu
Mestre, certamente a ensinaria uma lição sobre isso.

Tecnicamente, como submissa do clube, eu poderia


lidar com isso, mas sabia que ela e Garret tinham se
aproximado nos últimos meses.

— Gatinha, acho que você deve a Mestre Alex um


bom momento depois do que fez. Que tal um boquete?
Aposto que ele precisa muito disso essa noite.

— Eu não acho que... — tentei dizer, mas antes que


eu pudesse, ele a ajudou a se posicionar entre minhas
pernas.
Dei uma ligeira olhada para ele sob os cílios, tentando
ter a certeza de que isso estava certo. Era comum que
compartilhássemos submissas, mas eu sabia que ele tinha
criado um vínculo sentimental com Charlie. Mesmo que ela
já tivesse nos entretido outras vezes, eu não queria
nenhum drama em minha vida por agora.

— Olhe para o rosto dela — ele disse suavemente,


enquanto alisava seus cabelos loiros para trás — Talvez,
ela precise ainda mais que você, para se sentir útil, não é
mesmo? Você adoraria engolir o pau dele em sua
garganta, como uma boa sub depravada, não é?

Enrolando os dedos através de seus cabelos ele


puxou seu corpo para trás, fazendo seus seios ficarem
ainda mais visíveis enquanto ela o olhava.

— Sim, senhor.

Eu entendi sua observação. Ele podia não estar


totalmente satisfeito, mas a interação entre dois doms, era
algo que Charlotte gostava. Momentos em que se divertia.

E ela, de fato, parecia animada por ser empurrada na


minha frente, então abri espaço entre meus joelhos e
deixe-a enrolar o preservativo que Garret forneceu.

Descansei minha cabeça contra a poltrona e acariciei


seu cabelo loiro sedoso levemente, enquanto ela me
levava em sua boca. Sabia que ela estava recebendo
treinamento há alguns meses, e fiquei satisfeito ao
perceber que o aprendizado foi eficaz. Ela conseguia
engolir até mais da metade agora. Quase não engasgando
ao fazê-lo.

No entanto, Garret não pareceu tão satisfeito. Ele


enrolou os dedos sobre os meus, segurou seus cabelos,
afundando sua garganta mais profundamente até que seu
nariz estivesse encostando contra os pelos raspados em
minha virilha. A centelha de surpresa e espanto em seus
olhos serviu para acender um pouco meu lado perverso.
Seus olhos quase imploraram por ajuda, e isso me fez
inchar ainda mais em sua boca.

— Você pode fazer um trabalho melhor que esse,


gatinha, não me envergonhe — Garret sussurrou,
chegando bem perto de seu ouvido — Lembre-se do que te
ensinei.

O aviso pareceu deixá-la mais empolgada do que


amedrontada.

Enquanto ela lambia e chupava com paixão,


determinada a ir tão fundo quanto pudesse suportar, meu
pau começou a cooperar, mas minha cabeça não estava
pensando nela completamente. Minha cabeça ainda estava
na bela morena que protagonizou os sonhos perversos que
tive nos últimos dez dias.

Isso é tão estúpido e fodido. Por que essa mulher


estava me intrigando tanto?
O cabelo loiro, liso e brilhante de Charlote era lindo,
assim como ela. Só que meus dedos queriam sentir os
cachos desgrenhados de Gabrielle. Eu queria conhecer a
sensação de tocá-la, assim como queria saber qual seria a
reação de seu corpo ao ser machucado. Como seria seu
olhar se fosse ela aqui, ajoelhada entre minhas pernas
enquanto fodia sua garganta.

Eu tentei deixar meus desejos idiotas de lado no


momento.

Garret se baixou, desfazendo os nós do top que ela


usava, para deixar seus seios para fora, enquanto ele
apertava os mamilos levemente, fazendo-a estremecer.

Controlei o boquete, variando meu ritmo e a


profundidade das minhas estocadas para despistá-la
sempre que meus pensamentos tentavam se desviar, mas
seus olhos claros e a forma como ela estava me
observando, tão calorosa, se tornou demais. Olhei para
cima, tentando buscar algum ponto de excitação diferente,
e pesquei uma cena acontecendo em outro canto do clube.

Não sei porque minha atenção foi direcionada para lá.


Quase instantaneamente me senti preso. O clube era
amplo e aberto, com pequenas tentas na área central, em
que os ocupantes podiam escolher deixar abertas ou
fechadas pelas cortinas estilo bangalô. As cortinas não
permitiriam que os expectadores enxergassem muito além
das sombras. Essa em particular, estava aberta. Dentro do
círculo, uma mulher estava amarrada de bruços sobre um
cavalete preto com estofado vermelho.
Seus pulsos estavam presos nas argolas, que foram
fixadas nas pernas frontais do cavalete. Suas pernas
abraçavam a parte traseira, e também estavam presas,
através de cordas em seus tornozelos e coxas. Seu cabelo
castanho estava bagunçado, caindo desordenadamente
em seu rosto, enquanto o Dom, vestido em terno cinza,
com uma aparência jovem, batia um flogger em sua bunda
nua.

Assim como eu, a mulher não parecia estar em


sintonia com o seu parceiro, podia sentir isso, pelo modo
como seu corpo estava paralisado. Os movimentos eram
demasiadamente leves contra sua pele, não causando o
efeito necessário para fazê-la tremer e se desesperar.

O homem pareceu perceber, quando tocou sua


boceta com os dedos, um semblante frustrado apareceu
em seu rosto, e o assisti se afastar, variando minha
atenção entre a cena e a língua ágil de Charlotte, que
agora estava dando atenção as minhas bolas.

O dominante retornou, com outro chicote em suas


mãos, um longo de única cauda dessa vez, e sussurrou
algo no ouvido da mulher, alisando seus cabelos
levemente, deixando seu rosto totalmente exposto. Seus
olhos estavam fechados, mas naquele milésimo de
segundo meu coração acelerou. Algumas pessoas
começaram a se reunir ao redor da cena, ele disse alguma
coisa para outros homens que estavam perto, algo que os
fez rir, porém sua expressão não era controlada ou calma.
Ele estava com raiva.
E isso ficou nítido quando o primeiro golpe atingiu a
carne exposta da mulher, a fazendo gritar
instantaneamente, ao mesmo tempo em que ela abriu seus
olhos. Bem na minha direção.

Os golpes não pararam. Mas suas súplicas


agonizantes sim. Ela ficou em silêncio, apenas sentindo
golpe após golpe, permitindo uma bela visão de sua mente
perdida, que parecia muito clara através de seus olhos.

Olhando para aquele olhar perdido em agonia; eu


gozei.
3.

O SOM SE INSINUOU em sonhos perturbados,


puxando-me para o presente. Um barulho de trovão, o
disparo de uma arma, um chicote estalando, correntes no
ar e gritos me trouxeram à tona. Eu estava presa de novo.

Não no porão onde meu pai me manteve por


semanas em seu maior pico de loucura. Não com Brian,
enquanto ele conduzia minha vida direto para o fundo do
poço. As luzes vermelhas brilharam na minha frente, a
música alta... tudo se embaralhou quando a dor terrível em
minhas costas trouxe um grito desesperado a minha
garganta.

Uma risada forte me fez tremer e o estalo seguiu.

As lembranças começaram a clarear.


Horas antes, quando me peguei no meu pequeno
apartamento, desesperada, enquanto contemplava minha
própria vida ferrada.

Sozinha por horas, apenas com meus pensamentos


errantes, até que tive a certeza de que não existia outra
forma de acalmar a minha cabeça.

Uma busca rápida na internet me trouxe a esse clube,


um lugar novo, que eu visitaria uma única vez, só para
alimentar essa coisa maldita que crescia dentro de mim.

Essa era minha vida. Eu sabia muito bem quando as


coisas caminhavam para o descontrole. O desejo surgia
apenas como algo pequeno e sutil, como tinha acontecido
quando conheci meu último cliente — Alex, e pouco a
pouco, consumia toda minha racionalidade. Eu estava
grata por ter terminado o trabalho, e ainda mais, por saber
que não o encontraria novamente. Seria ainda melhor, se
isso significasse que eu estava livre, mas assim que
cheguei em casa no fim do dia, sem ter nem mesmo a
coragem de dizer a ele que estava indo, eu sabia que
nunca estaria livre.

Era ridículo, tudo isso, como qualquer aspecto da


minha vida. Foram apenas alguns olhares, poucas
palavras, e aqui estava eu, em extrema decadência
desejando um homem que podia ter qualquer mulher que
quisesse.

Bonito, rico e fodidamente sexy. Certamente, eu


poderia ter tentado de alguma forma chegar a ele, só que,
do que adiantaria? Isso só me levaria ainda mais fundo em
escuridão e derrota.

Eu só precisava de libertação; desesperadamente.


Para seguir em frente, e a encontraria aqui. A ideia parecia
racional, até que tive que conversar com homens que
nunca vi, sobre preferências e minha experiência sexual. A
humilhação só estava crescendo; cada vez mais.

Foi uma atitude impulsiva e desesperada, que parecia


completamente fora de controle agora. Nunca discuti
limites antes. Nunca organizei minha própria cena em um
lugar como esse, até porque, com Brian, eu nunca tinha
uma palavra a dizer. Ele me dava o que eu queria, e isso
era suficiente para que eu me tornasse dócil e resignada a
seus caprichos.

Não me permito pensar sobre isso. Não agora. O


chicote estala em minhas costas tantas vezes que até
mesmo meu fôlego falha.

Mestre... como é mesmo o nome dele? Devon. Mestre


Devon parecia um cara legal. E ingênuo. Precisava ser
assim, alguém que não conseguisse enxergar a mentira em
minha cara. Eu disse ser uma masoquista, só por ser isso
que ele estava procurando essa noite. Eu não sou. Para
meu azar, ele pareceu perceber isso muito antes do que
pensei.

Mordendo os lábios, me impeço de gritar quando o


chicote atinge um ponto ferido em minha bunda. Sinto seus
movimentos em minhas costas. Risadas abafadas pela
música alta.

Seus dedos arranham minha pele, sadicamente,


provocando as marcas que ficaram lá. Ele está com raiva.
Ele me disse isso, com todas as letras. Disse que eu
estava tentando envergonha-lo. Seu tom é o mesmo terno
e firme que Brian costumava usar, quando eu tentava fugir
dele. Quando eu o dizia que nossa relação era tóxica e
doente. Só o pensamento me deixa desconfortável, no
entanto, meu próprio corpo me mantém como prisioneira.

Não posso desistir... não agora... não antes de...

Consigo escutar meu próprio lamento, e sua risada


cruel quando ele desliza para baixo em minha espinha até
o meio das minhas pernas.

Por favor. Por favor.

Eu quero implorar, mesmo sentindo minha garganta


seca.

Ele me provoca. Arranhando minha entrada, me


invadindo sem delicadeza ou cuidado, esfregando meu
clitóris com violência.

Eu estou quase lá. Bem a beirada do precipício


quando o vento gelado corta a onda intensa de prazer
crescendo dentro de mim. Seus dedos se afastam, seu
peso sobre minhas costas me faz engasgar, e sua risada
áspera contra minha nuca me aterroriza.
— Você é mesmo uma vagabunda, não é?

A voz... aquela voz. Todo meu corpo começou a


tremer. O tom doce e suave. O seu toque forte e febril me
causou arrepio. Eu quero me mover, quero gritar e correr
para longe dele, mas meu corpo se contorce tentando de
alguma forma alcançar seus dedos. Ele pressiona a palma
firme contra minha bunda, escorregando até chegar em
minha boceta mais uma vez. Eu soluço por dentro e deixo
um gemido escapar fora. Seus movimentos se tornam
intensos e rápidos até que sinto a onda de calor subir. Meu
coração está acelerado, todo meu corpo parecer pegar
fogo enquanto ele esfrega de forma rápida e bruta. Fico
tensa quando sinto seu corpo se posicionar atrás de mim.

Tudo parece calmo enquanto escuto o barulho


inconfundível da embalagem do preservativo sendo
rasgada. Não demora muito até sentir a primeira estocada.
Eu engasgo quando ele empurra dentro de mim, fazendo o
cavalete balançar e fecho os olhos.

Eu conto os segundos em minha cabeça.


Um, dois, três, quatro, cinco.... Perco as contas, tudo
isso corre como um flash, em um segundo estou naquele
estado pleno de êxtase e satisfação, explodindo de prazer.
Livre como um pássaro. E no outro, no maldito e
aterrorizante minuto seguinte, quando as endorfinas
lentamente deixam o meu corpo. Estou presa de novo.

É hora de ir embora.
— Vermelho! VERMELHO! — Digo, com a voz rouca.
Ele não escuta. Ninguém parece se importar. Começo a
lutar contra as amarras.

Eu preciso fugir. Sair daqui. O mais rápido possível. É


um ato covarde e infantil, mas quem se importa? Esse
homem não se importava comigo. Ninguém se importava.
Eu dei o que ele queria, ele me retornou com o que eu
precisava. Fim de jogo.

— VERMELHO — grito com mais intensidade, na


esperança de que alguém possa me ouvir. Sinto suas mãos
paralisarem.

— O que? — Sua voz pareceu confusa. Eu não me


importo. Só quero ir para casa.

— Me deixe ir!

— O que está acontecendo?

— Afasta-se!

— Ei cara, vai com calma, essa é minha sub.

— Vou me afastar assim que souber que porra


aconteceu aqui, agora, saia do caminho!

Sinto mãos fortes embalando minhas coxas e


choramingo baixinho quando o sangue volta a correr por
minhas pernas.
— Estou soltando suas pernas, Alex. Fale com ela
enquanto isso. Tranquilize. Charlotte, gatinha, me ajude
com essas malditas cordas.

Uma voz profunda soa em algum lugar, e isso tem um


efeito calmante quase instantâneo em todo meu corpo. A
sombra se abaixa a minha frente, luto para enxergar
através das luzes e entender o que está acontecendo
mesmo com a música alta. A tentativa parece tão difícil.

Minhas costas estão em chamas, só que nada parece


importar. Oh Deus, o que eu fiz?

— Porque ainda não desligaram essa merda de


música? Nem mesmo estão monitorando as cenas... que
porra de segurança eles tem aqui? Uma submissa diz a
palavra de segurança ninguém aparece para verificar!

— Gabrielle — Pisco contra o pânico, tentando


encontrar o dono daquela voz e finalmente posso vê-lo
quando seu rosto aparece bem diante dos meus olhos —
Respire fundo. Eu vou te ajudar a levantar, tudo bem?

Eu tento fazer o que ele diz, entretanto, estou


paralisada pelo choque.

Consigo assentir, sem entender se é realmente ele ali,


ou mais uma vez minha mente está brincando com a minha
própria sanidade.

Não demorou muito até que eu estivesse fora do


cavalete, sentada em um sofá pequeno dentro da tenda.
Um cobertor apareceu de algum lugar, e senti o tecido
macio ser ajustado em meus ombros. A distância, um
homem loiro e musculoso estava discutindo com certa
animosidade com um jovem de cabelos escuros. Nenhum
dos dois parecia feliz.

— Você está bem?

Olhei para cima. Sentindo seus penetrantes olhos


azuis sondaram meu rosto com uma preocupação e
cuidado, somente esse ato fez o meu estômago afundar. A
mistura de vergonha e surpresa quase tomando o melhor
de mim. Só tive forças para acenar.

Era mesmo Alex aqui, bem a minha frente,


testemunhando minha própria desgraça.

— Já que ela mesmo acaba de confirmar que está


bem, que tal se afastar da minha submissa para que eu
possa falar com ela?

Alex levantou os olhos, pude ver e sentir o exato


segundo em que sua mandíbula rangeu em irritação. Ele
olhou para Mestre Devon com tanta intensidade, que eu
mesma me senti encolher. Ele parece magnifico, da mesma
forma que todos os dias em que pude observá-lo, tão
poderoso e intimidante.

— Isso vai acontecer, no minuto em que souber que


merda você fez com ela.
— Eu não fiz absolutamente nada! Essa vagabunda
está tentando foder comigo desde o segundo em que
começamos.

É inevitável, não consigo reagir de outra forma. Eu


tento me tornar ainda menor. Se eu pudesse, nesse
segundo, me enfiaria em um buraco e nunca mais sairia.

— O que você disse? — A voz de Alex soa mortal.


Mesmo com os olhos baixos, posso ver o momento em que
os sapatos de Mestre Devon se movimentam com um
passo cauteloso para trás.

— Ela mentiu para mim! Eu fiz as perguntas certas,


ela disse que gostava de dor, disse que é uma masoquista
e no minuto em que começamos, eu soube que ela não é.

— E o que você deveria ter feito, garoto? O que você,


como dominante, deveria ter feito quando sua submissa
estava amarrada e aos seus cuidados? Você possui o
poder, mas ele não vale uma merda, se não souber usá-lo.
Você deveria ter parado a cena e conversado com ela, não
chicoteado suas costas como um animal. Porra.

— Senhores, que tal mantermos a calma?

O homem engravatado que estava discutindo com o


loiro surgiu no meio da conversa.

— Devon, venha até o meu escritório para


conversarmos, por favor?
— Eu? É só comigo que quer conversar? —
Pergunta, com um olhar em minha direção.

O homem ignorou sua fala de qualquer forma e se


abaixou na minha frente. Ele era bonito e elegante. Não
parecia nem muito jovem, ou muito velho, com olhos
escuros e pele morena, tudo nele era intimidante e
caloroso ao mesmo tempo. O sorriso brilhante com dentes
perfeitos e brancos que ele me deu, quase me tirou do
eixo.

— Você está se sentindo bem, querida?

— S-im.

Ele concordou, demorando certo tempo olhando para


o meu rosto.

— Gabrielle, nesse mundo, a honestidade é


importante. Nosso clube é novo, mas prezamos muito pela
segurança — ele diz, se levantando.

Sinto lágrimas arderem em meus olhos, e balanço a


cabeça confirmando. Eu sabia disso, sabia disso tão bem.
Todas as minhas decisões sempre acabavam dessa forma.
Talvez fosse a hora de aceitar a verdade feia que sempre
esteve lá. Eu não podia lidar com minha própria vida. Eu
deveria desistir e voltar para Brian. Ele não me recusaria.
Pelo menos, eu não teria que lidar com mais nada. Nunca
mais.
Ele cuidaria de tudo e me destruiria de uma vez por
todas.

— M-e desculpe senhor. Eu, eu... eu errei. Sinto muito


por causar todo transtorno essa noite. O Sr. Devon não tem
culpa, eu tenho. Só preciso de alguns minutos para me
recuperar e irei embora. Juro que não irei voltar.

Um silencio surge no ar, os três homens a minha


frente trocam um olhar entre eles que parece mais como
um diálogo completo. Alex confirma levemente, e sinto um
minuto de desespero por não ser capaz de entender o que
está acontecendo. Uma mulher loira vestida em um top
vermelho e saia longa transparente está a distância
observando, e seu semblante parece quase simpático.

— Gabrielle, Alex e Garret são velhos amigos meus e


confio sua segurança a um deles. Depois do que
aconteceu, você precisa de uma conversa antes de sair,
querida. Sem discussão.

— Eu vou cuidar dela.

O homem engravatado concorda, e silenciosamente


se afasta, com Devon caminhando logo atrás dele. O loiro
bate nas costas de Alex, com um gesto de incentivo e
também sai, com a mulher loira caminhando
silenciosamente ao seu lado.

Quando ele me olha, me sinto mil vezes menor, do


tamanho de um grão de arroz. Embora ele não sorrisse,
uma linha sutil apareceu no canto de seus lábios enquanto
me assistia.

— Você está tão encrencada, menina.


4.

Uma onda de luxúria crua foi arremessada do meu


cérebro direto para meu pau. Seus lábios carnudos
tremeram. Seus olhos estavam vermelhos pelas lágrimas
derramadas e não derramadas. Tive que me segurar
enquanto a observava. Esse não era o tipo de choro que
queria assistir dela. Ainda assim, mente não pareceu se
importar.

Respirei fundo, lutando para resgatar todo o meu


controle e toquei seu ombro.

Eu tive fantasias sobre transar com ela antes, mas


essa nova camada adicional de intriga sobre quem diabos
ela realmente era havia incendiado tudo.

Quando a vi, amarrada sobre o cavalete,


choramingando enquanto era chicoteada, fui capaz de
gozar com tanta violência, que até mesmo espirrei em
minhas calças. Ela parecia perfeita naquele momento,
quase em transe.

Agora, no entanto, podia ver o que estava lá e não


consegui enxergar completamente. Algum ponto dela,
estava de alguma forma; quebrado.

A cena desastrosa de antes não demonstrou nem


mesmo um por cento do que ela escondia, havia algo ruim
acontecendo em sua cabeça, e estava intrigado o
suficiente para descobrir.

Seus olhos abaixaram, fixando-se na garrafa de água


a sua frente. Franzi o cenho, enquanto observava cada
uma de suas reações. Tinha encontrado uma sala privada
para conversarmos. Felizmente, não acabamos parando
em um quarto fetichista, e sim em um escritório usado
como cenário para roleplay.

Nunca me senti assim, tão fissurado e intrigado por


alguém como estava por ela. Existia muito a se descobrir.

Isso é um fato.

E eu estava indo fundo nisso. Custe o que custar.

— Você quer falar sobre o que aconteceu?

Ela suspirou — Não. Eu realmente não quero. Sinto


muito pela confusão que causei, eu só gostaria de ir para
casa.
Dando um tempo para absorver suas palavras, rodeei
a mesa e me sentei, dedilhando os dedos na madeira.

— Você realmente conhece esse meio, ou essa é


apenas uma aventura?

A expressão confusa em seu rosto me disse tudo,


entretanto, deixei os segundos de silêncio entre nós
enquanto ela pensava em uma resposta adequada
prosseguir.

— Eu já joguei antes. Esse não foi o problema.

— Se posso imaginar... o “jogar” se refere a


brincadeiras no quarto com um pouco de troca de controle?

— Sim. Basicamente. Mais ou menos.

— Então você entende que as coisas não funcionam


dessa maneira. Anthony, o dono desse lugar é um antigo
conhecido, e ele não permitiria que uma submissa saísse
de seu lugar parecendo como você está agora.

— O que? Oh Deus... eu posso sair pelos fundos.


Ninguém nem mesmo vai me ver. Essa bagunça é minha,
ele não precisa se preocupar.

— Gabrielle, o que quero dizer, não tem nada a ver


com aparência. O que aconteceu lá, foi difícil. Quando uma
mulher, mesmo depois de uma cena, parece tão perdida e
insatisfeita, um mestre de verdade, não pode simplesmente
virar as costas. O intuito de se envolver tão profundamente,
é libertação. E você ainda parece assim agora, querida.

Ela soluçou baixinho, deixando seu rosto cair entre


suas mãos pequenas.

— Não posso fazer isso. Não posso.

Com um suspiro, me levantei. Tentei manter distância


para deixá-la confortável. Só que não podia mais me
impedir de tocá-la, minhas mãos agiram por conta própria
alisando suas costas. Deixei que ela chorasse, no
momento, parecia o certo a se fazer. Quando senti que ela
estava um pouco mais calma, disse com a voz baixa:

— Gabrielle — ainda com as minhas mãos sobre


suas costas, envoltas no cobertor macio, pedi — Olhe para
mim.

Ela fez, arrancando um salto desesperado do meu


peito. Mesmo com a maquiagem borrada e rosto inchado,
ela ainda parecia perfeita.

— Você entende o que realmente significa se


submeter a alguém?

Gabrielle acenou.

— Já me submeti a alguém.... Por algum tempo.


Terminei com ele, precisava acabar. Achei que se tomasse
o controle, se conseguisse transitar por aqui e de alguma
forma me sentir bem, poderia seguir em frente, mas esse é
o problema, eu não pude.

Suas palavras esclareceram muitas perguntas que


estavam em minha mente.

— Antigo namorado?

— S-im — Respondeu com a voz trêmula.

— Ele abusou de você?

— O q-ue?

— Muitos relacionamentos no nosso mundo são


desenhados de forma completamente errada. Eu suponho,
que o que você viveu, não teve as características de um
relacionamento real entre um dominador e uma submissa.
Troca de controle, não dá o direito de ter a sua existência
anulada, Gabrielle. Isso faz sentido para você?

A expressão angustiada que apareceu em seu rosto


quase me faz gritar. Eu odiava esses fodidos lunáticos que
usavam do estilo de vida para elevarem seu próprio ego e
alimentarem suas perversões doentias. Se envolver em um
relacionamento abusivo era muito fácil. Por isso o são,
seguro e consensual tinha tanta importância para nós.

— Sim, eu entendo. Eu entendo agora. Fui sua


submissa... assinei um contrato. Ele tinha o poder. Ele
controlava tudo. Até que percebi que as coisas não
estavam certas.
— Uma submissa pode escolher deixar o
relacionamento a qualquer momento. Isso deveria ter
ficado muito claro desde o começo. Assumir esse tipo de
relação é muito mais sobre compartilhamento constante do
que posse. Existe um poder, só que ele não deve ser
imutável.

— Foi o que percebi. — Ela engoliu em seco,


aparentemente lutando contra suas próprias lembranças e
traumas — Levou certo tempo. Foi difícil. Ainda está sendo.

— É compreensível — falo, tentando tranquiliza-la —


No entanto, mesmo com essa experiência, você parece
gostar de certas coisas?

— Sim! — Respondeu, rápido demais. Assustada, ela


colocou as mãos sobre sua boca e sorri.

— Não tenha vergonha de dizer aquilo que sente,


Gabrielle.

— Como você faz isso? Mal nos conhecemos e estou


aqui, falando tudo sobre a minha vida.

Não tudo, pensei enquanto olhava para ela. Ela não


estava dizendo muitas coisas e eu sabia disso.

— Acho, que nos últimos dias, mesmo sem muita


conversa, criamos certo vínculo. Algo em você me intrigou.
Te observei, e se tem uma coisa que posso sentir é que
essa atração que senti no segundo em que coloquei meus
olhos em você não foi uma ilusão. É carnal e suja, eu
admito. Mas parece deliciosa pra caralho para deixar
escapar.

— O qu-e? — Gaguejou.

— Você me olhou também, e o desejo em seus olhos,


esse mesmo que está em seu rosto agora, não passou
despercebido por mim.

— Oh, Deus — ela enterrou o rosto entre suas mãos


e balançou os ombros — A humilhação dessa noite parece
ficar pior a cada minuto.

— Gabrielle — com minhas mãos em suas costas,


esperei até ouvi-la suspirar e levantar sua cabeça.

Olhando em seus olhos, disse:

— Seja honesta, comigo e com você mesma, seja


honesta e diga que estou errado. Se estiver, vou recuar,
esperar até que se acalme e deixarei que vá embora.

Ela piscou, batendo os cílios longos sobre os olhos e


nesse momento, já sabia sua resposta.

— Você não está errado. Mas... é demais, nesse


momento, me envolver com alguém seria um erro —
olhando no fundo dos meus olhos, ela permitiu que
enxergasse mais uma de suas camadas — A submissão
me ajudou, ajudou muito com algumas situações
traumáticas que... eram complicadas. Até chegar ao ponto
em que perdi o controle de tudo. Eu o deixei enxergar
todos os meus lados, sem nem ao menos saber quem ele
realmente era de verdade. Não posso fazer isso de novo.

Balancei a cabeça, afirmando suas palavras e ela


finalmente pareceu se acalmar. Mesmo com a raiva e
angústia em suas palavras.

Observei o modo como ela apertava os dedos entre


suas mãos, demonstrando nervosismo e levantei uma
sobrancelha, criando inúmeras possibilidades em minha
mente.

Ele suspirou e se inclinou para frente, deixando que o


cobertor escorregasse de seus ombros e exibisse seu
decote. Lambi os lábios, imaginando minha língua contra
sua pele, meus dentes em seus mamilos, mas tive que
empurrar a ideia para longe antes que isso a assustasse.

A deixei pegar a garrafa de agua quase pela metade


que ela tinha trago do andar de baixo quando subimos, e
fiquei satisfeito ao perceber que suas mãos pareciam
firmes.

Terminando a sua bebida enquanto me lançava um


olhar tímido, ela passou às mãos suaves sobre o tecido
grosso de sua mini saia e se levantou — Eu agradeço pela
conversa, por me ajudar. De verdade. Realmente agradeço
Sr. Lancaster, mas... acho que seria melhor encerrarmos
aqui. Você me fez enxergar a verdade, minha situação é
muito mais complicada do que pensei. Essa noite não
passou de uma tentativa frustrada, mesmo assim agradeço
por ter a sorte de encontrá-lo mais uma vez. Realmente,
estou feliz. Talvez ainda falte muito para que eu possa
seguir em frente...

Eu quase sorrio com a sua necessidade repentina de


fugir. É a típica atitude de alguém que está
demasiadamente assustado e fora de controle.

Agora, vendo-a com mais clareza, sabendo um pouco


mais sobre ela, tudo parecia começar a se encaixar. A
forma como ela parece sempre querer se esconder de tudo
que a faz sentir. O modo como ela parece confusa e
perdida. Sua culpa e aflição por si mesma.

Sei que não é tudo, existe mais. Muito mais que ela
está escondendo por trás de seus olhos calmos e
movimentos suaves. É seguro para ela ser cautelosa
depois de tudo.

Gabrielle é pequena e delicada por fora, só que sei,


existe uma mulher feroz, sensual e forte por trás disso. Eu
conheci outras meninas como ela ao longo da vida a ponto
de ser fácil de identifica-las, mas nenhuma pareceu tão
interessante.

— Nós não acabamos — digo, com a voz branda


quando ela se levanta.

Seu corpo paralisa.

Meus dedos pressionam seus quadris e isso a fez


estremecer. Seus olhos castanhos escurecem, não havia
uma gota de medo neles.

O desejo. A atração inexplicável que tem me


atormentado nos últimos dias quase transcende através de
seu olhar. Assim como tenho certeza que acontece com os
meus.

Chego perto dela, cautelosamente a estudando.

Leio seus sinais, bebo das suas reações com prazer.


E tento seguir isso para saber se ela vai se render ou fugir.

Como pensei, ela não se afasta de mim, quando


minhas mãos exploram subindo por sua cintura.

— Você está enganada, pequena, está sim pronta


para seguir em frente. Só está com medo... terrivelmente
assustada. E não vejo isso como um mau sinal. Só não
deixe o medo governar você assim como o imbecil que
deixou para trás.

Ela balança a cabeça em negação e não sou capaz


de me impedir de sorrir. Me inclino, chegando bem perto
dela e sinto um mínimo – quase silencioso, gemido
escapando de sua garganta.

— Seja corajosa, Gabrielle.

— Eu... eu não posso.


Não contesto. Nesse momento, não faria nenhum
bem a ela. Seguro seus ombros e a ajudo a dar um passo
para trás. Ela parece tão relutante quanto eu, mas essa
noite, não seria sábio pressioná-la.

Retiro um cartão do bolso. É quadrado e pequeno,


com um nome e endereço. The Dungeon.

— Esse é o lugar onde pode deixar tudo ir. Esse


conflito, o medo.... Sei que quer se livrar dele. E estarei te
esperando Gabrielle, ansiosamente. — Seu olhar
desconfiado demora sobre minha mão estendida, até que
ela finalmente aceita — Você tem um problema com
controle. E isso pode sim trazer uma série conflitos. Se
quiser que isso a acabe de verdade, me procure. Eu a
ajudaria com prazer. Muito prazer.

O suspiro exasperado que ela deixou no ar foi audível


e satisfatório para meus ouvidos.

Chamei um taxi para leva-la para casa, e a deixei ir.

Me afastei para que ela se reerguesse e se


encontrasse. Poderia acabar dando espaço para que a vida
nos distanciasse, mas se ela apareceu em minha vida mais
uma vez, mesmo quando acreditei que nunca mais a veria.
Isso não podia ser uma simples coincidência do destino.

Sentado na cadeira do escritório improvisado,


acariciei meu pau enquanto a imaginava ajoelhada aos
meus pés.

Eu tinha certeza que ela encontraria o caminho até


mim de novo, e quando fizesse, não a deixaria partir nunca
mais.
5.

INCLINO O rosto para cima deixando as rajadas de


vento da noite baterem contra minha pele. Não sei há
quanto tempo estou do lado de fora lutando contra a ideia
de seguir em frente. Minhas mãos estão úmidas de suor e
tremem ligeiramente enquanto me recordo do último
encontro que tive com Alex.

Duas semanas atrás.

Longas e tortuosas semanas em que lutei contra


minhas próprias barreiras.

A ideia de deixar alguém chegar tão perto de mim,


como ele fez em apenas um toque. Parecia extremamente
louca.

Na verdade; é louca.

Tentei negar isso durante todos esses dias. Tentei


ignorar meus próprios impulsos. Eu tentei... arduamente.
Até chegar ao ponto em que não podia mais.
Eu fui arruinada o suficiente durante essa vida.
Primeiro a situação fodida com meu pai, depois o
relacionamento destrutivo com Brian. Estava cansada de
tentar me negar, de me deprimir enquanto procurava de
alguma forma o caminho para ser pessoa normal, quando
sabia que normalidade não se encaixava.

Queria liberdade. Queria a sensação que ele causou


em meu corpo apenas com um olhar.

— Posso ajudar senhorita? — Uma voz profunda


obriga meu pescoço a se movimentar para baixo até que
me pego olhando para um homem alto vestido todo de
preto.

Ele é ruivo, alto, com uma barba grande em seu rosto


e terrivelmente assustador, com toda sua largura bem
construída em músculos. Nervosa demais, sinto meus
ombros enrijecerem e um suspiro escapa, antes de
responder:

— Sim, por favor. Como posso falar com Alex


Lancaster? Ele está aqui essa noite?

— É sobre a entrevista para se tornar um membro?


Presumo que a agenda esteja fechada por enquanto. O
The Dungeon é um clube muito requisitado no nosso estilo
de vida — ele faz uma pausa, acredito que observando a
derrota em minha face — Essa pode ser a sua noite de
sorte, no entanto. A casa está aberta para visitantes.
Gostaria de dar uma olhada?
— Eu... — Paro alguns segundos, pensando em
todas as opções. — Sim eu gostaria.

— Certo. Vamos até a entrada, vou fazer o seu


cadastro. Essa noite não está aberta para nenhuma cena,
mantenha isso em mente. Apenas os membros são
autorizados a jogar no nosso território, pois o chefe tem um
sistema rígido de controle e segurança.

Mesmo sem conseguir captar todas as suas palavras,


o segui em direção a enorme mansão de pedras, passando
por um caminho de cascalho até chegarmos em uma
entrada principal onde um enorme segurança estava.

— Ei Ian, boa noite. Temos uma novata!

— Boa noite Jake — o homem responde com um


aceno breve antes de entregar a ele um tablet.

Vi o homem ruivo mexer em algumas coisas na tela e


depois virar o aparelho em minha direção.

— Preencha todas as informações com sinceridade,


por favor. Sou Jake, a propósito. Vou chamar uma das
nossas garotas para acompanhar você até o salão
principal, assim não se sentirá sozinha. Estar sozinho aqui
pela primeira vez pode ser um pouco.... Sufocante.

— E-eu... obrigada.
— Seja bem-vinda ao The Dungeon, querida.

Antes que eu pudesse responder, o homem se virou e


saiu. Me deixando sozinha para preencher as informações
no tablet que ele deixou para trás em minhas mãos.

Meu raciocínio estava lento, de qualquer forma, tentei


me concentrar no enorme questionário, enquanto pensava
se Alex aceitaria me encontrar. Ele disse que me esperaria.
A ideia parecia absurda.

Ele certamente tinha uma infinidade de mulheres aos


seus pés.

Suspirei. Droga Gabi, chega desse jogo de mártir.

Cheguei até aqui, e não podia voltar com o rabo entre


as pernas, apenas para revirar em minha cama mais uma
noite, pensando em suas palavras, sofrendo,
desesperadamente, só pela ideia de tentar. Minhas mãos
estavam quase esfoladas por trabalhar arduamente,
evitando deixar minha mente cair nesse assunto por tanto
tempo. Meu corpo estava exausto. Minha cabeça em
frangalhos. Se eu queria realmente recomeçar, precisava
ser corajosa.

As primeiras perguntas básicas como nome, data de


nascimento, seguro social e endereço foram preenchidas
rapidamente. Até que as demais questões vieram tornando
essa noite ainda mais constrangedora.
Você é uma dominante ou submissa? Tem interesse
em relacionamento monogâmico ou múltiplos parceiros?
Quais são seus limites rígidos?

Suspirei.

Isso tinha que valer a pena.

Podia sentir meu coração acelerado enquanto minha


respiração se tornava cada vez mais ofegante. Uma parte
silenciosa de mim se contorceu com algo próximo à alegria
conforme caminhava.

Fui absorvida por um ambiente caloroso, com rock clássico


tocando no ar, que se tornou cada vez mais alto enquanto
ultrapassávamos o extenso corredor. A atmosfera medieval
do lado de fora da mansão onde o clube The Dungeon fica
localizado, pouco a pouco foi absorvida por algo mais
sombrio. Me remetia aos calabouços antigos do século XV
que tinha visto em alguns livros e filmes. Com paredes de
pedra, luz baixa e sons abafados.

Aquele lado obscuro e horrível de mim, o que comandava


minha própria escuridão, vibrou na minha consciência.
Já não me lembrava quando ele foi desperto pela primeira
vez, tudo era um borrão. Um sussurro feroz que continuava
gritando e gritando cada vez mais alto, todo momento
em que eu o permitia sair.

Eu não deveria estar aqui.

Vamos lá Gabrielle, vire e volte para casa. Volte para seu


lugar seguro.

Meu corpo não podia responder. O fogo começou a se


alastrar, começando pelo centro do meu corpo e
espalhando por todo meu sangue.

— Eu sei, isso assusta um pouco no começo — a


recepcionista do clube que foi apresentada para mim,
disse, conforme passávamos pelo enorme corredor. O
muro alto de pedra, ia do teto até o chão. A única
iluminação vinha através de tochas cravadas muito acima
de nossas cabeças, e da claraboia de vidro no lugar do
telhado que nos permitia ver a lua do lado de fora.

Celas minúsculas com grades de ferro se espalhavam


ao longo do lugar. Olhei para dentro tentando enxergar
algum habitante, mas estavam vazias. O barulho de
correntes arrastando me fez estremecer conforme
chegávamos próximo à entrada principal, o que me obrigou
a respirar fundo.

Um clube de sexo deveria parecer tão... assustador?


Balançando a cabeça, deixei esse pensamento de lado e
olhei para a mulher loira a minha frente.

— Alex... está aqui essa noite? — Perguntei, tentando


parecer casual, mas isso não pareceu funcionar quando ela
parou no meio do caminho, para me lançar um olhar
incrédulo.

— Mestre Alex? Ele é quem você está procurando? — Abri


e fechei a boca tentando formular uma resposta correta,
mas acabei dando de ombros.

— Me desculpe, é que isso é um pouco chocante. Mestre


Alex não é o tipo de homem que as novatas procuram,
geralmente — ela respondeu com um sorriso trêmulo.
Pensei em perguntar a ela por que, mas as palavras de
Alex ainda refletiam em minha memória respondendo
minha própria pergunta — É claro, ele sempre está aqui.
Todas as noites nas últimas semanas, sem exceção.

Assenti, sentindo o nervosismo me dominar ainda mais e


ela continuou caminhando.

Meu estômago embrulhou sentindo um pouco de pavor.

Eu estava doente da cabeça. Fodida por completo, assim


como papai costumava dizer o tempo todo, ninguém
poderia me salvar... nem mesmo ele.

Mesmo assim, meu corpo não respondeu ao desejo de


fugir. Porque o que ele tinha despertado era muito mais
forte.

Porque o que ele tinha feito, ninguém, nunca, conseguiu


fazer por mim. Aquele olhar em seu rosto, a suavidade e
força em seus olhos. A chama de desejo ardente entre nós.
Nada disso me deu espaço para desistir.

Porque, ele, foi o único capaz de acalmar a escuridão e


cessar o fogo. Mesmo que tenha durado apenas alguns
segundos.

Eu precisava dele. E meu corpo não podia voltar atrás.

— Você pode me levar até ele? Por favor? — Supliquei,


fazendo-a me observar por um momento com os olhos
arregalados e depois concordar.
— Tudo bem, é claro. Vamos lá.

Finalmente, eu tinha aceitado. Alex Lancaster era o único


que poderia apagar o meu passado e me salvar de mim
mesma.

— Aqui querida — Ela apontou para uma porta de


madeira escura, e bateu suavemente, uma voz rouca
bradou um “entre” abafado do lado de dentro e ela abriu —
Boa sorte!
Fiquei paralisada no meio do grande escritório. Ao
contrário do lado de fora, aqui dentro, era moderno e
iluminado. Nada parecido com os corredores escuros e
assustadores que vi.

Tudo isso pareceu indiferente, no entanto. Minha


concentração estava totalmente focada nele.

Minhas pernas tremiam. Eu podia sentir o colapso


muito perto de chegar.

Ele estava sentado em uma poltrona de couro, em


frente a uma TV grande de LCD, que estava ligada
exibindo imagens de câmeras de segurança. Vestido todo
de preto, com uma camiseta básica justa em seu corpo,
que exibia seus braços tatuados, ele parecida
dolorosamente lindo. Ao contrário de mim que certamente,
deveria parecer um gato desgrenhado depois de semanas
tão exaustivas.

Sem uma palavra, ele levantou os dedos,


movimentando para que eu pudesse ver e me chamou para
perto.

Não corra. Não corra.


Segui o seu comando de imediato. Sem ao menos me
preocupar por demonstrar meu próprio desespero. Cheguei
perto dele em poucos segundos e fiquei desconcertada
parada perto dele.

Suas mãos grandes seguraram meus quadris,


deixando meu corpo entre suas pernas longas e ele sorriu,
pressionando os dedos firmemente em minha pele.

— Você demorou, pequena, mas estou orgulhoso.


Muito orgulhoso de sua coragem. Agora venha aqui, antes
que desmorone no meio do meu escritório.

Não lutei contra ele quando seus braços me puxaram


para seu colo. A onda de alivio foi mais forte que qualquer
sentimento nesse momento.

— Você esperou — sussurrei baixinho, não


imaginando que ele escutaria.

— Ansiosamente. Todos os dias.

O ouvi dizer, enquanto seus dedos alisavam os fios


rebeldes do meu cabelo.
— Não sei exatamente o que estamos fazendo aqui
— falei, depois de longos minutos de silêncio.

Alex puxou levemente meu corpo longe, para que


pudesse olhar em meus olhos.

— Que tal conhecer um pouco do clube primeiro? E


então, podemos conversar sobre isso.

Concordei, pensando que seria uma boa ideia.


Mesmo que minha mente só pudesse imaginar coisas
extremamente sujas que eu gostaria que ele fizesse
comigo.

Passamos pelo mesmo corredor escuro até


chegarmos no salão principal. Assim que entrei, pude sentir
a antecipação correndo por meus nervos. A atmosfera
aqui, apesar da decoração obscura e intimidante, parecia
leve. Alguns homens e mulheres, vestidos de forma
elegante, estavam sentados em torno do bar oval que
ficava bem ao centro do enorme salão.
Ao redor, combinando quase milimetricamente com os
adornos medievais do lugar, estavam pequenos pontos
elevados de exibição. Com poltronas ao redor. Cavaletes,
um suporte em formato de X para contenção, correntes,
cordas. Velas iluminando o ambiente, tornando a luz baixa.

Algumas pessoas se destacavam através do grupo de


convidados do clube, vestidos com coletes vermelhos.

— Nossos monitores costumam circular por toda parte,


ficando pelos cômodos caso aconteça algum problema. No
bar, temos um cardápio de bebida e comida, mas limitamos
os drinks a no máximo dois por membro. Álcool e chicotes
não combinam muito bem.

Durante toda nossa visita, ele manteve o ar


profissional. Isso estava me deixando cada vez mais
derretida.

— Sim, eu suponho que não — respondi, rindo.

Os submissos, algumas mulheres e homens, se


misturavam entre os mestres e doms/dommes, com roupas
provocantes ou completamente nus.

No pequeno palco que ficava a alguns metrôs do bar,


um homem alto estava com um pedaço de corda vermelha
em suas mãos, enquanto uma mulher, segurada por
correntes que pendiam do teto através de seus pulsos,
esperava com expectativa enquanto ele trabalhava em seu
corpo como um perito. Os nós começaram desde seus
seios até os quadris. Eram firmes conforme ele passava
laço por laço da corda por todo seu corpo. Parecia tão
magnifico e sensual.

— As cenas de shibari são sempre interessantes de


assistir.

Concordei, ainda hipnotizada, observando os


movimentos. Todos pareciam apreciar. As pessoas
pareciam tão à vontade e iluminadas aqui, que por um
segundo, quase me senti como eles. Sem pensar na
maldita sombra vivendo dentro de mim.

— Quer continuar andando? Ainda temos o andar de


cima e a área externa.

— Acho que...

Senti seus dedos em meus ombros, enquanto seu


corpo se posicionou em minhas costas. Suas mãos
escorregarem seguindo por meus braços, e eu suspirei.

— Sim Gabrielle, eu também acho que deveríamos


encerrar com o tour por essa noite. Afinal, temos outros
assuntos a discutir.

Conhecer o clube foi maravilhoso, mas meu corpo


não podia se controlar nem mais um segundo perto dele. A
todo momento, a ânsia por seu toque parecia maior.
— Vamos. Venha comigo.

— Eu sei que isso pode ser um pouco sufocante para


absorver de uma única vez, então faremos da seguinte
maneira. Eu vou te dizer o que quero. O que espero de
uma submissa e vamos conversar sobre suas preferências.
Quais pontos você quer conhecer ou explorar. Certo?

— Sim. Acho que sim.

— Acima de tudo, eu sou dominante. Porém, não


posso mentir... também sou um sádico sexual. Meu prazer
é saber que você confia em mim o suficiente para se
entregar, é claro. Mas a dor faz parte do que eu sou. O
meu desejo de fazer seu corpo sofrer por mim é forte, mas
nunca será com intenção de fazer com que se sinta menor
que eu ou desvalorizada.

— Não tenho problema com a dor — falei com


sinceridade. Tenho certeza que meu terapeuta de trauma
do passado estaria me olhando com repreensão agora,
mas não foi uma mentira.
Ainda era difícil me lembrar do ataque do meu pai,
provavelmente, sempre seria. Mas nada daquilo se
relacionou ao sexo para mim. Mesmo com Brian, no
começo, a descoberta da maravilha entre a dor e prazer
tinha feito tão bem. Suas palavras é que tinham me
machucado. Suas palavras era o que eu nunca poderia
esquecer.

— Bom.

Estávamos de volta em seu escritório, a música do


clube ainda podia ser ouvida através das paredes.
Com nossas coxas perto uma da outra enquanto
conversamos, ele agora estava parado a minha frente,
enquanto eu estava sentada sobre a mesa em seu
escritório.

Conversamos formalmente durante algum tempo, ele


me contando sobre sua carreira como empresário, eu
dizendo sobre meu pequeno negócio de paisagismo e do
meu amor por plantas, flores e terra. Até que ele começou
a contar sobre sua descoberta, o mundo de dominação,
dor, prazer e entrega contado através de sua perspectiva
parecia tão bonito. Eu tinha acreditado e desejado aquilo
um dia, até que foi perdido. Não revelei muito sobre Brian e
nossa relação catastrófica. Todo meu passado foi deixado
de lado. Queria esquece-lo e aproveitar cada segundo
disso.

Enquanto ele falava, tão metódico e poderoso, só


conseguia imaginar sua boca na minha.
Como se pudesse ler meus pensamentos, assisti o
exato momento em que seu corpo se inclinou sobre o meu.
Tentando comprovar minha reação, seus dedos
enroscaram através dos meus cabelos e ele puxou com
força, arrancando uma respiração rápida do meu peito.

Sua boca estava sobre a minha antes mesmo que eu


pudesse piscar. Seus lábios eram poderosos e confiantes.
Sua língua circulou a minha, trazendo um gemido baixo de
mim e me derreti em seus braços como geleia.

Sem poder controlar, deixei minhas mãos correrem


por seu tórax, dedilhando os músculos firmes desde seu
peito até o estômago.

Impulsiva e excitada por seu beijo hipnotizante, deixei


minha mão cair contra suas coxas e procurei a ereção dura
que estava cutucando meu estômago.

Nesse momento, seus dedos em meus cabelos


pressionaram e choraminguei quando ele puxou minha
cabeça para trás com força.

Com os olhos gelados, ele me observou de perto.

— Você está tentando me distrair?

— N-ão, senhor.

Minha respiração estava falhando, eu tinha certeza


disso, ainda assim, consegui balançar a cabeça. Ele sorriu.
— Não terminamos a nossa conversa, mas, você
parece ansiosa para pular essa parte, não é mesmo?

Respirando fundo, agitei rapidamente a cabeça


concordando.

Um sorriso ainda mais satisfeito apareceu em seu


rosto, observando o movimento. Senti minhas bochechas
queimarem, minhas mãos estavam úmidas e minha mente
rodando.

Ele levantou uma sobrancelha, e empurrou meu corpo


para trás, fazendo minhas coxas escorreram ainda mais
para cima da mesa.

— O que devo fazer com você, Gabrielle?

— V-ocê pode me chamar de Gabi. É assim que


todos me chamam — ele gargalhou.

— Eu posso?

— S-im.

— Interessante..., mas eu não acho que posso ser


como “todo mundo”, Gabrielle. Na verdade, não acho que
quero, também.

Chegando perto de mim e cheirando minha pele, não


imaginei que ele faria qualquer coisa que não quisesse.
Não foi um problema para mim. Quando sua língua
percorreu um caminho contra minha garganta, e seus
dentes afiados mordiscaram meu pescoço. Não me
importava mais com qualquer coisa.

Senti uma pequena parte de mim zumbir em


excitação. Principalmente porque, eu estava certa. Seu
olhar, sua voz, seu toque, tudo isso me levava ao perfeito
estado de calmaria que procurei durante todo esse tempo.
6.

QUANDO ME afastei, minha mão parou sob seu


queixo. Um movimento íntimo e arriscado, que me ajudaria
a entender um pouco mais dela. Ser presunçoso e
possessivo estava enraizado muito fundo em mim para
controlar certas atitudes. Sua respiração ficou presa na
garganta e senti seu corpo inteiro começar a tremer.

Em resposta, tive que a encarar e sorrir. Um sorriso


lento e sexy que começava nos cantos da minha boca e se
espalha lentamente por todo meu rosto até brilhar em meus
olhos. O sorriso predador, como os doms do clube
costumavam dizer.

— Tenho imaginado isso, desde o primeiro dia em


que a vi ajoelhada em meu jardim — murmurei
enfaticamente, quando seu corpo trêmulo chegou perto do
meu. Ela suspirou, trazendo seus olhos brilhantes em
minha direção e deixei minhas mãos se ajustarem nas
laterais de seu corpo.
Os nós dos meus dedos estavam brancos pela força
que coloquei no meu aperto sobre a madeira. Eu queria
tocá-la. Tirar cada peça de sua roupa fodidamente sexy e
sentir centímetro por centímetro de sua pele, mas, teria que
me contentar com algo menos exagerado por agora. Sabia
que no momento que a tocasse, estaria perdido.
Graciosamente, ela escorregou as pernas para os lados, e
meu pau endureceu ainda mais dentro das minhas calças.
Se é que isso fosse possível, já que estive duro durante a
última hora inteira enquanto caminhava com ela pelo clube.

Quando ela afastou os joelhos, deitando seu traseiro


redondo mais confortavelmente no móvel, sua saia subiu
alguns centímetros em suas coxas bronzeadas.

— Afaste mais os joelhos — pedi, observando-a


atentamente. Com as pernas abertas, a visão de sua
calcinha de renda preta quase me causou um ataque
cardíaco, principalmente porque o tecido era
demasiadamente pequeno para cobrir os lábios carnudos.
Sua boceta estava lisa e brilhante.

— Agora, fiquei bem quieta enquanto provo seu


gosto.

Não esperei qualquer resposta dela quando me


abaixei, ficando frente a frente com sua pele lisa e
excitada.

Empurrando o tecido delicado de sua calcinha, pude


ter uma visão completa dela. Sem poder mais me controlar,
me aproximei e lambi sua carne quente com um apetite
poderoso fazendo-a soltar um grito surpreso.

Ela chorou em gemidos indefesos e seus dedos se


enrolaram nos meus cabelos quando suguei sua boceta
com avidez e rodeei a minha língua por cada centímetro
dela. Quando seus dedos com mais força, em um ato de
puro controle e diversão, inclinei e prendi meus dentes
sobre seu clitóris em um aperto firme, mas não muito cruel,
sem soltar enquanto eu a lambia. Ela se debateu,
pressionando suas coxas contra minha cabeça e gemeu
docemente enquanto eu continuava.

Não demorou nem mesmo alguns segundos até que


ela gozasse em minha boca.

Com um sorriso satisfeito, me deleitando de cada


gota, olhei para ela, caída sobre a mesa e pensei que
poderia rapidamente fazer disso um vício.

Minha ereção estava doendo há muito tempo. Nem


mesmo um santo poderia resistir tanto. Aproveitando a
visão e o momento, abri a gaveta e peguei um
preservativo.

Ao escutar o barulho, os olhos castanhos e quentes


dela se levantaram, e suas pernas pressionaram contra
meu corpo.

Com a gaveta ainda aberta, observei o pequeno


objeto, envolto em plástico estéril e limpo, que tinha
guardado alguns dias atrás. O vibrador pequeno em
formato de caneta tinha o tamanho perfeito para partes
pequenas e escondidas como o clitóris. Isso chamou a
minha atenção.

Rasgando o plástico, tirei ele e o deixei em cima da


mesa enquanto deslizava a camisinha em minha ereção
dolorosa.

Quando liguei o vibrador, a atenção de Gabrielle


acionou. Sua cabeça cansada levantou tentando enxergar
o que eu estava fazendo, mas minhas mãos trabalharam
com rapidez, espalmando seu estômago para mantê-la
quieta. Pegando uma gota de seu gozo escorrendo para
baixo na divisão de seu traseiro, usei meu dedo indicador
para deixar seu clitóris ainda mais visível e inchado. Ela
suspirou, caindo para trás e perversamente, aproveitei o
seu minuto de distração para colocar a vibração sobre
aquele ponto.

— O que está fazend... — sua voz engasgou quando


pressionei.
Sua doce e pulsante boceta mudou para uma
vibração mais alta e mais rápida no momento em que ela
começou a mover os quadris. Não fazia sentido mais
reprimir seus impulsos nesse momento. Ela gritou, gemeu
e implorou para mim, sem pudor e sem vergonha. Exibindo
seu desespero e sua necessidade como um livro aberto.

Eu demorei com as provocações, até que a fúria


necessitada me consumiu da mesma maneira e precisei
conhecer a sensação de estar dentro dela. Me posicionei,
parando com o vibrador por alguns segundos e entrei em
sua fenda apertada e escorregadia com um movimento.
Cedendo completamente à sensação de plenitude em seu
corpo, juntamente com a provocação constante do vibrador
em seu clitóris que já tinha vencido o efeito sobre ela,
Gabrielle se ajustou perfeitamente ao meu tamanho. Como
se fosse feita sob medida para o meu pau que parecia doer
por ela cada mais.

— Oh Deus... Alex, Alex, por favor, eu não aguento


mais. — Suas palavras tocaram em meu cérebro como um
fio condutor direto para a devastação. Eu não podia me
controlar nesses momentos, quando uma mulher parecia
tão desesperada por algo que só eu podia dar.

— Shh, só mais um pouco, pequena. Você vai


aguentar isso por mim.

O sádico perverso dentro de mim sorriu quando seu


gemido frustrado se tornou mais alto. Movimentando o
vibrador, afastei alguns centímetros apenas para ouvi-la
gritar e rosnei baixinho quando suas unhas arranharam
minhas costas. Da próxima vez, eu a teria contida e imóvel,
completamente em meu poder.

Assim que assisti a pequena mulher perto de gozar,


deitada sobre a mesa do meu escritório, absolutamente
aberta e entregue a mim. Uma repentina linha de fogo abriu
caminho em minha mente. Impiedosamente, usei uma das
mãos para apertar e puxar um de seus seios com força sob
seu top justo, de uma única vez, enquanto me movia dentro
dela. No primeiro segundo, seu rosto bonito apenas
estremeceu com o choque, no seguinte, seu grito de dor
misturado ao orgasmo explodindo dela ecoou por todo o
ambiente, me fazendo gozar logo em seguida com tanta
força que pude sentir minhas pernas falharem.

Ela seria minha. Minha submissa. Dentro e fora desse


clube, pois depois de hoje, apenas algumas noites não
seriam suficiente.

Eu tinha tantos planos em mente para ela.

Meu pau doeu somente com as possibilidades.


7.

DEPOIS DA visita explosiva no clube, as coisas


percorreram entre nós como um arranje perfeito. Algo que
deveria me assustar, porém mesmo tendo sentido um
pouco do poder dele naquela noite, tudo que pude criar
durante os dias que seguiram foi expectativa e ansiedade.

Como ele mesmo tinha dito, naquela noite, tudo que


aconteceu, foi algo delicioso e brutal entre dois adultos.
Alex e Gabrielle.

A partir do momento em que eu de fato aceitasse


frequentar o calabouço como sua submissa; eu estaria à
mercê de Mestre Alex.

E apesar do medo e apreensão, foi o que eu fiz. O


pouco que recebi dele não foi o suficiente. E o fato de
manter isso apenas no clube, serviu como um ponto
positivo. Eu deixaria minhas emoções de lado. Meu medo.
Meus traumas. Queria sentir, aproveitar essa conexão e
pensar que todo resto não existia por um tempo.
Alguns dias depois, recebi o contrato por e-mail e
como tarefa, tive que ler e ressaltar diversos pontos com
Alex ao telefone. Em suma, se parecia muito com o que
assinei com Brian anos atrás, mas nas entrelinhas, onde o
contrato com Brian tirava todos os meus direitos e
vontades, o de Alex, destacava cada uma delas, dando
importância e poder de decisão abertamente para recusar
qualquer coisa que eu quisesse.

Não que Alex tivesse menos poder sobre mim, Deus,


definitivamente não. Nos últimos dias, enquanto
discutíamos cada termo, até mesmo sua voz podia me
excitar. Eu estava tão ansiosa para começar.

Queria chamá-lo de senhor e mestre enquanto ele me


consumia por inteiro.

O modo como seus olhos sondaram meus


movimentos naquela noite, a forma como ele ficou sempre
atento e preocupado com as minhas reações me fazia
derreter.

Ao mesmo tempo em que a voz destrutiva em minha


cabeça me dizia que isso não duraria.

E eu sabia que ela estava certa.

Mas aproveitaria cada segundo que pudesse ao seu


comando.
Saudei Ian, o segurança do clube, pela segunda vez
em menos de uma semana e ele sorriu para mim. Alex
tinha me incluído como membro oficial, portanto, o
questionário não foi necessário. Apenas o registro da
minha digital na porta para poder entrar.

Sabia que aqui, tudo seria diferente; meu corpo não


teria privacidade. Meus limites seriam testados. Eu não
poderia decidir o que vestir ou o que fazer, até mesmo
onde ficar. Tudo seria decisão dele, e mesmo assim,
confiava. Meu corpo e pensamentos pertenciam a Alex
enquanto estivéssemos lá.

— Boa noite Srta. Dixon, Mestre Alex disse para que


esperasse por ele no bar.

Fazendo o mesmo caminho pelo clube, sozinha dessa


vez, cheguei até o salão principal e esperei no bar, assim
como instruído.

Essa noite, estava usando uma maquiagem suave


nos olhos e na minha pele. Escolhi um batom vermelho,
como naquele dia, pois pareceu agradá-lo. Também
combinava com o espartilho de renda preto e vermelho que
Alex tinha enviado para minha casa. Era provocativo e
apertado em minha cintura, mas de alguma forma senti
como se estivesse sendo cuidada por ele.

Um movimento ao meu lado chamou minha atenção.


Apreensiva, olhei para lá, esperando encontrá-lo, mas
apenas vi uma mulher loira que parecia muito familiar
sentar-se. Ao contrário de mim, ela era alta, com pernas
longas e corpo magro.

Pelo semblante em seu rosto, ela parecia chateada.

A bartender colocou o copo de bebida que pedi na


minha frente e agradeci com um sorriso, o que acabou
chamando a atenção da mulher ao meu lado. Ela olhou
para mim por algum tempo e arregalou levemente os olhos.

— Oh meu Deus, você aqui! — Falou, como se me


conhecesse de longa data e a encarei em confusão,
fazendo-a rir — Desculpe, não nos conhecemos
formalmente, eu estava no clube há algumas semanas
atrás e vi você em uma cena desastrosa. Sinto muito por
isso.

— Ah... nossa, não me lembre — gemi.

— Realmente, foi terrível. Sinto muito mesmo. Eu não


sabia que era um membro aqui.

— Eu não era — dei a ela um sorriso amarelo — Essa


é a primeira noite. Irei jogar com Mestre Alex.

— Mestre Alex?

Suspirei.

— Sim.
Ela me observou, intrigada, e fiquei nervosa
imaginando que ela poderia de alguma forma estar
envolvida com ele? Será que eu já tinha estragado tudo?

Falamos, claramente, que não deveríamos nos


envolver com ninguém enquanto estivéssemos um com o
outro. Até porque, fizemos exames para saber se
estávamos limpos e ele estava sugerindo a ideia de deixar
a camisinha de lado nesse tempo caso tudo estivesse
certo. Desde que eu cuidasse do meu controle de
natalidade. Ele tinha mentido?

— Oh Deus, não pense besteiras, por favor. Mestre


Alex é ótimo, só estou surpresa, pois ele não costuma fazer
mais que algumas cenas instrutivas ultimamente. Fique
tranquila, você parece legal e tenho certeza que vai gostar
daqui.

— Obrigada.

— Eu sou Charlotte, a propósito.

— Gabrielle. Gabi.

— Legal — um som distinto chamou nossa atenção,


quando gritos se elevaram vindo da direção do palco. Um
homem loiro e musculoso vestido em um terno elegante,
estava usando uma submissa ruiva para demonstrar o uso
de um chicote. Charlotte ficou tensa enquanto assistia e
suspirou.
— Algum problema? — Perguntei, ela balançou a
cabeça e sorriu de forma angelical, mas se podia dizer algo
sobre isso, seu sorriso não pareceu muito genuíno.

— Não, não. Acho que meu Mestre idiota está


tentando brincar comigo. Então tenho que ir e mostrar que
ele não é o único que pode fazer isso por aqui.

Mesmo sem entender, dei uma risada baixinha e


concordei, enquanto a assistia sair.

Terminando meu drink, fiquei mais algum tempo


observando tudo ao redor, até que senti uma mão firme em
minha nuca.

Não precisei me virar para saber quem era. Seu


cheiro intenso e toque foi reconhecido pelo meu corpo
quase imediatamente. Puxando meu pescoço para trás ele
obrigou minha cabeça a subir para reconhecê-lo quase
perdi o fôlego ao olhar em seus olhos.

Na minha frente, estava o mesmo homem que lambeu


os sucos do meu gozo direto da minha boceta, e fodeu
meu corpo até à exaustão sobre sua mesa, mas seus
olhos, cinza como gelo e poderosos, não pareciam os
mesmos.

E isso me excitou ainda mais.

— Estava do outro lado te observando por um tempo,


pequena, e sabe o estava pensando?
Engasguei, quando seu aperto ficou mais duro e
minha espinha chiou — N-ão, senhor.

— Estava pensando se você estava nervosa e


prestes a fugir, ou ansiosa para começarmos.

— Estou ansiosa, Alex, tão ansiosa...

— Não existe Alex essa noite, menina bonita. Apenas


mestre, para você. E sim, eu percebi sua antecipação de
longe, enquanto a assistia balançar essa bunda gostosa
sobre o banco, chamando a atenção de cada par de olhos
nesse lugar.

Ele me ajudou a levantar, e rapidamente, estava entre


seus braços. Com os dedos ainda pressionando a minha
nuca, Alex me cumprimentou com um beijo lento e
molhado na boca.

— Está pronta para isso, Gabrielle? — Ele perguntou


baixinho, sondando meu rosto como um predador — Está
pronta para se submeter a mim?

— Sim, mestre.

Um sorriso cintilou seus lábios.

— Então, eu quero que a primeira lembrança em sua


memória dessa noite, seja algo que fantasiei assistir
durante todos os dias, desde a primeira vez que a vi —
falou, dando um passo para trás — Ajoelhe-se para mim.
Assustada, tentei olhar ao redor, sentindo minhas
bochechas quentes. Não tinha problema com o ato, mas
acho que acabei sendo pega pelo choque.

— Aqui, mestre? — Ele concordou.

— Sim, baby, aqui. Na frente de todos, para que cada


um saiba a quem você pertence.

Havia um fogo possessivo em seus olhos, quando ele


disse cada uma dessas palavras e não pude controlar as
minhas pernas de falharem. Aproveitando o momento,
segurei em seus braços musculosos como apoio, e me
ajoelhei a sua frente. Depois levantei o rosto, para olhá-lo,
e o brilho sombrio que surgiu entre nós, pareceu se tornar
ainda mais forte.

Nesse ponto, se era possível, meu desejo por ele


tornou-se ainda mais forte.

Sua brincadeira sádica em minha boceta, arrastando


o couro firme do chicote sobre ela, apenas para me
assustar, enquanto ele corria as mãos por minhas costas,
enviou uma linha de excitação quente, gritando direto por
mim. Tentei ficar parada como o ordenado, mas parecia
tornar-se mais difícil a cada nova provocação.

Eu estava presa em um cavalete, da mesma forma


que fiquei no outro clube, na noite em que nos
encontramos. Sua ideia, foi recriar a mesma cena, e como
ele mesmo disse, fazer da maneira certa.

Algo que pareceu se sair muito bem, pelo tempo que


tinha prolongado.

Suas mãos e seu chicote me deixaram mais confiante


ao longo do tempo. Eu tive medo no começo, mas logo, só
a necessidade dolorosa ficou. Ele tinha ido devagar,
aumentando a intensidade a cada pausa, e sabia que
dessa vez, a dor seria maior.

Tentei apertar as minhas coxas, enviando uma


pulsação ao meu clitóris, e recebi um tapa forte sobre
minha bunda.

— Ai!

— Concentre-se, Gabrielle. Você irá receber isso


quando eu achar que deve — falou, com a voz branda
enquanto deslizava o chicote fino por minhas costas — Eu
quero seu foco onde eu disser para estar.

Alcançando entre minhas pernas, ele sondou a minha


entrada, usando seus dedos e o cabo do chicote,
deslizando, esfregando, até me levar a loucura. Gemi
quando ele me deixou e fechei os olhos.
— Acredite em minhas palavras, pequena, quando a
dor se misturar e a necessidade começar a crescer, tudo
ficará melhor. As picadas vão se transformar em uma
sensação branda de calor, seus batimentos ficarão
frenéticos, e tudo que eu quero que faça é se concentrar
nisso, no calor em sua pele, na sua boceta zumbindo de
desejo. Mesmo quando parecer insuportável, se apegue
nisso. Eu quero que você suporte como uma menina
corajosa por mim, ok?

Eu concordei, choramingando e puxando as cordas,


mas resisti como pediu.

O olhar de adoração e desejo que vi em seu rosto


quando ele circulou a minha frente, levou embora a sujeira
que todo o meu passado tentou enraizar. Eu estaria
perdida quando isso acabasse, pois não acho que
encontraria outro homem como ele.

Puxei uma respiração esperando o primeiro golpe, e


Alex soltou uma risada vendo a minha miséria.

Suas unhas arrastaram pela pele quente da minha


bunda e só então, isso aconteceu. De maneira fraca
enquanto ele tomava distância, para pegar o ritmo real.

Quando a dor aguda apareceu, puxei meus braços e


me concentrei como ele disse. Ignorando o barulho, as
luzes, tudo que podia sentir era o toque árduo do couro
contra minha pele.
Um calor doloroso se espalhou para fora, alastrando
por todo meu corpo, misturado ao desejo feio corroendo
dentro da minha cabeça. Eu não queria ir até lá, queria
estar aqui, com ele e seu toque, seus olhos, sua boca, mas
como na outra noite, o lado horrível de mim cresceu com
força.

A voz de Brian apareceu.

“Vamos, sua vagabunda, implore para mim. Implore


como uma prostituta. ”

Por favor, por favor. Eu não quero estragar isso. Não


isso.

Me debati, sentindo meu rosto molhado. Se não


fossem as cordas, eu estaria me enrolando em uma bola
no chão nesse momento. Até que suavemente, senti seu
toque em minhas costas. Sem dor, sem violência, sua mão
pressionou as chamas, um beijo suave apareceu em minha
carne dolorida e dentro de mim, tudo começou a se
acalmar.

Suas mãos desceram entre minhas pernas, os dedos


se tornaram frenéticos, ao mesmo tempo em que podia
ouvir suas palavras.

— Você aguentou, pequena. Uma menina tão boa,


tão bonita. Receba sua recompensa por isso, agora —
murmurou, enquanto esfregava a minha boceta com dois
dedos, e usava a outra mão para entrar e sair de dentro de
mim. Senti seu peso em minhas costas, inclinado contra
mim no cavalete, ele deixou o toque fora enquanto
percorria todo meu corpo dolorido. Senti sua dureza em
minha entrada. E suspirei de prazer.

Eu estava doendo, de um jeito bom, pela primeira


vez. Seus movimentos me levaram a um estado de torpor
bom quando senti as primeiras estocadas. Ele rugiu como
um leão assumindo seu poder e me apertou, mordeu,
arranhou.

— Você é perfeita Gabrielle, perfeita pra caralho,


porra.

O orgasmo chegou perto. Ao invés do ato perturbador


que estava acostumada, a sensação de dormência e
silencio pareceu tão boa.
E saber disso só me fez chorar mais.
Por tanto tempo eu tinha procurado por isso,
exatamente isso.

E eu não sabia o que faria, quando precisasse deixá-


lo para trás.

Minha consciência pareceu se aguçar. Assustada,


pisquei contra a luz batendo em meu rosto e abri os olhos.
Onde foi esse lugar que ele me levou?

Ainda entorpecida, suspirei, totalmente extasiada.

— Ei, linda, você voltou — ele murmurou com a boca


em minha garganta, e as mãos alisando meus cabelos.
Estremeci diante de seu toque, mas quando sua voz
finalmente chegou ao meu cérebro senti meu corpo
acalmar.

Eu estava fora do cavalete. E nem mesmo sabia


quando isso aconteceu. O orgasmo foi tão intenso, que
apaguei por algum tempo, em um estado de transe.

Pelo canto do olho, vi os músculos de seu braço


envolvendo minha cintura, logo depois, meu corpo foi
levantado.
Tentei me mexer, mas sua força me parou.

— Fique quietinha... você caiu fundo no subespaço.


Estou te levando para um lugar privado onde poderá
descansar e se recuperar.

Deixei minha cabeça contra seu peito, absorvendo o


ritmo de seus batimentos cardíacos, com a intenção de
fazer com que eles combinassem com os meus.

— Você fez bem, Gabrielle. Estou tão orgulhoso.

Lágrimas surgiram em meus olhos com a admiração


em sua voz. Tentei dizer alguma coisa, mas ainda me
sentia fraca demais para formular algo que pudesse
transmitir o que estava sentindo.

Ainda assim, apertei meu corpo mais forte contra o


dele, e arranhei levemente sua pele, quase como se
pudesse me fundir a ele.

Eu estava feliz.
8.

GABRIELLE PARECIA perfeita – com os braços bem


acima da cabeça, suas pernas algemadas de cada lado da
pilastra de metal para mantê-la imóvel. Bem no centro da
minha masmorra.

Tinha acendido algumas velas para deixar a luz baixa,


e assim que ela chegou, a conduzi até aqui. Todo o
ambiente combinava com a apreensão e antecipação em
seus olhos. Agi rápido, não permitindo que o sentimento
escapasse. Ordenei que se livrasse de suas roupas e a
ajudei a se posicionar abaixo das correntes onde iria contê-
la. Com uma tira de couro grossa, amarrei um vibrador de
corrente elétrica em uma de suas coxas, e o firmei contra
seu clitóris ainda desligado. Eu tinha usado isso para
estimula-la algumas vezes, e o efeito pareceu incrível. Seu
controle de orgasmo era lamentável. E por mais que eu
quisesse que ela conseguisse suportar a agonia por mim
as vezes, a maneira que ela gozava parecia tão bonita que
desisti.
Portanto, passei a provocar isso dela ao invés de
impedir.

Com o olhar assustado em seu rosto enquanto eu a


ajustava, deixei um sorriso escapar e beijei levemente sua
boca.

Antes de sair precisava a preparar para o que eu


tinha em mente para mais tarde.

Indo até a prateleira, sondei os brinquedos que havia


escolhido, peguei um plug de tamanho médio e um frasco
de lubrificante.

Quando comecei a puxar as correntes para deixar o


seu corpo em uma posição inclinada, contra um banco alto
que arrastei para sua frente, Gabrielle começou a tremer.

Alisando seu traseiro, belisquei a carne macia e


acalmei seus tremores com um carinho suave.

— Oh Deus, Alex, não isso, por favor...

Bati contra a bochecha esquerda de sua bunda com


força e ela guinchou.

— Do que você me chamou?

— Mestre! Mestre! Sinto muito...

— Melhor — murmurei — Agora, pare de se mexer,


quanto mais tensa ficar, pior vai ser. Eu disse que
avançaríamos alguns limites hoje pequena, então, é isso
que vamos fazer.

— T-udo bem!

Lambuzando sua bunda, coloquei um dedo, sentindo


as paredes apertadas, até acostumar a intrusão. Comecei
a empurrar o plug dentro dela, a todo momento
massageando e acalmando seus músculos. No fim, pude
dizer como isso a dilatou, fração por fração. E, infelizmente
para ela, isso não era nem mesmo perto do tamanho e
grossura do meu próprio pau. Que estaria em sua bunda
em um dia próximo no futuro. Por enquanto, queria apenas
fazê-la sentir prazer com a sensação.

Voltando as correntes, deixei seu corpo ajustado


verticalmente e alisei suavemente sua bochecha antes de
ligar o vibrador.

— S-enhor... — ela gaguejou desesperadamente,


assim que o zumbido baixo começou — Mestre!
— Qual é a sua palavra segura, sub?
— Vermelho, senhor — ela ofegou.
— Se não for ela saindo de sua boca, caso esteja em
problemas, você será punida. Caso contrário, faça silêncio.

Quando fechei a porta, pude ouvi-la choramingar baixinho.


Isso me arrancou um sorriso enorme.

Segui para minha última conferência do dia, sabendo


que teria longas horas de prazer à minha espera quando
voltasse.
Já fazia algumas semanas desde que começamos. A
nossa primeira noite foi intensa e arrebatadora, para nós
dois. Os dias seguintes, foram estabelecidos de forma que
construímos quase um relacionamento. Mesmo que ela
ainda relutasse contra aumentar nossa intimidade.
Aconteceu. Eu me pegava ligando para ela no meio do dia.
Enviando pacotes para seu apartamento. Dando ordens
que ela atendia com prontidão e paixão.

Fomos ao clube mais algumas vezes. Havia sugerido


que ela viesse a minha casa, Gabrielle não pareceu gostar
da ideia de início, até que finalmente, consegui convencê-la
de fazermos uma seção experimental. Onde seus limites
poderiam ser explorados com mais intensidade.

As últimas semanas foram apenas uma adaptação


difícil. A partir de agora, quando um pouco de confiança já
tinha nascido entre nós, a dominância real começaria.

Eu adorava ligar para ela antes de dormir, e ouvir


seus gemidos enquanto ela usava um dos vibradores que a
presenteei. Adorava ainda mais saber que seu orgasmo
seria recompensado com momentos de dor intensa, tudo
para satisfazer o lado sádico e cruel de seu mestre.

Demorei cerca de quarenta minutos para voltar depois


que a deixei.

Lentamente, enquanto ela me observava com seu


olhar suplicante, caminhei pelo espaço, parando na
prateleira de madeira que usava como suporte para dispor
os brinquedos que tinha intensão de usar. Hoje, havia um
chicote longo, flogger, plug e cordas de seda.

Escolhi o flogger.

Sensualmente, comecei a acariciar seu corpo com as


correias de couro, aquecendo sua carne com cada golpe.

Havia uma beleza em colocar desenhos em sua


pele. Eu adorava assisti-los depois, enquanto a fodia. As
nuances de rosa e vermelho, colorindo sua bunda redonda,
me deixavam ainda mais duro.

A bengala era melhor para machucar, e eu sabia que


ela estava se tornando tão apaixonada pelas marcas
quanto eu. O que significava que estaria pronto para usá-la
em breve. Por agora, o chicote, flogger e minhas mãos
foram ferramentas suficiente.

O medo na primeira vez, como se eu pudesse


ultrapassar certos limites tinha a aterrorizado. Mas levei
meu tempo demonstrando a ela, o real prazer que
esperava conseguir nisso.
Quando me aproximei, e passei a mão entre aquelas
coxas abertas, eu a encontrei molhada e inchada.
Inclinei-me, beijei sua doce boca, em seguida, arrastei sua
cabeça para trás pelos cabelos, sorrindo ao ver seu
pescoço exposto e o brilho do suor em seu corpo.

Seus olhos tinham aquela súplica silenciosa e


desesperada que eu tanto amava. Porra. Essa mulher
estava consumindo minha cabeça.
As últimas semanas se tornaram frenéticas tão
rapidamente, que tive a sensação de que Gabrielle fazia
parte da minha vida em todos os aspectos. Não apenas
como uma aventura sexual limitada, e sim como algo que
gostaria que durasse.

Ela, no entanto, ainda parecia cautelosa e respeite


sua apreensão. Mesmo que estivesse começando a sentir
uma necessidade agitada de fazê-la minha
permanentemente. Conhecê-la também me permitiu
conhecer marcas profundas em suas costas, assim com
uma cicatriz enrugada em seu estômago. O que dizia muito
sobre seu passado, assim como pensei, era ainda mais
profundo do que tinha imaginado e precisava tomar
cuidado para não a assustar. Era muito cedo para
pressionar, por enquanto, aproveitaria o que estava
acontecendo entre nós.

Mesmo que me conhecesse o suficiente para saber


que em algum momento, o idiota possessivo dentro de
mim, desejaria muito mais do que ela deu
espontaneamente. Seu corpo foi fácil de conquistar..., mas,
ainda não parecia o suficiente. Eu queria mais.

Depois de provocar o seu corpo, larguei o flogger no


chão e me abaixei para soltar as cordas em torno de suas
coxas e tornozelos, deixando os braços ainda algemados
nas correntes. Abri o zíper do jeans, sem cueca por baixo,
foi fácil avançar para abraça-la. Subindo seu corpo em
minha cintura, até que suas pernas se mantivessem em
meus quadris, meu pau cutucou contra sua boceta
molhada e perfeita. Senti sua cabeça se abaixar em meus
ombros, e um gemido satisfeito escapou quando deslizei
dentro dela. Com a outra mão, provoquei sua bunda ao
mesmo tempo em que meu pau estava dentro dela.

O prazer foi tão absurdamente intenso, que bastaram


algumas estocadas, para que a necessidade de gozar já
estivesse me consumindo. Prolonguei ao máximo,
segurando seu corpo contra o meu enquanto nossos
gemidos se misturavam.

Retardando meu ritmo, segurei sua bunda


machucada e sincronizei os movimentos, alternando de
forma bruta com o meu pau e mais suave em seu traseiro,
pois não queria machucar sua bunda. Isso arrancou um
grito desesperado dela.

— Oh Deus... foda... foda-se!

Eu arranhei sua pele, apenas pelo prazer de ouvi-la


gritar novamente e intensifiquei meus movimentos.
Entrando e saindo de dentro dela com força até que não
aguentei, e explodi com um jato forte e poderoso dentro de
sua boceta.

Seu corpo caiu mole contra o meu, fazendo as


correntes tilintarem no ar. Sua pele suada e brilhante,
reluzindo a luz das velas, enquanto seus olhos tremulavam
para me enxergar.

Com uma mão em sua cintura, e outra em sua


bochecha, eu levantei seu rosto para olhar em seus olhos.
— O que você diz, depois que seu mestre a faz gozar,
pequena?

Ela sorriu, arrastando sua própria pele contra meus


dedos: — Obrigada, senhor.

Ajoelhada entre minhas pernas sob o tapete macio,


deixei que ela se recuperasse por um tempo. Adorava levá-
la a esse estado de transe flutuante em nossas sessões.
Mas ultimamente, isso tinha servido para levantar alguns
sinais alarmantes em minha cabeça. O modo como ela se
retirava, dentro de si mesma depois, dizia que o que quer
que estivesse atormentando a sua cabeça, era realmente
um lugar muito feio para estar.

Alisei seu cabelo suavemente e apertei, chamando


sua atenção.

A observei virar a cabeça para mim, ainda mantendo


os olhos fechados. Coloquei a mão em sua garganta, o
indicador e o polegar logo abaixo da linha da mandíbula,
forçando sua cabeça para cima.
O aperto era leve, apenas uma ligeira pressão, mas o
suficiente para deixar claro que, se quisesse, poderia usá-
lo como punição.

— Olhe para mim — ordenei, fazendo seus olhos


piscarem. Seus cílios ficaram molhados de lágrimas e
suspirei, frustrado — O que está errado, bebê?
Ela agitou a cabeça.
— Nada senhor, eu juro. Nada!
— Você parece triste.
— Não, eu não estou triste. Nunca estive tão bem... está
tudo perfeito.

Eu sabia disso, sabia que seus olhos não podiam


mentir para mim enquanto estávamos jogando. Ela brilhava
abertamente, se submetia com graça. Mas existia essa
faísca, estranha e abstrata no fundo de seu olhar que eu
não conseguia decifrar. Medo? Vergonha? Tristeza?

Ainda não era hora de pressionar.

— Perfeito? — Questionei, traçando sua boca com


meus dedos — Perfeito vai ficar quando estiver com essa
boca bonita em torno do meu pau, bebê.

Ela riu e chiou quando agarrei seus cabelos e puxei


seu corpo para cima, fazendo seus joelhos tocarem meus
pés descalços.

Agarrando seu mamilo e torcendo a ponta entre os


dedos, ela soltou um grito surdo abrindo sua boca, e eu
sorri.
— Assim, deixe sua boca assim.

Soltando seu seio quando ela ficou parada — com a


boca aberta à minha espera, direcionei meu pau para perto
dela, e respirei fundo com satisfação quando ela se inclinou
para engoli-lo. Tão gulosa. Avançando a língua sobre a
cabeça, suas mãos pequenas se envolveram em torno da
base e cai contra o sofá, enquanto uma das minhas mãos
controlava seus movimentos segurando seus cabelos.

Com a maquiagem borrada e lágrimas nos olhos, não


demorou muito até que eu gozasse em sua boca.

Tinha me esquecido de fechar as janelas. Só percebi isso


quando o sol nasceu pela manhã e começou a brilhar
dentro do quarto. Um raio em particular estava brilhando
sobre o corpo nu ao meu lado. Não me levantei, mas movi
minhas mãos por ela, segurando-a, aqui e ali, como se
reivindicando cada parte silenciosamente.

Eu gostei da visão de Gabrielle em minha casa nessa


perspectiva. Com os cabelos desgrenhados, nua e
enrolada entre os lençóis da minha cama.
Sua bunda estava rosa e um pouco roxa em alguns pontos,
resquícios de uma das nossas sessões no clube e da
última noite. Eu era um idiota por ficar duro só com a visão,
frequentemente, isso acabava acontecendo. Tinha me
tornado um viciado.

Capturei uma marca em particular em suas costas e


dedilhei toda sua extensão. O que me fazia diferente do
homem que havia abusado dela? Eu tinha aceitado o meu
sadismo anos atrás e estabelecido limites rígidos para que
nunca os ultrapassasse, mas ultimamente, com ela, eu me
pegava pensando que a ver de joelhos e obediente era
muito pouco. Marcar seu corpo era muito pouco.

Eu queria devastar cada centímetro dela. Invadi-la em cada


buraco. Eu me pegava, às vezes, tentado a acorrentá-la
em minha cama para foder toda essa merda fora dela com
meu chicote. Marcar todo seu corpo e provar a Gabrielle
que ela é minha. Não do seu passado. Não dos demônios
que a atormentavam há tanto tempo. Minha.

Quando ela se mexeu e virou para ficar mais perto,


enterrando o rosto contra meu peito, suspirei, alisando a
suavidade de sua pele, enquanto olhava para ela.

— Ah, Gabrielle, vou descobrir como entrar em sua


cabeça. De uma forma ou de outra, não irei desistir até
fazê-la minha. — Sussurrei, beijando sua boca.
9.
DOIS MESES DEPOIS

OLHEI PARA o vaso a minha frente, sentindo a bile subir


em minha garganta, até que todo o suco gástrico do meu
estômago foi despejado, pela terceira vez seguida. Depois
de mais algum tempo sentada no chão do banheiro,
enquanto sentia minha mente girar, consegui me arrastar
de volta até a cama.

Eu estava doente há dois dias. Com picos de enjoo e dores


por todo corpo que estavam me destruindo.

Mal conseguia abrir os olhos.

Com dificuldade, puxei o lençol sobre meu corpo e fechei


os olhos.
O rosto bonito de Alex apareceu em meus pensamentos e
solucei ao pensar que deveria ter encontrado com ele no
clube na noite passada.

Eu não tinha ligado para avisa-lo, não tive forças para isso.
Será que ele estava bravo?
Os últimos meses foram como um sonho. Às vezes, tinha
medo de acordar e perceber que estava de volta ao
apartamento de Brian.

Essa alegria não podia ser real. Alex não parecia real.

Nos últimos dois meses, ele foi paciente comigo. Nunca


pressionando mais do que eu podia aguentar,
emocionalmente pelo menos, ele não tentava entender os
meus momentos de tristeza profunda, ou silêncio. Alex não
me achava estranha por gostar de passar tanto tempo
mexendo em minhas plantas ou tocando a terra. Até tinha
dito que o ato parecia muito erótico em sua cabeça.

Eu não me importava de ajoelhar para ele, responder aos


seus comandos. Tudo ao seu lado despertou uma
antecipação gritante em minha cabeça. Eu não tinha medo
de entregar meu corpo ao seu comando, pois meu mestre
o usava como um troféu. Com dor ou prazer, no fim, eu
sempre me sentia como o um de seus bens mais valiosos.

Eu o amava por isso.

Não somente por isso. Eu o amava por tudo. Por


simplesmente ser quem ele é. E por esse motivo, sabia,
precisava deixá-lo.

Sua carreira. Sua vida. Tudo. Estaria em risco ao lado de


alguém tão fodida como eu.
— Eu estou dizendo que é melhor abrir essa porta ou vou
arrombá-la!

Passos dentro do meu apartamento me fizeram despertar.


Tentei me manter atenta, contudo estava muito fraca para
me concentrar. Brian? Ele estaria aqui para me levar de
volta?

Quase sorri com o pensamento, pelo menos, eu teria


ganhado contra ele uma vez. Quando sai, suas palavras
insinuaram que esperaria que eu voltasse me arrastando
de joelhos, ao descobrir que não poderia sobreviver
sozinha.

— Gabi? Gabrielle? — Mãos fortes puxaram os lençóis, e


lutei tentando impedir — Jesus, você está queimando de
febre.

Uma mão forte examinou a minha testa, e senti meu corpo


ser mudado de posição. Trabalhei, tentando distinguir
aquela voz.

— Mestre?
— Shh, não nos coloque em problemas — ele se sentou ao
meu lado, cutucando minha bochecha, um comando
silencioso para que eu olhasse em seus olhos — Seu
síndico não pode saber que gosto de bater em sua bunda
bonita, ou ele irá me expulsar. Eu teria que socar a cara
dele de qualquer forma, pois não conseguiria deixá-la
sozinha. Uma confusão e tanto para resolver nesse
momento. Vamos evitar chegar a esse ponto.

— Señorita Gabrielle? — A voz arrastada de Sr. Santiago


chamou enquanto eu tentava fazer minhas pernas
funcionarem.

Alex segurou meu corpo na cama com um único gesto.

— Ela está passando mal... acredito que seja uma


intoxicação alimentar ou virose. Muito obrigada por me
deixar entrar Sr. Santiago. Posso lidar a partir daqui. Vou
chamar um médico. E deixarei que saiba caso precise de
alguma coisa.

— Cuide-se niña — ouço o meu senhorio responder, antes


de sair, suponho, pelo barulho da porta batendo.

Sem uma palavra, Alex pega seu celular e digita uma


mensagem, depois o coloca sobre a cabeceira da minha
cama e começa a tirar minha roupa.

Seu silêncio estava me assustando. Arrisquei um olhar em


seu rosto, e uma carranca estava se formando. Ele estava
bravo. Oh, merda... eu não conseguia fazer nada direito.
— M-estre — me esforcei para dizer — Sinto muito, eu não
consegui ir na noite passada. Eu deveria ter avisado. Sinto
muito.

Uma linha de expressão severa surgiu em sua testa


enquanto ele assistia o meu rosto, daquela forma que
podia me dizer que estava protelando entre deixar a sua ira
escapar ou controlá-la.

— É sério que você pensa que estou bravo por que não
apareceu na noite passada? — Ele balançou a cabeça—
Porra, pelo amor de Deus!

Abri a boca para responder, mas seu olhar severo me


parou.

— É melhor calar a boca agora, amor, antes que consiga


se encrencar ainda mais — suspirou — Estamos nisso há
quanto tempo? Mais de três meses, e você não consegue
nem mesmo me pedir ajuda? Você dorme na minha casa,
almoça comigo... semana passada, eu estava com uma dor
de cabeça infernal, e quando percebeu, me obrigou a
tomar remédios e diminuir o ritmo de trabalho.

Ele me lançou um olhar magoado.

— Eu estou tentando Gabi, realmente tentando te dar


tempo e espaço, mas...

Alex ficou em silêncio, sem poder terminar a frase e


respirou fundo. Fechando os olhos por alguns segundos,
fez aquela coisa, quando seu temperamento parecia se
perder e precisava de alguns segundos em silêncio
absoluto. Quando abriu, toda a raiva tinha ido embora.

Não disse mais nada quando me levantou no colo, e me


ajudou a tomar um banho morno. Um amigo médico dele,
viria me visitar na manhã seguinte, foi a única coisa que
avisou, depois de me obrigar a beber água e tomar alguns
remédios.

Senti seus dedos alisando meu rosto, afastando o suor da


minha pele depois de um tempo em que estava deitada.
Com um beijo suave em minha testa, ele murmurou.

— Descanse agora, bebê.

Muito tempo depois, quando acho que ele acreditou que


estava dormindo, eu o ouvi dizer:

— Sei que alguma coisa está errada Gabrielle, e uma hora


terá que me dizer o que.

Nunca. Pensei.

Nunca. Nunca.

Eu não podia

Se contasse, só faria com que ele me odiasse, e isso, eu


não podia suportar.
Depois de passar os dias em meu apartamento, até a
minha recuperação, o clima entre nós não estava bom.
Algo estava o incomodando.

Não tiveram ligações noturnas depois que ele partiu, ou até


mesmo presentes entregue em minha porta. Uma
mensagem curta e direta instruindo que eu o encontrasse
no clube essa noite foi tudo que recebi.

Nesse minuto, eu soube que ele terminaria comigo.

Tentei chorar, mas até mesmo as lágrimas fugiram de mim.

Quando coloquei a cinta-liga sobre meus quadris e apertei


na cintura, lembrei de seu toque contra minha pele, dos
seus beijos, da sensação de estar cheia com seu pau longo
e grosso em minha boceta ou boca.

Também me lembrei das noites em que dormi em seus


braços. Do seu sorriso cruel. Sua risada curta e seus olhos
selvagens.

Sentiria tanta falta disso.


Hoje seria um dia aberto aos visitantes no clube, e Mestre
Garret tinha organizado um show com outro dominante de
Wisconsin.

Eu descobri que não gostava desses dias. Sempre ficava


apreensiva. Pensando que podia encontrar algum rosto
conhecido. Tinha evitado todos eles, até agora, mas essa
noite, poderia ser a última, então, com o coração na
garganta de desespero, fiz o caminho até a entrada.

Mais uma vez, senti a besta sentada em meus ombros.


Sussurrando em meus ouvidos, me tentando a implorar
para ele, por mais uma chance.

Encontro Jake na porta, o mestre ruivo simpático que tinha


me assustado até a morte, quando o assisti arrastar uma
mulher vestida de cachorrinho pelo clube por horas. Entre
os submissos, acabávamos escutando todo tipo de fofocas,
e minha surpresa foi ainda maior quando descobri que o
médico que me visitou, a pedido de Alex, era ele.

— Você parece melhor essa noite, amor — ele diz, com um


sorriso caloroso, enquanto valido minha entrada com a
segurança. Eu correspondo sua simpatia, mas sinto que o
sorriso mal cresce em meu rosto.
— Obrigada Mestre Jake, principalmente pela consulta.

— Disponha. Agora, acho que é melhor se apressar, seu


dono está com um humor ácido essa noite — ele me dá um
aperto encorajador no ombro —Ele está te esperando no
salão; palco principal.

Meu coração acelera, apenas com a menção de seu nome,


então entro às pressas.

Meus passos ficam cautelosos quando chego perto do


palco iluminado. A iluminação está baixa e luzes vermelhas
e brancas piscam através dos refletores centrais.

Ele está de terno essa noite. Terno e gravata. Eu perco o


fôlego com a visão. Com os cabelos penteados para trás,
posso ver o seu rosto ainda mais nitidamente. Os músculos
grandes de seus braços, parecem apertados no tecido
cinza escuro, a cor que ele escolheu, destaca ainda mais
seus olhos azuis.

Eu subo as escadas laterais indo até ele, e espero seu


comando.

Não haverá espaço para muita conversa entre nós essa


noite. Percebo isso, quando ele se aproxima de mim, com
uma mordaça de bola vermelha em suas mãos.

Segurando meu rosto, ele me sonda com um olhar duro e


cruel, apertando os dedos em minhas bochechas.
Seu toque contra minha pele vem como fogo. E é cômico e
apavorante o modo como ele o faz doer na medida certa.
Até mesmo quando quebra meus próprios limites. Eu
odiava ser amordaçada, mas temo que entraria em um voto
de silêncio absoluto por toda minha vida, se isso me
tornasse digna dele.

Ele sabe o que me liberta e de alguma maneira, com ele,


não me sinto suja por querer tão desesperadamente mais.

— A quem você pertence, Gabrielle?

— Você, senhor.

— Você confia em mim?

— Sim — respondo, mas ele não parece acreditar em


minha resposta. Isso me deixa triste.

— Suas palavras dizem uma coisa, sub, mas seus olhos


dizem outra. Eu decidi, que não irei confiar em nenhum
deles hoje à noite — ele levanta a mordaça, esperando até
que eu abrir a boca, e logo, sinto o gosto de couro e a
pressão firme contra meus dentes quando ele encaixa —
Vou fazer você sofrer por mim hoje, Gabrielle, como
punição, e enquanto isso, só vou acreditar nas coisas que
seu corpo me diz.

Me conduzindo até o centro do palco, onde está a cruz de


St. Andrews, ele me posiciona de frente para ela e pega
meus pulsos, um a um, para prende-los nas algemas de
couro penduradas na estrutura.
— Qual seu sinal de segurança, se algo estiver errado? —
Eu pressiono minhas mãos duas vezes, abrindo e fechando
e ele concorda. Depois, com um lenço preto, venda meus
olhos com um nó firme em minha cabeça.

Cega e muda para o mundo, escuto seus passos atrás de


mim, até que o primeiro golpe atinge minha bunda. Forte.
Doloroso. Eu entro no estado de calmaria e paz, apenas
por saber que é ele que está ali.

Ele podia tirar sangue da minha pele sem que eu ao menos


fosse capaz de gritar. Tudo que Alex fazia comigo, parecia
tão sexy e prazeroso que, em alguns momentos eu me
perguntava se ele não foi uma alucinação criada pela
minha mente despedaçada.
10.

EU CONQUISTEI seu corpo. Depois de meses de


treinamento, intensidade e prazer, apenas um olhar meu
era capaz de deixá-la ligada e ansiosa. A fome de
Gabrielle, às vezes, parecia ainda mais forte que a minha,
como se nada do que eu fizesse pudesse saciá-la.

Contudo, os segredos ainda estavam lá. Emocionalmente,


ela se trancava em um cofre, sempre que as coisas se
tornavam intimas demais. Suas emoções ficavam
aprisionadas dentro dela com tanta força e eu temia que
nunca pudesse alcançar.

Essa ideia estava me perturbando. Nos últimos dois


meses, enquanto dei-lhe tempo, tentando não agir como
um maldito ser irracional, senti como se estivéssemos
dando um passo para frente e dez para trás. Ela me
adorava, como mestre, como homem. Podia assistir à
devoção em seus olhos e me sentia frustrado quando a
pegava disfarçando ou negando o que existia entre nós.
O que temos é forte. Verdadeiro. Prazeroso e muito perfeito
para desistir.

Não a deixaria mais fugir como uma covarde. Fosse o que


fosse, descobriria a verdade sobre ela, da única maneira
possível. Para depois poder usar as armas certas para
fazê-la ficar.

Levar sua mente ao estado de êxtase seria fácil, me


aproveitando do jogo de luzes combinando com a música
alta e erótica, comecei trabalhando meu chicote em suas
costas e bunda. Com uma saia curta que mal cobria a cinta
liga por baixo, pude administrar os golpes de forma lenta e
gradual, alternando a intensidade das lambias em sua pele.

Quando acabei o aquecimento, ela já estava tremendo e


choramingando.

Prendi as correntes do meu lado mais perverso por ela.


Essa noite, seria uma libertação para nós dois.

Cheguei perto com passos silenciosos e agarrei os fios


rebeldes de seu cabelo, fazendo com que gritasse de
espanto.

Deixei sua bunda nua, agora rosada, virada para os


expectadores que assistiam com tamanho interesse sua
punição.

Puxando o tecido para cima, encontrei o caminho entre


suas pernas. Sem calcinha, assim como tinha de ser
quando vinha ao clube, meus dedos encontraram suas
dobras, provocando os lábios carnudos de sua boceta até
fazê-la gemer e implorar através da mordaça.

— Sei que você quer o prazer, sub, sei que espera pelo
prazer, mas hoje, eu quero que sofra por mim de mil
maneiras diferentes. Eu vou te espancar, te provocar, te
arranhar, morder, usar e abusar. Usarei seu corpo como
minha tela, somente pelo prazer de fazê-la carregar as
minhas marcas.

Tomando distância novamente, peguei a vela que tinha


deixado acesa em cima de uma mesa redonda no canto do
palco, e pinguei a cera quente em cima de sua bunda.
Como um artista em processo criativo, deixei minha
imaginação brincar, atingindo sem exatidão contra suas
costas, ombros e bunda.

Minhas unhas arranharam suas nádegas quando terminei,


e a ouvi deixar escapar um suspiro.

Beijei suas costas, chegando perto dela de novo e arrastei


meu nariz contra sua nuca.

— Você é minha, Gabrielle. Minha submissa. Minha


amante. Minha mulher. Minha posse. Meu vício.

Ela ofegou, fazendo as correntes que prendiam as algemas


na cruz chiarem.

Passando minhas mãos com mais força contra sua pele,


mordisquei levemente seu ombro e falei:
— E toda vez, que fizer coisas idiotas, só porque está com
medo do que está acontecendo entre nós, é assim que
você vai pagar. Até que resolva me dizer o que tanto te
assusta, bebê. Eu não vou desistir de nós Gabrielle, e
muito menos deixarei que você faça.
11.

DE REPENTE, fiquei menos focada na dor intensa em


meus mamilos, e mais atenta aos sons que meu mestre
fazia. Seus gemidos ficaram cheios de luxúria e prazer,
enquanto ele batia forte dentro de mim, duro como nunca
senti.

Ele colocou presilhas de mamilos em meus seios, com uma


corrente ligada a elas, que puxava a cada estocada.

Esse era nosso terceiro dia seguido no clube, depois da


noite de punição. Ele tinha cumprido cada promessa que
fez. Usando meu corpo de mil maneiras até a exaustão.

Naquela noite, quando nossa cena terminou, senti minhas


pernas cederem sem o mínimo de força em cima dele.
Vozes se misturaram em minha cabeça, enquanto o sentia
me carregar no colo para fora em direção a um dos quartos
privados. Ainda amordaçada, com o corpo dolorido, depois
de chicotadas, leves queimaduras com a parafina
aromática das velas, e um longo tempo de provocações em
minha boceta, me sentia quase fora de órbita.

Carinhosamente, ele me colocou sobre a cama, beijando


cada centímetro do meu corpo com tanta delicadeza, que
quebrei em seus braços, com uma onda de alivio e medo.

Ele não iria me deixar, não iria desistir até descobrir a


verdade sobre meu passado, e isso, só me dava uma
escolha. Difícil e cruel.

Prolonguei demais até chegar o momento de desistir. Me


apeguei a força do que sentia por ele para tomar coragem.
Nunca imaginei, quando deixei Brian para trás, que teria
que fazer uma escolha como essa. Nunca imaginei, que
amaria alguém dessa forma e que me sentisse tão amada
e adorada em correspondência. Seria mais fácil se tivesse
ficado sozinha, seria mais fácil se meu passado pudesse
ficar enterrado e nunca estragar o que tínhamos, mas a
vida é o que é. Não tive nenhuma escolha quanto a isso.

Ele não me amarrou essa noite, ao contrário; ofereci meu


corpo ao sádico ansioso dentro dele.

Depois de um tempo lento de dor, comigo ajoelhada sobre


os lençóis de seda em um dos quartos, senti sua ereção
firme contra minha bunda.
Nossos gemidos se misturaram, enquanto lágrimas
enchiam meus olhos.
Eu precisava que essa noite fosse perfeita.
— Mestre — gemi, sentindo suas mãos segurarem meu
corpo com força — Por favor, eu não vou aguentar. Preciso
gozar!

— Você vai gozar comigo, sub. Aguente! Mantenha o


controle. Eu quero sentir isso explodindo de nós no mesmo
maldito segundo.

Choraminguei, pensando ser impossível. Meu controle de


orgasmo foi um desafio em que falhei todas as vezes, no
entanto, puxei uma respiração, não ousando o desapontar.

Ele riu, beijando minha clavícula, suportando o peso de seu


corpo em suas pernas para não me esmagar na cama.

Me fodendo por trás, o escutei rosnar baixinho, ignorando


meus gritos enquanto uma de suas mãos puxava as
correntes em meus peitos uma última vez, antes de
deslizar para baixo.

— Porra, você é perfeita. Tão perfeita! — Disse, me


segurando com um toque possessivo — Ainda me lembro
quando senti seu gosto pela primeira vez, quando a toquei,
quando a fodi. Quando a marquei. Nunca vou me cansar
disso, pequena.

Apertando as mãos em meus quadris, meu mestre


abrandou seu movimento de vai e vem, enquanto um de
seus dedos invadia minha boceta pela frente. Esfregando o
clitóris lentamente.

— Goza pra mim, bebê. Agora!


Não esperei nem mais um segundo. Antes que sua frase
terminasse, eu estava explodindo sobre ele, ao mesmo
tempo em que o sentia gozar com força dentro de mim.

Com Alex deitado de costas, segurando meu corpo trêmulo


sobre o dele, inalei seu cheiro, desejando poder parar o
tempo. Com nossas pernas emaranhadas uma na outra,
enquanto uma de suas mãos alisava minhas costas.

— Você está bem? — Perguntou, como sempre fazia


depois de um momento intenso entre nós. Agitei a cabeça,
sem ter coragem de me negar ao direito de seu toque.

— Maravilhosa, senhor. Esses dias foram... — uma risada


agitou seu corpo.

— Sim, amor, foram intensos.

— Eu... — respirei fundo, criando coragem para dizê-lo e


nesse momento, tive que me levantar para olhá-lo nos
olhos. Chegando bem perto de seu rosto, dedilhei os dedos
sobre sua barba, gravando a imagem em minha mente —
Amo você, Mestre.
Senti seu corpo paralisar e os olhos azuis escurecerem. —
O que disse?

— Eu te amo. Amo você como mestre, como homem. Eu


realmente faço, Alex.

— Porra — sua boca tomou a minha em um beijo caloroso,


seus olhos ganharam um brilho intenso quando ele voltou a
olhar para mim, ainda segurando meu rosto entre suas
mãos — Eu te amo. Muito Gabrielle. Nada, nunca, vai me
impedir de amá-la. Não importa o que seja, só precisa
confiar em mim.

Sorri e me enterrei perto dele novamente. Queria dizer a


ele que não se tratava de confiança. Eu confiava nele, com
todo meu coração. Mas as coisas que eu não podia apagar
ou esquecer, tornava tudo complicado para nós. Confiança
não seria o suficiente, nunca, para o segredo sujo que eu
escondia.

Com a cabeça em seu peito, ainda sentindo as batidas


rítmicas de seu coração, esperei até que ele adormecesse,
para que eu pudesse ir embora, antes que a verdade
transformasse os meses mais felizes da minha vida em um
pesadelo.
Ian olhou para mim com um ar de interrogação quando
abriu a porta. Seus olhos treinados observaram ao redor,
sem permitir minha saída.

— Algo está errado? Algum problema com Mestre Alex?

Rapidamente agitei a cabeça, forçando um sorriso em meu


rosto.

— Não. Está tudo bem, Ian. Tive uma emergência familiar e


vou precisar sair. Mestre Alex está muito cansado, ele não
tem dormido muito bem esses dias e não quero incomodá-
lo. Deixei um recado para ele dizendo que fui embora mais
cedo.

— Ele vai ficar puto quando souber que foi embora


sozinha, sabe disso, não é?

Trocando o peso das minhas pernas uma na outra, segurei


o laço firme do meu casaco com mais força e alarguei o
sorriso.

— Não se preocupe com isso. Vou fazer aquele olhar


arrependido de submissa e implorar perdão de joelhos, ele
não consegue resistir.

Com uma gargalhada, Ian deixou sua cabeça tombar para


trás e concordou.

— Porra de dom cadelinha, aquele homem não consegue


resistir a qualquer coisa que faça, menina. — nesse
momento, um dos monitores apareceu, arrastando um
homem pela gola, e Ian mudou o semblante descontraído.

Sem conseguir ou querer entender o que estava


acontecendo, aproveitei a distração para sair sem que ele
visse.
Precisava ser rápida. Antes que Alex notasse meu sumiço.
A maioria das coisas que eu tinha já estavam embaladas
no sedan antigo que comprei assim que cheguei a
Califórnia.

Avisei Sr. Santiago essa manhã sobre minha mudança e


não peguei mais nenhum trabalho na última semana.

Não sabia ainda para onde iria, mas tudo isso pareceu
indiferente quando finalmente entendi que não veria Alex
nunca mais.

O choro ficou preso em minha garganta. A dor quase me


sufocou conforme o vento agitava meus cabelos.
Ultrapassando o caminho de saída da mansão em direção
ao estacionamento, não arrisquei olhar para trás, pois
certamente isso me faria desistir.

Quando cheguei ao meu carro, sabia que estava perto de


explodir, mas tentei me controlar, pelo menos até sair
daqui.

Coloquei minha cabeça contra o teto do carro, tentando


controlar minha própria respiração. Não sei por quantos
minutos fiquei assim até que finalmente me senti pronta
para partir.
Abrindo a porta, me inclinei para entrar, quando meu corpo
foi puxado para trás e a voz horrível de Brian gelou a minha
espinha.

— Olá prostituta. Sentiu minha falta?


12.

“ALEX,

Sei que essa não é a melhor forma de fazer o que preciso,


mas espero que um dia, possa entender.

Você me mudou. Tocou meu coração e minha alma em


lugares que nunca foram tocados, me ajudou a superar o
medo, a angustia, a tristeza. Sua força me incentivou e
conduziu a um caminho de felicidade que nunca poderei
esquecer. Por favor, acredite em mim quando digo que te
amo, mas além disso, acredite em mim quando digo que
por te amar preciso ir embora.
Eu fui arruinada Alex, muito mal, por todas as pessoas que
tentei amar.

Não acho que isso aconteceria com você, só que não


posso correr o risco quando tudo que fez, foi me
reconstruir. Precisa entender que não posso perder o que
tivemos.
Sei que acha que pode controlar e resolver todos os
problemas...

Entretanto, algumas coisas, Mestre, infelizmente, você não


pode corrigir.

Lute por alguém inteiro. Estou quebrada demais para valer


a pena o seu amor e esforço.

Seja feliz.
Sempre sua, Gabrielle.”

Larguei o bilhete sobre a cama, no mesmo lugar onde o


encontrei e tropecei para fora, recuperando minhas roupas
caídas pelo chão.

Porra. Porra. Porra.

Eu deveria ter a acorrentado na cama. Fodido seus


sentidos até fazê-la desmaiar. Foda-se, qualquer
coisa. Sabia que essas ideias estavam passando por sua
mente, até mesmo podia sentir a derrota e desgraça vindo
até ela, independente do meu esforço para impedi-la de
pensar demais por um tempo.

Eu estava tão perto de descobrir sobre seu passado, a


minha própria maneira, para poder dizer com propriedade
que não me importava com qualquer merda que ela tinha
vivido antes de mim. Sabia que ela não diria por conta
própria. A maneira como seu corpo conversava comigo não
seria capaz de atingir tão fundo penetrando a camada
odiosa de anos, possivelmente, de abuso mental que ela
sofreu. Pelo menos, foi isso que os sinais me mostraram ao
longo do tempo.

Sabia que seria sua escolha fugir do que estava sentindo,


se acabasse muito pressionada. Fui um idiota.

Meu telefone começou a tocar enquanto eu terminava de


vestir as calças e enfiava os pés nos sapatos. Rezando
para que não estivesse atrasado demais.

— Sim?

— Alex — A voz irritada de Garret vibrou do outro lado da


linha — Temos um problema.

— Não posso cuidar disso agora, cara. Gabrielle fugiu. Eu


preciso encontrá-la antes que seja tarde...

— É sobre ela mesmo que precisamos falar. Venha para o


lado de fora do clube.

— O que você quer dizer?

— O carro dela está aberto, as chaves no chão, todas suas


coisas estão lá dentro, mas não encontramos nenhum sinal
dela.

Meus nervos estavam a flor da pele. Garret estava falando


com um dos membros do clube, um policial, que acabou
entrando em contato com pedido de reforço de sua
unidade.

Além das imagens embaçadas da câmera de segurança, e


seu carro abandonado, não tínhamos nenhuma pista.

Meu telefone tocou de novo e prontamente atendi.


— Porra, finalmente. Estou tentando falar com você faz
horas — Anthony falou com a voz rouca. Tinha entrado em
contato com ele alguns dias atrás, como um investigador
renomado, usei seus serviços para descobrir sobre o
passado de Gabrielle, até agora não tinha recebido nada
dele.

— O que você tem? Precisa me dizer alguma coisa, antes


que eu comece a ficar um pouco louco. Eu fodi tudo.
— O quê? Bem, eu descobri muita coisa, preferiria que
conversássemos pessoalmente.

— Gabrielle está desaparecida Anthony, seu carro foi


deixado no estacionamento, suas coisas abandonadas...
preciso de alguma pista imediatamente.

— Oh merda, eu tinha esperança de estar errado pela


primeira vez — suspirou — Eu tenho um nome, Brian Bear
Scoot. Sua menina tem um passado muito fodido, cara, e
tive um sinal de alerta sobre ele na cidade algumas noites
atrás. Não achei que seria um problema, até descobrir a
sujeira que esse cara está envolvido essa tarde.

— Sabe onde ele está?


— Ele se hospedou em um motel barato perto da Ocean
Beach. Vou te mandar o endereço.
— Obrigada.

Garret levantou a sobrancelha, questionando minha


conversa estranha e Ian se aproximou.

— Anthony tem uma pista.


— Você vai esperar a polícia chegar?
— Não.
— Eu falo com eles, vá atrás da sua garota — Garret
gritou. Já não podia escutar direito, correndo em direção ao
meu carro. Ian seguiu atrás de mim.
— Vou com você — ele falou simplesmente e não me
importei. Ian era um antigo soldado aposentado do
exército, seria uma ajuda útil — Afinal, eu sou o único que
tem uma arma aqui.

Ele me lançou um sorriso simpático, mas eu estava furioso


demais para responder.
13.

TENTEI ESCAPAR dele, me arrastando de joelhos pelo


carpete sujo. Com algemas em meus pulsos e os
tornozelos amarados, choraminguei no segundo em que
ele me puxou de volta. Depois de me pegar de surpresa no
estacionamento do clube, Brian me atraiu até seu carro,
usando do meu choque como aliado.

Chorei durante todo o caminho depois que ele me obrigou


a entrar no porta malas.The Dungeon ficava em uma rua
quase deserta e pelos movimentos certeiros de Brian,
imaginei que ele ficou observando e calculando tudo nas
ultimas noites.

Quando um tapa forte atingiu a lateral da minha cabeça,


senti o mundo girar.

— Porra, você tem ideia do inferno de dinheiro que tive que


gastar para te encontrar, sua puta?

Paralisada pelo golpe, comecei a me apavorar ainda mais.


Brian nunca tinha apelado para violência antes. Tortura
psicológica era o que ele gostava de usar contra mim e por
muitas vezes, me vi desejando que ele me batesse até a
morte. Assim, a dor física seria a única coisa que poderia
sentir. Mas, pelos anos que estive ao seu lado, pensei que
ele nunca perderia o controle. Afinal, meu corpo foi seu
ganha pão. Ele não parecia mais se importar com isso.

Não precisava mais imaginar o que o faria ultrapassar


todos os limites da humanidade, finalmente tinha
acontecido. Não havia mais disfarce em seus olhos. Sua
máscara terna e educada tinha caído despedaçada, tudo
que podia enxergar nele agora, se assemelhava ao homem
que me manteve como prisioneira durante anos.
Maltratando, humilhando, usando como sua cadela, como
ele mesmo costumava dizer com orgulho.

— Você mentiu... disse que não viria atrás de mim quando


eu fosse embora — sussurrei, sentindo lagrimas
mancharem meu rosto.

O canto de sua boca se curvou em um sorriso lento.

— E você acreditou? Que estúpida! Eu criei você amor,


gastei muito tempo a transformando nessa cadela no cio
insaciável, para deixá-la escapar tão fácil. Além disso, eu
não gostei do jeito que aquele playboyzinho te olhou.

— Como... como sabe disso?

Seus olhos escureceram. Os cabelos loiros estavam mais


curtos e seu corpo esculpido em músculos. O medo que
sentia correndo em meu sangue agora, não tinha uma gota
de prazer como Alex despertou em antes.
— Você não me viu, amor... estava muito ocupada
gemendo para ele como uma desesperada. E com os olhos
cobertos, é claro. Mas assisti tudo que ele fez. E não
gostei, nadinha.

— A noite de visitantes...

— Sim, isso mesmo. Visitei clubes de seis estados até te


encontrar. Sabia que não iria resistir muito tempo sem
foder.

— Por quê? Por que, Brian?

— Porque você é minha Gabi, eu tirei você daquele velho


de merda. Te salvei dele. Mostrei a você que a vida pode
ser boa, passei anos te mostrando como o prazer pode
superar tudo. E quando cheguei aqui, estava rebolando no
pau de outro cara! Eu te dei tempo para ver como o mundo
seria uma merda sem mim, Gabi. Esperei que voltasse,
mas não estou mais te dando essa chance.

— O mundo é muito melhor sem você — falei baixinho, o


que resultou em um chute no estômago.

— Cale a boca! Acho melhor começar a se comportar, ou


não vou parar por aqui. Estou te dando a chance de voltar,
sem que eu precise dizer para o playboyzinho onde ele tem
metido seu pau.

— Não — implorei — Por favor, não diga nada a ele. Eu


vou com você... eu juro, nem precisa me amarrar, eu irei
aonde quiser.

Com um olhar satisfeito brilhando em seu rosto quando


descobriu meu ponto fraco, ele se inclinou, deixando o
rosto a centímetros de distância do meu.

— Ah, amor... você gosta dele. Eu não estava errado, você


realmente gosta daquele idiota.

Chorando, não tive coragem de negar ou confirmar sua


percepção, de nada adiantaria.

— Não se preocupe — ele prometeu, alisando minha


bochecha com os dedos — Eu posso dar tudo o que
precisa Gabi. Até descobri uma forma de tornar o nosso
segredinho ainda mais intenso. Muito mais intenso. Isso vai
te deixar tão anestesiada, que não vai levar muito tempo
até que esqueça até mesmo do rosto dele. Tudo vai ficar
bem.

Ele mexeu em alguma coisa no baú a beirada da cama, e


tirou lá de dentro uma coleira grossa de couro cravejado,
com rebites de metal pontudos. Nesse momento, percebi
que ir embora tinha despertado um lado adormecido nele.
E esse lado não se importaria mais em deixar o meu corpo
intacto para os planos que ele tinha para mim.

Ele prendeu aquilo em volta da minha garganta e trancou


no lugar.

— Sabe o que cadelinhas que tentam fugir merecem,


amor? — Perguntou, deixando um sorriso perverso crescer
em seus lábios — Além de um pau grande e grosso em
sua bunda, é claro, elas merecem passar um tempo
aprisionadas enquanto pensam em seus próprios erros.

Empurrando meu corpo os pés, ele se afastou, puxando


um pano preto de uma espécie de mesa retangular no meio
do quarto. Porém, quando terminou, não era de fato uma
mesa. Meus olhos arregalaram e comecei a implorar.

— Não! Por favor, por favor, não....

— Shh... — pegando um punhado dos meus cabelos,


inclinou meu pescoço para trás e enfiou um pedaço de
pano sujo em minha boca — Nós vamos viajar em breve
para fora dessa cidade de merda, eu odeio praia, porra.

Comentou, enquanto terminava de me amordaçar usando


alguns pedaços de fita adesiva e empurrava meu corpo
dentro da gaiola aterrorizante. Não pule lutar contra ele
com os braços e pernas amarrados. Somente pude
observar enquanto a grade fechava e ele passava o
cadeado para trancá-la. Tudo ficou escuro quando o pano
preto que cobria minha prisão antes foi jogado de volta em
cima dela.

Eu mal conseguia me mexer, com as pernas tortas e


músculos começando a tremer, nunca imaginei que sentiria
tanto medo como estava agora.

Olhando através das grades, rezei para que ele me


mantivesse aqui por muito tempo, pois quando saísse, não
teria mais nada que pudesse me proteger de sua fúria.
14.

— O QUE vai fazer? — Ian perguntou, levantando uma


sobrancelha. O olhar em meu rosto certamente lhe serviu
de resposta — Você não é esse tipo de cara, Alex.

Eu dei risada, sem poder me controlar pelo absurdo dessas


palavras. Porra, ele não tinha ideia.

— Sou exatamente esse tipo de cara. Principalmente


quando um idiota ameaça a minha submissa.

Nenhuma honra me pararia. Eu destruiria o filho da puta


com minhas próprias mãos se tivesse a chance.

— Você precisa ser racional, cara. Sua carreira. Sua


família. Tudo está em jogo em uma situação como essa,
que tem a grande chance de se tornar fodida muito rápido.
E principalmente, a segurança de Gabrielle... não sabemos
o que encontraremos lá, então mantenha sua cabeça no
lugar.

— Me diga uma coisa, se um homem, tivesse abusado de


sua mulher, por anos, se descobrisse que um imbecil
egocêntrico e psicótico, usou do momento mais frágil dela
contra sua própria mente para fazer dela prisioneira de
uma relação de merda. E que ainda por cima, esse cara,
usou sua submissão, para aliciá-la a um bando de
pervertidos. O que você faria?

O modo como seus ombros ficaram tensos me disseram


tudo.

— Foi o que pensei.

— Porra. É isso que o arquivo diz? — Concordei


silenciosamente enquanto entravamos nos corredores do
motel. Depois de uma conversa rápida com a
recepcionista, quinhentos dólares em sua mão,
descobrimos o número em que o tal Brian estava
hospedado. Garret mandou uma mensagem dizendo que a
polícia já estava a caminho. Eu certamente não iria
esperar.

Tive que ler o arquivo que Anthony me mandou durante o


caminho até aqui. Ian pegou a direção do carro, enquanto o
fazia, depois de ler pagina por pagina do que ele descobriu
sobre Gabrielle, senti como se um buraco crescesse em
meu peito.

Chegando no quarto, bati na porta frágil e gasta e esperei.


O sádico dentro de mim, estava com fome. A mais cruel,
suja e covarde possível. Nunca me senti tão fora de
controle como agora.

Só quando escutei passos batendo do lado de dentro,


entendi a necessidade de ter alguém ao meu lado. Ian
colocou a mão em meus ombros, como um gesto de
camaradagem silencioso. Mas a verdade se tornou nítida
para mim.

Ele não estava aqui apenas como um apoio solidário. Ele


estava aqui, para ter certeza que eu não cometeria um
assassinato.

— O que? — Abrindo a porta, um homem loiro olhou para


nós com o rosto irritado. Durante milésimos de segundos
seu semblante permaneceu o mesmo, mas a leve rigidez
de sua mandíbula me fez sorrir.

Meus dedos se cerraram em punhos, meu maxilar


começou a pulsar com a agressividade que eu não podia
mais conter. De um segundo para o outro, eu estava com o
rosto enterrado no seu, envolvendo minha mão em torno
de sua garganta.

Inclinando-me para ele até que estivéssemos nariz com


nariz, sorri ao ver o vermelho espalhar-se por suas
bochechas. Saber que meu aperto estava roubando sua
respiração foi uma satisfação.
— Filho da put... — antes que ele pudesse terminar, Ian
passou por mim e com o punho cerrado, acertei em cheio
seu nariz, no mesmo momento em que o larguei. Ele caiu
no cão, tossindo enquanto segurava sua garganta e chutei
seu corpo inútil no chão.

— Alex!

Fechando a porta com o calcanhar, enquanto o empurrava


para dentro, me ajoelhei em frente a gaiola de ferro, que
originalmente deveria ser um transportador para animais de
grande porte e dominado pela fúria, fui até ele novamente.

— Onde estão as chaves? — Questiono, agarrando a gola


de sua blusa.

— Por que a pressa? Você deveria ouvir o que tenho a


dizer, quando descobrir quem é a puta que está fodendo,
vai me agradecer por levá-la embora.

Gabrielle geme dentro das grades e eu empurro sua


cabeça com violência contra o chão, me inclinando sobre
ele.

— A puta que estou fodendo, ou a mulher que você usou


por anos para ganhar dinheiro? O que acha que vai
acontecer quando a polícia descobrir seu negócio sujo?

— Eu tenho vídeos dela, e em nenhum deles, ela parece


uma prisioneira. Muito pelo contrário, tudo que posso ouvir
são os gemidos dela rebolando em todos aqueles paus —
ele responde com um sorriso, depois cospe na minha
direção, por sorte, consigo desviar, mas isso não impede
meus punhos de o acertarem mais algumas vezes.

— Você tem os vídeos, e eu tenho uma fortuna grande o


suficiente para pagar um bom advogado que vai garantir
que passe o resto da sua vida na cadeia.

Com a veemência em minha voz ele parece finalmente


perceber que esse jogo contra mim está perdido. E isso se
torna ainda mais visível quando o barulho das sirenes
começa a se tornar mais e mais alto.

Eu largo seu corpo no chão e corro até Gabrielle, Ian


conseguiu encontrar as chaves do cadeado e rapidamente,
a ajudo a sair de dentro daquela coisa. Posso sentir suas
lágrimas caindo contra meus dedos enquanto tiro
delicadamente a fita de sua boca.

Seu corpo estava tremendo como uma folha ao vento


quando a puxei para meu colo. Ela gemeu baixinho quando
Ian tirou as algemas de seus pulsos, imagino que seus
braços estavam doloridos com a má circulação. Eu deveria
fazer a sua dor passar, mas estava muito ocupado
segurando-a firmemente, só para ter a certeza de que ela
não escaparia de mim de novo.

— E-u estava com tanto medo, Alex, tanto medo.

Segurando seu rosto perto do meu, silenciei todas as suas


palavras quando a beijei. Sem poder controlar, minha
língua invadiu a sua boca, transformando o ato em um
gesto brutal.
— Você está segura, bebê, eu prometo.

Minhas palavras foram ternas, mas internamente, o conflito


acontecendo dentro de mim, estava fervendo em ira. Não
podia mais controlar esses impulsos. Eu quase a tinha
perdido... quase.

Ainda não me senti pronto para deixa-la ir quando um


policial se aproximou de nós.

De soslaio, vi Brian ser algemado e levado para fora.

— Senhor, um dos nossos paramédicos precisa examina-


la, para ver se não existe algum ferimento — acenei,
concordando, mas meus braços pareciam barras de aço,
impossíveis de se mover. Gabrielle também pareceu não
gostar, se afundando ainda mais em meu colo.

— Só mais um minuto — pedi, tentado a não permitir que


ela saísse dos meus braços nunca mais.
15.

SUA MÃO sobe e desce através das minhas costas,


nossas pernas estão entrelaçadas, da mesma forma como
estávamos antes desse pesadelo acontecer, quando
cheguei perto de desistir de tudo. Luto para não me perder.
Existe tanta insegurança dentro de mim, tanto peso em
minhas costas.

Depois da chegada da polícia, fui examinada por um


médico e liberada.

Fiquei entorpecida, sem conseguir entender muito bem as


coisas que estavam acontecendo até chegarmos a sua
casa.
Depois de me ajudar a tomar banho e vestir uma de suas
camisetas, fomos para cama.

Tentei não pensar em qualquer coisa mesmo com a mente


agitada, mas acho que tanto eu, quando Alex não
conseguiríamos deixar o terror dessa noite para trás tão
facilmente.

Ele pigarreou, enquanto alisava os meus cabelos e o ato


fez meu coração paralisar por alguns segundos.

— Sei que está com medo, assustada, e que


provavelmente mil pensamentos estão te perturbando
agora, Gabrielle, mas, porra, não tente fazer algo estúpido
como fugir de mim agora. Estou aqui. Estou com você e
não vou te deixar.

O choro preso em minha garganta ameaçou escapar,


enquanto segurava seu corpo mais perto do meu. Isso
estava errado, ele não podia. Não podia ficar comigo.

— Você não pode me querer. Não pode querer alguém


como eu. Tudo que fiz, arruinaria sua vida. Seria um
escândalo e...

Ele puxa meu corpo para cima, obrigando meus olhos a


encontrassem os seus.

— Foda-se, caralho, foda-se o resto. Será que não entende


que é mais importante que isso? — Suspirando, ele puxou
meu rosto até que nossas testas estivessem coladas uma
na outra e seu nariz acariciou o meu. Inalei o cheiro cítrico
de seu sabão e fechei os olhos. Ficamos assim por um
tempo, unidos pelo silêncio, enquanto absorvia suas
palavras.

Mesmo sem me pressionar para dizer qualquer coisa, sabia


que eu precisava, para fazer com que ele tentasse
entender tudo.

Com uma angústia crescente em meu peito, comecei a


dizer.

— Meu pai praticamente me criou sozinha... a lembrança


que tenho da minha mãe, é quase nula. Apenas algumas
recordações não acabaram sumindo com o tempo. Não sei
porque ela nos abandonou, mas a maioria das coisas que
papai tinha a dizer sobre ela não eram boas, então nunca
realmente procurei saber. Meu pai sempre foi... difícil.
Como homem da igreja, cheio de honra e princípios, ele fez
questão de que a minha criação fosse da mesma forma.
Ele não era um pai ruim, nunca foi, na verdade. Só tinha
uma espécie de amor bruto. Viver sob suas regras tornou a
minha vida boa em certos pontos, mas na maioria do
tempo me senti muito solitária.

Ele ficou em silêncio e continuou me acariciando enquanto


escutava.

— Quando era criança, papai foi o meu herói, só que assim


que a adolescência chegou, com a escola, amigos, festas.
Foi inevitável que não me rebelasse. Abandonei os cultos,
parei de seguir suas regras e aproveitei a vida como eu
achava que deveria... isso durou muito tempo. No último
ano, conheci Brian e as coisas pioraram. Meu pai o odiava.
Ele dizia que aquele menino iria destruir minha vida um dia
e eu não o escutei.

Comecei a soluçar, sentindo o peso da culpa, junto com as


lembranças invadirem a minha mente. Alex me segurou
mais apertado.

— Não tinha como você saber, não se culpe pela maldade


alheia pequena, isso não faz nenhum bem.

— Isso poderia ter me salvado — pontuei — Ao invés,


acabei escolhendo o pior caminho. Meu pai também
começou a beber e tudo isso desencadeou uma série de
acontecimentos terríveis. Eu o assisti sucumbir. Nunca
tinha percebido o quanto o abandono da minha mãe o
tornou amargo. Eu estava determinada a fugir de tudo
quando me formasse e fosse para faculdade. Eu iria
embora com Brian porquê de alguma forma, eu amava a
forma como ele fazia com que me sentisse livre e viva —
tomando um fôlego, alisei meus dedos contra sua pele e
continuei — Eu engravidei dele perto de fazer 18 anos. Foi
um momento de pânico que não gosto de me lembrar. Eu
não pude viver o choque desse momento por muito tempo,
muito menos a felicidade que um bebê poderia me trazer.
Em uma noite, voltando de uma festa, acabei sofrendo um
acidente de carro. Além de quebrar alguns ossos também
perdi o bebê.

O toque leve de sua mão em minhas costas parou.

— Sinto muito. Isso certamente foi difícil.


— Sim... foi, muito difícil. Só que o pior veio depois. Meu
pai descobrir sobre a gravidez, arruinou completamente a
sua cabeça. Ele ficou agressivo, controlador e ainda mais
fanático pela igreja. Depois que a escola terminou,
enquanto ainda me recuperava do acidente, seu pico de
loucura ficou tão alto, que ele...

Fechei os olhos, relembrando aqueles dias em que meu pai


parecia um homem completamente diferente do que eu
conhecia. Ele nos trancou em casa. Não me deixou sair. Só
continuava gritando sobre pecado, que eu era como minha
mãe e que ele precisava fazer o que pudesse para me
salvar.

— Ele m-e machucou. Me bateu. Me feriu. Eu achei que


nunca sairia de lá até que Brian apareceu com a polícia.
Meu pai foi preso e condenado e como eu não tinha mais
ninguém, fui viver com Brian.

As lembranças daquele tempo eram mais embaçadas. O


começo da minha degradação, quando achei que estava
fazendo a escolha certa e na verdade, acabei cometendo o
pior erro da minha vida.

— Sabia que estava cometendo um erro — continuei —


Sempre soube que Brian não era alguém que deveria ter
um relacionamento com alguém. Ele era inconsequente e
não levava nem mesmo sua própria vida a sério, mas, de
alguma forma, naquele momento, foi bom para mim. Por
alguns anos, as coisas foram boas. Tive acompanhamento
psicológico depois do que aconteceu com meu pai e
mesmo sem dinheiro para faculdade, fiz os cursos de
paisagismo, já que sempre gostei de flores e plantas.
Mas... tudo isso começou lentamente a se deteriorar
quando Brian começou a trabalhar em um clube afastado
da cidade. Ele começou a induzir o BDSM em nossa vida
sexual.

— Juro por Deus, que se aquele pervertido psicopata


machucou você, vou matar ele com minhas próprias mãos
— Alex rosnou baixinho, e pude sentir a verdade em cada
uma de suas palavras.

— Ele não me feria... fisicamente. Brian sempre apelou


para os jogos mentais. O que acabou sendo mais
destrutivo que um chicote. Ele me diminuía, usava a
história com meu pai para dizer que não teria nunca o amor
de ninguém. Ele era violento durante o sexo, mas não ia
tão longe. Isso começou a fazer sentido quando fui com ele
ao clube pela primeira vez.

— Suponho que não era um clube sério.

— Definitivamente não. Descobri, além de tudo, que ele


estava usando drogas e envolvido com pessoas realmente
ruins. Aquela primeira noite foi tão estranha... existia outros
homens no lugar onde ele me levou. Eu fiquei assustada
quando eles começaram a me tocar, e ao mesmo tempo,
não consegui dizer a eles para que não fizessem — meu
choro se tornou mais forte, e virei o rosto contra seu peito,
soluçando — Senti prazer Alex, senti prazer enquanto eles
me usavam como um fantoche. Como um brinquedo sem
vida, sem vontades.
— Ele drogou você? — Concordei.

— Não descobri isso até muito tempo depois. Quando


saímos naquela noite, estava decidida a ir embora. Fiz as
malas e me preparei para partir, nessa época ainda tinha
um emprego razoável e poderia sobreviver. Isso foi quando
ele me mostrou os vídeos que gravou de mim, as fotos.
Tudo. Brian disse que se o fizesse ele mandaria aquilo para
todos os nossos conhecidos, para meu chefe na época.
Para todos. Fiquei tão assustada que acabei desistindo e
esse foi só o começo dos anos fodidos que seguiram. Não
tenho ideia de quantas noites como aquela eu vivi. Me
sentia tão suja. Tão perdida. Tão desesperada para me
livrar dessa sombra horrível que ele criou em mim. Quando
cheguei a você, só queria encontrar a dormência que
estava acostumada. Só queria me libertar, e provar a mim
mesma que podia seguir em frente. Mas eu estava tão
quebrada, mestre, ainda estou.

Sentindo a força de seu aperto, deixei que tudo dentro de


mim saísse. A dor pelo meu pai. A raiva por Brian, a
vergonha por todas as coisas que fiz por ele. Quando
consegui me acalmar, ele apertou um beijo em minha
cabeça e inclinei para olhar para ele.

— Você tinha razão... — Falou, beijando suavemente


minha boca.

— O que? — Pergunto, assustada.


— Como mestre, eu gostaria de poder voltar no tempo e
impedi-la de passar por todas essas coisas, nós sempre
queremos poder consertar tudo, mas algumas coisas,
infelizmente não estão ao nosso alcance — ele cutucou
meu queixo para cima — Agora, como homem, sabendo
que é impossível ajustar o passado, só existe uma coisa
que tenho certeza Gabrielle, e essa coisa, é que não vou
desistir de você. Quebrada, ou inteira, você ainda é a
mulher que faz meu mundo parar. Você é a porra da minha
felicidade.

— Nunca estive feliz com Brian. Nunca estive feliz sozinha.


Eu não conhecia nada desse sentimento até você e me
aterrorizou, Alex. Sentir me assusta. Amar você me
apavora. Não só por mim, mas por tudo... não quero que
olhe para trás um dia e perceba que estar comigo nunca
valeu a pena.

Beijando minhas lágrimas, seus dedos pressionaram minha


nuca até me fazer gemer e ele me lançou um sorriso largo.

— Sentir em si é um risco, bebê. Eu nunca tive nada


parecido com isso antes de você também, porém não
importa, pois sei que a maior falha que poderia cometer
seria perder algo que faz com que me sinta tão bem. Não é
possível viver sem um coração, e depois de hoje, tenho
certeza, deixa-la ir embora, seria o equivalente a arrancar o
meu fora.
EPÍLOGO

SENTADO EM minha masmorra, observo seus passos


firmes em minha direção. Com saltos stiletto, conjunto
preto de lingerie com cinta liga, e batom vermelho, ela
caminha exalando o mesmo poder de uma ninfa.

Parando a dois passos de distância, ela escorrega com


graça em seus joelhos, inclinando seu corpo em direção ao
chão, com as mãos esticadas a frente dele e rabo para
cima, ela se oferece ao meu bel prazer.

— Faça-me sua, mestre — minha submissa diz, com os


olhos brilhando de ansiedade e luxuria. Sem uma palavra,
estico minha perna, cutucando suas mãos com meu pé
descalço e sinto os dedinhos delicados percorrendo o
caminho sobre minha pele. Seus joelhos arrastam pelo
tapete, e sua boca carnuda deposita um beijo delicado em
meu pé quando ela chega perto.
Tenho que manter minhas mãos pressionadas firmemente
no estofado da poltrona para me impedir de envolver os
fios de seu cabelo até trazê-la para cima, onde essa boca
atrevida poderia ser mais útil.

Sua entrega me fascina e quase não reconheço essa,


ajoelhada aos meus pés, como a mesma que conheci
pouco mais de dez meses atrás.

Meses se passaram até que aquele resquício de


infelicidade e tristeza sumisse de seus olhos. Foi um
trabalho árduo, com meses de treinamento intenso e
paixão avassaladora.

Ainda havia um caminho pela frente, na espera do


julgamento de seu ex, contudo, fosse o que fosse, o mais
importante, é que estaríamos juntos. Condenado ou não,
foi mais fácil deitar no travesseiro a noite, sabendo que seu
sofrimento na prisão se tornou constante, graças ao meu
dinheiro e alguns contatos.

Toda minha concentração podia estar nela desde então.


Para reconstruí-la com graça. E foi a porra de uma
sensação boa saber que consegui.

Aquela liberdade perdida contrastando com os desejos


hediondos escondidos por toda a escuridão de sua vida,
foram apagados pouco a pouco.

Sem o peso da dor e degradação sombreando seu olhar,


essa visão, tornou-se a mais deslumbrante do mundo para
mim.
Felicidade tornou-se real.

Amor tornou-se presente.

Sua submissão de corpo, mente e alma, foram sua


libertação.

E minha única forma de agradecê-la, era amando-a como


um mestre devotado.

— Eu amo você, minha Gabrielle.

— Eu também amo você, Alex. Meu mestre.

FIM.
SOBRE A AUTORA

Maeve é o pseudônimo de uma paulistana de vinte e sete


anos. Apaixonada por livros desde a infância, começou a
se interessar pela escrita aos dezessete. Quase dez anos
depois, entre idas e vindas, nasce sua primeira obra oficial
— Abuso de Poder. Apaixonada por romances sombrios
(dark) e eróticos, Maeve tem embarcado cada vez mais
fundo, criando histórias e personagens que trazem a sua
essência dramática e criativa.

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