Paulo Freire e As "40 Horas de Angicos" (Rio Grande Do Norte-Brasil) : Fotografia e Memória Da Alfabetização de Adultos
Paulo Freire e As "40 Horas de Angicos" (Rio Grande Do Norte-Brasil) : Fotografia e Memória Da Alfabetização de Adultos
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Nesse contexto, a educação passou a ser alvo de grande interesse por parte
dos setores reformistas, com uma particularidade: uma acentuada ênfase na
dimensão política da educação. Assim, o que estava em jogo, para além da
alfabetização de milhões de adultos, adolescentes e crianças, dizia respeito à
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Importa destacar que outro projeto de educação popular estava sendo desenvolvido no Rio Grande
do Norte no início dos anos 1960. Trata-se da “Campanha de Pé no Chão Também se Aprende a
Ler”, uma experiência de alfabetização e escolarização de crianças e adultos desenvolvida pela
prefeitura de Natal, capital do estado, e que foi extinta com a tomada do poder pelos militares, em 1964.
(Aquino & Pinheiro, 2018)
Com isso, é possível traçar uma linha de compreensão que nos leva a inferir
que, para Freire, superar a massificação significava se enxergar sob o prisma da
criticidade, abandonando a ótica ingênua de compreender a si e ao mundo. É entender
e incorporar o sujeito em diálogo permanente com a sociedade e com os processos
desencadeados, visão esta que vai de encontro à ideia de objetificação do homem,
pois vê o sujeito como participante direto nas tomadas de decisões, e não mais como
alheio ao processo. Nesta configuração, as ações não são pensadas para o sujeito,
mas com ou a partir dele.
Por compreendermos as “40 horas de Angicos” como um marco da história da
educação de adultos no Brasil, para além da literatura existente sobre esse fato,
buscamos, dentre os registros disponíveis na internet, as fotografias. Nessa direção,
endossamos as palavras de Kossoy (2001), para quem a fotografia possibilita
“investigação e descoberta que promete frutos na medida em que se tenta
sistematizar suas informações, estabelecer metodologias adequadas de pesquisa e
análise para a decifração de seus conteúdos e, por consequência, da realidade que
os originou”. (p. 32).
Para esse autor, a fotografia não é o simples registro de um momento; é um
recurso que, ao ser interpretado, pode desvendar o que não foi dito pela escrita ou
ampliá-la. Por isso, Kossoy (2001) ressalta que:
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Respectivamente, governador de Pernambuco, deputado federal do Partido Trabalhista Brasileiro
(PTB) pelo Rio Grande do Norte, governador de Sergipe, governador do Ceará, governador do Rio
Grande do Norte, presidente da República do Brasil.
Desta forma, o acesso às fotografias é cada vez mais importante pois pode não
apenas complementar informações, como também questioná-las. Ciavatta (2012)
expõe sua visão sobre o assunto, a partir do que caracterizou como “discussão
aberta”, considerando a multiplicidade de interpretações possíveis que uma fotografia
pode trazer:
Referências
Aquino, F. M. S., Pinheiro, R. A. (2018). A materialidade dos acampamentos
escolares e a cultura popular na ‘Campanha de pé no chão também se aprende a
ler’. History of Education in Latin America – HistELA, 1, 1-12.
https://doi.org/10.21680/2596-0113.2018v1n0
Barros, J. D’A. (2020). Fontes históricas: uma introdução à sua definição, à sua
função no trabalho do historiador, e à sua variedade de tipos. Cadernos do tempo
Presente, 11(02), 3-26. https://doi.org/10.33662/ctp.v11i02.15006
Ciavatta, M. (2012). O mundo do trabalho em imagens: memória, história e
fotografia. Rio de Janeiro.