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Síndrome

da compulsão seca
José Antonio Elizondo Lopez

Índice
Prólogo 7
Introdução 10
Capítulo 1 14
O Dragão de Duas Cabeças 14
Capítulo 2 17
Capítulo 3 22
Sintoma número 1 22
O Rei Menino 22
Capítulo 4 25
Sintoma número 2 25
Mestres da desculpa e campeões do pretexto 25
Capítulo 5 28
Sintoma número 3 28
O Escorpião Amargo 28
Capítulo 6 33
Sintoma número 4 33
Velejando com uma bandeira culpada 33
Capítulo 7 38
Capítulo 8 43
Sintoma número 6 43
Medo do medo: a necessidade de não sentir 43
Capítulo 9 50
Sintoma número 7 50
Depressão: aquela agonia sem fim 50
Capítulo 10 56
Sintoma número 8 56
O mach-o-minus 56
Capítulo 11 64
Capítulo 12 69
Sintoma número 10 69
Transformar para não mudar 69
Capítulo 13 76
Sintoma número 11 76
Os Adoradores do Bezerro de Ouro 76
Capítulo 14 82
Sintoma número 12 82
Nem apanhar, nem caçar, nem deixar morcego 82
Capítulo 15 87
OS 12 SINTOMAS DA SOBRIEDADE 87
Capítulo 16 92
Da abstinência à sobriedade 92
Glossário 104

SINTOMA NÚMERO 1.
O MENINO REI
Imaturidade e infantilismo, estagnação do crescimento emocional e persistência das
dependências
Prólogo...................................................................................................................................................7
Introdução............................................................................................................................................10
Capítulo 1.............................................................................................................................................14
O Dragão de Duas Cabeças..............................................................................................................14
Capítulo 2.............................................................................................................................................17
Capítulo 3.............................................................................................................................................22
Sintoma número 1.............................................................................................................................22
O Rei Menino...................................................................................................................................22
Capítulo 4.............................................................................................................................................25
Sintoma número 2.............................................................................................................................25
Mestres da desculpa e campeões do pretexto...................................................................................25
Capítulo 5.............................................................................................................................................28
Sintoma número 3.............................................................................................................................28
O Escorpião Amargo........................................................................................................................28
Capítulo 6.............................................................................................................................................33
Sintoma número 4.............................................................................................................................33
Velejando com uma bandeira culpada..............................................................................................33
Capítulo 7.............................................................................................................................................38
Capítulo 8.............................................................................................................................................43
Sintoma número 6.............................................................................................................................43
Medo do medo: a necessidade de não sentir.....................................................................................43
Capítulo 9.............................................................................................................................................50
Sintoma número 7.............................................................................................................................50
Depressão: aquela agonia sem fim...................................................................................................50
Capítulo 10...........................................................................................................................................56
Sintoma número 8.............................................................................................................................56
O mach-o-minus...............................................................................................................................56
Capítulo 11...........................................................................................................................................64
Capítulo 12...........................................................................................................................................69
Sintoma número 10...........................................................................................................................69
Transformar para não mudar............................................................................................................69
Capítulo 13...........................................................................................................................................76
Sintoma número 11...........................................................................................................................76
Os Adoradores do Bezerro de Ouro.................................................................................................76
Capítulo 14...........................................................................................................................................82
Sintoma número 12...........................................................................................................................82
Nem apanhar, nem caçar, nem deixar morcego................................................................................82
Capítulo 15...........................................................................................................................................87
OS 12 SINTOMAS DA SOBRIEDADE.........................................................................................87
Capítulo 16...........................................................................................................................................92
Da abstinência à sobriedade.............................................................................................................92
Glossário.........................................................................................................................................104

SINTOMA NÚMERO 4.
VELEJANDO COM UMA BANDEIRA CULPADA
Sentimento permanente de culpa com autoavaliação, handicap e tendência à
autopunição
Capítulo 7 38
SINTOMA NÚMERO 5.
DIGA-ME O QUE VOCÊ SE GABA E EU LHE DIREI O QUE LHE FALTA
Egocentrismo, autossuficiência neurótica, má gestão da agressividade e tendência à
onipotência
Capítulo 8 44
SINTOMA NÚMERO 6.
O MEDO DO MEDO: A NECESSIDADE DE NÃO SENTIR
Medos permanentes: atitude de medo diante dos desafios da vida com angústia e
tensão contínuas
Prólogo...................................................................................................................................................7
Introdução............................................................................................................................................10
Capítulo 1.............................................................................................................................................14
O Dragão de Duas Cabeças..............................................................................................................14
Capítulo 2.............................................................................................................................................17
Capítulo 3.............................................................................................................................................22
Sintoma número 1.............................................................................................................................22
O Rei Menino...................................................................................................................................22
Capítulo 4.............................................................................................................................................25
Sintoma número 2.............................................................................................................................25
Mestres da desculpa e campeões do pretexto...................................................................................25
Capítulo 5.............................................................................................................................................28
Sintoma número 3.............................................................................................................................28
O Escorpião Amargo........................................................................................................................28
Capítulo 6.............................................................................................................................................33
Sintoma número 4.............................................................................................................................33
Velejando com uma bandeira culpada..............................................................................................33
Capítulo 7.............................................................................................................................................38
Capítulo 8.............................................................................................................................................43
Sintoma número 6.............................................................................................................................43
Medo do medo: a necessidade de não sentir.....................................................................................43
Capítulo 9.............................................................................................................................................50
Sintoma número 7.............................................................................................................................50
Depressão: aquela agonia sem fim...................................................................................................50
Capítulo 10...........................................................................................................................................56
Sintoma número 8.............................................................................................................................56
O mach-o-minus...............................................................................................................................56
Capítulo 11...........................................................................................................................................64
Capítulo 12...........................................................................................................................................69
Sintoma número 10...........................................................................................................................69
Transformar para não mudar............................................................................................................69
Capítulo 13...........................................................................................................................................76
Sintoma número 11...........................................................................................................................76
Os Adoradores do Bezerro de Ouro.................................................................................................76
Capítulo 14...........................................................................................................................................82
Sintoma número 12...........................................................................................................................82
Nem apanhar, nem caçar, nem deixar morcego................................................................................82
Capítulo 15...........................................................................................................................................87
OS 12 SINTOMAS DA SOBRIEDADE.........................................................................................87
Capítulo 16...........................................................................................................................................92
Da abstinência à sobriedade.............................................................................................................92
Glossário.........................................................................................................................................104

SINTOMA NÚMERO 9.
A SÍNDROME DO AVESTRUZ: EU NÃO VEJO, EU NÃO OUÇO, EU NÃO FALO
Negação de sua realidade não alcoólica com persistência dos mecanismos de
racionalização e projeção
Capítulo 12 72
SINTOMA NÚMERO 10.
TRANSFORME PARA NÃO MUDAR
Substituição do álcool por outras drogas ou substâncias que causam dependência
Capítulo 13 79
SINTOMA NÚMERO 11.
OS ADORADORES DO BEZERRO DE OURO
Espiritualidade ausente ou muito empobrecida com arrogância intelectual, tendência
ao materialismo e pouca ou nenhuma fé.
Capítulo 14 86
SINTOMA NÚMERO 12.
SEM PICHAN, SEM CACHAN, SEM DEIXAR BATER
Comportamento inadequado em seu tratamento, tanto com seu terapeuta quanto em
seu grupo de autoajuda
Prólogo...................................................................................................................................................7
Introdução............................................................................................................................................10
Capítulo 1.............................................................................................................................................14
O Dragão de Duas Cabeças..............................................................................................................14
Capítulo 2.............................................................................................................................................17
Capítulo 3.............................................................................................................................................22
Sintoma número 1.............................................................................................................................22
O Rei Menino...................................................................................................................................22
Capítulo 4.............................................................................................................................................25
Sintoma número 2.............................................................................................................................25
Mestres da desculpa e campeões do pretexto...................................................................................25
Capítulo 5.............................................................................................................................................28
Sintoma número 3.............................................................................................................................28
O Escorpião Amargo........................................................................................................................28
Capítulo 6.............................................................................................................................................33
Sintoma número 4.............................................................................................................................33
Velejando com uma bandeira culpada..............................................................................................33
Capítulo 7.............................................................................................................................................38
Capítulo 8.............................................................................................................................................43
Sintoma número 6.............................................................................................................................43
Medo do medo: a necessidade de não sentir.....................................................................................43
Capítulo 9.............................................................................................................................................50
Sintoma número 7.............................................................................................................................50
Depressão: aquela agonia sem fim...................................................................................................50
Capítulo 10...........................................................................................................................................56
Sintoma número 8.............................................................................................................................56
O mach-o-minus...............................................................................................................................56
Capítulo 11...........................................................................................................................................64
Capítulo 12...........................................................................................................................................69
Sintoma número 10...........................................................................................................................69
Transformar para não mudar............................................................................................................69
Capítulo 13...........................................................................................................................................76
Sintoma número 11...........................................................................................................................76
Os Adoradores do Bezerro de Ouro.................................................................................................76
Capítulo 14...........................................................................................................................................82
Sintoma número 12...........................................................................................................................82
Nem apanhar, nem caçar, nem deixar morcego................................................................................82
Capítulo 15...........................................................................................................................................87
OS 12 SINTOMAS DA SOBRIEDADE.........................................................................................87
Capítulo 16...........................................................................................................................................92
Da abstinência à sobriedade.............................................................................................................92
Glossário.........................................................................................................................................104

Prólogo
É inegável que o alcoolismo tornou-se um dos mais graves problemas de saúde pública,
tanto em nosso país quanto no resto do mundo, que não diz respeito apenas a quem dele
sofre, pois está associado a fenômenos como a violência familiar, acidentes, lesões,
homicídios e suicídios, entre outros.
Rejeição social, solidão, abandono, invalidez ou morte prematura são possíveis
consequências que um bebedor causa durante o desenvolvimento de sua dependência. No
extremo oposto, permanecem alguns valores fundamentais para o ser humano:
integridade, dignidade, solidariedade e liberdade.
Infelizmente, este é um problema generalizado e de alto impacto em nosso país. Dados
oficiais mostram que há cerca de três milhões de pessoas com problemas de álcool e pelo
menos três milhões têm problemas de consumo excessivo de bebidas alcoólicas, o que
significa uma diminuição substancial na capital mais importante que uma nação tem: seus
habitantes.
É paradoxal que esse fenômeno complexo seja pouco compreendido, não só na sociedade
em geral, mas também no campo profissional, incluindo a saúde, e que prevaleçam mitos e
crenças distorcidas sobre a interação entre fatores biológicos, psicológicos e sociais. bem
como referindo-se à sua causalidade.
Assim, na atualidade, as opções de prevenção e tratamento não correspondem à
magnitude e transcendência do problema. As opções de tratamento institucional são
comparativamente pobres e escassas; De facto, os esquemas e modelos de detecção,
tratamento e reabilitação do alcoolismo ou do abuso de álcool não foram integrados nos
programas de saúde.
No entanto, a sociedade civil e as organizações de ajuda mútua têm historicamente
respondido a este problema. A construção de suas respostas solidárias permitiu-lhes
formar um grande número de grupos, o que, por sua vez, levou à formação de redes de
grupos de ajuda mútua e centros de tratamento privados.
O reconhecimento do impacto e do custo do problema para a sociedade é crucial, assim
como a necessidade de modelos efetivos de prevenção, tratamento e reabilitação
incorporados aos programas de educação em saúde pública e assistência social. Para
isso, é preciso contar com elementos técnicos modernos e pertinentes à realidade nacional
que facilitem esse trabalho.
Por todo o exposto é relevante, sem a menor dúvida, contar com profissionais da
envergadura do Dr. José Antonio Elizondo López, que tem dedicado sua profícua vida
profissional ao estudo e à pesquisa do fenômeno do alcoolismo.
Dr. Elizondo é um proeminente psiquiatra e psicoterapeuta, pioneiro, em 1972, do
Programa de Reabilitação para Alcoólicos do Instituto Mexicano de Seguridade Social
(IMSS); membro comprometido do Conselho de Curadores e palestrante qualificado de
Alcoólicos Anônimos (AA); colaborador da revista Plenitud, desde 1978; promotor da
formação de pessoal diversificado na área do alcoolismo e das dependências; vice-
presidente do Centro de Estudos sobre Álcool e Alcoolismo (CESAAL); colaborador e
palestrante da Universidad Autónoma Veracruzana e da Universidad Nacional Autónoma
de México (UNAM), além de membro do Conselho Editorial da revista especializada
LíberAddictus.
Destaque especial merece o incansável impulso e divulgação deste especialista para os
grupos de AA, desde um fórum internacional de especialistas, até a mais simples reunião,
mas não menos importante, em lugares remotos do país.
Dr. Elizondo conseguiu aliar a solidez de seus estudos com a vasta experiência clínica,
adquirida durante o contato diário com pacientes alcoólatras e seus familiares, em seu
ambiente. Essa experiência tem se refletido em seu trabalho social permanente para
ajudar aqueles que sofrem ou estão expostos em maior extensão a essa doença.
Foi esse trabalho comprometido que lhe rendeu o apreço e a admiração de seus muitos
pacientes e instituições especializadas neste campo.
Da mesma forma, o Dr. Elizondo tem a rara virtude de aliar a profundidade de seus
estudos e análises, com concretude e eloquência, o que lhe permite traduzir e ensinar em
linguagem prática e acessível os sintomas emocionais do alcoólatra, com tamanha
contundência que quem sofre da doença, isso inevitavelmente se refletirá na Síndrome da
Embriaguez Seca.
Neste trabalho ele descreve, de forma didática, as formas de se reconectar com as causas
mais elementares do alcoolismo e revela os medos e sentimentos incompreensíveis que
em algum momento de suas vidas levam determinadas pessoas ao consumo de álcool.
Este livro será particularmente útil para aqueles que acreditam que apenas parando de
beber, eles automaticamente mudarão seus problemas e alcançarão a felicidade; ou para
aqueles que frequentam AA, mas não trabalham em seu programa de crescimento. Esses
alcoólatras acumulam abstinência, mas não atingem a sobriedade.
Na forma de histórias e moral, expressa-se em tom coloquial o sentimento mais fidedigno e
a experiência cotidiana do alcoolista, ocupado em permanecer abstêmio e em constante
luta com suas emoções e sentimentos, a fim de promover em si mesmo um verdadeiro
crescimento.
O autor levanta a importância de o alcoólatra se identificar e resgatar em tempo hábil da
dualidade aditiva e neurótica, para não deslocar para si ou para os outros outro fardo ainda
mais destrutivo que o álcool: o de apresentar essa síndrome para toda a vida e erguê-la
como uma bandeira que busca justificar outras fraquezas, Insuficiências e lacunas.
Estou convencido de que esta obra será interessante para qualquer leitor e promoverá nela
uma preocupação positiva e uma reflexão sobre a luta diária contra o alcoolismo.
Profissionais de disciplinas afins também receberão ferramentas técnicas que contribuirão
para o manejo integral e promoção da maturidade emocional do alcoolista, questão
fundamental para que se sustente na sobriedade.
De modo geral, esse material será muito útil para todos os interessados nesse complexo
problema, pois os ajudará na reconstrução dos esquemas e programas de cuidado e
gestão, com um sentido mais humano e abrangente do alcoolismo.

Sci. José M. Castrejón Vacio


Diretor de Articulação Setorial
Conselho Nacional contra os Vícios, CONADIC
Introdução
O termo embriaguez seca foi introduzido pelo cofundador dos Alcoólicos Anônimos (AA),
Bill W.
Em uma carta escrita em 1954, ele menciona o seguinte: "Às vezes ficamos deprimidos.
Se eu vou saber; Fui campeão da embriaguez seca. Enquanto as causas superficiais
faziam parte do quadro – desencadeando eventos que precipitaram a depressão – as
fundamentais, estou convencido, estavam em um nível muito mais profundo."
Mais tarde, nos anos setenta, entre a literatura informal de AA, surgiu um panfleto com o
nome de Síndrome da Embriaguez Seca. Em 1982, R.J. Solberg, da Fundação Hazelden
de Minnesota, publicou um panfleto mais elaborado que apareceu em inglês e espanhol
sob o título Dry Binge Drinking.
Esses panfletos falavam principalmente do "bêbado seco", o alcoólatra em recuperação
que só se satisfaz em "tampar a garrafa" e que não superou seus defeitos de caráter.
Algumas características óbvias de seu comportamento são discutidas, tais como
comportamento pomposo, rigidez de julgamento, desvalorização pessoal, desejo de
satisfação imediata de suas demandas, comportamento e atitudes infantis, mudanças
repentinas de humor, curta duração de seus propósitos, comportamento irreal e
desadaptativo, e suas tendências autodestrutivas.
Após revisão dessa literatura, e com a experiência adquirida durante 10 anos de trabalho
com alcoólatras em recuperação, o autor publicou no número 5 da revista Plenitud, órgão
oficial do Escritório de Serviços Gerais de AA da República Mexicana, a primeira versão
da "Síndrome da Embriaguez Seca", onde oito sintomas fundamentais da síndrome são
especificados.
Este artigo teve um grande impacto em toda a comunidade AA de língua espanhola, tanto
no México quanto no exterior (principalmente nos Estados Unidos e América Central). Fui
convidado em várias ocasiões para desenvolver o tema e no feedback e análise deste
tópico que tivemos frequentemente com membros AA, considerei a necessidade de uma
nova versão corrigida e aumentada da "Síndrome da Embriaguez Seca", desta vez com 12
sintomas.
Isso não significa que tenham surgido mais quatro sintomas, mas que, para fins práticos e
didáticos, os oito sintomas anteriores foram ampliados para 12, para melhor compreensão
e compreensão.
Assim, em setembro de 2002, a revista Plenitud publicou a nova versão da Síndrome da
Embriaguez Seca com os 12 sintomas. Uma série de artigos foi posteriormente publicada
analisando cada um dos 12 sintomas; O último artigo explicou os 12 sintomas da
sobriedade.
O termo embriaguez seca denota fundamentalmente a falta de mudança na pessoa que
reconheceu ser um viciado em álcool e que tomou a decisão de parar de beber. O
alcoolista, embora pare de beber (esteja seco), não apresenta melhora favorável nem em
suas atitudes nem em seu comportamento; continua a manter uma mente embriagada
mesmo que não beba mais; ou seja, ele continua bêbado.
O termo intoxicação vem da palavra grega veneno. Portanto, a embriaguez seca implica
um humor e comportamento que são venenosos para o bem-estar do alcoólatra (estado de
intoxicação emocional).
A palavra síndrome significa conjunto de sintomas. Os sintomas de embriaguez seca
descrevem um estado de desconforto e insatisfação do alcoolista quando ele não está
bebendo, o que implica em um quadro de anormalidade psicológica (neurose).
Esse estado de desconforto psicológico (neurose) já estava presente no alcoólatra antes
de ele começar a beber. De fato, muitas pessoas que mais tarde desenvolvem alcoolismo,
começam a beber excessivamente, como resultado de suas atitudes e comportamentos
inadequados.
Em outras palavras, a doença do alcoolismo aparece antes do alcoólatra beber a primeira
bebida. Sua neurose é pré-existente ao seu vício em álcool.
Poderíamos dizer que o desconforto emocional e o desajuste social sofridos por esse
futuro alcoólatra o levam a usar o álcool como muleta emocional que o ajudará a se
desinibir e transformar sua personalidade para enfrentar situações difíceis que não
consegue lidar com sobriedade, ou se esquivar e esquecer temporariamente os problemas
que não quer enfrentar.
Essa situação o leva a recorrer à droga do álcool sempre que tem problemas, frustrações
ou situações das quais quer fugir; Com o consumo habitual ele precisará cada vez mais da
substância para obter os mesmos efeitos que conseguiu com doses mais baixas, condição
que causará o desenvolvimento de um vício em álcool, o que o fará correr para os terríveis
fundos que os alcoólatras vêm tocar.
Durante seu estágio de atividade alcoólica, a neurose que já existia se intensificará. Todos
os problemas, fracassos, perdas, situações constrangedoras, rejeições, culpa e vergonha
sofridas pelo alcoólatra ativo intensificarão essa neurose pré-existente, de tal forma que
quando ele decide parar de beber e se juntar a um grupo AA, a neurose que o levou a
beber sem controle já se agravou.
Portanto, o alcoólatra em recuperação não deve se contentar em parar de beber. Você não
deve pensar que a abstinência de álcool irá automaticamente causar-lhe crescimento
emocional, mas que após um tempo de abstinência estável, você deve começar a trabalhar
ativamente em seu crescimento emocional.
Quando um alcoólatra para de beber, mas continua com aquela neurose aumentada que
causa essa situação de desconforto psicológico, insatisfação emocional e atitudes
negativas em relação à vida, ele está sofrendo da Síndrome da Embriaguez Seca.
O objetivo desta publicação é ajudar o alcoólatra em recuperação a identificar e aceitar os
sintomas de embriaguez seca que está sofrendo, para que possa superá-los e, com isso,
alcançar o crescimento emocional, ou seja, a maturidade.
Por esse motivo, foi necessário descrever os sintomas da Síndrome da Compulsão Seca,
para que o alcoólatra em recuperação pudesse identificá-los.
Abaixo vou listar os oito sintomas que publiquei no artigo de dezembro de 1978:
1. Tendência ao exagero
2. Comportamento infantil
3. Insatisfação persistente
4. Negação de sua realidade não alcoólica
5. Racionalização de seus problemas neuróticos
6. Persistência de problemas familiares
7. Comportamento inadequado no seu grupo AA
8. Angústia e depressão recorrentes

Em setembro de 2002, surgiu o artigo Síndrome da Compulsão Seca, em sua nova versão
com 12 sintomas, que estão listados abaixo:
1. Imaturidade e infantilismo: interrupção do crescimento emocional e persistência das
dependências.
2. Atitude permanente de desonestidade para consigo mesmo e para com os outros.
3. Amargura e insatisfação existencial devido à persistência de ressentimentos.
4. Sentimento permanente de culpa com autodesvalorização, desvantagem e
tendência à autopunição.
5. Egocentrismo, autossuficiência neurótica, má gestão da agressividade e tendência à
onipotência.
6. Medos permanentes: atitude de medo diante dos desafios da vida com angústia e
tensão contínuas.
7. Depressão cíclica ou permanente com atitudes de pessimismo e desmotivação
8. Ingovernabilidade sexual e sentimental.
9. Negação de sua realidade não alcoólica com persistência dos mecanismos de
racionalização e projeção.
10. Substituição do álcool por outras substâncias ou comportamentos aditivos.
11. Espiritualidade ausente ou muito empobrecida, com arrogância intelectual,
tendência ao materialismo e pouca ou nenhuma fé.
12. Comportamento inadequado em seu grupo AA, tanto com colegas quanto com
princípios do programa.
Como já mencionado, isso não significa que no espaço desses 24 anos tenham surgido
novos sintomas de embriaguez seca, mas que os oito primeiros sintomas foram mais
detalhados para torná-los mais compreensíveis, mais específicos e mais objetivos.
A tabela a seguir compara os oito sintomas do primeiro artigo com os 12 do segundo artigo
para explicar sua correlação:
1. Tendência ao exagero. Corresponde ao 5º sintoma da nova versão: autossuficiência
neurótica e tendência à onipotência.
2. Comportamento infantil. Corresponde ao 1º e 11º sintomas: imaturidade e
infantilismo e ausência de espiritualidade.
3. Insatisfação persistente. Corresponde ao 3º e 4º sintomas: insatisfação existencial
devido à persistência de ressentimentos e sentimento permanente de culpa.
4. Negação de sua realidade não alcoólica. Corresponde ao 9º e 10º sintomas:
negação de sua realidade não alcoólica e substituição do álcool por outras drogas e
substâncias aditivas.
5. Racionalização de seus problemas neuróticos. Corresponde ao 2º e 5º sintomas:
atitude permanente de desonestidade para consigo mesmo e com os outros, e
autossuficiência neurótica.
6. Persistência de problemas familiares. Corresponde ao 1º, 2º e 8º sintomas:
persistência de dependências, atitude de desonestidade para com os outros e
ingovernabilidade sexual e sentimental.
7. Comportamento inadequado em seu grupo AA. Corresponde ao 12º sintoma:
comportamento inadequado no grupo AA.
8. Angústia e depressão recorrentes. Corresponde ao 6º e 7º sintomas: medos
permanentes com angústia e tensão contínuas e depressão cíclica ou permanente.
Como se vê, a nova versão com 12 sintomas é muito mais didática e facilita a
compreensão e compreensão desses defeitos de caráter com maior precisão para a
identificação do sintoma.
Capítulo 1
O Dragão de Duas Cabeças

Era uma vez, a qualquer hora e em qualquer lugar, um príncipe loucamente apaixonado
por uma princesa. Infelizmente, ela foi mantida em cativeiro em um castelo do qual não
podia sair porque era guardado por um terrível dragão de duas cabeças que não permitia
que ninguém se aproximasse. Se alguém ousasse ousar, foi atacado ferozmente pelo
monstro que já contava com muitas vítimas a seu crédito: a maioria das quais havia
morrido em combate, outras foram aprisionadas nas masmorras do castelo sem esperança
de partir, e aqueles que feriram e espancaram conseguiram fugir, Sofreram pelo resto da
vida com alguma deficiência ou incapacidade, que lhes causou sofrimento sem fim,
afastando-os do bem-estar e da felicidade.
Mas nosso príncipe era uma pessoa determinada e corajosa, que sabia que a única coisa
que poderia lhe trazer felicidade era conquistar o amor de sua amada princesa.
Ele se propôs a derrotar o dragão, então estudou todos os seus movimentos e seus pontos
fracos, e armou-se até os dentes com armadura que o protegeria das chamas emanadas
do focinho da besta e uma espada poderosa que derrubaria sua cabeça no primeiro golpe.
Seu cavalo era rápido e ágil e estava acostumado com essas lutas, nas quais nosso herói
costumava vencer.
Assim, o ousado príncipe chegou aos portões do castelo e foi imediatamente atacado pelo
terrível dragão para impedi-lo de passar. Com movimentos ágeis de seu cavalo, o príncipe
conseguiu escapar do ataque da besta. Por sua vez, pegou sua espada e com muita força
e determinação cortou uma das cabeças. Na lança, o príncipe perdeu a espada e teve que
desistir da luta.
Quando retornou ao castelo, nosso herói ficou perplexo ao observar que o dragão tinha as
duas cabeças. Por algum motivo incompreensível para o príncipe, o monstro conseguiu
regenerar sua cabeça perdida.
O príncipe decidiu voltar à aldeia para pedir conselhos e, assim, conseguir montar uma
estratégia que lhe permitisse derrotar o dragão.
Ele consultou os sábios da cidade que lhe disseram que a única maneira de derrotar o
dragão era cortar suas duas cabeças em uma única barra, porque ele tinha a capacidade
de regenerar a cabeça perdida, desde que mantivesse a outra.
Sabendo desse segredo, o príncipe armou-se com uma espada muito maior e mais
poderosa e guardou mais duas espadas na sela de seu cavalo caso precisasse delas.
A luta foi feroz: o monstro atacou com todo o seu poder; Chamas enormes saíram de sua
boca e ele acertou fortes retalhos no cavalo que caiu duas vezes, mas ele conseguiu se
recuperar imediatamente. O príncipe jogou um forte golpe nas cabeças do dragão, mas o
golpe falhou e a espada ficou presa na cauda da besta; Ela torceu o pescoço na direção do
rabo para puxar a espada que lhe causava muita dor. O príncipe aproveitou para pegar
outra espada e com um golpe preciso no pescoço cortou as duas cabeças: o dragão havia
morrido.
O príncipe entrou no castelo e libertou a bela princesa com quem se casou e viveram
felizes por muitos e muitos anos.
Essa história que termina como a maioria das histórias infantis: com o triunfo do bem sobre
o mal e a conquista da felicidade eterna, representa a dura luta que um alcoólatra tem que
empreender para alcançar a sobriedade.
O príncipe representa o alcoólatra doente que quer se recuperar; O dragão é a doença do
alcoolismo, que tem uma dualidade: é representado pelas duas cabeças do dragão, a
primeira cabeça é a cabeça viciante, a segunda é a cabeça neurótica. A cabeça viciante
representa a ingovernabilidade do alcoolista diante do álcool; A cabeça neurótica
representa a ingovernabilidade do alcoólatra diante de seus sentimentos e emoções.
A princesa representa o que todo alcoólatra aspira em sua recuperação: a felicidade. O
castelo representa a sobriedade.
As duas cabeças do dragão: o vício em álcool e a ingovernabilidade emocional estão
impedindo o alcoólatra de entrar na sobriedade.
As espadas do príncipe representam a determinação, disciplina e atitude positiva do
alcoólatra que quer se recuperar e alcançar a felicidade.
Os sábios da aldeia representam os padrinhos de AA: os conselheiros, médicos,
psicólogos, psiquiatras e padres que dizem ao alcoólatra o que ele deve fazer para superar
sua doença.
Conhecendo essa história e seu simbolismo, é possível entender melhor o que é a doença
do alcoolismo e como superá-la.
Muitos alcoólatras carecem de firmeza, convicção e uma atitude positiva para parar de
beber e mudar. Suas espadas são muito fracas com eles, eles nunca serão capazes de
derrotar o dragão.
Outros acreditam que apenas parando de beber, todo o resto mudará automaticamente e
eles alcançarão a felicidade. São eles que frequentam a AA, mas não trabalham em seu
programa de crescimento. Eles acreditam que todos os seus problemas existenciais são
consequência de seu alcoolismo e que quando pararem de beber, a felicidade virá por
conta própria. Esses alcoólatras acumulam abstinência, mas não alcançam a sobriedade;
Eles apenas cortaram a cabeça viciante do dragão, mas deixaram a cabeça neurótica viva,
ela será responsável por regenerar a cabeça viciante e a recaída não demorará a chegar.
Outros, por outro lado, não aceitam seu alcoolismo e não querem saber nada sobre AA.
Pensam que só têm problemas emocionais e que, quando os resolverem, poderão beber
de forma controlada. Esses tipos de indivíduos são aqueles que vão ao psicólogo,
psiquiatra ou psicanalista, mas continuam a beber. São eles que cortam a cabeça
neurótica, mas deixam a cabeça viciante viva. Ao permanecer vivo, a cabeça viciante fará
com que a neurose reapareça e seu alcoolismo piore.
Foi mencionado que a princesa representa a felicidade que todo alcoólatra em
recuperação busca. Mas a história indica que para alcançar a felicidade é preciso lutar e
muito duro. Combate à ingovernabilidade frente ao consumo de álcool e combate à
ingovernabilidade emocional.
Aqueles que sofrem da Síndrome da Embriaguez Seca estão se recuperando alcoólatras
que se contentam em parar de beber, mas não mudam. Eles ainda têm as mesmas
alterações comportamentais de quando bebiam, só que agora estão secos; São bêbados
secos.
Por todo o exposto é importante entender que a doença do alcoolismo é muito complexa;
que o alcoólatra já apresenta ingovernabilidade emocional antes de começar a beber; que
essa ingovernabilidade emocional levou muitos bebedores a se tornarem alcoólatras, e
quando eles se juntaram a um grupo de AA porque decidiram parar de beber, a
ingovernabilidade emocional ressurge fortemente e é necessário trabalhar o crescimento
emocional.
Os capítulos seguintes descreverão os 12 sintomas da compulsão seca.
Capítulo 2
Síndrome
da compulsão secaAbstinência não é o mesmo que sobriedade

Abstinência significa parar de usar álcool, ou a droga que você é viciado. Sobriedade
significa aprender a viver em abstinência através do crescimento emocional contínuo que
lhe permite atingir a maturidade. Em outras palavras, a soma da abstinência e da
maturidade constitui sobriedade.
Muitos alcoólatras param de beber, mas não crescem emocionalmente. Apesar de serem
abstêmios, ainda são bebês emocionais.
Essas pessoas sofrem com o que é chamado de Dry Binge Drinking.
A Síndrome da Embriaguez Seca é uma forma de neurose sofrida pelo alcoólatra em
recuperação quando ele só está satisfeito em parar de beber.
Essa síndrome impede a plenitude de vida do alcoolista, pois faz com que seus problemas
familiares, laborais e sociais persistam e que a insatisfação e a infelicidade permaneçam e
é uma das principais causas de recaídas no alcoolista.
Alcançar a abstinência é apenas o fim do começo. O verdadeiro caminho para a
recuperação começa quando se atinge uma convicção absoluta da abstinência, o alicerce
onde será construído o edifício da sobriedade.
O número 12 em AA é um número muito especial. Temos os 12 passos, as 12 tradições,
as 12 promessas, as 12 coisas que o AA não faz, e assim por diante. Será conveniente
familiarizar-se com os 12 sintomas da embriaguez seca.
E é muito importante que um alcoólatra em recuperação realmente aspira à sobriedade,
para não ficar no conformismo medíocre da abstinência. Se é difícil parar de beber, é muito
mais difícil crescer emocionalmente para atingir a maturidade. Não se esqueça que a
combinação da abstinência do álcool (e de qualquer outra droga) mais a maturidade
emocional do indivíduo constitui verdadeira sobriedade.
Os sintomas explicaram brevemente:
1. Imaturidade e infantilismo: interrupção do crescimento emocional e persistência das
dependências. É o sintoma essencial da embriaguez seca. A incapacidade de crescer
emocionalmente. Apesar de não beber mais, o alcoólatra ainda é uma criança na forma
como pensa, administra suas emoções e age. Ao permanecer uma criança emocional, ela
não será capaz de se comportar como um adulto responsável que pode alcançar seus
objetivos de vida. Como bons bebês emocionais, esses alcoólatras continuam a depender
de figuras como sua mãe, pai, irmãos, esposa, amigos, chefe e assim por diante. Essa
dependência os impede de obter duas condições fundamentais na sobriedade: autonomia
e responsabilidade. Por estarem emocionalmente ligados a outras pessoas, culpam-nas
por seus fracassos existenciais e assumem o papel de vítimas.
2. Atitude permanente de desonestidade para consigo mesmo e para com os outros. A
desonestidade é um mau hábito que o alcoólatra adquire durante o desenvolvimento de
sua doença. Trai, mente, inventa pretextos, promete e não entrega, trapaceia, não respeita
as regras do jogo, pede emprestado e não paga, oferece mordidas para não ser preso e
pratica outros tipos de corrupção, e assim por diante. Essa inércia de desonestidade
permanece mesmo depois que o alcoólatra para de beber. Ele continua mentindo para sua
esposa, continua a deixar de pagar suas dívidas, promessas não cumpridas persistem, e
assim por diante. Ele muitas vezes continua a mentir para seu terapeuta ou contar mentiras
em seu grupo. Ele tem dificuldade em praticar a honestidade diariamente. O mais grave do
caso é que o alcoólatra acredita em muitas dessas mentiras, persistindo nessa atitude de
fugir da própria realidade e não aceitá-la.
3. Amargura e insatisfação emocional devido à persistência de ressentimentos. Apesar de
não beber mais, o alcoólatra não consegue alcançar a plenitude, a satisfação de viver. Ele
está infeliz, descontente, com muitas áreas de amargura em sua vida e incapaz de provar
os méis da sobriedade. Parar de beber significa uma obrigação e não uma convicção, e a
recaída é frequente entre os insatisfeitos existenciais. Além disso, ele ainda tem muitos
ressentimentos de sua vida passada que não conseguiu superar. Ele está zangado com as
pessoas e com o mundo. São os típicos bêbados secos acorrentados ao passado que não
podem aplicá-lo apenas por hoje.
4. Sentimento permanente de culpa com autodesvalorização, desvantagem e tendência à
autopunição. Esses alcoólatras carregam um fardo terrível de culpa acumulada no passado
e que não conseguiram perdoar. Eles continuam a se sentir culpados por muitas situações,
como a morte de um ente querido, a doença de um de seus filhos ou o fracasso de outros,
e assim por diante. São pessoas com autoestima muito baixa e com uma tendência muito
grande ao perfeccionismo. Como não se perdoam (embora os outros já os tenham
perdoado), sentem-se menos do que os outros e com sentimentos de autodesvalorização
pessoal. Para se libertarem desse fardo, desenvolvem uma necessidade neurótica de
expiação, por isso caem em comportamentos autodestrutivos, sabotam triunfos e não se
sentem dignos de felicidade. Essas tendências autodestrutivas podem levá-los à recaída.
5. Egocentrismo, autossuficiência neurótica, má gestão da agressividade e tendência à
onipotência. O egocentrismo no alcoólatra é a compensação neurótica de um complexo de
inferioridade, e uma baixa autoestima que, como todas as pessoas emocionalmente
infantis, as leva a uma atitude de supercompensação e depois querem chamar a atenção
dos outros. Por isso, quando ficaram bêbados, viraram o bufão da festa. Uma vez que
param de beber, direcionam seu egocentrismo para seus familiares ou colegas de grupo,
no trabalho ou para as pessoas em geral; Desenvolvem atitudes conflituosas, com má
gestão da agressividade que, muitas vezes, se torna ingovernável, entrando em conflitos
contínuos com os outros e incapacitando-se para a sobriedade. A autossuficiência
neurótica refere-se não à autossuficiência produtiva que é consequência da maturidade,
mas àquele que continua a pensar que não precisa da ajuda dos outros e que só pode
administrar, o que o leva inevitavelmente a tomar decisões erradas para a resolução de
seus problemas existenciais. Quando a autossuficiência neurótica é exacerbada, torna-se
onipotência, que é o defeito de caráter mais grave em que um alcoólatra pode cair. A
onipotência é uma forma patológica de orgulho. Um complexo de superioridade que
disfarça um profundo sentimento de inferioridade que quer ser compensado.
6. Medos permanentes: atitude de medo diante dos desafios da vida com angústia e
tensão contínuas. Muitos alcoólatras vivem em permanente angústia. Na verdade, eles já
viviam em tensão antes de beber e o que os levou ao alcoolismo foi a necessidade de
aliviar suas tensões através do álcool. Esses indivíduos em geral são muito inseguros,
apreensivos, vivem em constante estado de tensão e desenvolvem muitos medos:
problemas, conflitos, doenças, responsabilidades, ser adulto, trabalho, perigos diários,
morte e assim por diante. Eles não têm a possibilidade de viver no presente, mas vivem
instalados no futuro. Eles agonizam com o que ainda não aconteceu. Tudo isso afeta sua
saúde, pois eles vivem continuamente em tensão e sob estresse prolongado que lhes
causa vários sintomas, como dor de cabeça ou nas costas, sudorese, distúrbios do sono e
do apetite, etc. Às vezes, sua angústia é tão grave que eles podem sofrer de outros
transtornos psiquiátricos, como fobias, obsessões, compulsões ou ataques de pânico.
Esses tipos de alcoólatras em recuperação, independentemente do grupo AA, devem
receber atendimento especializado de um psiquiatra.
7. Depressão cíclica ou permanente com atitudes de pessimismo, desmotivação e baixa
energia. Outro tipo de viciados em recuperação são os depressivos. São pessoas muito
vulneráveis emocionalmente que muitas vezes se sentem tristes, sem energia, sem poder
desfrutar das coisas, propensas à tristeza e à apatia, existencialmente desmotivadas, com
pouca vontade de viver e, às vezes, com muitos desejos de morrer. Tanto esse sintoma
quanto o anterior (angústia) correspondem ao chamado transtorno dual, ou seja, o paciente
tem outra doença psiquiátrica além do vício, já que tanto a angústia quanto a depressão
são doenças que afetam a saúde mental e, portanto, requerem atenção médica
especializada.
8. Ingovernabilidade sexual e sentimental. O perfil psicológico do dependente é
caracterizado pela dificuldade que ele tem em administrar os impulsos sexuais e
sentimentais. Antes mesmo de começar a beber, o alcoólatra já tem essas tendências. Ser
uma pessoa insegura e com baixa autoestima tem muita dificuldade em se envolver com o
sexo oposto. É por isso que ele recorre à muleta emocional do álcool ou de outras drogas
para conseguir se dar coragem e se desinibir. Sob a influência do álcool, ele ousa fazer
coisas que não faz sóbrio, mas mal planejadas e pior administradas. Quantos alcoólatras
declararam uma mulher totalmente bêbada e depois se arrependeram, ou quantos outros
concordaram em assinar uma certidão de casamento bêbada. Por outro lado, em um
estado de intoxicação alcoólica, os impulsos sexuais mais primitivos são desencadeados,
dando origem a comportamentos indesejáveis como violência sexual (estupro, estupro
legal, sadismo) ou comportamento homossexual. Muitos alcoólatras que não bebem mais
permanecem secos porque persistem com atitudes de violência sexual, machismo ou
ciúme patológico. Não se pode falar em sobriedade quando o alcoólatra em recuperação
continua controlando, ameaçando, batendo ou ciúmes de seu cônjuge. Há também
problemas de ejaculação precoce, impotência ou frigidez. A infidelidade com o parceiro e a
tendência à promiscuidade sexual é outra manifestação da embriaguez seca a nível sexual
e sentimental. Muitos desses indisciplinados sexuais acabam desenvolvendo um vício
sexual ou codependência sentimental em relação ao parceiro.
9. Negação de sua realidade não alcoólica com persistência dos mecanismos de
racionalização e projeção. Embora permaneça em abstinência, esse bêbado seco continua
sendo um negacionista e, embora não negue mais seu alcoolismo, continua negando uma
série de defeitos de caráter, que não consegue visualizar ou aceitar e que o impedem de
um ótimo crescimento emocional. Esses tipos de alcoólatras tendem a ficar muito
chateados quando alguém os confronta com suas áreas erradas e muitas vezes mudam de
grupo porque dizem que são "atacados da tribuna". Também rejeitam qualquer tipo de
psicoterapia profissional, argumentando desconhecimento de médicos e psicólogos em
relação ao alcoolismo e ao programa AA. Continuam à procura de culpados por tudo o que
lhes acontece.
10. Substituição do álcool por outras substâncias ou comportamentos aditivos. Muitos
alcoólatras param de beber, mas substituem seu comportamento compulsivo em relação
ao álcool por outros tipos de drogas, como maconha, cocaína, inalantes ou tachas
(metanfetaminas). Muitos param de beber, mas em vez disso começam a desenvolver
comportamentos como jogo compulsivo, sexo compulsivo ou workaholism. Às vezes, eles
caem em pílulas tranquilizantes automedicantes ou se tornam viciados em tabaco. Às
vezes, os alcoólatras em recuperação esquecem que fumar também é um vício que
adoece e mata tantas pessoas quanto o alcoolismo. Não se deve esquecer que, no
alcoolismo, o comportamento de beber em excesso é apenas o sintoma de um transtorno
mais profundo caracterizado por uma estrutura patológica de natureza aditiva cuja origem é
genética e que o torna um potencial viciado em qualquer tipo de substância ou
comportamento que cause estimulação no centro de recompensa do cérebro. Essa
estrutura doentia do alcoolista também o leva a lidar mal com todas aquelas situações
existenciais que geram angústia ou estresse. Isso é chamado de ingovernabilidade
emocional.
11. Espiritualidade ausente ou muito empobrecida, com arrogância intelectual, tendência
ao materialismo e pouca ou nenhuma fé. Muitos alcoólatras se recuperam fisicamente,
conseguem um melhor controle de suas emoções e conseguem uma melhora em seu
funcionamento e adaptação social, mas não vivenciam aquele despertar espiritual que é
condição fundamental para alcançar a sobriedade completa. Não se deve esquecer que a
essência do programa de 12 passos é fundamentalmente espiritual e que além da
recuperação psicofísica e social deve haver uma recuperação espiritual, ou seja, a
recuperação da fé. Da fé em si mesmo, nos outros, no mundo e em um poder superior que
todos têm, inclusive os agnósticos. A crise de valores que vivemos hoje e que se reflete
num materialismo extremo, onde o valor superior é o sucesso econômico e a posse de
bens de consumo, faz com que as pessoas se distanciem de Deus e dos valores supremos
do espírito. A espiritualidade ausente ou empobrecida é também o reflexo de um orgulho
intelectual e de uma autossuficiência existencial típica de certos alcoólicos em recuperação
que alcançaram um bom nível de cultura, riqueza, poder ou prestígio. Essa falta de
humildade faz com que caiam em uma arrogância progressiva que pode degenerar em um
dos sintomas mais graves da embriaguez seca que é a onipotência. Aquele que sofre de
onipotência pensa que somente ele é o seu Poder Superior.
12. Comportamento inadequado em seu grupo AA, tanto com colegas quanto com
princípios do programa. A falta de crescimento emocional causa uma distorção da
compreensão, a tal ponto que o alcoólatra em recuperação distorce a filosofia e os
princípios do programa de 12 passos, resultando em comportamento inadequado em seu
grupo. Isso o leva a interpretar, muito à sua maneira e conveniência, os princípios básicos
do programa, que ele foca mais na compensação de suas deficiências neuróticas do que
no bem-estar, unidade e serviço comuns. Longe de se tornar um testemunho de
sobriedade e bom senso em sua maneira de se comportar com os outros, ele se torna o
típico membro de AA insatisfeito e conflituoso com tudo o que é feito no grupo. Os
comportamentos erráticos desses bêbados secos são disputas de poder, inveja,
ressentimento em relação a outros parceiros, exibicionismo, críticas doentias, fofocas e
politicagem. Outros, por outro lado, manifestam sua embriaguez seca adotando um
comportamento extremamente passivo em seu grupo (não usam a plataforma nem leem a
literatura, não cooperam com o serviço e apenas escutam passivamente concretamente,
tomam café e criticam os outros), ou tendo motivações neuróticas para frequentar o grupo,
como fazer negócios com colegas de grupo, pedir dinheiro emprestado (e não pagar) ou
envolver-se emocional ou sexualmente com parceiros do outro sexo.
A recuperação abrangente do alcoolismo e outros vícios é um processo longo e
complicado que todo paciente em recuperação deve levar em conta. Alcançar a sobriedade
envolve a prática de qualidades como liberdade, responsabilidade, honestidade e
humildade, desenvolvidas em um quadro de disciplina, perseverança, determinação para a
mudança e mente aberta. Uma vez atingida a inércia da sobriedade, consegue-se um
fenômeno de crescimento emocional progressivo que não tem limites e que levará a
pessoa ao objetivo final do tratamento que é alcançar a felicidade.
Capítulo 3
Sintoma número 1
O Rei Menino
Imaturidade e infantilismo, estagnação do crescimento emocional
e persistência das dependências.

"Com dinheiro e sem


dinheiro faço sempre o que
quero e a minha palavra é
a lei.
Não tenho trono, nem rainha,
nem ninguém que me
entenda, mas ainda sou o
rei" José Alfredo Jiménez.

Uma das principais características do perfil psicológico do alcoolista é a imaturidade


emocional. Na psicobiografia da maioria dos alcoolistas encontramos uma história de
rejeição afetiva, superproteção ou responsabilidade prematura. Essas experiências infantis
determinam um atraso no desenvolvimento de sua personalidade que leva esse tipo de
pessoa a ser insegura, ansiosa, egocêntrica, com baixa autoestima e uma série de
complexos que impedem um ótimo desenvolvimento de sua personalidade.
Ao chegar à adolescência, surge uma série de fenômenos como o aparecimento de
características sexuais secundárias, a atração pelo sexo oposto, a necessidade de serem
aceitos no grupo de pares, a busca pela própria identidade e maior pressão social para o
cumprimento das responsabilidades escolares, familiar e social.
Esses futuros alcoólatras, ao se depararem com essa série de pressões, geram grande
angústia que produz intenso desconforto psicológico e, ao mesmo tempo, muita frustração
quando se sentem incompetentes para suprir essas necessidades.
Mas é também na época da adolescência que se tem os primeiros contatos com o álcool.
O imaturo emocional cheio de complexos e limitações em suas relações interpessoais, ao
experimentar o álcool, descobre uma substância maravilhosa que transforma sua
personalidade e o transforma de tímido em ousado, de covarde em corajoso, de
introvertido em extrovertido, de hostil a simpático e de lacônico a falante.
É assim que esse angustiado inseguro encontra no álcool uma muleta emocional que o
ajuda a compensar demais suas limitações psicológicas. Assim começa uma carreira que
começa com o uso, continua com o hábito, continua com o abuso e termina com o vício em
álcool.
O alcoolismo é uma doença que produz um impressionante desgaste físico e psicológico. A
principal característica do esgotamento psicológico do alcoólatra é a paralisia de seu
desenvolvimento emocional. Ou seja, um alcoólatra ativo não cresce emocionalmente. Ele
é psicologicamente atrofiado porque, para enfrentar os diferentes conflitos de sua vida ou
fugir deles, sempre recorreu à muleta emocional do álcool.
Portanto, no alcoólatra ocorre o fenômeno de chover no molhado, pois antes de começar a
beber ele apresentava sérias limitações no processo de amadurecimento de sua
personalidade, o que acabou levando ao desenvolvimento de seu alcoolismo, causando
uma estagnação nesse processo de crescimento emocional.
Uma vez que o alcoólatra decide parar de beber e atinge a abstinência, a imaturidade
emocional ainda persiste. A abstinência por si só não causa crescimento emocional, mas o
alcoólatra em recuperação, uma vez que tenha atingido um tempo razoável de abstinência,
deve começar a trabalhar em seu crescimento emocional.
É por isso que dizemos que o alcoólatra que para de beber, mas não cresce
emocionalmente, sofre da Síndrome da Embriaguez Seca. Este primeiro sintoma de
consumo abusivo de bebidas alcoólicas constitui o núcleo central da síndrome. Os outros
11 sintomas da embriaguez seca são, de certa forma, resultado da imaturidade emocional.
O emocionalmente imaturo é chamado de rei da criança porque seu comportamento é
típico de um indivíduo terrivelmente egocêntrico que exige todos os direitos da criança,
mas que não cumpre nenhuma obrigação do adulto. Em outras palavras, quando lhe
convém, ele se comporta como uma criança e quando lhe convém, ele se comporta como
um adulto autoritário.
As principais características do perfil psicológico da criança são as seguintes:

1. Infantilismo. 10. Superficialidade.


2. Demanda excessiva. 11. Manipulação.
3. Egoísmo. 12. Incapacidade de adiar
4. Narcisismo. satisfações.
5. Intolerância à frustração. 13. Rebelião contra a
autoridade.
6. Caprichos.
14. Egocentrismo.
7. Inconsistência.
15. Irresponsabilidade.
8. Inconstância.
16. Passividade.
9. Dependências emocionais.

Fatores socioculturais também influenciaram sobremaneira o desenvolvimento do perfil


psicológico da criança rei. O machismo, a superproteção materna, os papéis tradicionais de
gênero na família mexicana, a submissão das mulheres, etc., foram fatores que muito
contribuíram para a configuração desse tipo de alcoólatra psicologicamente fraco, mas que
exerce uma dominação baseada na força física ou no poder econômico.
Nas casas do rei criança, geralmente a esposa ou mãe é psicologicamente forte. Para o rei
criança a mãe e a esposa são a mesma coisa, e esse tipo de pessoa está sempre
procurando uma esposa com características muito maternas e que nada mais é do que a
continuação de sua mãe. O rei menino domina sua esposa, mas ao mesmo tempo
depende muito dela. O rei criança não pode viver sem sua esposa-mãe e, embora ele
geralmente a engane, agrida e humilhe, ele não pode tolerar que ela o abandone ou o
ignore. Erich Fromm em sua Sociopsicanálise do camponês mexicano descreve essa
dinâmica na família do camponês mexicano; Ele chama isso de patriarcado solapado,
porque aquele núcleo familiar onde o homem aparentemente domina, o verdadeiramente
forte é a mulher (mãe ou esposa), então Fromm o descreveu como "um matriarcado
disfarçado de patriarcado".
Irresponsabilidade, inconsistência e inconstância são outras características típicas do perfil
psicológico do rei criança. São indivíduos que têm dificuldade em assumir
responsabilidades e tendem a fugir delas constantemente. São inconstantes e
inconsistentes porque não terminam o que começam. Às vezes eles se empolgam com um
projeto, começam com muito entusiasmo e logo ficam entediados e o abandonam. Este
tipo de pessoas são impulsos curtos, porque têm dificuldade em manter uma disciplina que
implique perseverança. Ser irresponsável os torna atentos. Em muitas famílias de filhos do
rei, quem carrega o maior fardo econômico é a esposa. Em outros casos, são os pais ou
irmãos que os apoiam.
Obviamente, o rei criança fica muito chateado quando regras ou limitações lhe são
impostas. São indivíduos caprichosos, cuja intolerância à frustração os incapacita de adiar
satisfações. Quase sempre saem impunes por caprichos, chantagem sentimental ou
manipulação. São indivíduos egoístas, narcisistas e egocêntricos. Isso é consequência de
um mecanismo de supercompensação aos seus complexos de inferioridade. Eles querem
atrair a atenção, ser o centro da atração. Gostam de estar "nos casamentos a noiva e nos
funerais os mortos". Estão sempre atentos às suas próprias necessidades, mas pouco se
importam com os sentimentos ou necessidades dos outros. Isso causa decepção e
ressentimento nas pessoas romanticamente envolvidas com eles.

Muitos alcoólatras que pararam de beber, que são membros de AA e que já completaram
vários aniversários sem recair no álcool, persistem manifestando essas características de
personalidade. É evidente que essas pessoas sofrem de uma Síndrome da Embriaguez
Seca, pois apesar da abstinência alcoólica não têm trabalhado seu crescimento emocional
e isso as expõe a uma recaída ou a levar uma vida muito pobre emocionalmente, com
problemas familiares crescentes e insatisfação permanente. Um número significativo de
casamentos alcoólicos se divorcia após um período prolongado de abstinência do
alcoólatra. Essa situação aparentemente contraditória nada mais é do que a expressão da
decepção e desencanto da esposa, que esperava uma mudança mais satisfatória no
alcoólatra e não apenas uma abstinência medíocre.
Por meio de um trabalho psicoterapêutico consistente, pode-se alcançar um melhor
autoconhecimento e autoaceitação que leva a um conhecimento mais objetivo de quais
áreas da vida requerem mudanças. Esse trabalho pode ser desenvolvido em alguns casos,
por meio do programa de 12 passos, mas em outros casos de neuroses mais graves o
apoio de grupos de autoajuda não é suficiente e deve-se recorrer à psicoterapia
profissional.
Capítulo 4
Sintoma número 2
Mestres da desculpa e campeões do pretexto
Atitude permanente de desonestidade para consigo mesmo e para com os outros

O grande problema com a mentalidade do alcoólatra é que a mentira e a desonestidade


foram usadas por tanto tempo para justificar seu comportamento aditivo que foi
condicionada à sua mente como um mecanismo automático que ele tem dificuldade em
lidar na fase de recuperação.
No processo de recuperação do alcoólatra (e do dependente em geral) um dos elementos
que mais custa trabalho para conseguir para quem está se reabilitando, é recuperar a
confiança dos outros. De fato, um dos principais objetivos na reabilitação de dependentes
químicos é recuperar a confiança dos outros, especialmente de seus entes queridos.
E é que em geral alcoólatras e viciados em outras drogas tornam-se mentirosos
consumados, profissionais do engano, da mentira ou, na melhor das hipóteses, da meia-
verdade como instrumento para obter a droga, disfarçar seus efeitos ou justificar o
abandono sistemático das responsabilidades que geram a dependência de álcool e drogas.
A mais perigosa das ferramentas psicológicas do viciado é a língua. O alcoólatra torna-se
um falante profissional. Sua insegurança e seus complexos de inferioridade o levam a
desenvolver fantasias compensatórias sobre si mesmo e sua vida, fantasias que se tornam
mentiras e que ele acaba acreditando em si mesmo. Sorda S., alcoólatra recuperada com
seis anos militando nos grupos AA, disse que sempre teve vergonha da família, por ser de
condição humilde. Quando ela conheceu seu namorado, que era de uma posição social e
econômica mais elevada, ele sempre mentiu para ela sobre sua família, dizendo-lhe que
ele morava nos Estados Unidos e que ela morava com parentes. Toda vez que tinha que
responder a uma pergunta que o namorado lhe fazia sobre sua família, ela respondia com
mentiras, mentiras que tinham que ser respaldadas por outras mentiras, até tecer uma teia
de engano em que ela mesma acabou presa, pois quando decidiram formalizar os
preparativos para o casamento toda a verdade foi descoberta. Tamanha foi a decepção do
noivo com a atitude desonesta dela que ele cancelou o casamento. Essa situação
determinou que Sonia desenvolvesse seu alcoolismo, do qual se recuperou felizmente, e
agora tem como princípio fundamental de sua recuperação sempre dizer a verdade, não
importa o que aconteça.
No entanto, muitos alcoólicos e viciados em recuperação continuam a ser donos de
desculpas e campeões de pretextos, continuam a fazer promessas que não cumprem,
presumem o que não têm, manipulam os outros para obter lucro, chantagem para controlar
os outros, traem seus cônjuges, Traem, praticam corrupção, tomam emprestado e não
pagam, vendem quilos de 800 gramas, dizem que estão solteiros sendo casados, não
respeitam seus compromissos, são convenientes e acomodados, não respeitam a lei ou os
regulamentos, não são sinceros, dizem uma coisa e fazem outra, e não conseguem
recuperar a confiança dos outros, especialmente a de seus entes queridos mais próximos.
Esses alcoólatras em recuperação são bêbados secos que não conseguiram superar sua
desonestidade. Esses bêbados secos gostam que lhes digam que mentiram muito no
passado, mas odeiam que lhes digam que continuam mentindo mesmo que não bebam
mais.
Essa incapacidade de superar a desonestidade nada mais é do que um sintoma de
imaturidade. Como diz Ann Landers, "Maturidade significa confiabilidade; Mantenha sua
palavra, supere a crise. Os imaturos são donos da desculpa, são os confusos e
desorganizados, suas vidas são uma mistura de promessas não cumpridas, amigos
perdidos, negócios inacabados e boas intenções que nunca se tornam realidade." Ou
como diz Patrón Lujan: "Ser homem é ter vergonha, ter pena de zombar de uma mulher,
abusar dos fracos ou mentir aos ingênuos".

Do engano ao autoengano
Além da imaturidade, outro mecanismo psicológico que determina a desonestidade é a
negação. O viciado é um negacionista por natureza. Ele não aceita sua realidade, nem sua
realidade alcoólica, nem sua realidade não alcoólica. Isso pode estar na raiz de sua
tendência à desonestidade.
"O engano dos outros está quase sempre enraizado no engano de nós mesmos", afirma o
Grapevine de agosto de 1961. O alcoólatra é uma pessoa que vive permanentemente
autoenganada, como resultado da não aceitação de sua realidade e isso o leva a
desenvolver o mau hábito de enganar os outros. Mas por acreditar em suas próprias
mentiras, às vezes se sente vitimado pelos outros porque eles não acreditam ou confiam
nele.
Outra forma de desonestidade é a projeção. Projetar-se é ver nos outros, nossos próprios
defeitos, fraquezas e desvios. Quando no processo de recuperação do alcoolismo ou da
drogadição pensamos mais nos defeitos alheios do que nos nossos, estamos caindo em
um mecanismo de evasão da nossa própria realidade que nada mais é do que uma forma
de desonestidade para consigo mesmo. Bill W. Em uma de suas cartas (1966), ele se
refere a essa forma de desonestidade da seguinte forma: "Esta é uma forma sutil e
perversa de autossatisfação que nos permite permanecer confortavelmente inconscientes
de nossas deficiências".
Outro mecanismo psicológico de defesa que faz do alcoólatra o rei do pretexto é a
racionalização. O alcoolista e o drogado sempre racionalizaram sua necessidade
compulsiva de álcool e drogas, tentando justificar com pretextos por que consumiam. Uma
vez que abandonam o álcool ou as drogas, continuam a racionalizar em torno de sua
realidade não alcoólica. Eles racionalizam suas atitudes desonestas em casa ou no
trabalho. Eles sempre encontram um pretexto para justificar por que não cumpriram uma
promessa ou não terminaram um projeto. Já não bebem, já não usam drogas, mas
continuam a falhar, continuam a falhar, continuam a sabotar o sucesso... E eles sempre
encontram uma desculpa para se safar e não aceitar sua verdadeira realidade.
Precisamente como e quando dizemos a verdade – ou permanecemos em silêncio –
muitas vezes pode representar a diferença entre a verdadeira integridade e a completa
falta dela.
Complementamos essa ideia com o que lemos na página 68 do grande livro dos AA: "Mais
do que a maioria das pessoas, o alcoólatra leva uma vida dupla, ele tem muito ator. Para o
mundo exterior, ele desempenha seu papel como ator. Este é o único que ele gosta que
seus semelhantes vejam. Ele quer gozar de uma certa reputação, mas sabe no fundo do
seu ser que não a merece."

Honestidade absoluta?
Tudo isso não significa que a única maneira de não sofrer com uma embriaguez seca é
praticar uma honestidade férrea, absoluta e fundamentalista. Só Deus pode saber
perfeitamente o que é honestidade absoluta, portanto, cada um de nós tem que formar
uma ideia do que esse magnífico ideal pode ser de acordo com sua própria capacidade.
Em outra de suas cartas (1966) Bill W. Ele afirma: "Falíveis como somos e que todos
seremos na vida, seria presunçoso acreditar que poderíamos realmente alcançar a
honestidade absoluta. O melhor que podemos fazer é nos esforçar para melhorar a
qualidade de nossa honestidade."
Essa é uma característica da sobriedade, que é o equilíbrio. No aprimoramento pessoal do
alcoólatra em recuperação, o perfeccionismo e o fundamentalismo devem ser evitados. A
honestidade absoluta é, como mencionado acima, uma qualidade exclusiva de Deus.

Algumas perguntas que vão me ajudar a saber se sou honesto


Cada um sabe dentro de si se está agindo com integridade na vida, se é congruente entre
o que pensa, o que diz e o que faz, e se, na realidade, exerce a verdade como ferramenta
fundamental de sua existência ou frequentemente recorre à mentira como forma de hábito
existencial.
No entanto, a mente do alcoólatra é traiçoeira e recorre ao autoengano, então muitos
alcoólatras em recuperação acreditam que são muito honestos quando, na verdade, não
são tão honestos. Essas cinco perguntas ajudarão o alcoólatra em recuperação a ter mais
certeza sobre se seu comportamento é honesto.
1. Sou honesto comigo mesmo sobre minhas motivações?
Aqui a resposta correta é obviamente sim. No entanto, muitos alcoólatras em recuperação
muitas vezes se enganam sobre a autenticidade de suas motivações: o membro do grupo
AA que demonstra um interesse incomum em ajudar a nova parceira que acabou de
chegar, mas cuja motivação é realmente seduzi-la; Ou aquele que frequenta suas reuniões
todos os dias e fica horas conversando com os colegas após a sessão, mas cuja real
motivação é fugir dos problemas que tem com a esposa.
2. Tento encontrar desculpas para justificar minhas falhas?
A resposta correta é não. Não procuro desculpas, mas aceito meus defeitos e tento
superá-los. O bêbado seco pratica perfeitamente o livro de ouro dos pretextos. Nunca se
responsabiliza por suas falhas ou defeitos. Ele sempre encontra um culpado: "Atrasei
porque tinha muito trânsito", "não fui trabalhar porque minha avó ficou doente", "falhei por
causa do professor", "não tenho dinheiro por causa do governo", e por aí vai.
3. Tento não contar mentiras, mesmo que pequenas?
Aqui você deve responder Sim. Tento nunca mentir, ou mesmo contar mentiras brancas. A
maioria dos dependentes em recuperação continua contando mentiras, principalmente as
pequenas, pois já trazem o condicionamento para mentir que adquiriram em sua fase de
alcoolismo ativo. Muitos acham que não importa contar pequenas mentiras ou mentiras
brancas. Alguns preferem meias-verdades. Não podemos esquecer que meias-verdades
são meias mentiras e, portanto, uma forma de desonestidade.
4. Posso ser íntegro com os outros dizendo-lhes quem eu sou?
A resposta correta é sim. Não tenho vergonha de dizer aos outros quem sou e que doença
sofro. Muitos alcoólatras, presumivelmente em recuperação, continuam a negar-se a si
mesmos porque estão tão arrependidos que os outros descobrirão quem são. Negam sua
origem, sua situação social e econômica, sua doença, suas fragilidades e tornam-se atores
que estão desempenhando um papel de cuidar de sua imagem perante os outros, o que os
impede de serem autênticos, consequentemente, não são sinceros e mentem com
frequência.
5. Tenho o cuidado de não ser hostil ou mau sob o manto da honestidade?
A resposta aqui também deve ser sim. Muitos alcoólatras em recuperação de longa data
que ganharam algum prestígio com seus pares muitas vezes caem na tentação do poder
ou prestígio e querem controlar ou manipular colegas menos seniores. Muitas vezes
sentem inveja, ressentimento ou antipatia e depois os atacam ou demonizam
argumentando que estão fazendo isso para o seu bem. Esse tipo de atitude é
frequentemente adotada contra seus entes queridos, amigos ou colegas de trabalho.
Desenvolver o hábito da sinceridade, honestidade e honestidade é um dos objetivos
fundamentais em quem aspira alcançar a sobriedade. Isso requer muita disciplina, auto-
observação e auto-vigilância. Ser autêntico, integral e coerente entre o que se pensa, o
que se diz e o que se faz implica desenvolver de forma satisfatória a virtude da
honestidade.
Terminamos com o pensamento de Confúcio: "O homem honesto é aquele que subordina
o seu direito ao seu dever".
Capítulo 5
Sintoma número 3
O Escorpião Amargo
Amargura e insatisfação existencial devido à persistência de ressentimentos

O ressentido vaga pelo mundo como escorpiões, derramando seu veneno e quando seu
ferrão falha em sua tentativa de atacar, ele se pica.
O escorpião, também chamado de escorpião, é um aracnídeo noturno que passa o dia
escondido sob as pedras e à noite vai caçar. Sua característica mais marcante é o ferrão
em que termina sua cauda. Este ferrão é fornecido com uma glândula venenosa e cada
vez que pica injeta seu veneno em suas vítimas. Diz-se que quando o escorpião não
consegue picar sua vítima, ele gruda seu ferrão venenoso em si mesmo e pode causar sua
própria morte.
Às vezes, os seres humanos e, especialmente, os viciados em recuperação, que não
tiveram a possibilidade de se libertar de seus ressentimentos, comportam-se de maneira
semelhante a esses aracnídeos e, embora estejam em abstinência de álcool ou livres de
drogas, a persistência de seus ressentimentos faz com que caiam em uma amargura
existencial crônica que os impede de alcançar o estado de sobriedade. Este é outro tipo de
bêbado seco que chamamos de escorpião amargo.
O ressentimento é um sentimento natural. Todos nós já sentimos isso. De fato, às vezes o
ressentimento (administrado positivamente) pode ser útil, por exemplo, quando faz com
que uma pessoa se levante e aja positivamente; No entanto, é comum que alcoólatras e
dependentes lidem com o ressentimento de forma negativa, o que piora sua situação.
O ressentimento é um veneno que se acumula na mente. Esta glândula mental cheia de
veneno é chamada de amargura. O amargo ressentimento vagueia escondido sob a
maldade e camuflado de sarcasmo; Ele ataca com seu veneno qualquer um que se
aproxime dele e quando sua lanceta não consegue acertar o alvo, ele se pica causando
sua lenta autodestruição.
O alcoólatra (e o viciado em geral), quando inicia seu processo de recuperação, enfrenta
dois sérios problemas de insanidade mental: culpa e ressentimento, ambos são
sentimentos disruptivos que mostram que a pessoa em recuperação não conseguiu se
libertar do passado. Ele não alcançou sua verdadeira libertação. Ele ainda está preso pelos
fantasmas de ontem que o impedem de um manejo correto e adequado do presente. É o
alcoólatra em recuperação que deixou de perdoar a si mesmo (culpa) ou perdoar aos
outros (ressentimento).
A falha será o motivo de uma análise posterior em seu turno correspondente dentro dos 12
sintomas de embriaguez seca. Nesta seção analisaremos um dos mais frequentes e que
com mais tenacidade impedem o verdadeiro crescimento do dependente em recuperação,
a persistência de ressentimentos.
O ressentimento acumulado é um abscesso que se infecta e se transforma em amargura.
Há muitos alcoólatras e toxicodependentes que, embora já não bebam nem usem drogas,
continuam ressentidos. Ressentido com a vida, com os pais, com os irmãos, com a ex-
namorada, com o cônjuge, com um amigo ou com o patrão. E embora permaneçam
abstêmios, o ressentimento persistente impediu aquela libertação que lhes permitiria
desfrutar de todas as coisas agradáveis da vida que geram serenidade e realização. Em
outras palavras, o ressentimento causa amargura e a amargura impede a plenitude da
vida.
Ressentimento significa sentir novamente. O ressentido fica preso naquele sofrimento
psicológico que causa ressentimento. O ressentido ainda sente aquela sensação
desagradável, porque de alguma forma ela permanece acorrentada à memória. Ele está
preso. Ele não consegue sair.
O ressentido está ancorado no passado. A situação que gerou o ressentimento fica
armazenada em sua memória emocional e toda vez que vive situações semelhantes em
sua inter-relação com outras pessoas sente (ressentimento) a dor psicológica da primeira
experiência, repetindo o que aconteceu repetidamente em sua mente. Ao repetir isso por
muito tempo, o ressentimento se alimenta e o resultado é que o ressentido fica envolto em
autopiedade.
Isso faz com que o ressentimento se torne a força motriz de suas vidas; Claro, uma força
propulsora muito negativa que transforma o ressentido naquele escorpião que envenena
todos que se aproximam dele e que finalmente acaba destruído por seu próprio veneno.
Há pessoas ressentidas famosas na história que fizeram de seu ressentimento a força
motriz de suas vidas. É o caso de Adolf Hitler, que com seu ressentimento em relação aos
judeus desencadeou o holocausto; ou o recente caso do terrorista Osama Bin Laden, que
causou tanta destruição com seu rancor contra os americanos. Quando você se encontra
ocupado sofrendo algo ou alguém, esse alguém ou algo está controlando sua vida. Seu
ressentimento ocupa todo o seu tempo e energia e não deixa espaço para o
desenvolvimento de sua saúde mental e espiritual.
"O ressentimento é o ofensor número um. Destrói mais alcoólicos do que qualquer outra
coisa, disso derivam todas as formas de doença espiritual. (AA Big Book, pág. 60).
"É evidente que uma vida em que há ressentimentos profundos só leva à futilidade e à
infelicidade. Na medida exata em que permitimos que isso aconteça, perdemos mais horas
que poderiam ter valido a pena." (AA Grande Livro, pág. 62)

Contra quem você guarda ressentimentos?


Pode-se estar ressentido com as pessoas, que podem ser membros da família ou
indivíduos fora dela. Podemos ter ressentimentos muito antigos ou mais atuais, por
pessoas vivas ou com quem já morreram.
O ressentimento pode ser dirigido às instituições: o governo, a polícia, as escolas, a Igreja,
as corporações transnacionais, os militares e assim por diante.
Você também pode se ressentir contra certos princípios: leis, códigos morais, os Dez
Mandamentos, as regras da moda, regulamentos de trânsito, obrigações fiscais, entre
outros.
Identificar ressentimentos é importante, por isso recomenda-se que todos os viciados em
recuperação façam uma lista das pessoas, instituições e princípios que se ressentem com
eles.

Causas do ressentimento
Uma vez elaborada essa lista de pessoas, instituições e princípios com os quais se
ressente é elaborada, é preciso refletir sobre cada um deles e analisar qual foi a causa do
ressentimento. Em muitos casos, as raízes do ressentimento são inconscientes, e certos
mecanismos de defesa psicológica impedem que a pessoa alcance as verdadeiras causas,
por isso, nesses casos, a ajuda de um psicoterapeuta profissional é necessária para ajudar
a esclarecer os verdadeiros motivos. Em outros casos, uma simples reflexão ou trabalhar o
quarto e quinto passos com os pares do grupo pode saber a causa dessa dor psicológica.
Por exemplo, Oscar F., alcoólatra em reabilitação, mencionou em sua história que sentia
um grande ressentimento em relação aos pais e ao irmão mais novo, pois quando nasceu,
isso o afastou de sua posição de filho mimado, o que afetou sua autoestima; mais tarde, o
irmão mais novo teve mais sorte nos estudos e com as mulheres e isso aguçou os
complexos e o ressentimento (ressentimento contra as pessoas) de Oscar.
Afonso P. Ele mencionou sentir-se muito ressentido com a polícia, porque em uma ocasião
eles o acusaram injustamente, ridicularizaram e ameaçaram prendê-lo, então ele teve que
dar dinheiro para libertá-lo. Como resultado dessa experiência, Afonso não só odeia a
polícia, mas qualquer um que represente autoridade (ressentimento contra as instituições).
Alicia Z., uma comedora compulsiva de excessos, e com muitos sentimentos de deficiência
e baixa autoestima por ser obesa, sentia uma grande animosidade contra as regras da
moda, culto ao corpo esguio ou roupas femininas que exaltavam a figura magra. Inclusive
sentia antipatia por atrizes ou cantoras de moda que eram admiradas por seu bom corpo
(ressentimento contra princípios).
Aquele que se ressente de instituições ou princípios assedia as pessoas que os
representam ou simbolizam ou simplesmente os associa a tais instituições ou princípios.
Refletir sobre os ressentimentos, falar sobre eles, analisá-los, associá-los a outros
fenômenos emocionais e investigar suas possíveis causas, nos permitirá descobrir muitos
fatores irracionais que giram em torno deles. Este é um bom começo para começar a
superá-los.

O que afeta meu ressentimento?


O ressentimento nada mais é do que uma forma de raiva, pois algo ou alguém está
ameaçando as necessidades instintivas de pertencimento e aceitação social (autoestima,
orgulho e relações interpessoais positivas), segurança (emocional e material), relações
sexuais, bem como ambições em geral (sexo, poder e prestígio).
É muito importante que aquele que trabalha seus ressentimentos consiga se conectar com
quem está ressentido, com a causa do ressentimento e com as necessidades instintivas
que são ameaçadas pela causa do ressentimento.
Por exemplo, no caso de Oscar F., ele se sentia ressentido com seu irmão mais novo
porque seus pais o relegavam (pelo menos, essa é sua experiência subjetiva). Sentindo-se
rejeitado e carente de afeto, ele também sentiu suas necessidades instintivas de
autoestima, orgulho e relacionamentos pessoais positivos seriamente ameaçadas.
Lidar mal com o ressentimento
Em geral, a pessoa ressentida lida inadequadamente com seus sentimentos hostis e quase
sempre essa má gestão leva a um agravamento da situação.
O exemplo de Óscar F., ressentido com os pais e o irmão mais novo, é uma história que se
repete em casos semelhantes: o ressentido reage com arrogância atacando o irmão e
assumindo uma atitude de raiva e rebeldia para com os pais, sem ter a possibilidade de
comunicar a verdadeira causa da sua raiva. Ele sempre usa o jogo do "adivinha por que
estou com raiva". Seu comportamento torna-se desafiador e rebelde. Começar a beber
excessivamente ou usar drogas faz parte desse jogo, e certamente o início do seu
alcoolismo e dependência de drogas (o escorpião se automutilando). Isso causará uma
relação muito conflituosa entre a pessoa ressentida e sua família (seus pais e seu irmão).
No caso de Óscar, essa relação ruim foi crescendo a ponto de ele abandonar a família e
não querer saber mais sobre ela. Oscar caiu no alcoolismo severo quando se sentiu
expulso de sua família e rejeitado pela sociedade (um quadro típico de autopiedade), até
chegar ao fundo do poço e se juntar a um grupo AA. Depois de conseguir um ano de
abstinência, trabalhou seriamente no quarto e quinto passos. Com a ajuda de seu padrinho
e de um psiquiatra especializado em vícios, ele conseguiu descobrir a causa de seus
ressentimentos. Hoje ele voltou para a família e a relação com o irmão mais novo melhorou
muito favoravelmente e eles até se associaram em um negócio de autopeças de sucesso.
Óscar confessa que, ao falar com a família sobre os seus ressentimentos ancestrais, sentiu
que estava a libertar-se de um grande peso na sua existência.
Por isso é importante que, além de analisar de quem estou ressentido, a causa do
ressentimento e quais necessidades instintivas estão ameaçadas, analisemos também o
que foi feito para ajudar a causar ou piorar a situação. Há quatro possibilidades: você pode
ser egoísta, desonesto, medroso ou desatencioso, ou às vezes uma mistura de duas ou
mais dessas características.
Se você for honesto, verá que na maioria dos casos houve, pelo menos parcialmente, um
grau de culpabilidade na situação que provocou o ressentimento (exceto em casos de
abuso). Quase sempre os ressentidos, depois de analisar objetivamente todos os fatores
causais, descobrirão que nenhum de seus ressentimentos era verdadeiro. Eles
simplesmente transferiram sua culpa para outras pessoas, instituições ou princípios.
Um dos fatores que mais frequentemente geram a Síndrome da Embriaguez Seca é a
persistência de ressentimentos. E não é fácil superar ressentimentos se você não trabalhar
esses conflitos psicológicos com outras pessoas com determinação, mente aberta,
honestidade, comunicação, perseverança e humildade.
Capítulo 6
Sintoma número 4
Velejando com uma bandeira culpada
Sentimento permanente de culpa com autodesvalorização,
handicap e tendência à autopunição

O viciado foi apontado, acusado, humilhado e envergonhado de forma tão constante e


intensa que desenvolveu um reflexo condicionado em torno da culpa. Mas o mais terrível
do caso é que seu acusador mais implacável acaba sendo ele mesmo.
Sabe-se que o alcoolismo e a drogadição têm sido considerados um grave problema moral.
Um vice. Até hoje, muitas pessoas, incluindo médicos, padres e professores, ainda pensam
que quem desenvolve algum tipo de vício é uma pessoa cruel que tem que ser
estigmatizada e expulsa pela sociedade. O termo "Você já pegou o vício" ainda é usado
para se referir ao desenvolvimento de um vício em qualquer substância viciante. Lembre-
se dos termos que os pais usam para se dirigir aos filhos que foram pegos usando drogas:
"Você é um viciado!", "Um degenerado!", "Você não é digno de carregar nosso
sobrenome!" E sabe-se lá quantas outras coisas. Ou como se expressam os parentes dos
alcoólatras: "Você é um bêbado sujo e miserável!", "Você é um pobre diabo!", "Você é um
medíocre bom para nada!"
A culpa gera vergonha. Alcoólatras e outros viciados em drogas sempre giraram em torno
da culpa e da vergonha. Os viciados são objeto de vergonha alheia. A família do alcoólatra
tem vergonha dele. O problema não é discutido em público, mas em privado ele é agredido
e humilhado. Os filhos do alcoólatra não querem levar os amigos para casa porque têm
vergonha do pai. Pais de usuários de drogas ilícitas não querem falar sobre o problema e
isso se torna um segredo e um tabu. Os próprios viciados não querem aceitar que têm um
problema, porque aceitá-lo seria reconhecer que têm um vício horrível. Ou seja, o
alcoólatra e o drogado têm vergonha de si mesmos.
Um grande número de comportamentos que alcoolistas ou dependentes manifestam
durante sua fase de atividade geram culpa e vergonha:
insultos à esposa, agressão aos filhos; acidente de carro onde houve ferimentos e também
custou muito dinheiro; O emprego que foi perdido, as dívidas, o engano, as mentiras
descobertas, a expulsão da escola, a detenção na cadeia por posse de drogas, e assim por
diante.
Tudo isso faz com que o viciado se descredibilize. Está adquirindo uma má reputação.
Ninguém confia nele. Esse descrédito, essa desconfiança, essa permanente
estigmatização familiar e social está criando nele um intenso e permanente sentimento de
culpa e vergonha que se torna um fardo que a cada dia pesa mais em sua consciência.
E embora, em termos gerais, o alcoolista e o toxicodependente sejam rebeldes e
subversivos às normas sociais e, aparentemente, rejeitem as acusações e condenações
dos outros e, mesmo por vezes, assumam atitudes de cinismo e impudência, no fundo são
os que mais se condenam. os que mais se rejeitam e se odeiam e os que têm mais
neuróticos precisam se punir.
A sabotagem do sucesso e o "eu não mereço"
Um membro de AA repetiu em sua catarse tribuna repetidamente: "O físico cru é o que
menos dói, mas a moral grosseira é um sofrimento insuportável, é um tormento intolerável
que faz você se odiar mais, que você gradualmente perde sua autoestima e que você se
sente o pior dos humanos, o mais detestável. Você sente algo pior do que lixo, um cuspe
detestável."
A culpa gera vergonha, a vergonha causa autodesvalorização e desvantagem, o que dá
origem a um sentimento de auto-rejeição e ódio a si mesmo que produz uma necessidade
neurótica de expiação.
Quando o alcoólatra ou drogado se derrota e toma a decisão de se abster e entra em um
grupo de autoajuda ou vai a um profissional, ele chega com aquele peso terrível de culpa,
vergonha, ódio e rejeição em relação a si mesmo, que o impedirá de alcançar a
sobriedade. Por essa razão, o sentimento permanente de culpa, a autodesvalorização, a
desvantagem e a tendência à autopunição são um dos principais e mais frequentes
sintomas geradores de embriaguez seca.
Como se manifesta a necessidade neurótica de expiação? A resposta pode ser dada com
dois termos: a sabotagem do sucesso e "eu não mereço".
Como o sentimento de culpa tornou-se um reflexo condicionado diante de qualquer
comportamento que se desenvolva, o dependente navega pela vida com a bandeira da
culpa. E embora ele conscientemente queira se recuperar e queira ter sucesso em todas
as áreas de sua vida, ele inconscientemente sabota seu triunfo, porque a necessidade
neurótica de expiação implica a convicção oculta de que ele não merece sucesso ou
felicidade, que a melhor maneira de punir todas as suas falhas é falhar em suas tentativas
de superar e preservar uma condição permanente de perdedor até ser purificado de seus
pecados.
O mais terrível é que muitos alcoólatras ou dependentes químicos que conseguem a
abstinência prolongada são perdoados por seus entes queridos, por seus amigos, por seu
chefe, por seus colegas de trabalho, por seu parceiro. É claro que eles também são
perdoados por Deus (ou Seu Poder Superior), porque eles mesmos em suas orações
pediram por isso. Mas não conseguiram perdoar-se, porque para a sentença o juiz mais
implacável do viciado é o próprio viciado, e para a punição o carrasco mais implacável do
viciado é também o próprio viciado.
Na ausência de autoperdão é impossível alcançar a sobriedade. Enquanto ele não abrir
mão do peso da culpa, o viciado em recuperação não será capaz de seguir em frente na
vida. Continua preso ao passado, amarrado aos seus defeitos, continua a sentir-se
envergonhado e menos do que os outros e tudo isso o impedirá de ter sucesso na vida:
será um formidável obstáculo para que ele atinja os objetivos pelos quais decidiu
abandonar o álcool e/ou as drogas e permanecerá em estado de mediocridade e
estagnação permanente.
Culpa, ressentimento, amargura, depressão e baixa autoestima
A culpa está intimamente ligada ao ressentimento. A maioria daqueles que não
conseguiram se libertar de seus ressentimentos também não conseguiram se libertar da
culpa. Os culpados e os ressentidos não se perdoam, nem perdoaram. Portanto, a fórmula
mais recomendada para superar esses dois sentimentos indesejáveis é: Perdoe-se e
perdoe-se.
Outras emoções indesejáveis que a culpa gera são a amargura existencial e a depressão.
Em seu medo permanente do triunfo, o viciado se sabota, o que leva a contínuos fracassos
existenciais, e como essa sabotagem do sucesso opera a partir do inconsciente, o viciado
em recuperação começa a procurar culpados fora dele e, portanto, sente-se vitimado e
ressente-se dos outros; Isso o leva não apenas a reforçar seus ressentimentos e
intensificar seu papel de vítima, mas também a se afogar na amargura existencial. Toda
essa situação, quando se torna crônica, faz com que ele caia em uma depressão que
tende a exacerbar a culpa. Não se esqueça que um dos sintomas da depressão é uma
percepção distorcida e exagerada de certos atos que geram um sentimento
desproporcional de culpa. A depressão causa apatia e estagnação, aumenta a insegurança
e a baixa autoestima e o dependente em recuperação cai em um ciclo vicioso que é culpa-
vergonha-autodesvalorização-necessidade neurótica de expiação, amargura-depressão-
apatia e imobilidade-fracasso-mais culpa.
Algumas perguntas para evitar culpas injustificadas
Já vimos como a culpa aumenta a baixa autoestima. Se o dependente já se sentia menos
que os outros antes de começar a usar álcool ou drogas e durante seu vício essa baixa
autoestima aumentou, quando ele parou de beber e/ou drogas, o dependente deve tomar a
determinação de se libertar de sua culpa. Como isso é alcançado? "Adquirir um conceito
mais forte e positivo de nós mesmos e mantê-lo além de nossa experiência ou falta dela
em qualquer reino particular, e além da aprovação ou desaprovação de qualquer outra
pessoa" (Nathaniel Branden: How to Improve Your Self-Esteem, Paidós, 1995).
E é que culpados, com baixa autoestima, costumam ser muito rigorosos quando fazem um
julgamento em relação aos comportamentos que geram culpa (viciados em geral são
perfeccionistas). Para evitar esse mau julgamento, a pessoa deve avaliar seu
comportamento da forma mais objetiva possível, ser tolerante, compreensiva e
benevolente consigo mesma para evitar um veredicto injusto, que a leve a se condenar e,
consequentemente, à autopunição.
O já citado Branden sugere que a pessoa avalie objetivamente seu comportamento com
base nas seguintes questões:
1. Por quais padrões você julga sua conduta: sua ou de outra pessoa?
2. Você está tentando entender por que agiu da maneira que agiu?
3. Você considera as circunstâncias, o contexto, as opções que você percebeu que
estavam disponíveis para você na época?
4. Você avalia seu comportamento como se fosse de outra pessoa?
5. Você identifica as áreas ou circunstâncias específicas em que seu comportamento
ocorre, ou generaliza demais e diz "eu ignoro" quando, na verdade, você ignora um
tópico específico, mas conhece bem muitas outras questões?
6. Ou ele diz: "Eu sou fraco", quando na verdade pode faltar coragem ou força em uma
esfera específica, mas não em outras?
7. Se ele se arrepende de suas ações, tenta aprender com elas, para que em sua
conduta futura não repita os mesmos erros?
8. Ou ele simplesmente sofre com o passado e permanece passivamente preso a
padrões de comportamento que ele sabe que são inadequados?

Preciso da aprovação dos outros


Um elemento típico no perfil psicológico do alcoolista e dependente químico é a
necessidade neurótica de obter a aprovação dos outros. Sua insegurança e baixa
valorização de si mesmos os tornam pessoas passivas que estão sempre pensando: O que
os outros esperam de mim? Eles não têm metas próprias ou um plano de vida pessoal.
Eles sempre esperam que os outros decidam seu comportamento. Eles não acreditam em
si mesmos. Essa é uma das razões fundamentais pelas quais eles caem no alcoolismo ou
na dependência de drogas. Na história da maioria dos viciados, na primeira vez que
usaram tabaco, álcool ou drogas na adolescência eles não decidiram fazer por si mesmos,
mas alguém os induziu a fazê-lo. A motivação para esse primeiro consumo é a aceitação
dos outros, pertencer a um grupo, não ficar isolado da maioria dominante. Nesse contexto
ambiental fica claro compreender que as primeiras experiências com tais substâncias
aditivas foram consequência da expectativa: O que os outros esperam de mim? E a
resposta: os outros esperam que você faça o que eles fazem, que mostre submissão ao
grupo, que você não tenha suas próprias ideias diferentes das deles, que você aceite
incondicionalmente todos os testes que eles colocam em você (termine uma garrafa de
tequila até ficar bêbado, ou experimente a nova droga que você nunca consumiu, etc.).
Em troca disso, você será aceito pelos outros e satisfará sua necessidade de
pertencimento.
Podemos qualificar o dependente como dependente ambiental. Isso significa que ele
depende muito das expectativas que existem no ambiente onde ele se move. É por isso
que é tão difícil para ele dizer não. Muitos alcoólatras falham em suas promessas de parar
de beber porque não conseguem conceber ter que dizer não quando convidados para uma
bebida em uma refeição ou festa.
O que isso tem a ver com culpa? Muito porque a culpa tem a ver com a desaprovação ou
condenação alheia, de personagens muito influentes como pais, professores, amigos ou
cônjuges. Quando uma pessoa insegura não faz o que os outros esperam dela, ela
experimenta culpa. Na realidade, mais do que culpa, ele tem medo de ser repudiado, de
não ser aceito pelos outros e isso constitui uma grande ameaça à sua segurança.
Quando o dependente decide parar sua droga favorita e alcança a abstinência, mas sua
necessidade neurótica de ser aprovado pelos outros persiste, isso determina um
impedimento para a conquista da sobriedade. O que acontece com o dependente em
recuperação que continua sendo um dependente ambiental é que ele troca uma autoridade
por outra. Por exemplo, quando ele era ativo em álcool ou drogas, a autoridade era
constituída por seu grupo de amigos que o influenciavam. Agora que ele está em
recuperação, a autoridade pode ser seu grupo AA ou seu terapeuta e ele pode fazer o que
lhe é dito, mas não por convicção, mas para obter a aprovação de sua nova autoridade.
Portanto, muitos membros de AA que sofrem de embriaguez seca mudam sua
dependência da droga para uma dependência neurótica do grupo ou muitos mais se
tornam dependentes de seu terapeuta e desenvolvem a necessidade de que ele decida por
eles.
Aqui, o problema subjacente, repetindo as palavras de Nathaniel Branden, "é a
dependência e o medo da autoafirmação; Mais especificamente, o medo de desafiar os
valores de outros influenciadores." Portanto, uma grande tarefa para a conquista da
sobriedade é libertar-se da culpa através de uma escala de valores individuais que permita
construir as próprias convicções morais de cada um e sobre a qual ele desenvolverá seu
projeto de vida e; A partir desse momento, ele será responsável por sua conduta e pelas
consequências dela. Trata-se de um homem maduro, que não tem medo "daquele que
será dito", que ouve a voz autêntica de si mesmo e respeita seu próprio julgamento sobre
as crenças dos outros que não se compartilha genuinamente.

Do círculo vicioso ao círculo virtuoso


Não só a autoafirmação em seus próprios valores alcançará a liberdade da culpa, outros
valores como aceitação e responsabilidade também são importantes.
No caso dos viciados, a aceitação é condição fundamental para a libertação da culpa.
Muitos alcoólatras, por exemplo, falam mal de sua doença, mas, em seu íntimo, ainda
pensam que são cruéis. Pensar que você é cruel gera culpa. Pensar que se sofre de uma
doença incurável, mas controlável, gera responsabilidade.
Quando o viciado permanece na linha de não aceitar sua doença (mesmo que finja que
aceita), permanecerá ancorado à sua culpa e cairá no círculo vicioso acima mencionado
que o levará ao ressentimento, à amargura, à autoaversão, à necessidade neurótica de
expiação, Fracasso, amargura, depressão e mais culpa.
Por outro lado, quando o dependente aceita sua doença incurável, mas controlável, ele
adquire a responsabilidade de tomar os meios para poder controlar sua doença e não
voltar a consumir sua droga favorita. Essa consciência de sofrer de uma doença o liberta
de sua culpa e, embora haja um histórico de danos por seu vício, ele os entenderá como
sintomas de sua doença e não como pecados terríveis que são imperdoáveis. Em seguida,
ele tomará os meios para, primeiro, permanecer abstinente, segundo, exercitar ações para
alcançar o crescimento emocional e a maturidade e, terceiro, reparar, na medida do
possível, os danos que infligiu a outras pessoas, como resultado de sua doença aditiva e
será capaz de se reconciliar consigo mesmo e com os outros.
Com o exposto demonstramos dois fenômenos: a persistência da culpa leva a pessoa a
um círculo vicioso que levará a uma maior culpa, enquanto a aceitação (tanto do vício
quanto da neurose) fará com que a pessoa desenvolva uma responsabilidade persistente
que a levará a um círculo virtuoso caracterizado pela aceitação, Perdão, responsabilidade,
ação e crescimento emocional progressivo que lhe permitirão alcançar a sobriedade.

Perdoar e perdoar
Uma vez que o viciado em recuperação consegue quebrar o círculo vicioso e entrar no
círculo virtuoso, uma jornada promissora em direção à sobriedade pode começar. Mudar
uma atitude de culpa por uma de responsabilidade pode permitir que você execute a tarefa
do autoperdão. De acordo com Branden, o autoperdão envolve as seguintes condições:
1. Reconheça (torne real para nós mesmos, em vez de negar ou ignorar) que somos nós
que realizamos aquela ação específica.
2. Se outra pessoa foi ferida por nossa ação, é reconhecer explicitamente a essa pessoa
(ou pessoas) o dano que fizemos e transmitir nossa compreensão das consequências de
nosso comportamento, assumindo que isso é possível.
3. Realizar todas as ações ao nosso alcance que possam corrigir ou minimizar os danos
que causamos (pagar dívidas, retratar uma mentira, etc.).
4. Comprometa-se firmemente a se comportar de forma diferente no futuro, porque sem
uma mudança de comportamento recriaremos continuamente a desconfiança.
5. Esteja disposto a explorar os motivos pelos quais a ação foi cometida (aquela que gerou
culpa). Se evitarmos isso, não nos libertaremos da culpa, e é muito provável que repitamos
o padrão de comportamento inadequado.
Uma vez alcançado o autoperdão, adotamos uma atitude de responsabilidade pelo nosso
próprio comportamento e assumimos suas consequências. Aqui não precisamos mais
procurar culpados e, automaticamente, deixamos de fazer o papel de vítimas dos outros.
Nesse momento o campo está aberto para enfrentar, aceitar e superar nossos
ressentimentos, pois, o mais difícil é o autoperdão e tendo perdoado a nós mesmos é
muito mais fácil perdoar os outros.
Se aprendermos a nos entender e perdoar, sendo benevolentes e autocomplacentes com
nós mesmos, nosso comportamento tenderá a melhorar e nosso crescimento emocional
será superado, por outro lado, se continuarmos a nos autoflagelar e condenar nosso
comportamento, pois nossa autoestima tende a piorar.
"A culpa é de fato o inverso da medalha do orgulho. A culpa leva à autodestruição, o
orgulho à destruição dos outros" (Bill W., em Grapevine).
Capítulo 7
Sintoma número 5
Diga-me do que você se gaba e eu lhe direi o que lhe falta
Egocentrismo, autossuficiência neurótica, má gestão da agressividade
e tendência à onipotência

Alguns alcoólatras têm uma enorme necessidade neurótica de compensar um sentimento


de inferioridade e desvantagem que os leva a querer atenção. É por isso que buscam o
efeito do álcool para se tornarem sujeitos presunçosos, prepotentes, exibicionistas e
fanfarrões. Quando param de beber e o complexo de inferioridade persiste, tornam-se
narcisistas e arrogantes, e sentem-se onipotentes, sintomas típicos da embriaguez seca.
Uma das características psicológicas que mais frequentemente ocorre na estrutura de
personalidade do dependente é o chamado complexo de inferioridade ou handicap. Isso
consiste em um sentimento persistente de se sentir menos do que os outros. A deficiência
é o resultado de experiências infelizes nos primeiros anos de vida, quando as
necessidades de afeto e aceitação não foram adequadamente satisfeitas, causando uma
falta de autoafirmação em suas qualidades e potencialidades, levando à insegurança
persistente e à falta de autoconfiança.
Tudo isso causa um evidente desequilíbrio na vida do indivíduo que, inconscientemente,
tenta compensar sua situação para recuperar o equilíbrio perdido. Esse fenômeno é
chamado de supercompensação e é um mecanismo psicológico de defesa da
personalidade.

A Lei do Tudo ou Nada: O Extremista


Pessoas que usam a supercompensação tendem a estar no outro extremo. São
extremistas. Essa é uma característica típica do dependente e, principalmente, do
alcoólatra. Muitos alcoólatras são tímidos e introvertidos, mas depois de consumir três ou
quatro doses de bebida alcoólica tornam-se ousados, falantes e extrovertidos. Ou seja,
passam de um extremo ao outro e, para isso, usam o álcool como muleta emocional. O
covarde se torna corajoso, o tímido, ousado, aquele que está sempre quieto e sem
expressão torna-se falante e ousa dizer o que realmente sente e pensa ("só bêbados e
crianças dizem a verdade"), aquele que se inibe com o sexo oposto torna-se desinibido e
até ousado, E aquele que calara os seus ressentimentos e por medo não os expressara,
com mais algumas bebidas, grita-os no alto da voz diante da pessoa a quem, estando
sóbrio, não se atrevera a dizer-lhe. Vão de um extremo ao outro, têm dificuldade em
colocar-se no meio certo.
Sobre essa tendência de compensar demais e ser extremista, Bill W. refere em seu livro
AA vem da maioridade, páginas 55 e 56, o seguinte:
Na minha adolescência eu tinha que ser atleta porque não era atleta. Tive que me tornar
músico porque não conseguia cantar a melodia mais simples. Eu tinha que ser o
presidente da minha turma na escola. Eu tinha que ser o primeiro em tudo porque no meu
coração perverso eu sentia a mais insignificante das criaturas de Deus. Eu não podia
aceitar esse profundo sentimento de inferioridade e, portanto, consegui me tornar capitão
do time de beisebol e aprendi a tocar violino. Essa exigência de 'tudo ou nada7' foi o que
mais tarde me abalou.
Nesta experiência referida por Bill W. percebe-se claramente como esse "profundo
sentimento de inferioridade" descrito pelo cofundador da AA o leva a ser um indivíduo
extremista, desenvolvendo aquela demanda neurótica do tudo ou nada.
O egocêntrico: da histeria à paranoia
O egocentrismo é a necessidade neurótica de ser sempre o centro da atração. A
necessidade de ser admirado e aplaudido pelos outros. Querem sempre ter razão e não
sabem ouvir o outro. Tudo isso mostra uma necessidade doentia, consequência do medo
de não serem aceitos, de serem rejeitados pelos outros e de não serem levados em conta.
Ser egocêntrico é apenas uma consequência dessa supercompensação do complexo de
inferioridade. Por isso, a necessidade de se destacar em tudo, de ser sempre o primeiro,
de chamar a atenção ou, em outras palavras, a necessidade de ser a noiva em
casamentos e os mortos em funerais.
A psiquiatria define egocentrismo como uma disposição mental que move os indivíduos a
encaminharem tudo a eles, e não a abordar os problemas que surgem, mas de seu ponto
de vista estritamente pessoal, com desprezo pelos interesses vizinhos ou pelo interesse
geral. Esses sujeitos carecem de senso altruísta.
Tal sentimento é muitas vezes encontrado como simples egoísmo, mas também pode
assumir formas incomuns e, às vezes, patológicas e perigosas. Por isso, vale lembrar
alguns aspectos psiquiátricos dessa inclinação da mente.
Em menor grau (e aqui estão incluídos muitos viciados), esse egocentrismo se manifesta
em fracos, vaidosos, desequilibrados, mitomaníacos, faladores ou fanfarrões. Certos
histéricos que transbordam em manifestações tumultuosas e espetaculares não têm outro
motivo senão atrair e reter sobre eles a atenção e a piedade de seus parentes. Outro
aspecto dessas variedades mórbidas pode ser visto com frequência nas complicações
psicóticas do álcool e drogas que apresentam quadros megalomaníacos com essas
características.
Nos casos de patologia mental mais grave, o egocentrismo é um dos elementos
fundamentais da mentalidade do paranoico e do vingativo, que perseguem com incansável
obstinação o que consideram seu direito; Muitas vezes, à superestimação dos danos que
dizem ter sofrido, somam-se o orgulho, a desconfiança e a agressividade, o que por vezes
os induz a reações antissociais (imposições injustas, comportamentos abusivos, etc.) que
os tornam pessoas conflituosas e hostis.
É por isso que se diz que o alcoólatra, e o viciado em geral, têm uma dupla personalidade.
O primeiro, quando estão sóbrios, e o segundo, quando estão embriagados. Mas parece
que o alcoólatra gosta mais do segundo, dessa falsa personalidade que adquire quando
fica bêbado, porque se comporta como sempre gostaria de se comportar.
Em suma: um bom número de alcoólatras (e dependentes químicos) tem um histórico de
privação afetiva e falta de afeto em seus anos-chave na infância, o que lhes causa um
intenso sentimento de inferioridade e desvantagem com diminuição da autoconfiança e
autoestima zero. Como consequência do exposto, o dependente desenvolve mecanismos
psicológicos de defesa de supercompensação que o levam a um egocentrismo neurótico,
com grande necessidade de atrair a atenção; Para isso, recorrem à muleta emocional,
representada pelo álcool e/ou drogas, que lhes proporciona uma segunda personalidade
que lhes permite compensar todas as suas deficiências (pelo menos enquanto
permanecem bêbados) e na qual saltam de um extremo ao outro.

Do egocentrismo ao perfeccionismo
Agora, o que dizer desses alcoólatras exibicionistas, prepotentes, fatuosos, fanfarrões e
grandiosos quando param de beber? Aqueles que trabalham bem seu crescimento
emocional (por meio de um programa de 12 passos, ou psicoterapia profissional, ou
ambos) gradualmente alcançam maior segurança e autoafirmação, o que melhora sua
autoestima, alcança um melhor equilíbrio emocional, diminui tendências egocêntricas e
desaparece comportamentos supercompensatórios. Mas muitos outros, embora já não
bebam nem usem drogas, persistem com aquele egocentrismo que os faz cair em outros
tipos de comportamentos compensatórios, igualmente neuróticos, como o perfeccionismo,
a autossuficiência neurótica e o mais grave deles, a onipotência.
Muitas esposas ou filhos de membros de AA reclamam que seu familiar, embora não
consuma mais álcool ou drogas, tornou-se um perfeccionista, exigente, que vê tudo errado
e que só se dedica a criticar e corrigir a todos. A mulher de um alcoólatra queixava-se de
que o marido, embora não bebesse há quase três anos, tornara-se uma pessoa
eternamente rabugenta e amarga, que já não queria ir a festas, que deixava de frequentar
os amigos e que, fora do trabalho, passava trancado em casa a repreender os filhos e a
criticar tudo o que, Segundo ele, foi mal feito. Este é um caso típico do alcoólatra pulando
de um extremo ao outro. Quando ficou bêbado, estava bagunçado, chegava tarde em
casa, não cumpria suas responsabilidades e negligenciava sua higiene pessoal. Hoje,
porém, quem não bebe e frequenta um grupo AA, desenvolveu todo aquele perfeccionismo
rígido e moralista que já descrevemos. Essa incapacidade de chegar a um meio justo é um
sintoma claro de embriaguez seca que continua a causar sofrimento a quem convive com o
alcoólatra. Apesar de já não beber, ainda não vive nem deixa viver. Muitos desses
parentes de alcoólatras chegam a desejar que seu familiar voltasse a beber, porque agora
as coisas se tornaram mais difíceis e desagradáveis do que quando bebiam.
Dizem que os perfeccionistas estão cheios de presunção porque imaginam que
alcançaram algum objetivo impossível, ou afundam na autocondenação por não o terem
feito.
O perfeccionismo é apenas mais um mecanismo de supercompensação do alcoólatra que
não bebe mais ou do viciado que não consome mais. No seu íntimo continuam a pensar
que são menos do que os outros, que valem muito pouco, que ainda são culpados, que
não são perdoados, que não têm competências ou capacidades, por isso tentam
compensar indo para o outro extremo e tornam-se perfeccionistas.
O perfeccionista é irracionalmente duro consigo mesmo ao qualificar seu próprio
comportamento, mas também é severo ao julgar o comportamento dos outros. Isso tem
implicações importantes para os perfeccionistas que atuam em um grupo de Alcoólicos
Anônimos ou Narcóticos Anônimos. Esses tipos de perfeccionistas quase sempre caem na
situação de "ver o cisco no olho do outro e não o raio no seu": estão sempre criticando o
comportamento dos outros e continuamente condenam as imperfeições dos outros e se
tornam especialistas em aconselhar os outros. Quanto mais criticam e condenam os
outros, mais se sentem bem e acabam acreditando nessa mentira. Esses alcoólatras em
recuperação tornam-se verdadeiros fariseus que rasgam suas vestes diante das
imperfeições de seus companheiros de grupo e se tornam verdadeiros inspetores do
comportamento alheio e, simultaneamente, desenvolvem uma crescente incapacidade de
autocriticar seu próprio comportamento e se sentem atacados quando alguém os critica.
Ele os corrige, os descobre ou lhes diz suas verdades.
Tornar-se um inspetor do comportamento alheio nada mais é do que um mecanismo de
evasão da realidade: "Prefiro julgar e condenar o comportamento alheio do que o meu".
Esse mecanismo de negação das próprias fraquezas é progressivo e faz com que a
pessoa caia no que se chama de autossuficiência neurótica. Esse fenômeno faz com que
esses tipos de dependentes em recuperação acreditem que não precisam de ajuda de
ninguém além de si mesmos. Eles recusam qualquer tipo de ajuda. Nenhum colega de seu
grupo o considera suficientemente preparado para ser seu patrocinador e prefere não ter
nenhum. Ele considera os sacerdotes muito afastados da realidade terrena para que
possam ajudá-los. Os médicos, e os psiquiatras em particular, são descritos como
ignorantes do alcoolismo e dos vícios, e como não sabem nada sobre o programa de AA,
e, portanto, também recusam sua ajuda. Essa autossuficiência neurótica os leva à
arrogância, à hipocrisia, a projetar uma falsa imagem de si mesmos e a se tornarem
"lâmpadas de rua e escuridão de sua casa".
A autossuficiência neurótica é uma forma de arrogância intelectual que esconde um grande
medo de enfrentar a si mesmo. Assim como quando o alcoólatra ativo era convidado para
um grupo de AA e não queria ir, a resposta invariável era sempre: "Não, muito obrigado, eu
sei que quando decido parar de beber, posso fazer isso sozinho". Esta é uma forma de
autossuficiência neurótica em relação à sua realidade alcoólica. No entanto, quando a
derrota for finalmente aceita e o tratamento for admitido e o álcool e/ou as drogas forem
abandonados, a pessoa continuará com essa autossuficiência neurótica, mas agora em
relação à sua realidade não alcoólica, pois, como já mencionamos, ela tem muito medo de
encarar sua verdadeira realidade que não aceita. Porque ele está muito distante do que
ele, por mecanismos supercompensatórios, acredita sobre si mesmo.
Esse medo que o alcoolista tem de enfrentar a si mesmo também tem sua origem na
infância, pois, certamente, eles viveram coisas assustadoras, surpreendentes, dolorosas e
frustrantes que o obrigaram a utilizar mecanismos defensivos de repressão emocional
como forma de tornar a vida mais tolerável. Dessa forma, o futuro viciado aprende rápido
demais para evitar esses pesadelos existenciais. Para sobreviver, habituam-se a ficar
indiferentes a este tipo de realidades dolorosas, cobrindo-se com um escudo de negação
para evitar a dor psicológica da sua própria realidade que, naturalmente, não aceitam.

Orgulho, orgulho e onipotência


Diz Bill W. que o defeito de caráter que encabeça a todos é o orgulho. Isso gera orgulho, o
que, por sua vez, leva à onipotência. Esses três traços comportamentais são, sem dúvida,
os que mais sobrecarregam o dependente em recuperação e constituem um formidável
obstáculo para alcançar a sobriedade.
O orgulho, desvio instintivo do sentimento da personalidade, consiste na superestimação
do indivíduo de suas virtudes reais ou supostas.
No orgulho, a hipertrofia do eu sinceramente convence o sujeito de seus direitos à estima e
ao reconhecimento dos outros.
No processo de recuperação do dependente, o orgulho interfere em uma adaptação social
saudável, e é caracterizado pela intolerância, tirania, despotismo e abuso de autoridade em
todas as áreas da vida (na família, no trabalho e no grupo de autoajuda).
A altivez e a hostilidade desdenhosa são as duas características do orgulho que fazem do
indivíduo que sofre com isso um indivíduo hostil e odioso, mesmo que seja um homem
inteligente e até brilhante. Filhas do orgulho são vaidade e orgulho. Neles residem o germe
e o núcleo da megalomania, o motor primitivo da ambição e um dos elementos da
constituição paranoica. É um campo de escolha para suspeitas, desconfianças e ideias de
perseguição.

Pode ser lido no Décimo Segundo e Doze (págs. 51):


O orgulho é a principal fonte de dificuldades para os seres humanos, o principal obstáculo
a todo o progresso. O orgulho nos induz a impor a nós mesmos, ou aos outros, exigências
que não podem ser cumpridas sem violar ou abusar dos instintos que Deus nos deu.
Quando a satisfação de nossos instintos sexuais, de segurança e sociais se torna o
objetivo primário de nossas vidas, a arrogância parece justificar nossos excessos.

E no mesmo livro (págs. 49) passa a ter a seguinte redação:


Aqueles que são dominados pelo orgulho cegos, inconscientemente, para suas próprias
deficiências. Essas pessoas não precisam ser levantadas, mas ajudadas a descobrir uma
lacuna onde a luz da razão possa brilhar, através do muro que seu ego construiu.
Muitos membros da AA ganharam o prestígio de ter um grande conhecimento da literatura
AA, de serem grandes oradores na tribuna e de terem uma grande ascendência sobre os
novos membros que entram no grupo. Infelizmente, se essas pessoas foram infectadas
com o vírus do egocentrismo, da arrogância e da onipotência, elas podem causar muitos
danos ao grupo, porque se tornam tiranos que sempre querem ter razão e se sentem
atacados e atacados quando alguém os contesta ou contradiz. Esse tipo de pessoa tende
a atacar com particular veemência outros membros do grupo que começam a se distinguir
entre os demais, mas que não pensam como eles. Eles também tendem a criticar as
pessoas, que sem serem membros do grupo, têm autoridade moral para influenciá-lo,
como é o caso de padres, médicos ou psicólogos que são exibidos por esses tiranos por
sua ignorância do programa ou outros fracassos. Essa indignação virtuosa nada mais é do
que uma forma hipócrita de manipular os outros para se manterem presos àquela
necessidade neurótica de poder gerada por sua onipotência. Pura embriaguez seca!
A expressão máxima do orgulho é a onipotência, que pode ser definida como o
transbordamento de um ego hipertrofiado que engendrará uma deformação do espírito,
produzindo um ser narcísico que estará convencido de que é o dono da verdade, que a
razão lhe pertence apenas e que sua razão é a verdade. único que existe no mundo.
O onipotente cria suas próprias verdades, porque não consegue distinguir entre o que é
real e razoável e o que é uma falácia nascida da desrazão. O onipotente sempre obedece
aos impulsos de seus instintos e nunca às diretrizes de sua sabedoria, pois a sabedoria,
sendo um atributo da consciência, não pode penetrar nesse indivíduo porque suas ações e
pensamentos apenas alimentam o ego e não o espírito, pois tais ações são apenas o
produto da desrazão.

Dignidade, amor próprio e autoridade moral


A contrapartida do orgulho é a humildade. A humildade gera virtudes de sobriedade como
a dignidade e o amor próprio, o que leva ao desenvolvimento da autoridade moral. A
autoridade moral é a qualidade ideal do líder. O onipotente exerce autoridade irracional;
Aquele que possui autoridade moral exerce autoridade racional. O Todo-Poderoso é
obedecido porque é temido; Aquele que tem autoridade moral é obedecido porque é
respeitado. O onipotente é arrogante; O possuidor de autoridade moral é digno. A
arrogância é filha do orgulho; A dignidade é filha da humildade. O amor próprio nada mais
é do que uma forma de respeito aos próprios valores e convicções pessoais. O amor
próprio é um sintoma de alta autoestima pessoal.
Quando não crescem emocionalmente, os primeiros sucessos da abstinência podem levar
ao tortuoso caminho do orgulho, do orgulho e da onipotência. O crescimento emocional
mais a abstinência prolongada levam necessariamente ao desenvolvimento do amor
próprio e da dignidade, o que confere à pessoa em recuperação um alto grau de
autoridade moral.
Terminamos com esta frase de Santo Agostinho: "Admitamos nossas imperfeições para
que possamos começar a crescer em direção à perfeição".
Capítulo 8
Sintoma número 6
Medo do medo: a necessidade de não sentir
Medos permanentes: atitude de medo diante dos desafios da vida com angústia e tensão
contínuas

Uma característica típica da personalidade do dependente é sua incapacidade de lidar com


a angústia, por isso ele recorre ao álcool e / ou drogas. No entanto, quando ele atinge a
abstinência, se essa deficiência persistir, a angústia o paralisa e o impede de alcançar a
sobriedade.
Um dos primeiros sintomas que aparecem no gráfico de dependência de álcool do Dr.
Jellinek é o de beber para aliviar a tensão. Os viciados têm algo que os caracteriza: a
intolerância à angústia. A angústia é para os alcoólatras e viciados em drogas um
sofrimento insuportável, é como uma terrível dor de dente que tem que ser eliminada
imediatamente. O dependente precisa anestesiar suas emoções Essa característica é uma
das causas fundamentais pelas quais ele começa a usar drogas viciantes: nicotina, álcool,
sedativos, maconha ou qualquer outra. Essas substâncias se tornam uma muleta
emocional que permite aos dependentes gerenciar seu sofrimento.
O álcool e/ou as drogas permitem que eles lidem com situações que geralmente estão
gerando angústia: participar de uma reunião onde novas pessoas se encontram, fingir para
um parceiro, convencer um cliente em um almoço de negócios, ser desinibido em uma
reunião, ousar reivindicar algo ou dizer algo para alguém que em um estado sóbrio não
ousou dizer.
Essa necessidade de administrar o sofrimento com álcool ou drogas torna-se uma espécie
de reflexo condicionado. Isso é muito característico, especialmente em alcoólatras. O
alcoólatra passa a associar festas, refeições, encontros românticos, sexo ou qualquer
situação que cause tensão, ao consumo de álcool. Outros tipos de substâncias viciantes,
como nicotina, maconha ou sedativos, também causam esses mecanismos associativos.
Álcool ou drogas aliviam a angústia. Portanto, enquanto intoxicado, o dependente tem uma
sensação de bem-estar que lhe permite lidar com a situação gerando angústia. Após a
intoxicação vem o que é comumente conhecido como cru, no qual ocorre um fenômeno de
rebote: os níveis de angústia gerados pela necessidade de beber novamente aumentam, o
que, por sua vez, alivia a angústia.

O círculo vicioso do viciado


Como se vê, o alcoolista (e o dependente em geral) insere-se em um círculo vicioso
caracterizado por: angústia-consumo de álcool ou drogas-liberação da angústia-
intoxicação-cru-aumento da angústia, (ver figura).
Permanecer preso nesse ciclo vicioso é um dos fatores que mais fortemente impedem que
o alcoólatra, o dependente de nicotina ou outras drogas, alcance a abstinência.
O que é angústia?
Angústia ou ansiedade é um tipo de emoção, um estado afetivo caracterizado pelas
seguintes condições:
1. Sensação de perigo iminente, totalmente indeterminado, ainda não definido. Esse
sentimento costuma ser acompanhado pela elaboração de fantasias trágicas e dá a todas
as imagens proporções de drama.
2. Atitude expectante diante do perigo, um verdadeiro estado de alerta que invade
inteiramente o sujeito e o conduz irremediavelmente a outra catástrofe imediata.
3. Confusão, produto de um sentimento de impotência com uma sensação de
desorganização e aniquilação diante do perigo.
Analisando essas três condições, compreende-se melhor o conceito de angústia que é
definido como: "Uma reação global da personalidade, a estímulos que o indivíduo
considera como ameaçadores à sua existência organizada".

Sintomas de angústia
Os principais sintomas físicos da angústia são: dispneia (sensação de falta de ar), aperto
no peito, palpitações, tremores, sudorese nas mãos, face e axilas, contrações musculares
especialmente na face, pescoço, costas e mãos, palidez ou rubor no rosto, boca seca,
formigamento no rosto e nas mãos, sensação de tontura ou instabilidade, sensação de
vazio abdominal (vazio no estômago) e bloqueio emocional com falhas na concentração e
atenção.
Já mencionamos que, para fins práticos, angústia e ansiedade são consideradas
sinônimos. No entanto, a angústia tem certos níveis que variam de menos a mais: o nível
mais baixo de angústia é a apreensão, que se caracteriza por um estado permanente de
alerta, a qualquer ameaça imaginária ou real que o indivíduo continuamente teme
enfrentar. Depois vem a angústia em si, cuja definição já expressamos e um estado
extremo de angústia é o pânico, onde a reação provocada à ameaça é tão intensa, que o
indivíduo perde o controle de seu comportamento e sua personalidade fica desorganizada.
É preciso saber distinguir entre angústia normal e angústia neurótica. O sofrimento normal
é um estado de alerta permanente que o ser humano tem para proteger sua sobrevivência,
por exemplo, o estado de alerta que deve ser tomado para atravessar uma avenida
movimentada ou para dirigir um carro na estrada. A angústia normal é algo que todo ser
humano deve possuir. A ausência de sofrimento normal em um indivíduo é um tanto
psicopatológica. Muitos tipos de esquizofrenia têm como uma de suas características a
ausência de sofrimento normal. O sofrimento neurótico, por outro lado, é uma forma
desproporcional de reação angustiante a certos estímulos, por exemplo, medo de cães ou
ratos, intolerância ao ruído ou as tendências hipocondríacas de muitas pessoas que temem
adquirir doenças sem que haja uma base real para esses medos.
Finalmente, devemos distinguir entre angústia como doença e angústia como estrutura de
personalidade: angústia como doença é quando um transtorno de angústia do tipo fobias,
transtorno obsessivo-compulsivo, estresse pós-traumático ou ataques de pânico se
desenvolve. Por outro lado, a angústia como transtorno de personalidade é uma
característica dominante e fundamental de certas personalidades patológicas que foram
batizadas como neuroses de caráter ou neurastenias. Observou-se que em uma proporção
significativa de pacientes alcoolistas e dependentes químicos apresentam como
característica psicológica essa angústia crônica associada à sua estrutura de
personalidade.
Por outro lado, muitos dependentes são pacientes duplos que, além de sua doença aditiva,
têm um transtorno de pânico (pânico como doença), por exemplo: alcoolismo e ataques de
pânico, dependência de maconha e fobia social ou transtorno obsessivo-compulsivo e
dependência de tranquilizantes.

A persistência dos medos


Quando a abstinência de álcool ou drogas é atingida, muitas pessoas em recuperação,
especialmente aquelas que têm angústias associadas à sua personalidade, continuam
acorrentadas aos seus medos. Alguns viciados com essas características têm uma
síndrome de supressão psicológica muito mais longa do álcool (e/ou drogas) do que
aqueles viciados em recuperação que não têm esses traços de personalidade. Essa
síndrome de supressão consiste em um quadro de angústia persistente que pode durar de
um a três meses. Muitos desses dependentes costumam recair nessa fase justamente por
causa dessa incapacidade de administrar o sofrimento.
Outra forma de persistência do medo é a daqueles indivíduos em recuperação que, de
repente, enfrentam a realidade como ela é e não conseguem mais escapar através de sua
droga favorita. O enfrentamento da realidade e das responsabilidades da vida são muito
mais intensos e prementes do que se pensava e, por isso, a intensa angústia que têm que
suportar afeta notoriamente seu comportamento rotineiro: estão alterados, irritados,
intolerantes, agressivos, preocupados, emocionalmente bloqueados e com distúrbios na
atenção e concentração. Esse comportamento causado pela angústia os impede de viver e
deixar viver, pois estão apresentando uma síndrome de embriaguez seca.
O viciado é, por natureza, escapista. Ele tenta fugir de sua realidade o máximo que pode.
No entanto, em um estado de abstinência, as chances de evitação diminuem
acentuadamente, de modo que os níveis de sofrimento geralmente aumentam na mesma
proporção. Enfrentar e aceitar a realidade são muitas vezes um fardo pesado para o
dependente em recuperação.
Muitos dependentes em recuperação me disseram na consulta que desde que iniciaram a
abstinência de álcool e/ou drogas permaneceram em constante estado de ansiedade.
"Sinto uma angústia terrível por existir", me disse um paciente. Encarar com sobriedade a
realidade e as responsabilidades da vida, resolver problemas cotidianos, tolerar frustrações
e lidar com fracassos, e até mesmo o sucesso, tornam-se um terrível fardo que eles têm
que carregar nas costas e que muitas vezes lhes causam desejos intensos de voltar a usar
sua droga favorita.
De fato, uma porcentagem significativa de dependentes em recuperação recai por causa
de sua incapacidade de gerenciar o sofrimento. Esse fenômeno costuma ser mais
frequente em pacientes duplos, ou seja, naqueles que sofrem de sofrimento como doença.
Transtorno de dupla angústia-dependência
Os principais diagnósticos duplos gerados pelo binômio angústia-dependência são os
seguintes:
1. Ataques de pânico
2. Fobias
a. Fobia social
b. Fobia específica
3. Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)
4. Transtorno de estresse pós-traumático
5. Transtorno de ansiedade generalizada
Descreveremos brevemente suas principais características para que possam ser
identificadas por aqueles que sofrem delas.
Ataques de pânico. Ataques súbitos de terror sem motivo, aperto no peito, palpitações,
falta de ar com sensação de asfixia, tontura, instabilidade ou sensação de perda de
equilíbrio, sudorese, sensação de vazio no estômago, com vontade de vomitar, tremores,
calafrios, Sensação de tremores e formigamentos no rosto e nos braços, perda do controle
de si mesmo, sensação de despersonalização (como se não fosse real) e medo de perder
a consciência, perder a razão ou morrer. O ataque de pânico pode se apresentar com
agorafobia ou sem agorafobia. Agorafobia é um medo irracional de espaços abertos.
Talvez a forma mais grave de ataques de pânico seja quando eles são acompanhados de
agorafobia extrema, onde os afetados não se atrevem a sair sozinhos na rua.
Fobia social. Medo ou desconforto quando você está com outras pessoas, dificuldade de
estar no trabalho ou na escola, medo terrível de fazer ou dizer algo na frente dos outros por
medo de fazer uma bobagem de si mesmo ou se sentir envergonhado, medo de cometer
um erro e ser criticado ou julgado pelos outros. O medo de ter vergonha impede que as
pessoas façam coisas que querem fazer ou digam coisas que querem dizer; Quando você
tem um compromisso pessoal ou de trabalho você começa a sentir medo e preocupação
de vários dias ou semanas antes, rubor, sudorese, tremor ou náusea durante um evento
quando você está com pessoas que você não conhece, isolamento: não comparece a
eventos sociais de sua família, sua escola ou trabalho, medo de falar em público (com
álcool e outras drogas, esses medos geralmente se dissipam).
Fobia específica. Medo persistente, excessivo e irracional de certos objetos ou situações. A
exposição a estímulos fóbicos causa um ataque de pânico. A pessoa reconhece que esse
medo é excessivo e irracional. Desenvolvem-se comportamentos de evitação que
interferem na rotina da pessoa na escola, no trabalho e em suas relações sociais. Os
principais tipos de fobia específica são animais (répteis, ratos, aranhas), ambientais
(alturas, escuridão, tremores, tempestades), médica (injeções, sangue, introdução de
dispositivos diagnósticos) e situacional (aviões, elevadores, alturas, locais fechados).
Transtorno obsessivo-compulsivo (TA). Sentir-se preso em um ciclo de pensamentos
indesejáveis e negativos. Necessidade compulsiva de fazer certas coisas repetidas vezes
sem motivo. Intrusão de pensamentos ou imagens que perturbem ou causem danos. Sentir
que você não pode parar esses pensamentos ou imagens, mesmo que queira.
Necessidade irracional de contar números, de verificar as coisas ("Coloquei os seguros do
carro?" "Fechei bem as fechaduras das portas?" "Desliguei os fogões?"), lave as mãos
constantemente durante o dia, reorganize objetos, repita a mesma ação várias vezes até
que seja bem feita, ou colete objetos inúteis.
Transtorno de estresse pós-traumático. Depois de viver uma experiência traumatizante e
perigosa, os seguintes sintomas aparecem: sensação de que a experiência horrível está
acontecendo novamente. Esse sentimento muitas vezes se repete. Pesadelos e
lembranças horríveis do que aconteceu. O indivíduo fica longe de lugares ou situações que
o lembrem do que aconteceu. Sustos e abalos emocionais quando algo acontece sem
aviso. Desconfiança nas pessoas. Tendência à paranoia e ao isolamento dos outros.
Irritabilidade e raiva contínuas. Sentir-se culpado se outras pessoas foram feridas no
evento traumático. Escola, trabalho e imobilidade social. Insônia e contraturas musculares
constantes.
Transtorno de ansiedade generalizada. Preocupação constante com tudo e com todos.
Essa preocupação é desproporcional ao estímulo que a provoca. Dor de cabeça e dores
musculares sem motivo. Tensão permanente e dificuldade em relaxar. Dificuldade de
concentração. Incapacidade de focar a mente em apenas uma coisa de cada vez.
Inquietação. Insónia. Sudorese e sufocamento constantes. Sentir nó na garganta ou querer
vomitar ao se preocupar com algo.
Cerca de um em cada dois viciados tem transtornos de pânico associados ao seu vício.
Nesses casos, psicoterapia ou grupos de autoajuda não são suficientes. Não se esqueça
que esses tipos de problemas são de origem médica e constituem uma doença que deve
ser tratada por um especialista em psiquiatria e, em um bom número de casos, prescrever
medicamentos associados ao tratamento psicoterápico.
Às vezes, a presença de uma síndrome de embriaguez seca associada a transtornos de
ansiedade se deve ao desconhecimento de que esse problema constitui outra doença
associada à dependência e não simplesmente um sintoma de dependência como muitos
interpretam. Outras vezes, é um preconceito contra a psiquiatria ou contra os
medicamentos psiquiátricos, em decorrência dos muitos mitos que existem em relação ao
assunto.
A persistência do sofrimento é um dos fenômenos em que deveria haver maior cooperação
entre grupos de autoajuda, terapias psicológicas e psiquiatria.
Se você leitor é um alcoólatra em recuperação ou se reabilitando de algum tipo de
dependência química e identificado com alguma dessas manifestações patológicas de
angústia que estão te impedindo de alcançar a sobriedade, não hesite em pedir ajuda
profissional agora mesmo. Lembre-se que quanto mais cedo o problema for atacado, mais
cedo a solução certa será encontrada. Por outro lado, se o problema não for atacado pela
ignorância, preconceito ou negação da realidade, a possibilidade de uma recaída e o
agravamento do transtorno de pânico será uma triste realidade.
Capítulo 9
Sintoma número 7
Depressão: aquela agonia sem fim
Depressão cíclica ou permanente com atitudes de pessimismo e desmotivação

A depressão, uma doença da nossa era, chamada de doença invisível porque muitas
pessoas sofrem dela sem saber, é uma das doenças crônicas mais desgastantes e
incapacitantes que existem Cerca de 60% dos dependentes têm algum tipo de depressão,
e ela não se cura com a abstinência.
É a doença da nossa época porque, hoje, é mais frequentemente diagnosticada por
médicos e, em particular, psiquiatras. No entanto, muitas pessoas não sabem que sofrem
com isso e passam a vida inteira convivendo com essa doença, achando que a existência
é aquela cor cinza escuro com que o deprimido percebe sua vida.
Em relação à comorbidade entre depressão e dependência, deve-se dizer que o transtorno
dual mais frequente associado tanto ao alcoolismo quanto ao consumo de outras drogas é
a depressão. Muitos dependentes de álcool, nicotina e outras drogas ilícitas, começaram
seu consumo para escapar do sofrimento psicológico que causa a depressão. A evasão de
sua realidade depressiva levou-os a buscar aquele consolo transitório e perigoso que o uso
de drogas significa. Os diferentes estudos sobre comorbidade relatam entre 30 e 70% a
coexistência de dependência e depressão.
Muitos alcoólatras ou viciados em drogas que tendem à depressão, quando finalmente
param de usar e começam sua recuperação, têm uma alta probabilidade de ter um
episódio depressivo. Isso porque tanto o álcool quanto a maioria das drogas costumam
mascarar a depressão e quando se consegue a abstinência que obriga o dependente a
encarar sua realidade e não fugir dela, um quadro depressivo é causado pela forte
predisposição do paciente a essa doença. A depressão é um fenômeno emocionalmente
disruptivo, um sofrimento psicológico que impede o indivíduo de se realizar apesar da
ausência de álcool e/ou drogas. É, portanto, a persistência da depressão, uma forma de
embriaguez seca.

O que é depressão?
Poderíamos definir depressão como um estado mental caracterizado por uma perda
generalizada de humor, associada a uma diminuição e desaceleração da atividade
desenvolvida pela pessoa e uma marcada incapacidade de desfrutar de todas as coisas da
vida, dentro de um quadro de tristeza e desmotivação existencial.
Não confunda tristeza com depressão. A tristeza é uma emoção frequente nas
experiências humanas, mas devemos considerá-la uma forma de reação normal a várias
situações adversas que não atinge o grau de uma patologia, pois não incapacita a pessoa.
A depressão, por outro lado, é um transtorno médico incapacitante, um
doença, uma síndrome que reúne um número diverso de sintomas que listaremos mais
adiante.
Também não devemos confundir depressão com angústia. O tema da angústia já foi
abordado no capítulo anterior quando falamos sobre o medo do medo. Angústia e
depressão são distúrbios de natureza totalmente diferente, embora seus limites muitas
vezes se cruzem porque as depressões ocorrem com sofrimento muito intenso.
"Depressão agitada" costumava chamar essa forma de depressão que é acompanhada de
grande ansiedade. "Na angústia preserva-se uma certa afirmação de si mesmo", diz
Ignacio Larrañaga em seu livro Do sofrimento à paz, "e uma témpida brasa de esperança
permanece. Mesmo a angústia encerra em suas dobras energias reativas capazes de
responder adequadamente a estímulos e desafios externos. Já na depressão, ocorre o
colapso total, em meio à desesperança, ao desamparo e ao infortúnio. É a morte, o
insondável e doloroso nada... "
Alguns números sobre a depressão
A depressão é mais comum em mulheres do que em homens. Segundo estudos do
Instituto Nacional de Psiquiatria "Ramón de la Fuente" (inprf), em nosso país 20 e 26% das
mulheres e entre 8 e 12% dos homens sofrem com isso.
Entre os homens, profissionais, altos executivos e grandes empresas são mais propensos
à depressão como resultado dos desafios de uma sociedade terrivelmente competitiva.
Viúvas, aposentados e, em geral, pessoas com mais de 60 anos têm muito mais chances
de ficar deprimidos do que os mais jovens.
Ao longo da vida, 30% da população terá sofrido um episódio de depressão maior
(depressão endógena).
Uma vez que o paciente sofre um primeiro quadro depressivo, o risco de sofrer um
segundo quadro é de 50%; 12% desses pacientes não se recuperam e sua condição se
torna crônica; 50% das pessoas com esta condição não são reconhecidas como doentes e
75% não são diagnosticadas.
Um quadro depressivo que é diagnosticado em tempo hábil e tratado adequadamente,
responde em cerca de 75% dos casos.
A depressão em crianças e adolescentes tem sido exacerbada de forma preocupante nos
últimos anos, sendo esse diagnóstico relatado com frequência crescente em clínicas e
hospitais infantis. Os números de suicídio de adolescentes aumentaram nos últimos anos,
com casos de suicídio em crianças também sendo relatados.
Mulheres climatéricas desenvolvem mais chance de desenvolver depressão a partir da
menopausa. Em homens com mais de 50 anos, na fase de andropausa, eles também são
candidatos a desenvolver depressão.
Países industrializados e grandes cidades relatam taxas mais altas de depressão do que
países menos desenvolvidos ou pessoas que vivem em pequenas cidades ou em áreas
rurais ou semi-rurais.
Os praticantes de religiões derivadas do cristianismo (católicos, protestantes, cristãos) são
mais propensos à depressão do que os membros de outras religiões (budismo, hinduísmo,
islamismo) por causa da ênfase do cristianismo na culpa. Enquanto em outras religiões,
como o budismo, não há conceito de culpa.
Em relação ao estado civil, a depressão em mulheres é mais frequente entre mulheres
divorciadas, separadas e solteiras acima de 30 anos; Por outro lado, entre os homens,
essa condição é mais frequente entre os casados. Viúvos (homens e mulheres) têm uma
chance muito maior de ficar deprimidos.
Como mencionamos no início do artigo, entre alcoólatras e dependentes químicos, a
probabilidade de desenvolver depressão aumenta de 30% na população em geral, para
50% entre dependentes químicos.

Depressão endógena e depressão reativa


Existem dois tipos principais de depressão: depressão reativa ou depressão menor e
depressão endógena ou depressão maior.
A depressão reativa é caracterizada porque a pessoa desenvolve um quadro depressivo
em resposta a uma perda (a morte de um ente querido, perder um emprego, fracassar em
um negócio, ser vítima de uma agressão ou agressão sexual, acabar com o casal, etc.).
Esses quadros são caracterizados principalmente por um intenso sentimento de tristeza e
luto pelo que foi perdido e todos os sintomas da depressão maior podem aparecer, embora
em menor intensidade, e o que é mais importante, de duração muito menor.
A depressão reativa não deve durar mais de três meses. Se esse tempo for ultrapassado,
é que a pessoa já desenvolveu uma depressão crônica e o que se originou como
depressão reativa se torna depressão endógena. O tratamento básico da depressão
reativa é a psicoterapia. Muitos pacientes superam esse tipo de depressão sem recorrer a
medicamentos antidepressivos, apenas em alguns casos excepcionais os antidepressivos
são prescritos na depressão menor.
A depressão endógena ou depressão maior, ainda é chamada em algumas partes da
mesma forma que Hipócrates, o pai da Medicina, a batizou vários séculos antes da era
cristã: melancolia.
Como o nome indica, a depressão endógena tem origem no nosso próprio corpo. Não
precisa haver um gatilho para a depressão, como acontece com a depressão reativa.
Nesses casos a pessoa simplesmente começa a ficar deprimida sem nenhum fator que
possa justificá-la ou, em alguns casos, o estímulo que aparentemente causa depressão é
muito leve ou desproporcional à resposta que produz.
A depressão endógena tem sua origem em uma predisposição geneticamente determinada
(muitos membros de um mesmo ramo familiar tendem a apresentar essa doença) e o
substrato fisiopatológico que a produz é de origem neuroquímica, ou seja, há uma
alteração na concentração de certos neurotransmissores cerebrais como a serotonina,
Adrenalina e noradrenalina. Existem também outros fatores fisiológicos cerebrais
envolvidos na gênese da depressão endógena.
Os principais aspectos neurobiológicos da depressão endógena são os seguintes:
1. A diminuição de certos neurotransmissores cerebrais é a hipótese neuroquímica
fundamental da depressão.
2. Serotonina, noradrenalina, dopamina, e acetilcolina são os neurotransmissores mais
envolvidos na depressão.
3. No cérebro de pacientes suicidas, uma menor quantidade de serotonina foi encontrada
no cérebro e também uma diminuição no principal produto da excreção urinária de
serotonina, que é o ácido 5-hidroxiindol acético (5-HIAA).
4. Os níveis de norepinefrina e dopamina estão diminuídos em certos tipos de depressão.
5. O sistema de neurotransmissores acetilcolina também é encontrado baixo na síndrome
de inibição psicomotora.
6. Os distúrbios do sono REM, característicos da depressão, são influenciados pelo
sistema acetilcolina.
7. Como consequência da deficiência desses neurotransmissores, na depressão existem
diferentes distúrbios do sono. As mais características são alterações em uma determinada
fase do sono chamada REM ou REM (devido à presença de movimentos rápidos dos
olhos), múltiplos despertares ou despertar matinal prematuro.
A depressão endógena é quase sempre cíclica por natureza. Como já mencionado, pelo
menos metade das pessoas que têm uma primeira crise de depressão endógena a terão
ciclicamente novamente pelo resto de suas vidas. Em algumas pessoas esse quadro pode
ocorrer uma vez a cada dois ou três anos, mas há outros casos em que costumam
apresentá-lo três ou quatro vezes ao ano e casos ainda mais graves em que a depressão
se torna crônica e permanente.
Devido à origem neurobiológica da depressão endógena, seu tratamento será
fundamentalmente farmacológico, ou seja, a administração de doses úteis e permanentes
de antidepressivos é necessária para ajudar esses pacientes a controlar sua doença,
Deve-se lembrar que os antidepressivos são drogas não viciantes e podem ser
administrados, Sob supervisão médica e sem qualquer medo de desenvolver
dependência, alcoólatras e viciados em recuperação. A psicoterapia também é indicada
nesse tipo de caso, mas apenas como tratamento auxiliar. É ingênuo pensar que a
psicoterapia sozinha pode tirar uma pessoa de um episódio depressivo maior.
A seguir, mencionaremos os principais sintomas da depressão endógena, encabeçados
por uma trilogia de sintomas que constituem a base clínica para o reconhecimento da
depressão. Esta trilogia clínica é reconhecida como o triplo A.

O triplo A da depressão
Falamos do triplo A da depressão, quando nos referimos aos três principais sintomas da
doença depressiva:
• Baixo humor
• Anhedonia
• Anergy
O baixo humor refere-se a uma condição de desmotivação ex-tential. Perde-se aquele
impulso vital tão necessário para enfrentar as situações cotidianas da vida. Não há impulso
para fazer as coisas. Não importa. Não há resposta emocional a estímulos gratificantes,
como boas notícias, um sorriso ou carinho de um ente querido, ou receber um presente de
alguém. A vida parece morro acima, os deprimidos parecem carregar um peso muito
grande nas costas e qualquer atividade é muito difícil de realizar. A pessoa é desanimada,
apática, pessimista e tende a permanecer inativa ou, simplesmente, deitada na cama a
maior parte do tempo. A desesperança e os poucos desejos de viver transformam-se em
desejos de morrer, o que dá origem à ruminação suicida, tentativas de suicídio ou suicídio
consumado.
Anedônia é a incapacidade de desfrutar das coisas. A impossibilidade de sentir prazer.
Você não gosta do que costumava gostar: uma boa refeição, um filme interessante ou uma
partida de futebol. O deprimido manifesta uma grande incapacidade de diversão ou
entretenimento. Ele não gosta de comida, não gosta de amor ou sexo. Uma pessoa que
está deprimida diminui o apetite sexual (libido), apresentando também impotência (no caso
dos homens) ou frigidez (no caso das mulheres). É por isso que é um absurdo dizer a uma
pessoa deprimida para tirar férias ou ir à praia por alguns dias para superar sua depressão.
Se forçarmos uma pessoa deprimida a ir para um lugar de férias, ela não desfrutará
minimamente das belezas e atrações do lugar e continuará imersa em sua depressão e
muito provavelmente permanecerá deitada em seu quarto de hotel sem querer ir à praia.
Por fim, a anergia é a perda ou diminuição da energia existencial. Uma pessoa deprimida é
uma pessoa sem energia. Ele tem dificuldade para começar o dia. Sair da cama é um feito
e tanto. Muitas pessoas deprimidas ficam vários dias sem sair da cama, sem fazer a barba
e sem tomar banho. Seus movimentos tornam-se lentos e sua caminhada muito lenta e um
pouco curvada. Eles se cansam muito facilmente e deixam de fazer atividades que
envolvam esforço físico significativo, como esportes ou atividades difíceis. A anergia não é
apenas física, mas também intelectual, pois há perda de concentração, atenção e
memória, o que interfere seriamente na atividade laboral de muitas pessoas deprimidas. A
diminuição do apetite e, consequentemente, a perda de peso, intensificam a nergia física.
A presença desses três sintomas é necessária para apoiar o diagnóstico de depressão
endógena. O resto dos sintomas são apenas manifestações desta trilogia essencial para
poder falar de uma depressão autêntica.

Principais sinais de depressão


Abaixo, listaremos todos os sinais clínicos que podem indicar que uma pessoa tem
depressão. Os três sintomas fundamentais já descritos encabeçam a lista. Se você ou
alguém tem algum destes sinais, você pode estar deprimido:
1. Baixo humor
2. Incapacidade de desfrutar das coisas
3. Diminuição da vitalidade
4. Diminuição da atenção e concentração
5. Baixa autoestima
6. Sentimentos de culpa e inutilidade
7. Ansiedade
8. Pessimismo
9. Distúrbios do sono
a) Insônia: não conseguir adormecer, acordar durante o sono ou acordar muito
cedo.
b) Hipersonia: querer dormir o dia todo.
10. Distúrbios do apetite
a) Anorexia: diminuição ou perda de apetite.
b) Hiperorexia: aumento do apetite, comer compulsivamente.
11. Perda de peso
12. Diminuição do desejo sexual
13. Irritabilidade
14. Desesperança
15. Boca seca e constipação
16. Pensamentos autodestrutivos (muito comuns em viciados).
17. Ruminação suicida ou tentativas de suicídio
18. Desânimo
19. Humor depressivo
20. Fala esparsa e atrasada
21. Expressão característica do seu rosto (fáscies depressivas).
22. Andar lento e inclinado
23. Pensamento depressivo
24. Autocrítica e julgamento prejudicados
25. Descuido na sua higiene pessoal Você consegue sair do buraco?
Por se tratar da doença invisível, muitos alcoólatras (ou viciados) em recuperação que
frequentam grupos de autoajuda não se conscientizaram de que sofrem dessa doença há
muitos anos e por não tratá-la (já que está comprovado que a abstinência de álcool ou
drogas não cura a depressão), Vivem em permanente estado de embriaguez seca que os
impedirá de alcançar a sobriedade e, portanto, a plenitude e a felicidade e, o mais grave,
podem estar à beira de uma recaída ou suicídio.
Portanto, o alcoólatra (ou drogado) que sofre de depressão é um paciente duplo, com
diagnóstico duplo e, portanto, seu tratamento terá que ser duplo. Além de frequentar o seu
grupo (já que a manutenção da abstinência é condição fundamental para que a depressão
seja tratada) você deve procurar o médico, de preferência o especialista que é o psiquiatra,
e você terá que receber medicamentos antidepressivos (que não são viciantes) para aliviar
a sua depressão. Graças a Deus, os avanços da medicina permitiram que a depressão
fosse uma doença passível de controle e seus sintomas solucionados com a ingestão
desses medicamentos e apoio psicoterápico profissional. Por todo o exposto, é viável que
o deprimido crônico saia do poço.
Não se esqueça que, assim como o alcoolismo e a drogadição, a depressão também é
uma doença progressiva e fatal, e quando você sofre das duas doenças há em mãos
aquela aliança abençoada entre AA e psiquiatria que pode prevenir a embriaguez seca
nesses pacientes duplos e mostrar que essa agonia sem fim pode acabar.
Capítulo 10
Sintoma número 8
O mach-o-minus
Ingovernabilidade sexual e sentimental

"Você me abandonou mulher, porque eu sou muito pobre/ e por ter a infelicidade de
ser casada. Três vícios eu tenho e os tenho profundamente enraizados: / estar
bêbado, jogador e apaixonado".

Os versos dessa popular canção mexicana pintam o clássico indisciplinado sexual e


emocional: quem quer ser muito machista, mas que é muito pequeno.
A ingovernabilidade sexual e sentimental é um dos sintomas da embriaguez seca mais
frequentemente apresentados pelo alcoólatra e pelo dependente químico em recuperação.
Essas pessoas que não consomem mais álcool ou drogas, continuam a praticar maus
hábitos em termos de seu comportamento sexual ou sentimental: continuam sendo
mulherengas, levam uma vida dupla, ainda estão presas a amores impossíveis ou
relacionamentos conflituosos com o sexo oposto ou trocam seu vício em álcool e/ou drogas
por um vício sexual que as mantém acorrentadas e incapazes de alcançar aquela liberdade
que Implica verdadeira sobriedade.
Esses bêbados secos são vítimas de certos conflitos neuróticos não resolvidos que os
levam a uma vida sentimental muito conflituosa, mas sobretudo muito insatisfatória;
Também aqueles que tiveram traumas sexuais na infância ou juventude apresentam
múltiplos conflitos com sua sexualidade, com permanente insatisfação e incapacidade de
encontrar felicidade com um parceiro estável.
Da mesma forma, esse fenômeno é influenciado por causas socioculturais, uma vez que
nossa sociedade possui uma cultura eminentemente machista e uma educação
inadequada e repressiva em relação aos aspectos sexuais. Prova disso são as músicas
mais populares que as pessoas ouvem e cantam, filmes ou programas de TV que
continuam influenciando essa subcultura do masculino.
Um exemplo disso é o canto dos abandonados. Um dos favoritos dos nossos homens
alcoólatras que é frequentemente ouvido em cantinas e bares:
Você me abandonou mulher, porque eu sou muito pobre
e por ter o infortúnio de ser casado.
O que eu vou fazer se eu for o abandonado!
Abandonado, seja pelo amor de Deus!

Tenho três vícios e os tenho profundamente enraizados:


estar bêbado, jogador e apaixonado;
mas é porque sou pobre porque sou o abandonado,
Abandonada, mulher, pelo teu amor ingrato.
Se bebo vinho, não peço a ninguém que confie.
Se eu ficar bêbado é com meu próprio dinheiro.
O que farei se o seu amor é o que eu quero!
Você me abandonou, seja pelo amor de Deus!
A análise psicológica do protagonista dessa canção, com a qual a pessoa sexual e
sentimental indisciplinada se identifica tanto, nos fala sobre um indivíduo insatisfeito com
seu casamento e que está em busca de amor fora de casa. Certamente ele é um indivíduo
medíocre quando se trata de sua produtividade: ou ele não trabalha ou ele se contenta
com um pequeno salário que mal é suficiente para percorrer as cantinas. É evidente que
sua mediocridade e sua inclinação excessiva para as mulheres, o jogo e o álcool fazem
com que ele seja rejeitado por elas, mas então ele recorre ao eterno pretexto: "Você me
abandonou porque eu era casado e pobre". Junto com o pretexto justificador também
aparece a arrogância em compensar: "Se eu beber vinho, não peço a ninguém que confie
e fico bêbado com meu próprio dinheiro". Mas, ao mesmo tempo, o inexorável papel de
vítima está presente: "O que farei se eu for o abandonado, abandonado pelo seu amor
ingrato. Você me abandonou, seja pelo amor de Deus!". Além de todos esses sintomas de
ingovernabilidade emocional, há a alarde do egocêntrico: "Eu me orgulho de ter três vícios:
estar bêbado, jogador e apaixonado".
Mas o principal problema é que quando esses alcoólatras param de beber, eles continuam
com essa inércia machista: deixam de estar bêbados, mas ainda são mulherengos e
jogadores, ou irresponsáveis, ou medíocres ou emocionalmente e/ou insatisfeitos
sexualmente, dando origem a uma Síndrome da Embriaguez Seca que impedirá seu
crescimento emocional e os colocará à beira de uma recaída ou divórcio.
Conheço muitos alcoólatras que pararam de beber, mas que continuaram com essa
ingovernabilidade sentimental e sexual e o que nunca aconteceu quando beberam
aconteceu: eles se separaram da esposa ou se divorciaram. Aqueles de nós que trabalham
na reabilitação de toxicodependentes verificam sistematicamente uma estatística muito
especial: há uma percentagem mais elevada de divórcios em casamentos onde deixou de
beber, do que em casais em que continua a beber. Diante dessa contradição pergunta-se:
por que quando essa pessoa era uma alcoólatra incontrolável e irresponsável sua esposa
nunca pediu o divórcio e justamente quando decide parar de beber ocorre a ruptura? A
resposta é muito simples: enquanto ele bebia, a esposa mantinha a esperança de que
quando ele parasse de beber tudo seria diferente, até mesmo perdoando-lhe as
infidelidades porque de alguma forma ele as culpava pelo álcool. Mas assim que ele parou
de beber e as infidelidades e mentiras continuaram, a esposa perde toda a esperança e
percebe que o problema não era apenas o alcoolismo, mas que havia outros problemas
mais profundos que não tinham nada a ver com o álcool. As esposas (saudáveis) perdoam
o comportamento alcoólico, mas não perdoam a infidelidade.

A mulher-mãe e o sexo da mulher;


O homem é basicamente um imaturo emocional que foi criado em uma subcultura que
tende a subjugar, dominar e agredir as mulheres. Essa subcultura machista está
profundamente enraizada em nossos países latino-americanos. No entanto, os recentes
movimentos por igualdade e dignificação das mulheres levaram a algumas mudanças
esperançosas, embora ainda haja um grande número de homens que, além de seus
hábitos machistas, sua imaturidade emocional e o consumo excessivo de álcool e drogas
agravam o fenômeno.
Um pouco disso já havia sido mencionado no sintoma número 1 ao se referir à imaturidade
emocional do rei criança. Lembre-se que o menino rei é muito dependente da figura
feminina; Por um lado, ele precisa dela para sua própria sobrevivência e, por outro, quer
dominá-la e subjugá-la, como forma de compensação pelo medo inato que os homens têm
das mulheres, segundo algumas observações psicanalíticas.
Portanto, poderíamos descrever o homem como um imaturo emocional que não cresceu e
quando atinge a idade cronológica de procurar um parceiro, o comportamento assumido é
usar, controlar e dominar a mulher. É por isso que o homem tende a ter várias mulheres,
geralmente é possessivo, dominante e ciumento com elas; não assume compromissos,
promete muitas coisas e não entrega quase nenhuma; não é estável em seus
relacionamentos; é irresponsável, engravida a companheira e depois não quer reconhecer
a paternidade; É muito difícil para ele ter uma relação igualitária, ele tem medo de competir
com as mulheres e por isso não gosta que ele estude, se destaque ou trabalhe; tende a
dominá-la e controlá-la com seu dinheiro quando ela é economicamente dependente dele;
incomoda-o que sua esposa se arrumasse, se maquiasse ou usasse roupas atraentes; Ele
não gosta que a esposa saia com os amigos ou tenha atividades próprias que não
dependam dele. Tudo isso é consequência de uma grande insegurança e, ao mesmo
tempo, de uma grande dependência que o homem tem da mulher, mas não quer
reconhecê-la.
Do ponto de vista sexual, por trás do machismo esconde-se uma dualidade muito
particular: para o homem só existem dois tipos de mulheres: a mulher-mãe e a mulher do
sexo. A mulher-mãe, como o próprio nome já diz, é a mulher símbolo da maternidade, uma
mulher que deve estar longe do ambiente mundano e dos entretenimentos da vida. Tal
mulher só deve se dedicar à missão transcendental de cuidar, cuidar e educar seus filhos,
bem como procurar satisfazer todas as necessidades do marido, especialmente em termos
de casa, vestuário e sustento. Para o macho, a mãe feminina é sua mãe, suas irmãs, sua
esposa e suas filhas que ele tranca em um boné e praticamente as dessexualiza.
Essa dessexualização das mulheres é muito característica da educação judaico-cristã
espanhola, típica da nossa cultura. O sexo está intimamente associado ao pecado, à
impureza e à profanação. O macho quer que sua esposa seja como sua mãe de santo e,
por isso, tentará domá-la e submetê-la a um tipo de comportamento que ele ensinará e
imporá. Como consequência dessa dessexualização da mulher, o homem terá muitos
problemas sexuais na relação com sua parceira, pois em um sentido simbólico, ele busca
em sua esposa a continuidade de sua mãe, a dessexualiza e inconscientemente há uma
repressão ao prazer sexual, o que causa insatisfação crônica em ambos os membros do
casal.
A insatisfação sexual e, portanto, a escassez de relações com sua esposa-mãe, fazem
com que o homem busque relações extraconjugais com parceiras que considera a mulher-
sexo. Aqui se estabelece uma vida dupla e, ao mesmo tempo, um duplo padrão que o
macho se justifica permanentemente. Com a esposa você não pode ter certos tipos de
comportamentos sexuais porque eles são imorais, mas com o sexo feminino é totalmente
aceitável. Com a esposa-mãe frequenta certos tipos de atividades, lugares e encontros,
muito diferentes daqueles frequentados com a mulher-sexo.
Uma percentagem muito significativa de alcoólicos em recuperação que participam em
grupos de AA e também de toxicodependentes em reabilitação que frequentam grupos de
autoajuda mantém esta vida dupla: têm uma mulher e um amante, e ambos receberam
uma casa e com ambos tiveram filhos. mas cada uma mantendo seu papel, mulher-mãe
uma e mulher-sexo a outra. Em outras ocasiões o paciente em recuperação, embora não
tenha amante de plantas, mantém relações extraconjugais contínuas com outras mulheres
e há também o bêbado seco que só procura a mulher-sexo em bares, ruas ou bordéis.
A infidelidade, que é a manifestação fundamental da ingovernabilidade sexual e
sentimental, implica a presença de vários sintomas da embriaguez seca: imaturidade,
insegurança, desonestidade, ausência de compromisso, insatisfação existencial!, culpa e
ansiedade.
A ansiedade é um dos sintomas da embriaguez seca que mais frequentemente apresenta
aquele que pratica a infidelidade. Mentir continuamente para a esposa sobre como justificar
seu comportamento de infidelidade o mantém em estresse permanente. Uma mentira tem
que ser justificada com duas mentiras e assim por diante. Quantas vezes o infiel tem que
dar explicações sobre seu comportamento. Nunca faltam informantes livres para a esposa
que coloca em apuros o marido que tem que explicar suas contínuas contradições. Há um
tradicional dístico mexicano que descreve essa ansiedade crônica do mulherengo:
Aquele que se apaixona casado
Está sempre desbotado.
É por causa das noites sem dormir ou por causa do medo do marido?

Vício em sexo
O alcoolismo e a drogadição constituem um transtorno afetivo da dependência química.
Como veremos mais adiante em outro sintoma de embriaguez seca, às vezes o alcoólatra
que consegue a abstinência do álcool ou o viciado que deixa de usar drogas, substitui o
vício em substâncias por um vício em comportamentos como o vício em sexo.
Assim como o efeito do álcool ou das drogas é uma experiência muito gratificante, a prática
do sexo também é. Quando o alcoólatra deixa de beber ou o dependente químico deixa de
consumir estimulantes, ele busca novas emoções fortes que encontra na prática do sexo.
Foi cientificamente comprovado que o álcool produz certas endorfinas que estimulam o
centro de recompensa do cérebro. Além disso, certas drogas estimulantes, como cocaína
ou anfetaminas, estimulam a produção de alguns neurotransmissores, como a dopamina,
que também estimula o centro de prazer do cérebro. No orgasmo sexual há produção tanto
de dopamina quanto de endorfina, com a consequente estimulação do circuito de
recompensa cerebral. Como você pode ver, quando você troca um vício por outro, você
ainda tenta alcançar o mesmo tipo de resposta cerebral que é a obtenção compulsiva de
prazer.
Ora, o vício em sexo não se manifesta apenas por esse comportamento de infidelidade
típico do mulherengo. A infidelidade não é necessariamente um vício sexual, mas a
manifestação de uma neurose resultante da imaturidade emocional dentro de uma
subcultura machista. Por outro lado, o vício em sexo é um comportamento excessivo,
repetitivo e compulsivo de certas práticas sexuais que levam à estimulação orgástica. A
patologia psiquiátrica os chama de parafilias, antigamente chamadas de desvios sexuais.
Tal denominação era mais moralista do que sanitária, por isso decidiu-se chamá-las de
parafilias e lidar com um termo mais científico e moralmente neutro.
As principais parafilias ou vícios sexuais são as seguintes:

1. Voyeurismo: obtenção de prazer sexual através da visão.


2. Exibicionismo: obter prazer expondo as partes íntimas.
3. Sadismo: obtenção de prazer através da violência contra os outros.
4. Masoquismo: obtenção de prazer através do sofrimento.
5. Pedofilia: obtenção de prazer por manipulação sexual com crianças.
6. Escoptofilia: obtenção de prazer espionando cenas sexuais.
7. Escadofilia telefônica: excitação através de conversas profanas por telefone.
8. Zoofilia: fazer sexo com animais.
9. Necrofilia: (fazer sexo com cadáveres.
10. Masturbação compulsiva: necessidade compulsiva de se masturbar.
11. Travestismo: obtenção de prazer sexual usando roupas do sexo oposto.
12. Fetichismo: fixação do prazer sexual nas roupas ou objetos de uma pessoa.
13. Froteurismo: obtenção de prazer sexual ao se esfregar com as pessoas.

Como você pode ver, o vício sexual já é um comportamento muito mais patológico do que
o indisciplinado sentimental que é basicamente um macho lascivo. O comportamento
patológico das parafilias deve ser atendido por um especialista em psiquiatria. Infelizmente,
um bom número de alcoólatras e dependentes químicos em recuperação sofre desses
transtornos.

Os conflitos psicossexuais de alcoólatras Já analisamos dois problemas sexuais e


sentimentais frequentes que podem produzir a Síndrome da Embriaguez Seca. Agora
tentaremos analisar os conflitos neuróticos não resolvidos que geralmente levam o
dependente à ingovernabilidade sexual e sentimental.
Muitos futuros alcoólatras só começam a abusar do álcool por causa de seus problemas de
relacionamento com o sexo oposto: são pessoas inseguras, autoconscientes, com baixa
autoestima e que têm dificuldade em se aproximar de uma pessoa do sexo oposto, por isso
recorrem ao álcool e/ou drogas para superar suas inibições. Esse fenômeno é observado
com mais frequência em homens do que em mulheres, talvez devido às regras do jogo
social que, de alguma forma, levam os homens a tomar a iniciativa de se aproximar de uma
mulher (embora nos últimos anos e especialmente nas novas gerações, o fenômeno tende
a ser equalizado entre homens e mulheres). No entanto, não podemos negar que no sexo
feminino também existem muitas mulheres inseguras e inibidas que precisam recorrer ao
álcool para poder se relacionar com os homens.
Essa necessidade de desinibição encontra no álcool (e em algumas drogas) a solução
maravilhosa que permite à pessoa superar seus complexos, adquirir coragem, relaxar de
suas tensões e, assim, poder se aproximar de uma mulher, conversar, dançar e talvez
fazer propostas de ordem sentimental e sexual.
A repetição sistemática desse comportamento (precisar do álcool para poder se relacionar
com alguém do sexo oposto) leva ao desenvolvimento de um reflexo condicionado que
consiste em associar álcool e/ou drogas sempre que houver necessidade de conhecer
novos amigos, ter que dançar ou iniciar uma nova conquista romântica. Inclusive, muitas
mulheres e homens casados precisam ingerir bebidas alcoólicas para fazer sexo.
Muitos alcoólatras que estão iniciando sua abstinência me confessaram que tiveram muitos
problemas com disfunção sexual como resultado de parar de beber. Esses problemas vão
desde a diminuição do desejo sexual, problemas de ereção ou ejaculação, até a
impotência sexual total. Muitas mulheres que abandonaram o uso de álcool ou drogas
também relataram frigidez ou relacionamentos insatisfatórios desde o momento em que
pararam de usar.
Esse problema tem solução. É preciso aguardar que o fenômeno do descondicionamento
ocorra. É necessário que decorrido um certo tempo para que o mecanismo associativo
entre álcool e sexo ou entre álcool e aproximação com pessoas do sexo oposto seja
quebrado. A quebra desse reflexo condicionado será alcançada lenta e gradualmente
através de um processo de aprendizagem: o alcoólatra experimentará e se convencerá de
que é perfeitamente viável se relacionar com uma mulher, conversar ou dançar com ela e
fazer sexo sem a presença de álcool ou drogas. Além disso, através da psicoterapia ele
conseguirá um melhor conhecimento e aceitação de seus problemas infantis que o levaram
a desenvolver problemas de insegurança, baixa autoestima, tensão e inibição toda vez que
tentava se aproximar de uma mulher (ou de um homem, no caso das mulheres).
A repressão sexual é tão inadequada quanto o abuso sexual. O apropriado é um uso
equilibrado do instinto sexual. É por isso que, na literatura de AA (Como Bill vê, p. 142) diz
o seguinte: "Os instintos com os quais fomos criados têm propósitos definidos.
Sem eles não seríamos humanos completos. Se não cuidassem de se reproduzir, a Terra
não seria povoada. Portanto, os desejos de relação sexual ou companheirismo são
perfeitamente necessários e corretos, porque vêm de Deus. Mas esses instintos tão
necessários muitas vezes excedem suas funções normais. De maneiras cegas, poderosas
e muitas vezes sutis, elas nos impulsionam, nos dominam e insistem em ditar nossas
vidas."

O viciado codependente
O fenômeno da codependência não é exclusivo dos familiares de dependentes químicos.
Existem muitos alcoólatras e dependentes químicos que também são codependentes, e
quando um alcoólatra e/ou viciado em drogas é codependente de seu parceiro, ele terá
sérios problemas de ingovernabilidade sentimental e sexual, o que o levará a desenvolver
a Síndrome da Embriaguez Seca.
Já falamos sobre o menino rei. Aquele imaturo emocional que tem muita dependência da
mãe e de todas as mães-mulheres com quem se relaciona na vida, se autodenomina
namorada, amante ou esposa. Pois bem, esse sujeito desenvolverá uma grande
dependência, o que o levará a tentar controlar e dominar a mulher para não perdê-la. Isso
o levará a desenvolver comportamentos inadequados como possessividade, dominação,
ciúmes, ameaças e, às vezes, violência verbal e física. Parar de beber ou usar drogas não
isenta muitas pessoas em recuperação de continuar a manifestar esses sintomas claros de
embriaguez seca.
Quando há uma relação de codependência é necessário perguntar se existe um amor
verdadeiro para com o casal ou se é simplesmente necessidade. "Não é o mesmo dizer
que te amo porque preciso de ti, que preciso de ti porque te amo" (Erich Fromm, em A Arte
de Amar). Dizer que te amo porque preciso de você é uma manifestação de
codependência em relação ao seu parceiro, enquanto dizer "preciso de você porque te
amo" é uma manifestação de amor maduro.
O cerne do problema psicológico do dependente dependente está em sua incapacidade de
amar, ou que ele ama sem maturidade, como uma criança que precisa de sua mãe. Erich
Fromm, em seu livro A Arte de Amar, define o amor maduro como "a expressão da
produtividade que implica interesse, respeito, cuidado, responsabilidade e conhecimento,
um esforço para crescer e encontrar a felicidade da pessoa amada, enraizada na própria
capacidade de amar". Em contraste, Brenda Schaeffer, em seu livro É Amor ou Vício?,
define o amor viciante como imaturo, possessivo, limitante, medroso e dependente.
A própria Brenda Schaeffer acrescenta que o viciado em amor é uma pessoa que busca
apoio de alguém de fora de si, na tentativa de cobrir necessidades não atendidas para
evitar medo ou dor emocional, resolver problemas e manter o equilíbrio. "O paradoxo é que
o vício em amor é uma tentativa de ganhar o controle de nossas vidas e, ao fazer isso,
saímos do controle dando poder pessoal a alguém que não nós mesmos."
O alcoólatra que conseguiu tirar o álcool do centro de sua vida agora gira em torno de uma
pessoa que tomou o lugar que o álcool já teve. É por isso que ele está em embriaguez
seca, porque ele trocou o vício de uma substância pelo vício de uma pessoa.
Curiosamente, muitos desses alcoólatras, quando perdem a pessoa a quem são viciados,
recaem no álcool ou nas drogas. Como é difícil para eles alcançar a verdadeira libertação!

Você é misógino?
Finalmente, devemos dizer algo sobre o misógino, que é um tipo muito patológico e
perigoso de codependente. Entre alcoólatras e viciados em drogas há muitos misóginos.
Um misógino é um homem que odeia as mulheres, mas não pode viver sem elas. É uma
forma de codependência extrema e patológica onde o misógino se sente dono de sua
parceira e, portanto, a domina, subjuga e controla totalmente. Qualquer tentativa de se
opor a esse tipo de ação por parte do casal, gera tensões e problemas gravíssimos que
podem chegar à violência física.
Susan Forward, em seu livro When Love Is Hate, caracteriza o misógino da seguinte forma:
1. Eles precisam ter controle absoluto da relação.
2. São ciumentos e possessivos.
3. Para obter o controle, recorrem à sedução, chantagem, manipulação, ameaças,
intimidação, humilhação e agressões verbais e físicas.
4. Eles mantêm permanentemente uma atitude de superioridade diante de seu parceiro
à qual nunca dão a razão.
5. Eles nunca pedem desculpas. O misógino convence a companheira de que o
incidente não existiu.
6. Eles sempre transferem a culpa. Se algo der errado e ela agredir o parceiro, ela é a
culpada e ela tem que pedir desculpas.
7. Você fica com raiva se seu parceiro reclama de algo. Ela não tem o direito de
reclamar ou chorar.
8. Quando sente que está perdendo o controle, passa da violência psicológica para a
física.
9. Reduz o mundo do parceiro: ela não pode ter atividades nem amizades. Ela não
pode ser ela mesma. Ele tem que saber tudo o que faz.
10. Não tolera o término de um relacionamento. Ele sempre estará perseguindo e
assediando ela. Ele se considera dono da companheira.
Não se deve esquecer que a relação do misógino com seu parceiro é uma simbiose
neurótica, uma interdependência de um codependente com outro codependente. Ela
também tem que trabalhar em sua própria doença, a fim de se libertar. As principais
características do parceiro do misógino são as seguintes:
1. Eles são viciados em amor.
2. Eles não são ninguém se não tiverem um homem.
3. Eles são autossuficientes e fortes em outras áreas da vida.
4. São masoquistas: quanto mais os atacam, mais se agarram.
5. Eles continuam esperando que algo aconteça que o mude.
6. Vivem com medo e insegurança de perder o parceiro.

O misógino é uma das formas mais graves de embriaguez seca. O prognóstico dessas
pessoas é bastante reservado, pois pouquíssimos aceitam que são e não querem mudar. A
celotipia patológica e a síndrome da mulher agredida são fenômenos associados à
presença de um misógino na família.
Terminamos com uma citação de Bill W. publicado em As Bill Sees It e retirado dos Doze e
Doze (pp. 282 e 47, respectivamente):
Toda vez que uma pessoa impõe irracionalmente seus instintos a outras pessoas, a
infelicidade aparece. Se a busca pela riqueza esbarrar em outras pessoas ao longo
do caminho, a raiva, o ciúme e a vingança serão levantados. Quando o sexo corre
solto, há uma comoção semelhante. As demandas excessivas por atenção, proteção
e amor motivarão nas pessoas afetadas sentimentos de dominação ou rebeldia, duas
emoções tão doentias quanto as demandas que as provocaram. Esse choque de
instintos pode produzir desde um desprezo hostil até uma revolução incendiária.
Capítulo 11
Sintoma número 9
Síndrome do avestruz: não vejo, não ouço e não falo
Negação de sua realidade não alcoólica com persistência dos mecanismos de
racionalização e projeção

A aceitação do alcoolismo é inútil se a realidade não alcoólica continuar a ser negada:


aquelas áreas errôneas que giram em torno do vício e que, em parte, foram sua causa.
Contentar-se em parar de beber e não querer enfrentar a realidade das áreas neuróticas
que estão causando ingovernabilidade emocional é uma pseudo recuperação que só leva
à mediocridade existencial.
Há uma crença popular sobre avestruzes que, quando ameaçados, escondem a cabeça
sob o chão como se quisessem afastar o perigo. Embora os conhecedores do assunto
afirmem que isso não é verdade, a história é como um anel no dedo para muitos
alcoólatras que não bebem mais, que estão em aparente recuperação, mas que não
querem saber nada sobre sua realidade não alcoólica, aquelas áreas erradas que giram
em torno de seu vício que não querem enfrentar, Porque, como o avestruz, eles temem
enfrentar essa ameaça à sua autoimagem e enterram a cabeça no buraco dos três
mecanismos de defesa psicológica favoritos do alcoólatra: negação, racionalização e
projeção.
Desde que os pretextos foram inventados, ninguém é preguiçoso, ineficiente, incapaz,
irresponsável, informal, mentiroso, infiel, insatisfeito, agressivo, ciumento, desonesto, etc.,
etc. e mil e uma etceteras.
Quem inventou os pretextos? Certamente ele era um alcoólatra. Já dissemos que os
alcoólicos são donos das desculpas e campeões do pretexto.
Quando bebiam, inventavam mil e um pretextos para justificar por que ficavam bêbados.
Agora que já não bebem e estão alegadamente a recuperar, continuam a fabricar pretextos
para justificar o seu comportamento indisciplinado.
Os pretextos são uma das três principais maneiras pelas quais os alcoólatras negam sua
realidade não alcoólica. Esses pretextos, que muitas vezes acabam acreditando no próprio
sujeito, constituem o que na psicologia é conhecido como racionalização. Isso significa que
o indivíduo constrói uma falsa explicação que busca justificar comportamentos
inadequados, como forma de não enxergar aquela realidade neurótica.
Quando um pai bate em seu filho com raiva e desespero (e isso ainda é feito por muitos
alcoólatras em recuperação), então quer justificá-lo dizendo: "Isso me dói fazer isso, mas é
para o seu bem", este é um exemplo típico de como o comportamento neurótico é
racionalizado. A realidade que esse sujeito não quer aceitar é: "Sou um indivíduo impulsivo
que não sabe controlar minha raiva e isso me torna um pai espancador". O acima exposto
é inaceitável para o seu próprio Eu, por isso constrói um falso argumento para se justificar,
que constitui o seguinte mecanismo de racionalização: "Eu sou um pai preocupado com a
educação do meu filho, então sou forçado a bater nele às vezes".
Os outros mecanismos empregados para negar a realidade são a negação e a projeção.
O mecanismo psicológico de negação é definido como a falta de reconhecimento da
realidade, mesmo que ela seja evidente, pois reconhecê-la implicaria em ameaça ao
próprio Eu e prejudicaria a autoimagem do sujeito.
Pessoas que usam muito a negação têm uma percepção distorcida de sua própria
autoimagem, mas também alteraram a percepção das pessoas com quem interagem e de
seu próprio ambiente sociocultural.
Continuemos com o exemplo do pai espancador, que além de utilizar mecanismos de
racionalização, utiliza mecanismos de negação da realidade. Aquele pai espancador que
argumenta que tem que bater no filho "por causa dele" tem uma autoimagem de pessoa
responsável, preocupada com a educação do filho e que é muito firme e rigorosa com ele.
Como você pode ver, esse pai tem uma autoimagem positiva de si mesmo, mas é óbvio
que essa autoimagem é distorcida, porque à luz da objetividade ele é uma pessoa raivosa,
com baixo controle de impulsos, o que o torna um abusador de menores.
O negacionista é uma pessoa que sempre vai lidar mal com a realidade: a realidade da sua
própria pessoa, a das pessoas com quem se relaciona e a do seu ambiente. Ao lidar mal
com a sua realidade, você lidará muito mal com as situações que surgirem em sua vida e
os fracassos não vão esperar. Portanto, esses tipos de bêbados secos geralmente são
perdedores habituais, mesmo que não bebam mais.
E o terceiro mecanismo psicológico pelo qual a realidade é negada é a projeção, um
mecanismo pelo qual o indivíduo se liberta de certas situações afetivas dolorosas ou
intoleráveis, deslocando seus próprios sentimentos para fora.
Em palavras mais simples: "O leão acredita que todos são da sua condição".
O indivíduo que lida com a projeção como forma de não aceitar sua própria realidade
coloca nos outros seus próprios defeitos, sentimentos negativos ou comportamentos
inaceitáveis.
Um exemplo típico do mecanismo de projeção é o do marido infiel que também é muito
ciumento. Quanto mais mulherengo ele for, mais ele desconfiará e terá ciúmes de sua
esposa. Porque o comportamento inaceitável de sua infidelidade e promiscuidade sexual
está se projetando em sua própria esposa. Dessa forma, cuidar e monitorar sua esposa
será um distrator psicológico que o impedirá de enfrentar sua própria realidade de ser um
indivíduo desonesto, infiel e desleal, que nunca respeitou o compromisso sentimental com
seu parceiro. Nesse caso, seu ciúme patológico funciona como uma tela para não enxergar
aquela triste realidade de si mesmo.
Esses mecanismos de negação da realidade não alcoólica nada mais são do que uma
forma de resistência à mudança. O alcoólatra que costuma ser um indivíduo egocêntrico e
narcisista, ou seja, que precisa de muita admiração e respeito dos outros, vai resistir muito
para aceitar o lado sombrio de sua personalidade. Portanto, quando ele chega ao seu
grupo AA, ele nunca tocará no assunto de seus próprios defeitos de caráter, mas
enfatizará seus muitos anos de abstinência alcoólica e também falará muito sobre os
defeitos dos outros. mas não os seus. Eles veem a palha no olho do outro e não a trave
no seu.

Não vejo, não ouço e não falo


Em uma de suas cartas (1966), Bill W., co-fundador da AA, menciona o seguinte: "Muito da
minha vida foi dedicada a pensar sobre as deficiências de outras pessoas. Esta é uma
forma sutil e perversa de autossatisfação, que nos permite permanecer confortavelmente
inconscientes de nossas próprias deficiências."
"Uma forma sutil e perversa de autossatisfação." Que maneira magistral de desenhar o
bêbado seco que nega sua própria realidade. E é que no seu esforço para resistir à
mudança, aquele que só se contenta em deixar de beber, mas não quer enfrentar as suas
áreas erradas, comporta-se como certos changuitos: aquele que tapa os olhos (não vejo),
outro que tapa os ouvidos (não ouço) e o último que tapa a boca (não falo).
É precisamente assim que ele é o negador de sua realidade não alcoólica: ele não quer ver
seus defeitos, não quer ser contado e muito menos quer falar sobre eles.
Aqueles que não querem ver suas próprias deficiências nunca falam sobre elas e tentam
fugir do assunto sistematicamente. É por isso que ele está preocupado em ver as
deficiências dos outros. Ou é por isso que ele só fala sobre seus próprios sucessos ou se
gaba dos muitos anos que não bebeu. É por isso que ele está mais preocupado em
praticar o passo 12 do que fazer um quarto passo. É ele quem diz que não precisa
consultar psiquiatras ou psicólogos, nem ir a um orientador espiritual, porque tem
dificuldade de falar de si mesmo, ou porque tem muito medo de enfrentar uma realidade
que o aterroriza e que não quer aceitar.
Eles também não querem que os outros falem com eles sobre suas falhas de caráter (eu
não ouço). Muitos alcoólatras em recuperação ficam chateados porque outros fazem
observações sobre sua atitude ou comportamento e depois se sentem atacados por seus
colegas ou se sentem atacados da tribuna quando alguém levanta um tópico sobre
defeitos de caráter que não quer aceitar.
Assim como eles estavam com raiva quando estavam em seu estágio de alcoolismo ativo e
alguém tocou no assunto de sua bebida, agora que eles pararam, eles ficam igualmente
chateados quando sua esposa, um membro próximo da família ou um amigo lhes fala
sobre o defeito ou comportamento inadequado que eles sugerem que eles mudem.
Quantos perderam um amigo ou se afastaram de um familiar próximo só porque não
toleram ser informados sobre tais falhas que não estão dispostos a mudar.

O inconsciente ou a porção submersa do iceberg


O que você não quer aceitar da realidade fica guardado no inconsciente. Os três
mecanismos de defesa citados (negação, racionalização e projeção) são inconscientes, ou
seja, não são atos premeditados com a ideia de não aceitar algo conscientemente, mas
são mecanismos automáticos da personalidade que querem proteger o Eu. Uma pessoa
que nega ou racionaliza algo não está mentindo, nem está enganando ninguém, está
apenas se apegando a uma imagem idealizada de si mesma que a protege da angústia
gerada pela realidade objetiva.
Isso pode ser melhor compreendido se lembrarmos da figura de um iceberg, aqueles
imensos blocos de gelo que flutuam nos mares Ártico e Antártico. Se olharmos ao longe,
veremos apenas a porção que emerge do mar. Se nos aproximarmos e mergulharmos
para vê-la melhor, descobriremos que a parte submersa (escondida) dela é muito maior do
que a visível.
As motivações do comportamento humano são semelhantes a um iceberg. As motivações
conscientes de nosso comportamento correspondem à porção visível do iceberg, no
entanto, as motivações inconscientes, das quais não percebemos, correspondem à porção
submersa e são muito mais frequentes do que as motivações conscientes.
Alcoolismo, drogadição e codependência são doenças de negação. E como a maior parte
da negação é inconsciente, alcoólatras, dependentes químicos ou codependentes não
percebem sua negação quando ela está ocorrendo, por isso é importante trazer a negação
para a realidade o mais rápido possível. Isto é conseguido através de certas técnicas
psicoterapêuticas que visam destruir os mecanismos de defesa.
Quando um indivíduo escolhe um parceiro, ele tem uma motivação consciente e muitas
motivações inconscientes. A motivação consciente pode ser: "Já quero ter uma namorada"
ou "Já quero casar", mas na escolha do tipo de parceiro muitas motivações inconscientes
influenciam: talvez seja escolhido um parceiro muito parecido com a mãe do sujeito ou é
possível que você selecione uma pessoa muito submissa ou muito forte psicologicamente.
Todas essas motivações são inconscientes e têm origem na história psicobiográfica do
indivíduo desde as primeiras experiências de sua vida.
Quando o alcoólatra é convidado a parar de beber e se submeter a tratamento, ele se
sente atacado e ofendido porque nega seu alcoolismo. Quando essa pessoa garante que
não é alcoólatra e promete que "vai te baixar", ela não está mentindo ou enganando. O
mecanismo de negação da realidade é proteger seu Eu de ser um vicioso, um degenerado
ou um estigmatizado social e o que seu eu ideal deseja é ser um indivíduo aceito pela
sociedade e capaz de beber como todos os outros.
Quando o alcoólatra cai em uma crise existencial causada por seu alcoolismo (bater no
fundo) há um choque emocional interno muito intenso que quebra seus mecanismos de
defesa e permite que ele aceite sua realidade alcoólica.
Algo semelhante acontece com a realidade não alcoólica, quando o paciente já iniciou um
tratamento de recuperação ou ingressou em um grupo AA. Embora ele agora aceite seu
alcoolismo, ele continua a negar certas evidências em torno de suas áreas neuróticas
porque ele se entrincheira nesses mecanismos de defesa para proteger seu eu ideal.
Nesses casos, o paciente deve ser submetido a certas técnicas de psicoterapia para que
seus mecanismos defensivos sejam rompidos. Feedback, catarse e pressão exercida por
um grupo AA sobre o alcoólico em recuperação também podem ser ferramentas para
destruir esses mecanismos.
Em seu livro Do sofrimento à paz, Ignacio Larrañaga aponta o seguinte em relação ao
inconsciente: "A consciência é como uma pequena ilha, de poucos quilômetros quadrados,
localizada no meio de um oceano de profundezas insondáveis e horizontes quase infinitos.
Esse oceano é chamado de subconsciente. Nada é perceptível à vista. Está tudo tranquilo.
Mas, no fundo, tudo é movimento e ameaça. Há vulcões adormecidos que podem entrar
em erupção de repente, energias ocultas que mantêm a alma de um furacão no lugar,
impulsionando forças que contêm germes de vida ou morte."
E o padre Larrañaga continua: "O homem, em geral, é um sonâmbulo que anda, se move,
age, mas está dormindo. Ele se inclina em uma direção, e muitas vezes não sabe o
porquê. Estoura aqui, grita ali; ora corre, depois para; acolhe o segundo, rejeita o primeiro,
chora, ri, canta; Ora triste, ora contente: geralmente são atos reflexos e não totalmente
conscientes. Às vezes, ele dá a impressão de ser um fantoche movido por fios misteriosos
e invisíveis."

A ajuda da psiquiatria e da psicoterapia


O negacionista de sua realidade não alcoólica viverá uma existência empobrecida,
medíocre e desajustada devido à má gestão da realidade em nível pessoal, interpessoal e
ambiental. Isso fará com que você sofra de uma Síndrome de Compulsão Seca
persistente. Como esses mecanismos são de origem inconsciente, é muito difícil quebrá-
los. Além do programa de 12 passos, é necessária a ajuda da psiquiatria e da psicoterapia
por meio de certas técnicas específicas para quebrar esses mecanismos de defesa.
Não se esqueça do que Bill W. menciona. em seu livro AA amadurece, sobre psiquiatria e
negação: "Os bêbados são campeões em racionalizar e fabricar desculpas. Cabe ao
psiquiatra buscar sob nossos pretextos as causas mais profundas de nosso
comportamento. Apesar de não termos instrução em psiquiatria, podemos, depois de
passar um tempo em AA, ver que nossos motivos não foram o que pensávamos que eram,
e que fomos motivados por forças até então desconhecidas para nós. Portanto, devemos
nos interessar profundamente pelo exemplo que a psiquiatria nos dá, tê-lo na mais alta
estima e tentar aproveitá-lo."
E este tópico, Bill W. Ele complementa isso em uma de suas cartas em 1966: "O
desenvolvimento espiritual através da técnica de 12 passos, juntamente com a ajuda de
um bom patrocinador, normalmente pode revelar a maioria das razões mais profundas
para nossos defeitos de caráter, pelo menos em um grau que atenda às nossas
necessidades práticas. No entanto, devemos ser gratos por nossos amigos no campo da
psiquiatria terem enfatizado tão fortemente a necessidade de procurar motivos falsos e
muitas vezes inconscientes."
As principais técnicas especiais utilizadas pela psiquiatria para quebrar os mecanismos de
defesa dos pacientes dependentes químicos são a psicoterapia, de orientação
psicanalítica, a psicoterapia dinâmica de grupo, o psicodrama, a gestalt-terapia, algumas
técnicas de grupo de confronto como a bancada quente, o sócio-drama, o cinema-debate
terapêutico, técnicas de confronto, maratona terapêutica e videoterapia, entre outras.
A negação da realidade aditiva é um sintoma estrutural do alcoolismo. A negação da
realidade não alcoólica é um sintoma estrutural da neurose. O alcoólatra é um viciado e um
neurótico, então ele terá que superar sua negação duas vezes. Primeiro, aceitar que você
é um alcoólatra ou um viciado e uma vez que você consegue estar limpo de álcool e / ou
drogas, aceite que você está cansado de sua capacidade de gerenciar sentimentos, que
você é um indisciplinado emocional que terá que superar todas as áreas neuróticas que
estão gravitando em torno de seu vício, Conseguir crescer emocionalmente e assim atingir
a maturidade que, somada à sua abstinência de álcool e/ou drogas constituem os dois
elementos essenciais para que a verdadeira sobriedade seja alcançada.
Terminamos com uma citação de Bill W. que alude a esse sintoma da embriaguez seca: "O
desejo perverso de esconder um motivo ruim sob um bom, penetra nos assuntos humanos
do cume ao fundo. Esse tipo sutil e esquivo de justiça própria pode ser a base do menor
ato ou pensamento. Aprender diariamente a reconhecer, admitir e corrigir esses defeitos é
a essência da construção do caráter e do bem viver."
Capítulo 12
Sintoma número 10
Transformar para não mudar
Substituição do álcool por outras drogas ou substâncias que causam dependência

Muitos alcoólatras param de beber, mas continuam viciados em outras substâncias ou


outros comportamentos aditivos. Isso não apenas impede a sobriedade, mas eles não
conseguiram controlar seu transtorno de dependência que simplesmente colocaram um
novo disfarce.
Há alguns anos, em uma cidade pequena, um cara ofereceu a todos da comunidade para
modernizar suas antigas televisões em troca de uma certa quantia de dinheiro. As pessoas
boas do lugar achavam que era algo maravilhoso, porque em troca de um valor muito
menor do que custava uma nova televisão, eles poderiam atualizar seus receptores.
Quando receberam seus dispositivos modernizados, ficaram desagradavelmente surpresos
que a única coisa que havia mudado era a tampa externa do dispositivo, mas que a
televisão ainda estava com os mesmos defeitos de antes.
Eu nunca soube se o golpista foi preso e punido, mas o acima vem à mente porque muitos
alcoólatras que param de beber, fazem exatamente o mesmo que o golpista na anedota:
eles prometem uma mudança, mas é apenas uma transformação superficial para que tudo
permaneça igual. Esses alcoólatras que simplesmente trocam uma droga por outra são
golpistas de si mesmos, de sua família e das pessoas que esperam muito deles; São
bêbados secos.
O mesmo acontece com alguns dependentes de outras substâncias, que deixam de usar
sua droga favorita, mas a trocam por álcool, acontecendo exatamente da mesma forma
que com os alcoólatras; Trocar uma droga por outra não resolve o problema do vício, basta
colocar um novo disfarce. Como diz o ditado popular: "O mesmo gato, mas chafurdando".

A Cabeça Viciante do Dragão


Não se esqueça da metáfora do dragão de duas cabeças com a qual comparamos a
doença viciante. O vício é como um dragão que, para derrotá-lo, você tem que cortar as
duas cabeças que tem: a cabeça viciante e a cabeça neurótica.
A cabeça viciante representa a doença do alcoólatra: é um dependente químico,
potencialmente viciado em qualquer substância capaz de provocar paraísos artificiais em
seu cérebro. Mas não só ele é potencialmente viciado nessas substâncias, mas também
em qualquer tipo de comportamento que seja capaz de estimular o centro de recompensa
do cérebro, como o jogo ou o sexo compulsivo.
A cabeça neurótica representa os conflitos psicossociais do alcoolista, ou seja, sua
ingovernabilidade emocional e todo aquele ambiente que o cerca e que é propício ao
consumo de álcool e/ou drogas.
Para que um alcoólatra realmente se recupere e alcance a sobriedade, ele deve parar de
usar substâncias aditivas, amadurecer psicologicamente para uma melhor gestão de suas
emoções e mudar seu ambiente e amigos para não se expor ao consumo de álcool e
drogas.
Quando um alcoólatra simplesmente para de beber, mas não supera seus conflitos
neuróticos, ele cai na Síndrome da Embriaguez Seca.
Quando um alcoólatra abandona o álcool, mas o substitui por outra substância ou
comportamento viciante, não só ele não será capaz de amadurecer emocionalmente, mas
também não conseguiu controlar seu transtorno aditivo. Esses alcoólicos não conseguiram
cortar nenhuma das duas cabeças do dragão.

Síndrome do Déficit de Recompensa


O alcoólatra é um dependente químico. Isso significa que ele não só tem um vício
específico em álcool, mas ele tem uma alteração neuroquímica cerebral que se manifesta
através de um transtorno de dependência. Ou seja, o alcoólatra manifestou sua doença
viciante através do álcool (assim como o viciado em cocaína manifesta seu transtorno
aditivo através do uso de cocaína ou heroína). A biopsiquiatria moderna desenvolveu uma
hipótese baseada nos conhecimentos mais recentes sobre genética e neuroquímica
cerebral, que é a teoria da Síndrome do Déficit de Recompensa (ver a revista
Líberaddictus, p. 48).
Esta teoria afirma que todos os viciados têm um defeito genético que faz com que seu
cérebro produza menos de certas substâncias chamadas neurotransmissores. Essas
substâncias têm, entre outras funções, causar a sensação de bem-estar, ou seja, fazer
com que as pessoas se sintam bem. Uma dessas substâncias é a dopamina, que parece
ser o principal neurotransmissor responsável por estimular a parte do cérebro chamada
Centro de Recompensa Cerebral.
Pessoas com esse defeito genético produzem dopamina abaixo do normal, por isso
precisam consumir substâncias que elevam o nível de dopamina e outros
neurotransmissores relacionados, como serotonina, nor-adrenalina, endorfinas e ácido
gama-amino-butírico.
Diferentes investigações no campo da biopsiquiatria, e especialmente no da dependência,
têm mostrado que os alcoólatras têm esse defeito genético, que também tem sido
encontrado em outros tipos de dependências, como a cocainomania, a dependência de
anfetaminas e metanfetaminas, jogadores compulsivos ou comedores compulsivos em
excesso.
Álcool, cocaína, anfetaminas e outras drogas são substâncias que, quando consumidas,
causam aumento desses neurotransmissores. Pessoas com esse defeito genético ao
consumir essas substâncias sentirão um efeito prazeroso muito intenso e, portanto,
consumirão essas drogas com frequência e intensidade até se tornarem dependentes
delas.
O mais interessante dessa pesquisa sobre a Síndrome do Déficit de Recompensa é que
esse defeito genético também foi encontrado em pessoas com vício em comportamentos:
sexo compulsivo, jogo compulsivo e comedores compulsivos em excesso.
Há uma enorme semelhança entre o jogador compulsivo e o viciado em cocaína: a
obsessão do jogador compulsivo é a intensa excitação que o jogo gera. Essa emoção
intensa é produto de uma liberação de dopamina que estimula o centro de recompensa do
cérebro. Os clínicos destacaram a semelhança entre o estado eufórico de excitação do
jogador e o estado acelerado daquele que está intoxicado com cocaína. O jogador
compulsivo desenvolve uma tolerância na qual precisa assumir um risco maior e fazer
apostas mais altas para atingir o nível desejado de excitação e experimenta sintomas de
supressão quando não tem ação disponível. Um estudo recente realizado com viciados em
jogos de azar descobriu que 50,9% deles tinham o mesmo defeito genético que os
alcoólatras. Esse mesmo estudo mostrou que entre os jogadores compulsivos que também
tinham alcoolismo ou alguma outra forma de dependência de drogas, o percentual de
portadores do defeito genético aumentou 79%.
Também foi cientificamente comprovado que tanto o orgasmo sexual, como uma dose de
cocaína ou a ingestão compulsiva de chocolates, causam aumento da secreção de
dopamina no circuito de recompensa cerebral.
Tudo isso significa que, do ponto de vista neurobiológico, o alcoolismo, o vício em
maconha, cocaína ou metanfetaminas, bem como certos vícios em comportamentos como
sexo, jogo ou comer compulsivamente são manifestações diferentes do mesmo distúrbio
cerebral que é a doença aditiva.
Portanto, um alcoólatra (ou qualquer outro tipo de viciado) não deve pensar que a única
solução para seu problema é parar de beber, mas que ele deve superar todas as suas
tendências viciantes (muitos artigos falam sobre personalidade viciante, que foi
originalmente pensado para ser um transtorno de personalidade, mas que atualmente é
certo que é o distúrbio cerebral primário de qualquer viciado).
Essas tendências viciantes do alcoólatra significam que, quando ele deixa de beber, sua
inércia natural é substituí-lo por outra droga, porque sua necessidade inata é estimular seu
centro de prazer cerebral com certas substâncias. Assim, ao abandonar o álcool você pode
substituí-lo por nicotina, maconha, cocaína, pílulas tranquilizantes, comida, sexo ou jogo
compulsivo, ao fazer isso, você está simplesmente substituindo um comportamento aditivo
por outro, que é uma forma de embriaguez seca.

Drogas substitutas: duras e moles


As drogas com as quais o alcoólatra tende a substituir o álcool podem ser divididas em
drogas leves e drogas duras.
As principais drogas leves são a cafeína e a nicotina e as principais drogas duras são a
maconha, a cocaína, as anfetaminas, os inalantes voláteis, os cogumelos alucinógenos, as
pílulas tranquilizantes, o ácido (LSD), as drogas de design (como ecstasy ou cristal) ou os
derivados do ópio, como heroína ou analgésicos narcóticos (Nuba).ín, Darvón, Temgesic,
Demerol).
Drogas leves
Chamamos cafeína e nicotina soft porque são drogas lícitas que não afetam o
comportamento do indivíduo e são socialmente aceitas. No entanto, isso não significa que
sejam substâncias inofensivas, ou seja, não fazem mal.
Como um bom paciente viciado, todo alcoólatra é compulsivo e suas drogas substitutas
favoritas são as drogas leves: café e nicotina.
Nos grupos de Alcoólicos Anônimos, de forma tradicional, essas duas drogas substitutas
são usadas. No entanto, consumi-los em excesso, mesmo que não afetem o
comportamento da pessoa, pode prejudicar seriamente sua saúde. E como os alcoólatras
são compulsivos por natureza, eles tendem a consumir essas substâncias excessivamente.
A maioria dos alcoólatras fumava quando bebia. Quando param de beber, costumam
aumentar a dose diária de nicotina. Muitos alcoólatras que não fumavam começam a
acender cigarros quando param de ingerir bebidas alcoólicas.
A dependência do tabaco é um problema de saúde tão grave quanto o alcoolismo. Nos
últimos tempos, felizmente, os grupos AA estão a tomar consciência desta grave
dependência e há cada vez mais grupos em que já não se fuma; No entanto, muitos
alcoólatras em recuperação ainda têm um vício grave em tabaco e fumam entre 20 e 50
cigarros por dia, em média.
O tabaco possui três substâncias muito nocivas à saúde: o monóxido de carbono,
responsável pelos efeitos vasculares e cardíacos do cigarro, o alcatrão, causador do
câncer, e a nicotina, responsável pelo efeito recompensador e viciante. Esta última
substância estimula o centro de prazer do cérebro ao fumar.
Outro grande tóxico que o tabaco tem é a fumaça. A fumaça não prejudica apenas o
fumante, mas também as pessoas que estão próximas ao fumante, os chamados fumantes
passivos, porque ao inalar a fumaça do tabaco que o outro fuma, eles também são
afetados. O fumo do tabaco contém 4000 substâncias, das quais 1200 são tóxicas. Entre
os principais estão monóxido e dióxido de carbono, amônia, nitrosaminas voláteis, óxido de
nitrogênio, cianeto de hidrogênio, derivados de enxofre e nitritos, hidrocarbonetos voláteis,
álcoois, aldeídos e cetonas, além da nicotina, e alcatrão.
As complicações para os viciados em tabaco incluem o seguinte:
1. Diminuição da expectativa de vida.
2. Tendência à obstrução das artérias coronárias, artérias cerebrais e vasos
periféricos.
3. Aceleração ou agravamento da aterosclerose.
4. Doenças crônicas do trato respiratório: sinusite, laringite, bronquite, enfisema e
Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC).
5. Câncer de pulmão, laringe, boca, esôfago, bexiga e pâncreas.
6. Potencialização dos efeitos de certos agentes cancerígenos ambientais (amianto,
óxido de enxofre, etc.).
7. Diminuição da fertilidade em mulheres e aumento de abortos espontâneos.
8. Síndrome fetal decorrente do uso de tabaco na gestação: baixo peso ao nascer,
aumento da mortalidade perinatal e natimortos.
9. Úlcera gástrica.
10. Distúrbios do sono, depressão, irritabilidade e angústia.
11. Agravamento de doenças prévias, como as colagenos.
12. Modificação do efeito de algumas drogas como analgésicos, teofilina, imipramina,
benzodiazepínicos, diminuindo seu efeito farmacológico.
Fumar um maço diariamente aumenta o risco de:
1. Morrer de câncer de pulmão (100%) ou qualquer outro tipo de câncer (200%).
2. Portadores de doenças respiratórias crônicas (400%).
3. Endurecimento das artérias e veias (150%) e, portanto, de sofrer embolias cerebrais
ou pulmonares.
4. Sofrer de lesões orais (leucoplacas), que são lesões pré-cancerosas.
5. Sofrem lesões dentárias (coloração marrom-amarelada, perda de esmalte e
amolecimento das gengivas).
Como você pode ver, fumar envolve um grande risco para a saúde e a vida. Não se
esqueça que ano após ano as duas drogas que causam as maiores doenças e número de
mortes em todo o mundo são o álcool e o tabaco.
A outra droga leve, o café, também é onipresente em todos os grupos AA, até mesmo um
cafeicultor oficial é nomeado no grupo que é responsável por servir café a seus pares.
O café não é tão nocivo como o tabaco e consumido em quantidades moderadas, não
produz efeitos indesejáveis; Infelizmente, a tendência alcoólico-compulsiva faz com que ele
consuma café em doses excessivas e isso pode causar danos.
Os principais transtornos que podem ser causados pelo café consumido em excesso (mais
de três xícaras de grãos de café por ocasião):
1. Inquietação, nervosismo e excitação.
2. Insónia.
3. Vermelhidão facial.
4. Irritação gástrica.
5. Aceleração do pensamento e da fala.
6. Diminuição da fadiga.
7. Arritmias cardíacas.
8. Agitação psicomotora.
9. Vício.

Drogas pesadas
As drogas duras mais usadas entre os alcoólatras que param de beber são maconha,
cocaína, comprimidos tranquilizantes e metanfetaminas. Em menor grau, inalantes voláteis
(cimento), alucinógenos (ácidos, cogumelos, peiote) e derivados do ópio (heroína e
analgésicos narcóticos).
A maconha (cisco, erva daninha) é uma droga neurotóxica. Isso significa que consumido
regularmente e constantemente pode causar danos ao cérebro que afetam as funções
intelectuais e o comportamento das pessoas. A substância ativa da maconha é o 9-delta
tetraidrocanabinol. Quanto maior a concentração desta substância na droga, maior o seu
efeito e os danos que produz.
Existem diferentes tipos de maconha, dependendo da concentração de canabinoides. A
maconha tem uma concentração de 9-delta tetrahidrocanabinol de 3%. O haxixe (a resina
gomosa das flores das plantas femininas) é a forma de maconha com maior concentração
de canabinoides (de 7 a 24%).
Quase imediatamente após fumar maconha, a pessoa apresenta intoxicação, boca seca,
batimentos cardíacos acelerados, falta de jeito na coordenação do movimento e equilíbrio,
reações e reflexos lentos e vermelhidão dos olhos. Esses efeitos podem causar problemas
na coordenação visual e motora das pessoas e dificultar a realização de tarefas
complexas. Elas alteram a percepção e expõem o consumidor a acidentes de trânsito. O
uso prolongado causa os mesmos problemas que o tabaco, ou seja, distúrbios
cardiorrespiratórios e câncer. Além disso, há uma maior propensão a infecções devido a
danos ao sistema imunológico; há uma síndrome fetal nos filhos de mães que fumaram
maconha na gravidez, problemas de esterilidade nos consumidores masculinos devido à
diminuição da produção de espermatozoides e, o mais grave e frequente, distúrbios no
funcionamento cerebral com diminuição das funções intelectuais e desmotivação
existencial, que fazem com que o usuário de maconha abandone a escola ou o trabalho
(Síndrome amotivacional). Por fim, transtornos psiquiátricos agudos e crônicos podem
ocorrer com quadros de loucura muito semelhantes à esquizofrenia.
A cocaína é outra das drogas pesadas com as quais o álcool é frequentemente substituído.
Esta substância é um estimulante cerebral que pode ser administrado inalando-o pelo nariz
na forma de um pó, fumando-o na forma de uma pedra (crack) ou injetando-o diretamente
na veia. É uma droga altamente viciante e quando consumida há uma ansiedade muito
intensa que obriga o indivíduo a usar mais drogas e com mais frequência. Provoca um
estado de aceleração, com irritabilidade e agressividade, palpitações e arritmias cardíacas
que podem causar morte súbita em caso de overdose. Também causa pressão alta,
derrames e hemorragias cerebrais, além de quadros de loucura que são conhecidos como
psicose da cocaína.
Outro tipo de droga que está sendo usada é a anfetaminas. Destes, os mais utilizados são
o ecstasy (tachas) e o cristal (gelo), que são consumidos pelos jovens, embora os adultos
também tenham aderido como consumidores. A droga produz uma sensação intensa e
prazerosa de estimulação imediata que dura vários minutos ou até horas. Também produz
insônia, aumento da atividade física, sociabilidade excessiva e tendência à aproximação
corporal, bem como redução do apetite. Os problemas médicos causados pelo consumo
prolongado e excessivo são aumento da temperatura corporal, convulsões, aumento da
frequência cardíaca e pressão arterial, isso causa danos aos vasos sanguíneos do cérebro
e derrames, aumenta a possibilidade de contrair o vírus da AIDS pela promiscuidade
sexual que essas drogas produzem, comportamento violento, ansiedade, irritabilidade,
confusão, paranoia intensa e alucinações.
Muitos alcoólatras em recuperação mudam do álcool para pílulas tranquilizantes, como
Valium, Ativan ou Rohypnol, para acalmar a ansiedade e a insônia. Às vezes, os médicos
os prescrevem temporariamente, mas depois o alcoólatra os automedica. Essas
substâncias, chamadas de benzodiazepínicos, são depressores do sistema nervoso central
e têm um efeito muito semelhante ao do álcool, então, aos poucos, a pessoa precisa de
doses maiores da droga para conseguir obter os mesmos efeitos que conseguiu com uma
dose menor. Este será um fenômeno progressivo que terminará com um vício em
tranquilizantes, com efeitos e consequências muito semelhantes aos apresentados pelo
alcoólatra quando bebeu. É muito delicado e arriscado prescrever esse tipo de
medicamento em alcoólatras; Por isso, deve ser feito por um especialista com muita
experiência no tratamento de viciados e prescrevê-los por um curto período de tempo.
Como já mencionado, outras drogas que podem substituir o álcool são alucinógenos
(ácido, cogumelos e peiote), solventes (ativos) e derivados do ópio, tanto naturais quanto
sintéticos (morfina, heroína, analgésicos narcóticos).
Muitos alcoólatras pensam que são apenas viciados em álcool, e que podem usar
socialmente as outras drogas. Nada mais falso do que isso. Não se esqueça que a
verdadeira doença do alcoólatra é seu transtorno viciante, que reside em seu cérebro
doente, e que a tendência de substituir uma droga por outra nada mais é do que uma
embriaguez seca.
Capítulo 13
Sintoma número 11
Os Adoradores do Bezerro de Ouro
Espiritualidade ausente ou muito empobrecida com arrogância intelectual, tendência ao
materialismo e pouca ou nenhuma fé

O verdadeiro propósito da reabilitação de um alcoolista é sua recuperação integral, o que


significa recuperação física, mental, social e espiritual. Alguns só alcançam os três
primeiros níveis e se acorrentam a uma arrogância intelectual e a um materialismo extremo
que atrofia sua espiritualidade e os impede de sua verdadeira libertação.
Assim como a evolução do alcoolismo é progressiva até a morte, a reabilitação também é
progressiva e o crescimento não tem limites. É por isso que a recuperação da doença
aditiva tem que atingir os quatro níveis em que ela consiste: o físico (desintoxicação e
tratamento de complicações médicas), o psicoemocional (autoconhecimento,
autoaceitação e superação de conflitos neuróticos não resolvidos), o psicossocial
(reparação de danos, reconciliação com entes queridos e melhoria social em todas as
ordens) e, por fim, o espiritual (aceitação de um poder transcendente para si,
fortalecimento da fé e transcendência do material).
O que temos observado na recuperação de muitos alcoólatras é que sua própria
recuperação gera uma autossuficiência que os leva a uma forma de orgulho intelectual, e
eles desenvolvem a convicção de que devem tudo a si mesmos, que são pessoas com
pensamento contemporâneo. Muito moderno, totalmente livre e não precisa depender de
crenças que não tenham comprovação científica. Trata-se de uma forma de embriaguez
seca que pode levá-los a um nível de autossuficiência tal que desenvolverão uma
onipotência neurótica de tal forma que primeiro deixarão o grupo ("já sei tudo e não
preciso") e, segundo, pensarão que já estão curados e que podem voltar a beber
controlado (assim, uma enorme quantidade de álcool recaiu).olics que estavam no
programa AA há muito tempo). Ou podem adoecer com um complexo de superioridade
insuportável que os leva a se comportar, dentro e fora de seu grupo, como se fossem os
donos da verdade.
E é que muitas pessoas em recuperação, com embriaguez seca, preferem continuar
dependendo de dinheiro, poder, sexo e prestígio, do que depender do poder
transcendente.
Na literatura de AA (Doze e Doze, p. 39) diz-se o seguinte:
Quanto mais dispostos estivermos a depender de um poder superior, mais
independentes seremos de fato. Portanto, a dependência, como a prática em AA, é
de fato um meio para alcançar a verdadeira independência espiritual. No nosso dia a
dia, é incrível descobrir o quanto somos dependentes e o quanto desconhecemos
essa dependência. Toda casa moderna tem fios elétricos que conduzem energia e
luz para dentro. Somos fascinados por essa dependência, tentamos sempre evitar
que ocorra algum dano que nos prive do fornecimento de corrente. Ao aceitarmos
que somos dependentes dessa maravilha científica, desfrutamos de maior
independência pessoal. Não só temos maior independência, mas maior conforto e
segurança. A energia flui onde precisamos. Embora estejamos bem dispostos a
aceitar esse princípio de dependência saudável na maioria de nossos assuntos
temporais, muitas vezes resistimos teimosamente ao mesmo princípio quando somos
solicitados a aplicá-lo como um meio de desenvolver a vida espiritual. É muito claro
que nunca conheceremos a liberdade sob Deus até que tentemos buscar Sua
vontade para nós. A escolha é nossa.
As ideias acima são muito sábias. Você tem que lê-los várias vezes para descobrir o que é
a verdadeira libertação: quanto mais eu dependo de um poder transcendente, mais livre eu
sou.
Mas, por outro lado, o poder superior não é monopólio exclusivo de AA
Independentemente de qualquer recuperação da doença aditiva, é altamente desejável
que o ser humano, alcoólatra ou não, desenvolva sua espiritualidade para continuar
crescendo. A pobreza de espírito é um problema dos nossos tempos. A crise de valores
mergulha o homem contemporâneo nesse materialismo extremo que o torna um adorador
do bezerro de ouro.

O vazio existencial e a ausência de espiritualidade


Um ilustre psicanalista, o criador da logoterapia, Viktor E. Frankl escreve o seguinte sobre
o assunto em questão:
Na realidade, hoje não somos mais confrontados, como na época de Freud, com uma
frustração sexual, mas com uma frustração existencial. O paciente típico de nossos
dias não sofre tanto, como no tempo de Adler, sob um complexo de inferioridade,
mas sob um complexo abismal de falta de sentido, acompanhado de um sentimento
de vazio, razão pela qual estou inclinado a falar de um vazio existencial.
Esse vazio existencial, essa falta de sentido para a vida, nada mais é do que a
consequência desse materialismo em que o homem atual se afundou, desse
distanciamento de Deus e do desejo de substituí-lo por tudo o que o dinheiro compra
(prazer, sexo, frivolidade, consumismo excessivo), pelo poder e pelos avanços da
tecnologia moderna. Mas continuemos com Viktor Frankl:
Quando me perguntam como explico a gênese desse vácuo existencial, costumo
oferecer a seguinte fórmula abreviada: Ao contrário do animal, o homem carece de
instintos para lhe dizer o que fazer e, ao contrário dos homens do passado, o homem
de hoje não tem mais tradições para lhe dizer o que deve ser. Então, ignorando o que
ele tem que fazer e também ignorando o que ele deveria ser, parece que muitas
vezes ele não sabe mais o que quer no fundo. E aí ele só quer o que os outros fazem
(conformismo), ou ele só quer fazer o que os outros querem, o que eles querem dele
(totalitarismo).
Mas os estudos do Dr. Frankl foram além. Além do conformismo e do totalitarismo (duas
formas de adaptação psicossocial como consequência de não saber o que fazer e o que
ser), surge uma nova forma de neurose como consequência da crise de valores, conflitos
de consciência e uma frustração existencial do ser humano. Esta forma de neurose (que
Frankl chamou de neurose noogênica) é, estritamente falando, uma forma diferente de
neurose tradicional que é uma consequência de uma doença psicogênica.
Frankl também estudou o fenômeno do alcoolismo e dos vícios como consequência da
falta de sentido na vida. Vamos ouvi-lo:
Quando falta um sentido de vida, cuja realização teria feito uma pessoa feliz, ela
tenta alcançar o sentimento de felicidade através de um desvio que passa pela
química (álcool e drogas). De fato, o sentimento de felicidade não costuma ser, em
circunstâncias normais, o objetivo da tendência humana, mas apenas um fenômeno
concomitante à realização de seu objetivo. Mas acontece que esse fenômeno
concomitante, esse "efeito" também pode ser "caçado na mosca". O álcool é uma das
possibilidades, assim como a mesma, da escravidão das drogas.
Em outras palavras, Frankl afirma que o abuso de álcool e drogas nada mais é do que a
consequência da falta de sentido da vida, do vazio existencial e da falta de valores
espirituais em que vive grande parte da população mundial. Estudos realizados por alunos
de Viktor Frankl mostraram que em 90% dos alcoólatras aparecia um complexo acentuado
de vazio existencial. No caso dos dependentes químicos, esse vácuo existencial apareceu
em 100% dos casos.
Concluindo: o vazio existencial e a falta de um projeto de vida com objetivos
transcendentes que vão além da própria pessoa (uma meta a alcançar, um serviço a
prestar aos outros) fazem com que o indivíduo caia em uma alienação existencial que o
leva a buscar compulsivamente satisfações que lhe permitam viver o momento para
encontrar uma felicidade imediata que substitua a verdadeira felicidade. Daquele que está
em busca de objetivos mais elevados em sua vida. Tudo isso leva a uma terrível pobreza
de espírito que tornará o sujeito muito vulnerável às tentações e fraquezas da existência
que o levarão à infelicidade e à amargura (típica embriaguez seca). É claro que esse
fenômeno é mais frequente e de maior magnitude em alcoólatras e dependentes químicos.
É por isso que o quarto nível da recuperação integral do dependente tem como meta o
desenvolvimento da espiritualidade e o estabelecimento de metas superiores que
transcendam o próprio indivíduo. Como diz o ditado: "Quem não vive para servir, não serve
para viver".

O valor terapêutico da espiritualidade


Muitas pessoas tendem a comparar os tipos de psicoterapia para decidir qual é o melhor
para pacientes viciados. Dizem, por exemplo: Qual será melhor: ir a um terapeuta
profissional ou mandá-lo para AA? O que eles não pensam é que as duas técnicas são
diferentes, mas complementares. Há uma série de elementos médicos e científicos com os
quais o Programa 12 Passos não trabalha e, por sua vez, tem muitos elementos que as
técnicas profissionais não têm.
Um desses elementos do Programa 12 Passos é a promoção da espiritualidade. Marty
Mann, em seu livro New Concept of Alcoholism, menciona o seguinte na tentativa de
descrever que tipo de organização terapêutica são os grupos AA:
Alcoólicos Anônimos tem sido rotulado como uma organização, uma sociedade,
um movimento, uma comunhão, um grupo semirreligioso e um método de
tratamento. Nenhum desses qualificadores é preciso e alguns estão
completamente errados. Alcoólicos Anônimos não é uma sociedade nem uma
organização no sentido estrito da palavra; Nem é um grupo semirreligioso, nem
um "movimento" qualquer. São ambos: uma fraternidade e um método de
tratamento, mas também muitas outras coisas; portanto, nenhum desses
nomes é suficientemente explicativo. Para seus próprios membros, Alcoólicos
Anônimos é primeiro um retorno à vida e depois um modelo de vida. Para o
mundo exterior foi simplesmente um milagre.
E ao se referir ao que AA ensina o alcoólatra a fazer por si mesmo, em relação à
espiritualidade ele ressalta que:
O fundamento espiritual do AA realmente envolve todas as etapas do Programa,
mesmo para o alcoólatra que acredita não tê-lo aceito, pois as mudanças de atitude
implícitas no acima são de natureza espiritual, mental e emocional. Com o passar do
tempo, o alcoólatra recupera a fé, primeiro em seu padrinho e seu grupo, depois em
si mesmo, depois na humanidade e, mais tarde, no criador dessa humanidade.
O ingrediente espiritual do Programa de 12 passos constitui um precedente histórico, no
que mais tarde postulou uma nova corrente na psicoterapia que é a psicologia
transpessoal. Esta escola desenvolveu múltiplas técnicas de psicoterapia baseadas no
desenvolvimento pessoal da própria espiritualidade, AA vem praticando-a desde 1935.
O componente espiritual no programa AA é tão importante que praticamente o fenômeno
da conversão é a pedra angular do sucesso terapêutico do Programa de 12 passos. A
conversão é a ação de converter. É a mutação de alguém para outro. É a troca de um tipo
de vida indesejável por um favorável. A conversão só é alcançada através do despertar
espiritual.
O despertar espiritual é um fenômeno que ocorre após um tempo de trabalho no
crescimento pessoal por meio da aplicação dos 12 passos do Programa. Achei muito
reveladora a descrição que Rafael P., alcoólatra anônimo, faz de seu próprio despertar
espiritual (Plenitud, 20 out. 1982):
O despertar espiritual para mim não é uma situação que necessariamente tem que se
manifestar de forma tangível, anunciando sua presença com trovões e relâmpagos
ou luzes ofuscantes, toques e cãibras. Pelo contrário, o despertar espiritual eu acho
que vem sutilmente, silenciosamente, sem que a gente perceba, na ponta dos pés
em um tapete de uma polegada. Nem mesmo o esfregar dos pés é ouvido.
É antes um estado de espírito que sobrecarrega a pessoa, é a maturidade emocional
que nos faz ver para além do que estamos habituados, é o amor vivo para com a
própria pessoa, para com aqueles que dependem dela e para com os seus pares em
geral; É a renúncia do eu pessoal para ceder ao você de forma primordial; É uma
mudança do humor individual, do ponto de vista da pessoa. Os problemas são vistos
de outra área mais ampla e não tão reduzida como aquela que estávamos usando
com o eu como limite. É uma névoa perfumada, fraca ou densa que nos envolve e
atravessa os poros, respiramos e aguçamos os sentidos e vemos, ouvimos,
cheiramos, sentimos e saboreamos melhor as coisas.
Duas pessoas tiveram uma influência muito importante no componente espiritual do
programa de 12 passos: o psicólogo William James com seu livro The Varieties of
Religious Experience e o ilustre psicanalista Carlos Gustavo Jung com o intercâmbio
epistolar que teve com Bill W. Quanto à utilidade terapêutica do desenvolvimento dos
valores do espírito como recurso curativo.
Espírito contra espírito
Em uma das cartas que Bill W. Ele enviou o Dr. Jung para sua experiência de conversão e
a subsequente influência que o livro de William James teve no programa:
Pouco depois de minha experiência de conversão, meu amigo Edwin foi ao hospital e
me trouxe uma cópia de As Variedades da Experiência Religiosa, de William James.
Este livro me fez entender que quase todas as experiências de conversão, qualquer
que seja sua variedade, têm um denominador comum de um colapso completo do
ego. O indivíduo enfrenta um possível dilema. No meu caso, o dilema tinha sido
criado pela minha compulsão por beber e a profunda sensação de desesperança
tinha sido amplamente aprofundada pelo meu médico... O fato de que cada recém-
chegado a AA consegue viver uma experiência espiritual é o conceito que forma a
base de tal sucesso como AA alcançou. Isso tornou possível operar experiências de
conversão quase no atacado, em praticamente todas as variedades indicadas por
James.
Independentemente do comentário sobre sua experiência pessoal de conversão e a
influência de William James, Bill W. notificou-o da experiência de um ex-paciente do Dr.
Jung, o Sr. Roland H. que Jung expulsara de seu alcoolismo inveterado. Voltando da
Europa de seu tratamento com Jung, o Sr. Roland H. ele teve uma recaída novamente até
se juntar aos Grupos de Oxford, o precedente histórico dos grupos AA. Nesses grupos,
Roland H. Ele experimentou uma experiência de conversão, nunca mais bebeu e se
propôs a ajudar outras pessoas com o mesmo problema. Este foi o comentário feito pelo
Dr. Jung:
... mas o que ele realmente pensava sobre Ronald H. é que seu desejo veemente
pelo álcool equivalia, em um plano inferior, à sede espiritual de nosso ser de nos
integrarmos em união com Deus (Minha alma tem sede de Deus. Salmo 41)... O
único caminho correto e legítimo para tal experiência é se ela acontece com o ser
humano na realidade, e isso só pode acontecer quando ele caminha por um caminho
que leva a uma compreensão superior. Pode-se ser direcionado para esse objetivo
por um ato de graça ou por meio de contato pessoal e sincero com amigos, ou por
meio de uma educação superior da mente, acima dos limites do mero racionalismo.
Pela sua carta percebo que Ronald H. Escolheu o segundo caminho que, dadas as
circunstâncias, era o melhor deles... Como você vê, o álcool em latim é spiritus e
você usa essa palavra para a mais alta experiência religiosa e para o veneno mais
destrutivo. Portanto, uma fórmula rentável é: Spiritu contra spiritus.

O perfil psicológico dos pobres de espírito


Aqueles que mantêm uma pobreza espiritual são os adoradores do bezerro de ouro que,
apesar de terem longa abstinência no programa de Alcoólicos Anônimos, não deixam de
ser bêbados secos, o que os impedirá de alcançar a verdadeira libertação que os levará à
plenitude da sobriedade. Essa forma de embriaguez seca os expõe à recaída ou os
transformará em fariseus onipotentes que tornarão a vida impossível para seus
companheiros de grupo, seus familiares e qualquer pessoa próxima a eles.
As principais características desses indivíduos são as seguintes:
1. São materialistas e céticos.
2. São arrogantes e arrogantes.
3. Confundem espiritualidade com religião.
4. Seus objetivos são dinheiro, prestígio e poder.
5. São homens de pouca fé.
6. Ressentem-se da religião e de seus representantes.
7. Confundem humildade com servilismo, fraqueza e inferioridade.
8. Eles substituem a espiritualidade pela onipotência humana.
9. Seu poder superior é seu próprio ego.
10. Tornam-se pregadores (para que ninguém lhes pregue).
11. Eles se sentem donos da verdade.
12. Não toleram críticas ou conselhos alheios (arrogância intelectual).
13. Seu sermão favorito: "Faça o que eu digo, não o que eu faço".
14. Têm vazio existencial.
15. Sua vida não tem sentido.
16. São competitivos, vaidosos e invejosos.
17. Invejam quem tem mais. Desprezam quem tem menos.
18. São frívolos e superficiais.
19. São amarguras existenciais.
20. Eles não têm objetivos transcendentes.

Claro, você não precisa ter todas essas características para se qualificar como pobreza de
espírito. Ter pelo menos seis desses sintomas é suficiente para sofrer com esse tipo de
embriaguez seca.
Muitas vezes, um grande número de viciados em recuperação terá que tocar um segundo
fundo para alcançar a recuperação espiritual. Somente um choque existencial muito forte
causará aquele colapso do ego que o levará a um autêntico despertar espiritual.
Terminamos com esta citação do grande livro de AA: "Não estamos curados do alcoolismo.
O que temos, na verdade, é uma suspensão diária da nossa pena, que depende da
manutenção da nossa condição espiritual".
Capítulo 14
Sintoma número 12
Nem apanhar, nem caçar, nem deixar morcego
Comportamento inadequado em seu tratamento, tanto com seu terapeuta
quanto em seu grupo de autoajuda

Como forma de ingovernabilidade, muitos alcoolistas e dependentes, embora alcancem a


abstinência, não levam a sério seu tratamento e, embora cheguem a ele, não respeitam a
disciplina terapêutica ou os princípios de seu programa de autoajuda. Isso os impede de
alcançar a sobriedade, eles estão constantemente expostos a recaídas, eles se metem em
muitos problemas e não crescem emocionalmente.
Em termos de beisebol, quando uma pessoa não pega, pega ou deixa bater, não só não
ajuda em nenhuma causa como, pelo contrário, dificulta, interfere e sabota o objetivo dessa
causa.
Quando, por exemplo, um alcoólatra em seu grupo AA se envolve em comportamentos
inadequados, como ser confrontador com colegas, fofocar, envolver-se romanticamente
com um colega, fazer negócios ou pedir empréstimos, ele está se afastando do verdadeiro
e único objetivo de AA de ajudar os outros a parar de beber. Mas ele não só está se
desviando do objetivo do Programa, como também está interferindo na recuperação de
seus colegas. Esta é uma forma de embriaguez seca. Em outras palavras: sem picareta,
sem merda, sem porrada.
Mas essa forma de sabotagem não está presente apenas em grupos de autoajuda, mas
também no tratamento profissional. Muitos dependentes que vão à terapia profissional
também caem em comportamentos inadequados e sabotam o tratamento, como não
comparecer às consultas, mentir para o terapeuta, não obedecer suas instruções ou não
pagar pelas consultas. A consequência desses comportamentos inadequados será a
recaída ou a Síndrome da Embriaguez Seca. Diz-se que a indisciplina diante das regras do
jogo do tratamento é o que se chama de adesão terapêutica.
O paciente dependente, segundo as estatísticas, é o tipo de paciente que apresenta a pior
adesão terapêutica em todas as especialidades da medicina.
A adesão terapêutica é uma das condições básicas que qualquer paciente necessita para
que seu tratamento seja bem-sucedido e atinja os objetivos programados.
A adesão terapêutica é entendida como o cumprimento adequado de todas as indicações
que compõem um programa de tratamento para qualquer tipo de paciente. Por exemplo,
tome os medicamentos indicados, nos horários indicados e nas doses prescritas.
Compareça às consultas na hora, obedeça às recomendações do médico, como o tipo de
dieta, os exercícios que são sugeridos e respeite as proibições que são feitas (por
exemplo: não faça esforços, não viaje de avião).
Quando um paciente desenvolve adesão terapêutica adequada, o sucesso em seu
tratamento será muito mais ótimo e rápido do que em outros e as chances de recidiva de
sua doença serão muito menores.
Por outro lado, quando um paciente apresenta indisciplina e inconstância em seu
tratamento, os resultados serão muito negativos, pois o objetivo fundamental de alívio ou
controle da doença não é alcançado, ou ele apresentará complicações que agravam o
problema ou, simplesmente, terá recaída.
Todos esses princípios também se aplicam no tratamento de vícios, só que aqui
encontramos uma particularidade: existem dois tipos principais de tratamento neste campo
que se complementam: tratamento profissional realizado em centros de reabilitação,
clínicas de desintoxicação, hospitais psiquiátricos e consultórios médicos ou
psicoterápicos e órgãos de autoajuda, como grupos de Alcoólicos Anônimos ou Narcóticos
Anônimos.
No nível médico profissional, os principais comportamentos a serem monitorados são:
comparecimento pontual e voluntário às consultas, acompanhamento fiel às doses e
frequência dos medicamentos indicados, honestidade em tudo o que é dito ao médico e
comunicação constante com familiares preocupados com o dependente em recuperação.
No tratamento da psicoterapia profissional, as principais manifestações de boa adesão
terapêutica são: comparecimento às consultas sem falhas, pontualidade nas mesmas,
cooperação participativa do paciente na psicoterapia, honestidade no que é dito, não
manipulação, cumprir as tarefas que o terapeuta indicar entre as sessões, cumprir as
regras do jogo impostas pelo terapeuta (no que diz respeito à pontualidade, assiduidade,
pagamento de taxas, cancelamento atempado de consultas). Na psicoterapia profissional
de grupo, além das características já citadas, inclui-se o respeito às regras estabelecidas
para o desenvolvimento das sessões grupais.
No que diz respeito aos grupos de autoajuda, há regras e uma filosofia do Programa que
devem ser respeitadas à risca. Essas regras estão contidas nas chamadas doze tradições,
cujo objetivo é regular e proteger tanto os membros do grupo quanto o movimento AA
como um todo. Por outro lado, cada grupo tem suas próprias regras (como a limitação do
tempo de uso da arquibancada, a proibição de fumar, as regras para beber café, etc.).
Já foi dito que algumas estatísticas têm mostrado que os pacientes dependentes têm os
níveis mais baixos de adesão terapêutica. O viciado é um indivíduo de carreira curta: é
comum que ele não termine o que começa; Ele é inconstante, fica muito animado com algo
no início e logo fica entediado e vai embora; Ele não gosta de ter regras impostas e não
está acostumado a se disciplinar. A adesão terapêutica exige tudo isso e o alcoolista em
recuperação tem dificuldade em aplicá-la.
O dependente é um paciente que não só não aceita o tratamento para controlar sua
doença, mas se esforça para continuar sofrendo com ela. E quando aceita um tratamento
para parar de consumir, se contenta com a abstinência, mas resiste a fazer outras
mudanças que são necessárias para superar suas áreas neuróticas; Assim, sua atitude
frente ao tratamento é caracterizada por muitas resistências e relutância a essas
mudanças, seu comportamento é anárquico e ingovernável, não respeitam as regras da
terapia e assumem comportamentos inadequados e indesejáveis que apenas colocam em
risco sua recuperação.

Atitudes negativas no grupo


Atitudes negativas e comportamentos inadequados de membros de AA ou outros grupos
de autoajuda são sintomas inconfundíveis de resistência à mudança. Embriaguez seca
típica: o dependente deixa de beber ou usar drogas, mas continua a manter os mesmos
comportamentos neuróticos que apresentava em seu estágio de atividade da doença.
Muitos alcoólatras sofrem pressão do grupo, seja pela família, pelo trabalho ou pelas
autoridades civis. Chegam sem muita convicção, mas como não querem perder a família,
ficar desempregados ou serem presos, aceitam a condição de não continuarem
consumindo álcool e/ou drogas, mas não têm a menor consciência da necessidade de
crescimento emocional. Esses viciados são os que esperam uma recompensa por se
manterem limpos: que sua esposa o perdoe e volte para ele, que restaurem seu trabalho
ou que reconheçam, com admiração e gratidão, o fato de já terem parado de beber.
Outros viciados encontram em seu grupo uma maneira de explorar suas tendências
neuróticas: alguns são exibicionistas e assumem a tribuna, outros têm uma necessidade
neurótica de poder ou prestígio e usam o grupo para alimentar seu ego, de modo que se
tornam controladores do grupo e de seus pares. Provocam fofocas, falam mal de outros
membros do grupo ou fazem política barata com os companheiros para continuar a ter
influência e poder controlar o grupo.
Há outros com problemas sexuais e sentimentais que se enquadram no chamado passo
13: envolvem-se romanticamente ou sexualmente com parceiros do sexo oposto, o que
gera uma série de problemas que quase sempre terminam em uma ou às vezes as duas
pessoas envolvidas acabam se afastando do grupo por causa de problemas entre elas ou
por causa das fofocas dos outros parceiros ao seu redor. romance.
A maioria das pessoas que se enquadram na prática do passo 13 são sentimentais
indisciplinadas ou sexualmente indisciplinadas ou ambas. Utilizam o grupo como recurso
para a prática dessas tendências neuróticas. Na maioria das vezes, esse tipo de gancho
sentimental (ou apenas sexual) tende a ser doente, uma relação patológica que em pouco
tempo começa a ter conflitos, aparecendo fenômenos como ciúme, engano, decepção e
ressentimento; Geralmente têm um final ruim e, em muitos casos, há abandono do grupo
ou recaída.
Infelizmente, muitos bêbados secos tendem a apresentar esse comportamento do passo
13 em todos os grupos que alcançam. Esses casos têm uma patologia maior e certamente
estão trocando seu vício em álcool ou drogas por um vício em sexo ou relacionamentos
românticos conflituosos. Esses tipos de casos precisam de atenção profissional de um
psicólogo ou psiquiatra.
Em alguns casos, o padrinho ou outra pessoa do grupo com certo ascendente sobre os
demais, se aproveita dessa condição para manipular sentimentalmente ou seduzir
sexualmente um parceiro. Essa situação é muito grave, porque a ética está sendo violada
e os princípios do Programa estão sendo violados, porque longe de ajudar alguém que
está sofrendo, está sendo criado outro grande problema que pode tirar para sempre a
oportunidade de sua recuperação. A igreja nas mãos de Lutero!
Mas não são apenas os homens tentando seduzir as mulheres. Muitas mulheres membros
de grupos AA, por sua própria ingovernabilidade sentimental, querem satisfazer sua
necessidade neurótica de afeto envolvendo-se com alguns parceiros. Esse sintoma de
embriaguez seca não resolvida muitas vezes se transforma em comportamento
inadequado no grupo, dando origem a esses emaranhados românticos problemáticos.
Outros, por outro lado, vêem o grupo como um meio de resolver seus problemas
econômicos: alguns fazem negócios com seus colegas, outros trazem suas próprias
mercadorias para o grupo (joias ou relógios); Há quem se especialize em pedir emprestado
a outros colegas (e nunca paga), e por fim alguns vão em busca de trabalho.
Todas essas atividades, além de distrair a pessoa dos verdadeiros objetivos do Programa,
muitas vezes causam conflitos entre os pares e muitos deixam de ir ao grupo, outros ficam
com uma má impressão do que é o programa AA.
Alguns deturpam o uso da tribuna e, em vez de usá-la para história ou catarse, o fazem
para atacar ou desqualificar outros colegas; Os exibicionistas, por exemplo, tomam conta
da arquibancada sempre que podem e abusam do tempo de exposição, impedindo que
outros participem. Alguns outros são particularmente agressivos e desrespeitosos por
causa do tipo de linguagem que usam, abundantes em palavras de alto som ou
expressões vulgares que intimidam ou ofendem muitos dos membros do grupo.
Outra forma de comportamento inadequado é a passividade de quem só toma café e fica
sentado em seu assento distraíndo os colegas com piadas ou comentários quando alguém
está falando na galeria. Esse tipo de pessoa frequenta o grupo como forma de diversão ou
socialização, ou também como forma de fuga de suas responsabilidades familiares. São
eles que se atrasam para a sessão, mas ficam até tarde da noite no café.
Indiferença, arrogância, discriminação, maus-tratos a pessoas que chegam pela primeira
vez no grupo são outras atitudes negativas de alguns alcoólatras em recuperação e nada
mais são do que sintomas de embriaguez seca. Embora o espírito do Programa seja
estender a mão e ajudar incondicionalmente e apoiar com muita compreensão e amor pela
primeira vez, infelizmente alguns membros não aderem a esses princípios e o tratam com
desconsideração, ignorando, discriminando ou atacando-o. Às vezes, eles pretendem
assumir o controle de sua vida, assumindo o controle de todas as decisões importantes
que você tem que tomar. Essas atitudes nada mais são do que manifestações de
embriaguez seca de alcoólatras que não resolveram certas necessidades neuróticas de
seu ego e que se utilizam de tais atitudes para vivenciar o sentimento de poder que a
hipertrofia do ego provoca diante de uma pessoa que está passando por um momento de
crise existencial e vulnerabilidade emocional.
Não respeitar o anonimato é outra forma de comportamento inadequado no grupo. O
anonimato originalmente parecia proteger a pessoa em recuperação do mal-entendido e
preconceito que as pessoas tinham em torno do alcoolismo durante os primeiros anos de
AA.
Mas, atualmente, que já existe uma aceitação universal do alcoolismo como doença e que
os grupos AA têm um grande reconhecimento, o anonimato é antes para proteger o outro,
para proteger a privacidade e a confidencialidade do que é dito na tribuna e que não sai
dos limites geográficos do grupo. No entanto, alguns comentam, murmuram, criticam ou
fofocam sobre as confidências que seus colegas expõem na galeria. Às vezes, eles se
aproveitam dessas informações para obter favores de diferentes tipos: econômicos,
trabalhistas, sociais, sentimentais ou sexuais. Que embriaguez seca!

Comportamento inadequado no tratamento profissional


Em relação ao tratamento profissional, tem sido mencionado que muitos pacientes não
estão convencidos do tratamento, e isso ocorre porque aceitam o problema, mas são
pressionados pela família, pelo chefe ou pela sociedade a comparecer ao tratamento.
Esses pacientes não fazem terapia com base em si mesmos, mas com base naqueles que
os pressionam para tratá-la. O resultado será pouca cooperação com o terapeuta, não
dizer a verdade em entrevistas, mentir sobre o consumo, evitar o assunto alcoolismo ou
vício e, em vez disso, querer falar sobre outros desconfortos, como insônia ou nervosismo.
Por outro lado, há outros que têm toda a intenção de zombar de seu terapeuta e mostrar
aos outros que ninguém pode lidar com eles. Quantos alcoólatras ou viciados em drogas
constantemente enganam o médico ou psicólogo dizendo-lhe que não beberam ou que
não usaram drogas, e saem do consultório muito felizes pensando que o terapeuta
acreditou no que lhes foi dito e que eles "venceram a batalha", Como se frequentar a
psicoterapia fosse uma batalha onde um ganha e outro perde. Mas o único que perde é o
alcoólatra que continuará com a progressão de sua doença até que coisas mais terríveis
aconteçam com ele. A única coisa que os familiares do viciado e do terapeuta perderão é
seu dinheiro, o primeiro, e seu tempo, o segundo.
Outra forma de autossabotar o tratamento como manifestação de resistência à mudança é
faltar ou cancelar sistematicamente consultas, ou desobedecer às orientações do médico
quanto à dose do medicamento ou a algumas recomendações em suas atividades diárias.
Muitos alcoólatras só se interessam pela prescrição de algum calmante, sem respeitar a
dose que o médico indica, que quase sempre aumentam e usam para substituir o álcool.
Outra forma de comportamento inadequado é a que alguns pacientes assumem no
consultório: quase não falam ou se limitam a responder "sim", "não", "muito bem", "nada",
"não sei", "quem sabe" e assim por diante. Esses tipos de atitudes são típicos em
adolescentes ou jovens adultos viciados em drogas que não aceitaram sua doença ou têm
o desejo de mudar. Alguns são muito argumentativos e competem com o terapeuta para
ver quem sabe mais. Esses tipos de pacientes, embora aceitem sua doença e concordem
com a abstinência de álcool e/ou drogas, estão resistindo a mudanças mais profundas em
suas atitudes, em seu comportamento ou em suas relações interpessoais.
Por fim, a agressão ou sedução são dois mecanismos de sabotagem à psicoterapia.
Alguns sistematicamente atacam o terapeuta para provocar sua raiva e agredi-lo ou afastá-
lo da consulta, e depois justificam-se para os outros, adotando o papel de vítima do
terapeuta. Outros, por outro lado, assumem atitudes de sedução (dinheiro, influência,
poder, romance ou sexo) para se aliar, primeiro, e depois controlar o terapeuta, invalidando
assim os objetivos do tratamento. Infelizmente há muitos terapeutas que caem neste jogo.

Que tipo de alcoólatra sou?


Por fim, vou reproduzir uma mensagem que chegou no meu e-mail e que me parece muito
apropriada ao tema deste capítulo. A mensagem é intitulada Que tipo de alcoólico sou?
Que pergunta, né, começou a me fazer cócegas.
no coração, depois de ler Santo Alberto Magno,
A quem são três plenitudes:
A do vidro: que retém e não dá.
A do canal: que dá e não retém.
A da fonte: que cria, retém e dá.
E então entendi que existem alcoólatras de vasos humanos cuja única ocupação é
armazenar virtudes, ciência e sabedoria, objetos e dinheiro. São aqueles alcoólicos
que acham que sabem tudo o que há para saber, têm tudo o que há para ter e
consideram sua tarefa concluída quando terminam seu armazenamento.
Eles não podem compartilhar sua alegria, ou colocar seus talentos a serviço dos
outros, ou mesmo distribuir sabedoria. São extraordinariamente estéreis, servos de
seu egoísmo, carcereiros de seu próprio potencial humano. Por outro lado, existem
os alcoólatras do canal humano: são aqueles que passam a vida fazendo e fazendo
coisas. Seu lema é produzir, produzir e produzir. Não ficam felizes se não fizerem
muitas, muitas atividades e tudo com pressa, se perderem um minuto. Acreditam
estar a serviço dos outros, fruto de sua neurose produtiva, quando, na realidade, suas
ações são a única forma que têm de acalmar seus defeitos: dão, dão e dão, mas não
retêm. Eles continuam dando e se sentem vazios.
Mas também podemos encontrar alcoólatras de origem humana que são verdadeiras
fontes de vida. Capaz de dar sem esvaziar, irrigar sem diminuir, oferecer sua água
sem secar. São aqueles que nos salpicam gotículas de amor, confiança e otimismo
iluminando nossas próprias vidas com suas reflexões. (Emílio)
Inquestionavelmente, o alcoólatra de origem humana é o testemunho da verdadeira
sobriedade, que ao ser ajudado, ajuda e ajuda, é ajudado.
Os outros dois tipos nada mais são do que formas sofisticadas e mascaradas de
embriaguez seca.
Capítulo 15
OS 12 SINTOMAS DA SOBRIEDADE

Assim como há 12 sintomas de embriaguez seca, 12 sintomas de sobriedade também


foram classificados. Não se trata apenas de evitar os sintomas da compulsão seca, mas
também de incentivar os aspectos positivos de cada pessoa.
Nos capítulos anteriores, analisamos cada um dos sintomas da embriaguez seca. Agora
vamos expor o outro lado da moeda, ou seja, vamos olhar para a face iluminada do
comportamento humano.
No ser humano existem potencialidades positivas e potencialidades negativas.
Infelizmente, é mais fácil desenvolver potencialidades negativas do que positivas.
No homem há fermento ruim. Somos imperfeitos por natureza e inclinações distorcidas,
paixões e concupiscências nos levam ao desenvolvimento de defeitos de caráter, pecados
capitais ou simplesmente a ingovernabilidade das emoções às quais damos um canal
errado. Quando o viciado em recuperação cai nessa inércia negativa de emoções, ele
desenvolve a Síndrome da Embriaguez Seca.
Todos nós temos defeitos e qualidades. Os defeitos são mais perceptíveis. Das qualidades
ninguém reclama e, por isso, notamos menos. O mal é sempre mais sentido do que o bem.
Na informação dos meios de comunicação (jornais, rádio, televisão) as más notícias
ocupam o primeiro lugar: os crimes, as fraudes, as agressões, as transas dos políticos.
Nunca se fala do casal fiel que completará 25 anos, ou do modesto burocrata que está na
mesma posição há 15 anos trabalhando honestamente. Imagine um telejornal que se
dedicava apenas a divulgar boas notícias e ações generosas. Provavelmente não teria
arrecadação e eles classificariam como muito chato. O mórbido pesa mais do que o limpo.
Às vezes, algo semelhante acontece em grupos de autoajuda: as pessoas se concentram
mais no ruim do que no bom. Colegas com atitudes negativas sempre se destacam mais:
aquele que é muito agressivo, o mentiroso ou aquele que se envolveu com um colega de
grupo. Por outro lado, colegas que mantêm a abstinência, que são constantes na
frequência a grupos, que não mexem com ninguém, que respeitam os outros, que usam a
tribuna mas não abusam dela e que levam uma vida privada tranquila e positiva, costumam
passar despercebidos. É por isso que acho justo destacar a parte positiva do dependente
em recuperação.
Neste capítulo vamos nos aprofundar na parte positiva do paciente alcoólatra (e do
dependente em geral) que, felizmente, é muito ampla. O alcoólatra tem muitas qualidades
e graças a essas qualidades um punhado de alcoólicos em recuperação construiu um dos
mais belos e transcendentes projetos da humanidade: o Programa 12 Passos, que salvou
muitas vidas, não só de alcoólatras, mas de muitas outras pessoas sofridas que, Graças a
este programa, eles conseguiram encontrar luz, paz e serenidade em suas vidas.
A ideia fundamental que queremos transmitir ao dependente em recuperação é que ele
tome consciência de suas grandes qualidades. O alcoólatra é uma pessoa tão culpada e
tem sido tão negativamente apontada por outros que ele acha que não tem qualidades.
Muitos viciados acreditam que eles são apenas um grande conjunto de falhas e que toda a
vida eles terão que combatê-los. Mas não percebem que têm um grande potencial e
aspectos muito positivos que pouco ou nada desenvolveram ao longo da vida. Em geral,
podemos dizer que as qualidades do alcoólico são atrofiadas.
Os alcoólatras são pessoas sensíveis, têm bons sentimentos, são inteligentes e usam sua
inteligência para conseguir o que querem, são sociáveis, amigáveis, agradáveis, de sangue
leve, nobres, leais aos amigos, solidários, generosos, caridosos e muito sentimentais.
Todas essas qualidades podem ir muito longe para qualquer um.
O princípio fundamental aqui é o seguinte: para alcançar a saúde mental ideal que a
sobriedade implica, não é necessário apenas evitar a doença, mas promover a saúde e, no
caso dos viciados, fundamentalmente a saúde mental. Para sermos bons, devemos não
apenas evitar o mal, mas promover o bem.
Portanto, podemos definir o conceito de sobriedade como a ausência de neurose ou
ingovernabilidade emocional, com a presença ativa de um conjunto de dons ou virtudes,
sistematicamente aplicados no cotidiano da pessoa em recuperação que, além disso,
implicam maturidade emocional e harmonia interior.
Chamamos esse conjunto de dons ou virtudes de sintomas de sobriedade, e é claro que
também há 12, o mesmo número dos sintomas de embriaguez seca, mas em sua
contraparte positiva. Os 12 sintomas da sobriedade são os seguintes:
1. Liberdade, responsabilidade e produtividade.
2. Honestidade.
3. Generosidade e reconciliação.
4. Perdão e autoafirmação.
5. Humildade, dignidade e serenidade.
6. Segurança e assertividade.
7. Ação.
8. Transcendência na relação e harmonia interior.
9. Autoconhecimento e autoaceitação.
10. Autodisciplina e equilíbrio.
11. Iluminação.
12. Solidariedade e respeito.

O exercício da sobriedade
Como você pode ver, esses 12 sintomas representam a contrapartida dos 12 sintomas do
consumo excessivo de bebidas alcoólicas.
O primeiro sintoma, liberdade, produtividade e responsabilidade, é uma característica
essencial da maturidade, contrapartida da imaturidade ou primeiro sintoma da embriaguez
seca. O indivíduo que administra sua liberdade com responsabilidade, alcança a
produtividade que lhe permitirá alcançar autonomia, tanto emocional quanto material. Essa
pessoa é a contraparte total do rei criança, que não é livre, nem responsável, nem
produtivo.
O segundo sintoma fala por si: honestidade, contrário à atitude permanente de
desonestidade para consigo mesmo e para com os outros, ou segundo sintoma de
embriaguez seca. A honestidade implica um compromisso consigo mesmo e com os
próprios valores e princípios. Uma pessoa honesta não trai a si mesma ou trai os outros e,
portanto, sua atitude em relação à vida será de retidão e honestidade.
A generosidade e a reconciliação são o terceiro sintoma da sobriedade. Ou seja, o oposto
da amarga e insatisfeita persistência existencial dos ressentimentos. As pessoas
generosas têm uma mente positiva, olham para a parte boa das coisas; vêem o copo meio
cheio e não meio vazio; têm a possibilidade de perdoar e libertar-se do passado; Olham
para a frente, mas vivem no presente.
O perdão e a autoafirmação constituem o quarto sintoma da sobriedade, sendo sua
contrapartida a persistência da culpa e a necessidade neurótica de expiação. Pessoas com
essas qualidades têm trabalhado bem no processo de autoperdão. Eles reconhecem e
aceitam seus fracassos, experimentam dor emocional por tudo o que afetaram,
desenvolvem arrependimento genuíno e tomam uma decisão honesta de não cometer os
mesmos erros novamente. Isso faz com que eles se sintam bem consigo mesmos e com
os outros, por isso melhora sua autoestima e aumenta seu próprio valor pessoal.
Serenidade e humildade, quinto sintoma da sobriedade, constituem a face oposta do
egocêntrico, autossuficiente e raivoso. Um indivíduo sereno é aquele que não perde,
objetividade, que é analítico para enfrentar os problemas, que primeiro pensa e depois
age; que aceita a realidade com moderação, por mais difícil que seja. Os humildes são
indivíduos que se aceitaram, que praticam a tolerância e que são aceitos, pacientes e
prudentes. Reconciliam-se consigo mesmos e com os outros.
O sexto sintoma da sobriedade é a assertividade, ou seja: a capacidade de dizer sim
quando se quer dizer sim e dizer não quando se quer dizer não. A pessoa assertiva é uma
pessoa autoconfiante, enquanto a insegura está sempre angustiada. Portanto, de certa
forma, a assertividade é a contrapartida da angústia. O assertivo, em geral, é um indivíduo
com altas aspirações, que sabe aonde quer chegar e busca sempre o triunfo, embora saiba
aceitar e superar suas derrotas.
Sétimo sintoma: ação. Esta é uma grande qualidade de sobriedade. Ação como
contrapartida da depressão. A ação implica um caráter empreendedor e construtivo. Ativos
são indivíduos que sabem para onde querem ir, são perseverantes e constantes; terminam
o que começam; muitas vezes superam derrotas ou fracassos; Aplicam o "aos poucos vai
longe". A ação envolve a produtividade, o alcance das metas estabelecidas e a
autorrealização. Essas pessoas são existencialmente satisfeitas e auto-realizadas,
positivas, autoconfiantes, e têm um bom autoconceito e alta autoestima.
O oitavo sintoma da sobriedade é a transcendência no relacionamento e a harmonia
interior. Essas são as virtudes opostas à ingovernabilidade sexual e sentimental. Pessoas
com tais qualidades têm relacionamentos estáveis e profundos com os outros. A sua
maturidade permitiu-lhes desenvolver a capacidade de amar. Não perdem a equanimidade
diante das tentações do sexo, do poder ou do dinheiro. Eles têm orgulho de si mesmos, de
seu parceiro e de sua família em geral. Praticam a lealdade e a fidelidade e são
monogâmicos. Suas relações são responsáveis, transcendentes e duradouras. Eles
genuinamente cuidam dos entes queridos e lhes fornecem cuidado e atenção. Eles
respeitam a individualidade um do outro e não são possessivos ou controladores. Aceitam
a autonomia dos outros e exigem respeito pelos seus. Eles sabem aceitar finais quando um
ciclo amoroso termina.
Nono sintoma: autoconhecimento e autoaceitação. Uma pessoa sóbria desenvolve um
conhecimento total de sua própria realidade e aprende a aceitá-la, por mais difícil e difícil
que seja, em oposição àqueles que sistematicamente negam sua realidade não alcoólica.
Os primeiros desenvolveram uma análise existencial dos principais eventos emocionais de
sua vida (quarto passo). Sempre que se conhecem, aceitam-se como são, incluindo
defeitos, limitações e qualidades. Assim desenvolvidos a auto-aceitação, eles trabalham
para maximizar suas qualidades e minimizar seus defeitos. Isso permite que eles vejam de
forma mais objetiva as áreas de sua vida que exigem mudanças.
Décimo sintoma: disciplina e equilíbrio. Esses dons fundamentais da sobriedade impedem
que o alcoólatra em recuperação substitua um vício por outro. Eles tendem a buscar o
meio certo em suas tomadas de decisão. Eles evitam pular de um extremo ao outro
quando estão mudando. Eles são participantes regulares do seu grupo de autoajuda ou
tratamento profissional. Eles não confiam ou desenvolvem complacência sobre sua
recuperação. Cobram-se, praticam a autocrítica e aplicam constantemente a cruz da
sobriedade (família, trabalho, diversão, descanso e cuidados com a saúde física e mental).
Décimo primeiro sintoma: humildade, compaixão e espiritualidade. Essas qualidades de
sobriedade integram o dom da iluminação que permite o desenvolvimento de necessidades
superiores. É a contrapartida do décimo primeiro sintoma da embriaguez seca, que é a
ausência de espiritualidade. Humildade refere-se a ter força suficiente para aceitar que
alguém precisa da ajuda dos outros. A humildade implica compaixão, que é a capacidade
de se comover com os sofrimentos dos outros. Isso gera necessidades de tipo espiritual,
como o desenvolvimento de uma vida interior que dá origem a recuperar ou desenvolver a
fé: em si mesmo, nos outros e em um poder que a transcende; bem como a prática da
oração, reflexão e meditação como ferramentas para aprofundar sua vida interior.
O décimo segundo e último sintoma: solidariedade e respeito. Grandes dons de sobriedade
que remetem a uma relação saudável e respeitosa com os outros. Este sintoma de
sobriedade impede o desenvolvimento do décimo segundo sintoma de embriaguez seca,
que é um comportamento inadequado no grupo e no seu tratamento. Uma pessoa
carinhosa e respeitosa tem espírito de serviço e vocação para ajudar os outros
desinteressadamente. No serviço que presta, não busca dinheiro, prestígio, sexo ou poder.
Ele não busca reconhecimento ou manipula os outros em troca de sua ajuda. Ele não
ostenta seu serviço ou impõe suas ideias aos outros. Eles encontram grande satisfação e
gratificação em ajudar os outros.
A sobriedade é um processo, lento e evolutivo, ou seja, não leva pouco tempo. A primeira
condição para alcançá-lo é parar de beber por um longo período que permita à pessoa em
recuperação começar a saborear e desfrutar dos méis de abstinência e, em seguida, iniciar
o trabalho terapêutico das diferentes fases de recuperação, através da observância pontual
dos 12 passos, terapia profissional e aconselhamento espiritual.
Não se esqueça que a reabilitação de um alcoólatra é progressiva. A superação de uma
pessoa não tem limites. Do círculo vicioso da doença alcoólica que leva à loucura, à
doença e à morte, pode-se passar para o círculo virtuoso da sobriedade que leva à
harmonia, à satisfação existencial e à transcendência.
Capítulo 16
Da abstinência à sobriedade

Uma vez conhecidos os 12 sintomas do consumo excessivo de bebidas alcoólicas e os 12


sintomas da sobriedade, o próximo passo é desenvolver um programa ativo para converter
os sintomas do primeiro em sintomas do segundo.
Ou seja, não devemos nos contentar em evitar sintomas negativos, mas trabalhar
ativamente para estimular comportamentos positivos e construtivos, com base na prática
diária de sintomas de sobriedade.
Em outras palavras, transformar hábitos negativos de comportamento em hábitos positivos.
O homem é escravo de seus hábitos: não esqueçamos que todo alcoólatra, antes de
adquirir o vício do álcool, desenvolveu uma habituação ao álcool; ou seja, o hábito negativo
de consumir álcool para aliviar suas tensões, escapar de seus problemas ou enfrentar
situações particularmente difíceis em estado de sobriedade. Eventualmente, esse hábito se
transformou em excesso e o excesso em vício.
Existem dois tipos de hábitos: ruim e bom. O homem é escravo de todos eles, mas se
trocar seus maus hábitos por bons hábitos, tornar-se-á escravo destes últimos, e isso
transformará positiva e construtivamente sua conduta.
Um mau hábito, profundamente enraizado nos alcoólatras, é inverter o horário do seu ciclo
sono-vigília. Eles vão para a cama muito tarde e levantam muito tarde. Isso afeta sua
funcionalidade existencial e gera problemas familiares, escolares e de trabalho. À medida
que esses indivíduos se tornam escravos de seu mau hábito de inverter seu horário de
sono, sempre que precisam acordar cedo (porque precisam pegar um avião em um
determinado horário ou um compromisso de trabalho importante) têm dificuldade em
acordar cedo e muitas vezes terão problemas (perder o avião ou não chegar àquele
compromisso de trabalho).
Transformar esse mau hábito em um bom hábito, ou seja, dormir cedo e acordar cedo,
envolverá um longo processo de autodisciplina e readaptação, para que aos poucos você
adquira esse bom hábito. O processo será o seguinte:
1. Conscientize-se de que você tem um mau hábito.
2. Aceitação desse mau hábito.
3. Determinação para eliminar o mau hábito.
4. Auto-observação e auto-vigilância.
5. Disciplina constante para alcançar a mudança.
6. Torne-se escravo do bom hábito.
Com esses seis requisitos, a mudança pode ser alcançada. Claro, não será rápido ou em
linha reta; Será prolongado, com avanços, retrocessos e recaídas.
No nosso exemplo, um alcoólatra em recuperação que mesmo depois de parar de beber
ainda foi para a cama às 2 ou 3 da manhã e levantou às 11 ou 12 horas do dia seguinte,
terá que se conscientizar do problema, Aplique os seis passos acima, até desenvolver o
bom hábito de dormir cedo e acordar cedo.
O que significa tornar-se escravo do bom hábito? Imagine nosso alcoólatra em
recuperação, que em um período de quatro meses conseguiu transformar seu mau hábito
em um bom hábito. Agora ele vai dormir cedo todos os dias (às 11 da noite, por exemplo) e
levanta às sete da manhã para correr meia hora todos os dias. O hábito é tão arraigado
que, quando nosso alcoólatra se torna escravo do bom hábito (de acordar cedo e correr
todos os dias), no dia em que não conseguir se levantar para correr ele se sentirá mal, e
certos sintomas de desconforto psicológico e relutância aparecerão. Você vai sentir a
moral crua por não acordar cedo para correr. Ele terá se tornado escravo de seu bom
hábito e, embora eu reconheça que a palavra escravidão não é a mais apropriada, pois
nenhum tipo de escravidão é desejável; Aqui simplesmente usamos esse conceito para
enfatizar a importância de desenvolver bons hábitos.
Portanto, será necessário que cada alcoólatra faça uma lista de todos os seus maus
hábitos (com base nos 12 sintomas da bebida seca) e outra lista de bons hábitos (baseada
nos 12 sintomas da sobriedade) para desenvolver um plano de ação e alcançar seus
objetivos.
Na lista abaixo, você verá de um lado o sintoma de embriaguez seca (sintoma negativo,
mau hábito) e do outro lado o sintoma de sobriedade (sintoma positivo, bom hábito).
1. Imaturidade e infantilismo vs. Liberdade, responsabilidade e produtividade.
2. Desonestidade vs. Honestidade.
3. Ressentimento vs. Generosidade e reconciliação
4. Culpa vs. Perdão e recuperação da autoestima (autoafirmação).
5. Orgulho e onipotência vs. Humildade, dignidade e serenidade.
6. Angústia e medo vs. Segurança e assertividade.
7. Depressão vs. Ação
8. Ingovernabilidade sexual e sentimental vs. Transcendência na relação e harmonia
interior.
9. Negação de sua realidade não alcoólica vs. Autoconhecimento e autoaceitação.
10. Substituição patológica vs. Autodisciplina e equilíbrio.
11. Ausência de espiritualidade vs. Iluminação.
12. Comportamento inadequado no grupo vs. Solidariedade e respeito.
Nesta lista podemos observar, de forma rápida e esquemática, defeitos de caráter ou maus
hábitos vs. as virtudes do caráter ou os bons hábitos.
Assim, o alcoólatra ou o dependente em reabilitação poderá fazer uma lista de seus
principais sintomas de embriaguez seca e outra lista dos sintomas de sobriedade que irá
adquirir de forma ativa, trabalhando com paciência e disciplina, devendo esquecer o mito
de que ao parar de beber automaticamente tudo será composto e que a abstinência por si
só converterá o Sintomas de embriaguez seca em sintomas de sobriedade. Esta é uma
atitude muito passiva que os levará a uma vida medíocre e amarga.
A seguir, serão mencionadas as principais características dos 12 sintomas de sobriedade.

Liberdade, responsabilidade e produtividade


Quais são os principais sintomas da maturidade emocional? Liberdade, responsabilidade e
produtividade. Liberdade significa romper todos os laços de dependência neurótica que me
ligam aos outros; assumir a responsabilidade pelas próprias decisões e suas
consequências; Não esperando a aprovação dos outros, mas apenas a sua. Desta forma,
uma pessoa é verdadeiramente livre. Liberdade não deve ser confundida com
licenciosidade. A diferença fundamental entre esses dois termos é a responsabilidade.
Quando a liberdade é exercida com responsabilidade, o comportamento adulto está sendo
assumido, pois o próprio indivíduo impõe seus próprios limites. Na libertinagem não há
limites. O rei criança pratica a libertinagem, o adulto maduro pratica a liberdade com
responsabilidade.
A consequência lógica da aplicação responsável da liberdade é a produtividade: um
indivíduo é autônomo se for responsável, assumir seus compromissos e for
economicamente autossuficiente, por meio de um trabalho honesto e responsável. Isso é
produtividade.
Em outras palavras, um indivíduo com maturidade emocional apresenta as seguintes
características:
1. Ele toma decisões por si mesmo, sem buscar a aprovação dos outros.
2. Use seu livre-arbítrio com responsabilidade.
3. Ousa mudar (ousadia sem impulsividade).
4. Não permite a imposição, controle ou manipulação de terceiros.
5. Não tolera ditaduras, autoridade irracional ou submissão incondicional (rebelião
racional)
6. Não está acorrentado a nenhum dogma, a nenhuma causa ou a qualquer pessoa.
7. Ele assume a responsabilidade por si mesmo e pelos outros.
8. Tem a capacidade de amar sem desenvolver dependências (autonomia emocional).
9. Ele assume a responsabilidade por aqueles que ama.
10. Seus desapegos emocionais não implicam rompimentos sentimentais.
11. Ele geralmente termina o que começa e alcança seus objetivos.
12. Alcança sua autossuficiência econômica.
13. É produtivo graças ao trabalho honesto.
14. Obtenha sua melhoria econômica e conquistas materiais.
Honestidade
A honestidade é um bom hábito difícil de adquirir. Já havíamos dito, ao falar sobre os
sintomas da embriaguez seca, que o desonesto habitual traz tamanha inércia em suas
mentiras e em suas atitudes desonestas, que continua a praticá-las habitualmente assim
que deixa de beber.
Portanto, ele tem que desenvolver uma grande consciência moral em relação ao respeito à
verdade e conduzir-se com retidão e honestidade em todos os atos de sua vida. O
desonesto, dono da desculpa e defensor do pretexto, tem dificuldade em aceitar esse
sintoma de embriaguez seca porque não lhe convém continuar com seus hábitos de vida.
Aquele que verdadeiramente aspira à sobriedade terá que se tornar uma pessoa muito
ética e íntegra, e a verdade terá que prevalecer contra qualquer outro argumento.
As principais características do indivíduo honesto são as seguintes:
1. A verdade é um valor fundamental
2. Diz o que pensa e faz o que diz (congruência entre o modo de pensar e o modo de
agir)
3. Ele diz a verdade mesmo que seja prejudicado.
4. Não se aproveita dos outros
5. Cumpre a sua palavra e respeita os acordos que estabelece.
6. Expresse suas discordâncias, mesmo que não pareça para os outros.
7. Não aceita subornos ou cumplicidades indevidas.
8. É leal aos seus amigos e fiel aos seus amores.
9. Ele é honesto: lida com dinheiro com retidão e transparência.
10. Respeite as leis e regulamentos.

Generosidade e reconciliação
O desenvolvimento dessas duas grandes virtudes é o antídoto para aqueles que estão
acorrentados em seus ressentimentos: muitas pessoas têm ódios e rancores
irreconciliáveis, outras pensam que ser generoso é uma forma de estupidez ou fraqueza. O
cronicamente amargurado está zangado consigo mesmo, com os outros, com o mundo e
com Deus; Ele vê tudo errado. O pessimista não acredita que existam bons sentimentos no
mundo ou que existam pessoas boas. Trata-se de uma projeção perversa de sua própria
amargura e ressentimento.
Que grande virtude é perdoar, reconciliar-se com aqueles com quem se teve velhas
mágoas; Seja generoso e deixe de lado a arrogância e um conceito incompreendido de
dignidade pessoal. Quando o mau hábito do ressentimento é mudado para o bom hábito
da reconciliação, um grande peso é retirado das costas. As características fundamentais
de uma pessoa generosa são as seguintes:
1. Enfatiza o positivo dos outros e situações (veja o copo meio cheio e não meio
vazio).
2. Ele tem interesse e preocupação com os outros.
3. Ele sabe ouvir.
4. Dá-lhe mais satisfação do que recebe.
5. Tem vocação para o serviço.
6. Ele não é rancoroso.
7. Ele sabe pedir desculpas.
8. Aceite desculpas dos outros e conceda perdão.
9. Ele tem a capacidade de negociar em conflitos e sabe ceder.
10. Viva o presente.
Perdão e autoafirmação
A persistência da culpa provoca um terrível fenômeno de ingovernabilidade emocional: a
necessidade neurótica de expiação. Essa necessidade patológica de autoflagelação leva
ao desenvolvimento de uma autoestima muito baixa, quem sofre com isso acha que não é
digno de sucesso ou triunfo. Os melhores antídotos para essa terrível neurose são o
perdão e a autoafirmação.
Às vezes é mais fácil perdoar os outros do que perdoar a si mesmo
O alcoólatra é extremista e perfeccionista e às vezes desenvolve tanto ódio contra si
mesmo por ter falhado, que nunca se perdoará e se submeterá a uma autoflagelação
psicológica permanente. Essa incapacidade de perdoar a si mesmo levará a uma
persistente baixa autoestima que o impedirá de progredir e alcançar o triunfo. É por isso
que é tão importante desenvolver o bom hábito do autoperdão, não se levar tão a sério,
abandonar um pouco essas tendências de perfeccionismo rígido e aceitar que o ser
humano é imperfeito por natureza, e que a mesma condição humana de imperfeição,
eventualmente, Isso nos leva a cometer atos inadequados.
O autoperdão é uma forma de autoaceitação. Na medida em que me autoaceito, estou me
autoafirmando nas características positivas e negativas da minha personalidade. Tentarei
desenvolver as características positivas tanto quanto possível e reduzir as características
negativas à sua expressão mínima. Dessa forma, aos poucos vou me autoafirmando das
minhas características pessoais e isso vai melhorar muito a minha autoestima.
As principais características daqueles que praticam o perdão e a autoafirmação são as
seguintes:
1. Fizeram um completo exame de consciência naquilo que falharam.
2. Eles reconhecem e aceitam suas falhas; Eles têm uma consciência clara das
consequências de tais falhas.
3. Eles experimentaram dor emocional e sofrimento psicológico por todos que
afetaram.
4. Lamentam profundamente os seus fracassos e propõem uma alteração total.
5. Eles fazem a mais sincera determinação de não cometer tais faltas novamente.
6. Com toda a humildade, pedem perdão aos afetados.
7. Se são crentes, pedem perdão a Deus.
8. Eles fazem uma autoanálise completa para conhecer suas fraquezas e suas
inclinações negativas.
9. Eles buscam e descobrem as partes positivas de sua personalidade para neutralizar
tendências negativas.
10. Aceitam-se e perdoam-se, propondo uma mudança de vida para o positivo.

Humildade, dignidade e serenidade


Uma das virtudes mais sólidas da sobriedade é o desenvolvimento da humildade, esse
dom superior dos grandes homens, daqueles que transcenderam o tempo e a história;
daqueles que verdadeiramente semearam uma semente que deu frutos inestimáveis para
as gerações seguintes: Sócrates, Buda, Cristo, Confúcio, São Francisco de Assis, Ghandi,
o Dalai Lama, Madre Teresa... Eles têm vivido testemunhos da virtude da humildade, e sua
humildade os levou a serem grandes e transcender.
A humildade é o grande antídoto contra o egocentrismo, o orgulho e a onipotência. A
humildade leva ao desenvolvimento da dignidade e da serenidade, as outras duas grandes
virtudes deste quinto sintoma da sobriedade.
As principais características do indivíduo que pratica a humildade, dignidade e serenidade
são as seguintes:

1. Ele é muito autoconfiante.


2. Não precisa da aprovação dos outros.
3. Reconciliou-se consigo mesmo e com os outros.
4. Ele é austero e prudente em seu modo de vida.
5. A posse de bens materiais não é prioridade para ele.
6. Pratique a tolerância.
7. É prudente.
8. Ele fala pouco. Ele prega pelo seu exemplo pessoal.
9. Não está sujeita a injustiças nem abusos.
10. Ela não se prostitui diante do poder ou do dinheiro.
11. Pense antes de agir.
12. Fale com moderação. Ele não grita nem ameaça.
13. Lida com argumentos razoáveis e convincentes, em vez de ameaças e imposições
irracionais.
14. Ele tem fé em Deus, confiança nos outros e autoconfiança.
15. É receptivo sem ser passivo; É objetivo, acolhedor e paciente.

Assertividade
O cronicamente angustiado tem medo de viver, que lhe custa muito trabalho existir, tem
medo do que pode acontecer no futuro; Ele se torna vítima de seus próprios medos e
reage em vez de agir. O grande antídoto para esses medos é a assertividade.

Assertividade implica autoconfiança, ter um projeto de vida bem definido, coragem e


decisão para atingir os objetivos envolvidos em tal projeto de vida.
O indivíduo assertivo está localizado no presente e não preso a um futuro incerto; Ele sabe
o que quer, busca e luta por isso até alcançá-lo. É preciso trocar o mau hábito do medo e
da angústia pelo bom hábito da assertividade.
As principais características da virtude das pessoas assertivas são as seguintes:
1. Dizem sim quando querem dizer sim e não quando querem dizer não.
2. Sabem estabelecer limites para os outros.
3. Não manipulam nem se deixam manipular.
4. Eles têm a capacidade de protestar quando discordam de algo ou alguém.
5. Sabem reconhecer quando o outro está certo e errado.
6. Eles exigem que os outros os tratem como eles querem ser tratados.
7. Eles têm grandes aspirações.
8. Eles sabem o que merecem e, portanto, podem alcançar o triunfo e o sucesso.
9. Buscam sempre a vitória, mas sabem aceitar suas derrotas.
10. Eles falham eficientemente (eles sabem como superar o fracasso).
11. Enfrentam problemas, não os evadem.
12. Eles aceitam que há um problema e o enfrentam para resolvê-lo.

Ação
Contra a depressão, ação. Este é o axioma que prega o antídoto para a depressão.
Independentemente dos aspectos médicos da doença da depressão, que envolve aceitar a
existência de um problema duplo e procurar ajuda profissional (o mesmo poderia ser dito
dos aspectos psicopatológicos do sofrimento), muitas pessoas deprimidas se jogam na
rede e optam por um estilo de vida depressivo. Sentem-se vitimizados, adoram fazer o
papel de doentes, estão sempre reclamando e se aposentam da vida por se considerarem
emocionalmente deficientes. Este é o bêbado seco que joga depressão e é uma maneira
disfarçada de fugir dos desafios da vida.
Portanto, contra a depressão, ação. A virtude da ação é o movimento constante que levará
a pessoa à satisfação pessoal, ao triunfo e à transcendência.
As principais características dos ativos são as seguintes:
1. Dependem apenas de si mesmos, não dos outros.
2. Eles têm um projeto de vida: sabem para onde querem ir.
3. São constantes: aplicam o "pouco a pouco vai longe".
4. São consistentes: terminam o que começam.
5. Eles fazem uma coisa de cada vez.
6. Avaliam periodicamente seu projeto de vida e, se houver algum desvio, corrigem-
no.
7. São perspicazes e parcimoniosos.
8. Eles são perseverantes.
9. Praticam a autocrítica.
10. Eles têm um plano de ação para cada dia, sempre atrelado ao seu projeto de vida.
11. Sabem ouvir: permitem os conselhos e conselhos de quem sabe melhor.

Transcendência na relação e harmonia interior


Contra a ingovernabilidade sexual e sentimental, a transcendência na relação e a harmonia
interior.
A ingovernabilidade sexual e sentimental é consequência de uma desarmonia entre o Eu
interior e o mundo exterior, que dá origem à superficialidade e instabilidade nas relações e
provoca o domínio dos sentimentos sobre a razão e a ditadura dos impulsos sexuais sobre
a motivação do comportamento.
Quando a maturidade emocional e o crescimento espiritual são alcançados, a busca pela
transcendência nos relacionamentos torna-se uma necessidade. Não é mais a
necessidade impulsiva de se envolver em um relacionamento romântico para cobrir certas
necessidades neuróticas ou o impulso irreprimível do sexo que busca apenas aliviar
temporariamente uma necessidade primitiva.
Quando o indivíduo amadurece, ele quer dar sentido à sua vida, e então, ao se relacionar
com sua companheira, busca nela uma integração e uma complementação ao projeto de
vida de ambos. Esse vínculo será baseado no amor e não na necessidade. Como
consequência do amor vem o prazer do sexo, mas entendido não como um motivador
primário da relação, mas como uma consequência lógica de um vínculo amoroso.
As características fundamentais de quem pratica esse oitavo sintoma de sobriedade são as
seguintes:
1. Eles têm relacionamentos estáveis e profundos com os outros.
2. Desenvolveram a capacidade de amar.
3. Eles não exploram ou abusam dos outros.
4. Praticam a lealdade e a fidelidade.
5. Eles estão orgulhosos de sua família e amigos.
6. Eles são seletivos na escolha de seus amigos.
7. Eles têm orgulho de si mesmos.
8. Eles não perdem a equanimidade sobre sexo, poder ou dinheiro.
9. Seus objetivos são mais internos do que externos. Preferem ser do que ter.
10. São monogâmicos.

Autoconhecimento e autoaceitação
Na negação de sua realidade alcoólica há medo, assim como em tudo relacionado àquela
realidade e que o alcoolista não quer enfrentar, por isso prefere não ver, não ouvir e não
falar, como medida preventiva para não sentir, um mecanismo de evasão da realidade por
medo da mudança.
A contrapartida disso é o autoconhecimento e a autoaceitação. Ou seja, a audácia de se
conhecer e se aceitar como se é. Quando uma pessoa se conhece e se aceita, ela tem
todos os elementos e ferramentas necessárias para poder mudar, porque a mudança é a
condição essencial da sobriedade. A sobriedade não pode ser concebida sem mudança.
As características fundamentais de quem pratica o autoconhecimento e a autoaceitação
são as seguintes:
1. Eles desenvolveram uma análise existencial dos principais eventos emocionais de
sua vida.
2. Eles sabem de onde vêm e qual foi o seu passado.
3. Não há enigmas ou lacunas em sua história de vida.
4. Uma vez conhecidos, são aceitos como são, incluindo defeitos, limitações e
qualidades.
5. Eles também aceitam todos os membros de sua família de onde vêm, incluindo
defeitos e qualidades.
6. Eles não têm vergonha de seus parentes, de seu status social, de sua raça ou de si
mesmos.
7. Periodicamente, fazem um balanço de seu processo existencial e avaliam se estão
alcançando as metas que estabeleceram para si mesmos.
8. Eles aceitam seus defeitos e qualidades: eles tentam maximizar suas qualidades e
minimizar seus defeitos.

Disciplina e equilíbrio
Substituir o álcool por outra substância ou comportamento viciante é um disfarce que
esconde o propósito de não mudar. Muda superficialmente, mas basicamente permanece o
mesmo. Às vezes você pula de um extremo ao outro ou não tem disciplina para provocar
mudanças reais.
Por isso, disciplina e equilíbrio são as duas virtudes que se opõem a esse defeito de
caráter.
Disciplina é o trabalho constante e consistente que é desenvolvido de forma sistemática
para atingir um objetivo definido. O alcoólatra geralmente é uma pessoa de carreira curta,
ou seja, é difícil terminar o que começa, pois lhe falta um hábito na prática da disciplina.
Por outro lado, o alcoólatra costuma ser um extremista. É por isso que muitos deles
desistem do álcool, mas caem no vício do trabalho ou do sexo. Outros apenas trocam o
álcool por outras drogas, mas sem experimentar nenhuma mudança real.
O equilíbrio é a antítese do extremismo. A virtude de permanecer no centro das situações
é um hábito que ajudará a uma mudança real e não simplesmente substituir um
comportamento patológico por outro comportamento patológico.
As principais características do disciplinado e equilibrado são as seguintes:
1. Eles tendem a buscar o meio certo em suas decisões.
2. Eles evitam pular de um extremo ao outro quando estão mudando.
3. Sabem que o triunfo e o fracasso são dois impostores.
4. Evitam o fanatismo ou o fundamentalismo.
5. São flexíveis; Eles sabem que toda regra tem sua exceção.
6. Não confundem equilíbrio com mediocridade.
7. Evitam qualquer forma de exagero.
8. Eles se exigem.
9. Não adiam para amanhã o que podem fazer hoje.
10. Eles têm um plano de ação para cada dia e respeitam seu horário de trabalho
(evitar o trabalho).
11. Vão dormir cedo e levantam-se cedo.
12. Praticam a Cruz da Sobriedade.

Iluminação
A iluminação é a virtude de quem consegue alcançar a dimensão espiritual.
Quando seu espírito está cheio de uma paz interior e você consegue adquirir uma força
que o faz resistir com equanimidade e sabedoria ao ataque da vida, então você adquiriu
iluminação.
Ser iluminado não é ser profeta, santo ou enviado do Senhor, não. É qualquer ser humano
que desenvolveu sua espiritualidade para adquirir tal força que lhe permite lidar com os
problemas da vida com serenidade, aceitação e tranquilidade.
A iluminação é a maior virtude adquirida através do processo de recuperação. Da
recuperação física à recuperação social, depois à recuperação mental e emocional e,
finalmente, à recuperação espiritual.
O despertar espiritual leva o indivíduo à conversão, e a conversão envolve uma mudança
radical de vida. Há convertidos muito famosos na história da humanidade: São Paulo,
Santo Agostinho, São Francisco de Assis, Santo Inácio de Loyola... Eles mudaram
radicalmente suas vidas graças a um processo de conversão que levou a uma mudança de
180° em suas vidas.
O alcoólatra em recuperação que consegue esse despertar espiritual, essa conversão,
modificará sua vida de tal forma que suas chances de crescimento sejam máximas e as de
ter uma recaída sejam mínimas.
As características fundamentais de quem adquiriu iluminação são as seguintes:
1. Ele experimentou necessidades espirituais.
2. Ele recuperou ou desenvolveu a fé.
3. Ele acredita em um poder superior que o transcende.
4. Desenvolveu a prática da oração, da reflexão e da meditação.
5. Ele alcançou um equilíbrio entre sua vida exterior e sua vida interior.
6. Ele tem a capacidade de se abandonar em situações que não dependem dele.
7. Perdeu o respeito humano e as convenções sociais (vive para si e para as suas
próprias convicções).
8. Pratique o sacrifício, a autodisciplina e a privação de gratificação como forma de
reforço espiritual.
9. Ele não é um fanático religioso nem um ativista de seus dogmas. Ele respeita as
convicções dos outros e tende à espiritualidade em vez da religiosidade.
Solidariedade e respeito
Finalmente, o comportamento inadequado no grupo AA é a incapacidade do alcoólatra em
recuperação de desenvolver as virtudes da solidariedade e do respeito.
Para poder conviver com os colegas AA é preciso, antes de tudo, sentir-se parte do grupo,
sentir-se mais um da equipe, estar disposto a cooperar, ajudar e contribuir com tudo o que
o grupo precisar para que possa atingir seus objetivos.
Estas características correspondem à virtude da solidariedade, que implica uma grande
generosidade e desprendimento para se entregar ao grupo, para servir os outros, para
cumprir a responsabilidade que lhe foi atribuída por AA e para cumprir, com alegria e
desprendimento, todos estes deveres.
Ou seja, o principal objetivo de participar de um grupo AA é dar mais do que receber.
Claro, o alcoólatra também recebe. Recebo apoio, ajuda, orientação, uma plataforma para
sua catarse e, o mais importante, apoio incondicional do grupo para mantê-lo sem bebida e
em busca de sobriedade.
Mas muitos alcoólatras em recuperação colocam o recebimento antes de doar, e querem
receber muitas coisas de AA, como poder fazer negócios, pedir emprestado ou satisfazer
suas necessidades neuróticas de poder e prestígio. Aqueles que fingem receber mais do
que dar, são bêbados secos que inevitavelmente adotarão um comportamento inadequado
em seu grupo por causa de sua falta de solidariedade.
Outros, por outro lado, carecem da virtude do respeito. Não respeitam seus pares, os
princípios do grupo ou a si mesmos. São egoístas, amargurados e raivosos que só têm
prazer em criticar, fofocar, zombar ou sabotar a catarse do parceiro. Isso é desrespeito e
também inevitavelmente levará a comportamentos inadequados no grupo.
É por isso que é importante mudar os hábitos negativos de egoísmo e amargura para
aqueles de respeito e solidariedade.
Aqueles que desenvolvem essas virtudes têm as seguintes características:
1. Têm espírito de serviço e vocação para ajudar os outros.
2. Eles se importam e assumem a responsabilidade por tudo ao seu redor.
3. Eles encontram satisfação e gratificação em ajudar os outros.
4. Desinteressam-se em ajudar os outros: não procuram dinheiro, prestígio ou poder.
5. Não se ostentam para ajudar os outros ou as causas a que servem (não buscam
reconhecimento).
6. Eles não manipulam os outros em troca de sua ajuda.
7. Eles não obtêm benefícios pessoais (dinheiro, prestígio, poder ou sexo) em troca de
ajudar os outros.
8. Têm respeito pelas decisões de quem quer ajudar, mesmo que não concordem com
elas.
9. Não têm inveja da superação ou do sucesso daqueles que ajudam.
10. Não tomam conta da vida de quem ajudam, impondo-lhe o que deve ou deixar de
fazer.
11. Eles são capazes de ser movidos pelos sentimentos dos outros.
12. Eles não zombam ou humilham o recaído, mas oferecem sua mão para continuar
ajudando-o.
13. Eles não fazem comentários indiscretos ou descobrem o anonimato de nenhum
colega fora do grupo.

Encerraremos este capítulo com as 13 recomendações que Benjamin Franklin sugeriu a


todos para levar uma vida tranquila, harmoniosa e produtiva:
1. Temperança: Não coma até a saciedade.
2. Silêncio: Falar apenas para o próprio benefício e o dos outros.
3. Resolução: Resolva o que for necessário. Empreenda sem demora a proposta.
4. Frugalidade: Não desperdice nada e evite gastos desnecessários.
5. Ordem: Tudo no seu lugar, cada obra no seu tempo.
6. Trabalho: Foque sempre em algo útil e não perca tempo.
7. Sinceridade: Não use de engano e aja de boa-fé.
8. Justiça: Não faça mal a ninguém e seja justo com todos.
9. Moderação: Evite extremos e não aja com raiva.
10. Limpeza: Evite sujeira interna e externa.
11. Calma: Não se incomode com bobagens, acidentes ou problemas.
12. Castidade: Que o prazer seja guiado pelo amor e não leve à perda da paz.
13. Humildade: Imitai a simplicidade de Sócrates e Jesus.
Glossário
Abstinência: É a suspensão no consumo de qualquer substância aditiva ou a suspensão da
prática de algum comportamento aditivo.
Ação: Exercício da possibilidade de fazer. Resultado do fazer. Conjunto de atividades que
possibilitam o alcance de uma meta.
Vício: Impulso irreprimível para consumir uma droga ou desenvolver um determinado
comportamento que produz ansiedade intensa, que só se acalma com o consumo da
droga ou com a execução do comportamento. Isso provoca uma adaptação cerebral
que leva a pessoa ao consumo excessivo e crônico da droga ou à execução do
comportamento, o que leva a sérios problemas de saúde, escolares, de trabalho,
sociais e legais. O vício é uma doença crônica que, se não tratada, levará à
incapacidade, perda de liberdade ou morte.
Viciante: Isso produz dependência. Viciado em química: pessoa que sofre de vício.
Alcoólatra: Viciado em álcool.
Alcoolismo: Doença incurável, recorrente, progressiva, insidiosa e fatal, caracterizada pela
dependência do álcool.
Alucinação: Percepção subjetiva sem ter um estímulo externo que a provoque. Embora as
mais frequentes sejam auditivas e visuais, também podem ocorrer alucinações
olfativas, táteis e gustativas.
Anergia: Ausência ou diminuição significativa de energia.
Anfetaminas: Uma droga estimulante do sistema nervoso central. Produz dependência
grave e distúrbios comportamentais. Seu uso crônico pode causar sintomas de
loucura (psicose de anfetaminas).
Anedônia: Incapacidade de desfrutar das coisas ou sentir prazer.
Angústia: Sentimento de medo, apreensão ou mal-estar decorrente da antecipação de um
perigo cuja origem é desconhecida ou não compreendida.
Assertividade: Qualidade de uma pessoa caracterizada por seu espírito empreendedor e
por alcançar os objetivos a que se propõe. Ele faz com que os outros o tratem como
ele quer ser tratado e não aceita imposições ou manipulações. Ele diz sim quando
quer dizer sim e não quando quer dizer não.
Autodesvalorização: Condição psicológica muito típica da neurose que consiste em dar
muito pouco valor a si mesmo, sentir-se menos que os outros e não merecer as
coisas boas da vida.
Cafeína: Estimulante encontrado no café, chá e cola. É provavelmente a droga mais
popular do mundo.
Cíclica (a): Que evolui ou ocorre periodicamente.
Cocaína: Droga estimulante obtida a partir do processamento químico das folhas de coca.
É viciante e produz dependência muito grave. É consumido de três formas diferentes:
inalado pelo nariz, fumado (crack, pedra) ou injetado na veia.
Causa insanidade ou morte por hipertensão, trombose ou claudicação do coração.
Codependência: Dependência neurótica de outra pessoa. Forma de apego patológico a
certas pessoas com as quais há um envolvimento emocional. No alcoolismo e na
drogadição, a codependência de certos parentes de alcoólatras ou dependentes
químicos (esposas, mães, irmãos, filhos) é muito comum.
Cristal: Droga pertencente ao grupo das metanfetaminas. É viciante e estimulante. Produz
graves distúrbios comportamentais e quadros de loucura.
Culpa: Sentimento permanente de sofrimento psíquico causado por uma percepção
subjetiva de ter cometido algo errado. Na neurose, a percepção subjetiva da culpa é
muitas vezes desproporcional ou extremamente rígida, levando o indivíduo a não
perdoar a si mesmo e a buscar inconscientemente diferentes formas de autopunição.
Chantagem sentimental: Uma forma de manipular as pessoas para pressioná-las e fazê-las
se sentirem culpadas se não resolverem o problema ou não lhe derem o que você
quer.
Delírio: sintoma de loucura que ocorre com frequência entre dependentes de álcool e
drogas. Caracteriza-se por uma falsa crença que persiste apesar de explicações
racionais e evidências contrárias. O delírio da perseguição é a forma mais frequente
desse fenômeno.
Depressão: Doença psiquiátrica que os dependentes podem sofrer e que se caracteriza
por falta de energia, falta de motivação para viver, incapacidade de desfrutar das
coisas agradáveis da vida, um profundo sentimento de tristeza e desejo de morrer,
que às vezes resulta em tentativa de suicídio ou suicídio consumado.
Dignidade: A qualidade da sobriedade que permite ao indivíduo reconhecer, aceitar e
apreciar seus próprios valores e habilidades. É respeito e fidelidade à sua escala de
valores e ao seu projeto de vida. É lealdade às próprias convicções. É ter orgulho de
si mesmo, ter boa autoestima e agir de acordo consigo mesmo e não com os outros.
Dispneia: Falta de ar que obriga a pessoa a respirar de forma mais rápida e intensa
(hiperventilação). Sintoma típico de angústia.
Dualidade, dual: Presença de duas doenças diferentes na mesma pessoa.
Egocentrismo: Os neuróticos precisam ser sempre o centro da atração. Uma
autopercepção distorcida e inflada de si mesmo. Os egocêntricos sentem-se
superiores aos outros e acreditam que têm a resposta para tudo. O egocentrismo é
uma grandiosidade artificial que muitas vezes mascara um complexo de inferioridade.
Endógena: Ocorre dentro do corpo, sem qualquer estímulo externo (por exemplo,
depressão endógena).
Equilíbrio: Capacidade de distinguir entre o que é razoável, o que é imoderado e o que é
inaceitável, usando razoavelmente os cinco sentidos, tempo, dinheiro e esforço, de
acordo com critérios certos e verdadeiros, e com ações prudentes e moderadas.
Exógena: Produzida como resultado de um estímulo externo que afeta o funcionamento do
órgão (por exemplo: depressão exógena).
Expiação: Ato ritual de purificação para lavar as faltas cometidas. A necessidade neurótica
de expiação é um impulso patológico para punir-se sabotando permanentemente o
sucesso, como uma forma de penitência para lavar a culpa.
Ecstasy: Uma droga de designer comumente chamada tacha. É viciante e tem um efeito
estimulante. Produz distúrbios comportamentais, danos cerebrais e loucura.
Fantasias compensatórias: Mentiras ou histórias que o desonesto fabrica para dar uma
imagem falsa e diferente de si mesmo, porque se considera muito autoconsciente e
pouca coisa.
Fidelidade: Virtude caracterizada pela aceitação voluntária e com total convicção dos
vínculos implícitos na sua adesão aos outros – amigos, companheiros, líderes,
família, instituições, pátria – de tal forma que reforça e protege, ao longo do tempo, o
conjunto de valores que representam.
Fobia: Repulsa ou medo angustiante de certos objetos ou situações. Existem dois tipos de
fobias: a fobia específica, quando é em relação a um determinado objeto (elevadores,
alturas, animais, aviões, etc.) e a fobia social, quando há repulsa por estar entre as
pessoas, participar de reuniões ou ter que falar em público).
Generosidade: Inclinação ou propensão do espírito a agir desinteressadamente em favor
de outras pessoas.
Honestidade: Virtude da sobriedade, caracterizada pela congruência entre o que se pensa,
o que se diz e o que se faz. A honestidade também engloba o que é sinceridade e
honestidade.
Honestidade: retidão mental, integridade na ação. Transparência na prestação de contas.
É uma característica da honestidade.
Hostilidade: Atitude de agressão psicológica contra uma ou mais pessoas.
Humildade: Virtude caracterizada pelo reconhecimento das próprias insuficiências,
qualidades e habilidades, aproveitando-se delas para fazer o bem, sem atrair a
atenção ou exigir o aplauso dos outros.
Inconsciente: Fato psicológico que escapa ao conhecimento do sujeito em que ocorre.
Inconstância: Incapacidade de terminar o que começa.
Inconsistência: Ausência na continuidade do esforço para atingir um objetivo. Falta de
decisão, estabilidade e solidez para alcançar o que a pessoa se propôs. Infantilismo
(emocional): Persistência no adulto de uma mentalidade infantil ou adolescente.
Inalantes: Droga psicoativa administrada pelas vias aéreas (inalação). Os mais comuns
são diluente, cimento, gasolina e acetonas. Eles causam sérios danos cerebrais.
Crianças e adolescentes em situação de rua são os maiores consumidores dessas
substâncias.
Iluminação: Estado espiritual alcançado pelo indivíduo, que lhe permite harmonizar sua
vida interior com as pressões habituais de sua existência e permanecer imerso em
um estado de paz, a cada momento de sua vida.
Imaturidade: Falta de crescimento emocional.
Frustração intolerância: incapacidade de aceitar quando as coisas não vão bem. Os
intolerantes querem o mais satisfatório naquele momento, se empolgam, atacam e
procuram culpados quando não conseguem algo que querem.
Irresponsabilidade: Característica de uma pessoa que toma decisões importantes sem a
devida meditação. Ato resultante da falta de previsão ou reflexão.
Liberdade: Característica fundamental de quem atinge a maturidade emocional. Livre
significa ter a capacidade de decidir por si mesmo, de escolher com responsabilidade
o que a pessoa considera melhor para ela. Seja livre de dependência e produtivo. A
liberdade é um dos pilares da sobriedade no alcoólatra recuperado. Não confunda
liberdade com licenciosidade. Na liberdade aplica-se a responsabilidade, na
licenciosidade, a irresponsabilidade.
LSD: Dietil-amida do ácido lisérgico. Uma droga sintética que produz alucinações e delírios
místicos, comumente chamado de ácido.
Maconha: Droga viciante, neurotóxica e ilegal obtida do cânhamo chamada cannabis
sativa. Produz danos cerebrais que se manifestam por uma falha nas funções
intelectuais e uma grande desmotivação. Produz dependência e seu consumo crônico
causa psicose (quadros de loucura semelhantes à esquizofrenia).
Manipulação: Usar e gerenciar pessoas para conseguir o que deseja.
Medo: Medo de algo familiar (um problema, uma pessoa, um exame). Difere da angústia
porque a causa da ameaça não é conhecida na angústia.)
Deficiência: Veja autodesvalorização.
Misógino: Um homem que odeia, agride e controla as mulheres, mas que não pode viver
sem elas. Forma patológica de codependência.
Narcisismo: Veja o egocentrismo.
Negação: Ação e efeito da negação. Dizer que algo não existe, não é verdade ou não é
como alguém acredita ou afirma. Pare de reconhecer ou aceitar algo. Não admita sua
existência. Esconder. Fingir.
Neurose: estado de desajustamento emocional que causa sofrimento psicológico,
insatisfação consigo mesmo e problemas com os outros. A causa geral da neurose é
a angústia.
Neurotransmissores cerebrais: substâncias produzidas no cérebro que determinam a
transmissão de impulsos nervosos. Como resultado da alteração na concentração
dessas substâncias, ocorrem diversas doenças como depressão, angústia,
alcoolismo ou dependência de outras drogas. Os principais neurotransmissores são
serotonina, adrenalina, dopamina e endorfina.
Nicotina: Substância tóxica, responsável pela dependência do tabaco.
Onipotência: Orgulho levado a uma dimensão patológica. Os orgulhosos sentem-se
superiores aos outros, donos da verdade, arrogantes, impõem aos outros as suas
ideias e a forma como devem resolver as suas vidas.
Opiáceos: Derivados do ópio obtidos da papoula. Eles têm a propriedade de suprimir a dor,
produzir euforia com sonolência agradável e desenvolver um vício grave. Os
principais opiáceos são a morfina, a heroína e seus derivados sintéticos.
Orgulho: Superestimação de um indivíduo de suas virtudes e qualidades (reais ou
supostas), levando a uma atitude de arrogância, altivez e hostilidade desdenhosa.
Pânico (ataque): Transtorno de pânico caracterizado por perda de autocontrole e sensação
iminente de colapso geral da saúde com medo de perder a consciência ou morrer. É
um transtorno psiquiátrico que requer atenção especializada.
Passividade: Característica de uma pessoa que deixa os outros agirem, sem fazer nada
por si mesma. Deixe que os outros decidam por ele ou resolvam seus problemas.
Perfeccionismo: Tendência a melhorar um trabalho indefinidamente sem decidir considerá-
lo concluído. É uma atitude rígida e obsessiva de quem quer tudo bem.
Projeção: Mecanismo de defesa psicológica pelo qual o indivíduo se liberta de
determinadas situações afetivas dolorosas ou intoleráveis, deslocando seus próprios
sentimentos em relação a outras pessoas.
Racionalização: Construção de uma falsa explicação diante de certas realidades que a
pessoa não quer aceitar e que tenta justificar um comportamento inadequado
(pretextos).
Recorrente: Que evolui devido a recaídas. Vício, angústia e depressão costumam ser
recorrentes.
Ressentimento: Sofrimento psicológico caracterizado pela permanência de um sentimento
de ressentimento e ódio em relação a alguém que supostamente cometeu uma
ofensa, agressão ou espoliação.
Responsabilidade: Qualidade de uma pessoa que coloca cuidado e atenção no que faz ou
decide. Aquele que é responsável, assume as consequências de seus atos, cuida de
si mesmo e dos outros, está acostumado a prestar contas, cumpre as leis e se
compromete com seu dever.
Respeito: Olhar, consideração, deferência que se tem para com os outros ou para com
algo. Consideração da própria dignidade e autoestima pessoal.
Sinceridade: Característica da honestidade em que se manifesta, se conveniente, à pessoa
certa e no momento certo, o que fez, o que viu, o que pensa e o que sente,
claramente em relação à sua situação pessoal ou a dos outros.
Síndrome: Conjunto de sintomas que compõem uma doença.
Síndrome do Déficit de Recompensa: Teoria desenvolvida por alguns pesquisadores do
cérebro e das causas genéticas da dependência, que postula a hipótese de que
certos transtornos aditivos, como alcoolismo, dependência de certas drogas, vício em
jogos de azar e comer compulsivamente (entre outros), Eles têm um denominador
genético e neuroquímico comum. É por isso que muitos alcoólatras mudam do álcool
para outras drogas ou comportamentos compulsivos.
Orgulho: Altivez e apetite desordenado para ser preferido aos outros. Satisfação e insuflar
contemplando as próprias vestes com desprezo pelos outros.
Sobriedade: Estado ideal de um viciado em recuperação. Envolve ter parado de usar álcool
e outras drogas e ter alcançado crescimento emocional.
Superficialidade: Característica de uma pessoa frívola, ou cujo julgamento não tem solidez
ou substância porque apenas o que está acima é apreciado e julgado, sem atingir a
profundidade ou essência das coisas.
Tensão: Veja angústia.
Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC): Doença psiquiátrica, derivada da angústia e
caracterizada pelo desenvolvimento de diversas obsessões, que geram muita
angústia e obrigam a pessoa a desenvolver um ritual compulsivo para acalmar essa
angústia. Por exemplo, uma pessoa que tem a obsessão da limpeza e o medo de
contrair infecções toda vez que usa objetos contaminados, essa obsessão força a
pessoa ao ritual compulsivo de lavar as mãos muitas vezes ao dia, para acalmar a
angústia de não se infectar.
Transtorno de Estresse Pós-Traumático: Doença psiquiátrica resultante de sofrimento que
ocorre em indivíduos que sofreram traumas violentos (por exemplo, agressão,
sequestro ou acidente grave), reproduzindo subsequente e periodicamente o mesmo
medo e angústia intensos que causaram o evento traumático. Requer atenção
profissional.
Vergonha: Sentimento de auto-reprovação e auto-aversão derivado da culpa, o que leva a
uma queda na autoestima e a um sentimento de rejeição e não aceitação dos outros.
Impressão e encadernação
Martínez Sánchez Impresores
Yacatas, 515, Cel. Vértiz Narvarte,México
, D.F.

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