Abdala 2016
Abdala 2016
Rio Claro - SP
2016
REPRESENTAÇÕES DE PROFESSORES SOBRE A INCLUSÃO
ESCOLAR
Rio Claro - SP
2016
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho às três pessoas mais importantes da minha vida: minha
mãe Lourdes, meu pai José Eduardo (in memoriam) e minha irmã Patrícia.
AGRADECIMENTOS
This research dedicated itself to understand and analyze what are the teachers'
representations about the inclusion of students with disabilities in mainstream
education classes. We intend to understand, through the experiences of these
teachers as in the current process of school inclusion, what their challenges,
difficulties and prospects. Theoretically we subsidize in Moscovici, whose
contribution to the theory of social representations allows us to understand the
subjective process by which individuals understand their reality and explain
everyday phenomena. Methodologically the research is characterized as
qualitative and five teachers, of the same municipal school and working at least
ten years as effective teachers, were interviewed. Data analysis was based on
the perspective of content analysis. As a result, we find that the representations
brought by the teachers are part of common sense, that is, they argue that it is
difficult to teach students with disabilities in the regular classroom, because they
lack adequate training to work with this clientele. They also state that it is
complex to tailor the curriculum content to students with disabilities, once there
is no support for specific professionals (doctors and psychologists), afirming
there is not enough time in school for these professionals share their
experiences and discuss their difficulties and they also point to the lack of
adequate architectural accessibility of school buildings for students with
disabilities (mostly physical disabilities) and suitable materials, such as specific
toys that address every need. On the representation of disability, it was
identified that physical disability is the most difficult one to work with, given its
characteristics are more visible which can bring a little more fear and
apprehension on the part of educators. The question of normal / abnormality
related to a student with disabilities is also present in the words of them
teachers, where we realize that itis embedded in the teachers’ lines the concept
of the perfect body, one that common sense considers appropriate. The
teachers also highlight the fundamental importance of the specialist teacher to
assist in this inclusive process. Despite of all the difficulties and anxieties that
teachers brought in their narratives, the care received by them from their
students pays all barriers and difficulties experienced in everyday life.
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 14
CAPÍTULO 1 - REPRESENTAÇÕES SOCIAIS NO CONTEXTO DA
EDUCAÇÃO INCLUSIVA ................................................................................. 18
1.1. As representações sociais e a sua relação com a educação inclusiva .. 21
INTRODUÇÃO
entrevistas junto com a discussão dos dados, que estão separadas por
categorias de análise, construídas mediante as narrativas dos participantes.
É importante esclarecer que neste trabalho o termo utilizado será
pessoas/alunos com deficiência, salvo a citação de documentos oficiais. Este
termo está em uso desde a década de 1990, fazendo o desuso dos termos
pessoas portadoras de necessidades especiais ou portadores de deficiência.
Por fim, pretendemos com este trabalho, que os docentes da escola em
que foi realizada a pesquisa sintam-se ouvidos, que eles percebam que não
estão sozinhos nos anseios e na busca de respostas e orientações para que na
sala de aula seja realizado um trabalho humano e adequado aos alunos com
deficiência. Com isso, afirmamos que a especificidade do conhecimento é
propiciar o desenvolvimento de um compromisso ético e político com uma
sociedade mais democrática.
18
A inclusão escolar não significa inserir o aluno com deficiência junto das
outras num mesmo ambiente. Implica em proporcionar a participação do
estudante nas atividades realizadas e oportunizar o uso dos materiais da
escola que são para todos os alunos. É necessário reconhecer que as
dificuldades enfrentadas nos sistemas de ensino evidenciam a necessidade de
confrontar as práticas discriminatórias e criar alternativas para superá-las, e
neste ponto, a educação inclusiva assume espaço central no debate acerca da
sociedade contemporânea e do papel da escola na superação da lógica da
exclusão.
De acordo com Mantoan (2001), a inclusão como consequência de um
ensino de qualidade exige da escola brasileira novos posicionamentos, o que
implica numa atualização do ensino e conduz ao aperfeiçoamento dos
professores e de suas práticas. É uma inovação que envolve um esforço de
reestruturação das condições atuais da maioria de nossas escolas de nível
básico.
A Educação Especial e Inclusiva passou por várias etapas e sofreu
muitas alterações, seja no atendimento específico ao aluno com deficiência em
escolas especiais, ou dentro da escola regular, seja nas leis e decretos. No
entanto, há de reconhecer que houve avanços, no entanto ainda é preciso
repensar todo esse caminho, que aponta um grande desafio: que seja possível
a apropriação de uma educação de qualidade a todas as pessoas com
deficiência.
Básica obrigatória e gratuita dos 4 aos 17 anos e afirma que é dever do Estado
garantir “atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino”. Em 1989, a Lei Nº 7.853 dispõe
sobre a integração social das pessoas com deficiência. Na área da Educação,
por exemplo, obriga a inserção de escolas especiais, privadas e públicas, no
sistema educacional e a oferta, obrigatória e gratuita, da Educação Especial em
estabelecimento público de ensino (BRASIL, 2008a).
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) – Lei n. 8.069 de
13/07/1990 garante o atendimento educacional especializado às crianças com
deficiência preferencialmente na rede regular de ensino. Verifica-se que essa
lei não faz nenhuma referência ao atendimento diferenciado, nem apresenta
referências mais aprofundadas em relação ao atendimento às crianças com
deficiência se comparado com as leis anteriores (BRASIL, 1990).
Com a publicação da Política Nacional de Educação Especial, em 1994,
é proposto a chamada “integração instrucional”, que permite que ingressem em
classes regulares de ensino apenas as crianças com deficiência que “(...)
possuem condições de acompanhar e desenvolver as atividades curriculares
programadas do ensino comum, no mesmo ritmo que os alunos ditos normais”,
em termos de inclusão escolar, o texto é considerado um atraso. Oposta a essa
concepção proposta, após dois anos, entra em vigor a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação – LDB, Lei Nº 9.394 que apresenta um capítulo específico
para a Educação Especial. Em seu artigo 58, parágrafo 2 destaca que “O
atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços
especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos,
não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular”
(BRASIL, 2008a).
Em 2001, a Lei Nº 10.172 aprova o Plano Nacional de Educação (PNE)
e traz importantes considerações no que diz respeito à inclusão de alunos com
deficiência na rede básica ao informar que “a educação especial, como
modalidade de educação escolar, terá que ser promovida sistematicamente
nos diferentes níveis de ensino e que a garantia de vagas no ensino regular
para os diversos graus e tipos de deficiência é uma medida importante”. Apesar
desses esforços em garantir o direito à escolarização das pessoas com
deficiência e considerando que o Plano Nacional de Educação (UNESCO,
38
Cabe destacar que em 2002 foi publicada uma lei específica para a
deficiência auditiva, a Lei n. 10.436 (BRASIL, 2002), que dispõe sobre a Língua
Brasileira de Sinais – Libras. Essa lei possibilitou reconhecimento oficial da
Libras como língua e foi possível realizar, em âmbito nacional, discussões
relacionadas à necessidade do respeito à particularidade linguística da
comunidade surda e do uso desta língua nos ambientes escolares, assim como
o desenvolvimento de práticas de ensino que estejam preocupadas com a
educação de alunos surdos numa perspectiva bilíngue de ensino. Em seu
texto, ampara a comunidade surda, uma vez que ela pode exigir das
secretarias de educação a presença do intérprete nas escolas de ensino
regular.
O Ministério da Educação (MEC) em conjunto com o Ministério da
Justiça, UNESCO e Secretaria Especial dos Direitos Humanos elabora em
2006 o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, que tem por
objetivo contemplar, no currículo da educação básica, temáticas relativas às
pessoas com deficiência e desenvolver ações afirmativas que possibilitem
acesso e permanência na educação superior. Em 2007 é estruturado o Plano
de Desenvolvimento da Educação (PDE) que trabalha com a questão da
infraestrutura das escolas, abordando a acessibilidade das edificações
escolares, da formação docente e das salas de recursos multifuncionais
(BRASIL, 2008a).
39
1, 2
Cálculo realizado pela autora, considerando o número de matrículas em 2007 e 2013.
46
1, 2
Cálculo realizado pela autora, considerando o número de matrículas em 2007 e 2013.
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3.1. Objetivos
Objetivo Geral:
Conhecer e analisar quais são as representações de um grupo de professores
de uma escola municipal, acerca da inclusão de alunos com deficiência nas
classes de ensino regular.
Objetivos Específicos:
1. Levantar dados relativos à inclusão no município de Rio Claro;
2. Conhecer quais as representações de um grupo de professores de uma
escola sobre suas experiências com o processo de inclusão;
3. Analisar as representações desses docentes.
3.4. Participantes
cadeirante. Disse que não possui formação específica para trabalhar com os
alunos com deficiência, mas, que nesse ano de 2015 está mais interada com a
problemática da inclusão e das deficiências, pois, a professora da sala de
recursos a auxilia muito. P1 relatou que gosta da inclusão de alunos com
deficiência em sua sala e tenta fazer de tudo para inseri-los nas atividades
realizadas.
A professora P2 também possui formação no antigo Magistério e
graduação em Letras com habilitação em Inglês. Ela relatou que fazem 13 anos
que leciona. Sua especialização é em Alfabetização e Letramento e também
contou que para o trabalho com os alunos com deficiência, realizou um curso à
distância para poder ter uma base de como trabalhar com eles e entender um
pouco das deficiências. Mencionou ser muito curiosa com a área de
Linguística, pois, é uma área que gosta muito e que pretende realizar um
mestrado.
Em sua experiência na sala de aula, P2 contou que trabalhou com
alunos com dificuldades de aprendizagem e nunca teve alunos com
deficiências acentuadas e com laudos. Ela relatou que no momento possui três
alunos que merecem um atendimento especializado voltado às suas
necessidades. O primeiro não tem diagnóstico fechado, mas segundo a
professora ele tem uma perda de memória muito rápida. Segundo ela, por
exemplo, se é trabalhado a letra A, daqui uma semana ele já não lembra mais.
Então, o trabalho com ele é sempre de estar revendo o conteúdo. O segundo e
o terceiro aluno não têm diagnósticos e nem laudos, segundo a professora eles
possuem uma dificuldade de aprendizagem muito grande. Para a professora, o
grande problema também é a falta de apoio fonoaudiológico para esses alunos,
porque eles trocam as letras e isso dificulta a compreensão do sistema
alfabético. Se houvesse apoio fonoaudiológico, P2 acredita que as falam iriam
melhorar e a alfabetização também.
A professora P3 possui graduação em Pedagogia e especialização em
Psicopedagogia. Com relação à formação específica para o trabalho com
alunos com deficiência, essa professora contou que teve uma disciplina sobre
educação especial na graduação e que o curso de Psicopedagogia abrangeu
vários temas específicos que a ajudam em sala e que a professora da sala de
recursos realiza orientações gerais e individualmente, e essas orientações a
60
ajudam em seu trabalho. Ela tem 15 anos de sala de aula regular e contou que
possui experiência na educação especial desde quando se formou na
graduação, pois, sempre teve alunos com deficiência em sala e trabalhou um
ano na APAE com quatro crianças com deficiência múltipla. Esse ano de 2015
também tem em sua sala um aluno com deficiência múltipla. Segundo P3, este
aluno não enxerga, tem comprometido na parte motora, não fala e tem a
audição também um pouco comprometida.
A professora P4 possui graduação em Pedagogia e especialização em
Psicopedagogia. Em relação à formação específica para o trabalho juntos aos
alunos com deficiência, disse que na faculdade teve uma disciplina de
educação especial e a professora da sala de recursos da escola a auxilia
bastante. Ela disse que tem 22 anos de sala de aula e que em 2012 teve um
aluno com problemas emocionais. Este aluno estava com 14 anos no quarto
ano do ensino fundamental e às vezes ficava agressivo. Segundo P4, naquele
ano ela aprendeu muito com ele. A professora disse que por gostar da
inclusão, o trabalho fica mais fácil e disse não encontrar problemas com estes
alunos. No ano de 2015, P4 tem uma aluna com síndrome de down que é
alfabética, lê e escreve, mas, possui um pouco de defasagem em matemática.
P4 enfatizou que gosta de inclusão e pensa em fazer sua especialização nesta
área. Segundo a professora, barreiras não existem, pois, ela se envolve e se
identifica muito com estes alunos.
A professora P5 é formada no antigo Magistério, possui graduação em
Pedagogia e Artes Visuais. Com relação à formação específica, possui
especialização em Educação Especial. Ela contou que começou lecionando em
escolas do estado e depois veio para as escolas municipais. Contou que deu
uma pausa de lecionar (não relatou quanto tempo), pois, segundo ela ser
professora é difícil. No total, P5 tem 14anos como professora. Em sua carreira,
ela teve em suas salas alunos sem diagnóstico fechado, aluno com dificuldade
no aprendizado, aluno com deficiência intelectual, aluno com deficiência de
audição e de visão. Em 2015 teve um aluno com paralisia cerebral que era
cadeirante. Segundo P5, este aluno tem suas limitações, mas é uma criança
que interage. Ele não fala, mas tenta se comunicar de alguma forma, ele tenta
mostrar o que ele quer. Junto com a professora da sala de recursos, P5 disse
61
que estão tentando fazer uma comunicação alternativa com ele, através de
figuras e de fotos.
Segundo todas as professoras, os alunos com deficiência possuem
monitoras que os auxiliam em sala de aula e em todas as atividades da rotina,
como na alimentação e higiene.
3.5. Instrumento
P3
“A minha maior angústia é me perguntar todos os dias qual é a diferença que eu faço na
vida deles, né. Então na adequação de uma atividade eu fico imaginando “será que ele
realmente está aproveitando”? Mas a gente sempre fica em dúvida, de que mobiliário,
de que jeito melhor seria usar, pra ajudar mesmo a criança, pra melhorar o atendimento
pra criança”.
P4
“Eu gosto de inclusão. Eu penso em fazer minha especialização nisso, porque eu gosto
de inclusão. Então, eu acho assim, barreira pra mim não tem. Porque eu me envolvo, eu
me identifico muito com eles. Então eu acho que, por gostar, pra mim é fácil. Eu não
encontro problema com eles. Na minha primeira inclusão eu era contratada do estado.
(...) Eu adorei. Apesar de ter ficado com um olho roxo, eu adorei (risos). Ah, mas foi
maravilhoso, a gente aprende muito”.
P5
“[...] uma vez eu assisti, eu escutei uma palestra com aquela professora que fala muito
do especial, a Mantoan. Então, ela fala que você não precisa ser especialista para
cuidar da criança especial, você precisa ser professora. Mas a gente como professora
se sente insegura, né? Então assim, é difícil, é complicado”.
P1
“Tudo o que eu preciso eu converso muito com a Maria, né. Tudo, tudo que eu preciso,
assim, até quando eu não tô na escola. A coordenação também tudo que você pede, tá
66
“(...) Porque, assim, a gente fica meio que sem saber pra onde ir, né, sem ter o preparo.
E por mais que a gente saiba a sala que a gente vai pegar no ano próximo, não tem o
tempo suficiente pra se preparar pra aquele aluno”.
P3
“Pela Secretaria, assim, que eu me lembre às vezes tem simpósio, né. Mas daí são
oficinas, palestras que daí você se inscreve se você quiser, né. Então não tem assim
nada específico que a secretaria obrigue, por exemplo, todos os professores da rede a
frequentar. Então vai mesmo do seu interesse, né. Então é mais isso mesmo, assim,
não me lembro de nada feito mais especificamente pela Secretaria em relação a isso”.
P4
“[...] porque a gente não tem a formação, você não tem o conteúdo específico pra
aquela criança”.
P5
“Mas eu acho que em muitos lugares os profissionais não estão preparados para
receber a inclusão. Acho que não é nem o problema da criança. O problema é que
muitos professores não se sentem preparados, mesmo com a formação. E a maioria
não tem formação. Que nem, no caso eu tenho pós-graduação em educação especial.
Mas quantos professores aí têm inclusão e não tem especial? Tipo assim, a gente tem
que tentar ir pro melhor caminho pra conseguir um resultado, né.”
P4
“Na teoria tudo é lindo, né? Tudo é lindo, tudo é perfeito. E chega na prática... Aqui a
gente tem muito auxílio da Maria. Então aqui é mais fácil de trabalhar, porque ela tá
sempre por trás dando um suporte”.
P5
“Mas assim, a inclusão tá aí, e eu acho que a gente tem que...tipo assim, a gente tem
que tentar ir pro melhor caminho pra conseguir um resultado, né. Mas eu acho que a
teoria e a prática é bem diferente”.
proporcionar um grande avanço para eles, e muitas vezes elas criam altas
expectativas sobre a criança e as mesmas não correspondem, sendo mínimos
os resultados apresentados pelos alunos. Então, para as professoras, o desafio
é lidar com as dificuldades e as diferenças de cada um e realizar um
planejamento para o aluno com deficiência que siga toda a turma.
nada, nada mesmo. Porque assim, até a monitora que tava com ele
não tinha preparo nenhum. (...) de aprendizagem a gente não tinha o
que fazer. Porque ele também sofria de hiperatividade, e ele não
conseguia ficar um segundo sequer na cadeira. Então assim, isso me
matava por dentro” (P2).
“Então, é complicado. A gente, no começo tem um pouco de receio.
Quando você fala “ai, vai vir uma criança especial pra sua sala”, você
pensa, e talvez até você use assim também o lado de mãe, né?
Porque você tem aquele cuidado, você tem aquele medo... Então
assim, você tem aquela preocupação do outro... “Ai, toma cuidado”.
Então, no primeiro momento, eu acho que quando você recebe uma
criança especial, é a preocupação do bem estar dele. Tipo assim, que
não aconteça nada com ele. É o medo de que ele possa de repente
engasgar, que ele possa de repente ter uma convulsão, que ele
possa de repente cair, se machucar... Porque é assim, a
responsabilidade é sua. Você pensa assim, “o que acontecer a culpa
é minha” (P5).
3
Nome fictício.
75
Para a professora P4, o mais difícil é o material para trabalhar junto aos
alunos com deficiência, isso porque segundo a docente ela não teve uma
formação que lhe ajudasse a planejar atividades diferenciadas que atendam de
fato seu aluno, mas, com o auxílio da Maria na preparação do planejamento e
na confecção do caderno de atividades específicas, o trabalho torna-se mais
fácil.
“Eu acho que o mais difícil é o material pra trabalhar com eles.
Apesar de que a Maria prepara tudo. Mas não é toda escola que tem
esse suporte da que a professora da sala de recurso. Ela tem o
material, corre atrás, prepara... Porque a gente não tem a formação,
você não tem o conteúdo específico pra aquela criança. A gente
sentou no começo do ano e eu montei o meu planejamento, né. Nós
sentamos juntas e em cima do planejamento da classe nós
montamos o planejamento da Paula. E isso ela faz com todos os
professores. O auxilio que ela dá é muito bom. Muito. Muitas vezes
ela monta um caderno de atividades individual para a criança. Ela é
muito dez. Se tivesse uma Maria em cada escola seria perfeito
(risos)” (P4).
dá para fazer, mas o que dá para fazer, a gente vai incluindo. A gente
trabalhou com sistema solar e entregou o planetário e ele entendia e
mostrava o que estava acontecendo. Então, ele entende. A gente fez
um passeio por Rio Claro e estamos trabalhando o caminho de casa,
da escola e vamos mostrando tudo pra ele. Ele vem de ônibus, ele
também é cadeirante, e ele mostra, ele entende o que a gente tá
trabalhando” (P1).
“Eu sento de domingo pra preparar atividade pra sala e eu tento
adequar. Mesmo sabendo dessa dificuldade dele, eu tento adequar o
conteúdo a ele, pra que ele não se sinta com a autoestima afetada.
Porque eu penso assim, eu poderia trabalhar letra A, B, C, o ano
inteiro. Mas ele vai sentir que o que ele tá fazendo é diferente do que
a sala tá fazendo” (P2).
“Então, eu acredito que aqui na escola realmente a inclusão
acontece. Porque tudo que é feito é, é, tipo assim, é pensado na
criança e no todo. Não é feito assim, o material para a inclusão.
Lógico, você vai fazer adaptações, né, porque também não dá pra
uma criança que tem limitações como que você vai fazer ela fazer um
desenho se ela não tem como? Então você vai oferecer alguma coisa
que tem a mesma linha de pensamento, mas de uma outra forma”
(P5).
Diante das narrativas, afirmamos que o professor que tem em sua sala
de aula um aluno com deficiência, deve se pesquisador, testar metodologias e
atividades e não ter medo de errar. Concordamos com Mantoan (2001, p.03),
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quando ela discorre sobre o sucesso da inclusão dos alunos com deficiência na
escola regular.
O sucesso da inclusão de alunos com deficiência na escola regular
decorre, portanto, das possibilidades de se conseguir progressos
significativos desses alunos na escolaridade, por meio da adequação
das práticas pedagógicas à diversidade dos aprendizes. E só se
consegue atingir esse sucesso, quando a escola regular assume que
as dificuldades de alguns alunos não são apenas deles, mas resultam
em grande parte do modo como o ensino é ministrado, a
aprendizagem é concebida e avaliada.
Esse dado constitui um indicativo que a própria escola não oferta aos
docentes momentos de diálogo e reflexão sobre o atendimento ao aluno com
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deficiência, isso de certa forma reforça o desamparo que é narrado por elas.
No ambiente escolar, principalmente no atendimento dos alunos com
deficiência, a troca de experiência pode resultar em um melhor atendimento
para esse e para todos os alunos, ampliando seu conhecimento, e melhorando
sua prática, além da troca e compartilhamento de materiais diversos que
podem ser utilizados, não somente entre as professoras, mas entre todos que
compõem o quadro de funcionários da escola, que também tem o papel de
educadores.
As professoras destacam também o papel das monitoras neste processo
de inclusão. Para a professora P1, as monitoras por conviverem o tempo todo
auxiliando os alunos com deficiência adquiriram mais conhecimento prático que
as próprias professoras e por isso deveriam ser convidadas a darem seus
depoimentos e contarem suas vivências junto a estes alunos. A professora
acredita que estas trocas auxiliariam no trabalho dela em sala de aula, pois, ela
poderia aplicar o conhecimento das monitoras em seu dia a dia.
“E tem as monitoras também. Deve chamar as monitoras pra falar.
Porque essas monitoras que ficam com eles, assim, eu falo, “gente,
elas sabem muito mais do que a gente”. Porque elas ficam ali com
eles, é, que ficam ali na comida, que fica o tempo todo com eles.
Então devia ser assim, os professores chamar as monitoras também
pra conversar, pra falar como que é. Seria bom” (P1).
“Eu acho que a inclusão ela é bem vinda sim, porque eu acho que
toda criança tem direito do convívio com o outro” (P5).
lá na teoria, é assim que tem que trabalhar, você chega aqui e vê que
não vai dar certo e ai você tem que mudar tudo” (P1).
“[...] na questão de mobiliário, em questão de acesso. Mesmo de
coisas que a gente sabe que faz falta pra eles, né. A nível de
atendimentos também, né... Então, aqui na cidade, é uma cidade
menor, eles podem procurar uma fono, uma fisioterapeuta, uma T.O.
Mas mesmo assim eu acho que ainda falta profissionais nesse
sentido, né. Como que no papel diz que tem que ter, mas acho que
ainda falta um número, né, na prática, de pessoas pra isso” (P3).
“Na teoria tudo é lindo, né? Tudo é lindo, tudo é perfeito. E chega na
prática... Aqui a gente tem muito auxílio da Maria. Então aqui é mais
fácil de trabalhar, porque ela tá sempre por trás dando um suporte”
(P4).
“Mas assim, a inclusão tá aí, e eu acho que a gente tem que...tipo
assim, a gente tem que tentar ir pro melhor caminho pra conseguir
um resultado, né. Mas eu acho que a teoria e a prática é bem
diferente” (P5).
Para Briant e Oliver (2012) uma sala de aula composta por crianças com
e sem deficiências pode ser vista como um estímulo que provocaria a adoção
de estratégias por parte dos educadores de tornar a sala de aula um ambiente
rico de aprendizado para todos os alunos.
Com relação às dificuldades de acesso e permanência enfrentadas
pelos alunos com deficiência nas escolas, a professora P2 aponta que muito
ainda deve ser feito nas escolas para receber este aluno. Na fala abaixo,
percebemos que ela reclama da falta de acesso e falta de mobiliários
específicos para o aluno com deficiência.
“Assim, eu acho que é importante eles estarem na escola, eu acredito
na inclusão. Só que eu acredito, assim, que muita coisa ainda precisa
ser feita, né. Então aquilo que eu te falei de mobiliário, de acesso, de
tudo mesmo, né” (P2).
fazem com que as mesmas busquem mudanças no dia a dia como educadoras
de alunos com deficiência.
Neste estudo, as categorias que emergiram das narrativas das
professoras nos levam a afirmar que as representações deste grupo acerca da
inclusão de alunos com deficiência nas classes de ensino regular, estão
centradas nestes principais pontos: é difícil ensinar o aluno com deficiência que
está inserido na sala de aula regular, não é possível a efetivação da inclusão
sem o apoio dos profissionais específicos aos professores das salas regulares,
as docentes não possuem formação adequada para o trabalho junto ao aluno
com deficiência e os professores que trabalham com inclusão devem ter
formação específica, faltam muitas coisas para receber adequadamente o
aluno com deficiência na escola, a deficiência física é considerada mais difícil
de ser trabalhada, justamente por suas características serem mais visíveis e as
professoras relacionam a questão de normal/anormalidade ao aluno com
deficiência. Outra representação que emergiu é de que o carinho recebido
pelas docentes de seus alunos compensa todas as barreiras e dificuldades
vivenciadas no dia a dia.
Verificamos que estas representações estão calcadas no sofrimento das
professoras por não saberem se estão fazendo o certo para o aluno e se estão
contribuindo para a sua aprendizagem, na angústia pela falta de tempo em
sentar junto aos alunos com deficiência e ensiná-los e na dificuldade que
apresentam quando tentam adequar o conteúdo da sala para ele. O que
reforça também estas representações são as expectativas das professoras em
relação aos resultados apresentados pelos alunos com deficiência, que
segundo as educadoras “são mínimos os resultados apresentados por eles”.
Percebemos que as docentes mostram angústia e limitação em relação
ao processo de inclusão, pois, se sentem impotentes diante das dificuldades
dos alunos e diante de suas próprias dificuldades, demonstrando medo com o
bem-estar do aluno e dificuldades em sua própria adaptação junto ao seu
aluno.
Constatamos que as professoras das salas regulares solicitam bastante
o suporte pedagógico e apoio da Maria, a professora especialista da sala de
recursos, pois, ela oferece materiais específicos para o trabalho junto aos
alunos com deficiência, tira as dúvidas das professoras, ajuda nas adequações
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
arquivos/frame/frame.htm?serial=2000080&from_tabela=&from_serial=0&secca
o=Site>. Acesso em: 07 jun.2015.
SASSAKI, R.K. (2010). Inclusão: Construindo uma sociedade para todos. Rio
de Janeiro, 8ª ed. RJ: WVA.
APÊNDICE A
Entrevistas na íntegra
Professor 1– Eu tive duas alunas com síndrome de down, que eram gêmeas.
Ai uma ficava comigo e a outra ficava na outra sala, no Infantil 1. E eu falo
assim, apesar delas serem gêmeas, elas eram completamente diferentes uma
da outra. Porque a gente ficava muito junto e a minha, ela não gostava de
barulho. A outra adorava dançar. A minha era assim, mais centrada, ela
parava pra fazer as coisas, a outra derrubava a sala inteira. Ficava andando.
Então você vê assim, a síndrome de Down, gêmeas, era completamente
diferente uma da outra né. E eram assim, muito espertas. Eu tive um aluno
autista também, que era do primeiro ano. Esse aluno autista eu não fiquei
muito tempo com ele. Ele, a mãe não deixava ficar na escola, então o término
assim, ele ia embora umas três horas e uma vez eu cheguei a comentar com
ela: deixa ele mais tempo, porque ele não ia não educação física, ele não
participava, porque a educação física era sempre depois, e ele ia embora
antes e ele tinha duas monitoras. E das monitoras uma ele adorava, a outra
ele não gostava. De mim ele gostava porque ele até falava meu nome. Ele
vinha, falava meu nome e me abraçava. Ela falava assim: nossa é raro,
porque geralmente ele não gosta nem de chegar perto. No ano passado eu
tive um aluno deficiente auditivo. Só que ele, como eu tenho um sobrinho que
também é deficiente auditivo, ele tinha monitora. Só que ele estava no quinto
ano e ele vai pra um sexto ano de uma escola do estado? Não vai ter monitor.
Ai eu pedi para tirar a monitora dele pra ele ser mais independente. Como eu
falo alto, ele falava que não precisava nem do microfone. E esse ano eu tenho
o João. Eu fico maravilhada, eu adoro, eu gosto dessa inclusão. Eu tento tudo
o que eu posso. Incluir ele, fazer diferente pra ele saber o que está
acontecendo, eu vou colocando. Não fazer assim, tudo diferenciado pra ele. É
diferenciado, mas é dentro do tema que a gente está trabalhando. Não dá para
fazer tudo, tem coisas que não dá para fazer, mas o que dá para fazer, a
gente vai incluindo. A gente trabalhou com sistema solar e entregou o
planetário e ele entendia e mostrava o que estava acontecendo. Então, ele
entende. A gente fez um passeio por Rio Claro e estamos trabalhando o
caminho de casa, da escola e vamos mostrando tudo pra ele. Ele vem de
ônibus, ele também é cadeirante, e ele mostra, ele entende o que a gente tá
trabalhando. E é gostoso, eu gosto, eu sou apaixonada, então eu não posso
falar muito. Tem pessoas que eu percebo assim: ah, é inclusão, deixa ele mais
com a monitora. Eu já quero, eu participo, eu vou perguntar pra professora da
sala de recursos, porque ela tem mais experiência né, ela vivencia muito mais
com ele do que eu. Às vezes eu fico assim: será que eu to fazendo certo, será
que eu to fazendo errado? Como eu não tenho formação, eu estou sempre
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deixo claro pra ele que eu sou só uma, que eu não quero ser super-herói. Eu
não sou super-herói. Eu não vou dar conta de tudo. E eu deixo bem claro
porque eu acho que eles precisam saber. Porque senão, se eu fico querendo
esconder isso da turma, eu vou ficar desesperada, né, atropelando as coisas,
e eles vão perceber. Então é mais fácil falar “olha, gente, eu preciso agora que
vocês fiquem em silêncio pra eu ajudar o Pedro, que vocês fiquem em silêncio
pra eu sentar com o José”, e aí eles ficam... Entendeu? Eles sabem que cada
hora, cada momento é de um. Aí a gente vai tentando levar, vê o que dá pra
fazer, né?
criança especial, você precisa ser professora. Mas a gente como professora
se sente insegura, né? Então assim, é difícil, é complicado. Mas assim, a
inclusão tá aí, e eu acho que a gente tem que... Tipo assim, a gente tem que
tentar ir pro melhor caminho pra conseguir um resultado, né. Mas eu acho que
a teoria e a prática é bem diferente.
Questão 5 - Como foi quando você teve sua primeira inclusão em sala de
aula? Como foi esse processo?
Professor 1 – Minha primeira inclusão? Bom, você fica meio assustada. Eu
confesso que fiquei bem assustada, porque eu não tinha tido nenhuma e foi o
aluno autista. Então você fica assim assustada. Na época que eu fazia
magistério, a gente via vídeo, conversávamos sobre o assunto, mas, se você
não tem o aluno, é diferente. Aí quando você tem, você fala: meu Deus! O que
eu faço? E as monitoras, eu falo, que elas sabem mais do que a gente. Ai
você vai conversando, você vai pegando, vai lendo, vai procurando saber e ver
o que cabe para aquele aluno, o que eu posso fazer. E esse aluno específico,
ele não acompanhava a sala. No primeiro ano ele não acompanhava. As
atividades dele eram assim completamente diferentes. E tinha dia que ele não
queria, que ele estava mais agitado...e você vai aprendendo no dia a dia.
Cada dia você vai aprendendo um pouquinho...é assim. E eles nos ensinam
muito né. Eles ensinam muito mais do que a gente está ensinando. Eu
aprendo muito mais com eles do que eu ensino.
Professor 2 – Lembro. Não vou esquecer nunca. Era um aluno que ele tinha
deficiências múltiplas, né. Físicas, intelectuais... E assim, era o meu primeiro
ano, e quando eu cheguei eu não sabia exatamente nada sobre ele. Eu sabia
comentários sobre a postura da mãe, mas ele mesmo... A única informação
que eu tinha dele é “ele sofre de convulsões, e muitas”. Ah, daí a gente
ajoelha, reza, faz promessa... Né? Pra que nada de ruim aconteça nas nossas
mãos. Porque ele é colocado pra mim sem eu ter nenhum preparo, e se
acontece alguma coisa? Quem responde sou eu, né?
Então assim foi, foi acho que... Apesar de ele ser muito carinhoso, foi
um ano muito mal aproveitado. Eu não consegui fazer nada com ele. Nada,
nada, nada mesmo. Porque assim, até a monitora que tava com ele não tinha
preparo nenhum. Então ela dava assistência pra ele, pra ele não se machucar.
Era a assistência que ela dava. Mas assim, de aprendizagem a gente não
tinha o que fazer. Porque ele também sofria de hiperatividade, e ele não
conseguia ficar um segundo sequer na cadeira. E aí a ordem era “se ele quiser
sair da sala, você deixa ele sair”. E eu era... Eu sou contra isso. Porque eu
acho que até certo ponto o limite serve pra qualquer criança, né?
Então assim, isso me matava por dentro. E como era meu primeiro ano
naquela escola com um deficiente, porque eu nunca tinha pego nenhum, é...
Eu fiquei assim, eu tive que largar um pouquinho mão do meu orgulho e da
minha postura profissional nesse sentido, de falar “não, ele vai ter que ficar,
ele vai ter que entender que isso é uma sala de aula”. Até porque eu acho que
isso faz parte da inclusão ele se sentir pertencente à sala de aula.
As regras valem pra todo mundo, é o que eu penso... E aí eu ficava
assim, frustrada no sentido de falar “poxa, mas nem o social eu vou poder
contribuir”. Porque é o mínimo, né, que a gente faz. É o social. E aí eu não
fazia nada, não fiz nada disso. E assim, e até hoje... E eu planejei, é assim, no
110
Professor 3 – É, foi assim... Foi bem difícil pra mim no começo, né. Mesmo
porque foi direto na APAE, né. Foi o me primeiro ano, então eu já iniciei na
APAE. Então eu só tinha criança com dificuldade, né, com deficiência. E eram
as deficiências mais severas da escola. Então eu tinha muita dificuldade no
sentido mesmo de me adequar às necessidades deles. E aquilo que eu te falei
no começo, da minha angústia em saber se aquilo que eu estava fazendo era
certo ou não, né. E na época a APAE também estava se ajeitando, né. Então,
assim, tinha fisio, mas faltava uma T.O., né... Então eu sentia falta desses
profissionais, né, então pra mim foi bastante difícil o começo. E mesmo até de
adaptação minha em relação a eles, né. Muito mais minha do que deles em
relação a mim.
aprendizagem. Era uma sala... Aquela sala era, bem dizer, todos deficientes
mental, de aprendizagem, de idade. Eram pessoas de 18, 20 anos, com idade
mental de 5, 6. Tanto que eu trabalhei com eles como o começo da
alfabetização, que antigamente era o pré3, né? E já era uma turma de 18, 19
anos. Eles estavam começando alfabeto, números... Era um atraso grande.
como no ano passado, esse aluno chegou depois, tem que conversar com
eles. Eu falei assim: não fica gritando muito perto dele. Tinha alguns alunos
que ficavam e é tudo assim, ir conversando aos pouquinhos e falando assim:
ele tem a necessidade dele, mas é pra tratar do mesmo jeito. Do jeito que
você trata um amigo. Porque tem aqueles que deixam meio de lado né. Tem
que ir conversando bastante. E é um desafio por dia. Cada dia você descobre
uma coisa nova e fala meu Deus! Ai você vai lidando e assim vai.
A maioria das crianças aqui o aceitam. Fica todo mundo em cima dele. Aí de
vez em quando tenho que falar “gente, deixa ele”. Aqui é assim, todo mundo
adora o João. E quando eles terminam a atividade deles, eu deixo ir lá com o
João. Porque ele tem um iPad, que tem uns joguinhos. Então tem alguns
joguinhos assim que têm que ser em dupla. Então cada dia eu falo, “ó,
terminou, vai lá com ele”. Só que tem dia assim que, você vai até ali e a hora
que você volta tá a sala inteira em cima dele. Aí falei “gente, não fica todo
mundo em cima”. Mas ele adora. Ele vem aqui, porque eu carimbo as
atividades. Ele termina, ele vem aqui pra eu carimbar, sai mostrando pra todo
mundo, né.
Os alunos vão na lousa fazer atividade, ele também quer. Aí eu passo
atividade de ligar, que nem número assim, quatro, dois, aí ele liga. A hora que
ele termina, ele fica fazendo assim que ele quer que todo mundo faz festa
porque ele conseguiu fazer. Então todo mundo aqui na sala adora. Os alunos
assim... Todo mundo quer ir em cima, todo mundo quer ajudar. Que nem, no
passeio que foi, “eu vou com o João”, eu falei “gente, deixa ele ir com o aluno
tal, que ele se sente mais à vontade”. Assim, mas todo mundo quer, todo
mundo puxa. É assim, é gostoso.
crianças da sala, se dão muito bem, muito. Nossa, eu tenho até que pedir pra
eles saírem um pouco de cima do Carlos, porque eles adoram o Carlos.
Gostam, em todas as salas pelas que eu passei eu nunca tive problema em
relação às crianças ao aluno com deficiência. Pelo contrário, eles tratam
mesmo como igual, gostam de brincar, sempre vêm trazer brinquedinho pra
ele, gostam de conversar... Sempre tratam como igual mesmo.
As crianças querem ajudar, né? Às vezes de tanto querer ajudar até
atrapalha, né, querendo todas as coisas de uma vez só. Mas no fundamental
eu também já tive experiência, mas era deficiente intelectual, né. Então a
deficiência talvez não fosse tão aparente como a física, né. Mas eu não
percebia também, assim, discriminação e nem nenhum tipo assim de
preconceito em relação às crianças do fundamental. Nunca percebi não.
O preconceito vem mais do adulto, com certeza, muito... Porque se a
gente lembra da nossa época, até às vezes eu fico pensando, né. Quando a
gente estudava, a gente quase não encontrava com eles, né. Mas eu me
lembro na oitava série de um menino que tinha a mãozinha torta e a perninha
também torta, né. O nome dele é Gustavo, não esqueço até hoje. E todo
mundo, inclusive eu, a gente não gostava de chegar perto dele, sabe? Porque
tinha impressão que ele ia fazer alguma coisa diferente. Tinha nojo, muitas
vezes, dele porque daí ele babava. Então era adolescência, assim, e eu por
conta do grupo, pra não me desfazer do grupo, então eu seguia mais ou
menos o que as outras diziam também, né.
E ele desistiu. Ele não continuou a oitava série. Eu me lembro que ele
saiu e não voltou nunca mais, né. Então acho que agora mudou bastante, né.
Eles tão assim, mais visíveis pra todo mundo, né, e isso é importante, né.
Professor 4 – Eu acho que o mais difícil é o material pra trabalhar com eles.
Apesar que a Maria prepara tudo. Mas se é toda escola que tem esse suporte
de... que a professora da sala de recurso tem o material, corre atrás, prepara...
Porque a gente não tem a formação, você não tem o conteúdo específico pra
aquela criança.
Aqui ela ajuda bastante, mas se é um lugar que você não tem auxílio,
você tem que pesquisar, preparar sozinha... Daí se torna muito complicado.
Você não tem, não tem... Você tem uma noção do que trabalhar com eles, né,
mas você não tem como você tem pra um aluno normal.
conseguiu passar pra ele? Então acho que é um desafio... Aqui, ainda, que a
gente tem monitoras, excelentes monitoras, então na parte de cuidados elas
fazem. Então, é... Dificilmente você tem que fazer alguma coisa de higiene
com eles. Lógico, limpar o nariz, alguma coisa assim, mas assim... Aí tem o
momento que você fica com ele sozinho, por exemplo, a monitora vai tomar o
lanche, aí, por exemplo, eu vou pra areia e levo ele comigo. Nesse momento
eu tenho um pouco de receio de, por exemplo, que nem, no caso, tirar ele da
cadeira. Porque como eu tenho a turma toda pra olhar, eu tenho medo de, de
repente... Porque é assim, a gente como lida com muita criança, às vezes
você vira pra falar com uma, o outro tá fazendo alguma coisa. E como ele tem
uma certa deficiência, se eu tirar ele da cadeira enquanto a monitora não está
ali comigo, eu tenho medo que aconteça alguma coisa com ele. Porque se eu
virar pra acudir uma criança, o que eu faço com ele? Então é... Mas assim,
desafio... Ah, eu acho que o desafio é tentar mesmo, é, da mesma maneira
que a gente consegue ajudar os outros a se desenvolver, o desafio é ajudar a
criança especial a se desenvolver também. Da mesma forma. É fazer um
planejamento adaptando algumas coisas, mas também um planejamento que
siga sua sala. Porque eu acho que se for pra fazer um diferente, então você
não precisa ser... ele não tá sendo incluído.
Porque você tem que usar o seu planejamento e fazer as adequações
necessárias pra ele. Mas você tem que agir ali de acordo como o aluno normal
e tentar fazer de tudo que você consiga o desenvolvimento dele. Seja o que
for, mas que você tenha algum resultado... É isso.
Professor 4 – Tem, total. Ah... Ela senta com a gente, ela faz o PDDI (Plano
de desenvolvimento individual) da criança... Se você quiser eu ate tenho no
meu computador, posso te mandar. A gente sentou no começo do ano e eu
montei o meu planejamento, né. Nós sentamos juntas e em cima do
planejamento da classe nós montamos o planejamento da Paula. Esse ano foi
da Paula, mas quando eu trabalhei com o Cauã foi a mesma coisa, quando eu
116
trabalhei com a Vitória... E isso ela faz com todos os professores. No início do
ano a gente monta o da classe, daí ela chama individual, senta, e a gente
monta o PDDI da criança, que fica incluído no planejamento.
Então ali você tem o ano todo, o que a criança consegue, e o que a
gente pretende com ela até o final daquele ano. Então encima daquilo ali fica
mais fácil, porque você tem uma noção do que você quer atingir, do que você
pretende com aquilo, né...
Que no caso da Paula, que já lê, já escreve, a gente tem uma meta. Até
que número chegar com ela, até... Na multiplicação, ou na adição com
centena... Então em cima daquilo ali fica mais fácil você trabalhar. Junto com a
professora você já tem o objetivo que você quer chegar, né.
O auxilio que ela dá é muito bom. Muito. Muitas vezes ela monta um
caderno de atividades individual para a criança. Que nem, quando que a
minha aula... Hoje eu ou trabalhar com divisão; eu não tô dando divisão ainda
pra Paula. A monitora pega esse caderno de atividades, fica com a Paula na
mesa dela trabalhando aquele tipo de atividade.
Tipo uma... Ensinando a entrar na centena, decompor número.
Enquanto eu tô indo com a classe na divisão, ela tá no passo da Paula. E isso
a Maria dá prontinho pra gente, a gente não precisa montar nada.
Ela é muito 10. Se tivesse uma Maria em cada escola seria perfeito
(risos).
Professor 5– Com certeza. Com certeza, de todos eles. Eu falo que aqui... Eu
moro em Araras, né, e eu vim pra Rio Claro num processo seletivo, falando
que eu vim fazer um concurso por fazer. E por fim eu acabei me efetivando.
Amo essa escola. Eu tô aqui desde que eu vim pra cá. Vai fazer, acho que faz
8 anos que eu tô aqui na escola. Então assim, nunca saí daqui, eu sempre tive
apoio da direção. Tudo que eu preciso a Maria sempre tá à disposição, as
coordenadoras, a direção... Então assim, é algo que você pode contar. Você
tem um apoio realmente efetivo aqui na escola. Não é assim, ai, falou, vira as
costas, já esqueceu.
Às vezes, que nem, a Maria fala... Como é muito corrido, às vezes, tipo
assim, a gente, eu falo “ai, Maria, tô trabalhando em tal coisa”. Aí ela fala “ah,
vou pesquisar”. Aí eu pesquiso, depois eu levo pra ela, ela manda pra mim.
Então assim, a gente trabalha mesmo, eu acho que é no coletivo aqui, é no
conjunto. Não é “eu trabalho na minha sala”, a gente trabalha junto.
Até ele pegar e olhar pra você, pra você, pra fazer. E aí ele não faz do jeito
certinho que é pra fazer. Então se fosse pra ele acompanhar uma sala de
crianças com deficientes auditivos, ele não acompanharia porque o tempo dele
é diferente. Quando você vai fazer “Rio Claro” assim rapidinho, não adianta.
Dele você tem que fazer tudo bem devagar, que senão ele não entende.
É, por ele ter tido a paralisia, é... Junto, é, as limitações... Porque ele
era uma criança que era pra estar numa cadeira de roda, e não era nem pra
andar. Só que aí a mãe dele foi soltando, ele anda assim, ele sai correndo. Ele
vai embora, né. Ele vem de cadeira de roda, eu falo, “eu não sei porque que
ele vem com a cadeira de roda”, porque ele chega com a cadeira, ele mesmo
vai empurrando, ele coloca, ele já desce e senta ali.
Ele tem uma independência dele, que nem. Ele vem, ele vem sozinho.
Ele chega ali na porta, eu faço assim pra ele que é pra ele entrar. Aí ele entra,
o pessoal já pega e tira a mochila que às vezes tá do lado assim. Ele entra ali,
ele já senta. É independência dele.
Tem que ter, né. Se ele quer as coisas ele vem aqui pedir, ou ele
chama, né. Quem, esses dias ele tava com o joguinho, por mesmo ele tendo
deficiência auditiva ele escuta algum ruído, então ele deixa o volume alto.
Então eu fui lá, baixei, falei que não podia. Porque senão atrapalha os outros
alunos. Tão fazendo outra coisa, aí fica lá aquele joguinho, aí eles querem
saber do joguinho e eles querem saber do joguinho e não do que eles tão
fazendo. Aí eu peguei e tirei.
Na sala, qualquer coisa distrai as crianças. Qualquer coisa, né? E eu
falo pra eles, assim. Que nem esses dias eu peguei e chamei atenção de um
aluno, ele até assustou. Porque eu falo alto, porque ele tava escutando o que
eu tava falando. Às vezes ele tá muito parado aí eu falo “João!”, aí ele olha,
assim. Mas é tudo... É questão da vivência. Você vai acompanhando, aí você
acostuma com aquele ritmo, aí dá muito certo. É que nem sexta-feira a Maria
veio aqui dar essa aula. Ficou aqui acho que uma hora e meia fazendo a
atividade assim com ele. Eles adoram, assim, ele fica encantado, porque ele
sabe que é pra ele. Então ele fica assim, encantado.
Na minha opinião deveria ter, assim, ter essa formações, mas pegar os
professores que têm alunos especiais e colocar pra dar assim... É... Como que
eu posso falar? Falar da vivência que tem, da experiência que tem.
É importante, porque assim, às vezes você fala assim “ah, eu tenho um
aluno lá com necessidade especial, eu não sei”. Às vezes escutando uma
outra pessoa falando aquele mesmo problema que você tem, você tira ideia
pra falar “não, eu posso fazer isso, dá certo”. Então, assim, deveria ter essas
formações, mas pegar os professores que têm alunos com necessidades
especiais e colocar pra falar como é o dia-a-dia, pra falar assim a experiência
que têm com esses alunos.
Eu acho que falta, assim, falta um pouquinho assim disso. “Ah, ela tem
um aluno com síndrome de down”. Chama ela pra falar no curso. Chama
alguns professores que têm um aluno porque cada um vai falar diferente.
Porque ela é síndrome de Down, mas é um diferente do outro. Não adianta.
Tem o aluno com paralisia, mas essa... é diferente, não adianta. Você vê, eu
vejo outros alunos assim. É completamente diferente. Às vezes é a mesma
síndrome, mas o jeito que você tem que lidar, o que você tem que fazer, é...
Você planeja de um jeitinho assim, mas você vê que no dia-a-dia não dá pra
fazer daquele jeito.
118
Professor 2 – Ó, dos cinco anos que eu estou na rede municipal de Rio Claro,
eu nunca fiz nenhum curso. Nenhum, nenhum. O que eu sei, o que eu vejo, é
que dá muita formação pra professor de necessidades especiais, da sala de
recurso. Né... É lógico...
E na sala de recurso tem bastante formação, é fundamental pra eles.
Mas acho que eles tão esquecendo de quem precisa também, né. Porque a
gente precisa mais do que eles. Porque eles já sabem onde buscar
informação, eles já têm essa preparação básica, pelo menos, né... Que é o
que a gente acredita. Mas a nós... Nem o básico a gente tem. Eu sinto muita
falta. Mas por outro lado eu reconheço assim que, pelo que eu percebo nas
colegas, se oferecer a maioria vai torcer o nariz. “Ah, não acredito que vem
mais um curso”. Mas acho assim...Oferecido foi. Nunca vai poder reclamar,
entendeu? Agora, fica esse empurra-empurra porque não oferece e o outro se
esquiva. Daí fica todo mundo... Entendeu? Cada um reclama do seu lado. Mas
eu acho que a Secretaria tem que oferecer sim. Mesmo que fosse a noite e tal,
mas tem que oferecer.
O que a gente reclama bastante é essa questão do horário, né. Porque
assim, também não dá pra liberar da sala de aula pra gente ver curso na
Secretaria de Educação, porque a sala fica a ver navios. Vai ficar cada dia
com uma professora? Só que também é complicado porque de repente eles
marcam em dias que ou choca com outras coisas...Então, o que precisava
acho que é organização, sabe, conversa...De repente trocar HTPC, que já é
um horário obrigatório... Então tal dia, ao invés de ir pro HTPC, vocês vão lá
pra secretaria. Ninguém vai poder reclamar, porque já é um horário que todo
mundo sabe que tem compromisso, todo ano. Então, entendeu? Buscar meios
de conseguir resolver isso. E não vai estar fora do que propõe o HTPC, né,
que é de troca de experiência e preparação. Então, acho que dá tudo certo,
né?
Acho que tudo viu. Até o que eu já estudei em curso on-line, porque o
presencial é diferente, né. Eu sofro quando eu faço curso on-line por conta
desse negócio do tempo. Porque assim, a gente acaba lendo na hora que dá,
de qualquer jeito, e faz atividade, e não sei o que... Agora, no presencial é
outra história, né, porque daí a professora tá explicando. Se você tem alguma
vivência na sala de aula, você já tira aquela dúvida na hora. Né, a pessoa
esclarece pra você. E às vezes outra professora faz uma pontuação que aquilo
119
já serve pra você. Né, ela faz uma colocação fala “ah, é...”, não, então acho
que nunca percebi isso. Então, sabe... Acho que o presencial é necessário.
Mas eu queria, qualquer coisa, tudo! Tudo que me for oferecido.
Professor 4 – Eu nunca fiz. Eu, especificamente, nunca fiz. Pode até já ter
acontecido, mas que eu fique sabendo... Eu nunca participei. De vez em
quando o Princesa Vitória chama a Maria, a professora e a monitora lá,
quando o aluno faz acompanhamento lá. Que nem, a Paula minha não faz,
porque... Ela já é um outro nível, então ela não faz. Então esse ano eu não fui.
Mas quando eu tinha o Cauã eu ia.
Mas o curso mesmo que a secretaria promove, não... Isso é porque eles
fazem acompanhamento lá na Princesa Vitória, daí eles chamam de vez em
quando pra ver o que tá acontecendo aqui, pra falar o que tá acontecendo lá.
Tem uma troca. Mas curso, curso eu nunca fiz.
Se tivesse algum curso que eu gostaria que a Secretaria oferecesse
eu acho que uma preparação de como trabalhar, né, com essa criança. Aqui
não tem deficiente visual. Tem um deficiente auditivo, na classe do 3ºB. Mas
acho que a monitora tem um pouco de preparação pra trabalhar com ele.
Porque eu acho que o professor que não tem instrução nenhuma pro
deficiente auditivo, é complicado porque é tudo linguagem de sinais.
O braile... Que nem, o auditivo eu conheço porque eu tive uma tia.
Então se eu pegasse também este aluno eu ia assim, eu ia na minha
experiência porque eu não sei a linguagem de sinais perfeita.
Na sala do 3º B tem tudo em libras. É, porque é tudo... né, não ouve. E
aí é complicado, porque como que você vai trabalhar com essa criança? Eu
acho que, então... Eu acho que seria importante aprender libras. Acho que pra
geral. Porque não só aqui, como qualquer lugar, você pode receber um
deficiente auditivo. E auditivo é primordial a linguagem dos sinais.
Aí a professora tem que correr atrás, né? É que eu acho que todos os
professores deveriam aprender linguagem de sinais, porque...E hoje em dia tá
tendo muito, né? Porque rubéola, droga, todas essas coisas dão problema de
audição. Não sei. Acho que todo mundo devia aprender linguagem de sinais.
120
escola, então você via. Só que antigamente um aluno que tinha necessidades
especiais, que ele era uma criança que não chamava “com necessidades
especiais”, “ah, ele é, diferente”. Antigamente era assim, né? E eu lembro que
tinha na escola, assim, tinha aquele aluno que era deficiente, que falava desse
jeito, ele ia na sala, mas ele ficava muito mais fora da sala. Ele não era
inclusão. Ia por ir. Ficava lá, não tinha nada de diferente pra ele fazer. Que
nem, às vezes ele tava lá num... Não sei, na quinta série, que era
antigamente... Tava lá, ficava lá só olhando, não tinha uma atividade
específica pra ele, nada.
Hoje em dia às coisas mudaram, né. Então o aluno vem, é pra incluir
mesmo. Pra colocar mesmo. Que nem, teve festa junina, o João dançou. Que
todo mundo ficou encantado, que todo mundo começou a chorar... Porque
assim, como ele é um aluno que tá na cadeira de rodas, todo mundo tava
procurando aquele menino na cadeira de rodas com alguém. Ele tava em pé
dançando. Lógico que fazendo dentro das limitações dele, mas ele tava ali em
pé fazendo. E toda classe que tem criança com necessidades especiais, todas
as crianças dançaram. Ou com o monitor ali, ou coloca aquele, é, um
adaptador que a criança fica em pé. Todas. Então, assim, é inclusão. Você vê
que hoje em da inclui mesmo as crianças, né.
E aí eu fico assim pensando, num aluno assim que vai, sai do município
e vai pro estado. Só que será que o estado tem isso? Será que no estado ele
vai ter essa continuidade? Então às vezes tem mãe que fica preocupada. Ou
para o estudo no quinto ano. Para, não continua porque sabe que lá não vai
ter o que tem aqui. Ou pede assim é... Tem uma... Reprova esse aluno pra
ficar mais um ano, tudo.
Mas assim, é vivência, é experiência. Assim, eu falo que essa minha,
essa vivência com o João, tá servindo de vivência e experiência pra mim. E aí
dá vontade de você fazer um curso, dá vontade de fazer uma pós graduação
ligada a isso, assim, pra ter. Porque às vezes você faz uma pós-graduação
ligada a alguma coisa, e você tem um aluno com outro tipo de necessidade. E
eu falo que é adquirir experiência assim, é dia-a-dia, não adianta. Que nem
quando eu falei, “eu vou fazer curso de libras”. Aí depois a Maria falou, “você
tem que praticar”. E fazer curso de libras, tem que fazer com, que nem ela
falou, você tem que fazer cm o professor que ele é deficiente auditivo e ele dá
o curso de libras. Porque nada melhor que fazer com ele. E tem que praticar,
que senão não adianta. Você vai fazer e não vai praticar, depois não vai saber
usar, não adianta.
Professor 2 – Nossa, acho que eu falei bastante. Não, acho que não... Acho
que é isso mesmo. Essa questão do...O que precisa mesmo é mais
investimento nos professores da sala de aula regular, né. Acho que a minha
colocação é essa. Nós precisamos de atenção. E principalmente porque
assim, agora...Eu sinto isso...Eu achava, quando as pessoas falavam eu
achava que era exagero. Mas a gente vai aprendendo com o tempo,
né...Porque, eu fui fazer magistério, e quando eu fui fazer magistério as
professoras mais velhas já falavam, né...Eu fui a penúltima turma de
encerramento de magistério aqui em Rio Claro. Depois teve mais uma e
acabou, encerrou. E elas falavam “Ah, vai acabar com o magistério, vai perder
a qualidade”. E eu falava “não... né... a faculdade tá aí pra...”. Mas eu acho
122
que realmente faz muita falta, muita falta. Eu, por exemplo, se eu não tivesse
feito magistério, fizesse só letras, eu tenho a certeza absoluta que eu ia sofrer
o dobro. Porque o magistério me deu uma base que o curso de letras é muito
específico pra português. Mas olha onde eu trabalho, no fundamental... Que é
multidisciplinar, que tem todas as disciplinas junto. Então assim, acho que
precisa desse preparo, sabe, dessa colocação do professor ser preparado pra
aquilo.
E agora a molecada sai da faculdade, as meninas... E infelizmente eu
percebo assim um desinteresse enorme. Enorme, enorme, enorme...E fui fazer
uma oficina que a Maria pediu pra faculdade, pra turma dela da faculdade lá
que ela trabalha. E assim, é notável... Tudo que você oferece nunca é o
suficiente, e nunca é bom. Só que também elas não participam. Então, assim,
é complicado, né. Porque assim, você oferece a chance. Mas elas não
aproveitam. Então se tivesse esse tipo de preparo logo que entrasse né, no
município, acho que isso faria uma diferença enorme. Enorme, enorme,
enorme... Porque daí é que nem eu falei pra você do meu primeiro ano. Eu já
não tinha preparo nenhum, e ainda peguei um múltiplo. Nossa, olha... Eu
surtei, assim, surtei...
E não dá pra fingir que não vê, né... Não dá pra fingir que não vê.
Porque a primeira coisa que eu penso é “e se fosse meu filho?”. Eu quero que
ele esteja desse jeito na escola? Não quero.
Uma criança que tem todas as suas... assim, como fala... o seu
conhecimento em ordem, não tem deficiência nenhuma, a gente já fica
preocupada enquanto mãe.
É, se ta aprendendo, ele que já tem autonomia, que já sabe se
defender, que sabe falar, dizer o que tá acontecendo com ele, a gente já fica
preocupada. Imagina uma criança que não tem tudo isso... Né, que é
comprometida. Eu penso muito nisso, eu falo “gente, não, não gostaria...”. Por
isso que eu falo pra você. Eu fico muito chateada de não conseguir dar a
atenção que eles merecem. Né, porque eu acho que se fosse meu filho aqui
eu ficaria chateada.
Mas eu também entendo que não dá pra gente abraçar o mundo. Não
dá, não dá... Ainda que aqui em Rio Claro a gente tem o apoio das monitoras,
mas eu fico pensando em Piracicaba que as meninas trabalham sozinhas... Se
eu tivesse os três na minha sala trabalhando sozinha... Meu Deus do céu,
acho que eu me jogava da ponte... Né...
Porque a gente tem a preocupação de fazer o nosso trabalho, né...
Professor 3 – Ah, eu acho que não. Assim, eu acho que é importante eles
estarem na escola, eu acredito na inclusão. Só que eu acredito, assim, que
muita coisa ainda precisa ser feita, né. Então aquilo que eu te falei de
mobiliário, de acesso, de tudo mesmo, né. E acredito que eles têm mesmo que
estar na escola, que faz diferença inclusive pros outros, né. Que eles acabam
enxergando de maneira diferente da gente, né? E eles vão se acostumando
com isso, né. Porque eu acho que eles já se tornarão adultos menos
intolerantes, né. Então eles já vão conseguir enxergar melhor por outro lado,
né...Tanto pra criança deficiente, como pra eles também. Dos dois lados, dos
dois jeitos.
Professor 5 – Não... Eu acho que você englobou tudo que precisava assim...
Eu acho que você falou, de uma maneira geral, a vivência nossa na sala de
aula, né. E que, e tipo assim, a gente tem que ter não o olhar diferente pro
especial, a gente tem que ter o mesmo olhar. O mesmo olhar que eu olho pra
uma criança, é... entre aspas, “normal”, eu olho pra um criança especial, né.
Então eu acho que o olhar tem que ser o mesmo. Só que, como a gente
comentou, o medo ás vezes faz com que a gente olhe e uma forma um pouco
diferente, né... Porque é a preocupação, né.
Então, assim, do desafio mesmo... Até hoje, eu nunca peguei uma
criança assim, que realmente eu me sentisse assim, meio, vamos dizer,
assustada, com medo, falar assim “ai meu Deus”... Né, o Cauã que eu tinha
ano passado, ele era bem mais debilitado, ele tinha problemas sérios assim,
mas ele era espertinho, o danado. Sabe? Ele aprontava, subiu até em cima da
mesa, quase me matou do coração.
O Paulo também é muito tranquilo. Hoje ele não veio mas ele... Ele é
assim, ele tem personalidade, né. Mas assim, existem algumas crianças aqui
que eu tenho medo de pegar porque assim, eu não sei como que eu vou agir,
você entendeu? Eu fico preocupada porque eu falo que mãe velha, bem, é um
horror, né... Eu tenho uma filhinha de 4 anos, então assim... É muita
preocupação que a gente tem. Então a Maria até brinca, “ê, mãezona”, né...
Porque você tem aquela preocupação de mãe. “Ai, será que ele tá bem? Será
que tá tudo em ordem?”, né? Então eu acho que se de repente eu vir a pegar
uma criança com uma deficiência que talvez não me ofereça tanto retorno,
talvez eu me sinta meio frustrada. Mas por enquanto eu tenho... Não tenho. Eu
tenho me sentido tranquila em relação à inclusão.
124
APÊNDICE B
___________________________ ____________________________
Assinatura do Pesquisador Responsável Assinatura do Participante
Dados do participante:
Nome: _____________________________________________________
Sexo: ______________________________________________________
Endereço: __________________________________________________
APÊNDICE C
Roteiro de entrevista
Olá, (bom dia ou boa tarde) gostaria de agradecer sua disponibilidade
em participar desta pesquisa, concedendo-me uma entrevista. Iremos
conversar sobre a inclusão dos alunos com necessidades especiais no ensino
regular, mais especificamente sobre sua vivência nesse assunto. Vou lembrá-la
(lo) que sua identidade será preservada e em nenhuma hipótese seu nome ou
qualquer indício que quebre o sigilo será publicado na pesquisa. Usaremos um
nome fictício. A entrevista poderá ter pausa quando você quiser.
Vamos começar?
APÊNDICE D
Alunos com deficiência por escola da rede municipal de Rio Claro - SP (2014)
ESCOLAS