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Para Bárbara e Luca

SAMY DANA

Aos meus pais


SÉRGIO ALMEDIDA
Sumário

Introdução

1. Quando o inesperado acontece


2. O amor tem um preço (ou “Com quem se casar”)
3. Boas intenções não bastam
4. Os paradoxos da felicidade
5. Quantos e quais amigos ter?
6. O preço do sucesso pode ser a mediocridade
7. O poder daqueles que nos cercam
8. Validação social: Por que nos importamos com a opinião dos
outros?
9. Como as emoções afetam nossas decisões?
10. Você se importaria se eu pegasse mais?

Agradecimentos
Referências bibliográficas
Créditos das imagens
Introdução

“O curso do verdadeiro amor nunca fluiu suavemente”, escreveu


Shakespeare em Sonho de uma noite de verão. Quem nunca se viu
diante do fim de um relacionamento que parece perfeito e de
repente acaba? Por que isso acontece? Essa é apenas uma das
inúmeras dúvidas que já tivemos ou vamos um dia ter. Como criar
os filhos, quantos amigos ter, como ser feliz e como o dinheiro afeta
a felicidade são outras questões que têm grande impacto na nossa
trajetória de vida. Pode parecer surpreendente, mas a economia tem
muito interesse por tais questões. Em parte porque são escolhas
que envolvem algum tipo de escassez — seja de recursos materiais,
seja de tempo. Também, porque muitas dessas decisões,
aparentemente mundanas, terão implicações importantes sobre
vários aspectos de como a economia se organiza. É comum as
pessoas pensarem que o estudo da economia trata apenas de
assuntos que envolvem dinheiro. Há outro mundo, porém,
relativamente pouco explorado pela maioria dos economistas.
A ideia do livro surgiu depois de um encontro em que nos
perguntamos: e se em vez de falarmos sobre os temas comuns e
esperados dos economistas, abordássemos assuntos mais
interessantes para a vida das pessoas? E se mostrássemos o lado
econômico que fica oculto em tantas decisões que tomamos? Ao
longo deste livro, você descobrirá como a pesquisa científica em
economia, e áreas próximas, como a psicologia, pode ajudá-lo a
entender assuntos centrais da vida e o porquê das escolhas que
costumamos (não) fazer. Escrevemos este livro porque você — nós
e todo mundo, na verdade — deseja compreender o próprio
comportamento e tomar decisões acertadas ao longo da vida. Não
são objetivos fáceis e tampouco oferecemos respostas definitivas,
mas há muita gente nas universidades de todo o mundo dedicando
boa parte de sua vida produtiva a entender muitas das questões que
parecem relevantes apenas para nós mesmos. Boa parte desse
conhecimento, entretanto, está escondida em artigos publicados em
revistas voltadas apenas para a comunidade científica.
Nos capítulos deste livro trataremos de vários temas do cotidiano,
sem a pretensão, obviamente, de esgotá-los. Falaremos sobre
felicidade, casamento, dinheiro, sexo, emoções, além de temas
mais específicos, como criação dos filhos, desempenho escolar,
combate às drogas, o impacto das amizades em nossas vidas,
políticas de segurança e como encontrar o par ideal. É difícil
imaginar — não importa sua idade ou formação profissional — que
não haja aqui algum assunto que já não tenha merecido sua
atenção, que não tenha sido um problema de decisão.
Pode não ser o que parece é um livro que funciona, portanto,
como uma ponte entre, de um lado, as pessoas produzindo
conhecimento sobre esses assuntos de uma forma mais metódica e
baseada em cuidadosa análise dos dados e, de outro lado, todos
nós que nos deparamos com as dificuldades de entender eventos
cruciais da nossa vida. O livro é também, ainda que como produto
indireto, uma tentativa de mostrar como o olhar dos economistas
pode ser útil também para entender temas comportamentais
comuns às nossas vidas, e não apenas para falar sobre juros,
inflação e investimentos financeiros. Fugimos do senso comum da
sociedade e respondemos com números, dados e pesquisas a
questões que afligem a todos.
1. Quando o inesperado acontece

Sempre que introduzir um esquema de incentivos, você tem


apenas que admitir para si mesmo que, não importa quão
inteligente você pensa que é, há uma chance muito boa de que
alguém mais inteligente do que você vá descobrir uma maneira
de vencer o regime de incentivo.
Steven Levitt, autor de Freakonomics

Na época do domínio colonial da Grã-Bretanha sobre a Índia, o


governo britânico estava preocupado com as numerosas cobras
venenosas que rastejavam pela cidade indiana de Delhi. Assim,
ofereceu uma recompensa para cada cobra que um cidadão lhe
entregasse. Por um tempo, a estratégia teve êxito e houve um
grande número de cobras sendo mortas pela recompensa. Mas,
com o passar do tempo, as coisas foram mudando. Alguns viram
uma oportunidade na estratégia do governo e começaram a criar
cobras. Fizeram daquilo um negócio, e diversas pessoas passaram
a ter criadouros imensos. O governo, percebendo o equívoco,
cancelou o programa. Os criadores de cobra, que agora possuíam
algo que não tinha mais valor, as soltaram. Como resultado, a
população de cobras ficou muito maior do que antes do programa. A
aparente solução, baseada unicamente em boas intenções, ignorou
as consequências não intencionais e apenas piorou a situação.
Dessa anedota, surgiu o termo “efeito cobra”, que é a tentativa de
solução de um problema que na verdade o agrava — as chamadas
consequências não intencionais. Podemos não perceber, mas
existem muito mais “efeitos cobras” por aí do que imaginamos.
A LEI SECA AMERICANA

Vamos supor que exista determinado produto que faça mal à


população. O governo, na tentativa de frear os malefícios de seu
consumo — cercado de boas intenções —, decide proibir a
comercialização desse produto. Ele realmente deixaria de ser
consumido pela sociedade? Os malefícios de seu consumo
cessariam após a proibição? A sociedade se beneficiaria dessa
decisão rodeada de boas intenções?
A intuição nos diz que sim, mas não foi exatamente o que
aconteceu nos Estados Unidos, quando entrou em vigor a Lei Seca,
sob o mandato do presidente Woodrow Wilson. A Lei Seca
americana tinha por objetivo acabar com a fabricação, o comércio e
o transporte de bebidas alcoólicas. O motivo? Segundo alguns
grupos conservadores americanos, a bebida era um mal que levava
à violência, à pobreza e a graves problemas de saúde. Portanto,
deveria ser combatida.
O governo, ciente desse panorama, se sentiu na obrigação de
tomar alguma atitude e aprovou a 18a emenda à Constituição norte-
americana em 16 de janeiro 1919, que entraria em vigor um ano
depois. O objetivo, assim como no caso das cobras, era acabar com
as bebidas alcoólicas, bem como com os problemas que derivam de
seu consumo.
O clima era de festa. O reverendo Billy Sunday, um dos religiosos
mais populares dos Estados Unidos, adotou um tom épico quando a
lei entrou em vigor. “O reino das lágrimas acabou. As favelas logo
serão memória. Vamos transformar nossas prisões em fábricas e
nossas cadeias em armazéns. Homens caminharão eretos,
mulheres vão sorrir e as crianças darão risadas.” Mas o reverendo
estava errado.
A intenção era boa, mas o resultado não foi o esperado. Em vez
de acabar com o consumo de álcool e diminuir os problemas
sociais, a Lei Seca fez explodir a criminalidade em diversos estados.
Como era proibido vender álcool em bares abertos ao público,
começaram a surgir diversos bares clandestinos subterrâneos,
conhecidos como Speakeasies — pontos de encontro de pessoas
que queriam beber sem chamar atenção. Nesses lugares, o álcool
era facilmente encontrado e não existia lei que proibisse seu
consumo.
Além do surgimento dos bares clandestinos, começaram a surgir
produtores clandestinos, que faziam álcool caseiro de baixa
qualidade e, em alguns casos, tóxicos. A bebida clandestina passou
a gerar problemas de saúde ainda mais graves, levando pessoas à
morte por intoxicação e cirrose.
Como o combate de algo que estava instaurado na cultura norte-
americana na prática se mostrou muito difícil, a Lei Seca, com a
crescente corrupção, passou a provocar a desmoralização das
autoridades. No entanto, além da corrupção e da clandestinidade, a
Lei Seca havia criado mais um fenômeno: as gangues. Foi
justamente em razão dessa lei que se viu o surgimento das máfias.
Simples. De um momento para o outro, não se podia mais produzir
álcool. A atividade competitiva entre empresas passou a ser
privilégio de alguns pequenos grupos que se fortaleciam com
faturamentos cada vez mais altos em um mercado de poucos
agentes. Foi nessa época que surgiram figuras como Al Capone, um
dos maiores gângsteres americanos ligados ao contrabando e à
venda de bebidas durante a Lei Seca.
Passados alguns anos, o Congresso norte-americano já podia ver
os resultados da 18ª emenda. Havia poucos dados para saber se o
consumo de álcool fora de fato reduzido, mas esses poucos dados
sugeriam que sim. No entanto, a medida do governo, rodeada de
boas intenções, havia mostrado que o problema do banimento era
muito mais complexo do que se imaginava. E mostrou que nenhuma
imposição jurídica é capaz de mudar hábitos já arraigados em uma
cultura.
No caso da Lei Seca, os efeitos secundários da proibição, como
corrupção, contrabando e violência, foram muito maiores do que os
benefícios da redução no consumo de álcool. Treze anos, onze
meses e 24 dias foi o tempo em que vigorou a Lei Seca nos Estados
Unidos, até hoje a única lei revogada na Constituição norte-
americana.
Embora se refira a um passado distante, do período de 1920 a
1933, essa história pode nos ensinar valiosas lições sobre o que
vivemos hoje em relação a outras drogas e como podemos
combatê-las.

COMO A GUERRA ÀS DROGAS AUMENTA O CONSUMO DE COCAÍNA

Não é surpresa alguma que o problema das drogas lícitas ou


ilícitas definitivamente é muito mais do que um problema
econômico: é um problema de saúde pública. Alguns defendem que,
antes de tudo, é uma questão de liberdade individual. Nós,
economistas, queremos analisar os problemas econômicos no
mercado das drogas, pois, como qualquer produto, as drogas são
bens comercializados e também estão sujeitas às leis de mercado.
Não levar em consideração o poder desse mercado e negligenciar
seus efeitos pode nos levar a cometer os mesmos erros que o
Congresso norte-americano cometeu em 1919.
Mas por que em 1919 o governo dos Estados Unidos decidiu
intervir no mercado de bebidas? Em outras palavras, quando se
justifica a intervenção de um governo em determinado mercado?
Do ponto de vista econômico, a intervenção se justifica quando
esse mercado exibe falhas. Uma dessas falhas é o que os
economistas chamam de “externalidades”. As externalidades nada
mais são do que “os efeitos colaterais de uma decisão sobre
aqueles que não participaram dela”. Ou seja, pense em uma
petroquímica que, para produzir seu produto final, acaba poluindo
um rio, mas sem levar em conta esses danos à sociedade. Nesse
cenário, o governo, a fim de corrigir essas distorções, deveria, de
alguma forma, desestimular parte da produção dessa petroquímica
e, assim, fazer com que ela leve essa poluição em consideração ao
fabricar seu bem. Essa correção por parte do governo poderia vir,
por exemplo, através de impostos ou multas. Dessa maneira, a
decisão da petroquímica seria a de produzir uma quantidade menor
e, consequentemente, reduzir a poluição lançada ao rio, o que
causaria menos danos à sociedade como um todo.
No caso das drogas, a intervenção se justifica pelos danos
(externalidades) que as drogas e seu consumo causam à
sociedade. Pode-se argumentar que o uso das drogas tem a ver
com liberdade, mas, do ponto de vista econômico, os milhões
gastos em saúde pública e no combate à violência justificariam a
intervenção do governo.
No entanto, assim como no caso da Lei Seca, ainda que haja boas
intenções, qualquer alteração brusca em um mercado pode produzir
consequências inesperadas. Por exemplo, para alguns, uma das
consequências do combate às drogas é o fato de as pessoas
estarem migrando para drogas mais pesadas. Milton Friedman,
falecido professor da Universidade de Chicago, vencedor do prêmio
Nobel de Economia e conhecido por ser um dos ícones do
pensamento liberal, foi quem fez essa afirmação. Friedman
argumenta que o efeito de se criminalizar as drogas é levar as
pessoas de drogas mais moderadas para drogas mais pesadas.
Segundo ele, as forças de combate às drogas têm tido mais
sucesso ao proibir drogas como maconha, por serem mais fácil de
detectar pelo volume, cheiro etc., do que drogas como cocaína.
Esse resultado tem gerado o aumento do preço da maconha (oferta
menor) e reduzido o preço da cocaína. Como a demanda de um
bem em geral é inversamente proporcional ao seu preço, o combate
às drogas estaria provocando um aumento do consumo de cocaína
e reduzindo o de maconha.
Além do mecanismo de preços relativos, o combate às drogas
também altera o número de agentes no mercado. Isso porque a
guerra ao tráfico acaba protegendo os cartéis e fortalecendo o crime
organizado. Em um mercado livre — de batata ou carne, por
exemplo —, existem milhares de produtores e qualquer um pode
fazer parte dele. Mas no mercado das drogas, obviamente, não há
como entrar, pelo menos legalmente. A guerra às drogas, em vez de
garantir a competição, acaba por garantir o monopólio de poucos
fornecedores, elevando os custos dessa atividade. Então, como os
custos para permanecer nesse mercado são elevados, pois
envolvem subornos, violência, entre outros, os únicos players que
conseguem sobreviver são os grandes cartéis, como aconteceu no
caso de Al Capone. No Brasil, os grandes exemplos são os cartéis
do crime organizado e do tráfico de drogas: Comando Vermelho
(CV), Primeiro Comando da Capital (PCC), Terceiro Comando e
Amigos dos Amigos (ADA).

OS CARTÉIS E O SURGIMENTO DO CRACK

Qual é a consequência desses cartéis no mercado das drogas? A


teoria diz que os produtos de um mercado com poucos produtores
tendem a ter preços mais altos do que em um mercado competitivo.
Ou seja, em um mercado onde haja elevadas barreiras de entrada,
como acontece com o das drogas, o preço do produto acaba se
tornando extremamente elevado.
Muitos poderiam argumentar, no entanto, que esse fator é
benéfico, uma vez que o preço mais alto diminui a demanda por um
bem e, portanto, o consumo de drogas, certo? Na verdade, não
muito. A Lei Seca é um ótimo exemplo de que é preciso pensar na
sociedade como um todo. Se por um lado a proibição às drogas
desencorajaria seu consumo por parte dos usuários, há um grupo
de estudiosos que aborda os custos dessa estratégia. Para
Friedman, há uma relação entre a guerra ao tráfico, o surgimento de
cartéis e o surgimento do crack. Como ele afirma: “O crack nunca
teria existido, na minha opinião, não fosse pela proibição às drogas”.
A lógica por trás de tal afirmação é a seguinte: como dito, em
qualquer mercado em que um empreendedor vê grande
possibilidade de lucros, há um incentivo para mais empresas
entrarem no setor. Com a atuação de mais players, há um aumento
da concorrência, da eficiência do setor, e, por conseguinte, os
preços tendem a cair.
Mas no mercado das drogas a lógica do livre mercado e da
competitividade é justamente a oposta, pois é muito difícil para um
indivíduo entrar nesse meio, já que a proibição e a criminalização
das drogas elevam em muito os custos da atividade. Então os
únicos agentes que conseguem sobreviver nesse mercado são os
grandes cartéis ao redor do mundo, que produzem cocaína a preços
elevados. Com isso, pessoas viciadas, sem controle sobre seu
consumo, passaram a fazer uso de drogas tão ou mais potentes,
mas a um preço mais baixo, como o crack. Portanto, para Friedman,
o crack surgiu porque a cocaína era cara.

UMA NOVA ABORDAGEM: SERIA A MACONHA O NOVO ÁLCOOL?

Do ponto de vista econômico, o aumento do preço das drogas, o


surgimento das gangues, a explosão da corrupção e a criação de
entorpecentes alternativos mais baratos seriam algumas das
consequências e desvantagens do combate às drogas. Esses
efeitos colaterais nos sugerem que a maneira como o combate às
drogas vem sendo feito deveria ser, no mínimo, repensada.
Não por coincidência, o debate sobre descriminalizar as drogas
vem ganhando mais força. Palavras como descriminalização e
legalização começam a entrar nos discursos de líderes políticos
como Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai, e Fernando Henrique
Cardoso. Mas devemos ser pragmáticos e nos perguntar quais
seriam as vantagens de legalizar as drogas.
Retornemos ao exemplo da Lei Seca. No auge da crise de 1929,
com a Lei Seca em vigor havia nove anos, os americanos favoráveis
à liberalização do álcool tinham fortes argumentos a seu favor. A
legalização das bebidas geraria mais emprego nas indústrias de
cerveja e também nos bares que a comercializariam. A
regulamentação do mercado de álcool aumentaria a arrecadação de
impostos, uma vez que não há como cobrar impostos de produtos
ilegais. Como o mundo passava por uma grande crise, esses
argumentos foram ganhando relevância.
Em relação aos grandes cartéis que surgiram devido ao banimento
do álcool, o número de gângsteres como Al Capone seria reduzido e
substituído por empresas pagadoras de impostos e criadoras de
empregos. E foi com esses argumentos que os opositores do então
presidente americano Franklin Roosevelt o convenceram a pedir ao
Congresso que legalizasse o álcool em 1933, revogando a emenda
constitucional da Lei Seca.
No mundo das drogas ilícitas atuais não é diferente. Hoje em dia,
as indústrias de bebidas alcoólicas são grandes pagadoras de
impostos. Apenas em 2014, a Ambev, maior empresa privada do
país, foi responsável por pagar mais de 2 bilhões de reais em
tributos. Ninguém morre pelas gangues ao comprar uma cerveja.
Não é necessário suborno para ter acesso a uma garrafa de vodca.
Porém, a partir do momento em que um produto é considerado
ilegal, o suborno e o uso da violência passam a ser realidade.
Friedman não é um lobo solitário nessa crítica à estratégia de
guerra às drogas. Os professores de economia Jeffrey Miron e
Jeffrey Zwiebel também fazem uma análise de seus custos e
benefícios e citam outras vantagens econômicas da legalização de
algumas drogas. Por exemplo, a redução de gastos com
monitoramento, queda da população carcerária e de gastos
relativos, além da redução de gastos com saúde devido ao consumo
de drogas de má qualidade. E há também um fator psicológico na
legalização das drogas, que é o fato de consumir algo proibido.
Segundo Friedman, o fato de ser algo ilegal atrai algumas pessoas,
principalmente os jovens. Legalizar, portanto, atrairia menor
interesse de alguns.
Esse movimento de descriminalização não está somente no
campo das ideias de alguns líderes. Em 2014, o Colorado passou
por uma mudança radical ao permitir o plantio e o consumo de
maconha, longe de traficantes, por meio de um mercado regulado.
Com essa mudança, em 2015, o Colorado arrecadou 135 milhões
de dólares em impostos ao movimentar aproximadamente 1 bilhão
de dólares. Um mercado dessa magnitude tem o potencial de
movimentar a economia e gerar empregos em uma atividade que,
de uma forma ou outra, já existe.
Mas a experiência do Colorado é recente. Devemos, ao contrário
do que os britânicos fizeram na Índia, evitar a tentação com os
resultados de curto prazo. Para isso, temos outros exemplos de
países que saíram na frente e realizaram esse experimento. Foi o
caso de Portugal, que passou por esse processo em 2001. Em
2009, uma pessoa que era contrária à descriminalização das drogas
escreveu no New York Times que essa política levaria a “centenas
de bilhões de dólares em novos custos com saúde, acidentes,
redução da produtividade do trabalhador e menores realizações
educacionais”. Essa seria apenas a opinião de uma pessoa e não
teria importância se não fosse, de fato, o senso comum de muitos.
Precisamos mais do que senso comum.
Uma nova pesquisa sobre a política das drogas em Portugal
sugere que não foi isso que aconteceu. Portugal descriminalizou a
posse de todas as drogas em 2001.* O resultado, após quase uma
década, de acordo com um estudo publicado no British Journal of
Criminology: menos uso de drogas entre adolescentes, menos
infecções por HIV e mais drogas apreendidas pela aplicação da lei. A
taxa de uso de drogas aumentou ligeiramente — mas esse aumento
não foi maior do que o observado em países vizinhos que não
mudaram suas políticas. Ou seja, isso é uma possível evidência de
que não foi a descriminalização das drogas que aumentou seu uso.
Não podemos ser ingênuos, pois não há maneira de saber que, se
houve alguma redução, essas mudanças foram causadas pela
mudança na política — sem grupo de controle, esse tipo de
pesquisa não pode determinar a causa e o efeito. Mas Portugal
passou a ter a menor taxa de usuários entre os países da Europa
Ocidental, com 0,9% da população, contra 6,1% no Reino Unido,
4,6% na Itália e 3,2% na Alemanha. Além disso, 19% dos jovens de
quinze a dezesseis anos de idade na Europa já experimentaram
maconha pelo menos uma vez, em comparação com 13% dos
portugueses da mesma idade.
“O efeito direto mais importante foi a redução do uso de recursos
da Justiça penal destinados aos usuários de drogas”, diz Alex
Stevens, professor de justiça criminal da Universidade de Kent, no
Reino Unido, e coautor do estudo. Antes, um grande número de
pessoas ia para a cadeia por uso de drogas. No âmbito da política
de descriminalização em Portugal, os usuários não são presos, mas
encaminhados pela polícia para uma comissão de “dissuasão”. A
comissão é composta de três pessoas, normalmente um advogado,
um assistente social e um profissional de saúde. O grupo determina
se a pessoa é viciada. Em caso afirmativo, ela pode ser
encaminhada para tratamento ou receber penalidades específicas,
como ser banida de determinado bairro ou perder a carteira de
motorista. O tratamento não é forçado. Apenas cerca de 5% a 6%
dos usuários são levados perante essas comissões uma segunda
vez no mesmo ano.

COMO DIMINUIR O EFEITO DA REDUÇÃO DOS PREÇOS EM UM


MERCADO LEGALIZADO?

A conclusão que alguns podem tirar até aqui é a de que legalizar


algumas drogas seria, portanto, a solução para problemas como
violência, vandalismo etc. Não haveria nenhuma consequência
negativa na legalização das drogas? Certamente haveria! Michael
Grossman e Frank Chaloupka, economistas norte-americanos e
estudiosos do tema, analisaram o efeito da legalização de drogas
como a cocaína. Eles concluíram que sua legalização com certeza
reduziria o preço (pelos motivos já expostos). E, como a demanda é
inversamente proporcional ao preço, haveria o aumento do
consumo. Mas em quanto aumentaria esse consumo? Os
consumidores são de fato sensíveis ao preço?
Para responder a essa questão, Grossman e Chaloupka reuniram
dados sobre o consumo de cocaína entre jovens de dezessete e 29
anos. Uma redução no preço da cocaína em 10% aumentaria o
número de usuários em 10% no longo prazo e a frequência de seu
uso em 3%. Em um teste que considera uma população fixa, para
analisar apenas quanto a mesma pessoa passaria a consumir mais,
Grossman e Chaloupka estimam que uma redução do preço em
10% aumentaria o consumo em 14%. Ou seja, os usuários são
extremamente sensíveis ao preço.
Essa variação da demanda quando há redução do preço é o que
geralmente se deseja. Imaginemos um mercado de alimentos. O
fato de um mercado em pleno funcionamento reduzir seus preços e
aumentar seu consumo significa que a população poderá ter mais
acesso a esses alimentos. Porém, em se tratando de drogas, não é
isso que em geral se deseja. Ou seja, nesse caso, um consumo
maior seria prejudicial à população.
Nesse ponto, porém, há duas considerações feitas pelos próprios
pesquisadores. A primeira é que, para conter tais efeitos do
aumento do consumo, os preços poderiam ser aumentados por
impostos, uma vez que manter o mesmo preço final para o
consumidor não provocaria o aumento do consumo devido ao preço.
Além disso, esse aumento de impostos resultaria em maior
arrecadação para o governo.
O segundo ponto lembra que o simples fato de alguma coisa ser
proibida faz aumentar o desejo por ela, especialmente entre os mais
jovens.
Dessa forma, mesmo que a legalização das drogas possa reduzir
o preço e consequentemente aumentar sua demanda, há
mecanismos que o governo pode utilizar que vão na direção oposta.

O CASO DOS CIGARROS E DAS BEBIDAS. POR QUE CONSUMIR ALGO


QUE SABEMOS QUE FAZ MAL À SAÚDE?

Tão relevantes quanto o combate a essas drogas ilícitas são as


medidas de desestímulo do governo a drogas lícitas como cigarro e
bebidas. Ainda que sejam legais, é interesse dos governantes frear
seu uso, pois, como já dito, são altos os gastos com doenças
relacionadas ao seu consumo. No Brasil, segundo o Instituto
Nacional do Câncer (Inca), o tabagismo é responsável por 200 mil
mortes por ano. Câncer de pulmão, enfisema, cirrose e infarto são
alguns exemplos do que o álcool e o tabagismo podem causar. Não
é novidade para ninguém que o consumo dessas substâncias traz
danos à saúde. O que leva, no entanto, um indivíduo a continuar
consumindo essas drogas? O vício.
Tecnicamente algo é considerado viciante quando apresenta duas
características simultâneas: reforço e tolerância. O reforço se refere
ao fato de que, quanto maior for o consumo passado, maior tenderá
a ser o consumo presente. Já tolerância significa que, quanto mais o
indivíduo consumiu esse bem no passado, mais precisará consumi-
lo para atingir o mesmo grau de satisfação.
A água não é um bem que vicia. Afinal, não vamos consumir mais
água no presente só porque bebemos dois litros no dia anterior.
Além disso, dois litros de água nos satisfazem da mesma maneira
ontem ou hoje. Jogos de azar, por outro lado, podem ser viciantes,
pois, quanto mais algumas pessoas jogam, mais elas desejam
repetir essa ação e, para terem a mesma “adrenalina”, precisam
jogar mais vezes do que anteriormente.
Gary Becker, Michael Grossman e Kevin Murphy mostram que o
cigarro é viciante e apresenta essas duas características. Até aí
tudo bem, mas os pesquisadores formularam o conceito de “vício
racional”, que parece ser o conceito que explica a incoerência de
que, mesmo sabendo que algo é prejudicial a sua saúde, o
consumidor continua usando esse bem. Segundo os autores, isso
acontece porque os “viciados” analisam os custos e os benefícios de
consumir tal bem. Para eles, o benefício (prazer momentâneo) seria
maior do que os custos (possíveis doenças no futuro). Posto de
outra forma, os consumidores reconhecem a natureza viciante de
algumas de suas escolhas, mas as fazem baseados na ideia de que
os ganhos provenientes excedem os custos existentes.
Diversas são as pesquisas que mostram que os indivíduos
possuem o vício racional. O grande problema é que muitas pessoas
têm informações erradas sobre os custos e os benefícios. Possuem
problemas de autocontrole e não fazem uma análise correta dos
danos de algumas substâncias, muitas vezes por falta de
informação. Esse fenômeno faz com que os adultos subestimem em
aproximadamente 40% os prejuízos do hábito de fumar, segundo
alguns estudos.
Sabendo que muitas vezes as pessoas realizam um julgamento
errado das informações, a estratégia de combate ao fumo tem
ganhado novas vertentes por parte do Estado. O objetivo agora é
levar informação aos fumantes. Por exemplo, atualmente uma das
tendências nesse setor é imprimir imagens dos efeitos do tabagismo
nos próprios maços de cigarro. Além disso, algumas estratégias
para fechar o cerco ao tabagismo são: restrição a propagandas,
restrição a pontos de venda e proibição de consumo em lugares
fechados.
Se antes as propagandas enfatizavam o lado sedutor do
tabagismo com propagandas de caubóis, hoje a ênfase está em
seus malefícios. Como consequência, o Brasil foi reconhecido
internacionalmente pelos bons resultados. Segundo dados da
Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas, o
país possuía 15,6% de fumantes em 2006, número que foi reduzido
para 10,8% em 2015 — uma queda de aproximadamente um terço.

CIGARROS E ÁLCOOL: BENS SUBSTITUTOS OU BENS


COMPLEMENTARES?

Assim como Friedman sugere que o combate à cocaína fez surgir


o crack, será que o combate ao cigarro produz consequências não
intencionais no consumo de outras drogas?
Nos últimos anos, o preço do cigarro tem aumentado de maneira
considerável ao redor do mundo. Segundo dados do setor, o preço
das marcas mais consumidas no Brasil passou de um real em 2000
para 5,75 reais em 2014, um aumento muito acima da inflação.
Além disso, um grande número de estados vem impondo restrições
ao seu consumo. Esse crescimento dos custos e das barreiras ao
fumo criou um experimento natural que nos possibilita responder se
o combate ao cigarro produz ou não efeitos secundários no
consumo de outras substâncias.
Gabriel A. Picone, Frank Sloan e Justin Trogdon ficaram curiosos
para saber se o aumento no preço do cigarro reforça o consumo de
bebida alcoólica. Descobriram que, quando há algum tipo de
aumento no preço do cigarro, as pessoas passam a consumir mais
álcool. Isso caracteriza o cigarro e o álcool como bens substitutos,**
ou seja, caso o cigarro fique mais caro, haverá o aumento da
demanda por bebida alcoólica como fonte de prazer ou redutor de
estresse. É uma constatação interessante, pois alguém que
analisasse apenas o consumo de cigarro após um aumento de
preço poderia superestimar o impacto da medida, o que é uma
análise estática e correta. Porém, em uma análise dinâmica,
percebe-se que, na verdade, parte das pessoas aumentou o
consumo de álcool.
Embora o aumento do preço desestimule o consumo, sabemos
que essa medida não é a única utilizada por órgãos públicos e que,
de forma surpreendente, produz consequências totalmente distintas.
Verificou-se nesse mesmo estudo que, quando o mecanismo de
desestímulo ao consumo ocorre por causa do preço (por meio de
impostos), as pessoas substituem o cigarro pela bebida, mas,
quando esse controle é feito via restrições físicas (não poder fumar
em casas noturnas, por exemplo), as pessoas passam a consumir
menos de ambos os bens.
Trata-se de uma descoberta muito interessante, pois, embora as
duas medidas visem desencorajar o consumo dessas substâncias,
no primeiro caso — devido aos preços — há um efeito
potencializador de migração para a outra substância, enquanto no
segundo caso — por meio de restrições de acesso — há um efeito
redutor. Entender a diferença desses efeitos é uma ferramenta
poderosa para políticas públicas mais efetivas.
É inegável que a questão das drogas é um tema polêmico na
sociedade. Não é nosso objetivo, portanto, militar a favor ou contra a
legalização ou o banimento das drogas. Nem nos posicionarmos
contra ou a favor da regulação do mercado de drogas lícitas. A
questão da liberdade individual de escolha também é importante,
mas não é tema de nosso estudo. O que queremos é mostrar que,
ao interferirmos em qualquer mercado, temos que pensar nos
impactos cruzados e na sociedade como um todo, pois, caso
contrário, teremos apenas uma nova lei seca que gera mais danos
do que benefícios. Teremos apenas o nosso efeito cobra.

* A descriminalização é diferente da legalização, pois contrabandistas e


traficantes de drogas ainda são procurados e punidos. O indivíduo só está
autorizado a possuir pequenas quantidades de drogas ilegais sem ser punido
como um revendedor. Sob as leis atuais, um português ainda pode ser preso
e enviado aos conselheiros, mas não enfrentará a prisão, a menos que não
coopere.
** Os bens X e Y são considerados substitutos quando, por exemplo, o preço
do bem X sobe e o indivíduo substitui seu consumo pelo do bem Y, de modo
que a quantidade demandada do bem Y aumenta. Exemplo de bens
substitutos: margarina e manteiga. Por outro lado, os bens são
complementares quando o aumento do preço do bem X (e sua redução)
provoca a redução da demanda pelo bem Y. Exemplo de bens
complementares: cartucho de impressora e impressora.
2. O amor tem um preço (ou “Com quem se
casar”)

Os homens se casam na esperança de que a mulher nunca


mude. As mulheres se casam com homens com a esperança de
que eles vão mudar. Invariavelmente, os dois se decepcionam.
Albert Einstein

“Para onde vou? O que farei?”, pergunta, em tom de desespero,


Scarlett O’Hara, a heroína meio mimada do famoso romance ... E o
vento levou.
“Francamente, querida, eu não dou a mínima”, responde Rhett
Butler, virando as costas e partindo sem olhar para trás.
Scarlett fica tão surpresa quanto desolada. Estava claro ali que
Rhett havia finalmente desistido dela. E não sem razão. Scarlett era
difícil, indecisa. Queria um homem que não a quis. Casou-se com
outros, que vieram a morrer em meio à Guerra Civil Americana. No
velório do segundo marido, recebeu uma proposta de casamento de
Rhett. Aceitou. Mas o casamento era turbulento e Scarlett parecia
ainda nutrir sentimentos pelo homem do passado — Ashley.
Rumores de um caso entre os dois deixam Rhett com ciúmes.
Discussões, brigas e até um triste acidente acabam por precipitar o
que parecia inevitável: a separação. Que parece definitiva, a julgar
pela indiferença de Rhett.
Histórias de amor na literatura são frequentemente repletas de
drama e nuances trágicas. No entanto, a história de conquista,
casamento e separação de Scarlett e Rhett é, em sua essência,
menos ficcional do que parece. Sonhar com um grande amor,
sonhamos todos. Cerca de 88% dos norte-americanos com idade
entre vinte e 29 anos, por exemplo, acreditam que existe uma alma
gêmea esperando por eles. A realidade, por sua vez, não tem
compromisso com nossas fantasias, pelo menos não com todas.
Cerca de 50% dos casamentos nos quais a noiva tem mais de 25
anos acabam em divórcio dentro de quinze anos. Por mais doloroso
que pareça, a separação pode vir a ser uma experiência
engrandecedora.
Engrandecedora porque é uma fonte de aprendizado. Ou
aprendemos que não existe uma alma gêmea com quem podería-
mos contar até o fim de nossos dias, ou aprendemos que nossa
busca por esse par perfeito pode ser muito mais longa e custosa do
que talvez possamos pagar. Pagar? Sim, é isso mesmo. Falar de
custo e preço quando tratamos de nossa vida amorosa soa
ofensivo. Um acinte, coisa de economista sem coração, diriam.
Afinal, custo e preço nos remetem a dinheiro, e o amor é muito mais
importante do que isso. Pelo menos é o que sugere de forma
inequívoca o Google: se você digitar a palavra “amor” no buscador,
ela aparecerá de duas a quatro vezes mais do que a palavra
“dinheiro”, dependendo do idioma. Em português, por exemplo, ela
aparece 417 milhões de vezes, ao passo que dinheiro tem 122
milhões de ocorrências. Amor é sem dúvida importante. Até as
epístolas bíblicas falam de seu caráter essencial: “Sem amor nem
todos os mistérios nem toda a ciência valeriam alguma coisa”, diz
Paulo em sua primeira e longa carta aos Coríntios.
Não seria um completo exagero dizer que a beleza da economia
— enquanto ciência, não atividade — está em nos ensinar como
alguns poucos princípios governam nossas ações e nossas
interações com as pessoas. Um desses princípios, e talvez o mais
elementar e compreensível, é o de que tudo nesta vida tem um
custo, um preço a ser pago. Mesmo as coisas pelas quais não
pagamos têm um custo: a conta de e-mail gratuita, a vacina contra a
pólio na infância, o fio dental vendido com a escova. “Não existe
almoço grátis”, disse certa vez Milton Friedman, encapsulando o dito
princípio numa frase mundana.* Mas a busca pelo amor é algo
imaterial, que fazemos guiados por instintos e sentimentos. Você
pode, então, concluir que não cabe falar de custo e preço quando se
trata de algo sublime e imensurável como o amor. No entanto, a
busca por algo inevitavelmente nos custará recursos, entre os quais
está o tempo.
Como não podemos estar em mais de um lugar ao mesmo tempo,
quando buscamos o par ideal arcamos com um custo invisível, mas
nem por isso insignificante: as inúmeras, talvez milhares, de
oportunidades das quais abrimos mão. Se somos solteiros,
pagamos o preço da solidão e de não viver relacionamentos que,
conhecendo mais, talvez nos surpreendessem. Se já estamos em
uma relação, pagamos o preço de não encontrar quem talvez fosse
um par (match) melhor.
A beleza do princípio de que “nada é gratuito” reside justamente
na universalidade da verdade que carrega: a cada escolha que
fazemos, incluindo as amorosas, fechamos inúmeras portas para
caminhos diferentes, ainda que não de forma radical, daqueles em
que já estamos. Não há, pois, busca sem preço. E, quando o que
procuramos é o amor, não é surpreendente imaginar que o preço
dessa empreitada seja alto. Afinal, essa busca não é trivial, contém
várias dimensões e pode ser inesperadamente longa.

OS IDÊNTICOS SE ATRAEM

O que romance tem a ver com economia? Enquanto as pessoas


rezam ou meditam, há também um custo a ser pago — o de
oportunidade, medido pelo valor da melhor opção no uso do nosso
tempo entre todas as outras possíveis — e nem por isso a economia
se importa com a espiritualidade das pessoas. Porém, o interesse
da economia no assunto vai além do fato de que, em certo sentido,
o amor tem um preço. A decisão de unir-se a alguém (casamento)
bem como a dissolução dessa união (divórcio) são eventos que
envolvem outras escolhas que têm consequências sobre fenômenos
pelos quais os economistas se interessam, como a organização e o
tamanho das famílias e a participação das mulheres no mercado de
trabalho.
A decisão sobre com quem nos casamos pode afetar também a
distribuição de renda. A ideia é relativamente simples: em um
mundo onde há desigualdade de renda, haveria redução da
desigualdade se as uniões entre duas pessoas fossem feitas de
forma aleatória: algumas pessoas de maior renda se casariam com
pessoas de menor renda. Como resultado, os valores seriam
distribuídos de forma mais equitativa. Note que é como se a renda
fosse um traço físico/genético que pode ou não ser reforçado na
população dependendo de como os casais são formados. Considere
a estatura, por exemplo. Há homens e mulheres das mais diversas
alturas. Se altos se casam com altos, baixinhos com baixinhos e
esses traços são transmitidos para a descendência desses casais,
não é difícil ver a tendência que esse arranjo cria: um mundo
povoado de gente muito alta e gente muito baixa. A renda da família
seria também um traço transmissível entre gerações, de modo que o
casamento poderia funcionar como uma espécie de tecnologia
redistributiva.
O caso em que os casamentos se dariam de forma casual é,
obviamente, um caso extremo que serve para ilustrar com mais
facilidade os efeitos distributivos que o matrimônio pode ter. Na
prática, as uniões não são aleatórias e refletem uma combinação
complexa de preferências. Dessa maneira, o efeito do casamento
sobre a distribuição de renda pode ser bastante distinto do que
sugere esse exemplo. O que aconteceria se, digamos, as
preferências fossem tais que terminássemos nos casando apenas
com quem é muito parecido conosco em termos de renda — rico
com rico e pobre com pobre? É possível pelo menos perceber que
isso, por si só, não ajudaria a reduzir a desigualdade. Ainda que
também seja um exemplo extremo, algo mais próximo desse último
caso parece estar acontecendo.
Uma pesquisa recente sobre as causas da desigualdade de renda
nos Estados Unidos concluiu que o aumento no grau de similaridade
educacional entre as pessoas que se casam, combinado com outras
mudanças nos padrões de divórcio e a participação das mulheres no
mercado de trabalho, é capaz de explicar cerca de dois terços do
aumento de desigualdade observado no país de 1960 a 2005. No
passado, a divisão tradicional do trabalho envolvia a já proverbial
ideia de que o homem colocava o pão na mesa enquanto as
mulheres administravam a casa e cuidavam dos filhos. As mulheres
já não seguem exclusivamente esse papel e hoje compreendem
mais de 50% do ensino superior. Com tamanha qualificação, elas
ocuparão postos de considerável remuneração no mercado de
trabalho. Ao decidirem se casar com alguém com as mesmas
perspectivas no futuro — alguém que conheceram na sala de aula
ou nos eventos sociais da universidade —, acabarão por criar uma
unidade familiar com uma renda potencial muito mais alta do que se
ela e o parceiro, talvez de olho em outros tipos de
complementaridades, tivessem decidido se casar com pares com
menor qualificação.
Casar-se com pessoas de nível educacional similar talvez seja
muito proveitoso para o casal em vista do potencial de renda e de
outras afinidades que essa proximidade educacional pode significar.
No entanto, pode ter consequências indesejáveis para a distribuição
de renda, as quais não são exatamente triviais e estão conectadas a
uma série de mudanças socioeconômicas observadas no último
meio século.
Com as transformações tecnológicas experimentadas nas últimas
décadas, o trabalho doméstico ficou menos custoso em termos
relativos. Isso facilitou o ingresso das mulheres (que
tradicionalmente se ocupavam dessas tarefas) no mercado de
trabalho. Juntem-se a isso o aumento nos retornos da educação (os
maiores salários que a educação, sobretudo pós-secundária,
começou a trazer) e a redução das diferenças salariais entre
homens e mulheres. Em conjunto, são mudanças que tornam mais
atrativa a busca pelo diploma universitário tanto de homens como de
mulheres em geral, mas sobretudo daqueles com maior habilidade
cognitiva para os quais os custos da educação universitária seriam
relativamente mais baixos.
Nesse cenário, temos dois movimentos que contribuem para o
aumento da desigualdade. Primeiro, temos homens e mulheres
postergando o casamento para buscar educação universitária e se
beneficiar dos prêmios salariais que esse tipo de qualificação
implica em geral — e isso, por si só, explica parte do aumento da
concentração de renda observada em vários países. Segundo,
temos escolhas de casamento mais positivamente assortativas, isto
é, homens e mulheres mais parecidos em termos de formação
criando uma unidade familiar com maior potencial de renda. A
vantagem não para por aí. Como os filhos desses casais de nível
educacional e renda mais alto tendem a se beneficiar com o acesso
a melhores escolas e a um ambiente familiar mais estável — uma
vez que as taxas de divórcio costumam ser mais altas entre casais
com menor grau de escolaridade —, os efeitos do casamento na
distribuição de renda tendem a se reforçar ao longo do tempo.
A ligação entre com quem casamos e a distribuição de renda
segue, portanto, a mesma lógica do exemplo sobre a estatura: se os
potencialmente mais ricos se casam com os mais ricos e os
potencialmente mais pobres se casam com os mais pobres, é
provável que a renda familiar, se todo o restante permanecer sem
variações, fique mais concentrada do que ficaria em uma situação
na qual os casamentos não se dessem sistematicamente entre
pessoas similares.
Os efeitos do casamento sobre a distribuição de renda são mais
significativos do que se imagina porque eles afetam as
oportunidades das gerações subsequentes também. Ou seja, é um
efeito que pode persistir para além do horizonte de tempo do
casamento. Sabe-se, por exemplo, que há uma complexa relação
entre o nível educacional dos pais, a renda familiar, o tamanho da
família, o padrão de acumulação de riqueza e consumo da família e
o sucesso escolar dos filhos. Acredita-se, por exemplo, que, quanto
maior o tamanho da família — medida pelo número de
descendentes —, pior a educação dos filhos. A ideia tem de fato
grande apelo: como os recursos parentais são finitos (dinheiro e
tempo), crianças em uma família com dois filhos terão uma parte
maior desses recursos do que crianças em uma família mais
numerosa. Quanto maior a família, maior é a diluição dos recursos
por filho. O efeito pode, em princípio, seguir na direção contrária,
dado que é possível que o tamanho da família afete a estabilidade
do casamento — quanto mais filhos, menor a probabilidade de
divórcio. E filhos de pais casados apresentam melhores resultados
em uma série de dimensões.** Há evidência, no entanto, de que é a
ordem de nascimento, e não o tamanho da família, que afeta a
qualidade da educação recebida pelos filhos. Sandra Black,
professora de economia da Universidade do Texas, e colegas
perceberam que esse tipo de efeito está presente até em famílias
com pais divorciados. Ser o primogênito parece trazer vantagens.
Na verdade, ser o segundo filho é pior do que ser o primeiro, mas
melhor do que ser o terceiro, e assim por diante. A influência da
ordem de nascimento parece afetar também o desempenho no
mercado de trabalho. Curiosamente, o efeito parece mais
pronunciado nas mulheres mais jovens da família, que têm maior
probabilidade de ganhar menos e de trabalhar em tempo integral do
que os filhos do sexo masculino que ocupam a mesma posição na
ordem de nascimento. Dito isso, a mensagem aqui é simples: a
decisão de com quem se casar é de importância individual e até
social, porque seus desdobramentos podem durar muito mais tempo
do que muitas dessas histórias de amor durarão.
Que o matrimônio é uma decisão crucial não é nenhuma novidade.
Quando amamos alguém, nos motivamos a gastar tempo e toda
sorte de recursos para ganhar o coração dessa pessoa. No entanto,
o crucial aqui não é saber que essa decisão é uma das mais
significativas em nossa vida adulta, mas tentar entender as
motivações que a governam e, buscando mais informações,
preparar-se para tomar decisões melhores.

POR QUE NOS CASAMOS?

Existem essencialmente três teorias sobre por que as pessoas se


casam. Uma é a de que fazemos isso para sinalizar para o outro
que nosso amor é verdadeiro. Quem ama casa. Faz sentido, não?
Somos ensinados que o verdadeiro amor dura para sempre. Nada
mais apropriado então do que celebrar um contrato indissolúvel aos
olhos de Deus para pôr um selo de eternidade na relação e nos
sentimentos das pessoas envolvidas. “O que Deus une o homem
não separa”, diz a homilia da cerimônia religiosa. Convenhamos que
é bonito. Mas igualmente irônico, dado que na prática os contratos
de casamento têm se dissolvido com efetivamente a mesma chance
de uma moeda jogada para o alto cair no chão com a face da coroa
virada para baixo.
A segunda teoria é a de que nos casamos para receber o ganho,
em grande medida simbólico, de seguir as convenções sociais. Uma
boa parcela da população com mais de cinquenta anos já se casou
pelo menos uma vez. Contrair matrimônio é algo que em algum
momento acontecerá com você e seus conhecidos. Todos esperam
que nos casemos, e com certa razão. O casamento não é um
contrato simples: envolve, ao menos em expectativa, uma série de
compromissos com consequências que podem persistir por toda a
vida e têm custos de saída relativamente elevados. É natural,
portanto, que encarar um contrato desses seja visto como um sinal
de emancipação, um rito de passagem pelo qual “a sociedade”
espera que passemos.
A terceira teoria, e talvez a mais interessante (pelo menos para os
economistas), é a de que o casamento é meramente um mecanismo
de comprometimento, uma maneira de demonstrar que estamos
dispostos a encarar as responsabilidades que acompanham uma
união. A ideia é simples: ao nos prendermos formalmente a um
contrato de casamento, nos damos os incentivos para cooperar e
fazer investimentos específicos no relacionamento. Uma vez
realizada a união, é de entendimento mútuo que entre os parceiros
se estabeleceu um enlace que tem custos tanto de entrada como de
saída: custos legais, econômicos e sociais (a rede de amigos que se
pode perder com o divórcio). A união, portanto, ao comunicarmos
que estamos voluntariamente nos impondo esse tipo de custo
potencial, revela nossa disposição a investir no bom funcionamento
da relação.
Independentemente da motivação subjacente — seguir
convenções sociais, sinalizar amor ou deixar mais evidente nosso
comprometimento com as responsabilidades da “produção
doméstica” que a união implica —, a decisão de se casar pode ser
encarada como um problema matemático de otimização sob
restrições. Problema matemático porque nossas escolhas, tanto
nessa área como em outras, seriam produtos de contas mentais que
ponderam benefícios e custos. Ou pelo menos é assim que os
economistas costumam representar o processo de escolha dos
indivíduos numa ampla variedade de situações. Otimização sob
restrições porque, nessas contas mentais, enfrentamos algumas
dificuldades que restringem nosso conjunto de escolha (o tempo de
procura de que dispomos, os lugares nos quais podemos buscar
nosso par, entre outros). Afinal, levando em consideração a idade, o
momento de vida e de carreira, o local de residência etc., casar é,
em certo sentido, uma questão de decidir quando parar de procurar
o par perfeito. Dito assim, soa frio e distante, mas isso descreve
com mais precisão do que parece a experiência da vasta maioria
das pessoas na esfera romântica.

O PAR PERFEITO

É provável que existam pessoas em continentes diferentes do seu


com quem você teria uma sintonia enorme. Infelizmente, há
barreiras geográficas, linguísticas e econômicas que impedem que
todos esses potenciais pares perfeitos espalhados pelo mundo
façam parte do nosso conjunto factível de opções. Assim, os
indivíduos que acabam servindo de opção de casamento formam
um conjunto muito mais restrito: os habitantes de nossa cidade e as
pessoas de nossos círculos sociais (amigos, amigos de amigos
etc.).
Uma vez mais ou menos definidas as pessoas que fariam parte
desse espaço de busca, a questão é: quem dentre essas pessoas
escolheríamos para casar? É razoável imaginar que esse processo
de escolha envolveria dois componentes.
O primeiro seriam nossas características desejáveis: inteligência,
beleza, honestidade, riqueza, status, educação, religiosidade, entre
outros. É um conjunto obviamente subjetivo, podendo haver três
elementos para uns e dezenas para outros.
O segundo componente seriam os pesos de importância dados a
cada uma das características que acreditamos ser relevantes. Por
exemplo, imagine que uma mulher tenha que atribuir notas para as
características “inteligência”, “altura” e “beleza” e desse,
respectivamente, pesos 50, 30 e 20 para cada um desses atributos.
Isso indicaria, no exemplo dado, que a inteligência seria 66% mais
importante do que a altura e 150% mais importante do que a beleza.
É provável que o primeiro componente (o conjunto de
características) não seja tão diferente entre as pessoas — homens e
mulheres se importam com mais ou menos as mesmas coisas. É o
segundo componente, os pesos, que captura a singularidade das
preferências românticas. Ou seja, tanto César Lattes, um dos mais
famosos físicos brasileiros, como Ronaldo, um dos mais famosos
ex-jogadores de futebol, se importariam com a beleza e a
inteligência de suas parceiras, mas em medidas provavelmente
diferentes.
Veja que essa descrição teórica da decisão de com quem se casar
é em geral o suficiente para dar conta de qualquer tipo de
preferência, até mesmo do que, ao menos “da boca para fora”,
seriam extremos no espectro de prioridades: de um lado, aquelas
preferências rasas e superficiais que podem ser apreendidas em um
primeiro contato visual; de outro, aquelas mais profundas, ligadas a
traços mais intelectuais e aspectos da personalidade, bem como
atitudes com relação a inúmeras coisas (se gosta de animais, visão
política etc.), que demandam mais interação e convivência para
serem assimiladas.
Munidos desses objetos — um grupo de características desejáveis
e um peso para cada característica —, teríamos agora uma tarefa
simples pela frente, a de avaliar os que estão disponíveis em nosso
conjunto factível de parceiros. Você faria isso como se atribuísse
uma nota de 0 a 10 para cada pessoa e cada traço dentro do seu
conjunto de características. Computaríamos então a nota global de
cada parceiro em potencial. Essa nota global nada mais seria do
que uma média das notas dadas a cada traço que nos é relevante
analisadas por seus respectivos pesos.
Computar uma nota para cada indivíduo é apenas parte da
decisão de com quem se casar. Sempre que surge um parceiro em
potencial, nosso problema seria então o seguinte: devo formar um
par com essa pessoa ou continuo procurando outra melhor? A
questão é mais complicada do que parece e é envolta em riscos. A
opção de rejeitar o pretendente e encarar uma nova busca tem
custos materiais (é preciso frequentar lugares onde estarão
possíveis parceiros) e psicológicos (algum grau de solidão) e pode
não necessariamente trazer alguém melhor do que os rejeitados
anteriormente.
Uma regra aproximada de como resolvemos quando é o momento
de parar de procurar pode ser a que leva em consideração duas
coisas. De um lado, a distância entre a nota do par atual e a nota do
par ideal — uma idealização que serve de referência com a qual
avaliamos os potenciais parceiros que surgem. De outro, os custos
e riscos de continuar buscando. É claro que os custos de continuar
não são os mesmos para homens e mulheres. Para começo de
conversa, os ciclos de fecundidade são bastante diferentes entre
homens e mulheres. A pressão do relógio biológico pode por si só
explicar por que as mulheres se casam, em geral, mais cedo do que
os homens.
Mas casar-se muito cedo, ao menos recentemente, pode ser
custoso para as mulheres, que hoje estão em busca de níveis
avançados de escolaridade (graduação e pós-graduação) e da
consolidação de uma carreira profissional. Assim, tem sido uma
tendência comum em países industrializados o aumento da idade
média em que as mulheres estabelecem uma união. Como
resultado, criou-se um fenômeno interessante: o surgimento de toy
boys, homens-brinquedo. Pode soar pejorativo, mas a expressão se
refere apenas ao fato de que nunca foi tão comum encontrar
mulheres casadas com homens mais jovens. Um estudo do
Departamento Nacional de Estatísticas do Reino Unido de 2003 já
mostrava, por exemplo, que a proporção de mulheres se casando
com homens mais jovens tinha aumentado de 15% nos anos 1960
para 26% no fim dos anos 1990.
O mecanismo por trás desse fenômeno tem certa ligação com o
fato de que homens mais velhos bem-sucedidos (com quem as
mulheres com elevada escolaridade e empregos bem remunerados
gostariam de se casar) preferem se relacionar com mulheres mais
jovens — o que pode ser visto como uma espécie de troca de status
material por juventude. Mulheres bem-sucedidas acabam fazendo o
mesmo. Nos Estados Unidos, por exemplo, as uniões matrimoniais
com esposas mais velhas do que seus parceiros representam 20%
dos casamentos. Riqueza e atração física parecem ser elementos
importantes na formação de casais.
Apesar disso, há pouco sugerindo que houve uma mudança
drástica nos elementos que parecem governar as escolhas de
homens e mulheres. Homens costumam se casar com mulheres
mais jovens e mulheres em geral tendem a preferir homens mais
velhos. A diferença média de idade entre casais é de três anos no
Brasil e 2,3 anos nos Estados Unidos.*** É um padrão comum a
vários países, influenciado por aspectos biológicos e econômicos
que mudanças tecnológicas e demográficas podem vir a alterar ao
longo do tempo.
Se certa diferença de idade, por um lado, marca boa parte das
uniões celebradas, há também que se pensar, por outro lado, em
sua influência sobre a duração da união. É possível imaginar, por
exemplo, que matrimônios entre indivíduos com grande diferença de
idade possam gerar, na média, casamentos relativamente menos
estáveis. E isso se dá pelas mais variadas razões: diferença de
renda, que pode colocar pressão sobre a carreira do parceiro mais
jovem, responsabilidades parentais de um casamento anterior,
diferenças de interesse afetadas pelos estágios distintos em que se
encontram no ciclo de vida etc. O divórcio, como a maioria dos
comportamentos humanos, pode ter múltiplas causas. É difícil saber,
por exemplo, o quanto do divórcio é explicado por si só pela
diferença de idade, e o quanto do divórcio é explicado por traços de
personalidade e comportamentais das pessoas que entram nesse
tipo de relação com grande diferença de idade. Há evidências,
contudo, de que a associação entre faixa etária distinta e divórcio
não é forte. O que pode, então, estar por trás do divórcio?

DIVÓRCIO

Em sua primeira epístola para os coríntios, o apóstolo Paulo diz:


“O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. Será? As
evidências sugerem que não. As taxas de divórcio cresceram ao
longo dos últimos anos em praticamente todo o mundo — mesmo
onde é muito custoso, como nos países do Oriente Médio, nos quais
as mulheres são tratadas como cidadãs de segunda classe e a
dissolução do casamento ainda traz desonra e ostracismo social. É
natural se perguntar por que as pessoas estão se divorciando.
Parte da resposta passa por entender como uma série de
mudanças tecnológicas empoderou as mulheres e mudou o
mercado matrimonial. A pílula anticoncepcional, que em seu
surgimento, nos anos 1960, chegou a ser prescrita apenas para
mulheres casadas, permitiu que a maternidade fosse separada do
sexo, que as mulheres planejassem quantos filhos ter e quando, que
pudessem cursar universidades e seguir carreiras. A redução das
diferenças salariais entre homens e mulheres com qualificações e
ocupações similares e as transformações tecnológicas de realização
das tarefas de uma casa aumentaram o poder de barganha familiar
das mulheres. A internet também contribuiu para isso com sua
ampla oferta de sites de encontros entre pessoas divorciadas. O
custo do divórcio nunca foi tão baixo.
Quando o preço de um bem cai, é normal que sua demanda
aumente. Com o divórcio não foi diferente. Por exemplo, a
introdução das leis unilaterais de divórcio diminuiu o custo de
dissolver um contrato de casamento, pois eliminou a necessidade
de que um dos parceiros tenha feito algo de errado para que a
Justiça conceda sua dissolução.
Nos Estados Unidos, por exemplo, essas leis explicam uma parte
considerável (cerca de 17%) do aumento da taxa de separações nos
trinta anos seguintes ao seu surgimento. No longo prazo, entretanto,
a redução no custo de divórcio pode até frear a propensão dos
casais a se divorciar, pois isso vai depender de qual o papel
dominante do contrato de casamento — dentre as três teorias que
exploramos no começo: seguir a norma, sinalizar amor verdadeiro
ou impor um mecanismo de comprometimento.
Se o papel dominante do contrato de casamento é ser um
mecanismo de comprometimento, a mudança nos custos de divórcio
influencia os incentivos para se separar. Por si só, isso tende a
contribuir para que casais que não tenham tanta sintonia desistam
ou posterguem a decisão de se casar. A mudança nas leis de
divórcio tem efeitos de seleção: apenas os casais de mais alta
qualidade (entendida aqui como maior similaridade em várias
dimensões) permanecem interessados em se casar. Juntos, esses
dois movimentos costumam produzir uma redução na taxa de
divórcio ao longo do tempo. É exatamente o que tem sido observado
ao longo dos últimos 25 anos em várias partes do mundo.
Fenômenos sociais quase sempre têm uma variedade de fatores
explicativos. Não chega a ser tão surpreendente que todas essas
mudanças legais, econômicas e sociais que promovem maior
independência das mulheres estejam por trás das transformações
no mercado matrimonial em geral e no aumento de divórcios ao
longo dos últimos cinquenta anos. Mas essas explicações carecem
de vários insights sobre as razões individuais que levam alguém —
quando a decisão é unilateral — a decidir pela dissolução do
casamento. Apresentamos anteriormente uma espécie de teoria que
descreve o processo de busca e casamento (matching), que diz, em
essência, que calculamos uma nota subjetiva para cada parceiro
potencial e que escolhemos quem acreditamos ter a maior nota
possível. Vamos então usar a mesma teoria para, de uma forma
igualmente simples, explicar a decisão individual de divórcio.
Falamos que, quando cessamos nossa busca e decidimos
escolher alguém para casar ou namorar, isso significa que a nota da
pessoa escolhida foi a maior possível dentro dos potenciais
parceiros existentes. No jargão econômico, dizemos que houve uma
maximização restrita: fez-se o melhor possível com as opções que
estavam disponíveis. Faz todo sentido.
É natural imaginar que, mesmo depois da nossa decisão de
escolha, nada garante que essa nota se mantenha ao longo do
tempo. Na verdade, é provável que mude. E por no mínimo uma das
duas razões seguintes.
Efeito aprendizado: aprendemos mais sobre a outra pessoa, o que
nos leva a aperfeiçoar a nota subjetiva que damos a cada traço que
acreditamos ser relevante. Por mais que convivamos com alguém,
sempre aprendemos algo, e a partir desse entendimento vamos
atualizando a nota subjetiva de nosso parceiro.
Efeito preferência: com o tempo, é natural que nossas preferências
se alterem porque aprendemos mais sobre nós mesmos ou porque
somos influenciados pelo meio (lugar e grupos sociais com os quais
interagimos).
Dentro de nossa teoria, essa mudança dá a entender que o
conjunto de características que valorizamos se modificará (vamos
adicionar ou remover fatores que sejam ou não importantes,
segundo a nossa concepção) ou que os pesos que damos às
características sofrerão ajustes. Há ainda a possibilidade de a outra
pessoa simplesmente mudar, e isso alteraria as notas.
O resultado é óbvio: a nota global que atribuímos ao nosso par
provavelmente mudará com o tempo. E daí? É razoável postular que
cada um de nós teria uma banda de tolerância às variações
negativas dessa nota em relação à inicial que atribuímos ao outro no
momento em que decidimos nos casar. A decisão de divórcio nada
mais seria então do que uma resposta a uma piora sensível na
avaliação subjetiva que fazemos do outro.
É como se a pessoa com quem nos casamos, no momento do
casamento, passasse a ser nosso par ideal. Mas essa idealização
que serve de referência nunca deixa de ser reavaliada. A decisão
individual da separação, quando surge, seria relativamente simples
de entender: o outro ficou muito mais distante do que costumava
estar — em piores termos — do que seria subjetivamente aceitável
para o parceiro. Isso pode acontecer porque nosso parceiro mudou
ou porque mudamos nossas preferências (e alteramos também o
que em dado momento seria um parceiro ideal). A figura abaixo
ilustra essa decisão.

Uma das implicações mais óbvias dessa teoria sobre casamento e


divórcio é que a taxa de dissolução de casamentos seria
relativamente mais alta em subgrupos demográficos que passaram
por eventos que podem provocar um choque de preferências, como
desemprego ou troca de emprego, mudança de cidade e problemas
de saúde.
Não é exatamente fácil obter dados para fazer esses testes, mas
há certas evidências. Um estudo recente observou o que acontece
com a probabilidade de divórcio entre casais nos quais o parceiro foi
demitido. O efeito varia conforme a razão da demissão. As
dispensas causadas por fechamento de fábricas ou por acidentes de
trabalho não surtiram efeito significativo sobre a probabilidade de
separação, mas isso não aconteceu quando as demissões foram
por justa causa. A demissão comunica algo novo sobre o parceiro,
algo provavelmente negativo. A nota é então atualizada, ficando
mais baixa do que seria o valor mínimo aceitável, produzindo uma
decisão de divórcio.
Para quem enfrenta a dissolução de um casamento, nem tudo são
espinhos. Estudos mostram que tanto homens como mulheres,
depois de um período de adaptação, experimentarão ganhos de
bem-estar e felicidade como produto das mudanças. Por exemplo,
comer melhor, exercitar-se mais, emagrecer. Como diz o velho
ditado, não há mal nem bem que dure para sempre.
Em nossas escolhas românticas, tanto quanto em quaisquer
outras decisões importantes que tomamos no decorrer da vida,
haverá sempre um custo a encarar. Nem tanto os custos pecuniá-
rios, mas as trajetórias de vida que estão implicitamente sendo
escolhidas junto com essas decisões. Casamento envolve definir
não apenas o tipo de bem-estar material da vida conjunta e o
tamanho da família que será criada, é também uma escolha com
enormes implicações sobre nosso bem-estar físico e emocional. Há
quem diga que o preço do amor é o amor — numa alusão à lei da
reciprocidade de que para ter amor basta dar amor. Seja qual for o
preço, provavelmente não é baixo. Nem deve ser. Afinal, o
casamento pode ser visto como um barco em águas turbulentas: se
for barato e ruim, afundará; se for mais caro e melhor, terá mais
chances de navegar e alcançar um lugar seguro.
* Embora a frase “Não existe almoço grátis” tenha sido popularizada por
Friedman, sua fonte original é desconhecida. A frase, em formas variadas,
aparece em ensaios das décadas de 1930 e 1940 nos Estados Unidos,
quando os bares costumavam oferecer “almoço grátis” para clientes que
compravam certa quantidade mínima de bebida, como forma de atraí-los na
hora da refeição.
** Efeitos inclusive sobre a saúde.
*** Os dados brasileiros são provenientes das Estatísticas do Registro Civil de
2010. Os dados dos Estados Unidos são do Current Survey Population (CPS)
de 2014, que entrevistou uma amostra de 31 075 casais heterossexuais,
representativa dos cerca de 70 milhões de casais que viviam juntos no país
em 2014.
3. Boas intenções não bastam

Jean Chera, o ‘Messi do Mato Grosso’, se perdeu. Ele e o pai


não souberam administrar todo o talento do meia quando era
menino. E, aos dezoito anos, acumula decepções e demissões
como um veterano. Já foi dispensado de Genoa, Flamengo,
Atlético Paranaense e Cruzeiro.
Cosme Rímoli, jornalista e comentarista esportivo brasileiro

Era uma vez um país onde havia determinada doença que afetava
as crianças. De todas as doenças, essa era a mais mortal. Surgiu
então um brilhante inventor, um cientista, que desenvolveu uma cura
parcial para essa doença tão grave. Não era perfeita. Muitas
crianças ainda morriam, mas certamente a situação atual era muito
melhor do que a anterior. Uma das vantagens era que o tratamento
era gratuito. O lado ruim, no entanto, é que o tratamento não podia
ser usado em recém-nascidos nem em bebês de até um ano.
Ciente dessa deficiência, outro cientista descobriu uma segunda
cura para a doença. A vantagem do novo tratamento é que podia
ser utilizado em bebês de todas as idades, inclusive recém-
nascidos. A desvantagem: era extremamente caro e complicado.
Como o segundo tratamento era dispendioso, muitos pais passaram
a fazer uso dele apenas nas crianças de até um ano e, nas maiores,
passavam a fazer uso do tratamento gratuito e mais simples.
Isso funcionou por um período. Até um garoto de dois anos morrer
da doença. Então sua mãe pensou: “Até meu filho fazer um ano, eu
fazia uso do tratamento caro, depois passei a fazer do gratuito. Se
eu tivesse continuado com o tratamento mais caro, provavelmente
ele estaria vivo”. A mãe, portanto, concluiu que a coisa errada a se
fazer aos dois anos era trocar de tratamento.
O governo, ouvindo aquela história e a de outras pessoas, teve
que tomar providências e decretou uma lei para proibir o tratamento
simples e gratuito. E as coisas seguiram dessa maneira,
relativamente bem por certo período. Mas, depois de um tempo, um
pai, que era economista, resolveu analisar alguns dados para
verificar quão melhor o tratamento caro de fato era. Ele não
entendia nada de medicina, mas entendia de dados. Para sua
surpresa, não encontrou resultados que comprovassem a hipótese
de que o tratamento caro era o mais efetivo, pelo menos para as
crianças acima de dois anos.
Feita essa descoberta, ele sugeriu que se utilizasse apenas o
tratamento gratuito, pois seria uma economia de 300 milhões de
dólares ao ano. Os demais pais, ouvindo aquela descoberta,
pensaram: “Como algo barato e simples pode ser melhor do que
algo caro e complicado? Não vou colocar meu filho em risco”. E
rejeitaram a proposta do economista.
Infelizmente, a história contada não é um conto de fadas. E a
doença é bem conhecida: acidentes de carro. O tratamento gratuito
era o cinto de segurança, e a cadeirinha de bebê era o que custava
300 milhões de dólares ao ano aos pais americanos.
O pai que fez esse estudo foi Steven Levitt, economista e ph.D.
pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) e coautor do livro
Freakonomics. Essa história foi contada em um TED Talk em 2005
por Levitt, que fez brilhantemente a comparação entre doença e
acidentes de carro para chamar a atenção para a sua pesquisa. Em
sua pesquisa, Levitt deixou uma coisa clara: embora pareça que a
cadeirinha de bebê seja muito mais eficiente, não é isso que se vê
ao verificar os dados. Ele analisou os dados de acidentes de carro
com crianças de dois a seis anos nos Estados Unidos desde 1975,
que revelaram que, de todos os acidentes analisados, em 29,3%
ocorreram fatalidades quando as crianças não utilizavam nenhuma
proteção. Para crianças utilizando a cadeirinha, a porcentagem era
de 18,2%. E, para crianças que estavam utilizando cinto de
segurança, 19,4% sofreram fatalidades.
Essa pequena diferença é uma forte evidência de que,
estatisticamente, esses valores poderiam ser iguais. Poderia não
haver diferença significativa entre os métodos utilizados. Mas Levitt
foi adiante. Utilizou algumas técnicas para ajustar esses dados,
comparando apenas acidentes com características semelhantes,
como pessoas da mesma idade e tipo de colisão. Ao fazer esse
controle, ele verificou que não havia diferença entre utilizar a
cadeirinha e usar o cinto de segurança. A ideia de que uma
cadeirinha poderia salvar a vida de uma criança era intuitivamente
verdade, mas os dados (e sempre são eles que contam a verdade!)
diziam que não havia diferença. Levitt também destacou que, ao
analisar o impacto de batidas laterais — e a maioria das batidas são
laterais, e não frontais como imaginaríamos —, verifica-se que o
cinto de segurança chega a ter um desempenho melhor do que o da
cadeirinha.
Essa breve história nos ensina como nossa intuição e as
impressões estéticas podem nos trair. As cadeirinhas de bebês não
eram mais seguras do que os cintos de segurança. A boa intenção
dos pais não resolveu os problemas dos bebês. Nossa história era
sobre cadeirinha de bebê versus cinto de segurança, mas com
certeza há diversos outros casos na educação dos filhos em que os
pais acabam prejudicando os filhos mesmo quando possuem boas
intenções.

JEAN CHERA, O MENINO QUE DECEPCIONOU

Jean Carlos Chera tinha nove anos quando ganhou fama nacional
graças a um vídeo em que aparecia mostrando sua habilidade com
a bola. Era unânime: ele tinha uma desenvoltura acima da média. O
vídeo no YouTube em que aparecia fazendo coisas sobrenaturais
com a bola ganhou o país.* Depois do vídeo, Jean foi para a
televisão demonstrar o que era capaz de fazer com a bola. Até que,
em 2005, com apenas dez anos, foi contratado pelo Santos. O
menino do interior ia treinar no mesmo gramado por onde haviam
passado Pelé, Robinho e outros. O coro era um só: estavam diante
de um novo fenômeno, o novo substituto de Ganso, Neymar.
Chamando a atenção também no meio do futebol, em 2007, então
com doze anos, assinou um contrato de patrocínio com a Umbro,
sendo o atleta mais jovem no mundo a ser patrocinado pela
empresa britânica. Pouco tempo depois, em 2010, com seus quinze
anos de idade, seu salário já era de 30 mil reais.
O jovem garoto que ainda frequentava a escola tinha interessados
no mundo todo. Clubes da Inglaterra, Itália e Espanha sonhavam
com o garoto da Vila. Com tamanha notoriedade, era comum
repórteres fazerem fila na Vila Belmiro para entrevistar o garoto de
apenas quinze anos.
O assédio era demais! Até que começou a se tornar um problema.
Pessoas que viram o seu desenvolvimento relatam que a badalação
acima do normal deve ter feito muito mal ao menino. Aos poucos,
deixou de ser um jogador participativo, limitando-se a querer a bola
nos pés.
Acreditando que já era um craque, seu rendimento começou a
ficar abaixo do exigido. Jean passou a ser facilmente anulado por
outros jogadores, devido à sua falta de preparo físico. A situação
logo começou a chamar a atenção da direção do clube. Seu futebol
ia caindo à medida que subia de categoria.
Já sem o futebol que tinha chamado a atenção da direção técnica,
foi para a reserva ao chegar ao sub-17 do Santos. Seu pai e
também empresário, Celso Chera, quando viu Jean no banco, teria
ficado revoltado e tirado o filho de uma partida. Os conflitos de
Celso com os técnicos eram frequentes. Era claro que o pai estava
mais atrapalhando do que ajudando Jean em sua carreira. Os
treinadores alegavam que o menino prodígio deixava de obedecer
quando via o pai, que parava de correr e exigia a bola no pé.
Na hora de acertar o primeiro contrato profissional, já em 2011,
Celso Chera pediu salários de 70 mil no primeiro ano, 90 mil no
segundo e 120 mil reais no terceiro, mais luvas de 1 milhão. Para a
cúpula do Santos, esse valor era absurdo!
Não houve uma nova conversa. O jogador simplesmente anunciou
pelo Twitter que não fazia mais parte do elenco santista. Em 25 de
março de 2011, Chera deixou o clube sem nunca ter disputado
nenhuma partida oficial pelo clube. O motivo? Segundo Jean, a
diretoria da base não o valorizava. Segundo a equipe técnica, o seu
futebol não convencia mais.
Poucos meses depois de deixar o Peixe, Jean assinou um contrato
de três anos com o Genoa, da Itália. Também acabou não
disputando nenhuma partida e rescindiu o contrato. Para alguns o
motivo foi burocrático e a falta de passaporte europeu. Para outros,
foi simplesmente não ter conseguido convencer os dirigentes de seu
futebol.
Após rescindir com o Genoa, Jean voltou para o Brasil e foi
oferecido ao Corinthians e ao Palmeiras. Também negaram o
garoto! Conseguiu uma chance no Flamengo, só que os mesmos
problemas vieram à tona: fraco preparo físico, pouca adaptação ao
futebol moderno, não se dar ao trabalho de marcar. Após onze
meses no clube, dos quais cinco sem ser relacionado para jogos
nos juniores, foi novamente dispensado.
Percebendo que talvez estivesse atrapalhando a carreira do filho,
Celso finalmente resolveu envolver um empresário poderoso. Levou
o filho para Juan Figer, empresário de Maradona, Sócrates, Careca,
Denílson e outros grandes nomes.
O uruguaio tentou colocar Chera no São Paulo. Só que sua fama o
precedia, e a direção não quis o garoto. Ele acabou indo para o
Atlético Paranaense. Deveria jogar na equipe sub-23, mas não
mostrou futebol à altura. Acabou rebaixado para a sub-17. Mesmo
assim, foi outra vez muito mal. Novamente dispensado.
Em setembro de 2014 foi para o Cruzeiro. E de graça! Teria um
contrato de cinco meses para ser observado. Outra vez, nova
decepção, velhos motivos: falta de participação tática e preparo
físico ruim.
Essa é a triste e decepcionante situação de Jean Chera, hoje com
22 anos. Se um dia o menino do Mato Grosso tinha sido comparado
a Lionel Messi, poucos anos depois não tinha mais espaço no
mundo do futebol em um clube relevante. Pessoas próximas a Jean
dizem que a superproteção do pai acabou por deixá-lo mimado e
atrapalhou-o em um período crítico, o de formação de jogador
profissional.
“Eu tinha certeza de que o Jean iria arrebentar. Ele sempre foi
muito talentoso na base”, declara Neymar. Mas o problema foi na
transição, da base para o profissional. Foi onde Jean e o pai, Celso,
infelizmente, se perderam.
Em julho de 2016, Jean Chera anunciou que tinha desistido do
futebol. Vendeu tudo o que tinha e foi morar com a namorada na
cidade de Vera, no Mato Grosso. Em junho de 2017, quando este
livro ainda estava sendo escrito, Jean Chera anunciou em sua conta
no Instagram que voltaria a jogar futebol. Ele assinou contrato com o
Sinop, time do Mato Grosso. Com tantos altos e baixos é impossível
prever o que será de seu futuro.**
Qualquer um que conheça o pai de Jean Chera não duvida de seu
amor pelo filho. Ele o acompanhava todos os dias, desde os
primeiros contatos do menino com a bola. Porém, apesar do amor,
Celso acabou sendo impulsivo e atrapalhando o que poderia ser
uma carreira brilhante. Nesse caso, diferentemente dos pais que
usam a cadeirinha de bebê pensando que estão protegendo os
filhos, mas, na verdade, não estão fazendo diferença, Celso é
apontado como o pivô dos fracassos do filho. Infelizmente, histórias
como essa não são raras. Pais com ótimas intenções que acabam
prejudicando os filhos.
Muitos desses comportamentos paternais que afetam os filhos
acontecem na chamada primeira infância. Economistas são
conhecidos por falar de taxas de juros, inflação e outros temas
financeiros. Mas há toda uma área explorada por nós que é menos
conhecida. Essa área de estudo, conhecida como parenting, que em
português pode ser entendida como “educação parental”, atinge
tanto os pais como os grupos de economistas, psicólogos e
especialistas em educação.
Os especialistas em parenting tentam responder a perguntas
como: qual é o papel de nossas punições na educação dos filhos?
As punições são mais efetivas do que as recompensas? Nossa vida
profissional tem impacto na criação de nossos filhos? Seria melhor
abdicar de um salário maior para passar mais tempo com as
crianças? Mas, diferentemente dos políticos que fizeram uma lei
para a obrigatoriedade da cadeirinha de bebê sem evidências nos
fatos reais, os especialistas em educação parental recorrem a
profundas pesquisas.
Um grupo de psicólogos da Universidade Harvard e da
Universidade da Califórnia analisou como a experiência das
crianças durante os primeiros cinco anos de vida (positivas e
negativas) poderia causar impactos futuros. Haveria sequelas com
uma primeira infância que deixasse a desejar? Descobriu-se que
crianças que tiveram bons cuidados e maior presença dos pais na
primeira infância apresentaram, ao longo da vida, melhor
desenvoltura verbal do que aquelas que não tiveram. A maior
presença dos pais fez dos filhos melhores comunicadores.
No entanto, os efeitos da primeira infância vão além disso.
Descobriu-se que a satisfação materna durante esse período
também tinha influência na formação das mais diversas habilidades
dos filhos. Quanto mais satisfeita a mãe era na primeira infância,
melhor os filhos se relacionavam e conseguiam se expressar. A
justificativa é a de que mães mais satisfeitas são, em geral, mais
sensíveis e compreensivas com os filhos, o que aumenta a conexão
entre eles. Outro mecanismo é a qualidade da interação durante as
atividades nas quais a mãe se envolve com a criança. O efeito do
bem-estar da mãe sobre as habilidades das crianças é incrivelmente
alto se comparado a outros fatores.
Muitas mulheres têm dificuldade de conseguir emprego quando
estão em idades próximas da gravidez ou assim que tiveram filhos.
Com esse problema em questão, o governo americano criou um
programa para incentivar a contratação de mulheres que acabaram
de se tornar mães. Herbst e Tekin, ao analisarem o programa,
descobriram que de fato ele possuía diversos efeitos positivos na
empregabilidade. As mães que aderiram a essa política puderam se
recolocar de maneira mais rápida no mercado de trabalho e prover
uma condição melhor para os filhos. Mas essa é apenas metade da
história.
Quando começavam a voltar ao trabalho logo depois de dar à luz,
as mães apresentavam níveis mais altos de ansiedade, depressão e
estresse. Se por um lado melhores condições financeiras
possibilitaram melhores condições para os filhos, os sintomas da
ansiedade e do estresse implicaram uma significativa piora na
relação entre pais e filhos. Diversas mães que pensaram que teriam
mais recursos financeiros para uma educação de melhor qualidade
para os filhos não levaram em conta o fato de que a vida profissional
atribulada traria efeitos negativos. Em muitos casos, esses efeitos
chegariam a superar os benefícios.
Mais do que isso, será que maior renda significa sempre filhos
mais bem-sucedidos?

FILHOS DE FAMÍLIAS MAIS RICAS SE DEDICAM MAIS AOS ESTUDOS?

Lucas tem quinze anos e mora com a avó, pois a mãe perdeu a
guarda do filho. Extremamente pobre, Lucas não gosta de ir à
escola. Suas notas são muito baixas e ele já repetiu de ano duas
vezes. Marina mora nos Jardins, bairro nobre de São Paulo, e
estuda no colégio Rio Branco, um dos mais tradicionais da cidade.
Hoje com dezesseis anos, sempre foi uma das melhores alunas da
sala. O que explicaria essa diferença entre o desempenho de Lucas
e o de Marina?
Estudos mostram que a opção dos alunos por se dedicar mais aos
estudos está fortemente relacionada com a renda familiar. Para
compreendermos a questão, temos que refletir sobre dois conceitos:
correlação e causalidade. Vejamos o seguinte exemplo: vinhos e
criminalidade.
Ao analisarmos o consumo de vinho e a criminalidade por país,
vemos que em lugares onde há mais consumo de vinho, há, em
média, menos homicídios. Algum governante a fim de reduzir a
criminalidade poderia sugerir como política pública subsidiar o
consumo de vinho para combater o crime. Mas a lógica nos diz que
essa política não parece ser eficaz. Por quê?
Vamos pensar em três possibilidades que podem fomentar esse
fenômeno.
1. Maior consumo de vinho reduz as taxas de homicídio;
2. Maiores taxas de homicídio reduzem o consumo de vinho.
Nesse caso, países com altas taxas de homicídio teriam, em geral,
menor consumo de vinho;
3. Algum outro fator causa as duas coisas: maior consumo de
vinho e menor taxa de homicídio.
Nesse exemplo simples, não há dúvida: a terceira hipótese é a que
ocorre na realidade. Países mais ricos e desenvolvidos têm, em
geral, menos homicídios e mais consumo de variados produtos,
entre os quais o vinho. Afinal, eles são mais ricos e desenvolvidos.
Para analisarem casos como esse, os economistas utilizam a
econometria, um conjunto de ferramentas estatísticas com o objetivo
de entender a relação entre variáveis econômicas através da
aplicação de um modelo matemático. Em nosso exemplo, vinhos e
criminalidade, os métodos econométricos nos permitem concluir que
a bebida não é a causa da redução dos delitos. Portanto, para não
cairmos no mesmo erro de achar que subsidiar o consumo de vinho
reduziria a criminalidade, é necessário sabermos se a renda é de
fato a causa de filhos mais dedicados ou se há outros fatores que
afetam as duas variáveis.
De que isso importa? Bom, se mais dinheiro aumenta a dedicação
dos filhos na escola, então um programa de transferência de renda,
como o Bolsa Família, poderia aumentar o desempenho escolar de
filhos de famílias mais pobres. No entanto, para os gestores
públicos, esses resultados implicam que os programas não devem
se concentrar em transferências financeiras para famílias com
crianças que estão em necessidade. Em vez disso, pode haver
intervenções mais promissoras, como se concentrar em compensar
as diferenças na motivação e na qualidade da educação dos pais.
Motivado por essa dúvida — se a renda era a causa de maior
dedicação aos estudos —, o economista alemão Marcus Tamm
realizou uma pesquisa buscando explicar se dinheiro “comprava”
melhor desempenho escolar. Tamm analisou as notas de filhos de
uma mesma família que experimentou um aumento significativo de
renda.
Constatou-se que não havia diferenças relevantes no desempenho
escolar entre aqueles de famílias mais abastadas e os de famílias
mais humildes. Assim como no caso do vinho, esse fato era apenas
uma correlação, e sua verdadeira causa era explicada por outros
motivos.***
O que poderia então aumentar o desempenho dos alunos?
Para Tamm o que de fato afetava a dedicação dos filhos eram
outras iniciativas, como aulas extras e maior acompanhamento dos
professores. Essas medidas, sim, possuem efeitos significativos no
desempenho dos estudantes, muito maiores do que a renda.
Boas políticas públicas, portanto, devem focar em aumentar a
motivação dos alunos. Dar dinheiro para a família de Lucas não
aumentaria o desempenho do menino. Por outro lado, buscar um
maior acompanhamento escolar e colocar aulas extras poderiam
fazê-lo chegar mais perto de Marina.

PUNIR OU RECOMPENSAR?

Independentemente do esforço que famílias e professores


empregam na educação das crianças, chega um momento em que
os filhos tiram notas ruins. Ou chega o momento em que começam
a se rebelar. Os pais então se perguntam: “Melhor punir ou
incentivar?”. Você pode ter tido alguma experiência pessoal em que
um elogio funcionou, ou uma em que uma palavra de incentivo não
tenha surtido efeito. Novamente, devemos ir além das experiências
pessoais, pois pode-se tratar apenas de um caso isolado.
Um estudo realizado por pesquisadores em Taiwan mostra o papel
daquilo que chamamos de reforços positivos (incentivo verbal,
prêmios, recompensas financeiras) e negativos (castigos físicos,
corte de mesada). Segundo a pesquisa, os reforços positivos de fato
causam efeitos no desempenho escolar, mas de maneiras distintas.
Incentivos maternos surtem mais efeito do que incentivos paternos.
Ou seja, a mãe tem um papel mais importante no desenvolvimento
escolar dos filhos.
Por outro lado, os pesquisadores mostraram que os reforços
negativos têm pouco efeito ou, em alguns casos, efeito contrário na
melhora do desempenho escolar. Esse estudo mostra como a
participação dos pais pode ser importante no desenvolvimento
escolar dos filhos e que castigos e punições muitas vezes não são
eficazes.
Além de serem mais eficientes, os reforços positivos fazem com
que os filhos se envolvam mais naquilo que queremos ensinar. Os
exemplos vão além disso. Pense nas pessoas que vivem ao nosso
redor. Todo mundo tem algum conhecido que é financeiramente
consciente e aquele que parece estar sempre no vermelho. Foi
justamente esse caso que atraiu a atenção do economista Rona
Abramovitch. Rona buscava descobrir por que algumas pessoas se
planejavam melhor financeiramente e outras pareciam estar com os
gastos sempre descontrolados (independentemente do salário).
Abramovitch analisou como se comportavam as crianças que
recebiam mesada desde cedo e as que não recebiam. Com isso, fez
um experimento. Primeiro, deu um cartão de crédito a algumas
crianças para que fizessem alguns gastos e, posteriormente, uma
quantidade em dinheiro para as mesmas crianças. As que não
recebiam mesada mostraram um descontrole maior quando
utilizavam o cartão de crédito e acabaram gastando mais. Já as
crianças que recebiam mesada não apresentaram diferença nos
gastos, tanto com o cartão como com o dinheiro. Elas tinham mais
aptidão para lidar com situações financeiras.
Dar ou não dar mesada parece ser uma decisão aparentemente
simples, sem muitas consequências futuras. Mas essa escolha tem
impactos na responsabilidade financeira dos filhos pelo resto da
vida. Mais do que punir comportamentos indesejados, as
experiências obtidas ainda na juventude se mostram muito
eficientes para atingir resultados desejados.

FILHOS MAIS VELHOS SÃO REALMENTE MAIS RESPONSÁVEIS?

Passada a primeira infância e alguns anos de escola, é na


adolescência que geralmente começam os conflitos, bem como os
questionamentos dos pais sobre como educar os filhos. Devemos
ser flexíveis? Ceder a algumas vontades e perder o controle dos
filhos? Ou ficar em cima deles e correr o risco de tolher sua
personalidade?
Pais que possuem mais de um filho têm a oportunidade de
aprender com as experiências passadas, mas parece que muitas
vezes elas não contribuem de maneira significativa. Filhos mais
velhos e caçulas parecem se diferenciar bastante em algumas
famílias. É verdade que os mais novos são mais levados, e os mais
velhos, mais responsáveis?
Susan Averett se debruçou sobre a relação entre filhos mais novos
e filhos mais velhos. Segundo Averett, filhos mais novos se
envolvem com mais facilidade em atividades de risco do que os
mais velhos. Quando comparamos as encrencas noticiadas do
príncipe Harry (herdeiro mais novo do trono do Reino Unido) com o
bom comportamento do príncipe William (o irmão mais velho), a
diferença de personalidade entre os dois pode ser mais do que uma
simples coincidência.
Há basicamente dois motivos para isso. O primeiro é que os filhos
mais novos tendem a imitar o comportamento dos irmãos mais
velhos. Como há uma diferença de idade, ao imitarem o irmão mais
velho, os caçulas se iniciam mais cedo em diversas atividades. O
segundo está relacionado à experiência dos pais na educação, pois
já não são marinheiros de primeira viagem. Os pais tendem a
supervisionar mais o filho que nasce primeiro, pois ainda não
“sabem” como é ser pai e têm medos que só vão ser superados nos
filhos seguintes. O que era novidade com o primeiro filho passa a
ser rotina com os demais. Em famílias com mais de um filho, os
mais velhos são mais supervisionados do que os mais novos, e
essa supervisão também está associada a menor envolvimento em
pequenos delitos, menor uso de substâncias ilícitas, entre outros.
Engana-se, porém, quem pensa que mais supervisão leva a um
“melhor” comportamento dos filhos. Há um senso comum de que
mais monitoramento dos pais implica melhor comportamento dos
filhos. Mais uma vez, é preciso ter cautela ao tirar essas conclusões,
pois “mais” nem sempre significa “melhor”. Os graus de rigidez e
supervisão também são importantes.
Håkan Stattin e Margaret Kerr, pesquisadores suecos
reconhecidos internacionalmente pelos trabalhos sobre
desenvolvimento infantil, fazem uma releitura do acompanhamento
paternal. Eles discordam da visão de que mais monitoramento
significa melhor comportamento. Para eles, o melhor
comportamento se deve muito mais ao fato de haver um bom
diálogo entre pais e filhos do que simplesmente o monitoramento e
a vigilância. É novamente como no caso do vinho versus
criminalidade. Nesse caso, é o fator “diálogo” que induz a um melhor
comportamento dos filhos.
Podemos tirar algumas lições disso. A relação entre dinheiro e
dedicação aos estudos não é clara. Tampouco é certo que retornar
ao trabalho é sinônimo de melhor educação materna. Pelo contrário,
há muitos custos nisso. Ou seja, são temas que exigem uma análise
de custo e benefício. Porém, em praticamente todos os estudos,
vemos a importância da participação efetiva dos pais na educação
dos filhos. Com envolvimento diário, que deve começar desde a
primeira infância, pode-se obter melhor desenvoltura verbal, maior
integração social, melhor desempenho escolar, além de outros
benefícios.
Mais do que esses casos específicos, a grande lição é que,
sempre que possível, devemos observar as evidências empíricas e
nossas intuições. Na vida particular, é razoável tomarmos decisões
baseadas na intuição, mas formuladores de políticas públicas não
podem se dar a esse luxo.

* Um dos vídeos pode ser encontrado em <https://www.youtube.com/watch?


v=n6-GZDmhtfg>. Acesso em: 8 ago. 2017.
** A matéria completa pode ser encontrada em
<http://esportes.r7.com/blogs/cosme-rimoli/jean-chera-o-messi-do-mato-
grosso-se-perdeu-ele-e-o-pai-nao-souberam-administrar-todo-o-talento-do-
meia-quando-era-menino-e-aos-18-anos-acumula-decepcoes-e-demissoes-
como-um-veterano-ja-foi-di-04012014/>. Acesso em: 7 jul. 2017.
*** Esse é apenas um dos diversos estudos sobre educação e renda. Há
diversos outros que apresentam resultados diferentes, ou seja, de que mais
renda significa melhor desempenho escolar. Mas isso nos mostra que a
relação entre renda e desempenho escolar não é unânime.
4. Os paradoxos da felicidade

A nossa felicidade depende mais do que temos na cabeça do


que nos bolsos.
Arthur Schopenhauer

Stephen Ridley é um jovem de classe média alta, estudou em uma


universidade de ponta no Reino Unido e se formou em filosofia,
política e economia em 2010. Logo em seguida, foi trabalhar na área
de investimento de um grande banco europeu. Considerada a área
de mais alto nível dos bancos e de onde sai a maior parte dos
lucros, o banco de investimento é responsável por auxiliar grandes
empresas em suas fusões e aquisições, abertura de capital, entre
outros serviços que sempre envolvem quantias milionárias em suas
transações.
Apesar de todo o glamour, o trabalho durou pouco. Para ser mais
exato, até 2011. Extremamente frustrado, Ridley resolveu
compartilhar a experiência de ter deixado os sonhos de lado para ir
atrás apenas do dinheiro.
Para Ridley, o banking — termo que denomina a área de banco de
investimento — era brutal. Ele percebeu isso logo depois de sair do
estágio, mas não se importou. Queria respeito. Queria ser alguém
aos olhos dos outros. Acima de tudo, queria dinheiro. Por quê?
Porque, segundo ele e muitos de seus colegas de profissão,
dinheiro é sinônimo de liberdade. Dinheiro significa poder usar o que
quiser, viver onde quiser, ir aonde quiser, ser o que quiser. O
dinheiro o faria feliz, certo?
Bem, não exatamente. Na verdade, dinheiro não parece fazer os
banqueiros felizes, segundo Ridley relata. Nenhuma das quase
duzentas pessoas que ele tinha conhecido no banco de
investimento estava feliz, embora todas fossem muito ricas. A
realidade nos bancos de investimento era extenuante. Como seus
pares, ele trabalhava sem parar. A vida se resumia a e-mails, Excel,
PowerPoint, encontros, projetos intermináveis, edições, rascunhos,
reuniões, mais trabalho, tédio, cansaço, tédio, mais trabalho,
depressão, cansaço, cansaço, cansaço... Quinze horas por dia eram
o mínimo, dezesseis, dezessete horas eram o habitual, mais de
vinte eram frequentes. Uma ou duas vezes por mês, não havia noite
de sono. Ridley nunca estava livre, vivia com o seu Blackberry, e,
portanto, nunca podia se desconectar de verdade do trabalho.
Pessoalmente, Ridley não achava interessante o que fazia, o que
o deixava igual a outros 95% de seus colegas. Como ele alega, um
analista de banco de investimento não está jogando golfe com os
CEOs, falando sobre estratégia nem dirigindo seu Porsche até em
casa para almoçar com a família. Não! Um analista fica sentado na
frente do computador em 99% do tempo. Chega a ficar semanas
sem ver a luz do sol. Está fora de forma, tem a pele ruim, vive
cansado pelo excesso de trabalho e por ter que enfrentar mais um
jantar no escritório antes de chamar um táxi entre uma e quatro da
manhã. Em alguns raros momentos, o analista sai engravatado para
encontrar um cliente. Mas não é um bate-papo divertido, agradável,
com uma pessoa interessante. A conversa é sobre finanças com
algum outro analista deprimido de algum escritório corporativo.
Depois de certo tempo na área, Ridley passou a ficar espantado
de como as pessoas dos bancos de investimento viviam de maneira
medíocre, apesar de todo o ambiente luxuoso que as rodeava. Eram
pessoas tristes da classe alta, com vida e perspectivas
desinteressantes. Um bando de nerds que tinham sido pegos em
uma gaiola feita de dinheiro, sonhos e ganância. A vida tinha que
ser mais do que isso! Ele queria ser uma pessoa com brilho, paixão,
feliz, aproveitar a vida em seu limite.
Estava decidido a mudar sua trajetória. Primeiro, começou a fazer
entrevistas para outros empregos. Analista de fundos de hedge,
analista de private equity, wealth manager e outras posições que
possuíam nomes charmosos. Mas tudo lhe parecia chato, eram
vagas que envolviam longas horas de trabalho em uma mesa.
Nenhuma das oportunidades tinha acendido a chama — aquela que
um dia tivera, até ser esmagada pelo banco.
Então começou a buscar emprego fora do mercado financeiro:
fusões e aquisições, finanças, planejamento financeiro. Mais uma
vez, recebeu ofertas e não se entusiasmou. Não queria ser um
drone de terno e gravata.
Em certo momento, Ridley chegou ao limite. Depois de mais uma
entrevista desanimadora, voltou para o escritório e foi diretamente
falar com o chefe. Disse-lhe de forma respeitosa que estava se
demitindo. Em menos de vinte minutos, encontrava-se do lado de
fora do luxuoso prédio. Adeus, Blackberry, adeus, segurança,
adeus, bancos de investimento. O sol nunca tinha brilhado tanto, o
ar nunca tinha se provado tão doce, ele nunca tinha se sentido tão
leve quanto naquele momento.
Com a liberdade nas mãos, decidiu ir com um amigo a um centro
comercial, onde viu um piano em uma loja de roupas masculinas. E
era exatamente disto que precisava: tocar um pouco e descontrair.
Nem sequer pediu permissão, apenas se sentou e começou a
deslizar os dedos pelas teclas. Um homem rapidamente se
aproximou, fez um elogio e perguntou o que ele fazia. Respondeu
que era músico. O homem perguntou quanto custava seu show.
Ridley, pego de surpresa, disse que custava cem libras por duas
horas. De uma hora para outra, Ridley tinha sido contratado cinco
dias por semana. Acabara de se tornar músico.
Após algumas semanas, percebeu que não queria ser músico de
fundo de loja. Queria estar no centro das atenções, entreter o
mundo. Então, colocou um piano em uma das ruas mais
movimentadas de Londres e começou a tocar. Em um mês, já tinha
nove ofertas de contrato e começava a gravar o primeiro álbum.
Já se passaram alguns meses. Hoje, Ridley viaja pelo mundo, tem
um álbum no iTunes chamado Butterfly in a Hurricane e toca para
dezenas de milhares de pessoas. Ele costumava fazer algo que
odiava, o dia todo, todos os dias. E se odiava por isso. Em seu
relato, diz que era péssima companhia e que ninguém realmente
gostava dele. Mas agora fazia algo que amava, e, ao redor dele, as
pessoas ficavam felizes.
Certo, ele agora não pode comprar um terno Prada, mas fica
ansioso para acordar no dia seguinte. Tem aula de canto na parte da
manhã e vai se reunir com a Coca-Cola para conversar sobre
estrelar um anúncio. O futuro é imprevisível (o que diz adorar), mas
sabe que vai ficar bem, porque desta vez é ele quem está no
controle. “Passei 23 anos no desenvolvimento do meu cérebro, e
agora eu o estou usando. Nunca estive tão feliz...”

O revolucionário pianista britânico Stephen Ridley.

Essa é a história real de Stephen Ridley, que mostra a busca


incessante pela felicidade. Primeiro, Ridley achou que ela consistia
em ser rico, trabalhando para um banco de investimento. Depois,
acreditou que apenas mudar de trabalho seria o suficiente. Até que
se deu conta de que sua vontade era viver da música.
Esse exemplo mostra que descobrir o que nos faz felizes não é
tarefa simples. Por isso, para entender essa questão, economistas,
filósofos e psicólogos buscam estudar as causas da felicidade.
Dinheiro traz ou não felicidade? Solteiros são mais felizes? Pessoas
em ambientes inseguros se sentem mais insatisfeitas? Por que
diversos países pobres são mais felizes que alguns países ricos?
Todo mundo conhece aquela pessoa bem-sucedida, com um bom
cargo, o carro do ano, que viaja para diversos países, mas que é
infeliz. Da mesma forma, todo mundo conhece alguém de origem
humilde, sem grandes patrimônios, de hábitos simples, mas que
esbanja felicidade e alegria em seu dia a dia. Parece que a relação
entre dinheiro e felicidade não é tão direta. Mas então por que,
mesmo que muitas pessoas concordem que dinheiro não traz
felicidade, continuamos associando o carro do ano, as férias no
exterior e o último modelo de celular à felicidade? Mesmo que isso
nos custe fins de semana e madrugadas de trabalho, por que não
mudamos nossas atitudes e insistimos nessa fórmula?
Histórias como a de Ridley são bons exemplos para contextualizar
situações como essas, mas não podem ser consideradas amostras
suficientes para tirarmos conclusões mais rigorosas. Assim, fomos
atrás do que dizem as últimas pesquisas sobre felicidade, e o que
encontramos é surpreendente.

O PARADOXO DE EASTERLIN

Um dos mais famosos estudiosos da relação entre dinheiro e


felicidade é o economista Richard Easterlin. Em uma pesquisa
realizada em 1974, ele comparou o efeito da riqueza no bem-estar
de pessoas de diferentes países. Esperava-se descobrir que, à
medida que os países enriquecessem, seus cidadãos se tornariam
mais felizes. Para surpresa de muitos e do próprio Easterlin, porém,
esse não foi o resultado encontrado. O economista descobriu que
países mais ricos não são necessariamente mais felizes do que
países mais pobres. A principal conclusão do estudo é que o
aumento da riqueza de um país não tem relação direta com a
felicidade de sua população.
A pesquisa de Easterlin é de 1974, mas dados mais recentes já
existem. O Índice de Bem-Estar Global (Global Well-Being Index),
criado pela consultoria Gallup-Healthways, é um termômetro de
percepção do bem-estar dos indivíduos e o mais abrangente estudo
recente desse tipo. Os dados coletados em 2013, em 135 países e
por meio de 133 mil entrevistas, levam em consideração cinco
elementos: propósito, social, financeiro, comunidade e física.

• Propósito: sentir prazer no que faz diariamente e estar motivado


para alcançar seus objetivos;
• Social: ter relacionamentos de apoio e amor;
• Financeiro: gerenciar a vida econômica para reduzir o estresse e
aumentar a segurança;
• Comunidade: gostar de onde mora, sentir-se seguro e ter orgulho
de sua comunidade;
• Física: ter boa saúde e energia suficiente para o dia a dia.

A tabela abaixo mostra o resultado com a lista dos países mais


felizes do mundo, de acordo com o índice.

PROSPERANDO EM TRÊS OU MAIS ELEMENTOS DE BEM-ESTAR — OS DEZ


MELHORES PAÍSES
% PROSPERANDO
Panamá 61
Costa Rica 44
Dinamarca 40
Áustria 39
Brasil 39
Uruguai 37
El Salvador 37
Suécia 36
Guatemala 34
Canadá 34
Índice de Bem-Estar Global Gallup-Healthways. Baseado em uma pesquisa
conduzida em 135 países em 2013. As porcentagens foram arredondadas
para o maior número inteiro.

Nota-se que o Panamá, segundo a pesquisa, é considerado o país


mais feliz do mundo. Entre os panamenhos, 61% se consideram
prósperos em pelos menos três dos cinco fatores citados. Na
décima posição está o Canadá, com 34% de seus habitantes se
considerando prósperos em pelo menos três dos cinco fatores. Essa
diferença coloca o Canadá 27 pontos percentuais atrás do líder,
Panamá.
Quando comparamos o PIB per capita desses dois países, o
Panamá é o sexagésimo colocado, enquanto o Canadá está em
vigésimo lugar. A renda per capita de países mais ricos não parece
influenciar — ou tem apenas uma parcela pequena de influência —
na felicidade de sua população. Esse resultado corrobora os
estudos de Easterlin, no que ficou conhecido como Paradoxo de
Easterlin.
Na tabela a seguir vemos os países na parte de baixo do ranking.

PROSPERANDO EM TRÊS OU MAIS ELEMENTOS DE BEM-ESTAR — OS DEZ PIORES


PAÍSES)
% PROSPERANDO
Síria 1
Afeganistão 1
Haiti 3
República Democrática do Congo 5
Chade 5
Madagascar 6
Uganda 6
Benim 6
Croácia 7
Geórgia 7
Índice de Bem-Estar Global Gallup-Healthways. Baseado em uma pesquisa
conduzida em 135 países em 2013. As porcentagens foram arredondadas
para o maior número inteiro.

Síria, Afeganistão e Haiti são os países mais infelizes do mundo e


ocupam a centésima, a 160ª e a 165ª posições em termos de PIB per
capita, respectivamente, segundo dados do FMI. Os três países são
extremamente pobres. Nesse caso, parece haver uma relação mais
direta entre felicidade e riqueza dos países. Isso nos permite uma
primeira conclusão: a riqueza tem uma pequena parcela de
influência no aumento da felicidade de um país desde que sejam
atingidas as condições mínimas de sobrevivência. É evidente que
Síria e Afeganistão vivem há anos em meio a uma guerra civil e com
certeza isso tem reflexos na infelicidade da população, mas também
não é possível negar que, quando as pessoas estão na extrema
pobreza, um pouco mais de riqueza melhoraria, e muito, seu bem-
estar. Porém, após certo padrão de vida, a renda tem pouca
influência em nossa felicidade.
De acordo com Easterlin, esse fenômeno contraintuitivo acontece
basicamente por dois motivos. Primeiro, há o que os economistas
chamam de retorno marginal decrescente. Para cada mil reais
acrescentados à renda de alguém, por exemplo, a quantidade de
bem-estar adicionada em nossa vida devido a esses mil reais cresce
cada vez menos. Pense, por exemplo, em um morador de rua e em
Bill Gates. Com certeza, mil reais fariam muito mais diferença para o
morador de rua do que para o fundador da Microsoft.
O segundo motivo é a chamada adaptação. Pensemos em nossa
própria vida. À medida que crescemos, galgamos degraus e
adquirimos bens e nossos desejos vão evoluindo. No início, um
celular nos satisfazia, em seguida foi necessário um carro. E, depois
de comprarmos o carro, queremos uma casa na praia, um segundo
carro, e assim por diante.
Há, no entanto, um terceiro motivo citado por Easterlin. Em seu
artigo “Explaining Happiness” [Explicando a felicidade], ele
argumenta que, mesmo que o aumento de riqueza traga felicidade,
esse efeito é transitório e de curto prazo. Para Easterlin, há fatores
que alteram a felicidade de maneira permanente e outros que a
modificam apenas de maneira transitória, e o fator riqueza está
nesse segundo grupo.
Cada pessoa teria um estado natural de felicidade. Há indivíduos
naturalmente mais alegres e outros mais tristes. Alguns eventos
diários alteram esse estado de espírito, mas apenas por um curto
período de tempo. No longo prazo, esse nível de felicidade tenderia
a voltar para esse estado natural, fenômeno conhecido em
estatística como regressão à média. Em pesquisas feitas com
pessoas que tiveram grande aumento de riqueza (um prêmio na
loteria, por exemplo), constatou-se que após determinado tempo
aquela nova condição financeira não mais as tornava felizes.
Mas o que altera a felicidade de maneira permanente?

ALÉM DAS CONQUISTAS MATERIAIS

Nascido na cidade de São Paulo, o administrador de empresas


Alessandro Carlucci ingressou na fabricante de cosméticos Natura
em 1989. Atuou na área de marketing, passou pela diretoria de
vendas, pela coordenação de operações internacionais, pela vice-
presidência de negócios, até assumir a presidência da empresa em
2005. Sob o seu comando, a Natura foi considerada a marca de
maior reputação no Brasil. Acostumado a viajar com frequência,
Carlucci se preparou para realizar uma viagem diferente em agosto
de 2016.
Ao entrar no avião com destino a Nova York, Carlucci não tinha a
passagem de volta. Levava consigo uma pilha de cartões de visita,
dessa vez sem a identificação da empresa. Alessandro não apenas
se mudou para outro país como partiu para uma nova rotina, bem
diferente da que tinha como presidente da Natura por quase uma
década, até agosto de 2014. Segundo ele, uma prioridade da nova
fase era manter uma boa proporção de horas livres na agenda,
coisa que não tinha havia tempos. Queria participar mais da vida do
filho.
Carlucci não pretende ter outra posição executiva. “Quero ser
dono do meu tempo de novo”, afirma. Em 2016, ao completar 49
anos, assumiu a presidência do conselho de administração da
Business for Social Responsibility (BSR), organização com sede em
San Francisco que reúne mais de 250 empresas interessadas em
discutir temas relacionados à sustentabilidade. Além disso, assumiu
uma cadeira no conselho da varejista de moda Renner.
Abandonar a carreira corporativa e reduzir o ritmo de trabalho tem
sido uma nova tendência para diversos executivos. O paulista
Alexandre Hohagen, ex-vice-presidente do Facebook para a
América Latina, também se viu diante do dilema no começo de
2014. Sua carreira estava no auge, comandava quatrocentas
pessoas na operação regional do Facebook, além de ter comandado
a operação do Google na América Latina. “O nível de energia que
as corporações exigem é enorme, e, por muito tempo, isso fez
sentido para mim”, diz. Segundo ele, o equilíbrio entre vida pessoal
e profissional, porém, começou a se tornar insustentável. Com três
filhas, Hohagen vinha perdendo as festas de aniversário da caçula,
agora com nove anos, desde 2009. A razão: a data coincide com o
festival de publicidade realizado todo mês de junho em Cannes, na
França.
Ridley, Carlucci, Hohagen. Três nomes que resumem uma
tendência. Há um interesse cada vez maior de profissionais que
querem continuar ativos, mas sem sobrecarregar a agenda. Daniel
Kahneman, prêmio Nobel de Economia e um dos maiores
pesquisadores sobre felicidade, argumenta que pessoas ricas se
dizem satisfeitas com a sua vida, mas, devido à alta carga de
trabalho, não possuem tempo disponível para atividades prazerosas
no dia a dia.
A fórmula de trabalhar sessenta horas por semana, resolver
algumas pendências nos fins de semana e duas vezes por ano tirar
férias de quinze dias para visitar os melhores lugares do mundo está
esgotada. A mudança na rotina é uma tendência na vida dos novos
executivos. Eles estão compreendendo — mesmo sem acesso aos
estudos sobre felicidade — que valorizar a família e o casamento e
ter tempo para os filhos é o que nos faz felizes de maneira
permanente.
Isso não é novidade. O que pouco se sabe, entretanto, é que, de
acordo com pesquisas mais recentes, há coisas que alteram a
felicidade de maneira permanente, embora possam parecer alterá-la
de forma transitória. Uma delas é o sexo. Quando se pergunta qual
atividade deixa as pessoas mais felizes, o sexo fica em primeiro
lugar.
É fácil imaginar que pessoas extremamente ricas tenham
oportunidade de atrair mais relacionamentos e, portanto, façam mais
sexo. Isso seria um dos motivos pelos quais alguns estariam
dispostos a trabalhar tanto. Contudo, as evidências não confirmam
essa hipótese. Para o economista David Blanchflower, dinheiro
compra felicidade, mas não tanto quanto se poderia imaginar.
“Dinheiro não compra mais parceiros sexuais.” O estudo publicado
em seu artigo “Money, Sex and Happiness: An Empirical Study”
[Dinheiro, sexo e felicidade: Um estudo empírico], que contou com
16 mil entrevistas nos Estados Unidos, constatou que pessoas mais
ricas não necessariamente têm mais atividade sexual. Além disso,
constatou-se que o número anual de parceiros sexuais que otimiza
a felicidade é um. Aqueles que pagam por sexo são menos felizes e
os que ganham mais dinheiro não têm mais parceiros do que os
indivíduos de baixa renda — mostrando, assim, que mais dinheiro
não significa mais sexo. No entanto, a descoberta mais interessante
é quanta felicidade o sexo proporciona. Os economistas estimaram
que aumentar a frequência com que fazemos sexo de uma vez por
mês para ao menos uma vez por semana produz tanta felicidade
quanto um aumento de 50 mil dólares no orçamento anual de uma
pessoa.
Engana-se, porém, quem acha que quanto mais pessoas em
nossa vida melhor. Blanchflower faz um alerta contra o excesso de
parceiros e argumenta que o número ideal de parceiros seria um.
Pessoas que traem ou mantêm mais de um relacionamento tendem
a ser mais infelizes. Isso porque não é a atividade do sexo em si a
fonte da felicidade, mas a possibilidade de fazer um outro indivíduo
também feliz. Deixar feliz uma pessoa ao nosso redor também tem
sido considerado uma das fontes de felicidade permanente.
Os casos de Ridley, Carlucci e Hohagen mostram que, muitas
vezes, concentramos esforços naquilo que podemos conquistar:
uma nova graduação, um carro novo, um par perfeito. No entanto,
uma das causas da felicidade pode estar não em receber, mas em
se doar mais. Estudos mostram uma associação entre atividades
altruístas, saúde e bem-estar. O economista Martin Binder
argumenta que, quando nos envolvemos em trabalhos voluntários,
nos sentimos melhores, e quanto mais nos doamos a essas
atividades mais elas aumentam os níveis de satisfação.
Felicidade versus Trabalho voluntário

O gráfico acima sugere que quanto maior o tempo dedicado ao


voluntariado maior o índice de satisfação dos voluntários. O fato de
poder reduzir a infelicidade dos outros, segundo Binder, tem o poder
de aumentar nossa própria felicidade. A conclusão é que mais uma
vez fatores não materiais são os que tendem a aumentar a
felicidade. Certo? Mais ou menos.

O HOMEM PRECISA SER RICO, SÓ QUE MAIS RICO DO QUE OS


OUTROS

Quando se trata de diferentes países, realmente não há uma


relação clara entre aumento da renda e níveis de felicidade. O
Canadá é mais rico, porém não parece ser mais feliz que o Panamá.
No entanto, dentro de um mesmo país, os cidadãos mais ricos são
mais felizes do que os mais pobres. Ou seja, nesse caso, mais
riqueza pode trazer alguma felicidade à vida das pessoas.
No artigo “The Economic of Happiness” [A economia da felicidade],
Carol Graham afirma que a explicação estaria no fato de que, a
partir do momento em que a renda mínima para sobrevivência é
atingida, a renda relativa passa a ser mais importante do que a
renda absoluta. Por exemplo, a linha de extrema pobreza definida
pelo Banco Mundial é 1,90 dólar por dia, ou seja, pessoas que
vivem com isso ou menos em seu dia a dia. De fato, as pessoas
abaixo dessa linha estão entre as mais infelizes do mundo.
No entanto, quanto mais a renda aumenta, mais a posição relativa
ganha importância. A mudança de status na sociedade tem grande
peso na vida das pessoas. “Depois que as necessidades básicas
são atendidas, outros fatores como o aumento das aspirações, as
diferenças relativas de renda e a segurança do salário se tornam
cada vez mais importantes, além da renda”, completa Graham. Por
essa razão, a autora relembra uma frase de John Stuart Mill: “O
homem não deseja ser rico, deseja ser mais rico do que os outros
homens”.
A importância que colocamos nas posições relativas proporciona o
surgimento de fenômenos como o chamado paradoxo da felicidade,
no qual países mais felizes tendem a ter taxas de suicídio mais
altas. O ser humano tem a característica de estar constantemente
se comparando aos demais. Não importa apenas a nossa felicidade,
mas a nossa felicidade em comparação à daqueles que nos cercam.
Pessoas que se sentem menos felizes (não necessariamente
infelizes) que os demais a sua volta teriam sua felicidade diminuída
pela pressão de ter que estar bem o tempo todo. Não por acaso,
países como Estados Unidos e Dinamarca, por exemplo, são
considerados felizes, com elevada renda, porém com altas taxas de
suicídio. Claro que há outras causas para isso, mas as posições
relativas e a pressão por ter sucesso como as pessoas que estão ao
redor são uma das fontes de explicação.
Um exemplo disso é o estudo realizado por Erzo Luttmer,
professor de economia da Dartmouth College. Luttmer procurou
saber como os indivíduos se sentiam quando as pessoas de sua
vizinhança tinham salários mais altos. Segundo Luttmer, o aumento
de salário daqueles que possuem uma convivência mais próxima
tem um forte efeito negativo na felicidade daqueles que não tiveram
um aumento. Mais interessante ainda é ver que um aumento no
salário dos vizinhos e uma redução no próprio salário provocam
aproximadamente o mesmo impacto na felicidade do indivíduo. Ou
seja, as posições relativas sempre serão importantes.
Como disse o barão de Montesquieu: “Se quiséssemos ser apenas
felizes, isso não seria difícil. Mas, como queremos ficar mais felizes
do que os outros, é difícil, porque achamos os outros mais felizes do
que realmente são”. Cada vez que comparamos nossa vida com a
dos outros, estamos a um passo de nos sentirmos mais infelizes. E
nesse quesito há um novo fenômeno mundial que merece atenção:
as redes sociais. Facebook, Instagram, LinkedIn, Snapchat, ao
possibilitarem a comparação constante com nossos amigos,
familiares e colegas, podem ter um efeito em nossa felicidade.
A pesquisa realizada pelo Laboratório de Estudos de Emoção e
Autocontrole da Escola de Psicologia da Universidade de Michigan
confirmou essa hipótese e mostrou, por meio de um grupo
voluntário, que aqueles que mais utilizavam o Facebook se sentiam
mais infelizes e os que tiveram mais interações reais se sentiam
melhor. Talvez porque esses indivíduos, em vez de estarem no
Facebook, utilizaram esse tempo com um belo jantar, uma reunião
de amigos ou um bom filme. Como vimos, atividades que aumentam
nossa felicidade de maneira permanente. Essa é uma explicação
possível.
A explicação mais provável, porém, é que as redes sociais são um
prato cheio para comparar a nossa vida com a dos demais. É
rápido, é simples. Porém, talvez esqueçamos que aquela não é a
vida das pessoas. Pois “ninguém é tão feliz como no Facebook, tão
simpático como no Twitter, tão ausente como no Skype, tão ocupado
como no MSN e tão bom como no LinkedIn”.
Agora que sabemos que, ao compararmos nossa vida, estamos no
caminho da infelicidade, como podemos tirar proveito desse fato?
Deixando de comparar. Agora que entendemos que, sempre que
desejamos mais, acreditando que a felicidade estará nos bens
conquistados, nos tornamos mais infelizes, como tiramos proveito
disso? Desejando menos e vivendo mais.
O professor da USP e consultor da Unesco Clóvis de Barros Filho
relata bem, em suas inúmeras palestras pelo Brasil, essa busca
incessante:
Eu me lembro da tia Guiomar. E a tia Guiomar era aquela professora que
dava aula de tudo. Estudávamos numa parte antiga da escola. E a tia
Guiomar dizia quase todos os dias: “Quando passarem para o ginásio,
vocês vão para o prédio novo”. E tudo que se faz a partir de então é para
chegar ao prédio novo. Cada vitória era um passo que nos aproximava de
lá. No prédio novo, cada ano do ginásio era num andar. E o colegial era no
topo do prédio. A cada ano subíamos um andar. Quando chegamos ao
ginásio, imediatamente o coordenador falou: “Agora acabou a frescura, tudo
é voltado para o vestibular”. E assim desde a escola a gente se acostuma a
perseguir cenouras. A cenoura do prédio novo, a cenoura do último andar, a
cenoura do vestibular. Você entra na faculdade, e lá o que se diz logo no
primeiro ano? “Estamos nos preparando para formar um futuro profissional.”
A cenoura agora é um estágio, o trainee, um diploma e um emprego.
Você por fim se forma, é efetivado e aí finalmente tem a carteira assinada.
Você poderia levantar os braços e dizer: “Acho que agora a vida começou
de verdade, não tenho que perseguir mais nada, cheguei aonde esperavam
que eu chegasse, tenho um emprego, estou economicamente ativo no
mundo”. Não! A empresa tem quinze níveis, e você está no g15 tendo que
subir até o g1. Não tem nem espaço para a sua bicicleta no estacionamento
e logo alguém já fala: “Meu amigo, enquanto você não passar para o g14
neste lugar, você não é ninguém”.
E lá vai você, g14, g13, g12. De repente esses cargos começam a ter
siglas, CFO, COO e VP. Você vira VP e pensa que agora a vida começou!
Mas aí você reflete: “VICE-PRESIDENTE! Por que só VICE-PRESIDENTE?
Enquanto eu não for presidente a vida não vale a pena”. E para subir você
teve então que perseguir cenouras. Novos anos começam, os chefes ligam
novos PowerPoints, novas metas, e você é levado por esse ciclo sem fim.

Não queremos sugerir que haja sequer 1% de chance de


definirmos um caminho ou uma estratégia para sermos felizes.
Sugerimos apenas que façamos alguns questionamentos a nós
mesmos e que a felicidade está nos pequenos momentos diários.
Quais momentos? Cada um deve encontrar o seu.
5. Quantos e quais amigos ter?

Amizade verdadeira é como a boa saúde: só conhecemos seu


valor quando a perdemos.
Charles Colton

Amizades mudam vidas. Às vezes para o mal, mas muitas vezes


para o bem. Irineu tinha cinco anos quando o pai morreu,
assassinado por ladrões de gado. A família morava em Jaguarão,
um município muito pequeno no extremo sul do Brasil, na divisa com
o Uruguai. Criar gado era a principal atividade econômica do local.
Alguns anos após o falecimento do pai, a mãe de Irineu se casou
novamente.
No entanto, o novo marido não queria conviver com os filhos da
viúva. Então Irineu, já com oito anos, foi entregue ao tio, um capitão
da Marinha mercante que logo o levou para o interior de São Paulo,
onde foi para o colégio interno e aprendeu a ler e escrever. Com
apenas nove anos, Irineu seguiu com outro tio, também da Marinha
mercante, para o Rio de Janeiro, e foi ter que se virar praticamente
sozinho. É um desafio assustador, mesmo considerando que, na
época, era comum que crianças fossem introduzidas no mundo do
trabalho desde muito cedo.
O fato é que, com a ajuda do tio, arrumou um emprego de
balconista em uma loja de tecidos. Era um trabalho simples,
normalmente reservado a portugueses pobres e brasileiros
analfabetos. Irineu trabalhava das sete da manhã às dez da noite.
Recebia em troca moradia e comida. Parecia justo. Aos onze anos,
mudou de emprego. Foi trabalhar como caixeiro em uma loja de
maior porte, a do português João Rodrigues Pereira de Almeida.
Conta-se que seu desejo de aprender era tanto e tão visível que um
dos fregueses da loja se ofereceu para lhe dar aulas de
contabilidade, francês e outras disciplinas. Irineu deixava os livros
no balcão e sempre aproveitava o momento sem clientes para
estudar.
Era o ano de 1829, e uma crise econômica afetou as principais
casas comerciais portuguesas que operavam no Rio de Janeiro,
então capital do Brasil. Seu João Almeida viu os negócios
naufragarem e propôs uma falência amigável aos credores.
Ofereceu até a casa. Um de seus principais credores era Ricardo
Carruthers, um comerciante escocês proprietário de uma das
maiores empresas de importação da época. O sr. Carruthers passou
então a ser proprietário do comércio de João Almeida, mas disse
não aceitar a casa como pagamento da dívida. E o fez por princípio:
“De onde venho, o lar é um lugar intocável”, teria dito. Como
retribuição da gentileza, João Almeida lhe “ofereceu” Irineu. Não
como caixeiro, função que exercia na casa comercial do sr. Almeida,
mas como auxiliar de contabilidade. E o sr. Carruthers aceitou.
Carruthers era um homem educado. Entendia do mundo dos
negócios, de economia e política. Percebendo em Irineu uma fome
de conhecimento, ensinou-lhe muita coisa sobre os negócios dos
quais participava. Mais do que isso, Carruthers abriu-lhe a biblioteca
e criou uma relação de amizade com o menino. O escocês foi
professor e companheiro de longas conversas com Irineu, nas quais
ensinava tudo o que sabia sobre economia, negócios e até política.
A relação de amizade e o empenho de Irineu fizeram Carruthers
confiar posições mais elevadas a ele dentro da empresa. Aos 23
anos, o gaúcho radicado no Rio se tornou gerente e sócio da firma.
Quando Ricardo Carruthers retornou para o Reino Unido, deixou o
pupilo tocando os negócios.
Nos anos seguintes, Irineu se tornaria um dos homens mais ricos
do mundo, responsável por empreendimentos que ainda estão
presentes na vida do brasileiro. Ele criou boa parte das estradas de
ferro do país e os primórdios do que é hoje o Banco do Brasil.
Mesmo tendo terminado a vida de forma modesta, Irineu, que ficou
conhecido como barão de Mauá, entrou para a história como o
precursor da industrialização brasileira.

QUANTO VALEM AS AMIZADES?

Muito embora o sucesso do barão de Mauá seja em grande


medida produto de seu esforço e sua habilidade com os negócios,
há algo inegável em sua história: os laços de amizade com o
empresário britânico foram fundamentais no seu destino e, em
particular, na riqueza que acumulou durante a vida.
Laços de amizade, mais do que “duplicar alegrias e dividir
tristezas”, como afirma o dito popular, podem ser tão importantes
para nosso bem-estar quanto para nossa riqueza material.
Oriana Bandiera e colegas da London School of Economics
fizeram um experimento com mulheres pobres da zona rural de
Bangladesh que ilustra com mais rigor científico a importância da
amizade. O objetivo do trabalho era testar se seria possível, com
uma pequena ajuda financeira inicial e treinamento em negócios,
retirar essas pessoas da condição de pobreza de forma
permanente. Os pesquisadores sabiam que essas pessoas faziam
parte de redes sociais com as mais diversas estruturas — algumas
definidas por uma cadeia de laços familiares e outras por relações
de troca e comércio. Como se tratava de uma comunidade
relativamente pequena, mapearam a rede de amizades de todos os
envolvidos.
Os participantes do estudo foram selecionados para integrar um
programa de auxílio de uma ONG, a BRAC, que utiliza índices de
desenvolvimento humano para selecionar as áreas mais pobres do
país. Dentro dessas áreas, a ONG lança mão de uma combinação de
entrevistas e medidas relativas de riqueza para identificar as
mulheres mais pobres que seriam beneficiárias do programa. Cada
área selecionada tem aproximadamente cem famílias.
No experimento, havia dois grupos de unidades familiares. Um
grupo, o dos “tratados”, recebeu alguns ativos, como porcos, vacas
e galinhas, dinheiro para se manter por cerca de dez meses e
treinamento em negócios. O outro, o grupo de controle, receberia os
benefícios do programa apenas quatro anos depois. Como se
tratava de mulheres muito pobres, o valor dos ativos recebidos era
alto quando comparado às suas posses. Os efeitos eram avaliados
comparando-se, antes e depois do experimento, as diferenças de
quesitos como riqueza, renda e poupança das mulheres no grupo de
tratados em relação às mulheres no grupo de controle.
Os resultados foram surpreendentes. A família das mulheres do
grupo de tratados experimentou uma considerável mobilidade social,
saindo das camadas mais pobres da comunidade para a classe
média baixa. As mulheres tratadas mudaram também a forma como
ganhavam a vida, abandonando o trabalho assalariado em favor da
criação de gado, porcos e galinhas. O mais interessante é que o
benefício material não se destinou apenas às famílias que
participaram do grupo de tratamento. Os amigos dessas famílias
também: o consumo dos amigos aumentou 20% em um ano. O
experimento criou conexões entre os mais pobres e os
relativamente mais ricos, dando chance para que os primeiros
interagissem com indivíduos de status mais alto, abrindo com isso
um canal para uma possível integração social mais forte — o que
ilustra a importância do tal do networking.
Entretanto, não é apenas o bolso que pode ser afetado pelas
amizades. Ao longo das últimas quatro décadas, estudos na área
médica têm buscado identificar os impactos de nossa rede social
sobre a saúde. Um estudo do fim da década de 1970, por exemplo,
acompanhou por nove anos uma amostra de aproximadamente 7
mil habitantes da Califórnia e descobriu que indivíduos com menos
amigos tinham uma taxa de mortalidade entre duas e três vezes
mais alta do que aqueles com o maior número de conexões sociais.
Pode-se imaginar que esse resultado seja explicado pelo fato de
pessoas com poucas amizades sofrerem de algum tipo de doença
crônica ou adoecerem com mais frequência, o que dificulta a
manutenção da rede de interações. Mas os resultados desse estudo
mostram que a diferença na taxa de mortalidade entre pessoas com
maior ou menor número de conexões sociais independia da saúde
do indivíduo no início do estudo. O que essa pesquisa sugere,
portanto, é que família e amigos afetam nossa longevidade.
Você deve estar se perguntando como ter cem amigos em vez de
dez pode nos fazer viver, em média, mais. Somos suscetíveis à
influência das pessoas mais próximas com as quais interagimos. Na
escola, por exemplo, estudamos mais quando estamos cercados de
alunos que tiram boas notas. Temos uma tendência a parecer, em
várias dimensões, com as pessoas mais importantes de nossa rede
de amigos e familiares — mesmos hobbies, mesma escolaridade,
mesmos hábitos alimentares. São esses arranjos de influência e
pressão dos pares que acabam transmitindo uma série de
comportamentos relacionados a risco e saúde. Esse é pelo menos
um dos possíveis mecanismos através dos quais a estrutura de
nossa rede de amigos e parentes pode afetar nossa saúde e
longevidade — para o bem ou para o mal.

AMIZADES E EMPREGO

Talvez a ideia de que as amizades que nos cercam afetam nosso


modo de vida e nossa saúde não seja tão surpreendente. Tampouco
a ideia de que os amigos podem ser úteis no trabalho. No entanto,
amizades têm um papel complexo, e ainda pouco entendido, no
mundo do trabalho.
Amigos podem nos avisar de vagas abertas nas empresas em que
trabalham e até mesmo nos recomendar explicitamente para um
emprego. Há quem diga que isso, em particular, é mais agudo em
países de cultura ibérica como o Brasil, onde os níveis de confiança
para com indivíduos fora da família e da rede mais íntima de amigos
são muito baixos. Mas, ainda que muito provavelmente existam
diferenças, a prática é comum em vários países. Uma enquete feita
na década de 1970 com moradores do estado de Massachusetts,
nos Estados Unidos, por exemplo, revelou que a maioria dos
entrevistados tinha obtido seus empregos através de sua rede de
conhecidos. Resultado similar foi encontrado em outros países.
Embora seja inegável o benefício de ter amigos que possam nos
ajudar a arrumar um emprego, não é exatamente claro se isso é
vantajoso para as companhias.
A existência de amizade entre funcionários pode beneficiar a
empresa se esses laços servirem para aumentar a cooperação e a
difusão do conhecimento. Ter funcionários que nutrem afeição uns
pelos outros pode ser benéfico para a empresa se isso contribuir
para que confiem mais uns nos outros, se diminuir o risco de
praticarem ações voltadas para sabotar colegas ou mesmo quando
os funcionários são remunerados pelo trabalho coletivo do grupo.
Mas não só. As empresas podem usufruir das redes sociais de seus
funcionários para usar o monitoramento entre amigos e mitigar os
chamados problemas de risco moral — funcionários fazendo pouco
esforço ou adotando ações que podem ser prejudiciais para a
empresa. Contratando pessoas recomendadas pelos funcionários,
dos quais provavelmente serão amigas, as companhias também
podem diminuir os custos de busca e a assimetria de informação no
processo de contratação. Afinal, o candidato à vaga sempre sabe
mais sobre si mesmo do que a empresa.
Contudo, laços de amizade entre funcionários também podem
prejudicar a empresa. Há estudos que documentam, por exemplo,
que funcionários com laços de amizade exercem pressão uns sobre
os outros para garantir que ninguém empregue um esforço além do
mínimo necessário nas atividades que desempenham. Funcionários
que se conhecem e são próximos também têm mais probabilidade
de fazer conluios entre si para prejudicar seus superiores e os
proprietários da firma.
Em 2015, as ações da empresa que controla a rede de
supermercados Pão de Açúcar caíram cerca de 18% e fizeram o
valor de mercado da empresa perder quase 235 milhões de dólares.
Analistas atribuem essa queda à divulgação que a firma fez de que
estava investigando possíveis irregularidades na gestão de seus
estoques. Os jornais da época falavam da existência de um
esquema de desvio de produtos eletroeletrônicos praticado por um
grupo de pelo menos nove funcionários. A malandragem do grupo
(de amigos, é razoável suspeitar) durou cerca de cinco anos e
causou um prejuízo de cerca de 60 milhões de reais. Claro que não
é a existência de laços de amizade que, em si, leva as pessoas a
fraudar as empresas nas quais trabalham. Mas essa proximidade a
torna mais provável.
Além disso, sentimentos de gratidão ou altruísmo podem fazer
com que um funcionário indique para uma vaga alguém que está em
maior necessidade, e não um amigo que acredita ser o mais
qualificado para a posição. Mas que critérios usamos para
selecionar qual amigo indicamos? Será que sempre indicamos os
amigos mais próximos?
Lori Beaman, da Universidade Northwestern (EUA), e Jeremy
Magruder, da Universidade da Califórnia em Berkeley, fizeram um
experimento que revela como um pouco de dinheiro pode destruir
ao menos parte dessa aparente tendência que temos de favorecer
familiares e amigos. Eles organizaram o seguinte experimento em
uma área rural da Índia. Primeiro, recrutaram participantes para
realizar um trabalho relativamente simples: responder a um
questionário e dar conta de uma tarefa intelectualmente intensa.
Bateram de porta em porta no vilarejo pedindo às famílias que
enviassem um homem adulto para o local da pesquisa. A tarefa não
é a mais comum e foi feita em um laboratório, portanto, pode ser
vista como um tanto artificial. No entanto, estava sob supervisão,
houve tempo para desenvolvê-la e foi relativamente bem paga —
condições que se assemelham ao que encontrariam em um
emprego real.
Os participantes receberam um pagamento (135 rupias, um pouco
mais do que o salário médio diário na região) por completar essas
tarefas e a oferta de mais uma quantia se trouxessem outro adulto
do sexo masculino que julgassem bons para realizar a tarefa
cognitiva. O pagamento extra por indicar e trazer outro participante
poderia ser fixo ou variável. O fixo independeria do desempenho do
indicado. O esquema variável tinha, além de um pagamento fixo,
uma parte que dependia diretamente do desempenho da pessoa
indicada. O resultado desse experimento mostrou que, quando os
participantes recebiam dinheiro proporcional ao desempenho, era
menos provável (7%) que indicassem parentes. O mais interessante
talvez é que, quando recebiam incentivos monetários pela
performance de quem indicavam, os indivíduos de fato faziam uma
seleção mais criteriosa, selecionando indivíduos que se saíam
melhor nos testes. A implicação prática é óbvia: funcionários
indicarão pessoas que vão de fato contribuir para a melhoria da
empresa quando têm incentivos para escolher bem quem indicam.
Na falta de incentivos, apontam o amigão do coração, mesmo que
ele não seja o melhor para a vaga.

QUANTOS AMIGOS TER?

A pergunta parece sem sentido. Afinal, com tantos benefícios em


ter amigos, é natural acreditar que quanto mais melhor. No entanto,
vivemos sob a implacável restrição do tempo, uma riqueza
fundamental para manter amizades. Dar conta de muitos amigos de
verdade requereria uma brutal realocação de nosso tempo: para
conversar, para ajudá-los, para sair e se divertir com eles. Tempo
até para sofrer e chorar com eles. Por mais custoso que possa ser,
o fato é que cultivar e construir uma rede de relações interpessoais
dessa natureza é parte importante de nossa vida. A importância
advém não apenas de sermos compelidos a construir essa rede de
amizades na sociedade em que vivemos, mas também da
importância da estrutura e das características dessa rede para
nosso bem-estar psicológico e desenvolvimento emocional-cognitivo
em geral — um aspecto no qual talvez não prestemos tanta
atenção.
Nossa rede social pode ser descrita por três características: o
número de conexões sociais, o tipo de conexão que temos com
cada pessoa dentro de nossa rede social (próxima, distante, direta
ou indireta etc.) e a frequência com que mantemos contato com
cada uma dessas conexões. Nossa rede, por exemplo, pode ter três
amigos próximos e 25 amigos de amigos com quem temos uma
relação distante e indireta. Ou pode ter dez amigos e um número
menor de amigos de amigos com quem temos contato esporádico. É
natural, talvez, crer que o número de amigos terá uma relação direta
com nosso bem-estar mental. A razão é simples e certamente apela
à nossa intuição: com mais amigos, aumentamos nossas chances
de satisfazer as necessidades de relacionamento interpessoal. Um
bom amigo, afinal, é alguém de quem esperamos apoio,
compreensão, tolerância e preocupação quase que incondicionais.
Não é por acaso, portanto, que há alguma evidência anedótica de
que experiências difíceis como não ter onde morar ou até se
divorciar estão relacionadas à falta de boas amizades.
Um estudo das professoras Christina Falci, do Departamento de
Sociologia da Universidade de Nebraska, e Clea McNeely, do
Departamento de Saúde Pública da Universidade do Tennessee,
mostra que, pelo menos entre adolescentes, há evidência empírica
de que uma rede social subintegrada (isto é, com poucos amigos)
tende a estar associada a níveis mais elevados de sintomas
depressivos. Mas, mais do que dizer que ter amigos importa para o
humor — depressão pode ser vista como um distúrbio de humor —,
o estudo das pesquisadoras destaca que o tipo de conexão e a
frequência de contato parecem também importantes para o bem-
estar mental dos adolescentes.
Muito do senso comum nesse assunto indica, por exemplo, que ter
um único amigo íntimo já pode ser suficiente, pois ele pode prover o
apoio e o companheirismo necessários. Como teria dito Aristóteles,
“o antídoto para cinquenta inimigos é um amigo”. O que a pesquisa
de Christina e Clea encontra, na verdade, é que um único amigo
íntimo não é suficiente para dissipar a sensação de não
pertencimento e solidão, além dos sintomas depressivos
associados, que recaem sobre os que têm uma rede pequena de
conexões sociais. Ou seja, quando o assunto é amizade, qualidade
importa, mas alguma quantidade também. E esse resultado talvez
nem seja o mais surpreendente.
Como dissemos anteriormente, muitos amigos parecem ser quase
uma garantia de que teremos algum acolhimento e a companhia de
que precisamos em tantos momentos. Na verdade, o que os
resultados do estudo de Christina e Clea sugerem, a partir de dados
de alunos do ensino médio nos Estados Unidos, é que redes sociais
sobreintegradas (com muitos amigos e conhecidos) podem ter
efeitos negativos sobre nossa saúde mental.* A ideia aqui é que
estar na posição de amigo impõe algumas expectativas sobre nós
— de fornecer algum tipo de ajuda e assistência e de fazer algum
tipo de atividade conjunta. À medida que cresce o número de
vínculos, crescem também os custos de manter todos esses
amigos. A expectativa de cumprir essas obrigações criaria uma
pressão e uma exaustão emocionais nocivas. Pelo menos para os
adolescentes, como indicam os resultados do estudo.
Essa relação em forma de U entre o tamanho das nossas redes de
amizades e os custos psicológicos tem ligação com a “lei dos
rendimentos marginais decrescentes”. Essa lei dita que os
benefícios de uma atividade produzida com um dado tipo de insumo
tendem a aumentar conforme gastamos mais desse insumo nessa
atividade, mas esses benefícios tendem a aumentar. Porém os
ganhos desses aumentos vão sendo cada vez menores (ou, como
costumam dizer os economistas, os benefícios aumentam a taxas
decrescentes). Levada para o contexto das amizades, essa “lei”
implicaria que adicionar um amigo a nossa rede social, quando não
temos nenhum ou temos muito poucos, será muito mais benéfico do
que quando adicionamos esse amigo a uma rede já extensa. A partir
de certo ponto, ter mais amigos pode ser emocionalmente mais
custoso do que benéfico.
Conquanto esse estudo diga respeito a uma amostra de um
subgrupo demográfico da população (adolescentes), a mensagem
sugerida pelos principais resultados parece ser um tanto
reconfortante: se por um lado não há um número ótimo de amigos a
que devemos almejar, por outro, soa razoável crer que esse número
não pode ser tão baixo, de modo que não tenhamos amigos
suficientes para satisfazer nossas necessidades de conexão e
socialização, nem tão alto, de modo que nos sintamos mal pela falta
de disponibilidade de cumprir o papel esperado de um amigo ou
amiga. É “o caminho do meio”, como dita um princípio da prática
budista.
Na impossibilidade de ter muitos amigos e na certeza de que não
ter nenhum amigo é prejudicial, resta então decidir quem serão
nossos amigos. Sejam quais forem, queremos que sejam amizades
verdadeiras. Diz o ditado que as verdadeiras amizades são difíceis
de encontrar, difíceis de deixar e impossíveis de esquecer. O barão
de Mauá certamente não esqueceu as amizades que fez.
* Esses efeitos são distintos e dependem de uma interação entre gênero e
estrutura da rede. A sobreintegração das redes sociais dos participantes do
estudo está associada a níveis mais elevados de sintomas depressivos entre
garotas apenas se suas redes são fragmentadas. Já entre garotos, essa
associação está presente apenas entre aqueles com redes coesas (amigos
interconectados). Esses resultados, em particular, devem ser vistos com
precaução por causa dos problemas de multicolinearidade que podem existir
nas regressões utilizadas.
6. O preço do sucesso pode ser a
mediocridade

Prefiro ser o primeiro na vila a ser o segundo em Roma.


Júlio César

Você já deve ter se perguntado muitas vezes se é melhor ser o


aluno de maior destaque em uma universidade que não está entre
as melhores, pouco famosa, ou ser apenas um aluno mediano, de
pouco destaque diante dos seus pares, em uma universidade de
prestígio. Esse questionamento não é exclusivamente seu. E trata,
além disso, de um conflito presente em muitas escolhas
fundamentais que determinam nosso sucesso.
Diz-se que o segredo do sucesso tem a ver com a constância do
propósito, com o amor genuíno pelo que se faz e com a repetição
extenuante, pois é na fadiga que se forja o mérito. Sucesso é algo
difícil de ser compreendido, mas o fato é que a vasta maioria das
pessoas está em seu encalço. Afinal, êxito e triunfo profissionais
conferem prestígio e status social.
Há obviamente diferenças consideráveis nos graus de prestígio
entre aqueles que dele já gozam. O prestígio de Andrew Wiles não é
o mesmo que o de Bono, vocalista da banda U2. Bono tem fama
mundial, é conhecido pelos mais variados segmentos da população.
Andrew, por sua vez, é o matemático britânico que demonstrou o
enigmático teorema de Fermat, uma proposição cuja demonstração
desafiou os matemáticos por trezentos anos. Andrew tem fama
apenas no restrito círculo do mundo acadêmico. No entanto, há algo
em comum entre eles. Ambos, é razoável imaginar, acreditam que
mais prestígio é sempre melhor do que menos. Muitas contribuições
que deram no segmento profissional ao qual pertencem foram,
provavelmente, governadas pela busca por prestígio e status. Afinal,
quem não os quer? Eles trazem uma série de recompensas sociais.
Somos tratados de forma diferente, com deferência e cooperação,
transferem-nos autoridade e até recursos. Com tantos prêmios —
muitos simbólicos, é verdade, mas escassos, portanto valiosos —, é
natural que a busca por status seja uma poderosa força
influenciando nosso comportamento.

ESCOLHAS CONFLITUOSAS

Status tem uma natureza dupla. Existem, segundo os


economistas, dois tipos de status social: o local e o global. O local é
proporcionado pela posição relativa do indivíduo dentro do grupo ao
qual pertence. Por exemplo, dentro da seleção brasileira, Neymar
tem mais status do que a grande maioria. Já o status global é
determinado pela posição relativa do grupo ao qual o indivíduo
pertence dentro do universo de grupos.
O status global importa porque em um grupo ou instituição com
pessoas de alta performance — condição necessária para se gozar
de status global —, acabamos nos beneficiando da interação com
pares de maior qualidade. É o tal do efeito dos pares (ou peer
effects, como é mais conhecido em inglês). O status local, por sua
vez, importa porque essa interação com pares melhores pode ter
impactos negativos em nossa autopercepção e, por conseguinte, em
nossa performance — o chamado efeito peixe-grande-em-aquário-
pequeno, já documentado na literatura de psicologia e sobre o qual
falaremos mais adiante.
A escolha, portanto, entre os dois tipos de status, para a vasta
maioria das pessoas, encerrará um curioso conflito: ter mais de um
implicará a aceitação de menos do outro. Por exemplo, Lucas Digne
é jogador do Barcelona. Se você não acompanha os jogos do
Campeonato Espanhol ou do Barcelona, provavelmente nunca ouviu
falar dele, que já jogou na seleção francesa e está na equipe catalã
desde 2016. Mas provavelmente sabe que o Barcelona é um dos
maiores clubes de futebol do planeta. O time soma, por exemplo, o
maior número de títulos da Copa do Rei, é o maior detentor de
títulos da Copa do Mundo de Clubes da Fifa e está entre os clubes
com o maior número de torcedores ao redor do mundo.* Lucas
Digne, no entanto, é reserva do time principal do Barcelona. Ele
atua, em geral, como substituto dos jogadores mais renomados do
clube, como do espanhol Jordi Alba e do francês Samuel Umtiti.
Digne tem apenas 24 anos, mas já possui impressionantes registros
de desempenho como jogador de defesa em times pelos quais
passou, como o Roma, da Itália, e o PSG, da França. Se jogasse em
times da segunda divisão da França ou da Espanha, seria quase
certamente um dos melhores jogadores da equipe.
Esse conflito está presente também nas escolhas que fazemos na
carreira: ser assistente do JP Morgan, um dos maiores bancos de
investimento do mundo, ou gerente do Banco Cacique? Está
presente também nas escolhas educacionais: ser um aluno abaixo
da média em Harvard ou um dos melhores alunos de uma
universidade menor? E parece fazer parte também das decisões de
onde morar: um apartamento de 40 m2 no bairro dos Jardins
(SP)/Ipanema (RJ) ou um de 120 m2 no Butantã (SP)/Tijuca (RJ)? Seja
qual for o contexto, uma coisa parece certa: nunca teremos tudo.

PEIXE GRANDE EM AQUÁRIO PEQUENO OU PEIXE PEQUENO EM


AQUÁRIO GRANDE?

A escolha, pelo menos no âmbito profissional ou educacional,


deveria ser óbvia, não? Afinal, não há dúvida de que fazer parte de
um grupo formado pelos melhores, em alguma dimensão, deve nos
trazer uma série de benefícios.
Nos sistemas escolares de países como Áustria, Alemanha e
Hungria (e em algumas escolas particulares brasileiras), os alunos
são divididos em turmas conforme sua habilidade. Os muito bons
com os muito bons, os bons com os bons, e assim por diante. O
argumento central desse tipo de organização escolar, conhecida
como tracking, é de que turmas mais homogêneas permitem um
ritmo de ensino mais customizado. E isso traria ganhos, pois o
professor não precisaria se preocupar com a possibilidade
indesejável de ser muito lento para os mais rápidos ou muito rápido
para os mais lentos. Faz sentido. No entanto, estar entre os
melhores pode não ser necessariamente benéfico. Alguns estudos
sugerem que essa separação pode aumentar a desigualdade no
desempenho dos estudantes sem que haja um ganho de eficiência
— nem os estudantes de habilidade relativamente menor nem os de
habilidade relativamente maior parecem se beneficiar desse tipo de
organização.
Muito menos controverso é o que sabemos sobre o efeito
psicológico de estarmos entre os melhores. Em contextos
educacionais, por exemplo, os psicólogos já documentaram ampla
evidência de que estar entre os melhores pode prejudicar a
autoestima.** O mecanismo por trás desse efeito é simples:
comparamos nosso desempenho com o dos pares e usamos essa
avaliação como base para formar a avaliação que fazemos de nós
mesmos. Em um grupo de altíssimo nível, no qual a performance
média é obviamente muito alta, mesmo alguém muito bom pode se
ver medíocre ao se comparar com os outros. É um golpe na
autoestima. E o self-concept, o que achamos de nós mesmos em
vários domínios, importa muito. Já se documentou que pensar
positivamente sobre si mesmo é um importante previsor do
desempenho no trabalho, no esporte e na escola.

O CASO DA AVERSÃO À MEDIOCRIDADE

Nem todo mundo está disposto a trocar seu tipo de status. É o que
chamamos de aversão à mediocridade. Seria uma espécie de
desconforto com a ideia de não ser particularmente destacável, de
ser medíocre no sentido estrito da palavra. Com a ajuda de um
gráfico e empregando alguns conceitos de economia, procuramos
ilustrar o que seria exatamente essa aversão.
No eixo horizontal temos o status local do indivíduo, que cresce
conforme nos movemos para a direita. No eixo vertical temos o seu
status global, que cresce quando nos movemos para cima. A reta
cinza é uma restrição que define as combinações máximas de
status global e local que o sujeito pode ter. É uma espécie de
fronteira de possibilidades. Sua inclinação negativa captura o
conflito que existe entre o status local e o global. A principal
mensagem desse gráfico é a de que, para aumentar o status local, é
preciso aceitar fazer parte de grupos com avaliações cada vez mais
baixas.
As curvas de indiferença, conceito amplamente conhecido em
economia, representam as combinações dos dois tipos de status
que deixam o sujeito igualmente satisfeito. Como é preferível ter
mais de cada status, as curvas de indiferença mais altas entregam
ao indivíduo níveis maiores de satisfação e sensação de utilidade.
Notem que a inclinação de cada curva não é constante, o que tenta
capturar a ideia de que as taxas de troca de um tipo de status pelo
outro dependem da posição em que a pessoa se encontra. O
formato convexo da curva de indiferença captura a ideia de que o
indivíduo prefere balancear os dois tipos de prestígio a ter muito de
um e pouco do outro. Notem também que as posições de status nos
segmentos da curva de indiferença na área cinza mais claro
retratam uma preferência por mais status global em detrimento do
status local. O inverso acontece nos segmentos das curvas na área
cinza mais escuro.
Há um ponto inicial e um ponto final no gráfico. Vejam que, em
relação à posição inicial, a final é uma melhoria nas duas dimensões
de status: o indivíduo na posição final tem mais status local e mais
status global do que tinha na posição inicial. Esse é o caso de um
indivíduo que não trocou mais de um status pelo outro. Ou seja, não
fez concessão alguma aos níveis iniciais de status local e global.
Trata-se, na verdade, de mera especulação teórica, uma
elucubração que talvez capture um pouco do que acontece no
mundo real quando o assunto envolve prestígio.

CONSUMO E STATUS

O desejo por status parece ser um elemento importante por trás de


nosso comportamento. Queremos o respeito e a admiração de
nossos pares. E não por simples vaidade, pois status traz
benefícios. Os pesquisadores Rob Nelissen e Marijn Meijers
concluíram em uma investigação experimental que participantes que
usavam uma camisa polo de marca conseguiram mais ajuda e
doações de dinheiro para caridade do que participantes de camisa
polo sem marca. Status, portanto, parece conferir algum tipo de
tratamento preferencial.
Claro que isso não é novidade. Adam Smith, em Teoria dos
sentimentos morais — sua obra menos conhecida, mas nem por
isso com menos insights sobre o comportamento humano —, já
notava que o desejo por posição social era um traço universal em
nosso comportamento. Mas talvez seja o economista americano
Thorstein Veblen o nome mais comumente lembrado como
precursor da ideia de que o consumo de certos bens pode ser
utilizado como evidência de riqueza, ao que chamou de consumo
conspícuo. O que ainda intriga os pesquisadores é a extensão de
nossos esforços e as formas que utilizamos para ganhar a
consideração dos outros.
Kerwin Kofi e Erik Hurst, professores da Universidade de Chicago,
e Nikolai Roussanov, professor de economia da Universidade da
Pensilvânia, investigaram mais detalhadamente a teoria de Veblen.
Eles analisaram, em particular, as diferenças nos gastos em
consumo visível entre negros, hispânicos e brancos. Consumo
visível seriam os gastos com itens facilmente observáveis em
situações sociais, como carros, roupas e joias. O recorte étnico aí se
motiva pela ideia comum de que nos Estados Unidos, de onde são
provenientes os dados utilizados, a população negra gasta, em
termos relativos, mais em bens visíveis. Não estava exatamente
claro por que isso acontecia e tampouco se era de fato verdade.
Mas o trio de pesquisadores pôde comprovar.
Ao observarem dados brutos ao longo de dezoito anos (1986-
2002), não ficou aparente que havia diferenças significativas na
proporção da renda gasta em consumo visível entre esses grupos
étnicos. Essa comparação, todavia, produz conclusões equivocadas
porque não leva em consideração que o consumo pode ser em
função não da renda corrente, mas da chamada renda permanente
— uma medida de renda esperada de longo prazo —, que pode ser
muitíssimo diferente entre esses grupos, muito mais do que as
diferenças entre renda corrente. Quando isso é feito, os resultados
encontrados são impressionantes: negros e hispânicos americanos
gastam cerca de 25% a mais com bens visíveis do que os brancos.
Não é pouco. Estamos falando aí de cerca de 1900 dólares a mais
por ano sendo gastos com carros, roupas e joias.
Cabe então perguntar por que grupos étnicos que parecem tão
distintos — negros e hispânicos — teriam em comum esse padrão
de consumo, no qual gastos com bens que muitos considerariam
supérfluos são relativamente mais altos. Os autores da pesquisa
mostram por meio de uma série de testes estatísticos que gastos
mais elevados com consumo visível podem ser resultado de uma
tentativa de sinalizar status, de contrabalançar a crença que os
outros têm sobre seu salário de acordo com o grupo ao qual
pertence. Quando o assunto é status, o grupo étnico acaba se
tornando uma dimensão importante de ser observada na medida em
que fornece alguma informação sobre a renda das pessoas que
pertencem a ele — e em um mundo onde status importa e está
relacionado a renda, a etnia será utilizada para inferir indiretamente
o status do indivíduo. Gastos com consumo conspícuo, como
previsto, tendem a diminuir conforme a renda do grupo étnico de
referência aumenta — ou seja, se você pertence a um grupo étnico
cuja renda média é relativamente elevada, a necessidade de
sinalização de status através desse tipo de consumo diminui. É o
que dizem os dados desse trabalho.
Embora a busca por status possa se manifestar no quanto
gastamos em bens de luxo e já tenha sido observada até na escolha
do tamanho de café e pizza,*** esse tipo de consumo pode ser mais
do que um mero instrumento de sinalização de renda. Yajin Wang,
da Universidade de Maryland, e Vladas Griskevicius, da
Universidade de Minnesota, tiveram a ideia de testar se o consumo
de bens de luxo tem alguma função na dimensão romântica das
pessoas — mais especificamente, das mulheres.
Testou-se a hipótese de que o gasto da mulher com bens de luxo
(bolsas, roupas, sapatos etc.) é uma forma de sinalizar para outras
mulheres que seus parceiros românticos são dedicados. O gasto
conspícuo aqui seria uma forma de desestimular outras mulheres a
buscar algum tipo de relacionamento com o parceiro da outra, caso
surgisse a oportunidade. É uma ideia que deve, com-
preensivelmente, incomodar muitas mulheres hoje em dia. Contudo,
dados de uma série de estudos experimentais em condições
hipotéticas fornecem evidências em favor da hipótese. Em uma das
pesquisas, por exemplo, Yajin e Vladas concluem que as mulheres
acreditam que aquelas que vestem roupas de marca são percebidas
como tendo parceiros mais dedicados. Em outro experimento, eles
tentam, por meio de uma série de manipulações visuais, induzir nos
participantes sentimentos de atração ou de proteção de seus
parceiros. O resultado mostra que as mulheres estão dispostas a
gastar mais em bens de luxo apenas quando esse motivo protetor
em relação ao parceiro é ativado e a compra é observada por outra
mulher. Embora os resultados do estudo pareçam bastante frágeis
— por serem hipotéticos, feitos em condições artificiais e com
resultados abertos a outras interpretações —, eles servem para nos
lembrar de que a busca por prestígio pode não ser um fim em si
mesmo, mas parte de um processo mais amplo de busca por
significado, entendido aqui como reconhecimento e conexão com
outros objetivos maiores.
O professor de psicologia e economia Dan Ariely já demonstrou,
em um estudo com seus colegas, que a quantidade de dinheiro que
as pessoas pedem para realizar certas tarefas pode ser
consideravelmente diferente dependendo do significado que é dado
à tarefa. Em um experimento em laboratório, por exemplo, a
compensação monetária exigida para fazer exercícios simples e
repetitivos, como resolver um caça-palavras, nos quais você
colocava o seu nome na folha de resposta, era diferente da
compensação monetária exigida para realizar o mesmo trabalho no
anonimato (no caso desse experimento, a folha de resposta era
amassada e jogada no lixo, numa clara sinalização de que o
trabalho era considerado irrelevante). Essas diferenças no valor
exigido indicam que nosso desprazer com certo tipo de trabalho está
relacionado com nossa percepção sobre o significado dele —
estaríamos mais dispostos a fazer trabalhos percebidos como de
grande significado para a sociedade. A mensagem aqui é clara:
status não é dinheiro, mas é importante o suficiente para estarmos
dispostos a pagar (na forma de um salário mais baixo).

O CASO DAS UNIVERSIDADES DA CALIFÓRNIA

Sabemos que status importa, mas não compreendemos


exatamente como estamos dispostos a trocar um tipo de status
(local) por outro (global). É possível formular alguma ideia. Dados de
produtividade acadêmica e salário dos professores de economia das
universidades da Califórnia-Berkeley e da Califórnia-Irvine apontam
que há mais pessoas dispostas a trocar menos status global por
mais status local do que nossa intuição talvez sugerisse. Isso pode
explicar, ao menos parcialmente, um dado interessante: alguns
professores do Departamento de Economia da Universidade da
Califórnia em Irvine, instituição que ocupa a 63ª posição no ranking
mundial de departamentos de economia, são muito mais produtivos
do que alguns de seus congêneres no Departamento de Economia
da Universidade da Califórnia em Berkeley (sexta posição no
ranking mundial) e, no entanto, têm salários mais baixos. Isto é, são
mais produtivos sem que haja uma compensação monetária que
justifique o trabalho numa instituição em uma posição relativa
consideravelmente menor.
É claro que há uma série de outras histórias concorrentes para
explicar por que alguém profissionalmente tão bom em relação a
outros indivíduos em uma instituição com elevado status global
estaria “mal colocado”, isto é, trabalhando em uma instituição com
status global relativamente mais baixo. Diferenças de clima, de
ambiente familiar e até mesmo a profissão do cônjuge são fortes
candidatos para explicar essa aparente preferência por mais status
local. É preciso obviamente uma investigação mais apurada dos
dados para tentar separar todas essas histórias. O fato é que
indivíduos talentosos, a despeito de sua aptidão lhes proporcionar
voos mais altos, parecem presentes em lugares menos prestigiosos
sem que haja uma aparente compensação monetária para isso.
Pode ser uma troca por status, sucesso local.
De qualquer forma, e seja lá qual for o segredo do sucesso, uma
coisa é certa: ele é construído sobre a habilidade de fazer mais do
que apenas o bom.

* Ver ranking de clubes de acordo com vários critérios (número de seguidores


em redes sociais, venda de camisas etc.) em matéria disponível em:
<http://www.totalsportek.com/list/most-popular-football-clubs/>. Acesso em: 1
ago. 2017.
** O que chamam, como referido neste capítulo, de big-fish-little-pond effect
(BFLPE), peixe-grande-em-aquário-pequeno. Ver, por exemplo, o estudo em
26 países realizado por Marsh e Hau (2003). Nele, o BFLPE foi encontrado em
todos. O Brasil está incluso na amostra.
*** Dubois et al. observam em uma série de experimentos com escolhas
hipotéticas que o tamanho de produtos como café e pizza, que em geral não
são relacionados com sinalização de status em razão do baixo valor, são
escolhidos em maiores tamanhos como forma de sinalização de status.
7. O poder daqueles que nos cercam

Danbury não era uma prisão. Era uma escola do crime. Entrei
como bacharel em maconha e saí com um doutorado em
cocaína.
George Jung

Nova York é considerada uma das cidades mais seguras do mundo


nos dias atuais. Para ser mais exato, a décima cidade mais segura
do mundo, segundo o Safe Cities Index 2015.* O estudo reúne mais
de quarenta indicadores qualitativos e quantitativos e inclui
categorias como segurança digital, segurança sanitária, segurança
de infraestrutura e segurança pessoal. No entanto, a realidade de
Nova York nem sempre foi essa.
Quem frequentava a cidade nos anos 1970, ou mesmo quem só a
acompanhava pelos noticiários, sabia que não era possível fazer
coisas simples como andar pelas ruas à noite ou mesmo pegar o
metrô com tranquilidade. Roubos, furtos e assassinatos eram rotina
para quem vivia em Nova York, que passou a ser chamada de “a
capital norte-americana do crime”. As taxas de homicídio não
paravam de crescer. Em 1990, a Big Apple atingiu o recorde
histórico de 2245 homicídios em um ano, o equivalente a seis
mortes por dia. Para se ter um parâmetro se esse valor é alto ou
baixo, em 2012, o Rio de Janeiro, conhecido por ser uma cidade
extremamente violenta, apresentou 1372 homicídios. Quase metade
da Nova York de 1990.
Foi nesse contexto, de uma cidade em decadência e com uma
crescente onda de violência, que em 1993 o advogado e empresário
Rudolph Giuliani se candidatou para o cargo de prefeito de Nova
York. Sua promessa? Reduzir drasticamente a criminalidade na
cidade mais importante dos Estados Unidos. Sua estratégia? A
política de Tolerância Zero.
Depois de uma campanha extremamente acirrada, e convivendo
com a sombra de, em 1989, ter perdido por uma margem mínima
para o democrata David Dinkins, Giuliani finalmente foi eleito
prefeito de Nova York pelo Partido Republicano. Seu dever agora
era colocar em prática a promessa de exterminar a violência à qual
os nova-iorquinos eram diariamente submetidos.
Muitos associam a expressão Tolerância Zero à intolerância com
os criminosos. Mas a associação é errada. O termo se refere aos
atos praticados. Ou seja, era a tolerância zero contra qualquer crime
ou vandalismo, por mais insignificante que pudesse parecer. Se
alguém pichasse um muro, pouco depois ele estava limpo. Se havia
uma cadeira destruída por vândalos, no dia seguinte havia uma
cadeira nova no local. Por meio dessa política, o foco passou a ser
os pequenos delitos. A prefeitura começou a apagar os grafites,
limpar as estações, coibir a embriaguez em público, reprimir atos
simples, como pular catracas, pequenos furtos e desordem em-
geral.
Ainda assim, muitos se perguntavam como aquela estratégia de
combater pequenas infrações poderia reduzir os grandes crimes da
cidade. A população não estava preocupada com pichações, e sim
com os crimes violentos e com a própria vida. Para surpresa de
alguns incrédulos, após a eleição acirrada em 1993, Rudolph
Giuliani acabou sendo reeleito, ocupando o posto de 1994 a 2001, e
até hoje é considerado o prefeito que mais reduziu a criminalidade.
“Diminuímos os homicídios em 65%. E, como o sistema que iniciei
foi continuado por [Michael] Bloomberg, meu sucessor, alguns
crimes foram reduzidos em 80% a 90%”, disse Giuliani.
Número de homicídios em Nova York.

Mas a dúvida ainda pairava no ar. Como o simples fato de


combater os pequenos delitos poderia reduzir homicídios e outros
grandes crimes?

A TEORIA DAS JANELAS QUEBRADAS

Embora fosse considerado ousado em suas políticas públicas,


Rudolph Giuliani teve uma inspiração: a Teoria das Janelas
Quebradas, uma experiência realizada pelo professor Philip
Zimbardo, da Universidade Stanford, nos Estados Unidos. Em 1969,
Zimbardo realizou uma experiência em psicologia social hoje
considerada um clássico. Deixou dois carros idênticos abandonados
na rua; mesma marca, mesmo modelo, mesma cor. Essas
semelhanças faziam com que os resultados fossem mais
comparáveis. Um foi deixado numa rua do Bronx, uma área
problemática de Nova York conhecida por suas altas taxas de
violência. O outro carro ficou em Palo Alto, cidade californiana rica e
pacífica localizada no Vale do Silício, conhecido por atrair
empreendedores do mundo inteiro. Dois carros idênticos
abandonados, mas em lugares bem diferentes.
As equipes de especialistas em psicologia social notaram que, em
poucas horas, o carro abandonado no Bronx começou a ser
vandalizado. Roubaram os pneus, o motor, os espelhos, o rádio.
Tudo o que dava para aproveitar foi levado, e o que não dava foi
destruído. Já o carro de Palo Alto permaneceu intacto. A princípio, a
conclusão parece simples: o carro do Bronx foi destruído por estar
em uma localidade muito mais violenta.
No entanto, a experiência não parou por aí. Uma semana depois,
os pesquisadores decidiram quebrar o vidro de uma janela do carro
de Palo Alto para ver o que aconteceria. Dali em diante, o destino do
automóvel, antes intacto, foi o mesmo do que estava no Bronx. Ele
foi vandalizado e depenado até ficar na mesma situação de miséria
do carro da região pobre de Nova York.
Por que um simples vidro quebrado num carro abandonado, em
uma área supostamente segura e rica, é capaz de disparar todo um
processo de deterioração como esse? Não tem nada a ver com
pobreza, como sugeriria a primeira conclusão. Tem a ver com a
psicologia das relações sociais. Uma janela quebrada em um carro
abandonado, segundo os pesquisadores, transmite uma ideia de
deterioração, descaso e descuido. Sugere ainda que os códigos de
convivência já estão rompidos. Além disso, traz uma sensação de
ausência de lei, normas e regras. Passa a impressão de que,
mesmo que um indivíduo cumpra as regras, as pessoas ao seu
redor não cumprem e não vão cumprir.
E, a cada novo ataque que o carro sofria, essas ideias iam sendo
reafirmadas com a violência se multiplicando até desembocar num
frenesi irracional. O mesmo vale para outros casos. Se você quebrar
uma vidraça da janela de um prédio e a deixar sem conserto, é
provável que em breve todas as outras sejam quebradas também.
Se uma área comunitária começar a mostrar sinais de deterioração
e ninguém se importar, logo teremos um vandalismo que evolui para
o crime. Essa é a lógica por trás da Teoria das Janelas Quebradas.
Pequenas infrações, como estacionar em local proibido, exceder a
velocidade ou atravessar o sinal vermelho, ao não serem coibidas,
logo começarão a se tornar infrações mais graves, como
embriaguez ao volante, pequenos casos de suborno e corrupção,
até começarem os grandes crimes.
Foi essa teoria que passou a ser utilizada pela primeira vez como
antídoto no metrô de Nova York, até então o lugar mais perigoso da
cidade. O governo começou a combater as pequenas
transgressões, e o resultado foi fulminante. O metrô de Nova York
logo passou a ser um lugar seguro. Em 1994, o prefeito Rudolph
Giuliani resolveu estender a experiência à cidade inteira. A
estratégia era criar comunidades limpas e organizadas e permitir
que pequenas transgressões da lei e das regras da boa convivência
urbana se transformassem em crimes violentos.

ENTROU NA CADEIA COMO TRAFICANTE DE MACONHA, SAIU COMO


UM DOS MAIORES TRAFICANTES DE COCAÍNA DO MUNDO

Se pudéssemos definir de maneira mais geral o que a política de


Tolerância Zero de Giuliani e a experiência do professor Philip
Zimbardo possuem em comum, o que seria?
Ambos os casos tratam dos chamados “efeitos dos pares”. O
efeito dos pares nada mais é do que a influência que o ambiente e
os indivíduos que nos cercam causam em nossa vida. No caso do
experimento do professor Zimbardo, as pessoas tenderam a
vandalizar o carro quando este já estava avariado e a mantê-lo
intacto quando ainda não havia nenhum dano. No caso da
Tolerância Zero, coibir pequenas transgressões dava a sensação de
uma situação de ordem e lei, o que evitava crimes de natureza
maior.
Mas o efeito dos pares não acontece somente em segurança
pública. Pelo contrário, está presente em nosso dia a dia. O filme
Profissão de risco, protagonizado por Johnny Depp, nos dá uma
pista. Ele conta a história real de George Jung, um dos maiores
traficantes de cocaína dos Estados Unidos nas décadas de 1980 e
1990. Em plenos anos 1970, o tráfico de drogas crescia e se
disseminava pelos quatro cantos do planeta, era a época dos
grandes cartéis e dos traficantes poderosos. O consumo de cocaína
explodia no país. Durante aquele período, o mundo todo passou a
usá-la, de músicos e atores a empresários e políticos. Enquanto
isso, nas praias ensolaradas e lotadas da Califórnia, o jovem
George Jung percebeu a oportunidade de vender maconha e ganhar
dinheiro fácil.
Jung começou importando maconha do México. Pouco tempo
depois, seu negócio se transformou em um sucesso. Começou a
faturar cerca de 100 mil dólares por mês, sucesso do qual Jung se
gabava: “Alguns são astros do cinema, outros são astros do rock...
eu era o astro da droga”. De maneira rápida, ele passou a ser um
conhecido traficante na região.
George estava feliz e satisfeito quando, em uma de suas
operações, foi pego com trezentos quilos de maconha e condenado
a cinco anos de prisão por tráfico de drogas. Jung foi enviado para
Danbury, uma prisão em Connecticut.
Na prisão em Danbury, George dividiu a cela com alguém que
mudaria sua vida. Seu nome era Carlos Lehder, um colombiano
ligado aos cartéis de drogas. Lehder era um dos fundadores do
cartel de Medellín e braço direito de Pablo Escobar. O cartel de
Medellín foi nada menos do que a maior rede de traficantes de
drogas nas décadas de 1970 e 1980. Extremamente bem
organizado, o cartel começou em Medellín e passou a dominar a
Colômbia toda. Pouco tempo depois estava operando na América
do Sul inteira, na América do Norte e na Europa. Estima-se que o
cartel chegou a faturar cerca de 60 milhões de dólares por dia.
Após dividir a cela com Lehder, Jung se viu em liberdade. Quando
saiu da prisão, os dois amigos passaram a fazer negócios juntos.
Era o início de Jung no mundo do tráfico de cocaína, um mercado
muito mais rentável e no qual ele nunca havia atuado. Seu negócio
era trazer centenas de quilos de cocaína de Medellín.
Nessa mesma época, Lehder o apresentou a Pablo Escobar, o
homem mais poderoso do cartel de Medellín, conhecido como El
Patrón e um dos maiores traficantes da história. Jung e Escobar
firmaram uma parceria para distribuir 85% da cocaína consumida
nos Estados Unidos. Com essa parceria, o que antes eram 400 mil
dólares por mês passou a ser 1 milhão de dólares por semana.
Entre idas e vindas, George Jung foi preso pela última vez no
México em 1994, com vários quilos de maconha e sentenciado a 21
anos de prisão. Após passar vinte anos na cadeia, Jung finalmente
ganhou a liberdade no dia 2 de junho de 2014. Assim que saiu da
prisão em Connecticut, relatou: “Danbury não era uma prisão. Era
uma escola do crime. Entrei como bacharel em maconha e saí com
um doutorado em cocaína”. Em outras palavras, Jung foi preso por
tráfico de maconha, mas provavelmente foi graças a todos os
ensinamentos de Carlos Lehder que ele entrou no ramo da cocaína.
Ironicamente, a única coisa que ele aprendeu na cadeia foi como
ganhar mais dinheiro ilegalmente. Esse é mais um exemplo do
poder daqueles que nos cercam e de como somos influenciados por
nossas companhias.
A história do traficante George Jung e a política de Tolerância Zero
de Rudolph Giuliani possuem algo em comum. Ambas mostram
como as pessoas que nos cercam podem influenciar nosso destino.

SUBIU NO MORRO COMO ATENDENTE DA NET, DESCEU COMO UM DOS


MAIORES TRAFICANTES DO PAÍS

Nós também temos os nossos Jungs.


Dezembro de 1999. Na Zona Oeste do Rio de Janeiro, próximo à
comunidade da Rocinha, entra um bebê de nove meses na clínica
de saúde, chorando de dor com o pescoço inchado. Segundo os
médicos, não havia motivos para se preocupar, era apenas um mau
jeito. Aliviada, a mãe voltou com a pequena Eduarda para casa.
Dias depois, o bebê continuava chorando. A situação tinha
piorado. O problema não era nada simples, como haviam pensado.
Após levar em outro hospital, os médicos viram que a coluna
cervical de Eduarda começou a apresentar lesões.
A rotina dos pais de Eduarda tinha se transformado em uma
peregrinação por clínicas e hospitais. Para tratarem das lesões na
coluna da filha, os pais abandonaram seus empregos. Eduarda não
contava com plano de saúde, mas os pais não tinham solução.
Precisavam buscar tratamento ou a filha não iria sobreviver.
A vida não perdoou. O resultado? Contas atrasadas e dívidas que
chegavam a 20 mil reais. O pai, Antônio Francisco Bonfim Lopes,
buscava um empréstimo, mas não conseguia. Quem emprestaria 20
mil reais para um casal de desempregados que morava em um
barraco na Rocinha? Com apenas 24 anos, Antônio recorreu à única
pessoa disposta a fazer esse favor: Luciano Barbosa da Silva — o
Lulu, então chefe do tráfico da Rocinha e uma das principais
lideranças do Comando Vermelho.
Antônio foi ao encontro de Lulu no alto do morro, pediu o dinheiro
e explicou a sua situação: “Minha filha vai morrer se eu não fizer
nada. Eu venho trabalhar para você. É a única forma de conseguir
te pagar”.
O pai de Eduarda não teve alternativa senão aceitar o emprego no
morro onde morava. Ficava para trás Antônio Francisco Bonfim
Lopes, então funcionário chefe de uma equipe de distribuição da
revista com a programação da NET, e começava a história de Nem,
chefe do tráfico da Rocinha, a maior favela da América Latina.
Nem começou como todo jovem no mundo do tráfico, com cargos
simples. Era segurança de uma das bocas de fumo da Rocinha. Sua
inteligência e moderação, porém, logo chamaram a atenção.
Rapidamente ele galgou os degraus do tráfico e se tornou braço
direito de Lulu, aquele que havia emprestado o dinheiro a ele.
Lulu foi o responsável por mudar a vida na comunidade da
Rocinha. O Rio de Janeiro sempre tinha vivido um clima de guerra
dentro das favelas, mas, sob o comando do patrão, os índices de
violência na Rocinha despencaram para patamares equivalentes
aos de bairros de classe média alta da Zona Sul carioca. Lulu, que
estava mais para um empresário do que para um traficante nos
moldes antigos, costumava dizer que a guerra era ruim para os
negócios. Ela afastava as pessoas de lá. E, quando as pessoas
começaram a participar da vida na comunidade, elas traziam com
ela o consumo.
Em 2004, o clima de paz da comunidade, porém, terminava. A
cúpula do Comando Vermelho ordenou que Lulu dividisse o
comando da Rocinha com Eduíno Eustáquio de Araújo Filho, o
Dudu. Lulu se colocou contra a ordem e se aliou à terceira maior
facção do Rio de Janeiro, os Amigos dos Amigos (ADA). O que se viu
depois foi um período de guerra na comunidade, com os soldados
de Dudu tentando tomar o comando do morro à força. Até que o
Batalhão de Operações Especiais, o Bope, entrou no jogo. Com a
intervenção do Bope, Lulu foi morto pelos policiais.
Após sucessivas lutas pelo poder e trocas de comando, Nem
finalmente assumiu a chefia da Rocinha. A política seria a mesma
de seu mentor. Sob a gestão de Nem, os soldados do tráfico eram
orientados a não extorquir nem ameaçar os moradores. Os
infratores eram punidos com a expulsão do morro, e menores de
idade eram vetados na organização criminosa.
A tradição implementada por Lulu, de oferecer assistência
econômica aos moradores, foi fortalecida. Nem lembrou da ajuda
que tinha recebido para pagar o tratamento da sua filha. Assim,
construiu um campinho de futebol na comunidade, bancou
tratamentos médicos e providenciou cestas básicas para os mais
carentes. Nem era como o Pablo do cartel de Medellín,
preenchendo o vazio deixado pelo Estado nas favelas do Rio de
Janeiro. Na Rocinha, o Comando Vermelho era o Estado!
Sob seu domínio, a Rocinha definitivamente mudou. Recebia
shows de artistas famosos e era frequentada por jogadores de
futebol e atores. Com a redução da violência no local, jovens de
classe média começaram a frequentar os bailes funk da
comunidade, e o comércio de drogas decolou.
Nem tinha um pensamento estratégico do tráfico ainda maior que
o de Lulu. Seu conhecimento em logística, adquirido na época em
que era funcionário da NET, foi perfeito para o mundo do crime
organizado. Em pouco tempo, a Rocinha passou a atender 60% da
demanda total de cocaína do Rio de Janeiro. Estimativas do setor
de inteligência da polícia sugerem que a quadrilha movimentava
entre 10 milhões e 15 milhões de reais por mês.
É bem verdade que Nem entrou no tráfico por causa de uma
dívida, diferentemente de Jung, que entrou no ramo da cocaína
após conhecer Carlos Lehder. Mas também é verdade que a
decisão foi encorajada porque Nem fazia parte de um ambiente no
qual entrar no mundo do crime era uma solução comum para os
problemas. Se Nem fosse um morador da Zona Sul do Rio de
Janeiro, área de classe média alta, muito provavelmente teria
achado outra solução que não o tráfico de drogas. Nem é mais um
exemplo da influência que aqueles que nos cercam têm sobre nosso
destino.**
No final de 2011, às vésperas da ocupação da Rocinha para a
instalação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), Nem era o
traficante mais procurado no Rio de Janeiro. No dia 9 de novembro
de 2011, a polícia conseguiu prendê-lo, enquanto tentava fugir do
cerco realizado na Rocinha. Nem aguarda na prisão o seu
julgamento e virou estatística.

ALÉM DE HISTÓRIAS ISOLADAS

O fato de Jung e Nem terem se tornado traficantes pode ser visto


apenas como fruto de uma fraqueza de caráter ou qualquer outra
justificativa. Poderíamos dizer também que ambos eram pontos fora
da curva. Ou poderíamos até mesmo contra-argumentar com
exemplos de diversas outras pessoas que foram rodeadas por maus
elementos e ainda assim não se tornaram indivíduos problemáticos.
Sem dúvida, há variadas histórias de criminosos que passaram anos
no presídio e viraram pastores, por exemplo.
O fato é que, tanto para afirmar uma teoria quanto para negá-la,
tem razão quem critica generalizações a partir de histórias
individuais como essas. Embora sejam boas fontes de inspiração e
possam garantir belos discursos políticos, elas não servem para
tirarmos conclusões gerais. Para isso, recorre-se a experimentos e
estudos com uma amostra suficientemente grande de dados. É para
isso que servem os economistas, que podem não entender
diretamente do mundo do crime — ou de diversos outros mundos
—, mas sabem como trabalhar com dados e tirar conclusões
utilizando ferramentas como a estatística. E há quem tenha feito
isso no mundo acadêmico.
Ao analisarem dados de 8 mil jovens que cumpriram penas em
169 instituições educativas no estado da Flórida, os pesquisadores
norte-americanos Patrick Bayer, Randi Hjalmarsson e David Pozen
estavam interessados em descobrir se as amizades poderiam
incentivar comportamentos criminosos. Jovens que já haviam sido
presos poderiam ser influenciados pelas pessoas que conheceram
no período de reclusão?
A partir da análise dos crimes passados e da vida subsequente
após o cumprimento da pena, descobriu-se que, assim como no
caso de Jung, o efeito dos pares pode, sim, incentivar crimes como
roubo, furto e tráfico de drogas. A explicação é simples: as
interações sociais são fatores de primeira ordem no comportamento
criminal. O convívio com pessoas de histórias comuns pode levar à
criação e à expansão de redes criminosas.
Ou seja, desse ponto de vista (e apenas desse), a cadeia muitas
vezes serve como um grande gerador de networking. Os
pesquisadores, então, alertam: “Nossa análise sugere cautela na
busca de estratégias que encarcerem mais jovens, uma vez que a
exposição intensa a outros criminosos e delinquentes em presídios
inapropriados pode incentivar comportamentos criminosos após a
libertação”.
Assim, a importância e a natureza das interações sociais no
comportamento criminoso nos fornecem uma compreensão sobre o
crime como um fenômeno econômico e social. O entendimento de
como o conhecimento criminoso é propagado e como essas redes
são forjadas deve ser usado para moldar as decisões em relação ao
sistema de Justiça criminal. Qual seria, por exemplo, a melhor forma
de agrupar indivíduos criminosos de forma a reduzir a reincidência
futura.
Casos como o de Jung podem ser uma referência em questões
abordadas constantemente. Por exemplo, a discussão sobre a
maioridade penal é extremamente complexa, e não há dúvidas de
que existem argumentos plausíveis a favor e contra essa medida.
Mas, acima de tudo, casos como esses nos fazem questionar se o
encarceramento de jovens que cometeram alguns delitos e
profissionais do crime no mesmo local poderia apenas fabricar
novos Jungs e novos Nems da Rocinha.

O FURACÃO KATRINA E O SEU DESEMPENHO ESCOLAR

Sabemos que aqueles que estão a nossa volta têm capacidade de


influenciar más condutas em nossa vida. Foi essa a conclusão de
um estudo feito na Flórida. Seria o oposto também verdadeiro?
Os economistas Scott Carrell e Richard Fullerton realizaram um
estudo com 120 cadetes de uma mesma turma da Força Aérea
Americana. Os cadetes tinham um convívio intenso, alimentavam-se
juntos, participavam de competições esportivas, treinavam juntos e
viviam juntos. Os economistas descobriram que um ponto a mais na
média geral de determinada turma aumentava em aproximadamente
0,65 ponto a média de outro cadete.
Além das notas em sala de aula, os grupos mais bem preparados
fisicamente também incentivavam o cadete a aumentar sua própria
média dos testes físicos. Ou seja, há os Carlos Lehders do mal, mas
também há os Lehders do bem, que podem estimular bons hábitos
em nossa conduta. Por essa razão, é famosa a teoria de que somos
a média das cinco pessoas mais próximas de nós.
Há uma ressalva, porém. Segundo o estudo, apenas dividir um
mesmo quarto não é suficiente para trazer esse efeito benéfico.
Para que esse efeito seja transmitido aos demais, é necessária uma
convivência mais intensa. Um problema com esse estudo, no
entanto, é que a amostra de cadetes da Força Aérea Americana
pode não ser uma amostra aleatória, o que prejudica suas
conclusões. Os cadetes podem ter alguma característica específica
que fez com que a melhora nas notas tenha sido causada por outros
motivos, e não pelo efeito dos pares.
Além disso, analisar a influência do efeito dos pares é
extremamente difícil quando se tem a oportunidade de analisar
apenas o desempenho de alunos ano após ano dentro de uma
mesma turma. O aumento do desempenho poderia ter se dado, por
exemplo, pelo aumento do desempenho da turma como um todo,
graças a um excelente professor ou a uma melhoria na tecnologia
do material utilizado em sala de aula. Assim, o ideal seria analisar o
desempenho de um grupo de alunos novos que, por algum motivo,
fosse introduzido no meio do curso e compará-lo com turmas que
não tiveram alunos novos.
Economistas aproveitaram uma experiência natural como nunca
antes. Em agosto de 2005, o furacão Katrina passou por vários
estados norte-americanos, tornando-se o mais destrutivo da história
do país. Cerca de 80% da cidade de New Orleans, na Louisiana, e
também grande parte do Mississippi e do Alabama ficaram
alagados. Apenas algumas semanas depois, o estado da Louisiana
foi novamente açoitado, dessa vez pelo furacão Rita, que também
afetou o Texas. Embora tenha atingido uma área menos populosa,
esse segundo furacão também causou grandes danos à região. De
uma maneira cruel e inesperada, os furacões Rita e Katrina
forçaram mais de 1 milhão de norte-americanos a evacuar a região
em um dos mais rápidos processos de emigração de famílias na
história dos Estados Unidos.
Algumas áreas menos atingidas da Louisiana receberam grande
volume de pessoas evacuadas. A capital do estado, Baton Rouge,
recebeu mais de 200 mil pessoas, e Hammond acolheu mais de 10
mil, o que praticamente dobrou a população dessas cidades. Alguns
grupos resolveram ir para outros estados que não foram afetados.
Houston, no Texas, recebeu 75 mil pessoas, o segundo maior
número a ser recebido por uma cidade.
Como resultado desse movimento migratório, as escolas tiveram
que fazer grandes esforços para matricular as novas crianças a
tempo. Cento e oitenta e oito mil estudantes foram forçados a se
matricular. No entanto, enquanto Baton Rouge, Houston e outras
cidades passaram a receber um grande número de crianças e foram
vistas como exemplos de solidariedade, o fluxo desses novos
estudantes passou a ser visto com preocupação pela população
local. O medo deles era o efeito dos pares. As crianças das cidades
atingidas vieram de escolas de baixo desempenho no país, e os
pais das crianças locais começaram a temer que os filhos pudessem
ser afetados negativamente por esse fluxo de crianças que
apresentavam pior desempenho escolar.
Suponha que você seja um economista e queira avaliar se os pais
deveriam mesmo estar preocupados, ou seja, se crianças com baixo
desempenho escolar podem afetar o rendimento de seus filhos. A
primeira opção seria introduzir alunos de baixo desempenho em
escolas e então comparar seus resultados com os de escolas que
não receberam esses alunos. Obviamente essa não parece uma
saída possível.
A segunda opção seria comparar o rendimento dos alunos de uma
mesma escola de baixo desempenho com outras instituições de
melhor desempenho (uma escola chamada grupo de controle) em
diferentes anos. Digamos que escolas de periferia tiveram
resultados piores ao longo dos anos. Isso seria suficiente para
afirmar que alunos de escolas ruins afetam os demais? Com certeza
não! Não seria uma boa estratégia, pois esse desempenho pior
poderia ser causado por diversos motivos. Por exemplo, a
capacitação irregular dos professores dessas escolas, a baixa
frequência escolar dos alunos, uma infraestrutura pior, o material
com menos qualidade, entre inúmeros exemplos.
Mas, no caso do furacão, houve um evento inesperado, e o
processo de deslocamento populacional aconteceu de maneira
rápida e aleatória. Os estudantes não tinham a opção de selecionar
escolas baseando-se em características preexistentes. Esse, sim,
era um “experimento perfeito”. Uma vez que os estudantes tinham
sido alocados aleatoriamente, os pesquisadores poderiam comparar
o rendimento das escolas que receberam novos alunos com o de
escolas que não os receberam. Como essa recepção foi randômica,
é de se esperar que as escolas (as do grupo de controle e as com
novos alunos), na média, não eram muito diferentes entre si.
Portanto, a diferença de desempenho da escola de um ano para o
outro (em comparação com o grupo de controle) se daria somente
em razão dos novos alunos. É difícil pensar em um evento que
tenha provocado uma mudança tão grande, rápida e inesperada
para analisar os efeitos dos pares como os furacões Rita e Katrina.
Com esse experimento natural, três professores norte-americanos
analisaram os dados do distrito escolar de Houston e do
Departamento de Educação da Louisiana, e se perguntaram: o fluxo
de estudantes causado pelos furacões Katrina e Rita afetou a
performance acadêmica e a disciplina dos alunos locais (aqueles
que já estudavam nas escolas antes dos desastres)? Sim. A
chegada de novos alunos de baixo desempenho piorou o
comportamento e a assiduidade dos alunos locais. A boa notícia é
que tanto maus alunos impactam negativamente uma sala de aula
como bons alunos impactam positivamente.
Por quê? Por quais mecanismos ocorre esse fenômeno em sala
de aula? Isso se deve principalmente aos canais de distribuição de
conhecimento. Ou seja, em turmas melhores, alguns alunos passam
a instruir os outros. Se há melhores alunos, essa transmissão de
conhecimento é maior. Além disso, um elemento menos explorado é
o fato de que também há uma mudança na atmosfera da sala de
aula e nos recursos que os estudantes trazem de casa.
Três situações extremamente diferentes — a política de Tolerância
Zero de Rudolph Giuliani, o caso de George Jung e o evento dos
furacões Katrina e Rita — nos mostram a influência dos grupos. Mas
quais lições podemos tirar de tudo isso? Algumas.
Em primeiro lugar, podemos atacar uma causa ou um problema
maior apenas resolvendo eventualidades menores, como no caso
da Tolerância Zero de Rudolf Giuliani. Em segundo, força de
vontade e motivação intrínsecas são, sem sombra de dúvida,
importantes para atingirmos nossos objetivos. No entanto, o
ambiente que escolhemos inegavelmente também influencia nosso
sucesso. Por último, podemos influenciar nosso destino
simplesmente transformando o ambiente em que vivemos. Ele é o
grande responsável pelo que nós somos.

* Estudo recente promovido pela Economist Intelligence Unit.


** “Subiu o morro como Antônio, desceu como Nem da Rocinha”. Disponível
em:
<http://brasil.elpais.com/brasil/2016/06/17/cultura/1466188903_152620.html>.
Acesso em: 31 jul. 2017.
8. Validação social: Por que nos importamos
com a opinião dos outros?

A maioria das pessoas é outra pessoa. Seus pensamentos são


as opiniões de outras pessoas; suas vidas, uma imitação; suas
paixões, uma citação.
Oscar Wilde

Das 7h30 às 11h40 da manhã ela tinha aula, praticamente uma


atrás da outra. Todos os dias úteis. Além das aulas no colégio,
Verônica — um nome comprido demais para as bocas preguiçosas
dos colegas, que logo o transformaram em simplesmente Vê —
encontrava os amigos para os treinos de vôlei pelo time da escola
três vezes por semana. Havia certa ansiedade nos momentos que
precediam os treinos. Ninguém percebia, nem ela.
Era uma atividade lúdica para a maioria, mas não para Vê: os
treinos eram levados com um foco e uma seriedade que às vezes
faltavam em disciplinas mais complicadas como matemática e física.
Não que fosse uma aluna ruim, estava entre as melhores, mas havia
uma motivação curiosa nos treinos e jogos pelo time da escola que
por vezes faltava em sala de aula. Nem mesmo ela entendia,
embora, para ser justo, ela pouco se ocupasse em investigar as
causas. Simplesmente havia algo de desafiador ali que acabava
catalisando seu foco e sua dedicação. Verônica não era
particularmente alta entre as companheiras de time, tampouco tinha
a desenvoltura e a impulsão para cortar a bola com a velocidade e a
precisão que se esperam de atacantes de vôlei. Mas ela sabia que
tinha a destreza com as mãos, a inteligência espacial para elaborar
jogadas mentais e, desde que a bola fosse razoavelmente bem
colocada, executá-las com a precisão necessária para desmontar as
chances de bloqueio do time adversário. Sim, ela era a levantadora
do time. A centralidade da posição, o papel de arquiteto das jogadas
do time afagavam seu ego. Gostava do jogo, da posição que
ocupava, e jogava até nos dias em que não havia treino do time em
um clube de vôlei do bairro. Mas não era isso que estava por trás de
tamanha dedicação.
Carismática e grandalhona, Ana, a técnica do time da escola, era
admirada por todas. Seu nome verdadeiro era Svetlana, mas quase
ninguém na escola sabia. Natural da Rússia, migrou ainda pequena
com os pais para o Brasil quando a União Soviética começava a dar
sinais de colapso. Colocada na escola do bairro para onde os pais
se mudaram assim que chegaram a Curitiba, Svetlana logo
desenvolveu completo domínio da língua portuguesa. Ana tinha 1,90
metro de altura e, no vôlei, era um sucesso. Desde cedo, a elevada
estatura a fez se destacar nos times das escolas que frequentou.
Jogava muito bem e se tornou conhecida nas quadras da cidade.
Aos 22 anos, mudou-se para São Paulo a convite de um dos poucos
clubes profissionais que existiam no país. Aposentou-se como
jogadora aos 32 e foi contratada para ser treinadora do time de vôlei
de um dos colégios mais tradicionais de São Paulo com uma forte
tradição esportiva. Estava lá havia dois anos.
Ana tinha um problema com Verônica. Não acreditava que ela
reunia as habilidades para ser a levantadora titular do time. “É… Ela
levanta boas bolas, mas lhe falta habilidade para atacar e bloquear
alto, falta versatilidade para essa menina”, matutava a treinadora na
privacidade de seus pensamentos. Seu julgamento se manifestava
nos treinos e nos jogos amistosos preparatórios para a competição.
Todas as jogadoras reservas tinham a chance de jogar um set
inteiro, menos Verônica. A jovem entrava, fazia umas jogadas e,
depois de alguns pontos, voltava para o banco. Ana acenava para
Verônica com a mão erguida, à beira da quadra, em um sinal de
“sai, sai”. Não havia contato visual, nem sequer uma palavra de
motivação ou agradecimento. Ana costumava tocar as mãos e falar
pasibo para as outras jogadoras — uma corruptela de “obrigado” em
russo que preservara de sua língua materna. Verônica acreditava
que tinha o que precisava para ser a arquiteta do time. Sabia que
era boa jogadora, mas precisava do reconhecimento da treinadora.
O tratamento indiferente e o desprezo eram um combustível. Além
dos treinos, passava horas, até tarde da noite, assistindo a vídeos
de jogos de seleções europeias. Fazia anotações em um caderninho
reservado para isso. Repetia mentalmente as jogadas de que mais
gostava. Sua mãe tinha percebido os sinais de obsessão, mas
entendia que aquilo era parte de um teste de afirmação, natural da
adolescência.
Em um jogo amistoso contra uma escola rival, Verônica decidiu
tentar uma dessas jogadas complicadas que tinha visto em um jogo
da seleção russa. A jogada saiu errada e o time perdeu o set. A
treinadora chamou o time e, na frente de todas as demais, deu um
tapa na lateral da testa de Verônica: “Para de inventar, caramba, e
faz o básico!”. A motivação em buscar a validação da treinadora só
aumentava. Longe dos olhos da treinadora, nos treinos no clube do
bairro, Vê ensaiava com mais liberdade as jogadas diferentes e
mais complexas que tinha estudado, sem deixar, claro, de seguir
muitas das dicas de Ana. Nos treinos, o esforço começou a se
pagar: seu time, mesmo reserva, começava a derrotar o time
principal. As jogadas de Vê eram fundamentais para essa virada.
Suas mãos eram habilidosas, sempre enganando o bloqueio
adversário e deixando as atacantes praticamente sozinhas diante da
rede. Dar um tapa e colocar a bola no chão da quadra adversária
nessas condições era muito mais fácil.
Os jogos começaram e a escalação do time titular seria feita ali,
minutos antes do primeiro jogo. A equipe formava um círculo ao
redor da treinadora. Svetlana cedeu à evidência crescente nos
últimos meses e escalou Verônica no time principal. E lá estava a
validação, o reconhecimento que ela tanto buscava. Não só dos
olhos e dos gritos dos colegas de escola e familiares das
companheiras de time que costumavam ocupar um bom pedaço das
arquibancadas do pequeno ginásio que recebia os jogos, mas
também da treinadora. Claro que todas as jogadoras queriam um
lugar no time. Mas era o esforço extra, obsessivo, de Verônica que
intrigava. Obter o reconhecimento da treinadora, e não
simplesmente jogar no time principal, era a fonte de toda aquela
motivação desmesurada.
Por que buscamos o reconhecimento, a validação dos outros? No
caso de Verônica, a busca por essa validação foi obtida à custa de
sacrifícios pessoais — quantas coisas, afinal, ela poderia ter feito
em todas aquelas tardes e noites gastas na busca obcecada por se
aperfeiçoar e, após conquistar a titularidade no time, receber a
aprovação da treinadora? Será que essa dependência da opinião
alheia não passa de um resquício de nossa experiência na infância,
quando usamos a aprovação materna e paterna como uma régua de
adequabilidade de nossos comportamentos?
No capítulo 6 falamos de um estudo que evidencia que as pessoas
valorizam status e, para sinalizá-lo, usam o consumo de bens
considerados supérfluos — o prestígio entendido aqui como posição
relativa na distribuição de renda. Há algo em comum tanto nessa
história de consumo conspícuo como na história de Verônica. Nos
dois casos, há uma influência sutil, mas poderosa, da opinião de
terceiros sobre o comportamento dos agentes envolvidos: uma
sacrificou tempo para ficar bem aos olhos da treinadora, os outros
às vezes gastam mais do que podem para ficar bem aos olhos de
um outro indefinido e impessoal.
Nem sempre nos deixamos influenciar pela opinião alheia por
razões supostamente superficiais. Às vezes, ficamos abertos à
influência de outras pessoas para nos aproveitarmos de um canal
de aprendizado. Suponhamos que você esteja diante de uma
daquelas máquinas de vários tipos de refrigerante ou de um
refrigerador de supermercado com vários sabores de sorvete
organizados por marca. É frequente nessas situações que usemos o
sabor/marca mais escasso no refrigerador como um indicador de
qualidade. Nesse exercício de buscar informação, acabamos
reproduzindo algum grau de conformidade — uma forma de
influência social na qual tendemos a nos comportar como as
pessoas de certo grupo social.
Esse exemplo é menos pessoal e anedótico do que parece. Em
2006, os professores de economia Hongbin Cai, Yuyu Chen e
Hanming Fang fizeram o seguinte experimento em uma rede de
restaurantes em Beijing, na China. Cada pessoa ou grupo que
aparecia nos restaurantes da rede era aleatoriamente colocada para
jantar em um dos três tipos de mesa:
1) Uma mesa padrão, onde nenhuma informação era oferecida
além daquela contida no (extenso) menu do restaurante;
2) Uma mesa onde havia uma pequena placa de plástico
indicando, em ordem, o nome dos cinco pratos mais vendidos;
3) Uma mesa onde havia uma pequena placa de plástico
indicando o nome de cinco pratos aleatoriamente escolhidos do
menu.
O experimento ocorreu em treze locais da cidade. Em cada um,
havia em média cinquenta mesas e todos os menus eram idênticos,
com cerca de sessenta opções de refeições quentes. Ao final do
experimento, Hongbin e seus colegas tinham coletado informações
de mais de 6 mil pessoas que visitaram as unidades da rede de
restaurantes e participaram, sem saber, fazendo a refeição em uma
das três condições anteriores.
O resultado encontrado é surpreendente. As vendas dos cinco
pratos mais populares aumentaram, em média, em torno de 13% e
20% entre os consumidores que sentavam às mesas com as placas
indicando que tais refeições eram as mais vendidas. Nenhum
aumento estatisticamente significativo foi observado na venda dos
pratos que eram apresentados em destaque aos clientes, mas sem
a informação de que estavam entre os mais pedidos (três dos cinco
eram de fato os mais populares no local, mas isso não era
revelado). O estudo mostrou ainda que a satisfação dos clientes
com a experiência no restaurante era maior entre aqueles que se
sentaram à mesa com a sugestão das refeições mais procuradas.
Seguimos os outros também para nos informarmos. É algo que
ajuda, diminuindo a dificuldade de decidir com pouca ou nenhuma
informação. O resultado do experimento não ilustra uma trivialidade.
Mais do que corroborar de forma mais rigorosa nossa tendência a
seguir os outros, é uma evidência importante da possibilidade de
aprendizado à distância, por mera observação. Não é pouca coisa
saber que é possível acelerar a adoção de certas tecnologias e
práticas apenas comunicando sua popularidade.
Foi exatamente isso que Robert Cialdini — famoso por seus livros
sobre persuasão —, Vladas Griskevicius e Noah Goldstein
observaram. Intrigados com o possível poder persuasivo de
mensagens em cartões nos quartos de hotel convidando hóspedes
a reutilizarem suas toalhas durante a estada, eles investigaram o
que aconteceria se, em vez de falarem dos benefícios ambientais,
as mensagens informassem que outras pessoas estavam
colaborando com esse tipo de campanha.
No estudo, tudo o que fizeram foi colocar em cada quarto um
cartaz informando quanto dos ocupantes prévios reutilizaram suas
toalhas e, assim, adotaram uma atitude com mais consciência
ambiental. As pessoas que se hospedaram nos quartos com essa
informação tinham 26% mais probabilidade de reutilizar as toalhas
do que os hóspedes em quartos com a mensagem padrão que
apela apenas para os benefícios ambientais. Mais uma vez, não se
trata necessariamente de seguir a esmo a opinião dos outros, mas
de utilizá-la quando estamos incertos sobre como agir.
A história de Verônica e sua preocupação em obter o apreço de
sua treinadora não são, como nesse caso dos hóspedes, uma
tentativa de resolver uma incerteza sobre como se comportar, mas
uma ilustração em um plano pessoal e diminuto, dado que envolve
apenas uma pessoa com a força que a opinião de outros pode ter
sobre nosso comportamento — ainda que a motivação para esses
comportamentos varie bastante de situação para situação, de
pessoa para pessoa. O que há de comum entre essas histórias é o
poder persuasivo que terceiros podem ter sobre nós,
frequentemente de forma sutil e despercebida. Provavelmente, nem
Verônica, nem os hóspedes do hotel, nem os comensais do
restaurante reconheceriam que suas escolhas estão sendo
governadas pela opinião de outras pessoas.

REDES SOCIAIS E UMA REALIDADE BLACK MIRROR

Nem sempre a conformidade é um subproduto de aprendizado


observacional. Às vezes, conformidade é uma questão de
sobrevivência. Veja o caso, por exemplo, dos motoristas da Uber,
aplicativo de celular que quebrou o monopólio dos taxistas no
transporte privado urbano. A Uber permite que seus motoristas e
usuários avaliem uns aos outros — muito embora o interesse aqui
seja a opinião do lado dos consumidores, que avaliam os motoristas
que prestam o serviço. Notas de 1 a 5 estrelas podem ser
atribuídas, e motoristas mal avaliados são simplesmente desligados
da plataforma. Ser querido, nesse contexto, é simplesmente vital,
pois pode fazer uma diferença de dezenas de milhares de reais ao
fim do ano.
Como seria se muito do que fazemos dependesse da avaliação
social das pessoas com quem interagimos? Imagine um mundo
onde podemos dar de 1 a 5 estrelas aos vendedores que nos
atendem, aos colegas com quem trabalhamos, aos professores e
alunos que temos, às pessoas com quem cruzamos na rua? A
simplesmente todo mundo, o tempo todo, por absolutamente
qualquer coisa. A uma foto bonita que postamos em nosso perfil na
rede, uma atitude grosseira, um atraso no encontro marcado com
um cliente, uma citação do livro que estamos lendo, as fotos de uma
viagem, enfim, qualquer coisa. A ideia parece estranha, mas não de
todo implausível. Porque é exatamente isso que, em alguma
medida, já experimentamos no Facebook. Mas e se nesse mundo
essas avaliações servissem para construir uma nota global de nós
mesmos? Uns seriam 2,5 estrelas, outros, 4,2 estrelas, e os menos
socialmente queridos estariam mais próximos de zero estrela. Não
paremos aí: e se nossas notas fossem utilizadas para determinar se
poderíamos voar de avião, o tipo de carro que poderíamos alugar, o
modelo de financiamento imobiliário que teríamos ou até se
seríamos dignos de ganhar uma carona? Ou seja, e se nossa nota
social nesse grande Facebook do qual todos fazem parte fosse
utilizada para determinar o tipo de bens e serviços a que teríamos
acesso? Para determinar que classe de cidadão seríamos?
É precisamente nesse tipo de mundo que vive Lacie Pound, a
jovem e bonita personagem obcecada em sua nota nessa realidade
explorada em um dos episódios de Black Mirror, série da Netflix.
Lacie planeja alugar um apartamento para não ter mais que morar
com o irmão, que goza de nota social pior do que a dela. No
entanto, para pagar o aluguel da cara moradia de luxo que
escolheu, Lacie precisa ter uma nota acima de 4,5 estrelas. Após
contratar uma consultoria especializada em traçar uma radiografia
de sua nota social para criar um plano estratégico que eleve seu
nível, Lacie recebe um convite para ser madrinha de honra de uma
amiga popular e socialmente bem avaliada. É a oportunidade para
conquistar a nota de que precisa. Embora a história contada no
episódio trate de uma realidade distópica, há dois elementos nesse
universo que são menos ficcionais do que talvez queiramos admitir.
O primeiro diz respeito à busca por aprovação social e à
importância de associar-se a pessoas de status mais elevado. Jan
Kornelis Dijkstra, professor do Departamento de Ciências
Comportamentais e Sociais da Universidade de Groningen,
Holanda, uniu-se aos colegas para pesquisar como é o processo de
se tornar popular e querido entre os adolescentes do ensino médio.
Eles obtiveram dados sobre as redes sociais que os estudantes
haviam formado ao longo do tempo. Com tais dados era possível
testar a importância da influência e da similaridade de popularidade
social no processo de seleção entre os amigos. Os resultados
sugerem que os alunos preferiam se associar a outros de status
similar ou superior. O resultado ajuda a entender por que a
popularidade dos adolescentes tendia a se reforçar e a se manter
relativamente estável. Os autores também mostram como os
adolescentes mais populares mantêm a popularidade se afastando
de colegas de status mais baixo. Conquanto seja um único estudo,
não há razão para acreditar que não exista certa ubiquidade no que
foi observado aqui: buscamos ser queridos por associação aos que
gozam de alguma forma de popularidade. Não é por acaso que
artistas de TV e cinema recebem elevados cachês para associar
seus nomes a produtos e comparecer a certos eventos.
O segundo aspecto é que já impusemos algum tipo de punição
social àqueles que se desviam das normas sociais que praticamos.
Xingamos publicamente políticos envolvidos em casos de corrupção
e somos igualmente exaltados com aqueles que praticam alguma
violação de trânsito. Não chegamos a ponto de manter uma nota
pública e deduzir pontos por tais violações, restringindo o acesso de
outros indivíduos a bens e serviços. Mas também não é óbvio que a
existência de um sistema desses de notas em larga escala fosse
inteiramente indesejável como a história parece querer sugerir —
dado que gera um universo de relações padronizadas e pouco
genuínas entre as pessoas. Um sistema de avaliação social que
tivesse tamanha importância em nosso acesso a serviços e nossas
relações de trabalho poderia gerar algum grau de normatização
civilizatória do uso dos espaços públicos. Poderia também, pela
importância que teria, dar origem a um mercado de “likes” que, se
legalizado, teria interessantes implicações sobre a distribuição de
renda. Não é nada muito diferente, em certo sentido, de como
funciona a determinação de cachê de artistas e celebridades nos
mais variados segmentos pela sua participação em eventos
publicitários de inúmeras plataformas. Mas estamos apenas
especulando aqui, dado que as implicações completas e os efeitos
líquidos de um sistema desses em nossa vida são muitos difíceis de
prever. O ponto é que mecanismos similares já operam em nossas
relações. E algo muito similar ocorre dentro do universo de nossa
mais famosa rede social, o Facebook.
Considerando, aliás, que o Facebook fatura pela audiência que
tem e que a audiência depende do conteúdo que divulgamos e da
abrangência de visualização que esse conteúdo terá (ou seja, do
número de amigos na rede de cada um), vale perguntar o seguinte:
por que criamos conteúdo para o Facebook?

POR QUE CRIAMOS CONTEÚDO PARA O FACEBOOK?

Alívio. Senso de cooperação. Deve ser mais ou menos assim que


muita gente que comenta no Facebook se sente ao publicar em sua
timeline suas ideias, opiniões e frustrações sobre os mais variados
assuntos. Mas não se trata apenas de um exercício, talvez
terapêutico, de expurgo e divulgação de ideias. Há também os que
apenas fazem uma espécie de trabalho de curadoria,
compartilhando notícias, músicas, vídeos engraçados e toda sorte
de material encontrado na rede que julgam interessante — e
raramente duvidamos de que o que nos agrada é interessante.
É bem provável, aliás, que esse trabalho de curadoria
representasse a funcionalidade central do Facebook na visão de
seus criadores: ser uma espécie de revista com conteúdo
selecionado por quem mais provavelmente compartilha nossos
interesses e preferências, ou seja, nossos amigos e familiares.
Esse serviço de garimpagem pode ser visto como um bem público,
pois contribuiríamos todos com esse esforço procurando coisas
interessantes da internet para a construção desse jornal
ultrapersonalizado. Quanto mais coletivo e generalizado fosse esse
esforço, melhor, mais diversificado e rico seria esse canal de
notícias continuamente atualizado que o Facebook tem também a
intenção de ser.
É verdade que, na prática, as coisas não funcionam assim. Nem
todo mundo que está em sua rede de amigos acaba de fato
contribuindo com o conteúdo de sua timeline, nem todo conteúdo
que aparece é necessariamente algo de seu interesse. Mas nisso
reside algo curioso, pois a falta de contribuição de muitas pessoas
não desestimula outras a gerar conteúdo com frequência. É
provável que você não veja nada de estranho nisso. Afinal, por que
esperar que todos os usuários fossem ativos? Como é comum,
talvez uma fração relativamente pequena de seus amigos seja
responsável pela geração de uma fração relativamente grande dos
posts que aparecem em sua timeline.
Fora do universo do Facebook, essa prática de apenas consumir o
que outros oferecem e não fazer o mesmo tem efeitos claros e
conhecidos: as contribuições cessarão e o serviço simplesmente
deixará de existir. Em economia, chamamos isso de “o problema do
carona”, e é ele que está por trás da obrigatoriedade de muitos
impostos que pagamos para financiar a oferta de certos serviços
públicos. É, portanto, absolutamente curioso que a atitude de “pegar
carona” não inviabilize o Facebook da mesma forma que inviabiliza
a oferta privada de certos bens e serviços. Há uma longa literatura
experimental sobre cooperação e bens públicos nos quais já está
bem documentado que, sem algum mecanismo de coerção/punição,
a provisão de bens públicos raramente se sustenta diante da
percepção de que nem todos estão contribuindo com algum tipo de
esforço para sua oferta. Sabe-se também que a atitude cooperativa
é condicional. Se há muitos free riders, os cooperadores
simplesmente desistem de contribuir.
Por que então a falta de cooperação de muitos em garimpar
conteúdo para o Facebook não provoca, de forma gradual, a
desistência dos relativamente poucos usuários que cooperam,
levando a plataforma, enquanto bem público, a um contínuo
declínio? Há, é claro, uma infinidade de possíveis explicações para
o fenômeno. Uma resposta de natureza econômica um tanto
simples é que algumas pessoas simplesmente veem utilidade nessa
contribuição unilateral. Seriam os tipos altruístas com os quais a
rede social se sustenta. O funcionamento da rede estaria então
explorando a heterogeneidade de “tipos” da população, na qual
algumas pessoas gostam da ideia de ser os mantenedores de um
bem público que todos consomem.
Outra explicação, mas de natureza mais psicológica, é que
algumas pessoas simplesmente gostam da atenção que uma
postagem pode gerar. Não haveria, portanto, nada de altruísta no
ato de postar conteúdo. Você seria pago na forma de “likes”, a
moeda da atenção no universo do Facebook. Um nível exagerado
dessa busca por atenção é classificado pelos psicólogos como um
transtorno de personalidade histriônica. Postar na rede de forma
regular e quase incessante — há sempre algumas pessoas que
parecem morar dentro da rede, tamanha é a frequência com que
publicam algo —, independentemente do conteúdo, pode ser
apenas um mecanismo para lidar com a sede por atenção. Imagina-
se que 1,8% da população tenha esse transtorno de personalidade.
Se os usuários do Facebook forem representativos da população
mundial, estamos falando aí de 30 milhões de pessoas gerando
conteúdo independentemente do esforço de quase 1,7 bilhão de
pessoas. No Brasil, levando em conta que temos cerca de 92
milhões de usuários, seriam 1,6 milhão de pessoas gerando quase
todo o conteúdo de nossa timeline. É bastante gente para manter
um bem público.
Não há fórmulas exatas para ser querido e ganhar popularidade. É
algo incerto e meio elusivo. Nem por isso essa busca cessará de ter
apelo. Estão aí as tribos de adolescentes com códigos de
vestimenta e atitudes para ilustrar isso. Popularidade confere status
social, e status social confere algum tipo de privilégio sobre recursos
escassos. Nessa busca por ser adorado e aceito, acabamos
seguindo o comportamento da maioria. Perdemos com isso um
pouco de nossa singularidade emotiva e comportamental, mas
também facilitamos nossa vida no processo complicado e nebuloso
de navegar contextos de escolha tão novos quanto distintos.
9. Como as emoções afetam nossas
decisões?

As emoções ensinaram a humanidade a raciocinar.


Luc de Clapiers

Daniel era consumido pela indecisão. Pelo menos naquele instante


era assim que se sentia. Estava dividido entre a profusão de
sentimentos que emergiam quando considerava as escolhas que
tinha diante de si: ceder à força do amor que surgia entre ele e
Catarina ou cessar o relacionamento antes que fossem descobertos
e os efeitos sobre sua carreira, tão custosos quanto certos, se
materializassem? Qualquer que fosse a direção a tomar, algum
sofrimento parecia inevitável.
Daniel não era propenso à contemplação prolongada dos dilemas
que costumam se entrelaçar em nossas escolhas. Odiava
incertezas. Nos restaurantes, tinha o hábito de sempre entrevistar o
garçom antes de passar os olhos sobre o cardápio.
“Boa noite, tudo bem?”, perguntava despretensiosamente ao
garçom, sem esperar nada muito além de uma resposta curta e
convencional.
“Tudo bem”, respondia o garçom, com um entusiasmo pouco
sincero.
“Qual a entrada e o prato principal que mais saem aqui?”,
perguntava Daniel.
“Salada de folhas com figo grelhado, queijo gorgonzola e presunto
cru de entrada, e o prato que mais sai é o de paleta de cordeiro
assada com legumes ao molho de ervas”, respondia prontamente o
garçom.
E essa foi a opção que Daniel escolheu. E quase sempre era
assim: qual fosse o pedido mais popular era sua escolha também.
Não queria “errar” e tampouco gastar tempo tentando adivinhar o
sabor e a aparência das inúmeras opções do menu.
Barry Schwartz, psicólogo americano, tem uma teoria que talvez
explique o comportamento apressado e objetivo de Daniel nos
restaurantes. No livro O paradoxo da escolha, Schwartz argumenta
de forma persuasiva que a abundância de opções pode ser uma
fonte de depressão e angústia. Na ânsia de averiguar com alguma
seriedade todos os cursos de ação possíveis nas escolhas diárias
com que nos deparamos, acabamos psicologicamente
sobrecarregados e aumentamos o risco de nos sentirmos
insatisfeitos com as escolhas que fazemos. Reduzir as opções,
adotando regras que simplifiquem e agilizem a tomada de decisão,
teria, portanto, o efeito de mitigar o desconforto mental de avaliar
tanta variedade — ainda que tivesse como subproduto o efeito de
nos distanciar do que seria um processo irrestritamente otimizado
de escolha. Não queremos, talvez, fazer a escolha ótima, apenas
fazer uma escolha satisfatória, como preconizava Herbert Simon,
economista, psicólogo, cientista da computação e ganhador do
Nobel de Economia em 1978 por suas contribuições para a área de
tomada de decisões e, em particular, suas ideias sobre
racionalidade limitada. A escolha de Daniel parece preguiçosa e
desinteressada, mas teria uma estratégia subjacente absolutamente
racional. Era como gostava de pensar suas decisões: racionais.
Sempre.
Professor recém-contratado do departamento de estatística da
universidade mais antiga e com a melhor reputação do país, Daniel
estava sempre pensando em trabalho. Passava quase o tempo todo
imerso no mundo do raciocínio disciplinado e lógico da matemática,
no qual os problemas se resolviam de forma direta e sem a
influência de nenhum tipo de emoção. Mas Daniel tinha agora um
problema intrincado sem solução aparente e totalmente carregado
de emoções.
Catarina era aluna do terceiro ano do doutorado. Considerada
brilhante entre os alunos daquela safra, ela destoava das demais
estudantes em extroversão e simpatia — era sorridente, bem-
humorada e comunicativa. Ninguém falava abertamente, mas
Catarina tinha um corpo escultural. No universo acadêmico, no qual
a régua da habilidade cognitiva mede as pessoas, havia certo
desprezo pela aparência. Mas a elegância de Catarina não passava
despercebida.
Cerca de um ano antes, Catarina procurou Daniel para que ele
fosse orientador de sua tese. Como já sabia dos rumores acerca da
inteligência de Catarina, Daniel aceitou sem grande hesitação. Logo
após a reunião, Daniel, sozinho em sua sala, tentou suprimir
qualquer pensamento que o fizesse desconfiar que foi outra coisa —
e não a interseção de interesse de pesquisa e a inteligência de
Catarina — que governou sua decisão. Mas era difícil não se
encantar com a beleza de Catarina.
Depois que aceitou orientá-la, os dois começaram a se encontrar a
cada três semanas. Ela entremeava as conversas “técnicas” com as
dificuldades pessoais que enfrentava para fazer o trabalho — as
noites de pouco sono, o isolamento, a distância da família. Daniel
simpatizava com tudo aquilo e oferecia uma ou outra palavra de
conforto. No silêncio que às vezes se estabelecia entre os dois
enquanto pensavam em alguma questão da tese, os olhares se
encontravam: ela esperando uma resposta, ele pensando em uma.
Certo dia, os lábios que tocavam o rosto um do outro para um beijo
cordial de despedida, como sempre faziam ao fim de cada reunião,
inesperadamente se encontraram no meio do caminho. Isso se
repetiu em outras reuniões. E não demorou para que começassem a
se encontrar na casa um do outro. Estavam apaixonados.
Havia ternura e amor em como falavam entre si, mas também
muito medo. Daniel sabia que sua carreira estava em risco. Embora
o regulamento da universidade não falasse nada sobre relações
amorosas entre professor e aluno, sua reputação e a de Catarina
ficariam seriamente abaladas se a história se tornasse pública. E
ficava cada vez mais difícil esconder o que se passava entre os
dois.
O fim de semana tinha sido esplêndido. No domingo, por exemplo,
passaram toda a manhã num parque que havia perto do campus,
deitados um ao lado do outro, trocando carícias e impressões do
livro que liam ali deitados. Para Daniel, o momento era uma
despedida. Na manhã da terça-feira, Catarina recebeu um e-mail de
Daniel lhe comunicando que não podiam mais se encontrar, que ele
não seria mais seu orientador e que outro professor seria indicado
para substituí-lo. Eles nunca mais se viram.
Daniel se convenceu de que tomara uma decisão racional —
afastar-se da paixão que parecia nublar seu pensamento. Será que,
ao tentar bloquear a influência das emoções — da paixão e do afeto
por Catarina —, Daniel tomou a melhor decisão?

O PAPEL DAS EMOÇÕES NAS NOSSAS DECISÕES

Daniel pode estar equivocado, mas não está sozinho na avaliação


de que uma decisão verdadeiramente “racional” não se sujeita à
influência das emoções, com frequência descrita como nociva. Há
alguma razão em pensar assim. Hoje, existe uma infinidade de
pesquisas científicas que indicam que fatores viscerais como
emoções negativas (ansiedade e medo), desejos (fome, sede, sexo)
e sensações físicas (dor) são capazes de alterar nossas escolhas
de forma veloz e irregular. É o oposto do que uma escolha racional e
ancorada em preferências genuínas, supostamente estáveis e
consistentes, deveria parecer: clara, certa e imutável diante de
pequenas alterações no contexto. Mas será possível remover as
emoções de nossas decisões, ou elas são uma parte indissociável,
e talvez útil, de nossas escolhas? E se escolhas livres de emoção
não forem possíveis, será que ao menos conseguimos controlar que
tipos de emoções guiariam nossa tomada de decisão?
É comum interpretarmos nosso comportamento como o produto de
uma escolha deliberada, provocado por processos cognitivos
sofisticados e feitos na transparência de nossa consciência.
Ignoramos o papel de fatores viscerais como o medo, o desejo e a
dor. E, mesmo quando percebemos a presença deles, tendemos a
nos convencer de que sua influência é incidental, provocada por
detalhes do contexto que provavelmente terão pouca relevância
para a nossa satisfação quando as consequências da decisão se
materializarem. Tentamos, portanto, isolar nossas escolhas de
emoções imediatas — sem entrar no mérito aqui do quão bem-
sucedidos somos nessa tarefa.
Não por acaso o papel das emoções em nossas escolhas foi por
muito tempo negligenciado pela economia — uma disciplina central,
ao lado da psicologia, nas teorias de decisão. É verdade que nem
sempre foi assim, e autores do século XVII, como Adam Smith e
Jeremy Bentham, davam às emoções um papel de destaque nos
manuscritos de teoria econômica que escreveram. Mas a emoção
parecia algo fugaz e imprevisível, de difícil teorização, para que
coubesse nas abordagens mais formais que foram se consolidando
na disciplina ao longo dos dois séculos seguintes. E, de fato, muito
da teorização feita por economistas sobre como decidimos ainda
reflete uma visão consequencialista. Trata-se de uma visão que
enxerga nossas decisões como produto de uma conta matemática
que pondera, de um lado, a satisfação (ou utilidade) das
consequências e, de outro, a probabilidade de cada consequência
acontecer. As emoções não fariam parte dessas contas
matemáticas subjetivas, de modo que as escolhas seriam um
processo puramente cognitivo, como contas matemáticas costumam
ser.
Em anos recentes, no entanto, o papel das emoções nas escolhas
começou a ser pesquisado de maneira mais sistemática e frequente
por pesquisadores nas mais diversas áreas — psicologia, economia
e neurologia, por exemplo. Hoje, a compreensão comum entre os
que pesquisam o tema é de que as emoções são forças importantes
que governam nossas principais decisões. Mais do que isso,
entende-se hoje que as emoções podem, na verdade, ser benéficas
às nossas decisões, produzindo escolhas melhores do que seriam
se nosso processo decisório fosse governado apenas pela razão.

DECISÕES SEM EMOÇÕES E O EFEITO CONTAMINAÇÃO


Emoções nos guiam sobre a desejabilidade das opções com as
quais nos deparamos no processo contínuo e diário de fazer
escolhas — desejabilidade aqui entendida como o grau de
satisfação esperado com as consequências das opções a nossa
frente. Nesse sentido, as emoções serviriam como uma espécie de
guia que, ao prover algum tipo de reação afetiva sobre as possíveis
deliberações envolvidas em um dilema, nos ajuda a fazer escolhas
mais equilibradas. É uma hipótese que, se correta, tem uma
implicação clara: se fôssemos incapazes de sentir emoção, faríamos
escolhas piores.
A ideia de que as emoções são parte necessária e importante do
processo decisório é mais revolucionária do que parece. Ela desafia
a forma consequencialista como as decisões são construídas nos
modelos da ciência econômica, na medida em que dá um papel de
protagonista às emoções. É como se as emoções fossem os pneus
que fazem o carro — nossa cognição — andar. A ideia de que as
emoções são parte integral de um processo racional de escolha
desafia também a forma como elas foram tratadas na história de
nossos grandes escritores. Oscar Wilde, por exemplo, expressou
preocupação com a influência das emoções em nossa vida: “Eu não
quero ficar à mercê das minhas emoções. Eu quero usá-las,
aproveitá-las e dominá-las”.
António Damásio e seus colegas se puseram a testar a teoria.
Damásio é professor de neurociência, psicologia e filosofia da
Universidade da Carolina do Sul, nos Estados Unidos, e tem
dedicado boa parte de sua vida profissional a entender o papel das
emoções em nossas escolhas. Ele é certamente um dos
pesquisadores mais prolíficos do mundo no assunto. Mas como
testar tal ideia? Damásio e os colegas sabiam que indivíduos com
certas áreas danificadas do cérebro eram incapazes de sentir
emoções — danos nas áreas pré-frontal do córtex e na amígdala,
uma seção em forma de amêndoa na parte inferior do cérebro
responsável pela regulação de nosso comportamento sexual e pelo
conteúdo emocional de nossas memórias. Investigar o processo
decisório de indivíduos com esse tipo de lesão cerebral e, portanto,
emocionalmente deficientes oferecia uma oportunidade de entender
um pouco como as emoções afetam nossas escolhas. Em um
estudo experimental, Damásio e os colegas compararam escolhas
que envolviam risco de um grupo de pacientes sadios, como um
grupo de controle, com as de um grupo de pacientes com lesões
cerebrais que os impediam de sentir algum tipo de emoção ou
tinham essa habilidade reduzida. Os pacientes tinham idades entre
dezenove e 58 anos, entre oito e dezoito anos de educação e QI
entre 88 e 116. Os participantes com lesões cerebrais fizeram
escolhas mais arriscadas, inclusive ao ponto de falência — mesmo
entendendo que não estavam tomando as melhores decisões
possíveis. A explicação é que esses indivíduos não experimentam
as sinalizações emocionais que levam pessoas sadias a sentir um
relativo medo de correr riscos — ainda que o mecanismo seja
diferente entre os dois tipos de lesões investigadas. O resultado,
repetido em outros estudos, ofereceu suporte empírico para o
entendimento hoje comum de que as emoções ajudam em nossas
decisões. Como essas reações emocionais são mais rápidas do que
as avaliações cognitivas, acredita-se que elas sirvam para oferecer
alguma avaliação inicial das opções que temos quando estamos
diante de um problema de escolha ou mesmo para “pôr foco” em
nosso raciocínio em aspectos prioritários, como quando a ansiedade
causada por um trabalho escolar que precisa ser entregue em
poucos dias nos ajuda a decidir como alocar o tempo nesse prazo
apertado.
Emoções tendem a provocar reações comportamentais e
fisiológicas tão fortes que podem permanecer presentes mesmo em
escolhas diferentes e não relacionadas à escolha que deu origem à
emoção. É como se as reações emocionais, uma vez existentes,
saíssem contaminando boa parte das escolhas subsequentes que
fazemos. Assustador, não?
Esse efeito parece explicar algumas situações intrigantes de nosso
dia a dia. Quem nunca, por exemplo, ficou sem entender as
discussões entre parceiros (namorados ou casados) que parecem
surgir do nada, mas que, talvez não coincidentemente, surgem no
mesmo período em que um ou ambos estão passando por
momentos de estresse e conflito no ambiente de trabalho? Quem
também nunca ficou sem entender o mau humor de uma atendente
de guichê de aeroporto ou de um telefonista de call center mesmo
quando somos afáveis e educados? O que esse “efeito
contaminação” das emoções sugere é que a raiva causada pela
interação com um cliente — que foi grosseiro, por exemplo —
produzirá um motivo para descontar a raiva em outros indivíduos
que nada tiveram a ver com o episódio inicial.
A influência do humor em nosso julgamento é tão comum que é
capaz de se manifestar em níveis mais agregados de
comportamento. Em dias ensolarados, por exemplo, os indicadores
diários da bolsa de valores são sistematicamente melhores. E isso
não é específico de um ou outro país com relativamente pouca
incidência de luz: a correlação foi documentada em 26 países,
incluindo da América do Sul. Curiosamente, um bom volume de
negócios não é a única coisa com a qual a quantidade de luz solar
está correlacionada. Muito antes dessa descoberta, estudos feitos
por psicólogos já relatavam a existência de uma correlação da luz
solar com outros comportamentos, como a quantidade de gorjetas
recebida e a incidência de depressão e suicídio — a relação entre
luz solar e comportamento está, ao que tudo indica, mediada pelo
efeito que a exposição à luz tem na produção de hormônios
neurotransmissores, como a serotonina, que regula humor,
ansiedade, libido e até o funcionamento do intestino.
Como o comportamento do mercado de ações é produto da
decisão individual de muitas pessoas, é provável que nossos
estados emocionais se transmitam a outros numa espécie de
contágio. Em 2013, o Facebook realizou um experimento com mais
de meio milhão de usuários da rede no qual manipulava o conteúdo
emocional das mensagens que apareceriam na timeline das
pessoas. Reduzia a quantidade de mensagens negativas para um
grupo e de mensagens positivas para outro. Os resultados
mostraram que aqueles que visualizavam menos posts com
conteúdo positivo passaram também a escrever menos posts com
conteúdo positivo e mais posts negativos. O oposto ocorreu com os
que receberam postagens com menos conteúdo negativo. A
realização do experimento, sem que os usuários soubessem que
dele participavam, gerou uma massiva reação negativa da
imprensa. É provável que o Facebook pense duas vezes antes de
fazer novos experimentos psicológicos entre seus usuários, não
tanto pelas questões de privacidade e consentimento —
provavelmente obtido nos “termos e condições” minúsculos que
nunca lemos —, mas pelos próprios resultados do estudo, que
mostram que nosso humor pode ser contagioso! Dado que nossos
estados afetivos modificam nosso comportamento real, esse é o tipo
de experimento que pode ter repercussões sérias demais para ser
feito em uma escala tão grande. Não por acaso o Facebook pediu
desculpas e, desde então, nunca mais soubemos de experiências
similares dentro da rede social.

PODEMOS CONTROLAR NOSSAS EMOÇÕES?

A fotografia que temos hoje da função das emoções é bem


diferente da crença comum de que sua influência é estritamente
nociva. As emoções são guias importantes de nosso
comportamento, verdadeiras muletas decisórias que nos ajudam a
fazer uma rápida avaliação das opções disponíveis diante de um
problema. É igualmente útil quando navegamos no universo social,
identificando intenções, construindo relações e resolvendo conflitos
interpessoais. Até mesmo emoções negativas, como medo e raiva,
podem ser valiosas, na medida em que sinalizam a existência de
alguma ameaça e nos levam a um nível maior de vigilância e
raciocínio sistemático.
Mas as emoções também podem atrapalhar — não ajuda muito,
por exemplo, tomar decisões de investimento em meio à ansiedade.
E os psicólogos mapearam algumas estratégias que, segundo as
evidências, ajudam a mitigar os efeitos mais nocivos das emoções
em nossas escolhas. Algumas são intuitivas e prontamente
identificadas como formas óbvias de não deixar as emoções nos
causarem problemas. Outras nem tanto. Falaremos de três.
A primeira é simplesmente deixar o tempo passar. Sim, dar um
tempo. É a forma mais simples de sairmos de um estado emocional
que parece incidental e contraprodutivo. Não é por acaso que, no
meio de uma discussão acalorada de um casal, é sempre
recomendável dar um tempo para esfriar a cabeça. Mas
implementar esse tipo de estratégia é mais difícil do que parece.
São comuns os casos de assassinato passional entre parceiros
quando um descobre que estava sendo traído. Elize Matsunaga, por
exemplo, matou com um tiro à queima-roupa e esquartejou o corpo
do marido depois de descobrir sua traição. Não reagir de forma
claramente emocional, no calor do momento, parece ser a coisa
certa a ser feita. Mas esperar por um estado neuronal em condições
normais diante de situações como essa parece violar alguma lógica
interna desses estados emocionais, que demandam algum tipo de
resposta comportamental. Tomada de ira, a mulher matou o marido.
Em seu julgamento, ela se disse arrependida e, chorando,
arrematou: “Eu não estava normal naquela hora”. Não se sabe se
isso foi uma atenuante. Pelo assassinato, Elize foi condenada a
dezenove anos e onze meses de prisão.
A segunda estratégia seria simplesmente reavaliar o evento que
produziu as emoções. A ideia aqui é diminuir o aspecto negativo e
aumentar o aspecto positivo do evento. Parece autoengano, mas na
verdade é uma forma de colocar as coisas em perspectiva. Um
exemplo dessa estratégia aparece no filme Amor sem escalas. No
filme, George Clooney faz o papel de um funcionário de uma
consultoria de recursos humanos especializada em ajudar empresas
que estão reduzindo seu tamanho. Ryan Bingham, o personagem
de Clooney, procura aliviar o desespero que muitos funcionários
experimentam quando descobrem que estão sendo demitidos. Ryan
tenta reavaliar o evento e controlar o estresse emocional que a
demissão geralmente causa, induzindo as pessoas a enxergar esse
fato como uma oportunidade de realizar outros objetivos de vida.
É possível também minimizar os efeitos indesejáveis das emoções
em nossas decisões induzindo outro estado emocional. É como se
tentássemos nos inocular do antídoto emocional que
contrabalançasse o estado afetivo corrente, gerando, espera-se,
tendências diferentes no processo de decisão. David DeSteno e
colegas, por exemplo, observam que vários estudos documentam
como estados de tristeza tendem a exacerbar a impaciência em
escolhas financeiras, mesmo quando a tristeza não está relacionada
à tomada de decisão com a qual nos deparamos. Eles testam a
hipótese de que experimentar emoções positivas é capaz de
atenuar nossa tendência a ser impacientes ou, no jargão dos
economistas, a descontar o futuro de forma relativamente pesada —
que é o que fazemos quando, por exemplo, preferimos receber
duzentos reais agora em vez de trezentos reais amanhã, mas
preferimos trezentos reais daqui a um ano e um dia em vez de
duzentos reais daqui a um ano. Também estudam, em particular, o
papel da gratidão na redução de nossa impaciência. No
experimento, os participantes são induzidos a certos estados
emocionais com o chamado método de lembrança autobiográfica,
através do qual são solicitados a relembrar acontecimentos que os
fizeram se sentir gratos ou felizes. Os resultados confirmam que
indivíduos levados a experimentar gratidão fizeram escolhas, entre
opções com consequências em diferentes momentos do tempo, que
revelam menor taxa de desconto. Isto é, demonstraram mais
paciência em rejeitar gratificação instantânea em favor de uma
gratificação monetária maior no futuro.
A estratégia de controlar uma emoção indesejada tentando nos
manipular para gerar uma emoção contrária — como quando
fazemos coisas arriscadas em busca de uma “adrenalina” que
mitigue um estado emocional de tristeza — parece ser o que está
por trás da decisão de Daniel e sua opção pelo racional.
Ao se distanciar de Catarina, Daniel empregou a estratégia de
supressão emocional, pois, com esse afastamento abrupto,
esperava também se ver livre da paixão que sentia. Infelizmente,
como alguns estudos indicam, tentativas de suprimir estados
emocionais são frequentemente improdutivas e cognitivamente
custosas.
Já vimos que a ideia de extrair as emoções de nossa decisão é
ilusória. Daniel com certeza ficaria triste em saber que sua decisão
foi muito mais emotiva do que ele gostaria de acreditar. Sua decisão
foi tão emocional quanto teria sido a escolha de continuar o
relacionamento com Catarina. A ansiedade e o medo, emoções que
sentimos diante de muitos dilemas, disparam reações físicas que
influenciam nossa tomada de decisão. Foi o medo, afinal, que
governou em grande medida a decisão de Daniel. Curiosamente,
quanto mais complexo é o problema de decisão, maior é o risco de
que nossos processos cognitivos se sobrecarreguem e as emoções,
por associação com experiências passadas, passem a resolver
algumas incertezas e a guiar nosso processo de escolha. Desistir de
Catarina foi mais emocional do que Daniel gostaria de acreditar.
10. Você se importaria se eu pegasse mais?

Não é surpresa que deve haver uma luta no homem entre seus
instintos sociais, com suas derivadas virtudes, e seus mais
baixos, embora momentâneos, desejos e impulsos mais fortes.
Charles Darwin

Charles Darwin não poderia ter sido mais preciso ao descrever


como o ser humano se divide entre seus instintos sociais e seus
impulsos momentâneos. Entre o egoísmo e o altruísmo. Entre o
individual e o coletivo. O eu e o nós. Ainda que alguns não
assumam essa dualidade interna, ela existe.
Se perguntássemos a cem pessoas aleatórias se elas se
consideram invejosas, quantas responderiam que sim? Certamente
quase nenhuma. Ninguém se autodenomina uma pessoa invejosa.
Mas, se perguntássemos a cem pessoas se elas conhecem alguém
que consideram invejoso, com certeza muitos diriam que conhecem.
Essa “incoerência” soa muito estanha. É fácil perceber, portanto,
que, por mais que alguém jamais se autodenomine invejoso, a
inveja é uma característica comum nas pessoas. Mais do que isso, é
bem provável que haja mais inveja em si do que você mesmo
imagina. Pelo menos é o que dizem alguns experimentos sociais.
O Jogo do Ultimato é um experimento econômico desenvolvido em
1982 por três economistas alemães. O experimento simulava uma
espécie de negociação e testava o lado egoísta do comportamento
humano. O jogo é representado na seguinte história.
Antônio e Joaquim são colocados em uma pequena sala com uma
mala contendo 10 mil reais. O dono dessa mala é o sr. Rodolfo. Ao
entrar na sala, Rodolfo anuncia: “Vou lhes dar todo o dinheiro que
está nesta mala, mas com a seguinte condição: vocês dois têm que
chegar a um acordo sobre como dividi-lo. Antônio (jogador 1) deve
fazer uma oferta simples a Joaquim (jogador 2) de como dividir o
dinheiro entre os dois. Joaquim dirá sim ou não”. Se a proposta de
Antônio for aceita por Joaquim, o negócio é fechado e cada um fica
com a quantia combinada. Se a proposta for rejeitada, ninguém
ganha nada e ambos vão para casa com o bolso vazio.
Assim que o jogo começa, Antônio (o jogador responsável por
fazer a oferta) percebe a oportunidade de ouro. Ele, que se julga
com elevado senso de coletividade, se vira para Joaquim e diz: “É
simples, você pega metade e eu a outra metade. Assim, cada um de
nós terá 5 mil reais”. Para sua surpresa, Joaquim (aquele que vai
dar a palavra final) franze a testa e diz com uma firmeza
assustadora: “Olha, não sei quais são os seus planos para o
dinheiro, mas eu não pretendo sair desta sala com menos de 9 mil
reais. Se você aceitar, tudo bem. Se não, nós dois podemos ir para
casa sem nada, eu não me importo”.
Antônio mal podia acreditar! Ele pergunta a si mesmo: “Como
Joaquim pode agir dessa maneira? Por que ele tem que ter 90% do
dinheiro e eu apenas 10%?”. Ele tenta mais uma vez convencer
Joaquim a aceitar sua visão: “Vamos ser racionais, estamos na
mesma situação, ambos queremos o dinheiro. Vamos dividir o
dinheiro de forma igual e nós dois vamos sair no lucro”. Joaquim,
apesar de tudo, não parece convencido pela lógica do amigo. Ele
escuta com atenção, mas, quando Antônio termina de falar, ele diz
com ainda mais ênfase do que antes: “Vai ser 90-10 ou nada. Se
você me oferecer menos do que 90%, eu recuso a oferta”.
Antônio, extremamente irritado, não quer ceder e cogita continuar
oferecendo 50%. Mas, pensando bem, ele percebe que Joaquim
não vai aceitar e que a única maneira de ele deixar o quarto com
algum dinheiro é dar a Joaquim o que ele quer, nesse caso os 9 mil
reais. Antônio ajeita a roupa, leva mil reais na mala, aperta a mão de
Joaquim e sai da sala humilhado.
A atitude de Joaquim soa bastante egoísta, certo? Exigir 9 mil
reais quando cada um poderia ficar com metade do valor. A verdade
é que Antônio não tinha alternativa senão aceitar a condição hostil
do “amigo”. Mas, pensando bem, Antônio não deveria ficar
incomodado com isso, já que saiu do jogo melhor do que havia
entrado, não é mesmo? Então, por que Antônio se sentiu mal
mesmo estando “mais rico” no fim do jogo? Seria a inveja de ver que
o amigo ganhou muito mais do que ele? Embora ele possa negar, é
bem provável que sim. Antônio talvez esteja mais preocupado com o
resultado do amigo do que com o próprio ganho. Apesar disso,
mesmo Joaquim pedindo 9 mil reais, Antônio não teve outra escolha
senão ficar com os míseros mil reais.
Apesar de tudo, segundo a teoria dos jogos, Antônio, ao ceder ao
pedido do amigo, tomou uma decisão racional. A teoria dos jogos é
o ramo da matemática aplicada que estuda situações estratégicas
nas quais as decisões de um jogador afetam nossas decisões.
Antônio, o jogador que fez a oferta, agiu racionalmente e deveria
aceitar a contraproposta do amigo, uma vez que é muito melhor mil
reais do que nenhum real. Sabendo que Antônio aceitaria a
contraproposta, pois estaria em uma situação melhor do que a
inicial, Joaquim aproveitou para pedir não menos do que 9 mil reais.
Esse é o resultado que, de acordo com a teoria dos jogos, deveria
ser alcançado.* A prática não é necessariamente a mesma. Será
que, oferecendo uma quantia próxima da mínima, esse valor seria
aceito pelo outro jogador? Na sociedade há mais Joaquins ou
Antônios?

O TESTE DA TORTA E A REALIDADE

Curiosos sobre como as pessoas se comportariam na vida real


nesse tipo de situação, os economistas replicaram esse jogo ao
redor do mundo. Os jogos tinham algumas variações e em alguns
casos o valor utilizado era cem dólares, em outros, o prêmio a ser
dividido era uma torta, mas a lógica era basicamente a mesma.
Um grupo de três economistas reuniu os dados de mais de trinta
artigos sobre o Jogo do Ultimato. Os dados abrangiam 25 países.
Observou-se que, embora a teoria dos jogos sugira que uma oferta
racional fosse a de um valor mínimo (e que aceitar essa oferta
mínima também fosse uma decisão racional), na prática o que foi
visto foram resultados completamente diferentes.
• Quando o prêmio em questão era uma torta, a média das ofertas
era de 37% da sobremesa;
• Em geral, aproximadamente 17% das ofertas foram rejeitadas;
• Quando as ofertas foram menores do que 30%, metade das
pessoas as rejeitou.
Na prática, os dados mostram que as pessoas estão muito mais
dispostas a rejeitar algumas ofertas do que sugeriria a racionalidade
do ser humano. Isso significa que, para prevalecer o conceito de
justiça, as pessoas estão dispostas a causar um dano a si mesmas.
A explicação é simples. O modelo tradicional de teoria dos jogos —
que pressupõe que apenas o dinheiro altera a satisfação do
indivíduo — não leva em consideração os aspectos psicológicos que
em uma negociação podem ter papel decisivo. No caso do Jogo do
Ultimato, alguns pesquisadores sugerem que, em geral, os
indivíduos obtêm algum benefício psicológico ao proporcionar um
castigo. Caso contrário, eles sofreriam algum dano psicológico ao
aceitar uma oferta injusta, assim como Antônio sofreu.
Na prática, isso quer dizer que algumas pessoas preferem receber
menos dinheiro (ou nada) a ser tratadas injustamente. Não se olha
apenas para os próprios resultados, mas, ao contrário, há uma
constante tentativa de comparar os próprios resultados com os de
outras pessoas. E, mesmo que estejamos em uma situação melhor
do que antes, isso não é o bastante se temos menos do que
aqueles que nos cercam.
No teste da torta ao redor do mundo, 17% das ofertas foram
rejeitadas, em média, mesmo que os modelos tradicionais de teoria
dos jogos proponham que nenhuma oferta deva ser rejeitada. Esse
dado sozinho já é o bastante para se afirmar que as pessoas tomam
essas decisões porque estão preocupadas com o resultado dos
outros? Não. Isso poderia simplesmente significar que os indivíduos
estão preocupados com o prêmio final que vão receber, e, no caso
da torta, o prêmio é pequeno.
É necessária uma análise mais rigorosa. Para isso, seria
interessante a pergunta: o que aconteceria se dobrássemos o
tamanho do prêmio, no caso da torta? Se as pessoas estivessem
preocupadas principalmente com o próprio resultado, seria esperado
que houvesse uma queda significativa no número de rejeições.
Afinal, as pessoas receberiam o dobro do que estavam recebendo
antes. Como havia dados de 25 países e mais de trinta artigos, com
diferentes tipos de prêmios, essa comparação era possível. Para
surpresa dos pesquisadores, ao aumentar o tamanho do prêmio (da
torta), não houve uma queda significativa no número de rejeições.
Ou seja, não importa apenas quanto estamos ganhando, mas
quanto estamos ganhando em relação aos nossos companheiros. A
maneira como a torta é dividida muitas vezes tem mais importância
do que o tamanho do pedaço que cada um recebe.

O PAPEL DO DESEMPENHO DOS OUTROS EM NOSSA AUTOCONFIANÇA

Em toda a história humana, nunca houve um momento em que a


sociedade esteve tão próspera quanto agora. A expectativa de vida,
a renda per capita e o desenvolvimento urbano nunca estiveram em
patamares tão altos. Os níveis de pobreza são os mais baixos. A
medicina está no ápice do desenvolvimento. Um cidadão de classe
média em São Paulo hoje vive muito melhor do que qualquer nobre
na França absolutista.
Porém, apesar de o mundo nunca ter estado tão bem, ainda há
pessoas que vivem em condições tão precárias quanto as de
séculos atrás. Em diversas partes do mundo, ainda há pessoas que
vivem com menos de um dólar por dia. Embora a sociedade se
desenvolva ano após ano, o debate sobre desigualdade continua
em evidência.
Em 2011, o movimento Occupy Wall Street ganhou a capa dos
jornais ao chamar a atenção para a renda do 1% mais rico dos
Estados Unidos. Um dos livros de economia mais famosos e bem
avaliados pela crítica dos últimos tempos, O capital no século XXI,
do economista Thomas Piketty, também aborda o aumento da
desigualdade e da concentração de riqueza em mais de vinte
países. A obra ganhou o prêmio Business Book of the Year, do
jornal Financial Times e da empresa de consultoria McKinsey, em
2014.
Apesar de os protestos em Wall Street e o livro de Piketty se
tornarem famosos, o mundo está melhor. Os níveis de pobreza
nunca foram tão baixos, as pessoas nunca tiveram tanta saúde e
jamais viveram tanto. Porém, eventos como esses nos mostram
uma coisa: o simples fato de melhorarmos nossa vida não é o
bastante se nosso vizinho teve uma melhora muito maior. É um
hábito inerente ao ser humano se comparar aos demais.
Economistas clássicos entenderam que os indivíduos são
motivados, pelo menos em parte, por preocupações sobre posições
relativas. Segundo Adam Smith, “nada é tão humilhante como se ver
obrigado a expor nosso sofrimento para o público”. Essa é umas das
explicações pelas quais, na prática, indivíduos estão dispostos a se
prejudicar a fim de obter resultados mais equitativos, como vimos no
Jogo do Ultimato.
Sonja Lyubomirsky e Lee Ross, pesquisadores do Departamento
de Psicologia de Stanford, colocaram em uma sala diversos
estudantes e distribuíram entre eles vários anagramas para ser
resolvidos entre eles. A intenção era ver como o desempenho dos
demais afetaria a performance individual. Sempre que uma pessoa
via alguém resolver os anagramas mais rapidamente, seu
comportamento se alterava. Uma sensação semelhante a quando
estamos fazendo uma prova e vemos aquele colega terminá-la em
dez minutos, quando ainda estamos na primeira questão. Algumas
pessoas, quando viam seus companheiros resolverem os
anagramas mais depressa, passavam a colocar em dúvida sua
própria habilidade naquela tarefa, demonstrando grande tendência a
deprimir seu humor e até a relatar menos prazer na experiência.
Além de colocar em dúvida a própria habilidade para desempenhar
aquela tarefa, descobriu-se que essas pessoas eram justamente as
mais infelizes do grupo. Participantes mais felizes, ao contrário, não
mostraram a mesma tendência a responder negativamente aos
resultados dos companheiros mais velozes. Indivíduos mais felizes
tendem a levar menos em consideração as comparações sociais ao
avaliar a si mesmos. Em vez disso, preferem fazer uma avaliação
interna. No caso do Jogo do Ultimato, seria a pessoa que se sente
extremamente feliz em aceitar os mil reais, pois ficou mil reais mais
rica, independentemente de quanto o outro tenha levado.
No grupo dos mais infelizes, as pessoas dependem de fatores que
não estão sob seu controle para alterar seu nível de satisfação — o
desempenho dos demais. Não há nada a fazer senão torcer para ter
um desempenho melhor que o dos outros. Já no grupo dos mais
felizes, as pessoas ligariam a própria felicidade a realizações
internas, ou seja, a algo que está totalmente dependente de suas
ações e que pode ser modificado com novos comportamentos e
novas atitudes.
O surpreendente é ver que as pessoas mais infelizes se sentiram
melhor quando receberam baixas avaliações e ao mesmo tempo
ouviram que seus pares haviam recebido notas piores do que
quando receberam boas avaliações e ouviram que seus pares
tiveram desempenhos melhores. Em outras palavras, o que esses
estudos mostram é que para muitos é melhor ser pior com todos do
que ser bom, mas não tanto quanto os outros. Muitos preferem ser
peixe grande em aquário pequeno.

O TESTE DA TORTA NO DEBATE POLÍTICO

Certa vez, na Câmara dos Comuns, b a primeira-ministra britânica


Margaret Thatcher, reconhecida por seu pensamento econômico
liberal, foi indagada por um congressista do Partido Trabalhista.***
“Não há dúvidas de que a senhora, através de diversas maneiras,
alcançou um substancial sucesso na economia. Existe uma
estatística, porém, que eu entendo que não seja motivo de orgulho.
E esta engloba os onze anos de seu governo. O abismo entre os
10% mais ricos e os 10% mais pobres cresceu substancialmente
[...]. Essa não é uma estatística de que ela [Margaret Thatcher] ou
qualquer outro primeiro-ministro possa se orgulhar”, concluiu o
congressista aos aplausos de seus companheiros de partido.
O thatcherismo, como ficou conhecido, se caracterizou pela
redução da intervenção do Estado na economia e pela exaltação
das virtudes do livre mercado. Além disso, Thatcher lutou
vigorosamente pelo combate aos sindicatos dos trabalhadores, pela
flexibilização do salário mínimo e pela redução do Estado de bem-
estar social. Essa diretriz centrada na desregulamentação do setor
financeiro, na flexibilização do mercado de trabalho e na
privatização das empresas estatais era baseada no pensamento
econômico da Escola de Chicago e tinha entre um de seus
defensores Hayek, de quem Thatcher era grande admiradora.
Sob o governo de Thatcher, a Inglaterra apresentou grande
crescimento econômico e controle da inflação. Como o próprio
congressista da oposição reconhece, essa política econômica liberal
inegavelmente estimulou diversos avanços na economia inglesa. No
entanto, o congressista supõe que a mesma política aumentou de
modo considerável a desigualdade social.****
O gráfico a seguir mostra — ao menos de maneira superficial — o
que o político do Partido Trabalhista estava dizendo. Ele é
representado aqui pelo índice de Gini. Quanto mais perto de 100,
mais desigual é um país. Quanto mais próximo de zero, mais
igualitário. Nos onze anos de governo Thatcher, o índice saiu de 23
para aproximadamente 34.

Índice de Gini, que mede a desigualdade entre os mais ricos e


os mais pobres de um país.
O que o congressista fez foi nada mais do que colocar em pauta o
teste da torta no debate político. É preferível um país crescendo
vigorosamente, ainda que haja mais desigualdade social? Ou é
melhor um país mais igualitário, ainda que isso signifique um
crescimento menos robusto?
No entanto, Thatcher, que tinha uma maneira firme de fazer
política, respondeu serenamente: “Senhor deputado, todos os níveis
financeiros estão melhores do que estavam em 1979. O que o
honrado membro está falando é que preferiria que os pobres fossem
mais pobres, para que os ricos fossem menos ricos. Ainda que você
não tenha querido dizer isso, foi isso que o honrado membro disse”.
E finalizou gesticulando com as mãos que sim, o vão entre os mais
ricos estava maior, porém, todos, principalmente os mais pobres,
estavam em situação melhor do que estavam em 1979, onze anos
antes de a Dama de Ferro assumir o governo.
No Brasil, também houve quem optasse por incentivar o
crescimento econômico do país mesmo que significasse aumentar a
desigualdade. Antônio Delfim Netto foi ministro da Fazenda no
governo militar de 1967 a 1974. Ficaram famosas as explicações
dadas por Delfim na televisão, em que defendia: “É preciso primeiro
aumentar o ‘bolo’, para depois reparti-lo”. Delfim estava se referindo
ao PIB do Brasil. Primeiro era necessário fazer o país crescer, depois
ele pensaria em repartir o bolo (ou a torta) de maneira mais justa.
Índice de Gini, que mede a desigualdade entre os mais ricos e
os mais pobres no Brasil.

De fato, com a economia sob seu comando, o Brasil crescia a


taxas de 10% ao ano. Por esse motivo, o período em que Delfim foi
ministro da Fazenda ficou conhecido como Milagre Econômico. Mas,
se por um lado o país crescia como nunca, por outro, a
desigualdade aumentava. Não que os pobres estivessem mais
pobres e os ricos mais ricos. Na verdade, o índice de pobreza
também diminuiu significativamente. O período que ficou conhecido
como Milagre Econômico, embora receba esse nome, é alvo de
críticas até hoje em razão da grande escalada da desigualdade.
Mesmo a taxa de pobreza diminuindo de forma considerável de
1970 a 1980, as constantes críticas em relação ao aumento da
desigualdade mostram que as posições relativas importam tanto
quanto as posições absolutas.
A história de Delfim Netto e Margaret Thatcher é um Jogo do
Ultimato na vida real. Ambos nunca devem tê-lo jogado, mas, se
tivessem, certamente aceitariam a oferta mínima, pois saberiam
que, no fim, estariam melhor do que quando entraram no jogo, e,
para eles, era isso que importava. Mas nem todos pensam assim.
Por que as pessoas se preocupam tanto com a posição relativa?
Por que alguém está disposto a se sacrificar só para ter uma
equidade maior? Por que um político pode aceitar que alguém
esteja em uma condição pior apenas em detrimento de maior
igualdade, como o membro do Partido Trabalhista inglês? Diversos
estudos sugerem que as pessoas estão dispostas a sacrificar algo
somente para defender o igualitarismo. As experiências, porém,
colocam dúvidas sobre a noção de que as pessoas se preocupam
com igualdade apenas por altruísmo. A resposta pode ter a ver com
biologia evolutiva, e não com economia.
Isso se deve ao fato de que, por um grande período da história
humana, as pessoas viviam em pequenos grupos, e para aumentar
as chances de sobrevivência era necessária certa propensão a
contribuir para o grupo, uma vez que com um grupo bem-sucedido
as chances de sucesso de um indivíduo eram maiores. Por esse
motivo, há no instinto humano uma tendência a punir aqueles que
não contribuem com o grupo ou com a sociedade. Mais do que
simples altruísmo, portanto, a história mostra que o motivo pelo qual
há uma tendência em “punir” aqueles que não contribuem para o
grupo é uma questão de sobrevivência.
Portanto, respondendo à pergunta inicial:
“Você se importaria se eu pegasse mais?”
“Depende. Você vai ganhar muito mais do que eu?”
“Sim.”
“Então, sim, eu me importo!”

* O resultado desse “jogo” é conhecido como Equilíbrio de Nash. O nome é


referência a John Nash, matemático que recebeu o prêmio Nobel em 1994 por
suas contribuições ao ramo da economia conhecido como teoria dos jogos. O
Equilíbrio de Nash é um equilíbrio não cooperativo no qual cada agente toma
suas decisões visando obter o maior resultado (payoff) possível em função da
atuação de seus competidores. Nash teve a sua história retratada no filme
Uma mente brilhante.
** Câmara dos Comuns é o nome da câmara inferior do Parlamento britânico,
equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil.
*** Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=okHGCz6xxiw>.
Acesso em: 31 jul. 2017.
**** Essa é apenas uma suposição do congressista do Partido Trabalhista, já
que não é tarefa simples atribuir as políticas de Margaret Thatcher como
causas do aumento da desigualdade. Pode haver diversos outros motivos que
talvez tenham contribuído para isso, como crise internacional, entre outros.
Agradecimentos

Ao brilhante economista e amigo Leonardo de Siqueira Lima, que


participou de forma intensa em todo o processo desde o início deste
projeto, inclusive com ideias que deixaram o resultado bem mais
interessante. Ao Mauro Rodrigues, pelas discussões sobre
economia sempre estimulantes. À editora Fernanda Pantoja, pela
edição meticulosa que melhorou muito o texto final, e à Companhia
das Letras, por ter acreditado no projeto. Por último, às pessoas
queridas que inspiraram muitas das histórias.
Referências bibliográficas

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Créditos das imagens

Infográficos de Bruno Romão


1: Shutterstock
2: Alex Yocu
3 e 4: Utilizada com autorização da Gallup, Inc. Retirada de Melanie
Standish e Dan Witters, “Country Well-Being Varies Greatly
Worldwide”, Gallup, 16 set. 2014; permissão concedida pela
Copyright Clearance Center, Inc.
5: Utilizada com autorização da Elsevier. Retirada de Martin Binder
and Andreas Freytag, “Volunteering, Subjective Well-Being and
Public Policy”, Journal of Economic Psychology, v. 34, 1 Fev. 2013;
permissão concedida pela Copyright Clearance Center, Inc.
6: Utilizada com autorização da Atlantic Monthly Group, Inc.
Retirada de Ritchie King, “217 Years of Homicide in New York, 31
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Inc.
7: Olivier Berruyer, d’aprés IFS et EuroStat.
8: PNAD/IBGE
9: Sonia Rocha, “Pobreza no Brasil: A evolução de longo prazo
(1970-2011)”. Rio de Janeiro: XXV Fórum Nacional, Instituto Nacional
de Altos Estudos, 2013.
RENATO PARADA

SAMY DANA é professor da Fundação Getulio Vargas,


comentarista do programa Conta Corrente da
GloboNews, do telejornal Hora 1 e do Jornal da Globo.
É também colunista de notícias do Portal G1, do jornal
O Globo e da Época Negócios. Possui mestrado em
economia e doutorado em administração, além de ser
ph.D. em business.
Samy tem mais de quinze anos de experiência em
consultorias e apresentação de palestras. É autor de
vários livros ligados a finanças, economia e negócios.

SÉRGIO ALMEIDA professor do Departamento de


Economia da FEA-USP. É ph.D. em economia pela
Universidade de Nottingham, na Inglaterra. Leciona na
área de microeconomia e pesquisa tópicos sobre
tomada de decisão sob incerteza e economia
comportamental. Foi membro do Centre for Decision
Research and Experimental Economics (CeDEx/
Universidade de Nottingham).
Copyright © 2017 by Samy Dana
Copyright © 2017 by Sérgio Almeida
Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou
em vigor no Brasil em 2009.
Capa
Eduardo Foresti e Mikka Mori
Preparação
Pedro Staite
Revisão
Isabel Cury
Marise Leal
ISBN 978-85-438-1116-1

Todos os direitos desta edição reservados à


EDITORA SCHWARCZ S.A.
Praça Floriano, 19, sala 3001 – Cinelândia
20031-050 – Rio de Janeiro – RJ
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cinema, o jornalista traz textos singulares e imperdíveis sobre a
sétima arte, desde os clássicos até blockbusters.Aos quatorze anos,
Sérgio Augusto se tornou fã de Antonio Moniz Vianna, quando leu,
por acaso, uma de suas críticas cinematográficas. Ficou fascinado
por aquele universo e disse para si mesmo: é isso que eu quero
fazer na vida. Estreou na imprensa nos anos 1960, e nunca mais
parou de escrever.Reconhecidamente um dos maiores nomes do
jornalismo cultural brasileiro, Sérgio Augusto fala com brilhantismo
sobre os mais variados temas, ainda que esta antologia seja sobre
sua grande paixão: o cinema. Os textos aqui reunidos foram
produzidos desde os anos 2000 e publicados, em sua maioria, no
jornal O Estado de S.Paulo — e uma primeira versão desta
coletânea foi publicada em formato digital, em 2015, sob o título O
colecionador de sombras. Juntos, formam uma espécie de guia
afetivo da sétima arte para curiosos e aficionados, mas também
para todo mundo que se interessa por arte e cultura, ou
simplesmente deseja uma boa leitura. Diretores, atrizes e atores,
trilha sonora, bastidores das filmagens, iluminação, roteiro: todos os
aspectos da arte e da indústria cinematográfica se encadeiam em
um texto saboroso, opinativo e bem informado. Porque ninguém
sabe mais sobre esse assunto do que Sérgio Augusto. Como diz
Paulo Roberto Pires no prefácio deste livro: "Sérgio Augusto é, até
onde sei, o único filho intelectual de um estranho casal formado pelo
Cahiers du Cinéma e a New Yorker".
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Charles Duhigg, repórter investigativo do New York Times, mostra


que a chave para o sucesso é entender como os hábitos funcionam
- e como podemos transformá-los.Durante os últimos dois anos,
uma jovem transformou quase todos os aspectos de sua vida. Parou
de fumar, correu uma maratona e foi promovida. Em um laboratório,
neurologistas descobriram que os padrões dentro do cérebro dela
mudaram de maneira fundamental. Publicitários da Procter &
Gamble observaram vídeos de pessoas fazendo a cama. Tentavam
desesperadamente descobrir como vender um novo produto
chamado Febreze, que estava prestes a se tornar um dos maiores
fracassos na história da empresa. De repente, um deles detecta um
padrão quase imperceptível - e, com uma sutil mudança na
campanha publicitária, Febreze começa a vender um bilhão de
dólares por anos. Um diretor executivo pouco conhecido assume
uma das maiores empresas norte-americanas. Seu primeiro passo é
atacar um único padrão entre os funcionários - a maneira como
lidam com a segurança no ambiente de trabalho -, e logo a empresa
começa a ter o melhor desempenho no índice Dow Jones. O que
todas essas pessoas tem em comum? Conseguiram ter sucesso
focando em padrões que moldam cada aspecto de nossas vidas.
Tiveram êxito transformando hábitos. Com perspicácia e habilidade,
Charles Duhigg apresenta um novo entendimento da natureza
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insights sobre essa variável nebulosa das nossas decisões e, para
isso, usa exemplos do mercado financeiro — área em que
supostamente a sorte pode ser confundida com habilidade.Às vezes
a performance de um empresário de visão ou de um trader talentoso
pode ser mais influenciada pelo acaso do que pela habilidade. É
claro que temos a tendência de acreditar que eventos não
acontecem ao acaso e tentamos encontrar razões onde nenhuma
razão existe, mas este best-seller irreverente acaba com essa nossa
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Times."Esta obra é para o saber convencional de Wall Street quase
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Dweck, professora de psicologia na Universidade Stanford e
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sucesso pode ser alcançado pela maneira como lidamos com
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